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  • Odeio o anoitecer – Parte 1 de 2

    Odeio o anoitecer – Parte 1 de 2

    Certamente, um dos períodos no qual eu mais me sinto triste é o entardecer. Não deveria ser assim, afinal esse período do dia nos equivale ao “amanhecer da noite”, mas alguns sentimentos são quase impossíveis de se explicar. Digo isso, pois foi o que me aconteceu tempos atrás, o que de certa forma me motivou a sair e dar um rolê. Antes que me perguntem eu não posso sair de dia, mas o céu estava com aquela cor roseada.

    Moto na estrada, em alguma rodovia grande do interior e o objetivo seria me encontrar com Hector. Nosso projeto “Os escolhidos”, estava parado, então a ideia seria levantar um pouco a poeira. Minutos depois eu cheguei no local combinado e lá estava ele junto de Eliot, sentados numa mesa de bar do interior, essas de plástico com marca de cerveja barata.

    Hector reclamou pelo encontro ser tão cedo, mas tive de marcar naquele horário em função de minhas insônias frequentes. Papo vai e vem, ele me contou sobre o que andava fazendo e decidimos ir para o seu refúgio, numa casinha de madeira de difícil acesso, no que parecia ser um sítio. Inclusive, reclamei, pois a estrada era horrível, quase furei os pneus da moto e arranhei algumas partes de baixo. Poxa, vocês sabem do amor que tenho pelas minhas motocas…

    – Relaxa, se quiser eu mando te entregar uma moto novinha.

    – Cara sabes que esse modelo não está mais em fabricação.

    – Pra mim moto é tudo igual.

    – Tá tá, me mostra logo o que tens feito aqui nesse fim de mundo…

    Diante os fatos ele me mostrou algumas foto aéreas e aparentemente era uma fazenda grande, onde dentre tantos detalhes se armazenava e distribuíam drogas sintéticas. Sendo a principal uma derivação, ainda sem nome e muito próxima da tal Flakka, consumida nos USA.

    Se há algo que adoro fazer é estourar esse tipo de lugar e não me faltava vontade para que fôssemos naquela noite mesmo. No entanto, como o objetivo desse nosso projeto é ajudar a sociedade, não bastava entrar lá e quebrar tudo, tínhamos também de prender os culpados e fazer com que eles chegassem até a polícia federal.

    Então liguei par a o meu amigo na PF e avisei dos nossos planos. No início ele ficou com o pé atrás, mas depois de alguns minutos ele consultou o banco de dados e como sempre viu que nossa ajuda seria vital. Está certo que nossas empreitadas deixam muitos destroços, mas vem cá. Precisamos nos divertir também…

    Consegui, que alguns agentes fossem ao local nos próximos dias e tratamos de planejar uma ação rápida. Como sempre entraríamos ocultos por algum feitiço/poder e dentro do lugar trataríamos de prender os lideres. Eliot já havia ido ao lugar e possuíamos algumas rotinas e detalhamentos sobre os melhores caminhos a serem seguidos.

    A verdade é que estes lugares possuem pouca vigilância. Nos filmes são vistos cercas altas, vigilância com câmeras e muitos seguranças. Só que isso é coisa de filme babe e a realidade é muito mais simples. Por que gastar tanto com segurança se podes gastar mais com trabalhadores? Tendo em vista essa realidade havia na verdade apenas dois galpões grandes, um onde as pessoa dormiam e se alimentavam e outro onde estava a produção das drogas.

    Por fora havia até uma meia dúzia de câmeras, que mandavam as filmagens para uma casinha pequena, onde dois caras se revesavam na segurança. As cercas em volta do lugar eram simples e estavam ali apenas para que os três Dobermans não fugissem, ou os empregados.

    Tudo mapeado e prontos para agir eu recebo uma mensagem da Claire no meu smartfone:

    – Fê quado puder me liga.

    Como havia um pouco de tempo antes da ação daquela noite eu resolvi ligar e fui surpreendido por um pedido inesperado de ajuda:

    – Obrigada por retornar brevemente. Tô desesperada meu pai sumiu e não posso falar disso com o nosso grupo, acho que tem gente daqui envolvida, me ajuda, por favor?

    Nessas horas eu sempre lembro do Franz pegando no meu pé, que eu não resisto aos pedidos de uma mulher carente, mas quando falei da situação para Hector ele foi enfático:

    – Cara sério? Na boa se tu for atrás dela vou mandar a merda esse nosso projeto.

    – Hey pera lá meu velho, não é bem assim…

    – Ferdinand tu não tem compromisso cara, tá sempre atrás qualquer putinha que te liga.

    – Ah vai a merda…

    – Vai se fude…

    Vendo que o clima estava uma bosta e prestes a ficar pior Eliot prontamente nos interrompeu:

    – Senhores não é hora pra discussões tolas, vamos focar nessa missão de hoje e ao final disso o Ferdinand pode ir correndo para onde quiser. Vai ser rápido.

    Hector ficou na expectativa, eu até ponderei por algum tempo, na verdade Hector estava certo, mas poxa, não sou de ferro e ele me ofendeu.

    – Tá relaxa vou ajudar vocês, mas porra Hector vê se cala boca, tu me confunde como Franz as vezes.

    – Tô errado cara?

    – Tá vamos nos concentrar nisso aqui, um problema de cada vez…

  • Por que os problemas sempre aumentam?

    Por que os problemas sempre aumentam?

    Faz muito tempo que o homem deixou de dedicar as coisas interessantes da vida como a experiência de fazer novos amigos. O prazer de dormir em camas diferentes e acordar em lugares desconhecidos. Da sensação de provar novos sabores ou perfumes. Da pura alegria em viver aproveitando os bons momentos, como se cada dia ou noite fosse o último.

