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  • Os mortos não voltam – Parte VI

    Os mortos não voltam – Parte VI

    – Sophie, levante minha querida. Eu não disse para ir direto para casa? -Dizia Antoni para Sophie que levantava sem entender grande parte do que havia acontecido.

    Naquele momento, eu já vestia minha blusa e tentava me recompor. Acordei Lilian que ria e fazia brincadeiras comigo, enquanto eu meio séria, meio rindo, dizia que teríamos que conversar sobre o que havíamos feito em outro momento.

    -Relaxa – Cochichou para mim – Apenas curtimos! Eu curti, hahaha.

    – Hum, percebe-se. Mas, colocaram alguma coisa na minha bebida. – Falei fazendo-me de emburrada mas, preocupada com a presença de Antoni.

    Quando percebi, Sophie falava algo com ele e apontava para mim. “Merda. Preciso de um buraco para me enfiar.” Pensei. Foi como ver Thomas caminhando em minha direção, imponente, seguro, porém com o olhar mais leve e tranqüilo. Ao seu lado, estava o rapaz da tatuagem. Eu sabia!

    – Senhora Erner, és mais bela pessoalmente do que imaginei. Muito Prazer, Antoni.

    – És mais parecido com Thomas do que eu podia prever. Realmente são gêmeos idênticos. – Falei de certo modo grosseiro, fazendo Antoni olhar-me estranho.

    – Bom, não temos muito tempo. Quer ou não resgatar seu humano?

    – Ele não é meu humano. Seu nome é Lorenzo.

    – Tanto faz… – Falou dando-me as costas, o que me deixou mais irritada.

    Naquele momento, minha irritação com Antoni foi substituída por fortes dores. Maldita Bebida. Eu sempre bebo em situações complicadas ou para relaxar de maneira controlada. M,as com doses exageradas, essa sensação é momentânea, o arrependimento chega quando minha garganta arde como fogo, e então, vomito tudo. Quando consegui me recompor daquela situação horrenda, Sophie fez sinal para mim e Lilian. Devíamos segui-los. Alguns quilômetros depois, na garupa de Lilian, observava o casarão onde se encontrava o clã de bruxos vampiros na qual Antoni pertencia e havia se tornado mestre, ou protetor. Ao entrar, Antoni cordialmente nos explicava para o que servia cada lugar naquela casa, evitando sempre olhar para mim, desde aquela frustrada apresentação. Após subir algumas escadas, entramos em um escritório onde se encontravam algumas obras de arte, mapas, livros e até esculturas.

    – O clã de bruxos demônios como apelidaram, concentra-se nessa região da França. – Falou apontando um mapa. – Meus informantes nos passaram que eles levaram aquele rapaz para lá, já que é o local onde suas energias possuem mais poder.

    – Eles farão um ritual, Tom? – Perguntou Sophie.

    Revirei os olhos “Tom” repeti mentalmente. Mas, por que raios fariam um ritual com Lorenzo? Pensei. Antoni se direcionou a mim assustando-me e, em seguida, para as meninas:

    – Preciso conversar com Senhora Erner, em particular.

    Eu e as meninas nos entreolhamos, Sophie demonstrou que aquilo era necessário e pedindo licença, levou Lilian consigo para fora. Então, tranquilamente, Antoni caminhou até a janela, e olhando para a escuridão contou-me coisas que eu nem imaginava, enquanto eu observava seu reflexo no vidro e lembrava-me de Thomas.

    – Quando meu irmão e eu nascemos,  nossos pais pertenciam a uma seita que unia dois clãs diferentes. Meu pai era um dos lideres. Os dois grupos trabalhavam em conjunto em prol dos mesmos objetivos. Mas, uma discórdia entre meu pai e um dos outros lideres do clã, fez com que nos tornássemos inimigos. Isso é uma longa história. Meus pais foram assassinados. Eu e Thomas fomos encontrados e levados para abrigos em diferentes partes do mundo. Anos depois, o líder que havia entrado em discórdia com meu pai nos encontrou, possuía ainda mais poder, e fomos atingidos por uma terrível doença, a qual fomos obrigados a aceitar ser transformados em vampiros para viver, mas, também havia uma condição. Eu deveria pertencer ao clã de bruxos vampiros. Mas, Thomas estava marcado a ser parte do clã de bruxos demônios. No fim, o interesse era nos tornar imortais. Eu soube de todos esses detalhes anos depois… Nunca vi meu irmão. O que sei é que quando você o matou, o clã de bruxos demônios ficou sem seu futuro líder.

