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  • Os mortos não voltam – Parte IV

    Os mortos não voltam – Parte IV

    No avião, observava as nuvens escuras. Em alguns trechos, conseguia visualizar as luzes das cidades que haviam pelo caminho, tudo era tão pequeno dentro daquela imensidão. Lembrei-me de conversas que tive com Sophie a poucos minutos. Olhei para ela. Estava concentrada lendo um livro de magia, com uma de suas mechas loiras caindo sobre o rosto.  Sua expressão compenetrada e segura pouco lembrou aquela vampira apavorada de algumas horas atrás. Eu iria conhecer Antoni, e tudo o que estava acontecendo me deixava nervosa e ansiosa. Não me sentia insegura assim à anos.

    “Cresci em uma vila no interior da Índia. Minha família era muito humilde. Eu tinha 14 anos quando uma peste terrível atingiu a população, em meados de 1856. Não sei o que Thomas estava fazendo lá na época, acredito que eram negócios. Era só o que ele fazia. Negócios. Uma noite minha mãe levou-me para longe da vila e disse que eu deveria ir embora para não morrer. Foi difícil deixá-la naquela noite. Foi quando o conheci e pedindo ajuda, fui levada por ele para a Alemanha. Em troca, ele pediu para que eu o servisse com absolutamente tudo o que ele ordenasse, incluindo principalmente meu sangue, claro. Mas, Erner ficou cada vez mais doente e obcecado… Quando fiz 28 anos, ele me transformou achando que eu estaria pronta. Eu não progredia com seus métodos de ensinamento, e não fazia o menor esforço para isso. Anos depois, já casando e tendo você em seus planos, tentou me matar, pois, me tornei um peso para ele, seus objetivos já eram outros, de modo a simplesmente resolver me descartar, ele era totalmente louco… Mas, sobrevivi e fui encontrada por um senhor idoso que não tinha parentes próximos e precisava de uma cuidadora. Ele prometeu levar-me até os Estados Unidos, onde faria tratamento para uma doença. Para mim quanto mais longe de Erner, melhor, pois ele poderia descobrir que eu havia sobrevivido. Quando chegamos lá, eu fugi, pois não teria como cuidar daquele senhor, sem que ele descobrisse o que eu era. Meu destino era ser ajudada por estranhos. Meu destino era estar nas mãos deles. Entendi isso quando conheci Antoni.”

    Anos depois eu estava trancada na casa de Erner, era sua nova prisioneira, estava sobre sua”posse”. Imaginei o quanto Sophie deveria ter sofrido em suas mãos desde os 14 anos… Talvez, por isso ela me agradecesse por ter entrado no caminho daquele sádico, para então conhecer Antoni, por ironia, seu irmão, gêmeo. Desliguei-me de meus pensamentos quando o avião já estava em terra firme. Do aeroporto, tínhamos mais 40 minutos de carro. Então, meu celular vibrou no bolso da minha jaqueta.

    – Oi?

    – Eleonor? – Falei surpresa, reconhecendo sua voz.

    – Becky, como está? Liguei apenas para lhe dar um até mais.

    Por instantes fiquei em silêncio. Mas, não adiantava dizer nada que a fizesse mudar de ideia…

    – Bom ao menos lembrou de mim. Nos vemos logo?

    – Claro amiga! Nos vemos logo…

    -Hey!

    – Diga Becky.

    – Obrigada por tudo, volte logo e enquanto isso, descanse e sonhe com vampirinhos!!!

    – Hahahaha você não tem jeito….

    Era melhor assim, uma despedida como se fosse por pouco tempo. Os anos passariam rápido, temos a eternidade, e eu levava a certeza de que logo teria minha amiga comigo novamente. Ela me ensinou tantas coisas. Além disso, foi  por meio dela que conheci Ferdinand e hoje estou no clã Wampir. Depois daquela conversa, resolvi não ficar pensando na atual situação de Eleonor para não me chatear ainda mais. Então, liguei para Lilian e combinamos de nos encontrar já que estávamos por perto. Pelo que soube, Lilian também estava com alguns problemas e prometeu que após resolve-los iriamos a uma festa com alguns amigos. Apesar de ter achado estranho, afinal, não estávamos no clima para “festejar” deduzi que talvez houvesse algo que pudesse nos ajudar e que nos fosse útil: Lilian tinha amigos bruxos.

