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  • O totem desaparecido – Final

    O totem desaparecido – Final

    Eu havia sido recarregado, sentia-me forte como se tivesse me alimentado de sangue fresco e ao reabrir os olhos vejo-me deitado em uma cama, no que parecia ser uma das casas do tal plano no qual estávamos. Ao meu lado um velho índio, que dentre outro detalhes utilizava um colar igual ao de Apoema.

    – Enfim acordou meu filho, precisei realinhar teus chakra, está bem agora?

    – Sim sim obrigado, já estou acostumado a esses apagões, quase tudo na minha vida gira em torno disso e desde que virei o que sou. Onde estamos, onde estão os outros?

    – Nos aguardam do lado de fora, Carlos está ansioso para ir buscar o Totem!

    Então sem mais delongas saímos do lugar e para minha surpresa ao abrir a porta sou agraciado com uma das mulheres mais lindas que já vi. Cabelos amendoados e muito lisos, olhos escuros como a maioria das minhas noites e com o rosto pintado com tinta azul, ao melhor estilo Pocahontas em dia de guerra. Confesso que poderia preencher uma página com todos os seus atributos… No entanto, quando me viu ela apenas sorriu e disse com todo o carinho possível: – Porra até que enfim Edward, você estava esperando o que, a Bella vir te dar um beijinho??? Anda te mexe, todos nós queremos voltar logo para casa. – Porém, eu estava tão bobo diante a beleza da garota que simplesmente ignorei a piadinha e somente sorri feito um idiota… Eu devia estar babando na verdade…

    Todos estavam sentados próximos a uma grande árvore no jardim, cujo cume não pude ver em função da forte neblina que ainda assolava o lugar. – Então nosso Wampir acordou! Como estou sentindo tuas energias renovadas, vou reforçar nosso plano de ação. A ideia é simples meus irmãos e nos separaremos em dois grupos. O maior vai atrás da outra matilha e o menor irá atrás do totem. Ferdinand, Apoema e Charlotte e eu iremos ao santuário.  Stuart irá liderar o outro grupo que conterá o máximo possível àqueles bastardos. Lembrem-se tudo o que acontece por aqui afeta os seus corpos no plano terrestre, que a Deusa Dhan os proteja e que nosso reencontro seja próximo.

    Caminhamos por muito tempo em meio à densa floresta e longe da urbanização. Por alguns momentos eu me sentia muito bem naquele plano, pois era como se eu estivesse voltado no tempo, numa época antes de virar o que sou. Bem na verdade eu estava empolgado “secando” a bela indiazinha que rebolava a cada passada a minha frente… Contudo, isso não durou muito e meus pensamentos foram interrompidos por Carlos:

    – Pois bem meu amigo, preciso te deixar a par do que está acontecendo. Aqueles dois Wairwulf, que foram assassinados eram os protetores do Totem de Giniw, que dentre vários atributos é uma espécie de gerador que torna possível a nossa entrada em planos como este. Como é possível entrar aqui e sair onde se quiser imagine as possibilidades de tal artefato. Apoema é o espírito que vive dentro do Totem e ao perceber que eu queria apenas protegê-lo, veio para o nosso lado contra a outra tribo. Neste momento estamos indo na direção do santuário, que nada mais é do uma cópia do totem neste plano, onde Apoema fará a transferência de propriedade dos antigos protetores para alguém que ele julgue merecedor. Caso ninguém seja capaz de tal mérito todas as almas presentes aqui serão expulsas e o totem será “desligado” por cem anos.

    Isso explicava por que alguns Wairwulf rondavam a casa, por que o Totem havia sumido e por que tantos poderes ocultos estão envolvidos em tudo que está relacionado a tal relíquia.  Diante tal história só me restava acompanhá-los e desejar que mais nada desse errado.

