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  • De volta a uma rotina nada normal – Parte V

    De volta a uma rotina nada normal – Parte V

    Uma dor horrível. Imensurável. Sentindo meu corpo entrar em combustão devido aos raios do sol, gritei desesperadamente quase que em súplica para que aquilo acabasse. Se fosse meu fim, que o fosse logo. Antes de perder a consciência, pude ver a escuridão novamente. Me senti envolvida e carregada por alguém, que eu já nem lembrava quem era naquele momento…

    Acordei sobressaltada, com fome, muita fome. E sim, com raiva, muita raiva. Encontrei-me envolto a uma manta que cheirava a queimado, óbvio, e ainda pude ver resquícios da fumaça em meu quarto que lentamente se desfazia. Levantei devagar, ainda sentindo a ardência em meu corpo que se recuperaria totalmente em algumas horas. As lembranças logo vieram à tona. Onde estaria aquele maldito humano? Pensei comigo mesmo. Podia ouvir sua respiração. Perto demais.  Estava atrás de mim encolhido contra a parede, ainda sem roupa. Olhando-me nervoso. Sem virar para trás, coloquei uma das mãos em minha cabeça, que ainda estava doendo. Mantendo meu autocontrole, pensei por alguns instantes. Que droga Lorenzo! Logo agora que eu estava gostando de você. Então, falei calma e sarcasticamente, ainda sem olhar para ele:

    – Loreeeeeenzo. Eu sei que está ai, meu querido. Depois de tudo o que fiz por você? Eu devia matá-lo imediatamente…

    Enquanto eu falava, percebi que ele chegou a prender a respiração. Então, me levantei devagar e caminhei em sua direção. Com o dedo indicador em seu queixo, o guiei para que se levantasse obediente e ficasse de frente para mim. Olhei-o fixamente por alguns instantes, seus olhos verdes semicerrados, sua boca tremula, o suor escorrendo, pude ouvir sua pulsação rápida. Roçando o nariz em seu pescoço, senti seu cheiro doce.  Eu estava com muita fome. Olhei – o novamente, e então segurando seu rosto com unhas longas e vermelhas, fechei os olhos e o mordi com todas as minhas forças.

    – Desculpe – Balbuciou. – Por favor, Rebecca, não faça isso. Eu te peço. Perdoe-me, eu não queria machucá-la. – Dizia sua voz fraca e lenta.

    – Eu preciso mais. O que fez comigo me deixou sem forças. – Respondi.

    – Não me mate, por favor. Não.  – Implorou.

    “Não me mate, por favor.” Repeti em minha mente inúmeras vezes, enquanto ainda o mordia. Então, satisfeita quase recuperada, agarrei-o pelos cabelos e o arrastei até um quarto sorrateiramente disfarçando dentro de minha biblioteca, onde eu guardava alguns utensílios básicos.

    – Como dizem alguns maus pais: Você vai ficar no canto escuro para pensar em suas travessuras. E depois eu vejo o que faço com você…. Loreeeenzo.

    Então, o tranquei lá. Ainda com os olhos vermelhos de raiva. Eu não podia negar, havia herdado a impaciência de meu sádico e antigo mestre.  E sinceramente, ser ferida inesperadamente e daquela forma, por causa de uma inconsequência, era humilhante demais para mim. Eu devia ter previsto o que aconteceria, como me distrai daquela forma? Durante horas, esses pensamentos perturbavam-me. O que vou fazer com o humano? O salvei e depois vou acabar com sua vida? Eu realmente não estava bem, pelo simples fato de ficar ponderando os fatos. Eu não tinha que preocupar-me com aquilo. Mas, estava realmente sentindo algo que o tempo aparentemente havia tirado de mim em relação a aqueles que eu escolhia como vitima. Eu estava sentindo: compaixão, e Lorenzo até o momento, não era uma vítima, afinal…

  • A bruxa sumiu – pt9

    A bruxa sumiu – pt9

    – Um filho da puta pedófilo a menos no mundo, mas que podia ter reagido. Tu sabe que gosto de uma boa briga. – Comentou Franz na volta para o hotel.

    Antes de voltar, fizemos uma boa revista no lugar e não encontramos nada de importante além de todo o lixo pornográfico e objetos pessoais do suicida. Já no hotel liguei para Eliot, ele havia obtido progressos na pesquisa sobre os pelos, mas precisava de pelo menos uma semana para testes e pesquisa nos bancos de dados. Comentei do smartphone, mas sem ver pessoalmente, ele me disse que não poderia fazer muita cousa. Mesmo assim passou alguns procedimentos e conseguimos mais algumas informações soltas.

    Antes do fim desta noite decidi sair para caçar com Hector e alguns adolescentes bêbados foram o prato principal. Este perfil é sempre mais fácil de lidar, são confusos quanto  a vida, cheios de ideias, inventivos e sob efeito do álcool ou drogas saem completamente da realidade. Certamente acordaram com dores de cabeça, vermelhidão no pescoço e achando que nunca mais vão beber.

    Continuando nossa saga, o smartphone do suicida tocou assim que o sol se pôs no dia seguinte. Era um número privado e fiz questão de atender no autofalante para que Hector acompanhasse o desenrolar.

    “Espero que não tenha incomodado vosso sono diurno? É uma pena que aquele jovem tenha se sacrificado em vão, sem estar participando de algum ritual. Pois bem, que Ágares tenha um encaminhamento digno para sua alma. Vós duvidais dos poderes deles? Fiquem longe seus tolos, saiam da cidade ou o dia não será mais a única preocupação de seu estado vampiresco!”

    Após o termino da ligação o aparelho começou a pegar fogo e o soltei ao chão. Hector deu um chute e ele foi de encontro com a parede. Chamuscou um pouco o carpete e quase incendiou a cortina, mas por sorte não explodiu ou machucou mais minha mão.

    – Puta que pariu, tudo bem com tua mão? Estava demorando para estes putos aprontarem! O que acha de chamarmos Julie ou H2 para agilizar o processo?

    – Relaxa, vai regenerar rápido meu irmão. Não não Julie não… Deixa aquela sanguessuga longe disso, vou ligar para o h2…

    Liguei para h2, que sem pestanejar me disse que ia falar com Franz, mas que certamente estava a fim de exorcizar alguns demônios. Pelo que sabemos da história de H2 ele havia sido padre em uma época remota de sua vida e fazia todo o sentido que ele estivesse presente em nossas investigações.

    Minutos mais tarde Franz me mandou uma mensagem: “Cuida bem da minha cria assim como cuidei da tua…” Depois dele H2 também me respondeu por mensagem no “grupinho” do Whatsapp: “Relaxa que sei muito bem me cuidar chefes”. Trocamos mais algumas mensagens, Hector também estava no grupo e inclusive compartilhamos algumas piadinhas infames, fotos e vídeos engraçados, que descontraíram um pouco aquele momento. Afinal, não é só de aflição, morte e sangue que “vivemos”.

    Assim quem H2 chegou na noite seguinte, nos preparamos e fomos o mais rápido possível para o refúgio do próximo membro da seita a ser “entrevistado”. Desta vez alguém mais importante e tido como um dos veteranos.