    – O que? Thomas seria o líder deles?- Falei impressionada.

    – Sim. Ele estava se preparando para isso. Rebecca, você não sabe onde se meteu. Nada é o que parece! Eu avisei Sophie para não te procurar, para protegê-la. Você só conseguiu matar Thomas porque ele estava vulnerável depois dos rituais de preparação na qual havia se submetido naquela época. Senão nunca conseguiria. Agora, eles pegaram o humano para fazê-la sofrer, eles virão atrás de você e farão o ritual, na qual se prepararam durante décadas! – Falou caminhando em minha direção e segurando-me nos braços. – Eles são bruxos vindos do inferno que se apoderam de outros corpos, são sugadores e manipuladores, tentarão fazer a alma amaldiçoada de Thomas possuir o corpo de Lorenzo!

  • Os mortos não voltam – Parte V

    Os mortos não voltam – Parte V

    A música tocava alto demais para meus ouvidos sensíveis, e apesar de conseguir controlar isso, naquela noite eu estava extremamente desnorteada. Olhava ao redor procurando alguém com quem pudesse conversar. Alguém que fosse útil, talvez. Sophie resolveu dar uma volta com Lilian, que a todo instante perguntava se eu estava me sentindo bem, e não queria deixar-me sozinha, depois que contei os últimos acontecimentos e depois que mencionei estar com maus pressentimentos. “Relaxa um pouco e vamos nos divertir”. Sentei próxima ao balcão do barzinho e pedi uma bebida. Observando todos naquela festa, por um instante pensei que tudo aquilo era uma miserável perda de tempo. Lorenzo estava em apuros e eu estava ali, no meio daquela gente bêbada e alterada.

    – Você é daqui?

    – Oi? – Não percebi que alguém civilizado havia sentado ao meu lado.

    – Você… Nunca lhe vi por aqui. Aqui todos se conhecem…

    – Então, deve conhecer a Lilian. Vim com ela. – Falei sem olhar para ele, concentrada nas últimas gotas de meu Martini.

    – Ah sim, conheço ela de vista, Hélder, muito prazer. – Falou estendendo uma das mãos.

    Cumprimentei aquele rapaz que a principio não parecia interessante. Mas, como boa observadora que sou, percebi em seus olhos azuis outras intenções ao falar comigo. Após trocar algumas frases em meio a uma conversa desconexa, percebi que ele tinha uma tatuagem no pescoço, logo abaixo da orelha. Era um símbolo. Ele era um bruxo. Lembrei-me imediatamente do retrato de Thomas e Antoni, que por sinal, ainda estava no bolso da minha jaqueta. Minha memória visual era ótima. O símbolo tatuado naquele rapaz era o mesmo que Antoni tinha em suas mãos naquela imagem antiga. Percebi que eram do mesmo clã. Então, me perguntei se Thomas, que tinha em suas mãos o outro símbolo, o mesmo marcado na parede de meu apartamento, pertencia ao clã inimigo. Olhei para ele curiosa e ainda confusa com meus pensamentos, as peças estavam se encaixando, e acabei sendo impulsiva demais ao perguntar:

    – Você conhece algo sobre o clã de bruxos demônios? Conhece Antoni Erner?

    – Do que está falando?- perguntou surpreso, semicerrando os olhos e depois tentando disfarçar- Hahahahah, olha…acho melhor beber mais um drink, por minha conta, e vir comigo, vocês precisam esperar aqui….

    Sem entender nada, acabei tomando drinks que não devia, e havia algo na bebida que inexplicavelmente surtiu um efeito sobre mim. Não lembro como acabei indo dançar com aquele rapaz desconhecido. Mais tarde, Lilian e Sophie juntaram-se a nós estranhamente risonhas. Lembro-me que minha tensão passou por algumas horas e em alguns momentos, eu já nem sabia por que estava naquela festa. Lorenzo parecia estar ali comigo, sorrindo, dançando. Seus olhos verdes correndo sobre mim. Senti seu beijo adocicado em meio a um sorriso. De repente, uma forte dor de cabeça atingiu-me. Delirando, ouvi apenas:

    – Durma bem, minha pequena.