    Minutos mais tarde chegamos ao tal santuário, uma bela construção de pedras escuras envolta de arbustos e pequenas árvores. Confesso que estivesse passando por ali não repararia na pequena formação rochosa, com pouco mais de 2m de altura e com uma bela águia entalhada no topo. Apoema foi o primeiro a chegar ao local e antes de iniciar o ritual nos disse: – Preciso juntar toda a energia que eu conseguir, é possível que isso faça todo o lugar se estremecer, portanto fiquem próximos a mim. Caso os outros cheguem, apenas aguardem minha manifestação.

    Enquanto o espírito se concentrava nós apenas aguardamos em silêncio, quando sem mais nem menos tudo ao nosso redor parecia sacudir, tal qual como em um interminável terremoto. Pedras rolavam, árvores caiam, um forte vento quase nos levantava do chão, até que após alguns instantes veio a calmaria. Porém como nada é fácil, Carlos avistou alguém da outra tribo e correu para seu encontro. Charlotte, o seguiu antes que eu pudesse dizer algo e para minha surpresa lá estava eu novamente em minha forma bestial.

    Ao contrário das outras vezes, nesta eu pude controlar minha forma como se estivesse sem ela e certamente foi a primeira vez que percebi todos os benefícios da transformação. Força, visão, destreza, olfato… Todos ampliados de uma maneira nunca antes sentida por mim. Olho para o lado e Apoema havia sumido, então não me restava mais nada além de ir para a briga.

    Iniciava-se ali uma série de lutas, onde os ferimentos literalmente doeram na alma. Garradas, mordidas, chutes… Todos arrancavam partes do que pareciam ser nossos fluidos e que se dissipavam no ar quando arrancados. Foi assim até que outro terremoto e desta vez mais forte, fez todos caírem ao chão, a camada de neblina que parecia permanente finalmente se dissipou e agora podíamos nos ver uns aos outros. Lá estava Carlos, Charlotte, o irmão mala e quase todos os outros entre amigos e inimigos.

    Naquele instante paramos obrigatoriamente de brigar, era como se o lugar nos forçasse a parar todas as lutas e pedisse atenção. Quando finalmente surge uma espécie de luz vinda de onde Apoema estava, a formação luminosa flutuou até mais ou menos o meio do campo de batalha e aos poucos nos mostrou a forma de uma bela águia. Em questão de instantes, ela começou a mudar de um tom amarelado para um tom vermelho, quando sem qualquer tipo de aviso simplesmente explodiu… Silêncio… Escuridão…

    Não sei quanto tempo se passou desde a explosão luminosa, mas ao reabrir meus olhos percebo que estou novamente abaixo da terra e ainda sob efeito de minha magia de união com esse elemento. Percebo que ainda é noite então desfaço o poder e revejo a floresta do plano terrestre. Próximo a mim vejo Carlos e também os corpos de Charlotte, Stuart e de todos os demais a exceção daqueles pertencentes à tribo rival.

    Dirijo-me a Carlos, ouço seu coração que ainda bate e lhe dou alguns tapas na cara. Entre resmungos o velho Wairwulf reluta como uma criança birrenta, mas finalmente abre os olhos. Ele se senta, espreguiça-se e depois de um tempo me fala: – Eu imaginava que seriamos expulsos daquele plano, só não sabia que Charlotte seria escolhida a nova protetora do Totem, venha, vamos acordá-la!

    Duas noites depois ligo para meu ex-cunhado e recomendo o arquivamento do inquérito, em seguida arrumo algumas malas e viajo para o Chile. Afinal, depois de tudo que enfrentei junto de Carlos, eu precisava participar do Ritual de agradecimento a Apoema e oferecido pela linda Charlotte.

  • Carnaval, amor e surpresas

    Carnaval, amor e surpresas

    Ao contrário de meus irmãos, que preferiram os festejos brasileiros deste carnaval, eu por outro lado resolvi descansar em algum lugar junto de minha doce Julie. Como vocês já estão cansados de ouvir de mim, esta cousa de que vampiros vivem sempre sugando sangue, torturando, investigando ou afins, está longe de ser nossa realidade. Porém, às vezes um simples passeio pode trazer boas surpresas.

