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  • O mistério do lobisomem – pt2

    O mistério do lobisomem – pt2

    Claire dormiu praticamente o dia todo e ao contrário dela eu resolvi usar o tempo para terminar de arrumar minhas coisas e fazer alguns contatos. Liguei para meus amigos magistas da casa de Kieran e comuniquei que estava na região. Falei também com o vampiro líder da região, que é um velho conhecido e aliado e ainda avisei a Pepe que estava tudo bem.

    Horas mais tarde e já pela 16h ou 17h daquela tarde ela acordou.

    – Que poder tu usou em mim? Eu dormi feito uma pedra, fazia dias que eu não dormia assim…

    – Pelo visto o sono te fez bem, está até mais animada? Se quiser tem algumas frutas frescas na cozinha, algo de boas-vindas de quem me alugou aqui.

    – Obrigada Fê, mas não costumo comer frutas.

    – Sei da tua “dieta lupina”, mas quem sabe um pouco de vitaminas dê um pouco de cor a tua palidez? Aliás, pesquisei um dos agentes duplos e meus contatos passaram uma possível lugar que ele frequenta.

    – Por que estamos enrolando aqui então, vamos atrás dele agora…

    – Calma, ainda é dia, esqueceu que só posso sai à noite?

    – Eu vou dar uma olhada e te falo depois então…

    – Hey tô aqui pra te ajudar lembra?

    – Mas…

    – Mas, nada… Aguenta ai que vou te passar meu plano e tu me diz o que acha do procedimento.

    Ela fez cara de poucos amigos, mas depois de lhe contar o que havia planejado e dela ter colocado diversos poréns, porquês e contrapontos. Chegamos há um meio termo ao mesmo tempo em que o sol havia partido.

    Fomos no carro dela, por sorte era verão e aquela noite longa ia ser muito bem aproveitada. Não trocamos muitas palavras e ela fazia seu carrinho praticamente voar naquelas vielas à beira-mar. Em alguns momentos precisei me agarrar ao “puta merda” para não virar “omelete de vampiro”, mas não reclamei e chegamos rápido ao lugar. Rua pouco movimentada a beira de um penhasco, poucas casas residenciais ao redor e lá estava a padaria.

    Lugar pitoresco, que servia apenas como chamariz para turistas e para ocultar uma passagem secreta, que dava num subsolo movimentado. Entramos sem dificuldades haja vista as dicas de meus contatos e lá estava um ponto de encontro de hipsters, ricaços e bon vivants. Além é claro de alguns sujeitos parecidos com o perfil “agente secreto” no qual estávamos investigando.

    Circulei com Claire pelo lugar em seus diversos cômodos e eis que num piscar de olhos ela sumiu do meu campo de visão. Procurei por alguns instantes e logo à avistei ao lado de um velho, bem vestido, mas com cara de poucos amigos. Fui calmamente ao encontro deles, obviamente para não fazer “estardalhaço”, quando ela simplesmente empurrou o cara contra a parede e iniciou um intenso ataque histérico.

    – Quem tu pensa que é? – Xingou o velho em alto, bom tom e com sotaque britânico carregadíssimo.

    – Cala boca seu velho seu babão – Retrucou a bela, mas espalhafatosa lupina.

    Meu instinto protetor teve vontade de meter a mão naquele escroto, mas me segurei diante suas blasfêmias e segui  na direção de ambos. A essa altura o lugar inteiro observava a briga, alguns já se retiravam para outros cômodos e finalmente eu cheguei ao lado deles. Coloquei a mão no ombro de Claire apertei um pouco e falei quase sussurrando:

    – Calma garota, está chamando muita atenção…

    Inicialmente ela me ignorou, mas quando apertei mais forte seu ombro ela entendeu o recado e soltou o velhote. O problema é que o cara saiu correndo, um pouco mais rápido que o normal para um humano e lá fomos nós atrás dele. Passamos por diversas salas, escadas, algumas pessoas caíram. Até que enfim chegamos ao que parecia ser uma outra saída do lugar e próxima do mar. Onde finalmente o seguramos.

