Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • Backstage da sociedade sobrenatural

    Backstage da sociedade sobrenatural

    Leia a seguir ou ouça uma versão feita por I.A.:

    Minhas noites estavam tranquilas entre a nova a operação envolvendo o pub Rainbow, a gestão do clã e as noites junto de meus aliados. Pepe passou a equilibrar o tempo on-line com os aprendizados físicos e Audny colou em mim. Entendo os motivos dela, em função dos novos aprendizados contemporâneos, mas em algumas oportunidades comecei a sentir minha privacidade congestionada:

    – Audny, se não me engano hoje é a primeira ou segunda noite de lua cheia, vou dar uma volta de moto pra dar uma relaxada.

    – Sei, posso ir junto, Fêzinho? Eu queria ir junto, adoro passear contigo de moto…

    Nesse instante ela me olhou com aqueles olhos grandes, os cabelos ruivos brilhavam a luz das lapadas amarelas e foi difícil dizer não.

    – Tá bora, mas entenda que eu preciso do meu espaço também heimm.

    – Fiqueis tranquilo Fê, deixo-te em paz depois do passeio…

    – Sei, mas tô vendo que ainda precisa conjugar os verbos de uma forma mais atua, moça. Bom vamos, pega esse capacete aqui.

    Entreguei-lhe o capacete e na garagem optei pela clássica Harley antiga, que já estava um tanto quanto empoeirada. Limpei rapidamente e saímos. Sensação libertadora, daquelas que sempre falo por aqui. Quando o vento faz aquela esfoliação na pele e a cada acelerada, o corpo sente a vibração singular que o misto de motor e asfalto emanam.

    Passei por entre os carros, circulamos por ruas estreitas e grande avenidas de várias pistas… estava tudo bacana, mesmo com Audny agarrada e apertando com força todas as minhas costelas. Estávamos apreciando o passeio e eu tentando refletir um pouco entre as minhas ideias, até que duas motos esportivas começaram a nos perseguir.

    Não tive o que fazer, duas esportivas contra minha velha HD, me obrigaram a parar e tentar se proteger. Foi o que fiz abaixo de um viaduto e entre os pilares. Parei e sinalizei para a ruiva… praticamente, nos jogamos atrás das muretas de concreto e esperamos o ataque.

    Os dois pilotos pararam logo atrás e começaram ali o que talvez fosse uma chacina em suas cabeças. Descarregaram duas metralhadoras contra minha pobre moto e as muretas. Os pedaços da moto, concreto e o chumbo das balas voaram por infinitos segundos sobre nós. Em determinado ponto vi fogo no que ainda restava da minha moto.

    – Ferdinand, seu filho da puta isso é pra você ficar ligado que as coisas mudaram, na próxima vez vai ser no teu corpo que vamos fura com os berro.

    Aquilo tinha me deixado muito puto, mas entre o tempo que eu assimilava a perda de uma das motos que mais gostava da coleção e a ameaça feita por aqueles idiotas. Audiny saltou de trás da mureta e começou ali um ataque bestial.

    Fui logo atrás, mas não tive o que fazer… Ela pulou no peito do primeiro e lhe arrancou o capacete. Com a força e rapidez do movimento a sua mandíbula foi arrancada junto e o sangue jorrou por todos os lados. Em seguida ela usou o capacete e o pedaço de mandíbula para espancar o que restava da cabeça do infeliz.

    O outro ficou apavorado diante a rapidez da vampira e tentou subir na moto. Foi quando ela chutou suas costelas e o derrubou com moto e tudo. Ele bem que tentou se levantar, mas o peso da moto segurou sua perna. Dando tempo suficiente para que a ruiva embestada pulasse sobre ele, puxasse seu capacete um pouco para cima e sugasse todo o sangue que lhe fosse possivel, depois de abocanhar o seu pescoço ferozmente.

    Como eu disse, fiquei de voyeur daquela cena brutal. Me restou apenas iniciar uma breve investigação enquanto Audny terminava seu desjejum. Consegui pegar apenas as carteiras dos desgraçados e liguei uma das motos. Percebi luzes, era o farol de um carro e passaria por nós em poucos segundos… então puxei a vampira pelo braço e gritei:

    – Audny, chega, precisamos sair daqui, agora! Sobe aqui, anda! Vamo, vamo…

    Acelerei a esportiva até um lugar mais tranquilo, onde a abandonamos e chamei um carro de aplicativo, que nos deixou perto do refúgio. Lá eu tive um papo com a ruiva:

    – Porra Audny, já te disse que você precisa ser mais limpa, esse lance de arrancar membros, sair feito uma doida não pode mais acontecer na época atual. Tem o caralho de câmeras pra tudo o que é lado. Imagina se gravam o que você fez… Enfim, deixa eu me acalmar aqui. Vai lá tirar essa roupa, ainda bem tá de noite e o motorista não percebeu esse sangue ali na tua calça.

    Ela ficou puta da cara, pois provavelmente em seus pensamentos ela nos salvou. Mas deveria ter reagido de forma diferente. Quem sabe a troca de tiros com as nossas pistolas, não levantaria suspeitas sobrenaturais, caso alguém filmasse. Em seguida. Me acalmei e levei as carteiras dos fdp para Pepe analisar.

    Eles também eram do tal coletivo sobrenatural, que anda enchendo o nosso saco esse ano.

  • O pub Rainbow

    O pub Rainbow

    As minhas noites e dias passaram rápido em meio ao tempo que estive junto de Audny, cria de meu mestre, uma vampira com mais de 500 anos. Além de Pepe, minha cria, e uma vampira que não tem nem 35 anos de nascimento humano. Outro que voltou a ficar perto foi Franz, alguém que considero irmão e é um pouco mais novo que Audny.

    Eu que em algum momento chegarei aos 200 anos de existência me vi entre o velho e o novo mundo entre eles. Sendo a curiosidade algo comum a ambos e isso tinha sim um lado muito positivo. Haja vista, que em alguns momentos eu me peguei ouvindo certos hábitos e rotinas apresentadas por Audny ou Franz. Ao mesmo tempo que ouvia os contrapontos trazidos pela “novinha” Pepe.

    Tudo ia bem, mas em determinado ponto eu me cansei. Sim, eu sou assim, me canso fácil de rotinas e por sorte Franz, estava ali e isso foi muito propositivo. Pois ele estava empolgado com nosso novo projeto, o pub Rainbow. Um espaço para os sobrenaturais interagirem com segurança.

    Algo utópico, talvez. Sobretudo, por que não?

