Tag: frança

  • E o tiro saiu pela culatra – Parte 2

    E o tiro saiu pela culatra – Parte 2

    De volta ao seu quarto de hotel em Paris, Juan apressou-se em ligar para o hotel em Cancún e confirmar o endereço. Ele tinha copiado corretamente do computador, mas pediu que o gerente procurasse a ficha preenchida por Evelyn para verificar algum possível erro.
    Enquanto esperava, Juan tentou por seguidas vezes contato através do número de telefone. Mais uma vez, não houve resposta.
    Já perto da hora do jantar o gerente do hotel de Juan em Cancun finalmente entrou em contato confirmando que não houve erro de digitação. O endereço e telefone que Juan possuía, eram os informados por Evelyn.
    Juan ligou para Miguel e os dois se encontraram no café onde se conheceram para jantar. Depois de ouvir atentamente o que Juan contou sobre as verificações que pedira, Miguel sugeriu que o homem entrasse em contato com o serviço de informações da empresa de telefone, um tipo de auxilio à lista, e verificasse o endereço que consta para aquele número, e o número que consta para o endereço.
    Como já era bastante tarde quando voltou ao hotel, Juan decidiu que a manhã seguinte seria o melhor horário para fazer as ligações, e por causa do seu fraco entendimento da língua francesa, ele também precisaria da ajuda de um dos recepcionistas.

    Naquela tarde Miguel e Juan se encontraram novamente. O homem espanhol já suspeitava que o mexicano estivesse caindo na teia de uma mulher perigosa, mas achou melhor só comentar isso depois de ter certeza.
    A confirmação aconteceu quando Juan contou que o endereço do número de telefone e o telefone do endereço não batiam. Apenas um dígito de diferença e o endereço apontava para o outro lado da cidade. Louco para reencontrar aquela deslumbrante mulher, o mexicano não aceitou o aviso de Miguel de que aquilo poderia ser proposital. Insistiu em ir até os dois endereços. O espanhol disse que havia falado com um amigo que tinha negócios naquela área e que talvez pudesse ajudar Juan a entrar no bairro, mas o mexicano não poderia sair do carro, ele tinha autorização para parar em lugares determinados, tanto dos que controlavam a àrea, quanto da polícia.
    Marcaram o encontro com o tal amigo de Miguel para o outro dia. O francês mal falava qualquer outra língua, e meio que por gestos fez Juan entender que deveria vestir o uniforme igual aos outros carregadores, que não deveria falar em montento algum e também ficar o tempo todo dentro da van.
    O veículo era uma van normal, sem os últimos bancos de passageiros, que eram substituídos por guloseimas em caixas, entregues nas áreas mais perigosas da cidade.
    Juan se sentou à janela, único lugar dispinível e deu uma olhada nos outros homens, todos negros, mal vestidos com o uniforme já bastante desgastado. Alguns passavam a impressão de não serem muito ligados em higiene pessoal. Dentro da van o cheiro era uma mistura de chiclete de tuti-fruti com cigarro e suor. Nada agradavel.