  • Sangue frio – Final

    Sangue frio – Final

    Quando Hector chegou, eu já estava com minhas malas prontas. Confesso que, estava empolgada por saber que teria a companhia de minha amiga novamente. Hector também pareceu animado com a viagem, já que precisaríamos encontrar Lilian em um ponto mais perto de onde ela estava. Mas, deixou transparecer que não gostaria de ficar muito tempo fora do litoral. Alugamos um jato particular e partimos a noite. Durante a viagem, concluímos que nossos trabalhos juntos estavam chegando ao fim. Mas, não falamos do assunto. Logo que chegamos, alugamos um galpão temporário por meio de alguns contatos que tínhamos, onde realizaríamos nossas atividades. Antes de Lilian chegar, estávamos preparando os equipamentos e nosso sangue já estava fervendo. Nossas próximas vitimas eram um tipo de gente imunda, e nossas preferidas, pois com elas não nos restavam nem um pouco de piedade. Em determinado momento, em minha distração, não percebi que Hector me observava:

    – O que foi Becky? No que está pensando?

    – Eu? Talvez no mesmo que você Hector.

    -Hum, na verdade acho que nem imaginas o que há em meus pensamentos, pequena -Falou sarcástico.

    – Ao menos posso deduzir, não é mesmo? – Falei provocando-o.

    – Bom, de certa forma eu entendo.

    – Entende? Acho que não. Hector eu preciso…

    Hector veio em minha direção, interrompeu o que eu iria dizer, e me surpreendeu com um beijo, ordenando em seguida:

    – Tudo bem. Agora vá receber a Lilian, ela já chegou.

    Abri a porta para Lilian revirando os olhos. Odeio quando me dão ordens. Mas, ao ver minha amiga, nos abraçamos feito duas bobas. Hector sem paciência foi direto ao ponto:

    – O que temos aqui querida Lilian?

    – Os presentes que lhe prometi.

    Foi então, que vi a empolgação nos olhos de Hector novamente. No porta malas do carro havia dois pobres imundos. Mais assustados do que eu imaginava, a considerar o que praticavam. Lilian sentou-se e assistiu de camarote. O cenário estava montado. Duas velhas macas de hospital, nossos velhos bisturis, alicates, facas de corte muito bem afiadas, alguns fios de arame farpado. Hector e eu até nos vestimos divertidamente com jalecos e luvas, fazendo Lilian rir de nosso teatrinho. Amarramos nossas cobaias nas suas respectivas macas com os fios de arame. Hector iniciou a sessão cortando as roupas fedorentas daqueles seres…

    -Querido Hector, imagino que saibas contar?

    – Hahaha Mas é claro! – Falou olhando- me com seu jeito sacana e tentador.

    -Então ajude-me por favor?

    Um, dois, três… Arranquei os dentes daqueles infelizes. Quatro, cinco, seis…um a um e muito lentamente.

    – O que acham de virarem nossas bonequinhas particulares?- Disse Hector para ambos, com uma expressão demoníaca, assim que terminei meu trabalho.

    Cortamos a sangue frio, os braços e pernas daqueles infelizes, que já não tinham forças para gritar. E costuramos algumas próteses fajutas de pano no lugar. Costuramos também seus olhos. Decidimos que antes de matá-los, eles deveriam provar do próprio veneno. Deveriam sofrer e sentir o que sentiam aquelas pobres crianças. Após mais alguns detalhes, nossa obra de arte estava pronta. Lilian resolveu “tomar um ar” e eu fiquei em seu lugar. Peguei um cigarro para mim e observei todo o trabalho de Hector, que não pareceu nenhum pouco incômodo com minha presença. Eu de certa forma, diverti-me com os sons aterrorizados que aqueles coitados faziam cada vez que eram tocados e violados. E ao final, até ajudei Hector a lhes dar uma bela surra e a pendurá-los para deixá-los morrer lentamente, enquanto todo seu sangue escorria por meio dos cortes que fizemos no pescoço de cada um. Servidos, até brindamos ao cumprimento de nossa missão. Por fim, limpamos o local e Hector se encarregou dos corpos.