    Ainda no início do projeto, reforma e construção. Lembro de um papo que tivemos:

    – Tá empolgado lá com o Rainbow, então? – Perguntei.

    – Sim, tem ajudado a refazer os pensamentos depois daquela desgraceira que vivi. O que não me acostumei ainda é com o barulho aqui da cidade.

    Franz passou os últimos anos entre a selva e um relacionamento com uma humana que faleceu recentemente e não quis ser transformada num de nós.

    Vendo sua angústia, tentei lhe ajudar com o barulho da metrópole. Saquei a caixinha de fones de ouvido do bolso e lhe disse:

    – Pega isso aqui então e conecta no teu smartphone, depois deixa eu fazer uns ajustes.

    Fiz umas configurações meio padrão e ativei o isolamento de ruídos. Depois retirei da caixinha e ensinei ele como usar na posição certa nas orelhas. Depois coloquei uma música e ele falou mais alto, quase gritando:

    – Isso aqui é perfeito!!!

    Respondi mais alto também:

    – Simmm e você ainda pode escutar as músicas que quiser. Só precisa deixar carregando junto do smartphone quase todo dia a noite.

    – Heim?

    – Tu não ouviste nada que falei?

    – Heimmm?

    – Tá funcionou (risos)

    Minutos mais tarde eu me arrumei e chamei Franz para irmos até o pub. Ele estava tranquilo e ainda ouvindo um som no sofá. Porém tão logo me viu arrumado, levantou-se e fomos para a obra. A caminho de lá contei sobre algo que havia feito antes dele assumir o lugar:

    – Sabe, tem algo que eu não te contei sobre o Rainbow. Eu fiz uma pesquisa e o Carlos, meu irmão lobisomem, ajudou, inclusive. Simplificando, o local onde ele está é comercialmente e energeticamente estratégico. Pelo que vimos é possível estruturar um santuário ali, para acesso facilitado ao mundo espiritual.

    – Sei, mas faremos isso mesmo? – Ele respondeu preocupado

    – Estava pensando na oportunidade. Quem sabe atrair alguns interessados em sessões espirituais. Lembra disso antigamente? O povo se reunia uma vez ou outra por mês e algum sensitivo os conectava com parentes ou espíritos perdidos.

    Ele ponderou por um tempo e me respondeu entusiasmado:

    – Entendi, eu estava pensado num propósito mais político, chamar uns chegados de outros clãs e quem sabe a gente se alinhar melhor com a nossa sociedade. Usar aquela sala maior no subterrâneo para umas festinhas privadas. Clube do sangue, do tabaco, até para meu uso também, se é que me entendes…

    – Claro, sei (risos), mas que tal combinar um calendário, o que acha? Porque sinceramente acho um desperdício não aproveitar o lance espiritual do lugar, mesmo que você me libere apenas o rooftop pra isso.

    – Ah mas lá é claro maninho, inclusive estou querendo por uma cobertura que pode ser aberta por controle nas noites de tempo bom, o que acha?

    – Só vejo vantagens… fica pronta quando?

    – Vou mandar um dos meus ghouls ver isso e te falo… Gostei da ideia de ter uma agenda para públicos diferentes, vamos combinar com as noites em que a Pepe falou de tocar um som lá também…

  • A volta de Franz

    A volta de Franz

    Comecei minha noite com uma mensagem no whatsapp inesperada, vindo de alguém tão nobre que as vezes sinto vontade de mandar a merda:

    – E ai?

    – Fala – Respondi seco.

    – Tava pensando em dar um pulo em alguma cidade pra aprontar algo.

    – Sei, algo específico em mente e que possa atender as necessidades de vossa majestade? – Fiquei curioso

    – Tá começou a palhaçada, valeu…

    – Hey calma oww. Quer vir pra cá? Tá rolando um movimento diferente de outras épocas.

    -Sei

    Insisti:

    – A Audny tá bem mansa, Pepe tem feito um progresso bacana nas habilidades físicas e eu comprei um pub.

    Ele deu foco apenas naquilo que lhe interessava:

    – Me fala ai desse pub

    – Três andares, sendo um subsolo. Lá na região daquele outro que íamos anos atrás. Tá rodando e com movimento, mas quero investir e trazer os nossos pra la.

    – Tô indo pra ai. Devo chegar até o fim da noite, me manda o endereço!

    Eu ainda mexia com alguns e-mails, ajustes em sistemas e toda gestão de negócios a distância que os dias atuais me permitem. Quando ouvi algumas buzinas, seguida por meia dúzia de batidas no portão de entrada. Olhei para as câmeras e lá estava o marquês. Fui pessoalmente ao seu encontro onde ele dispensou o taxi, me cumprimentou com a mão direita ao nosso estilo, seguido por um abraço apertado.

    – Saudades?

    – Entra logo maninho!

    Já no espaço comum onde tem um sofá grande. Ele tirou as botas ainda meio sujas de terra, a camiseta surrada, a calça e ficou ali deitado apenas de cuecas.

    – Gostava da época que eu acordava de manhã e havia um punhado de roupas jogadas na sala. Lembra daquele sutiã de renda preto que nunca achamos a dona? Kkkk

    Falei e me sentei numa poltrona perto dele. Ele riu e continuou:

    – Lembro hahahah e aquela calcinha esfarrapada que surgiu quando mandei lavar o carro alugado.

    Pensei por uns instantes…

    – Não era da G.?

    – Ela nega até a morte hahahaha

    – Bons tempos, faz o que, uns 10 anos?

    Ponderei por uns segundos, mas lembrei:

    – Quase 12.

    Franz se arrumou no sofazão, barriga pra cima e olhando pro teto comentou algo que revirou com a minha noite e quase dia:

    – Sabe maninho, eu estava com saudades de tudo isso que falamos agora… Mas preciso te contar que eu conheci uma garota bacana nos últimos anos e ela morreu no final do ano passado. Teve essas merdas que os humanos pegam, acho que foi HIV. Tentei de tudo pra fazê-la virar uma de nós e mesmo sabendo que a manteria viva ela desistiu de tudo. Desejou a morte! Naquilo que alguns pregam como passagem ou evolução. Não sei se essa porra toda existe, mas eu quis ir com ela para o caralho que houver…

    – Merda cara, porque não me contou isso antes seu fdp! – Comentei preocupado.