    O amigo de Miguel parecia ser o chefe e também era o motorista. Pelo pouco que conhecia da língua francesa, sabia que ele também era o único francês dali. Os outros homens tinham sotaques fortes e diversos, isso dificultava muito saber o que eles falavam. Juan chegou a conclusão que eles deveriam ser da Argélia ou Congo.
    A van passou por três barreiras antes de finalmente entrar no bairro. A primeira era claramente policial, com homens fortemente armados e uniformizados. Ali todos desceram e foram revistados, assim como cães farejadores e dispositivos anti-bombas foram usados para vistoriar o veículo.
    Na segunda barreira a van nem parou, apenas gestos para os homens. Juan não conseguiu definir se era uma força paralela ou milicianos. Eles pareciam os policias da outra barreira, mas não estavam uniformizados. Um dos homens falava em um walkie-talk e olhava atentamente para os passageiros.
    Depois de passar por algumas àreas vizivelmente inabitadas, era possível avistar latões com fogo na lateral da estrada. Eles afunilavam o caminho até o que seria a terceira barreira. Os passageiros não precisaram descer, mas a porta lateral e a traseira foram abertas e um homem de capuz e mais bem armado que as outras duas barrerias, colocou metade de corpo para dentro e encarou um à um os carregadores. Ele perguntou qualquer coisa a um homem sentado à porta e apontou para Juan. O homem respondeu e o outro fechou a porta.
    Depois abriram a traseira e tiraram uma ou duas caixas de guloseimas. O francês amigo de Miguel não estava ao alcance dos olhos, e Juan também não levantou muito a cabeça para procurar. Eles ficaram uns 5 minutos ali, até que o motorista voltou e sem falar nada continuou dirigindo.
    O lugar era muito pobre, Juan nunca havia imaginado que poderia ver a probreza que era comum nas àreas mais remotas no México em uma cidade como Paris. Parecia outro lugar, um mundo distante, separado. Quase ninguém andava na rua e era fácil ver pessoas armadas nas esquinas, como se estivessem em vigilância.
    A van parou em aproixmadamente 5 lugares. Em cada um deles um homem diferente saia para fazer a entrega e na volta dava um envelope ao motorista. As ruas não tinham placas com nomes, e só algumas casas eram numeradas.
    Juan sentia-se completamente perdido e já acreditava que aquele não era o endereço certo. Era claro que entrar e sair dali não era para qualquer um e que se Evelyn não fosse ligada à alta cúpula da organização que comandava aquela àrea, jamais estaria hospedada em um hotel a beira-mar em Caracas, onde se conheceram.
    De repente quebrando o silêncio que durava desde que chegaram a primeira barreira, o motorista disse: “la gauche!” e apontou para fora do carro. Tudo que Juan viu foi um prédio abandonado depois de um incêncio que acabara com quase tudo. Do pouco que se lia na fachada era o número,127. Exatamente o que Evelyn escrevera. Miguel estava certo, ela havia mentido.