    – Bom, hoje teremos que ficar em um hotel. Partimos assim que anoitecer? – Disse Hector.

    – Obviamente, não temos mais nada para fazer aqui. – Respondeu Lilian – Esse lugar me deixou depressiva.

    – Vampiro lá tem depressão? – Falei rindo.

    E caímos na gargalhada. Eu e Lilian dividiríamos o mesmo quarto. Mas, pedi para encontrar-me com ela lá depois, e fui conversar com Hector.

    – Estava te esperando. – Disse ele, quando bati na porta e entrei.

    – É eu imaginei.

    – Venha cá.

    Sim, eu não me encontrei com Lilian no quarto. Hector e eu passamos o dia lá, emaranhados um no outro matando nossa sede e desejos. Quando anoiteceu, Hector demorou-se para levantar. Encontrei Lilian que ficou me enchendo de perguntas, pegamos a caminhonete e partimos. Quando Hector acordou, imaginei que deve ter apenas encontrado o meu bilhete:

    “Querido, o jato particular está lhe esperando para que possas retornar ao litoral. Eu e Lilian fomos de caminhonete, pois tenho alguns lugares para visitar. E…Isso não foi uma despedida. Beijinhos. Até mais, quem sabe…”

  • A Vingança de Rebecca – Final

    A Vingança de Rebecca – Final

    Erner até tentou fazer-se de desinteressado e ao final, eu, apesar dos meus planos o desejava também. Era estranho. Eu o amei. Mesmo com todo o sofrimento que passei em suas mãos. Mas, enquanto o beijava e sentia seu gosto doce, pensava em quanto àqueles anos haviam sido amargos.  Enquanto suas mãos frias trilhavam todo o meu corpo, eu sentia em cada toque, as dores, os cortes e as queimaduras. Enquanto ouvia as palavras insanas, sussurradas em meu ouvido, lembrava-me o quanto me sentia humilhada com seus xingamentos enquanto apanhava sem ao menos saber por quê.  Era hora de acabar com tudo aquilo. Era hora de dar um fim em todo o sofrimento. Vingar-me. Libertar-me.

    Quando senti que Erner distraiu-se em meio ao prazer que sentíamos, passei as mãos sobre sua nuca, olhei em seus olhos por alguns instantes e em um movimento rápido, quebrei seu pescoço. Eu sabia que logo ele acordaria. Seu corpo era pesado mas, eu o arrastava sem fazer muito esforço… Escorada na parede esperei que ele acordasse.  Quando ele percebeu que estava nu e amarrado no lugar que até então havia pertencido a mim, olhou-me com desespero. Então rindo, falei:

    – Consegue ver o que se passa em minha mente agora?

    – Maldita! Não sei como eu pude cair em um truque tão fajuto e me encontrar em tal situação.

    -É, nem eu sei como meu truque “fajuto” funcionou tão perfeitamente, você um velho e poderoso vampiro… Mas enfim, você brincou bastante comigo. Acho que agora é a minha vez…

    Por algumas horas exercitei minhas forças fazendo Erner sofrer, fazendo exatamente tudo o que ele havia feito para mim. Eu não pretendia prolongar os meus dias e noites naquela casa, porém, eu sabia que ele era um homem poderoso e cheio de negócios. O obriguei a assinar um documento que passava todos os seus bens para mim, naquela época não havia tantas burocracias e um documento assim já era suficiente, afinal meses anteriormente, ele mesmo, devido a sua possessividade, quis mudar meu nome, como se fossemos casados “Você é minha e não será de mais ninguém”. Em seguida, busquei alguns “brinquedinhos”. Quebrei ossos, retalhei sua pele e o fiz pedir por misericórdia…

    Olhei em seus olhos pela última vez, já não eram mais tão terríveis. Ele estava fraco. Agora só sobravam os restos de um homem que um dia eu temi. Amarrei seus braços com uma corrente, e arrastando- o levei-o até o lado de fora da casa. Pela primeira vez após anos eu podia ver o céu e as estrelas por inteiro. Joguei-o em um monte de pedras. Peguei um galão com gasolina. As últimas coisas que ouvi naquela noite, foram seus gritos de dor, seus xingamentos lembrando-me de o quanto eu era maldita.

    A última coisa que vi de Thomas Erner foi seu corpo queimar até virar cinza.