    – Eu queria sei lá, guardar ela numa redoma de vidro e ficar ali só admirando seu jeito. Aquele sorriso as covinhas e os piercings. Ah as covinhas que ela tinha nas costas em cima da raba também. Branquinha que só ela… Ela tinha engordado um pouco, fazia tempo que nem tinha gripe e de uma hora pra outra ficou ruim. Levei ela pra aquele hospital da esquina, sabe? Ela ficou lá 2 meses e eu ia toda noite ver ela… Cantei pra ela algumas canções antigas da época do castelo coisas que meus pais cantavam. Lembrei sabe. Teve uma semana que eu amanheci la e passei o dia todo tb. Esqueci de me alimentar e algumas vezes tomei sangue gelado de bolsas. Ainda sinto o gosto daquela merda. Ai teve uma noite que eu fui ver ela e não tinha ninguém no quarto, muito menos na cama. A enfermeira disse que ela havia ido. Não consegui nem sentir sua morte, porque era desejo dela ser cremada e me deram uma caixinha de papelão com as cinzas.

    – Caralho as cinzas dela, mano!

    – Sim, só havia restado aquilo… Coloquei numa sacola e voltei pra fazenda. Foi um pouco antes do nosso tempo lá de clã. Depois disso fora longos 3 meses eu acho, procurando algum ânimo em qualquer coisa. Quem sabe o pub, tem nome?

    – Chamam os pubs dali de cores em inglês: blue, black, green… Quem sabe você possa me ajudar com algum nome que atraia nosso povo pra lá?

  • Uma noite no pub +18

    Uma noite no pub +18

    Para ler ouvindo…

    Eis que as coisas não andavam muito bem depois que minha cria a Pepe, acabou com aquela fdp noutra noite. Eu também não havia resolvido as coisas com o tal “coletivo” que pretendia negociar armas com as minhas fábricas e isso tudo tomava minha cabeça. Além disso, acabei esquecendo de me alimentar.

    Comecei a ficar nervoso, os pensamentos divagavam demais, então me toquei. Fiz as contas e estava no ápice da fome surgir. Estava cansado também de sangue frio ou doadores, eu precisava de algo a mais. Nesse sentido, eu me provoquei. Meu autocontrole precisava de novos testes e fui para um pub numa rua movimentada.

    Geminiano que sou, fui sozinho. Eu estava naquelas épocas que os amigos estavam ocupados e se parar para pensar, é muito bom sair sozinho. A liberdade dos pensamentos, do que fazer, como ir, aonde ir e quando der na telha me completa. Sei que muitos precisam de alguém para ampliar tais sentimentos, talvez eu seja quem as pessoas procuram quando querem sair da rotina?

    Enfim, divagações a parte eu me troquei. Calça jeans, camisa do Ramones, uma xadrez por cima e Vans com estampa de cobra… Estava disfarçado de bom vivant urbano motociclista…

    Lugar bacana e que surpreendeu pelo tamanho. Eram quatro andares com uma rooftop para fumantes, algo que se tornou padrão pela região. No “porão” uma banda de vocal feminino me encantou e tocou vários rocks clássicos. Fiquei por um tempo no alto, de pé encostado em algo que me lembrou o guarda corpo de uma varanda e de frente para a banda.

    Muitos estava ali em função do famoso happy hour e eu observei diversos grupinhos. Havia os bancários, os advogados, o povo sem tribo e inclusive diversos grupinhos de mulheres. Foi ai que começou a ficar interessante. Quando algumas se aproximaram, gosto de mulher com iniciativa, mesmo que a minha altura as intimide, sempre tem alguma querendo “escalar”.

    Momento egocêntrico a parte, troquei ideia com algumas, mas os papos eram muito vagos… Eu até me perco nas piadinhas e me viro bem no “small talk”, mas os sentidos estavam apurados em função da fome. A cada jogada de cabelo eu desejava seus pescoços, a carótida e a aorta pulsavam ao meu olhar e aquilo me distraia demais. Tanto que dispensei umas duas ou três.

    Tudo isso mudou quando mirei um altona ao longe, ela tinha praticamente o meu tamanho em cima de seus saltos também grandes. Era ali que eu iria investir, pesei comigo. Sobretudo depois de um tempo a observando percebi que era da casa e conhecia todos os atendentes e até alguns frequentadores. “Merda” pensei comigo, eu vou chamar muita atenção andando ou saindo com ela.

    Eis que minha sorte mudou quando uma baixinha de no máximo 1,60 brotou do meu lado. Loirinha simpática, olhos bem abertos com decote mostrando tudo o que eu queria ver. Incluindo belas tattoos preto e branco e uma lingerie azul de renda. Ela pulou muito e cantou bem até “Pour Some sugar on me” e sua dança com rebolados me atiçou.

    Ela não falou nada, mas a triangulação de olhos e boca deixou claro o que ela desejava: minha boca. Inclinei-me, fiquei ali com tipo, uns 20 cm a menos e dando abertura. Quando dois corpos se atraem a sutileza de movimentos é o bater de asas que move marés… Ahh o beijo numa boca carnuda, gostosa e cheia de desejo… aquela troca quente que excita e deprava os mais puros.

    Dediquei um bom tempo na degustação, a cada mordida ela me deixa com mais vontade de aflorar minhas presas, ou até mesmo segurá-la no colo e desbravar algumas posições do Kama sutra, quem sabe a posição do “chef”?

    Sei que a sua boca desprendeu mais tempo que devia e isso gastou o que ainda havia de sanidade mim. Eis que a arrastei para um canto do que parecia ser um banheiro mais escuro. Entre beijos, pequenas mordidas na pele e depravados apertões naquele corpo quente e sinuosos. Era para ela estar dolorida, mas a cada aperto ou investida mais forte, ela ampliava sua força e aquilo mexeu comigo.

    Certamente era uma Wairwulf, a loba, a fera… pensei comigo.

    Já longe dos frequentadores a fome veio e eu travei as presas afloradas em em seu seio direito. O Sangue brotou e ela nem se moveu. Foi um gole… Subi e mordi seu pescoço, ela gemeu de leve, como quem espera mais e ali bebi três goles. A maior parte da fome havia sumido. Foi quando ela soltou:

    – Agora é minha vez.

    Então pegou aquilo que somente as escolhidas tiveram o prazer de desbravar e encheu a boca… ficou ali degustando, até que encontrou a melhor forma e pulou no meu colo. Onde ela foi a “chef”. Quebramos alguns azulejos!

    Não sei o seu nome, nem o telefone…

  • O retorno da minha cria

    O retorno da minha cria

    Minha cabeça estava cheia de dúvidas e isso se refletiu no sono ruim daquele próximo dia e nas estratégias que deveria montar para conseguir resgatar Pepe. Sem falar que lidar com um coletivo é algo novo pra mim e ao que tudo indica eles não seguem as mesmas ideias dos clãs tradicionais. Inclusive Audny estava preocupada, mas ainda estava receoso para envolver ela ainda mais nisso.