    Sexta-feira, pouco mais de 21 horas, o carro já estava carregado e eu estava fechando a porta da garagem, quando o telefone tocou. Número privado e depois de alguns instantes sem ninguém falar nada, eu ia desligar, quando ouço uma respiração forte do outro lado… Mais alguns instantes da respiração funda e seca em meio aos meus “alôs”, até que finalmente a linha cai. Aquilo me pareceu muito estranho, não do tipo que assusta, mas sim do tipo que nos faz imaginar um milhão de cousas. Todavia, como ninguém retornou depois de 10 minutos, arrumei o restante da bagagem e fui ao encontro de Julie.

    Durante o caminho pedi a Julie que enviasse algumas mensagens ao restante do clã e por hora todos estavam bem. A viagem durou mais ou menos 3 horas, foi tranquila e pouco depois da meia noite chegamos ao nosso destino: uma casinha no alto de um morro, em meio a uma bela e escura floresta virgem e vizinha de alguns cânions e rios.

    Adoro fazer este tipo de viagem, principalmente pelo fato de que ali seriamos apenas nós dois e o casal de caseiros. Estes que graças a um tipo de feitiço, aquele que eu aprendi com a Beth, ficariam dormindo ao menos uns dois dias e noites seguidos

    Então logo na primeira noite, depois de fazer o feitiço nos casal de caseiros, eu aproveitei para esticar um pouco as pernas na forma de lobo. O que também serviria no sentido de analise e verificação das proximidades e seus possíveis habitantes. Este passeio durou pouco mais de uma hora e a exceção de alguns gatos ou cachorros do mato, estávamos enfim sós.

    Ao voltar para casa: suado e nu. Deparei-me com Julie sentada à varanda, trajando apenas uma pequenina lingerie e fazendo aquela cena que todo macho adora apreciar: uma bela fêmea passando cremes por todo o copo. Não sei se foi a aproximação com meu demônio, enquanto passeava na forma animal, ou se foi algum feromônio liberado pelos cremes de Julie, mas eu a ataquei…

    Calma leitora, ela “curtiu” meu ataque… Sorrateiro, como um bom caçador noturno eu surgi do nada, levantei-a e apertei contra a parede. Ela sentiu minha pegada, roçou seus lábios carnudos e macios em minha barba rala e me escalou. Suas fortes coxas seguraram com força minha cintura e aquele imensurável tesão aumentava a cada pegada mais forte. Intenso, profano, um só copo, uma única alma…

    Nosso carnaval iniciava da melhor forma, porém meu sono matinal fora interrompido por alguns passos do lado de fora da casa. Abri os olhos e enquanto entendia o que se passava percebi um andar arrastado e pesado. Sim, havia também a sensação de que algum Licantropo estava por perto, mas ao mesmo tempo havia algo familiar em tal indivíduo. Obviamente eu não poderia sair, pois o sol estava forte, mas por sorte aqueles passos duraram apenas alguns segundos, fazendo-me inclusive pensar na hipótese de sonhos ou pesadelos.

    Na noite do dia seguinte comentei o ocorrido com Julie ambos fizemos buscas na região, porém nenhum vestígio de pegada ou da presença de “outros”. Nesta noite depois do passeio tomamos um belo banho juntos e tratei de por em dia algumas leituras que estavam atrasadas. Julie também leu um pouco, mas acabou  trocando os livros pela prática e fez um ou dois rituais que a há tempos queria praticar longe da civilização.

    Nestes locais a magia fica mais forte, conseguimos uma ligação maior com os espíritos antigos e tudo que for relacionado à ritualística é favorecido. Nesta noite e na próxima fizemos praticamente as mesmas cousas, até que novamente na manhã de segunda eu acordo no mesmo horário com os mesmos barulhos. Desta vez os passos e a sensação pareciam mais nítidos, porém novamente duram poucos segundos.