    Ok posso estar enganado, mas vale a pena sofrer tanto por causa de alguns trocado? Por que acumular tantas coisas inúteis que empoeiram-se com o passar dos anos dentro de gavetas ou de espaços que mais parecem museus? Descrevo assim alguns dos pensamentos que me surgiram ao descobrir o verdadeiro motivo da morte do meu querido irmão Zé. Um motivo na verdade tolo, mas que por ter gerado uma morte tornou-se mais ridículo ainda.

    Passei alguns dias em uma angústia interminável, esperando Oliver se recuperar para poder me contar o que realmente havia ocorrido naquele maldito apartamento. E eis que última Quinta-feira dia 18, depois de alguns dias de espera o gatuno acordou e desabafou comigo durante algumas horas.

    “Galego o que fizemos foi estupido. Eu devia ter amarrado o mestre em casa, dito a ele que as malditas bruxas haviam desistido ou sei la… Tudo começou na verdade quando fomos a um leilão em praga no ano passado, como tu lembras o mestre era um grande colecionador de joias antigas e seu acervo hoje deve ter algo em torno de alguns milhões. Sei que para o senhor isso não é nada novo, mas o importante é que esse vício foi o resultado de sua ruína.

    Neste dia o mestre estava com a aparência de um idoso, uma forma humana que ele adorava usar para se passar de interessante e amigável. Ele estava sentado em uma cadeira comigo em seu colo, quando as duas surgiram. Belas mulheres de de meia idade na faixa do 40 ou um pouco menos, eram bonitas e trajavam roupas elegantes mas nada espalhafatoso. Deram a perceber que seriam ricas madames.
    Apresentaram-se e depois de um tempo a conversa ficou interessante, o mestre comentou sobre sua coleção e isso mudou um pouco o ar do papo. Começou a virar uma espécie de negociação quando as duas decidiram propor a troca de algumas peças por peças que o mestre havia dito que possuía. Combinaram então de se falar em outro momento para marcar onde poderia ser a negociação. Foi tudo muito rápido, se despediram, trocaram cartões de visita e voltamos para nosso refúgio.

    Depois de alguns meses ouvi o mestre combinar pelo telefone um encontro e ao que indicava eram as mulheres de Praga no outro lado. Depois disso ele veio até mim e disse:
    – Oliver, amanhã vamos nos encontrar com aquelas belas mulheres, colecionadoras que conhecemos em Praga, quero tu limpe e separe em uma bolsa discreta aquelas joias da coroa Ucraniana que tenho naquele cofre…

    De início fiquei um pouco receoso, aquelas peças deviam valer algo em torno de uns 4 ou 4,5 milhões de euros e minhas pequenas patas de gato com certeza não eram as melhores ferramentas para manuseá-las. De qualquer forma aceitei o desafio e as separei com todo o cuidado possível.

    No dia do encontro fomos para aquele apartamento onde tudo ocorreu. No caminho ele comentou que iriamos para um apartamento de um de seus “servos de sangue”. Lá chegando ele o mandou o pobre coitado ir passear e ficamos aguardando as mulheres. Isso foi perto das 2 da manhã e elas chegaram na sequência. Apresentaram-se normalmente e zé as mostrou as joias que estavam no quarto em cima da cama e elas então mostraram um cajado, aparentemente de ouro encrostado de pedras vermelhas e azuis e muito bonito. Zé ficou maravilhado com aquilo e começou a pronunciar algumas palavras em alguma língua estranha que eu não consegui entender.

    Quando ele estava lá empolgado, não percebeu que uma das mulheres lhe golpeou pelas costas e a outra o segurou. Eu tentei pular nelas e fazer algo, mas o máxim oque consegui é afastar uma delas para trás, mas ela me jogou ao chão e me chutou várias vezes. Achei que fosse morrer, mas consegui me esconder pulando para fora da janela da cozinha e me segurando na marquise. Em quanto isso eu houvi muito barulhos, golpes coisas sendo quebradas e o que mais me deixou com medo foi o ritual.

    Algumas palavras em outra linguagem desconhecida foram ditas, senti um cheiro horrível que parecia enxofre misturado com um perfume azedo e doce de alguma flor que não conheço seguido de um flash e um assombroso silêncio. Alguns segundos se passaram e vi saindo pela janela uma fumaça cinza rosada. O silêncio continuava e decidi olhar para dentro. Não vi ninguém e decidi ir até o quarto. Lá eu vi algo horrível, era o mestre definhando ao chão e transformando-se em cinzas. Uma das mulheres estava caída ao seu lado e a outra havia sumido. Fiquei alí meio tonto e sem saber o que fazer, até que a mulher se levantou veio atrás de mim e me bateu tanto que acabei desmaiando.

    Algumas horas depois eu acordei com barulho de alguém se aproximando, levantei-me meio cambaleando e procurei um lugar para se esconder e achei o banheiro onde o senhor me achou.”
    Ao ouvir as palavras de Oliver senti-me zonzo. Deixe-o no quarto e fui dar uma volta de moto. No meio do passeio, achei uma boa árvore e sentei-me aos seus pés. Sempre faço isso quando tenho algum pepino para resolver, parece que elas me dão energia para pensar melhor. Lembrei-me então de um velho ritual vampírico, que a um tempo atrás foi encontrado por pesquisadores de cultura indígena e chamado de “yuxin chakabu”. Traduzindo seria como alma do mal ou algo do gênero. Trata-se de um ritual onde um vampiro consome os poderes de outro sanguessuga.

    Ok sem mais detalhes, falei demais e vou ser obrigado a ir me consultar com os regrados…