    A noite veio e com ela novos pensamentos e ideias. O local onde eles se encontram foi fácil de descobrir, além do contato daquela que me chamou para nos falarmos a sós. Optei por deixar meu lado frio, calculista e manipulador agir em prol do caos. Mandei uma mensagem para a bruxa em questão: “Da mesma forma que me chamou para nos falarmos a sós, conseguimos nos encontrar dessa forma para falar dos negócios?”

    Gosto de quem responde rapidamente nas redes sociais e em questão de segundos ela retornou: “Claro, pode ser naquele mesmo lugar?”. Aceitei, pois além e tudo o lugar é de propriedade de uma amiga.

    Perto das 00h00 a senhora surgia naquele mesmo canto do rooftop. Senhora é apenas uma educação minha, pois para alguém na faixa dos 50, ela até que enganava uns 15 anos a menos. Talvez havia ali a indicação de alguns procedimentos bruxólicos? Enfim, divaguei…

    – Olá senhorita, aliás como é sua graça mesmo?

    – Lourdes, mas por favor me chame de Lu.

    – Ah sim, obrigado. Pois então, como resolvemos o infortúnio que teu grupo me proporcionou?

    – É simples, nos traga o carregamento, faça o preço que foi indicado e seguimos liberando a tua cria para voltar a beber sangue por ai…

    – Certo e se eu não concordar com o preço baixo que me oferecem?

    – Então teremos problemas.

    – Vou fazer uma contraproposta. Ofereço metade da grana dessa negociação, para que você me traga minha cria sã e salva. Basta me passar uma conta tua ou um pix o que preferir. Depois disso, você se afasta da negociação das armas e eu me viro com os outros dois. O que me diz?

    – Quais certezas você me da sobre o que vai rolar com meus colegas?

    – Nenhuma!

    – Preciso pensar Ferdinand.

    – Tens 5 minutos, é o tempo de eu fumar um pouco e a música do camaradinha ali terminar. – Apontei para o DJ que estava no lugar onde a Pepe estava noite passada.

    – Certo, vou aceitar tua proposta, mas preciso ver se consigo liberar tua cria ainda esta noite.

    – Te deposito metade agora e metade quando ela estiver na minha frente até o fim da noite.

    Fiz um pix com a grana que havia combinado e fui para lugar, onde combinei que ela deveria ser entregue. Perto das 4 chegou uma mensagem da Lu: “Tô levando ela onde cominamos”. Pepe estava normal, exceção das roupas um pouco judiadas. Tão logo a vi lhe dei um abraço e percebi o quanto havia me apegado.

    Lu se aproximou, com a intenção de receber a outra metade do pagamento. Porém num lance de duas ou três passadas para o lado e para atrás, Pepe a agarrou. A vampira mordeu seu pescoço num ato animalesco. Aquela mulher estremeceu de dor, pela surpresa, mas muito mais pela fúria cruel e violenta da mordida de Pepe.

    Fiquei ali de voyeur, até que minha cria terminasse o que se propôs a fazer e teve mais. Ao final de sua refeição ela me olhou, como quem pedisse permissão. Todavia, antes que eu me manifestasse ela quebrou o pescoço da infeliz.

    – Tá certa, minha filha! Eu sou bom de mais as vezes… Coloca ela no banco do motorista, fogo talvez?

  • Um coletivo de vampiros e outros seres

    Um coletivo de vampiros e outros seres

    Saímos da fazenda de helicóptero e algumas horas depois em um céu de brigadeiro, como disse o piloto, chegamos em uma grande metrópole brasileira. Do hangar da companhia aérea, até nosso refúgio foram mais alguns minutos de carro. Porém perto das 3h30 estávamos todos acomodados. Preciso dizer o quanto Audny ficou maravilhada com tudo? Sim…

    Apesar de ser sua segunda viagem de helicóptero, ela ficou maravilhada em função do tempo de voo. Passamos por cima de muitas cidades menores e a cada uma ela se maravilha com as luzes e paisagens que o céu limpo proporcionou. Ela ficou ainda mais maravilhada quando chegamos na grande metrópole.

    Os arranha-céus, as construções antigas misturadas as novas…tudo aquilo a vislumbrou de tal forma que é difícil descrever. Muitos comentários, muitas observações, muitas perguntas. Ela hibernou na época das caravelas e ainda estava pela Europa na época. Os outros velhos também foram trazidos já hibernando para o refúgio no Brasil. Algo que Georg construiu um pouco antes da minha vivência pela Alemanha em mil oitocentos e tantos.

    Audny, me faz sentir nostalgia de um tempo que se foi. Sou um “Mucilon” perto dela, mas vivi a virada do sec XIX para o XX e ela sempre me faz os contrapontos daquelas épocas para a atual. Pepe também se encantou com suas histórias e tem sido um aprendizado para ambos os lados. Isso junto ao fato de estarmos ligados pelo laço de sangue tem sido proveitoso, apesar de que em algum momento isso pode nos afetar em função do seu temperamento e reconstrução.

    Preocupações a parte, o refúgio havia sido limpo, cada um se acomodou no subsolo da melhor forma e estava de volta ao urbano, a selva de pedra e as possibilidades que isso nos proporcionaria em meio as sociedades humana e sobrenatural. Tanto é que passadas as primeiras noites em que nos acostumamos, veio o primeiro convite para socializar. Algo simples até. Um clã vizinho gostaria de resolver alguns assuntos pendentes.

    Na verdade, não posso considerar um clã, pois nem mesmo eles se chamam assim a começar pelo nome “Coletivo alguma coisa”. Então vai vendo. Sobretudo tais adaptações modernas me deixam um tanto quanto perturbado, mas são os ventos da mudança e talvez os últimos tempos junto de Audny tenham me levado de volta ao passado. Fato é que ser imortal trás consigo a necessidade de resiliência e tratei logo de pensar num lugar para que pudéssemos nos encontrar com segurança.

    Pepe, começou a se dedicar mais a sua carreira de DJ e com isso começaram a surgir algumas festas maiores para ela tocar e divulgar o seu som. Com isso veio a oportunidade de fazer um encontro público, o que beneficiaria ambos os lados. Tanto que ao propor tal lugar, ele foi aceito quase que de imediato pelos três representantes do tal coletivo. Eles também não apreciam o lance de liderança e são adeptos da neo-anarquia.

