Quando recuperei a consciência. Continuava amarrada, porém estava sentada em uma cadeira de frente para um espelho. Quando minha visão normalizou-se e eu pude me ver, não consegui suportar e chorei desesperadamente. Eu estava horrível! Erner havia raspado meu cabelo, meus longos e escuros cabelos. Após aquela noite, fui mantida naquele lugar por vários anos, sofrendo as piores torturas, dores físicas e emocionais, sem ver o mundo lá fora. Em outros momentos, eu era forçada a estudar trancada na biblioteca, sobre assuntos que Erner me designava, em seguida, era mantida novamente na maldita sala de tortura enquanto ele saia para fazer coisas que não eram do meu conhecimento… Tive pouquíssimos momentos de paz e tréguas durante esse período.
Ao ouvir que a porta estava sendo aberta, disfarcei e mantive meu olhar fixo para frente como se olhasse para o nada. Erner trazia sangue para alimentar-me. Naquele momento, pensei em como eu o odiava, cada vez que se aproximava de mim tudo o que eu sentia era nojo. Eu havia me tornado uma pessoa seca. Que alimentava o ódio e tinha sede de vingança. Evitava olhar para mim mesma e me perguntava quando aquele inferno terminaria. Mas, com o tempo descobri que o vampirismo havia trazido consigo alguns dons e poderes…
Quando meu corpo se recuperava das dores e dos hematomas eu sabia que seria torturada novamente, mas após tantas torturas na qual sofri, descobri que era capaz de fazer algo inimaginável. Descobri o meu primeiro dom, que aparentemente parecia algo comum, mas não em minha situação. Com isso, após tanto tempo negando-me a alimentar-me resolvi beber todo o sangue que havia sido trazido alegando que já não suportava mais as dores que sentia. Meu corpo recuperou-se logo e Erner iniciaria mais uma “sessão”. Concentrei-me para “me desligar”. Erner pensaria que eu havia desmaiado ou que já estava inconsciente, e foi quando senti que minha alma caminhava pela sala vendo meu corpo jogado no chão.
Erner saiu e fechou a porta. Eu o segui até seu quarto, pois em estado de espírito percebi que conseguia atravessar as paredes. Ele abriu uma gaveta e pegou um diário que estava junto a livros de rituais, para fazer suas anotações. Vi que ele realmente não percebia minha presença, ou melhor, a presença do meu espírito. Então, aproximei-me e pude ver o que escrevia:
“Alemanha, 1955
É estranho olhar para ela e não saber o que se passa em seus pensamentos. E isso não é bom. Eu errei, pois, pensei que fosse submissa, mas seu gênio é forte. Preciso me preparar, pois logo ela poderá perceber que já não a domino. Sei que já não a assusto… Preciso tomar uma atitude. Preciso livrar-me dela, antes do meu “grande momento”, poderei ficar fraco, e vejo que as torturas e surras que lhe dou não adiantam, pois ela aprendeu a controlar-se e dominar-se, ela logo descobrirá o que é capaz de fazer por conta do vampirismo, ai será tarde demais, não conseguirei forçá-la a ficar, mesmo depois que nos casamos, e apesar de desejá-la não posso mais mantê-la viva.”
Deixei-o com suas anotações, já havia visto o suficiente, mesmo sem entender o que era esse tal de “grande momento”. Eu precisava fazer algo. Ele já não podia mais me controlar e eu estava decidida a me libertar e a vingar-me daquele maldito de uma vez por todas.