    Passei aquela manhã me enrolando na cama e a tarde desisti do sono e escrevi um pouco. À noite logo depois que o sol se pôs e antes que Julie acordasse, eu resolvi sair sozinho pela região. Deixei um bilhete na mesa da cozinha e sai. Ao abrir a porta sou surpreendido por um objeto interessante e próximo da cadeira de balanço na varanda. Era uma caixa quadrada provavelmente de madeira e revestida em couro preto, com detalhes em metal.

    Não senti nenhum tipo de perigo vindo daquele objeto, mas ao abri-lo desabei sobre meus joelhos… Muitos pensamentos vieram a minha cabeça, porém havia naquele simples objeto uma lembrança inesquecível… Minha família mortal…

  • Em busca da vampira assassina. Parte 2 de 2

    Em busca da vampira assassina. Parte 2 de 2

    Carlos começou a fazer o que sabe de melhor e nos levou mata a dentro atrás dos dois. Mesmo para nós que não somos rastreadores ficava evidente o cheiro do sangue perdido pela vadia. Os diabolistas tem um cheiro muito particular, fétido, que lembra carne podre e ácido. Tem como cheiro ser ácido? Ok…

    A cada passo que dávamos ficava mais evidente na cara de todos a vontade em terminar tudo logo para cada um poder voltar as suas rotinas. Apesar de termos nos recuperado parcialmente era agora o melhor momento para acabar de vez com a maldita sanguessuga diabolista. De nós cinco apenas Hector, Carlos e eu podíamos realmente cair no pau. H2 ainda estava sofrendo os problemas da transformação e Franz havia gasto muita energia, ou seja, na hora eu pensava somente em encontrar rápido a maldita e antes que ela viesse com outra surpresa.

    Carlos, manda todos se moverem em silêncio, mas nenhum de nos conseguiu fazer isso, afinal estávamos em meio a mata na escuridão total. Mesmo com a visão aguçada que possuímos os galho, folhas secas e arbustos formavam a sintonia perfeita para nos denunciar.

    Shiiiii insistiu ele… Mas antes que consiga terminar de falar uma granada de fumaça explode ao seu lado e o impacto o derruba. O forte barulho atordoou nossos sentidos e o susto nos dispersou. Olhei perdido para os lados e segui o que parecia ser o brilho da espada de Hector. No entanto antes que pudesse me aproximar do pirata sou atacado pelo maldito peludo, que em forma de humanoide agarra minha perna e me joga contra uma árvore.

    Sinto o estalar de algumas costelas e ao tentar me segurar em algo para pegar equilíbrio levo um chute na altura do ombro. Nos engalfinhamos então pelo chão, enquanto tentava começar minha transformação, mas não consegui haja vista que é algo que precisa de certa concentração. Nessas horas em meio a socos e agarrões é difícil concentrar e somente a sobrevivência fala mais alto.

    Consigo me levantar e enquanto tento aplicar um aperto em seu pescoço no infeliz ele me surpreende com um golpe de capoeira e me joga novamente contra outra árvore. Desta vez senti alguns ossos do braço esquerdo se quebrarem. Enquanto ele vinha para cima de mim, o que provavelmente resultaria em um belo estrago, vejo Carlos segura-lo e Hector aplicar um golpe certeiro com a espada de prata em seu coração. A besta peluda engoliu um uivo seco, seus olhos ficaram imóveis e ao levar as patas a espada ele se contorceu e ficou de joelhos. O velho pirata o empurrou para trás com o pé e usando sua rapidez deferiu um golpe que separou a cabeça do corpo. A rapidez do golpe foi tanta que certamente olhos humanos veriam apenas o pirata parado na frente da besta e sua cabeça caindo ao lado.

    Enquanto Carlos e Hector me ajudavam a se levantar somos surpreendidos por uma espécie de névoa escura. A névoa retardou nossos movimentos e reduziu a praticamente zero nossa visão. Mesmo utilizando a nossa velocidade e força superiores era difícil dar passos simples e por fim percebemos que estávamos presos no maldito poder de Tenébras.