    Com a noite marcada fomos os três para o lugar marcado. Pepe foi separada pois iria tocar, Audny foi comigo de moto. Ela gostou do passeio e confessou sentir um pouco de medo ao pegarmos o famoso corredor entre os carros, mas a noite estava fresca, apesar do calor daquele dia. Estacionei no subsolo do próprio prédio da festa e por um elevador velho fomos até o Rooftop. Vista bacana do lugar e ficamos pela varanda fumando um vape de melancia ice. Audny viciou no troço e quis comprar uma pra ela também.

    Papo vai e vem, Pepe começou o seu som e perto da 1h apareceram os tais três “representantes do coletivo”. Um vampiro com idade aparente de uns 50 e duas mulheres uma na mesma faixa e uma outra novinha na faixa dos 21. Uma delas eu tive certeza eu era lobisomem a outra me deixou na dúvida. Nos cumprimentaram formalmente e fomos para um canto onde o som estava mais baixo. A mais nova foi a primeira a reivindicar algo:

    – Escuta aqui cara, o papo vai ser reto e se liga na minha rima. Se vocês não fornecerem armas pra gente, ninguém aqui fica contente. A gente quer o ferro, o berro e ninguém vai ficar quieto.

    Eu juro que tentei segurar, mas soltei uma gargalhada… me contive e soltei:

    – Eu não sei rimar, mas não vaia ser assim garota…

    Ela deu uma balançada na cabeça e parecia que estava entorpecida de algo, mas continuei:

    – Algum de vocês quer refazer o pedido dela?

    Encarei os outros mais velhos e ao perceber minha reação o cara mostrou as presas, sem se preocupar com os humanos em volta. Audny, deu um passo pra frente e segurei o braço dela. Tentei novamente:

    – Sério, vocês vão ficar nessa de rima podre e mostrando os dentes. Sou dentista por acaso? Vamos embora, minha querida.

    Ao perceber que eu estava ficando puto aquela que parecia humana, se aproximou. Olhou em meus olhos e disse com uma voz calma e tranquila, quase materna:

    – Espere senhor Ferdinand e peço desculpas pelos meus companheiros. Eles são um pouco impulsivos e esquecem que os mais antigos preferem outro tipo de negociação. Permita-me trocar duas palavras a sós contigo?

    Percebi que ela tentou usar algum tipo de poder em mim, mas estava me sentindo normal, então resolvi aceitar suas propostas e fomos para outro canto, um pouco mais barulhento, onde tivemos de nos falar próximos do ouvido e cada um.

    Ela foi direto ao ponto, trouxe suas necessidades, falou como e quanto gostaria de pagar. Algo inclusive superior ao que iria pedir e a princípio tinha fechado negócio. Voltamos ao encontro dos demais. Audny encarava os outros dois que a encaravam de volta e por sorte ninguém deu um passo à frente.

    – Senhores estamos acertados, retornarei em breve com o local para nossa troca. Venha, minha querida.

    Peguei na mão gelada de Audny que resistiu brevemente, mas acabou cedendo e me seguiu. Percebi que o clima não tinha ficado muito bom entre os três, mas isso não era problema meu. Curti um pouco o som de Pepe e perto das 2h e poucos resolvemos voltar ao refúgio. No meo do caminho percebi um carro nos seguindo, mas já conheço bem a região e ao passar por alguns túneis e ruas menores consegui despistar.

    Chegando no refúgio recebi uma mensagem do tal coletivo:

    “Estamos com a tua cria, por segurança. Quando acontecer nossa troca ela será devolvida inteirinha.”

    Pqp

  • Novos laços – final

    Novos laços – final

    Depois da saraivada de tiros, que inclusive nos deixam mais atordoados na forma de lobo. Olhei para os lados e meu bando havia se dispersado. Procurei pelos infelizes que haviam provocado tal caos e há alguns metros de mim senti a presença de Audny. Franz estava mais para frente junto de Pepe. Não senti Sebastian, tampouco H2. Por que decidi ir atrás de Audny? Só o Diabo sabe…

    Mas foi bom, pois vi um pouco do que Georg descreveu em seus diários. Certamente, a palavra carnificina, vem a minha mente quando lembro da cena que presenciei. Ao me aproximar comecei a ver o que parecia a queda de um avião ou a explosão de uma bomba. Vi uma mão com um pedaço do pulso e um relógio. Depois um pé ainda na bota de mato e um pedaço da perna cheios de sangue e rasgos de mordidas.

    A cena ainda piorou quando vi o que parecia um corpo menor talvez de um adolescente ou criança e Audny sentada no chão nua. Ela tinha em seu colo um corpo sem cabeça e bebia o sangue direto de onde estava o pescoço. A cena beirava o animalesco, mas piorou quando me aproximei. Pois ela sentiu minha presença, largou o que estava fazendo e veio em minha direção.

    Sua face estava deformada, meio morcego, meio humana. Suas feições me lembraram algo demoníaco e cara, aquilo me perturbou. Seu corpo estava mais forte e toda a sua meiguice ou belas formas haviam dado lugar há um lutador de MMA diabólico. Ainda em forma de lobo eu dei umas rosnadas e comecei a dar passos para trás. Eu comecei a desfazer minha forma e pensei em voltar a forma de humano.

    Sobretudo, o calor do momento e diante de algo que lembrou minha própria forma bestial, eu não tive escolha se não executar a mesma. Rolamos pelo mato, caímos de um barranco e apanhei muito até completar a transformação. Em seguida a isso continuei apanhando até que finalmente consegui encaixar uma mordida que arrancou um pedaço de carne do seu braço. Ela urrou de dor, mas em questão de segundos ignorou tal situação e continuou a trocação comigo.

    Ficamos ali entre golpes de garras, chutes e mordidas por um bom tempo. Quando simplesmente ela começou a parar. Suas feições começaram a voltar ao normal e quando vi, eu estava praticamente com ela em meus braços. Ela me dava apenas soquinhos leves, como um brinquedo que ficou sem bateria. Achei aquilo muito ridículo. A forma bestial é sempre difícil de controlar e a última lembrança que eu tenho nesse estado é de a ter levantado e dado umas sacudidas.

    Voltei ao normal e estávamos os dois exaustos. Completamente surrados, cheios de hematomas, rasgos e perfurações. Feridas que em pouco tempo se fecharam, mas trazia consigo fome e a vontade de beber o sangue quente de qualquer coisa viva. Audny me reconheceu e soltou um simples:

    – Desculpa, estava com fom….

