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  • Uma nova jornada – Parte V: ano novo

    Uma nova jornada – Parte V: ano novo

    – Com Licença. – Falei ao chegar, batendo à porta.

    Antoni estava em um escritório, que logo mais soube ser seu. Logo, espantei parte dos pensamentos que brotavam em minha mente ao reparar como era incrível sua semelhança com Thomas. Falava no telefone calmamente, mas fazia anotações de maneira muito rápida em um pequeno bloco de notas.  Olhou para mim, sorriu e tratou de desligar o telefone assim que pôde, fazendo sinal para que eu entrasse.

    – Sente-se.  – Falou amigavelmente, entrelaçou os dedos e me disse sem rodeios: – Você poderá ficar instalada no mesmo quarto com Lorenzo nessas primeiras noites, mas logo precisará ter seu próprio quarto.

    – Como? – Perguntei, duvidando do que havia escutado.

    – É uma instrução importante. Fará parte do procedimento. Não me leve a mal, isso é para segurança do pobre garoto.

    – Bom, nesse caso…

    – Veja bem Rebecca, preciso que confie em mim. Peço apenas isso.

    – É um pouco complicado para mim. Quero que me garanta que se eu desejar ir embora, tudo estará disponível o mais rápido possível para nós.

    Por um instante, pensei tê-lo ofendido. Mas, tendo sua compreensão ao julgar meus motivos, ele concordou. Após uns quarenta minutos de conversa, grande parte das instruções e dúvidas estavam esclarecidas, mas ainda não havia sido detalhado como seria de fato o meu “treinamento”. Resolvi dar tempo ao tempo e antes de me retirar da sala, Antoni segurou-me pelas mãos, chamando-me de volta, seu olhar intenso encontrou o meu por alguns segundos:

    – Rebecca, haverá uma confraternização entre todos essa noite, devido ao ano novo.  Será no salão principal, Lorenzo e você estão convidados. Gostaria de apresentá-los, por isso é importante que venham. Usem branco, aqui essa tradição não é apenas para os humanos…

    Obviamente aceitei o convite. A confraternização teria um clima mais social então, Lorenzo vestiu calça e paletó cinza claro, junto a um suéter e camisa brancos, devido ao frio que fazia para ele. Eu usei um vestido bordado, com um grande decote nas costas, o que me deixou de certa forma, sensual. Essas roupas estavam a nossa espera no quarto, já que eu jamais imaginaria um evento nesse sentido. Nunca comemorei essas datas após ser vampira e Antoni previu isso.  Quando chegamos, alguns olhares voltaram-se para nós e imaginei que eram por sermos figuras diferentes por lá, ou por meu batom vermelho e cabelos longos escuros em contraste com aquele look Off-White,  ou cor de nada, que me deixava mais pálida que o natural.

    Antoni nos apresentou a outros bruxos-vampiros, a alguns apenas bruxos, ou apenas vampiros, havia alguns lobos e também conselheiros e sub-lideres, já que ele era o “poderoso-chefão”. Senti-me admirada pela mistura e harmonia entre tantos seres diferentes no mesmo espaço. Sophie também estava lá e veio me cumprimentar, se desculpar e por alguns minutos falou freneticamente sem parar. Em alguns momentos, Lorenzo parecia perdido e espantado, mas fiquei ao seu lado o tempo todo.  A festa estava interessante e agradável.

    – Rebecca, uma dança? – Disse Antoni alegre, estendendo uma das mãos, como se ainda estivéssemos no século passado.

    Olhei para Sophie e Lorenzo, com uma expressão mais preocupada do que o previsto.

    -Vá querida! Aproveite. Eu cuido de Lorenzo! – Disse-me Sophie calmamente, e entusiasmada.

    Antoni usava uma calça social cinza claro, junto a uma camisa de linho entreaberta, parecendo despojado. O cabelo bagunçado, o nariz fino, os traços suavizados… Passou um dos braços por minha cintura e conduziu-me no ritmo da música alegre típica da década de 60, “Time of The Season “ dos “The Zombies”, a música em seu ritmo sensual e ao mesmo tempo divertido, instigou-nos a uma dança com direito a flertes por meio de olhares, que me deixaram sem jeito. Em certo momento, Antoni chegou mais perto para falar algo enquanto íamos de um lado a outro, junto a uns poucos que mais nos olhavam do que dançavam:

    – Como está se sentindo?- Perguntou-me.

    – Estou bem. Preocupo-me com Lorenzo. Ele parece perdido e assustado. Acho que logo vamos voltar para o quarto. Há muitos vampiros novos por aqui?

    – Há sim, mas eles ficam do outro lado das instalações e estão acostumados, há muitos humanos por aqui. Fique tranquila.  – E olhando-me sério, por alguns instantes, disse: – Você está linda…

    Agradeci o elogio me sentindo envergonhada, e quando voltamos, Sophie me disse que Lorenzo havia ido ao banheiro. Claro, ele tem necessidades, pensei. Mas, logo percebi que demorava em retornar e tal demora me tirou do sério. Resolvi ir procurá-lo arrependida de tê-lo deixado.