    Depois de alguns poucos minutos sinto minha energia e força diminuírem, mas antes que eu vá ao chão alguma coisa forte me puxa para cima. Confesso que senti meu corpo flutuar como se a gravidade não existisse mais como em algo surreal. Na sequencia minha visão começa a melhorar e vejo ao meu lado Carlos me carregando junto de Hector para cima de uma árvore. Impressionado com a agilidade e força de um lobisomem? Tu nem imagina do que eles são capazes…

    Ele nos soltou em cima de um grande galho, onde ao longe era possível ver a fonte da névoa: a vampira bruxa com uma tênue aura alaranjada recobrindo o seu corpo.

    Antes que pudéssemos tentar falar algo Carlos foi em direção da luz e entre saltos chegou perto de um galho que ficava logo acima da feiticeira. Ele a fitou por alguns instantes, pois percebeu que abaixo de si vinha correndo Franz e H2 em direção da bruxa.

    Os dois vampiros deferiram vários golpes, mas não conseguiram desfazer o círculo mágico, que repentinamente se expandiu e os arremessou para muito longe em meio a mata.

    Enquanto achávamos que tudo ia dar errado, consigo descer da árvore com a ajuda de Hector e rumamos em direção a bruxa que já não conseguia mais manter a escura e espessa névoa.

    Ao chegar perto da vadia ví algo que nunca havia visto em todos os meus muitos anos como vampiro. Não vou conseguir transmitir em palavras tudo que ví, mas vou tentar… Carlos saltou da árvore de onde estava em forma de lobo humanoide, isso quer dizer que ele parecia uma besta de quase três metros de altura ou seja o máximo de poder que um lobisomem poderia ter, achava eu…

    Na verdade acho que a própria encarnação do lado mais nefasto de Gaia estava a nossa frente. Certamente o simples fato de olhar para Carlos faria um humano normal entrar em colapso e o que parecia grandioso aumentaria ainda mais com os atos posteriores da fera.

    Carlos precisou de poucas passadas para ficar frente a frente com a mulher e por algum tempo se encararam. A primeira a se manifestar foi a vadia que mudou cor da aura de energia que a envolvia para uma cor vermelho carmim e se preparou para receber algum tipo de golpe. O peludo em sua vez já estava a conjurar algo até que quando sua longa calda peluda que balançava muito ficou repentinamente parada. Ele abriu então os braços, dobrou um pouco os joelhos e como um relâmpago deferiu uma centena de garradas que perfuraram várias partes da  bruxa.

    Em poucos segundos  o corpo da mulher amaldiçoada foi ao chão e entre contrações e espasmos foi possível sentir o que lhe restava de não vida se esvaindo junto do seu sangue podre, até que restassem apenas um corpo seco.

    Carlos ainda de costas para nós e muito ofegante se ajoelhou em frente aos restos da diabolista agarrando sua cabeça com as duas patas. Ele resmungou mais alguma palavras em uma língua completamente desconhecida para mim e assoprou a face desfigurada do corpo. Com o ato o que ainda restara se desmanchou em cinzas até que não existisse mais nada em frente ao lobo.

    Nos aproximamos, ele estava mais calmo e já era possível ver seu rosto humano novamente. Antes que ele se levantasse diante de mim vejo algumas lágrimas esvaíram-se de seus olhos profundos. Solto então meu braço esquerdo que já estava um pouco melhor e apoio minha mão direita em seu ombro o encarando de frente.

    O peludo limpa o rosto e me fala pausadamente algumas frases que me deram mais confiança para continuar minha jornada:

    – Sonho todos os dias com o fim dessa guerra inútil… Gaia deu hoje mais um voto de confiança para o seu plano contra as trevas… Aproveite pois acabamos de pagar a minha dívida contigo e a alma do seu amigo está livre novamente!

    Voltamos todos para casa e já estamos recuperados, mas ainda fico no meu canto pensando nas palavras de Carlos. Voltei a pesquisar nossas origens e confesso que os últimos acontecimentos deixaram-me na dúvida quanto ao meu lado bestial. Será que meu lado agressivo é realmente demoníaco como insisto em idealizar sempre?