    Ela mal terminou a frase e apagou de ficar mole em meus braços. Franz e Pepe chegaram logo em seguida. Pepe foi a primeira a comentar:

    – Caraca chefe, vocês acabaram rapidinho com os caçadores, tudo bem?

    Franz me cortou:

    – Foi ela e o Georg tava certo!

    Existem poucas coisas que impressionam Franz, mas certamente o perrengue causado por Audny o fez rever a ida para a cabana. Decidimos em seguida que eu voltaria com ela e Pepe para a casa da fazenda, enquanto ele e outros dariam fim as hienas. Foi coisa de uns 30 minutos para voltar a passos largos. Coloquei a velha vampira no chuveiro quente e reparei que suas formas eram realmente notáveis enquanto tirava o grosso do sangue e terra de seu belo corpo.

    Pepe trouxe uma roupa e a colocamos para dormir em seu quarto, que possui duas camas. Por precaução resolvi mandar minha cria para o meu quarto e fiquei ali vigiando e imaginando como ela iria acordar. Será que lembraria da nossa briga, ou do massacre que ela causou ao pai e filho? Antes de amanhecer apenas H2 e Sebastian voltaram.

    Na noite seguinte Audny acordou e se lembrou apenas de flashes. Sebastian me contou que as hienas não ofereceram trabalho e estavam praticamente todas juntas o que facilitou sua captura. Franz foi para a cabana, mas me mandou uma mensagem: “Vou deixar a velha contigo, preciso dar uma relaxada, mas se der merda, avisa maninho!”. Ele realmente estava preocupado.

    H2 e Sebastian foram para seus refúgios. Pepe e eu ficamos com Audny mais um tempo na fazenda e em nenhuma noite ela voltou a manifestar toda aquela agressividade. Resolvi que ela poderia passar uns tempos conosco numa grande metrópole brasileira. Quem sabe os encontros com outros velhos e um pouco de política ajude ela?

    2024 vai ser um ano intrigante.

  • Novos laços – pt6

    Novos laços – pt6

    Na 7ª noite como já era previsto e avisado por Franz, ele pegou suas coisas e estava para ir para cabana do mato. Lá ele praticamente se liberta de tudo, passa a maior parte do dia pelado em meio as árvores, morros, rios e cavernas da reserva. Um parque florestal que compramos décadas atrás e tem sido um grande playground para o marquês. Certa vez ele me contou que ali ele se permite ser ele mesmo, deixando de lado ambas as sociedades.

    Eu por outro lado, também estava com as coisas prontas, mas para antes do fim da noite pegar um helicóptero e ir para um dos grandes centros urbanos brasileiros. Enquanto isso havia preparado uma pequena caçada em meio as terras da fazenda e da reserva. Então juntei todos na sala e fiz uma última reuniãozinha.

    – Seguinte, obrigado pela presença de todos inclusive você Franz (risos). Eu sei que você precisa ir para o seu refúgio, mas achei que iria gostar de ouvir o que preparei. Foi difícil, mas consegui trazer um grupo de hienas e as soltei em meio ao parque. A minha proposta é que a gente em forma de lobo faça uma caçada, antes que elas consigam sair da área da reserva. Inclusive para facilitar proponho ir de helicóptero e saltar perto do local onde elas foram soltas hoje a tarde. O que me dizem?

    Pepe me olhou com olhos arregalados, H2 fez cara de que estava pronto, Sebastian iria comentar algo, quando Franz colocou uma mão em seu ombro e soltou:

    – São quantas?

    Respondi rapidamente:

    – 5.

    Ele se empolgou de imediato:

    – Vamos então, vens Audny?

    A vampira estava em seu momento contemplativo, mas balançou a cabeça numa breve confirmação. Diante disso apenas reforcei:

    – Vou acionar o piloto e em 10 minutos nos encontramos para o voo. Levem somente o necessário.

    Vesti apenas uma bermuda e camiseta, estava quente como sempre naquela região e prendi uma faca na perna direita. Algo que já fiz antes e permanecia na forma de lobo. Sem delongas nos reunimos e embarcamos. No meio do caminho perguntei para Audny:

    – Você possui o dom da metamorfose, certo?

    – Sim, sim em lobo, mas nos últimos anos estava estudando a famosa névoa, todavia nunca cheguei a conseguir.

    – Quem sabe e dou umas aulas quando quiser?

    – Seria oportuno sr. Ferdinand.

    – Não precisas utilizar a formalidade do senhor. Basta Ferdinand.

    O helicóptero desceu pouco acima de árvores médias e todos saltaram. Tão logo nos agrupamos eu olhei ao redor e mostrei as jaulas onde as hienas estavam e iniciei minha transformação. Despi-me. O maxilar começou a doer, os pelos surgiram por todos os cantos. Ossos e músculos se contorceram. A boca se projetou para frente, os membros encolheram e já de quaro no chão, minha transformação estava completa.

    Percebi que todos fizeram o mesmo à exceção de Audny que permanecia humana. Ela observou a transformação de cada um e ao final se despiu mais para um canto. Sua transformação levou um pouco mais de tempo, mas ao fim surgia ali uma linda loba de pelos marrons com dourado.

    Partimos em meio a mata, as vezes Franz liderava, as vezes eu… Em certos pontos até mesmo Pepe indicava um rastro ou outro. Tudo ia bem e realmente parecíamos integrados a forma lupina, ao ambiente e parecia um real engajamento de matilha. Mesmo Audny parecia renovada depois de tanto tempo hibernando.

    Tiros. Um, dois, três… perdi as contas depois das várias alvejadas que nos foram direcionadas.

  • Novos laços – pt5

    Novos laços – pt5

    A semana estava terminando, mas antes de acabar Audny aceitou fazer a cerimônia do laço com todos do clã e na 6ª noite de imersão com o clã nos reunimos novamente na cripta. Tal qual da outra vez, todos compartilharam um pouco do seu sangue no cálice e depois bebemos comigo por primeiro e seguimos a tradicional ordem dos mais velhos aos mais novos. Sabendo que Franz partiria para a cabana do mato, tão logo a próxima noite viesse, aproveitei para reforçar alguns pontos.

    – Meus queridos, o clã tem passado por mudanças ao longo desses últimos anos. Foram muitos os que entraram, se aproximaram, mas os que estão aqui são a base necessária para ele permaneça firme e agora ainda mais fortalecido com o retorno de Audny, que assumirá aos poucos a função de Franz como anciã.