    – Puta que pariu! – Falei alto. Alguns me olharam e quem precisava fez cara de desentendido. – Ahh venha, precisamos conversar depois desse pequeno desentendimento inicial – Continuei, puto e arrastando o velhote para for a do recinto.

    Havíamos saído do lugar pelo lado de baixo e ao que parecia naquela noite escura estávamos numa praia, onde não havia areia mas sim uma espécie de pedras tipo brita muito pequenas.

    No meio do caminho o fujão havia resmungado algumas palavras e Claire aproveitou para interrogá-lo antes que algum segurança ou curioso aparecesse:

    – Anda fala logo o que tu sabe!

    – Cala boca sua puta!

    E antes mesmo de eu esboçar qualquer reação, Claire o pegou pelos cabelos e continuou:

    – Fala logo onde tá o meu pai, já arrinquei cabeças por menos e hoje estou com fome…

    – Ca-ca-calma, me-me solta!!!

    Mas ela não se comoveu com a gagueira aparente do velho, deu-lhe um belo de um soco de esquerda, largou-o e ainda complementou com dois chutes fortes e precisos.

    – Por favor para… – Tomou folego, tossiu um pouco de sangue e continuou. – Já basta ficar velho, apanhar de uma mulher é mais do que humilhação! Eu vou falar o que sei…

    Estava maravilhado vendo Claire agir como se fosse eu mesmo quando estou com raiva. Como eu já declarei algumas vezes aqui gosto de fêmeas ariscas… Mas voltando àquela momento:

    – Teu pai tá metido em algo grande, algo que envolve genética e cyborgs. Somente os mais antigos da Mão Vermelha, como ele tem acesso.

    – Tá isso eu já sabia… Anda fala quem tá com ele!!!

    – Ele tá com…

    Antes que ele pudesse terminar a frase ele começou a tremer no que parecia ser um choque fortíssimo. Ao mesmo tempo que vimos ao longe alguém perto da entrada do lugar e que desapareceu tão rápido quanto o percebemos.

    – Calma não encosta nele, deixa isso pra quem já morreu. – Comentei ironicamente. – Acho que alguém apagou ele, tô sentindo uma energia punk no corpo dele.

    Mexi em suas roupas, peguei sua carteira e um molho de chaves. O celular estava soltando fumaça então simplesmente larguei sobre seu corpo inerte.

    – Olha aqui na carteira dele, tem um endereço no caso de perda, quer tentar?

    – Vamos!

  • A procura de vampiros antigos

    A procura de vampiros antigos

    Nas últimas vezes que vocês me ouviram falar sobre o mundo dos vampiros eu sempre falei de muitas circunstâncias ruins que ocorrem conosco. Quero deixar claro que não sou do tipo de criatura que é sempre negativa com relação ao modo que o mundo é visto. Quem me conhece um pouco sabe que sempre tento ver o lado positivo das coisas. Em fim, no geral os vampiros não gostam de ser atormentados por pedidos de transformação, então nossa primeira reação é falar mal para não levantar intenções ou vontades.

    Sobretudo hoje quero falar de outros assuntos e do que ando fazendo no momento. Quem acompanha o blog sabe que tenho um crime para ser resolvido: a morte do meu querido irmão Zé. Passou-se algum tempo desde que encontrei Oliver o ajudante do Zé que me esclareceu parte dos fatos, no qual concluí que o meu irmão na verdade foi morto em uma emboscada e que seus poderes foram absorvidos ao que parece em um ritual vampiresco, feito por uma vampira e uma bruxa até então desconhecidas por mim.

    Acontece que desde então eu não fiquei parado e mexi meus pauzinhos afim de achar mais informações sobre as malditas. Acontece que caçar um vampiro, não é algo simples, além da burocracia que envolve a situação é um ser com os mesmos poderes, que pensa parecido e que pode possuir muito aliados.

