Tag: sumiço

  • De volta a uma rotina nada normal – Final

    De volta a uma rotina nada normal – Final

    Dias e noites se passaram, e Lorenzo agraciava-me com sua companhia. Eu que sempre me senti satisfeita com a solidão e sempre fui auto-suficiente, ao final, sentia-me alegre com essas novidades.  Lorenzo estava sendo um ótimo Ghoul e percebi que de certa forma, ele já não precisava ficar trancafiado comigo em meu apartamento, sua “dependência” já era o suficiente para fazê-lo ser fiel a mim, sem que precisasse ser literalmente um prisioneiro. Já sentia um carinho por Lorenzo, a ponto de querer vê-lo bem, tendo uma vida o mais normal possível, e pensava que talvez no futuro, quem sabe, se eu não me cansasse dele, ele poderia sim ser minha cria e meu companheiro eternidade à fora.

    – Rebecca, eu tenho mesmo que ir?

    – Claro meu querido, é melhor é assim. Venha me visitar sempre, e não fale nada sobre mim para sua família.

    – Não falarei nada. Contarei sobre a surra que levei e inventarei uma história, contarei que fiquei na casa de estranhos que me acolheram, em um lugar isolado, até que eu melhorasse para ir embora.

    – Exatamente. Só espero que acreditem. – Falei gargalhando.

    – Confie em mim, minha vampirinha sádica preferida! – Falou brincando.

    Dei um beijo em Lorenzo. Piscando para mim ele partiu olhando para trás e dando tchauzinhos de vez em quando. Pensei em quanto ele era bobo, às vezes até fazia-me sentir uma humana novamente e ao mesmo tempo lembrava-me de minha perversidade de vampira, quando eu o dominava. Parecia ser um equilíbrio perfeito para mim. Alguns dias depois Lorenzo reapareceu para uma visita, saímos juntos e nos divertimos.  Nos encontrávamos com frequência. Mas, um tempo depois passei a preocupar-me. Fazia semanas que não aparecia. Eu ligava em seu celular, mas não atendia.  Fui ao seu bairro durante algumas noites, tentar encontrá-lo de longe e observá-lo, nenhum sinal. O que havia acontecido com Lorenzo? Já estava tomada pela fúria, ao imaginar que ele havia fugido. Mas, aquilo não era possível. Pelo menos certeza de que meus segredos estavam guardados eu tinha.  Depois de uma dessas tentativas, na volta para casa, parei em um pub para beber algo e pensar. Liguei para Pepe, e ela ficou de tentar localizá-lo pelo sinal do celular. Por um instante pensei que se ele fosse embora, seria melhor e se Pepe não o encontrasse eu deixaria toda aquela história de lado. Era melhor mesmo não me apegar a nada assim. Mal terminei minha conversa com Pepe e então, meu celular toca. Era Sophie.

    – Olá Rebecca. Eu… Eu preciso falar com você urgentemente. Onde está?

    – Oi… Nossa o que foi? Vou encontrá-la, fique calma.

    – Está bem.

    Encontrei Sophie na frente de meu prédio esperando. Parecia visivelmente nervosa. Aquilo era muito estranho. Quando cheguei ela olhou-me arregalada, veio correndo em minha direção e chacoalhando-me pelos ombros dizia desesperada:

    – Você o matou não o matou? Diga-me que o matou!!!

    -Para com isso! Matou quem? – Falei empurrando-a.

    – Ele Rebecca! Está de volta! Eu o vi.

    Respirei fundo. Ela estava histérica. Tive que acalmá-la e levá-la para cima. Para a idade que tinha, parecia uma criança amedrontada. Dei uma dose de conhaque a ela. Até então, eu não havia entendido nada do que estava acontecendo. Sentei ao seu lado, e com um esforço enorme para demonstrar paciência perguntei:

    – Sophie, me diga devagar. O que está acontecendo. De quem você está falando.