    Quando comentei, sobre Franz percebi que ele desceu os ombros e isso lhe pareceu um alívio. Os demais permaneceram atentos as minhas palavras e continuei:

    – Em todo o mundo existem vampiros aliados e a proposta para esse ano é que ampliemos isso. Sinto que o período anárquico deve passar, tais quais projetos que se iniciam e precisam ser ajustados ao longo de seu desenvolvimento. Foi-se o tempo da fúria e conto vocês para que ao fim deste ano estejamos muito mais conectados a sociedade sobrenatural. Cá entre nós eles fazem ótimas festas, não é mesmo Franz?

    Sua expressão mudou para algo safado com sorrisinho de canto, mas ele preferiu ficar calado. Pepe, ao contrário, sentiu confiança e nos cativou com sua jovialidade:

    – Nós fizemos algumas festas, onde eu coloquei um som ano passado, foi superdivertido, devíamos continuar com isso mestre.

    – Claro, a festa do banho de sangue, lembras? Muitos me pedem quando vai rolar de novo. Sebastian, H2, Audny algum comentário? A ideia de amanhã é sair para se alimentar e todos serão liberados para voltar aos seus refúgios.

    – Sabes que pode contar comigo para tudo mestre. Ainda mais nesses propósitos políticos, aliás se me permite. Saudades do Joseph, seria o momento dele, mas assumirei o que vier com maestria. – Comentou Sebastian.

    – Lá vem você com isso de mestre, temos quase a mesma idade vampírica… (fiz uma pausa) Joseph iria brilhar, mas lembre-se de tudo o que ele nos ensinou e deixou alinhado sobre os sobrenaturais. Tome isso como um direcionador.

    – Posso? Se me permitem, eu sou um soldado de Deus e mais do que isso sinto que meu propósito é libertar esse plano de tudo aquilo que fuja da divindade. Vou me sentir um pouco deslocado nesse momento do clã…

    H2 foi interrompido por Franz:

    – Relaxa, o Ferdinand não consegue sossegar a bunda numa cadeira e ficar socializando. Logo ele arruma algo pra satisfazer o animal interior…

    – Não é bem assim Franz, mas é muito provável… – Comentei.

    (risos) Tão logo os ânimos se acalmaram Audny aproveitou para falar também.

    – Sabes, não façam caso disso, mas estive eu me adaptando com tudo de novo que veríeis nas últimas noites e dias. Ainda tenho a linguagem para explorar, nalgumas parafernálias, bugigangas e aparelhos para desprender atenção. Certa estou eu de que vós compreendeis de minhas capacidades. Anima-me os bons ares de hoje, contem comigo parças, é que assim que se profere?

    (risos) Aquele “parças” soou muito como um gringo falando e acabamos rindo, deixando ela um pouco envergonhada. Comentei:

    – Sim, sim, precisa dar uma adaptada no linguajar e achar um sotaque brasileiro que se adeque melhor ao teu estilo. Vamos subir povo?

  • Novos laços – pt4

    Novos laços – pt4

    Audny passou alguns dias em claro sentada no sofá da grande sala. Quando escurecia ela saia e as vezes ficava apenas na varanda observando o movimento dos empregados, dos animais, aviões ou qualquer outra coisa que se movimentasse. Comecei a achar que Franz tinha feito uma lobotomia com ela e decidi ir lhe perguntar com mais detalhes o que havia rolado.

    – E ai tá tranquilo? – Cheguei de boas…

    – Depende, se for pra encher o saco sobre a velha, vai dar merda!

    – Tá foda esse teu mau humor. Tais assim faz mais de mês, tem algo em que eu possa te ajudar? – Tentei ser compreensivo.

    – Só de não vir aqui falar comigo, já me ajudas!

    – Caralho Marquês, vai se fuder… só preciso saber o que tu fizeste com a velha, lobotomia?

    – Relaxa maninho, só mandei ela esquecer o Georg. Repensar sobre o que a motivava existir e que ela tinha tido uma segunda ou terceira oportunidade de se reinventar nesse século.

    – Porra, essa ideia saiu de ti mesmo? Fiquei impressionado, sério mesmo!

    – Vai se fuder, tu também e me deixa aqui no quarto… Aliás vou pra cabana do mato passar uns tempos lá. Se precisar de algo, não me procura.

    Segurei o riso, ele faz isso de tempos em tempos. Geralmente, quando começa a se apaixonar, mas estava tão chucro que evitei qualquer tipo de comentário e sai em silencio, apenas me abaixei e fiz uma reverência brincando com sua nobreza. Coisa de irmãos, só quem tem sabe como isso funciona rsss.

    Em seguida, aproveitei para falar com Pepe, que também estava em seu quarto. Ela jogava GTA em seu notebook. Blackout total e apenas a luz da tela e dos leds do fone gamer brilhavam por ali. Ao me ver, ela apenas virou o rosto rapidamente e comentou: “precisa de algo chefe?”. Percebi que estava bem, então fiz sinal de positivo com a mão e ela me respondeu com uma piscadinha de um olho só.

    Sebastian e H2 haviam saído e só me restava Audny na varanda. Resolvi interagir. Ela estava de pé encostada com os braços no guarda corpo da varanda e me aproximei até ficar uns palmos dela. Soltei:

    – O mundo mudou muito desde que você precisou hibernar?

    Ela virou o rosto rapidamente para mostrar que estava me ouvindo, mas segurou por alguns segundos a resposta.

    – Simm… Percebi eu, que vós possuís muitos itens feitos do tal plástico, é assim que nominaram? No meu tempo era madeira, metal… Já havia vidro, porém era muito caro. O que ainda estou tentando entender é como as velas se ligam sozinhas, é magia?

    – Já ouviste falar em energia elétrica?

    – Sim quando bebestes do meu sangue, eu também senti e vi coisas a teu respeito. Energia elétrica, o português que proferes, essas caixinhas que vocês mexem com as mãos… Estou assimilando tudo isto nas últimas noites e dias.

    – Entendo e obrigado por compartilhar comigo. Ouvimos algumas histórias a teu respeito, mas quando bebi teu sangue percebi o teu ponto de vista. Na era atual, você seria vista como uma mulher independente e que não aceita ordens de nenhum homem.

    – Por favor, conte-me mais Ferdinand, quinta cria de Georg.

    – Pra começo de conversa, esquece esse “quinta cria…

    O papo rolou por mais algum tempo. Tentei fazer um resumo dos comportamentos, modos e tudo o mais que temos na atualidade. Ela entendeu alguns, achou graça e até vergonha de outros, mas senti ali alguém que realmente estava aberta para o mundo.