    Quando algo desse tipo ocorre é imprescindível recorrer aos “regrados”, os criadores das normas ou simplesmente os chatos que dizem como os vampiros devem se civilizar com os outros e entre si. Apesar do meu clã não ser digamos “seguidor” das leis tradicionais, é de extrema importância falar com o máximo de aliados possível antes de tomar qualquer atitude com relação a um ser da mesma raça. Perceberam uma diferença importante entre nossa sociedade e a humana? Enquanto os humanos se matam as vezes sem o menor sentido, nós nos preocupamos sempre com os semelhantes…
    Começo a entrar aqui em uma parte extremamente delicada de nossa sociedade e me perdoem pelos poucos detalhes que darei a seguir, afinal querendo ou não é por causa disso e de outras burocracias que estamos não-vivos até hoje.

    O primeiro passo que dei então foi entrar em contato com o “superior” mais próximo a mim. Esse procedimento é necessário pois somente alguns poucos vampiros tem acesso aos regrados. Como meu tio está dormindo o mais próximo a mim é o chefe do supremo conselho do país no qual estou no momento, que dentre outras peculiaridades é extremamente ligado a tradição e só fala castelhano ou francês.

    Pois bem lá fui eu atrás do cara no local que me foi indicado, uma casa de pães em pleno centro da cidade.
    – Por gentileza eu gostaria de falar com o gerente, é um assunto de família…

    A atendente me leva até uma sala e quando menos espero surge uma bela moça, usando um terninho preto que me pergunta com ar meio arrogante em castelhano:
    – Senhor o movimento está grande hoje pode ser breve por gentileza!
    Mantenho o bom senso, percebo que ela tem algo especial, talvez seja uma carniçal e lhe digo:
    -Então minha querida, meu nome é Antônio, sou do Brasil e preciso falar com o …
    O rosto dela permanece sem expressões e me responde:
    – O senhor marcou hora? O … pediu para não ser incomodado com assuntos da família esse mês!
    – Vejo que você não me conhece então por favor chame o seu chefe, antes que! (mudando o tom de voz)
    E ela me responde de novo:
    – Antes que o que garoto…
    Nessas horas não é fácil ter a aparência de 25 anos. Levanto-me da cadeira, sinto meu sangue esquentar, minhas veias se realçam e minhas presas começam a aflorar.
    – Escuta aqui sua ghouleh de merda, chama logo a porra do teu chefe que eu tenho assuntos importantes para resolver!
    Antes que eu perca a cabeça ouço passos e a maçaneta de uma das portas do escritório se abrir. Surge então um ruivo de 2 metros de altura, trajando um terno preto e óculos escuros que me fala:
    – Deixe ela ai e venha comigo!

    Ele me leva por um corredor que dá em um elevador. Antes de entrarmos ele me da uma venda e diz para colocar. Apesar de estar enfurecido e nervoso, coloco a venda sem pestanejar e aguardo, pensando que provavelmente iriam me levar para os superiores.

    Sinto a temperatura cair muito ao sairmos do elevador, andamos uns 20 passos até uma sala com o cara segurando meu braço com força e ao pararmos ele abre uma porta me empurra de leve para dentro e me diz para aguardar. Fico ali em pé aparentemente no escuro por uns 2 ou 3 minutos até que sinto um forte perfume de incenso de canela e uma voz feminina me fala sussurrando ao ouvido.
    – Estressadinho senhor Antônio?

    Sinto um leve arrepio e tiro a venda, ao abrir os olhos vejo uma vampira de cabelos loiros, muito bem maquiada usando um vestido longo, preto com rendas e um decote em v que denunciava o seu belo colo. A Beth que me perdoe, mas é difícil não reparar em algumas beldades que se encontra por ai.

    A senhorita, que foi até bem simpática, se apresenta me fala que a chefe no momento é ela e que espera que eu tenha bons motivos para estar lhe incomodando. Contei-lhe então os ocorridos, expliquei que minha família é exclusa, mas que devido a situação eu precisava falar com os “poderosos”. Ela hesitou a princípio, mas meus olhos azuis sempre me ajudam com alguns detalhes.

    Depois de 40 min sai da padaria com pelo menos um telefone e um nome, mas frustrado por que teria de ir a outra cidade para continuar as investigações. Pelo menos a cidade é aqui no Brasil.