    Ela olhou para mim como quem diz “Sério que você não sabe do que estou falando?”. Gelei. Não era possivel. E o vi queimar e virar cinzas. Só podia ser brincadeira…

    – Eu o vi Becky. Estava aqui na frente olhando para o seu prédio, quando cheguei. Não era alucinação e…

    Enquanto ela falava desenfreadamente, meus pensamentos me levaram para longe. Seria possível? Talvez o sumiço de Lorenzo houvesse uma explicação…

  • Estranhos e loucos – pt2

    Estranhos e loucos – pt2

    Confesso que sempre gostei de “meter a mão na massa” em minhas empreitadas, mas com a chegada da Lilian e da Becky estou conseguindo aliviar um pouco essas incursões práticas. Podendo me dedicar as outras funções mais organizacionais junto das necessidades de meu clã e dos aliados. Apesar disso, sempre que posso utilizo todos os meios disponíveis para ajudar meus irmãos em suas empreitadas.

    “Fê, encontrei a tribo do Carlos, ou melhor, fui encontrada por eles com certa facilidade. Claro que é um mundo completamente diferente daquele que estou acostumada na cidade, mas estou me virando, ao modo Lilian de ser. Nossas investigações foram comprometidas, por causa da última enchente do rio próximo a tribo e faz mais de uma semana que os sumiços pararam. Então vim para a cidade, pois o faro do Carlos nos diz que poderemos encontrar algo por aqui. Se puder responda este e-mail ainda hoje, ou liga nesse número a seguir…”

    Carlos atendeu ao telefone e foi contando, tão logo percebeu que era eu do outro lado da linha:

    – A garota tem experiência em investigação, mas achei que você me mandaria alguém um pouco mais “velho”.

    – Ah meu irmão, ela é esforçada, sabe manusear uma espada como ninguém. Então dê uma chance que ela vai te surpreender. Reclamou muito da falta de conforto e das cousas da cidade?

    – Ela não quis usar as roupas tradicionais da tribo e fiquei desapontado por ela não se entrosar conosco dessa forma. Além disso, ela passa longos minutos escovando os cabelos coloridos, mas no geral fez amizade com facilidade por lá. Quanto a isso fica tranquilo, já estou acostumado com vocês caras pálidas noturnos. Fora isso, preciso que me ajude com alguns contrabandistas. Vou te passar alguns nomes e tu vê se consegues alguns endereços para nós?

    Para encurtar um pouco a história, Carlos me mandou os nomes, que repassei de imediato para Pepe. Ela fez suas “magias” na internet e Deep web e encontrou alguns endereços, no qual retornei em seguida e por telefone mesmo ao Carlos. O velho lobisomem anotou com cuidado e disse que naquela mesma noite eles iriam verificar pelo menos dois.

    Continuação baseada nos relatos do Carlos e da Lilian:

    Depois de conversar com Ferdinand, esperei a noite cair e fui acordar Lilian, podendo prosseguir até o local para que fizéssemos uma ronda e descobríssemos do que se tratavam os sumiços.

    Seguimos por algumas horas até chegarmos a uma espécie de galpão que parecia estar em atividade. Ficamos escondidos na floresta que cercava o local e conseguíamos sentir o forte odor de sangue que vinha de dentro. Eu sugeri que ela fosse até o local escondida, enquanto eu daria uma geral  onde haviam alguns ônibus estacionados, numa espécie de ferro-velho. Onde imediatamente vi vários homens armados protegendo a entrada.

    Após alguns minutos de observações percebi que a Lilian havia entrando sorrateiramente no galpão, onde ficou por lá alguns minutos e decidi voltar e aguardá-la na floresta. Mais um tempo se passou e ela finalmente voltou. Estava com a feição muito triste, na verdade estava completamente desolada, tanto que lhe perguntei imediatamente o que havia encontrado ou o que lhe deixou daquele jeito.

    – Carlos, o forte odor de sangue tem um motivo…

    – Qual Lili? Me fala!

    – Eu vi corpos, pequeninos, mutilados em mesas cirúrgicas.

    – O que? Me diz que isso é brincadeira.

    – Não.  Eles retiram os braços das pequenas crianças, colocam outro no lugar, algo de silicone.

    – Lilian…

    – Maioria deve ter apenas onze ou doze anos… Todas dopadas por algo anestésico.

