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Em busca da fé

Até onde você iria em busca da fé? Sempre que saio para me alimentar vou em busca de novidades. Não que eu seja exótico a ponto e querer uma vítima nova a cada refeição. Digo isso no sentido de que não gosto de me alimentar sempre de um mesmo tipo de indivíduo ou criatura.

Certamente, quem me acompanha por aqui a mais tempo sabe da minha disposição ao sangue de meliantes e corruptos. No entanto, até mesmo deles eu me enjoo as vezes. Isso não precisaria de uma explicação mais profunda, haja vista minha existência eterna. Além de tudo no qual um ser vampírico como eu venha a sentir ou enfrentar.

Delongas a parte, ontem foi um noite interessante daquelas em que o espírito aventureiro fala mais alto e eu resolvi enfrentar o centro de uma cidade. Os centros são muito peculiares e o que se iniciou numa simples ideia alimentar, me levou a novos experimentos.

Sou geminiano, babe. Quem estuda os signos, sabe que sou um desbravador esotérico e isso me levou a uma igreja católica. Local que frequentei poucas vezes, mas que de alguma forma me atrai sempre que estou perto.

Eu poderia ter ido a tantos bordéis, tantas ruas semi desertas ou parques escuros, mas preferi algo divino. Entre padres de fé discutível, beatas desesperadas e mendigos eu preferi me sentar ao lado de um cara aleatório.

Aliança de casamento, uma foto de criança em mãos e de joelhos, ele suplicava para seu Deus por algum tipo de cura. Algo que certamente era requisitado a criança da foto é que provavelmente estava além da medicina humana. Fiquei impressionado com suas súplicas e lágrimas. Tanto que o deixei terminar e me dirigi com boas intenções:

  • Tudo bem com a tua menina?
  • Minha sobrinha… Hoje ela está hospitalizada, mas Deus vai ajudar ela. Tenho muita fé nisso.
  • Desculpa a intromissão, mas estava acompanhando tuas preces. Ela está doente?
  • Pois é sempre venho aqui pedir ajuda pra Deus… ela foi hospitalizada depois de um acidente com o carro da minha irmã… (concentração e suspiros fortes) Eles bateram no carro dela. Ela morreu e minha sobrinha tá em estado grave no hospital.

Coloquei minha mão esquerda sobre o ombro dele e mencionei:

  • Meus pêsames…

Ele baixou a cabeça, levantou uma das mãos na direção da estátua de Jesus crucificado e falou alto, interrompendo inclusive a concentração dos outros:

  • A justiça divina virá sobre nós e aqueles bêbados vão pagar por isso…

Em seguida ele praticamente me ignorou, ficou de joelhos novamente e começou a chorar desenfreadamente. Decidi que era um momento muito pessoal, deis dois tapinhas nas costas dele e fui embora do lugar. Subi em minha moto que estava parada logo a frente do templo e circulei sem rumo pelas ruas geladas e escuras daquele centro.

Parei algumas quadras a diante. aonde algumas pessoas faziam uma fila simples próximas de uma porta. Acima da porta havia um luminoso, que me chamou a atenção a ponto de estacionar. No letreiro estava escrito “Santa Rita” e ao que tudo indicava era alguma balada qualquer.

Aquela história contada pelo homem na igreja, com toda sua fé havia me impressionado de uma forma diferente. inclusive dentro do lugar eu me sentei num balcão e fiquei filosofando sozinho por um instante até que algumas garotas chamaram minha atenção. Inclusive sai com uma delas de lá. Apesar disso, não me alimentei dela. Fiz meu desjejum com dois bêbados no banheiro. Caras que provavelmente vão acordar com a mesma dor de cabeça de sempre, mas que serviram para alimentar aliviar minha fome de sangue, vingança e fé.

Um comentário

  1. A quanto tempo caro Autor!!! Seus breves dizeres me conduzem a uma breve digressão, se assim me permite.
    A Fé é algo maravilhoso, não no sentido de mera “coisa”, seja qual for o objeto, aí sim a ”coisa”, de apreciação envolto nesse sentir, viver e exprimir.
    Ela reflete uma clara manifestação de vontade, livre de qualquer embaraço ou circunstância gritante que nos leva a várias indagações, na verdade, apresenta-nos como uma bela e simplória resposta as nossas questões, principalmente, aquelas de natureza individual, afinal, as de ordem coletiva, em sua maioria, apenas nos conduzem ao caos com aquelas várias vias e trajetos, onde poucas são as explicações coerentes, prevalecendo, neste último caso, tão somente aquela ideia primitiva de ”tudo vale para sobreviver”.
    Afirmo isso com minhas recentes experiências no campo da Fé.
    Certo é que, muitas vezes, não são respostas que procuramos, diferente do senso dito comum, mas sim outras questões que nos motivam ao próximo passo.
    E essa caminhada ao desconhecido, já que não há resoluções de mérito que antecipem o que nos espera, é a nossa fé naquilo que não vemos, mas esperamos.
    E essas expectativas que nos ”obrigam” a abrir os olhos a cada manhã (ou noite, não é) nos direcionam sempre a um novo questionamento, por vezes sem nunca ser respondido. A graça da vida não está no ”ponto final” de cada frase, mas sim nas vírgulas e conectivos, quando não na ironia.
    Embora dito isso, tenho que, o que muitas vezes afloram esse exprimir da fé em cada um nós, é aquele passado cada vez mais inatingível pelas nossas memórias, distantes do nosso imaginário e sensações presentes, em especial esse passado que nos prova a cada dia como o tempo, mera unidade medida, ainda sim pode ser tão relativo (irônico, correto???), como também uma grande ilusão. Por assim dizer, a eternidade de uns pode valre bem menos que um dia de outros, e o contrário é igualmente verdadeiro. Fazer o que…..
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