     

  • Cheiro de peludo e minha besta…

    20:33 – O sol estava se pondo no horizonte, eu ainda podia sentir seu calor sobrenatural  incomodando o meu descanso. A droga do cheiro tinha surgido no ar. Fazia algum tempo que eu não sentia esse fedor de cachorro suado. No entanto o silêncio em volta da minha casa era constrangedor e eu sabia que alguma coisa estava acontecendo.

    Minha besta nunca me engana na verdade ela se excita com a aproximação de algo sobrenatural, perigo ou necessidade de sangue. É a velha história da emoção do predador diante algum acontecimento, que movimente a sua inércia.

    Eu já estava com as presas à mostra, meu rosto começara a rosar, pois o sangue dentro de mim estava agitado. Senti o gosto de sangue por causa das minhas presas que aumentaram a ponto de cortar o lábio inferior… Levantei sem fazer qualquer movimento brusco… Eu estava em desvantagem, estava sendo o alvo da caça, mas estava no meu domínio, esse era meu lugar e eu sabia de tudo ou de todos que passavam pela região.

    20:40  – O cheiro era diferente, eu nunca tinha sentido nessa região. Uma peluda? Coisa difícil de ver e ainda mais sozinha. Minha besta estava extasiada, quase em frenesi pela oportunidade de se libertar, mas ela não iria se libertar por qualquer coisa. Eu sempre a controlei e até o momento ela não tinha assumido o controle sobre nós.

    Fui até a porta da frente, minha besta dizia que ela estava do outro lado da casa, abri e realmente não tinha nada na frente. O cheiro, aquele cheiro forte, estava ali. Comecei a rodar a casa. Consegui andar em silêncio até sem querer pisar num maldito galho seco…

    20:50 – O cheiro aumentou de tal forma que estava insuportável, eu já não podia mais voltar para dentro. A sensação de ser caçado não é boa, mas minha besta adora, os lhos se enchem de sangue, meus dentes cortam um pouco mais os lábios e o gosto de sangue inflama minha língua de desejo. —Auuuuuuuuuuuuu— Merda! Tem mais de um…

    Barulho de pegadas… Meu telhado, porra, tem um no meu telhado. Subo no telhado com dois saltos e vejo de costas  a peluda… Cravo meus dentes no pescoço dela e levo uma patada que me joga contra algumas telhas. Caio, levanto e pulo em cima de novo, mas desta vez com as garras na barriga. Sinto a maldita gemer de dor… Ela me morde no ombro… FDP como dói, queima quase como luz do sol. Levei um chute e voei telhado a baixo. Caio em cima de algumas folhas e desloco meu ombro. Bosta…

    20:55 – Coloco meu ombro no lugar batendo contra a parede da casa. Eu sentia que já estava bem machucado, mesmo regenerando… —Vai lá volta pro teclado e mata aquela vagabunda, dizia minha besta. Eu não podia fazer isso, ia ser morto facilmente caso aparecesse mais um deles.

    Corro para casa atrás de uma pistola escondida com balas de prata…

    21:00 – Sinto o cheiro dentro de casa, o fedor de cachorro sujo era horrível… Escondo-me atrás de uma parede… Atiro duas vezes… Por sorte acertei… Ela caiu e quebrou minha mesinha de centro da sala. Respiração ofegante, gemidos e pequenos uivos… Ela começa a parecer humana.

    Fleeeee…. Uma flecha acerta meu braço que estava se regenerando… Deixo a arma cair e na seqüência outra flecha acerta minha coxa esquerda e isso me faz ficar de joelhos……….. Tudo bem agora não era mais eu que controlava nos dois!

    22:12 (noite seguinte) – Algumas seqüencias de flashes vêm a minha mente como: Beber sangue da peluda caída  me sentir mais forte e correr para fora de casa… Bebo sangue de outro peludo e acordo na casa do meu senhor na noite seguinte.