    – Quantos estavam lá dentro?

    – Haviam cirurgiões, equipes médicas fazendo o procedimento de mutilação. A pior parte é que haviam pessoas comprando as crianças mutiladas… Algo para uso pessoal… As pobres crianças imóveis, sem saber o que estava acontecendo…

    – Lilian, precisamos sair daqui, voltar à tribo e traçar um plano.

    – Eu quero entrar lá e arrancar a cabeça de todos aqueles filhos da putas!

    – Você terá sua chance. Mas não hoje! Vamos voltar aqui preparados e com mais “gente”. Entrar ali agora seria suicídio e ninguém seria ajudado, nem elas ou nós.

    – Eu acho que vi os mandachuvas do lugar lá dentro. Eles são meus!

    – Feito! Agora vamos, temos que informar a todos, inclusive o Ferdinand e teu mestre, quem sabe eles mandem mais alguém ou possa dar mais informações sobre esses malditos.

    Seguimos imediatamente de volta à cidade, onde fizemos diversos contatos. Não consigo descrever a sensação de raiva ou ódio que tomou conta de mim e enquanto estávamos próximos do local, eu também tive vontade de entrar lá e quebrar tudo. Meu animal estava furioso e de certa forma excitado pela vontade comer carne humana, mas pelos deuses eu consegui me conter. Realmente, o que eu havia lhe dito era sensato e temos de voltar com mais alguns para lá.

    Quem diria, comecei a gostar da cara pálida metida a Samurai da cidade…

  • A bruxa sumiu – pt1

    A bruxa sumiu – pt1

    Passados os detalhes pós-transformação de minha querida Pepe e depois que minha forças voltaram a quase 100%, é justo que eu volte as minhas rotinas. Principalmente, no que diz respeito ao projeto “Escolhidos”, junto do ex-pirata Hector Santiago. Antes que me perguntem de Pepe, ela passará algumas semanas junto de Franz e H2, no que meu irmão chama de jam session, que na verdade será uma série de ensinamentos coletivos no qual ele tentará passar as nossas novas crias. Portanto está bem, sã e salva…

    Chegando no QG dos Escolhidos, me encontrei sozinho em meio a muitas investigações, as quais o próprio Hector não estava dando conta de investigar. Inclusive ele e Eliot estavam em campo, provavelmente verificando um dos casos. Tendo em vista, o amontoado de processos optei pelo clássico uni, duni, tê e para minha sorte encontrei um caso em que as forças ocultas estavam envolvidas em mais uma trama.

    Desta vez não haviam raptado artefatos mágicos, mas sim a própria anciã de um Coven de bruxas. Um grupo peculiar, no qual nome não posso revelar, mas que foi importante na época da ditadura brasileira. Dentre as provas encontradas pela própria policia no local do crime, havia muitos pelos de pantera negra e diversos objetos estavam arranhados. Além disso, algumas poças ou pequenos espirros de sangue espalhado pelo lugar foram analisados e nenhum deles levou os investigadores da policia, a quaisquer suspeitos cadastrados em seus bancos de dados.

    Ainda nos arquivos do processo haviam os depoimentos de três membros do grupo que foram encontrados feridos e desacordados no local do sequestro. De acordo com o que foi relatado pelo escrivão eles não falaram “nada como nada” e tudo o que se relacionava com o momento do sequestro estava embaralhado na mente deles.

    Instigado pelo crime arquivado e aparentemente sem solução aos olhos humanos, tratei de por as mãos a obra e pesquisei tudo o que a internet e a Deep web podiam me informar sobre o tal Coven. Liguei para alguns amigos e um deles me disseque o caso era de média importância para a sociedade bruxólica e que também já havia sido investigado por olhos sobrenaturais. Porém mesmo assim nada havia sido encontrado.

    Minha curiosidade estava afoita diante um processo interessante e não me custava nada dar uma espiadinha nos envolvidos. A cidade era grande e isso ajudaria a camuflar minhas investigações, só precisava juntar alguns equipamentos e deixar Hector de sobreaviso no caso de eventualidades.

    Carro com roupas e afins, carretinha com uma de minhas motos e hotel reservado…