  • Truque de mágica

    Truque de mágica

    Certa vez, ainda nos primeiros anos na faculdade em Paris, Evelyn estava tentando chamar a atenção de um rapaz. Ela não tinha a menor intenção de casar-se com ele, apenas queria se divertir um pouco.
    Ele também estudava na Sorbonne, fazia qualquer coisa bem diferente de História da Arte e eles apenas se cruzavam nos corredores.
    Às vezes Evelyn o via no café que frequantava nos arredores da faculdade. Sentou-se algumas delas em seu campo de visão, chegou até a distraidamente esbarrar em seu braço, mas nada.
    O rapaz simplesmente parecia ser imune aos pequenos truques dela.
    Os meses passaram e a única coisa que ela conseguiu foi tornar-se conhecida através de amigos em comum.
    Começou quando um dia ela abordou o rapaz e um amigo, fez uma pergunta qualquer sobre um movimento do diretório estudantil. Enquanto falava, Evelyn olhava ambos e não mostrava interesse. A resposta veio do amigo, que prontamente se pôs um passo a frente e explicou onde e quando ocorreria a manifestação. Ela não estava interessada de maneira alguma em participar, mas como era um assunto que tocava todos da universidade, qualquer aluno de qualquer curso poderia ter mais informações. Ela não queria cometer uma gafe e perguntar sobre arte à alunos de administração, como já tinha visto o tal rapaz saindo da sala do diretório estudantil, tinha certeza que ele não estranharia a pergunta.
    Evelyn estava certa, ele fazia sim parte do diretório, mas não era um membro atuante, o amigo por outro lado era o vice-presidente. Assim ela conseguira a atenção do cara errado.
    Quando já estava agradecendo e despedindo-se meio frustrada, mas sem deixar transparecer, a sorte lhe deu um sorriso. Ane, uma de suas colegas de aula aproximou-se e abraçou os rapazes, adivilhe só, eles eram vizinhos. Bingo!
    A colega até que era um tanto agradavél, bem menos fútil que as outras.
    Os quatro sairam algumas vezes para um café, outras apenas Evelyn, Ane e o amigo. Ela conseguira, estava no círculo dele, mas não podia dar mais nenhum passo. Se ele a quisesse, o próximo movimento deveria ser dele.
    Mais uma vez o tempo passou e nada.
    Um dia devaniando em seu pequeno apartamento no centro de Paris, Evelyn lembrou-se de uma conversa que ouvira em suas andanças pelo mundo da magia. Um truque simples para conseguir a atenção de um rapaz.
    O feitiço era fácil, não havia palavra secreta ou qualquer abracadabra.
    Em uma folha de papel Evelyn escreveu dos dois lados, preenchendo todas as linhas com o nome completo do rapaz, enquanto se concentrava na imagem dele. Depois ela pegou uma bacia de ferro e queimou o papael enquanto se imaginava carinhosamente abraçada ao rapaz. Assim quando tudo era apenas cinzas, ela foi até o terraço e pedindo aos poderes do ar que lhe atendesse soprou o conteúdo da bacia no vento.
    Passaram-se duas semanas e Evelyn não viu ou ouviu falar do rapaz. Ela ainda saia para um café com os vizinhos dele, mas ninguém comentava nada.
    Depois de algum tempo Evelyn relaxou, achou que talvez ainda não tivesse poderes suficientes para uma simpatia simples e continuou tocando a vida normalmente.
    Até que um dia sentada no café de costume, ouviu alguém lhe dizer “oi”. Ela se assustou, pois estava concentrada em um de seus livros de história, quando levantou o olhar, era o tal rapaz.
    Educada Evelyn perguntou se ele não queria se jutnar à ela na mesa e ele aceitou. Naquela tarde eles conversaram longamente, sem pressa e sozinhos.
    Agora Daniel não só acenava quando cruzava com ela nos corredores, como também muitas vezes parava para conversar ou a chamava pelo nome.
    Os cafés com os vizinhos continuavam e Daniel passou a sentar-se sempre ao lado de Evelyn. Os encontros a sós também se intensificaram e os dois foram se tornando mais intímos.
    Não dá para explicar a maneira que Daniel a encantava, não era amor ou paixão, disso ela tinha certeza. Mas ele tinha alguma coisa que ela tentava entender, parecia que sempre havia muito mais a ser tido, mas Daniel nem puxava o ar.
    Ele tinha uma energia diferente, que como Evelyn descobriu anos mais tarde, agia como um filtro nos olhos dela e nunca deixava a beleza dele desaparecer.
    O verão chegou e os amigos trocaram os cafés do centro pelos piqueniques no Champs de Mars. Essa época do ano, ali é forrado de turistas indo e vindo da Torre Eiffel, mas era exatamente o grande número de desconhecidos que os atraia. Passavam horas apenas observando as pessoas.
    Numa tarde quente Evelyn encontrou Daniel no Louvre. Ela fazia visitas frequentes, já que ainda não conseguira ver todas as obras expostas no museu, mas se surpreendeu por encontrá-lo. Mais uma vez o misterioso rapaz desafiava os sentidos de Evelyn, mesmo assim ela se deixou levar, alguma coisa lhe dizia que não havia perigo.
    Daniel a convidou para jantar em um dos charmosos barcos que passeiam pelo Rio Sena e oferecem refeições, com vinhos e queijos enquanto passam pelos belos pontos históricos da cidade.
    O jantar foi mágico e Evelyn sentia-se feliz e satisfeita. Desembarcaram em frente a Torre Eiffel e aproximaram-se da multidão que esperava o show.
    Naquela noite, enquanto os turistas aplaudiam o acender das luzes na Torre mais fotografada do planeta, Daniel beijou Evelyn e logo depois sumiu na multidão.