Aos 4 anos ele aprendeu a ler e escrever praticamente sozinho, apesar de não ser muito chegado as aulas e crescer em um ambiente favorável ao sucesso ele tinha tudo para se dar bem na vida. Filho de migrantes nordestinos, desde cedo aprendeu a trabalhar e dar duro para conseguir o que queria. Mesmo assim, ele optou pelo caminho mais fácil, só que pelo visto nunca ninguém havia lhe dito que toda coisa que vem fácil se vai tão rápido quanto.
Desde a primeira vez que lhe vi, a pouco mais de 2 semanas atrás, eu sabia que ele tinha algo a me oferecer além do precioso sangue. Isto claro desde que eu comecei a digamos brincar com minhas vítimas.
Não me entendam mal com relação à brincadeira com a “comida”. Como estou em uma fase relativamente tranqüila, eu posso me dar a liberdade de fazer esse tipo de coisa. Afinal agindo assim eu poupo a Beth das preocupações e a minha vitalidade agradece, pois vou direto ao alvo. Sem contar que evito surpresas desagradáveis que venham de encontro com as minhas necessidades bissemanais.
Se existe uma coisa que menosprezo são os péssimos hábitos de saúde e limpeza. Não que isso possa influenciar no caráter de uma pessoa, mas pelo fato de que o sabor do sangue se altera. O Rodrigo sempre depois de cometer um crime ia para casa e por vezes dormia com os sapatos. Lavar as mãos antes de comer ou tomar um belo banho depois de se deitar com uma prostituta, com certeza não constavam no seu checklist diário.
Apesar de já saber que o seu sangue teria um gosto ruim eu resolvi investir e dar uma chance ao acaso. Resolvi então ir até o seu local de trabalho, um bordel onde ele fazia os seus trambiques diariamente. Um local afastado do centro da pequena cidade e isolado próximo a uma pequena floresta de eucaliptos para corte.
Ao entrar na casa em forma humana senti um cheiro forte de sexo, mas o local era tão mal cuidado que uma coisa boa como essa havia se tornado repulsiva. De qualquer maneira, agüentei e fui em direção ao bar. O barmam, que era uma mulher velha, me pergunta:
– Vai querer um quarto gringo? Tem essas duas ai desocupadas.
Olho em direção as meninas. Uma era negra com cara de que recém havia saído da adolescência e a outra mais velha, morena clara que estava com um sorriso de lado e era bem barrigudinha. Fiz cara de desdém e perguntei sobre o Rodrigo e ela me respondeu:
– Quem quer falar com ele?
– Senhora diga que é o Thiago, quero falar com ele sobre uns documentos.
Ela pegou um telefone celular que estava em um de seus bolsos, digitou algo e falou:
– Patrão tem um Gringo aqui ele quer esquentar umas paradas contigo.
Ela ouve a resposta e me comunica:
– Entra ali cara.
Ao entrar vejo uma salinha simples com o Rodrigo e outro cara conversando. Ao me verem eles param e ficam calados me analisando. EU mantenho a atuação e pergunto:
– Boa noite, quem é o Rodrigo, eu preciso de uns documentos, o Wagner me deu a dica.
O meliante que não tinha cara de muitos amigos, brinca com um palito que estava na sua boca, o pega com a mão direita e cutuca uma pistola que estava na sua cintura dizendo:
– Cara se o viado do Wagner te mandou vou ter que cobrar mais caro., sabe como é comissão e tal, negócios. Fala ai lgringo o que que tu quer?
Por um breve momento, eu penso comigo: “Pra que ficar fazendo esse joguinho, eu podia simplesmente, pular neles dois e ir embora alimentado…” Mas me seguro mais um pouco e digo:
– Calma seu Rodrigo, só preciso de um R.G. novo. Pago bem fica tranqüilo.
Nisso eu coloco a mão no bolso, percebo a mão dele pegando na arma, mas sou mais rápido e mostro um macinho com algumas notas de 50. Antes que ele diga algo eu jogo o dinheiro na mesa e falo denovo:
– Pega ai tem R$2000,00 se o serviço for bom tem mais de onde isso veio.
Ele pega o macinho, da uma cheirada, pensa por um instante, aponta o rosto em uma das notas e fala:
– Gringo não te conheço, mas se esse cara aqui ta te apresentando a gente vai ser amigo, senta ai. Amaral da a cadeira pro doutor, não seja mal educado.
O Tal de Amaral levanta, como ele era um pouco mais baixo que eu ele meio que fica na ponta dos pés me olha nos olhos e sai. Depois disso eu bati um pão com o falsificador. Peguei mais uns nomes, falei de alguns documentos que eu precisava e fingi que fui embora. Fui para um local escuro perto de onde ficava o carro dele, me escondi dentro no banco de trás e o esperei até a hora que ele decidiu ir embora perto das três e alguma coisa.
Ele entrou no Opala que possuía películas muito escuras, jogou um envelope no banco do carona e arrancou. Pensei que ele seria mais esperto e me veria rápido, mas não, ele andou um pouco até me ver pelo retrovisor. Claro que se assustou, mas conseguiu parar o carro em uma valeta. Bem que tentou me dar uma coronhada com a pistola, mas segurei o seu braço e o fiz derrubar a arma sobre o banco. Antes que ele tentasse outra brincadeira eu segurei os seus dois braços pelos nervos que ficam entre o braço e o ombro. Isso lhe fez gemer um pouco e lhe preguei os dentes no pescoço. Maldito sangue sujo, nem a adrenalina toda que ele havia liberado conseguiu disfarçar o sabor do precioso néctar. Todavia, serviu com o seu propósito de me deixar nutrido por mais algum tempo.
O Corpo? Nada como um bom fogo para apagar qualquer vestígio da minha presença, mesmo por que quem iria reclamar o desaparecimento de um cara que não existe?