    Confesso, que aquele pé atrás ainda persistiu naquela noite…

  • Novos laços – pt3

    Novos laços – pt3

    Abri os olhos e a minha frente estava Audny. Seus grandes olhos verdes me observavam com curiosidade. Tomei um susto! Me movimentei para trás…

    – Calma – Disse ela sorrindo, mas aquele sorriso simpático no qual os olhos fecham.

    Veio o sentimento de amor, misturado com ódio, medo e diversos outros sentimentos bons e ruins. Sendo a maioria bom, em função de eu ter bebido seu sangue. Enquanto absorvia tudo isso, procurei por Pepe, mas não vi nem senti sua presença.

    – Poderia eu falar com vossa mercê em português ou Sprechen Sie lieber Deutsch?

    – O teu alemão tá estranho e português anda bem arcaico, mas como estamos no Brasil, o português vai ser necessário… Onde está a minha cria?

    – Cria, mencionas tu, a neófito?

    – Sim isso a Penelope, mas chama ela que Pepe. Ela não gosta do nome completo…

    – Ela se pôs a correr, tão logo dei-lhe sangue humano. Um pouco daquele que havia em tais garrafas exóticas. – Apontou as térmicas, que estavam quebradas próximas ao caixão.

    – Percebo que ficou curiosa e quebrou as garrafas?

    Ela sorriu fechando os olhos novamente e me encantou sem precedentes. Filha da mãe…

    – Estava eu com o tédio e curiosidade aflorados.

    Comecei a me levantar, a cabeça estava pesada…foi quando diversas imagens, pensamentos e situações surgiram. Sentei-me novamente. Fechei os olhos e me via tomando uma surra de socos e chutes de Georg, depois ele me chamou de besta imunda e acorrentou minhas mãos no que parecia ser uma cela. As mãos eram femininas, então logo de cara percebi que eu estava vendo o passado de Audny.

    Diversos outros momentos surgiram, inclusive com Audny consumindo o sangue de crianças, em algumas situações apanhando novamente ou levando tiros no que parecia ser alguma guerra. O que me chocou mais foi a forca no qual ela estava presa, como se estivesse em algum julgamento. Senti a dor no pescoço e abri os olhos.

    H2 e Franz estavam segurando Audny. Ao mesmo tempo Franz olhava fixamente para os olhos dela. Ele estava usando seus poderes mentais. Sebastian me ajudou a levantar e Pepe surgiu por último com uma roupa trocada e ficou ao longe observando tudo. Depois de cair na real resolvi interromper o Franz:

    – Calma Franz, não é culpa dela, o Georg…

    – Cala boca, tô vendo aqui – Disse ele com seu jeito cavalo de sempre.

    Alguns instantes depois ele a soltou, pediu pra H2 fazer o mesmo. Percebendo que estava solta fisicamente e com seus pensamentos, ela se encostou na lápide ao seu lado. Colocou as mãos no rosto e pôs-se a chorar. As lágrimas de sangue lhe escorriam pe rosto, mãos e caíram nas roupas. Peguei uma das toalhas que estava mais limpa e me aproximei para oferecer apoio.

    Fui surpreendido por uma vampira linda de mais ou menos 1,70 procurando proteção em meu peito. Abracei-a e ela procurou conforto, senti seu corpo macio e a sensação de mármore havia ido embora. O que Franz teria feito em seus pensamentos?

  • Novos Laços – pt2

    Novos Laços – pt2

    Preparei o ritual, no qual tempos atrás já mencionei maiores detalhes aqui, mas não custa repetir. Separamos alguns galões de sangue bovino. Ele é o mais fácil de conseguir nessas redondezas. Além dele, conseguimos um doador de sangue humano, não vou entrar nos detalhes, mas era alguém que não fará falta neste plano. Com os principais preparos realizados, fomos os cinco para a cripta.

    Pepe levou algumas roupas numa bolsa de viagem, além de toalhas e alguns itens de higiene. Ela achou oportuno e digno, pensei o mesmo. No interior da cripta, iniciamos rapidamente o desmonte do mármore que protegia o caixão de Audny. Como falei anteriormente foi fácil, estava muito poroso e com nossa força foi quase como desmontar blocos de lego.

    Na sequência retiramos o caixão, este feito de uma liga de metais não corrosivo e o levamos para um espaço mais aberto. Removemos a tampa e como esperado, havia muita terra sobre o corpo da vampira. Retiramos pouco, algo em torno de um palmo e algumas de suas formas começaram a surgir.

    Iniciamos o processo despejando um pouco do nosso sangue e em seguida o sangue bovino e aos poucos o caixão foi preenchido até a borda. Nos restava esperar… Algumas bolhas aqui e ali nos davam a impressão de que o corpo da vampira o estava absorvendo. Enquanto aguardava ansioso, removi as tampas das garrafas térmicas com sangue humano.

    Bastaram alguns minutos e as bolhas aumentaram muito, a ponto de balançar o interior do caixão… Mais alguns instantes e emergia por ali, uma bela forma feminina, realmente era tudo que encantou Georg. Não só ele, todos ficamos ali boquiabertos. Até que Pepe percebeu e foi cobri-la com uma das toalhas.

    Ao mesmo tempo em que ela se ergueu, ela também se encolheu e tive a impressão de que ela estava com medo. Percebendo a tremedeira eu tentei me aproximar para lhe oferecer uma das garrafas de sangue humano. Mas ela se pôs para trás de Pepe, deixando claro ali um pouco dos seus poderes. Apesar disso, insisti em lhe oferecer o sangue e ela não deu bola. Apenas quando Pepe lhe ofereceu, ela aceitou.

    – Ah pronto, a babá já foi definida. Podemos voltar lá pra cima agora? – Soltou Franz sem o menor carisma.

    – Acho que vai ser o caso ate que ela se acostume. Podem ir eu vou ficar um tempo com a Pepe aqui, vai que a anciã da uma de doida com a minha cria.

    Eles subiram e eu fui pra um canto mais isolado até que Pepe ajudasse Audny a se vestir. Fiquei preocupado em deixar as duas mais longe. Mas comigo por perto, ela não queria se movimentar, cometi ali meu primeiro erro. Na primeira oportunidade a velha meteu as presas no pescoço de Pepe. Voltei correndo e usei toda força que possuo para separá-las.

    A sua força era surreal e era como se eu tentasse mover uma casa. Não movimentei um dedo de seus membros. Seu corpo é tão duro quanto pedra e então no desespero cometi meu segundo erro, a mordi também no pescoço.

    Pepe foi a primeira a cair, eu em seguida…