    – Lorenzo, o que está fazendo ai? – Exclamei ao encontrá-lo do lado de fora do salão.

    – Desculpe, ficou preocupada? Vim tomar um ar.

    -Não se afaste de mim… Isso é para sua segurança. – Falei ríspida. – Está pensando nessa loucura toda? Estou vendo o que pergunta a si mesmo…

    – Eu nunca me acostumo com o fato de que pode ler meus pensamentos. Mas, se sabe o que eu quero, por que nem ao menos demonstra alguma possibilidade? – Pergunta-me Lorenzo.

    – Por que não há possibilidade. – Respondi.

    – Então, o que posso fazer?

    – Eu ainda não sei Loren, querido…

    Pobre Lorenzo. Naquele momento, eu não soube o que dizer. Não estava preparada para transformá-lo em minha cria, mas ele esperava um posicionamento meu.  O pior de tudo, é que ele era o primeiro a quem eu desejava transformar. Buscando deixar aquele clima de lado, ouvindo ao longe uma das minhas músicas preferidas tocando, meu humor muda repentinamente e, puxei Lorenzo já animada.

    Era hora de dançar e flertar com meu humano preferido, enquanto fogos de artifício iluminavam o céu e se juntavam à lua e as estrelas!

  • A vampira pin-up – pt2

    A vampira pin-up – pt2

    Todos sabem das cousas que conto sobre meus irmãos e falar de si próprio é sempre algo difícil, mas para que entendam melhor como eu levo as minhas noites, deixo-lhes uma frase do grande Giacomo Casanova: “Economia em prazer, não é pra mim.”

    Baseando-me nesta ideologia estimulei a conversa entre Eleonor e o tal vampiro, pianista e galã cheio de dedos na esperança de que ele nos apresentasse a beldade pin-up. A conversa foi rápida, mas trocamos muitas dicas e detalhes interessantes, que nos proporcionaram inclusive alguns contatos Wampir relacionados à moda da cidade. Além disso, para minha felicidade ele nos convidou para uma apresentação mais íntima, aonde a maravilhosa Josephine iria se apresentar apenas para um grupo seleto de amigos.

    Na noite seguinte fizemos um pequeno tour, marcamos algumas reuniões e visitamos algumas lojas, onde inclusive tive de carregar as muitas sacolas de minha doce morena consumista. Programas de índio a parte e finalmente nos sobrou tempo para ir a apresentação com os tais amigos selecionados de Josephine.

    Se o Queens of the Stone Age fizesse um som naquela época, certamente estaria rolando Make It Wit Chu quando eu revi a sensacional gringa pin-up. Jeans colado, camisa amarrada entre s seios e lenço na cabeça. Apenas as lentes verdes de seu ray-ban aviator separavam seus lindos olhos dos meus… – Estou apaixonado – Pensei  comigo.

    O tal músico nos avistou logo na chegada e fez as devidas apresentações – Encantado – Disse eu babando e esbanjando toda a elegância europeia que me fosse possível. Porém, para minha surpresa ela ignorou o beijo que tentei lhe dar na mão e  me deu um abraço seguido por beijo carinhoso no rosto, aliás fez o mesmo com Eleonor.

    Conversamos muito rapidamente, aquele básico “Oi tudo bom fiquem a vontade, amigos do fulano são meus amigos…”, seguido por ais apresentação que me frustraram um pouco. Afinal meu ego dizia que seria mais fácil a aproximação com aquela pinup cheia de atitude. Além deles havia mais dois casais de vampiros e três humanos.

    Fizemos amizade fácil e eles adoraram o fato de que naquela época éramos empresários da moda brasileira, ainda mais cariocas. Assim como hoje o conhecimento sobre o Brasil não era tão grande, mas Carmen Miranda e o fato de o Brasil não ter participado com tanto afinco nas duas guerras rendeu boas conversas.  Vários minutos haviam se passado e antes do amanhecer fomos convidados a visitar o espaço vampiresco do lugar. Um porão muito grande, repleto de cômodos aconchegantes e onde a festa continuaria com a apresentação de Josephine numa sala grande, cheia de almofadas e iluminada por várias velas.

    Confesso que havia ficado um pouco chateado pelo fato de não ter recebido tanta atenção por parte da diva, mas a noite continuaria e aparentemente cheia de surpresas. O vampiro se acomodou com um violão e olhando fixamente para Eleonor começou a tocar algo caliente, provavelmente flamenco ou algo do gênero. Depois de alguns instantes surgia Josephine, avassaladoramente sexy num vestidinho carmim curto, que realçava ainda mais suas formas voluptuosas.

    Entre um rebolado e outro ela dançou entre nós de olhos fechados, envolta por vezes no que parecia ser um transe inconsciente e que rapidamente nos contagiou. Lembro-me de um intenso perfume de hibiscos antes dos primeiros humanos sucumbirem à dança, seguidos na sequencia por todos nós.

