Depois de ler meu diário traduzido, percebi que deveria repassar os acontecimentos finais para todos vocês. Como devem saber, tenho por nome Trevor, sou mestre de Lilian e aqui vou deixar a continuação do que leram e com as minhas próprias palavras.
Nevou naquela manhã. Lembro-me de estar deitado, enquanto ouvia os corvos baterem nas janelas.
Lilian lavava-se em uma banheira de mármore, localizada próxima à cama, dando pancadinhas suaves nas bordas, enquanto mergulhava as mãos claras e finas, dando leves piparotes com os dedos, fazendo com que minúsculas ondulações roçassem a superfície da água, logo depois elevando a voz para que uma das Ghouls fosse chamada.
Atendendo ao chamado, Clarie foi ao encontro de Lilian, ela a chamou carinhosamente “Venha aqui querida”. A Ghoul ajudou Lilian trocar-se, e eu assobiava chamando o nosso querido “Thor”. Debaixo de uma das cômodas saiu o pequeno cachorrinho latindo. Ele claro foi abanando o rabo para sua bela dona, antes de tentar pular para dentro da banheira e tomar a água, “ No Thor!”, Lilian o pegava no colo deixando a mostra os belos seios e o longo cabelo molhado descendo pelas costas, “ Se ainda fosse humana diria para colocar uma blusa”, “Medo que eu fique resfriada? Acho impossível isso acontecer meu caro vampiro”, aquelas palavras vinham através de um belo sorriso e gesto para que Claire nos deixasse a sós.
Logo ela se aproximou e tateou minha testa me dando em seguida um beijo, “Deveria ser menos preocupado!”,”Creio que ainda tenho medo que ele volte e lhe machuque”, “ Acho muito difícil, afinal não tens me treinado por esses anos para a nossa vingança?”, “ Claro Lily, claro!”.
Sinceramente, toda vez que ficava ao lado dela sentia que de alguma forma a presença de Genevive me rondava, mas creio que era apenas fruto da minha imaginação ou da excitação de estar com alguém querido novamente, “T precisamos ir, lembra que hoje finalmente iria me mostrar o teu poder?”, “Está muito curiosa minha cara?“ Claro que estou, dez anos aqui dentro e todos falam a respeito e eu nunca tiver o prazer de presenciar”, “O prazer? Creio que não pensará assim, depois que acontecer”.
Caminhamos então até um lugar peculiar nos fundos da fortaleza, lugar este em que guardamos alguns bons inimigos como “ bonecos de treino”, e não se desesperem meus queridos, nenhum humano é guardado por lá. Sendo assim, pedi que trouxessem um vampiro, um jovem ignorante vampiro que em sua “sabedoria” tentou enganar um dos mestres, “ Galian, traga o Zac, preciso dele”, ao fundo conseguíamos ouvir os gritos do pobre vampiro, eram gritos de desespero, pois, no fundo ele sabia que o fim estava próximo.
Trouxeram o atormentado e agora fraco vampiro, ele com a cabeça baixa, sussurrou algo “ Vou morrer?”, “Você merece viver?”, “ Não caro senhor, mas mereço a chance de tentar”, “ Claro, claro meu caro. Vais tentar hoje!”, “ Contra quem meu senhor?”, “ Eu!”. O desespero tomou conta daquele vampiro, ele tentou sair das amarras, mas em vão, “ Tragam ele até o pátio”, dadas as ordens segui junto de Lilian até o local da “batalha”, “Vais lutar T?”, “ É o que parece”, “ Contra um vampiro jovem e aparentemente com os pés amarrados a morte?”,” Sim…”, Por que?”, “ Por que? A vida já não é justa meu amor, que dirá a ‘não vida’!”.
Lá estava Zac, trajado com sua roupa de batalha uma última vez. Mal sabia ele que eu não precisaria usar a minha espada, apenas o poder da mente e das mãos me trariam a vitória. E então podendo assim mostrar meu real poder, a minha então pupila e atual companheira.
A neve continuava a cair do lado de fora e os corvos continuavam a rondar a muralha, indicando que a morte estava presente e levaria a alma de alguém para o inferno ou aonde quer que a escuridão prospere. Zac estava pronto, sabia que eu não usaria nenhuma arma, daria chance ao rapaz, uma chance ridícula, mas mesmo assim continuava sendo uma chance.
Deixei que ele fizesse o primeiro movimento, errou, segundo movimento, quase acertou, terceiro movimento, errou, errou, errou. Quase não precisei sair do lugar, esperei que ele tentasse mais algumas vezes, até perceber que ele agora estava com o espírito abalado e aterrorizado, dando oportunidade para lhe capturar e um único movimento, deixei que ele tentasse escapar, mas não, ele não conseguia, estava paralisado, o medo o possuiu, “ Zac, tens algo a dizer?”, “ Eu não queria ter me transformado nisto! Nunca pedi por isto!”, “ Então caro vampiro, todos nós temos o mesmo anseio. Vou lhe proporcionar a alegria de deixar esta casca!”.
O ergui pelos braços, olhei uma última vez nos olhos daquele ser e comecei a me alimentar de toda energia que ele emanava. Senti meu corpo tomar para si a então energia daquele vampiro. Senti que meus olhos queimavam, minha cabeça rodava em loucura, revi cenas da vida humana dele, senti pena, senti as alegrias dele, a raiva dele, a decepção, finalmente o medo e logo o fim. Senti a explosão de energia espalhar por meu corpo,saté sair do meu delírio e voltar ao normal. Assim que terminei, joguei então o corpo vazio e desfigurado de Zac no chão, eu o havia livrado da prisão eterna.
“ Você tomou para si toda a energia daquele ser?”, “ Agora sabes meu real poder Lili. Eu posso além de tomar o sangue, possuir a energia de outro ser, e não precisa necessariamente ser apenas humano”, “Apenas você consegue essa peripécia?”, “ Não! Dani, Michael, Cage, entre outros poucos aqui conseguem”.
Consegui ver que Lilian possuía mil e uma dúvidas e teria que responder todas, afinal uma das qualidades que ela possui é a vontade de aprender e eu obviamente responderia tudo que ela quisesse saber com todo prazer, adorava ver aqueles olhos curiosos me rondando cheios de perguntas. Mal sabe ela que, a curiosidade que possui é um dos mais deliciosos afrodisíacos para mim. Mas creio que isto fique para outro dia. Afinal na noite seguinte estaríamos indo para o lugar em que seria posta a prova de muitas peculiaridades.