    Quando acordei, não sabia ao menos que horas eram. Se era noite ou se era dia. Estava zonza. Com certeza teria uma ressaca daquelas. Vi Sophie adormecida entre dois rapazes. Alguns bêbados perdidos. Encontrei-me junto a Lilian, vestindo apenas minha saia e meu sutiã. Quando dei por mim, comecei a perceber e a lembrar tudo o que havia acontecido. Caramba. A festa havia rendido. Olhei para Lilian. Nos beijamos? Pensei. Não. Foi mais do que isso. Mas havia sido bom. No momento tornou-se engraçado. Levei as mãos à cabeça. Durma bem minha pequena… Olhei ao redor. Então percebi, havia uma presença estranha e ao mesmo tempo familiar ali, nos observando.

  • Os mortos não voltam – Parte III

    Os mortos não voltam – Parte III

    Antoni Erner era seu nome.

    Após Sophie finalmente contar o pouco que sabia sobre ele e sua história, conclui que era tão misterioso quanto o irmão, Thomas Erner. Após uma longa conversa, decidimos que investigaríamos melhor sobre o clã de bruxos-demônios, como resolvemos chamá-los, e que iríamos em busca de Lorenzo. Afinal, eu já estava preocupada com sua vida e segurança e, depois do que fizeram em meu apartamento, eu não poderia deixar barato. Mas, para isso, segundo Sophie, precisaríamos do auxílio daquele que desejava manter-me afastada tanto dele, quanto da própria Sophie, que até então, era sua protegida. Confesso que ansiava por esse encontro, estava curiosa. Qual seria a reação dele ou me ver? Sentiria raiva por mim, ou ele não queria me conhecer por que dei fim à “não-vida” de Thomas?

    Apesar dessas preocupações, muitas outras dúvidas e questões inexplicadas pairavam sobre minha mente. Carreguei-as comigo, me sentindo exausta, e fui inquieta para meu quarto arrumar minhas malas. Iríamos fazer uma viagem longa. Depois de tudo pronto, caminhei até o escritório, fiz algumas ligações, e revirando os baús antigos de Erner, procurava alguma informação que pudesse nos auxiliar, ou ao menos esclarecer a bagunça que havia em minha cabeça após tantas novidades. Antoni seria parecido com Thomas? Isso Sophie não havia me falado. Como esses dois irmãos se separaram? Ela também não sabia explicar. Como os dois haviam se tornado vampiros? Porque Erner nunca mencionou o irmão? Como Antoni entrou para um clã de bruxos? Aliás, como Sophie conseguiu se envolver com os dois?

    Eu estava confusa. Perdida em meus questionamentos e devaneios, acabei não percebendo de imediato que uma folha havia caído em meio aquela bagunça, de um dos diários que guardava. Muitos relatos e anotações eu ainda não havia lido e talvez neles encontrasse algo. Peguei a folha nas mãos. Não era uma folha. Era um retrato, muito antigo, em preto e branco, feito com materiais desconhecidos por mim. Havia dois meninos, sentados em uma calçada de um jardim sombrio, seus olhares profundos estavam direcionados para quem pintava a imagem. Ao fundo uma casa, ou casarão, como chamava na época, com muitos andares, havia uma porta com algum enfeite pendurado e janelas largas. Nas mãos os meninos seguravam uma espécie de símbolos diferentes. Olhei com atenção. Virei a foto. “1565. 3 a” era o que estava escrito. Virei o retrato novamente. Observei os símbolos. Um deles eu havia visto a pouco tempo… Estava marcado na parede do meu quarto de hóspedes. Havia muito mais coisas envolvidas e obscuras do que eu poderia imaginar naquela história. Thomas e Antoni eram gêmeos. Se eu tivesse coração ele certamente pararia. “Gelei”. Guardei tudo rapidamente no cofre, carregando comigo apenas aquela imagem, dobrada dentro do bolso da minha jaqueta. No relógio, já eram 20:17. Alguém bateu na porta dando-me um susto.

    – Rebecca? Está na hora, vamos?

    Abri a porta de mal humor. Ahhh Sophie, porque mente para mim? Pensei.

    – Desculpe Sophie, mas não gosto que ninguém venha aqui no andar de cima sem minha permissão. Eu sei que horas são. – Falei emburrada.

    Pegamos as malas e materiais que julguei serem necessários. Sophie passou no hotel que estava, para pegar suas coisas. No caminho, liguei para Ferdinand para avisar e contar o que estava acontecendo, então, soube por ele que Lilian estaria por perto de onde iríamos. Talvez ela pudesse ajudar, ou poderíamos apenas nos encontrar para aliviar um pouco o stress. Então, pegamos meu avião particular e partimos, tínhamos algumas horas até chegar em nosso destino com segurança.