    Todo estase gerado pela intensidade do mantra, provavelmente misturado há algum feitiço não poderia terminar de outra forma: orgia. O sangue dos humanos, vários corpos nus entrelaçados uns aos outros numa interminável batalha pelo prazer. Bocas, saliva, mãos, gemidos longos e todos aqueles gostosos barulhos emitidos quando a pele de um se esfrega continuamente a pele do outro…

  • Vampiro de mal humor

    Vampiro de mal humor

    Esta noite aconteceu algo um pouco diferente comigo, mas nem tanto.

    Como a Beth ainda está longe eu tenho passado minhas noites vagando por ai em busca de novidades e indo a lugares no qual nunca vou normalmente. Costumo praticar aquela ideia de que quando andamos por ruas diferentes descobrimos coisa diferentes, o que acaba resultando por consequência em novos aprendizados.

    Nesta noite que passou de quinta-feira para sexta-feira, encontrei um bar novo em uma fábrica fechada e próxima a um viaduto. Sabe aquele lugar no qual sempre passamos mas nunca damos muita bola? Confesso que só percebi este em função de minha audição aguçada e de algumas luzes que piscavam por trás de algumas janelas escuras e sujas.

    Fiz alguns breves contatos e soube que era uma baladinha alternativa, mas sem perigos (aparentes) aos sanguessugas.

    Estacionei a moto, desta noite a HD, em uma rua próxima e fui para a baladinha. Sempre fico com um pé atrás quando a porta da balada é fechada e não tem nenhuma alma penada cuidando, mas resolvi mesmo assim me arriscar nesta investida.

    Bati na porta que era de ferro enferrujado com o bico da bota e poucos segundos depois  ouço passos e alguém na sequencia a arrasta lateralmente. Surge então uma mulher grande e forte quase do meu tamanho (1,90) trajada com um elegante terno preto, camisa preta e gravata preta. Óculos preto estilo Ray-Ban e sapatos cuidadosamente lustrados e brilhosos completavam o look da gigante.

    Ela me olhou de cima em baixo, baixou um pouco os óculos sobre o nariz para me ver melhor e me disse:

    –       Tem convite?

    Fiz um sorrisinho de canto de boca,  me aproximei dela e a uns 40 cm de distância de seu ouvido lhe digo:

    –       Preciso?

    Ela então se afasta um pouco para trás, abre o paletó e me dá um cartão verde escuro quase preto, onde havia escrito apenas “VP“ com uma tinta prateada e já um pouco gasta. Penso em perguntar algo, mas ela abre um pouco mais a porta para que eu entre e me acompanha por um corredor escuro que leva para uma escada até uma porta. Ela abre então a porta e lá estava a baladinha.

    O ambiente era de fábrica, muitos corrimões de ferro, dois bares, algumas mesas e cadeiras de ferro, alguns sofás, alguns coqueiros altos. Um DJ em uma pick-up e várias pessoas diferenciadas. Haviam góticos, play boys, patricinhas, gente sem definição e até alguns engravatados mais excluídos. Acho que depois de tanto tempo indo a lugares de gosto duvidoso eu já não vejo tanta coisa estranha.

    Enfim, fiz o procedimento Galego de sempre, olhei ao redor para perceber, imortais, fucei pelo bar, dei um pulinho pelos banheiros. Isso tudo vai parecer estranho para alguns, mas infelizmente é uma rotina necessária quando se possui muitos inimigos como eu e se está em um local diferente e ainda desconhecido.

    Para minha sorte era apenas um lugar diferente então resolvi sacudir um pouco o esqueleto, dancei por alguns minutos. Algumas meninas tentaram flertar comigo, mas não estava com cabeça para tal coisa, nem mesmo para brincar. Já faz algum tempo que venho pensando na Beth e em como nossa situação vai ficar e isso com certeza é o maior dos meus problemas pois realmente amo ela.

    Uma hora e pouco la dentro, já passava das 2 da manhã e resolvi ir embora. Passei no caixa, paguei a quantia mórbida de R$100 reais e fui para minha moto. Para quem achava que essa noite não ia dar em nada vejo ao longe um cara montado na minha moto, que conversava com um outro que estava encostado no muro fumando algo.

    Existem noites em que até uma briguinha não é bem vida e continuei normalmente até chegar perto da moto, onde parei e fiquei esperando o cidadão se levantar. Acontece que os dois continuaram conversando e nada de se levantarem. Sabe eu juro que tento ser paciente, mas nos últimos anos as pessoas insistem em fazer merda. Será que alguém pode me explicar por que alguns humanos precisam levar uma boa surra de vez em quando?

    –       Amigão preciso ir, será que tu se podia levantar dai?

    Para encurtar um pouco a história, o cigarro do outro cara foi parar dentro do ouvido do babaca que estava infectando o banco da minha moto. Já que ele parecia ser surdo nada melhor do que usar os ouvidos deles para apagar a bosta do maldito cigarro que estava me incomodando.

    Sim estou numa fase ruim…