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  • A garota perdida – pt2

    A garota perdida – pt2

    Eu finalmente fiquei frente a frente com Matt, eu podia jurar que ele queria chorar tanto quanto eu. Eu precisava tomar coragem e foi ao voltar a olhar para a saída e não ver mais o homem que eu amava, que toda a coragem veio até mim. Eu segurei as mãos do Matt e interrompi o padre, que não ficou nada feliz com a minha atitude, por assim dizer.

    – Matt, o que nós estamos fazendo?

    – Sinceramente Lili, eu acho que estamos para cometer um erro.

    – O maior e pior erro de nossas vidas.

    – Eu quero que você seja feliz.

    – Eu desejo o mesmo pra você querido, nada menos que felicidade!

    Eu dei um longo abraço no Matt e depois de um bom tempo pude respirar de verdade, sem a sensação de peso e acho que ele também. Olhei para minha mãe e sorri, de um jeito tão sincero, que eu até tinha esquecido como era essa sensação. O vestido me atrapalhou um pouco para sair correndo da igreja e gritar de alegria. Eu  estava tão “empolgada” de estar livre de tudo aquilo que não percebi logo de cara a presença de Pierre.

    – Pensei que nunca fosse sair daquela maldita igreja.

    – Eu pensei que por um instante você fosse me arrancar de lá a força.

    – Vontade não me faltou Lili…

    Confesso que eu pulei nos braços dele como se fosse uma garotinha, e finalmente toda minha inibição parecia ter ido embora, porque quem deu o beijo em quem primeiro, fui eu. Sim eu a recatada e cheia de dúvidas, agora não tinha mais nada de dúvida ou vergonha.

    Gente que romântico tudo isso, não? Como que vocês descrevem nas famosas “hastags”? Final romântico! #SQN.

    Ai vem o que realmente me aconteceu, eu fugi sim com o Pierre, vestida de noiva e todos os clichês ridículos e românticos que são jogados na nossa cara através do cinema e da TV. Como uma adolescente cheia de hormônios eu apenas peguei uma mala com poucas roupas e na minha cabeça “fui viver a aventura romântica na EUROPA”. Sim nós fomos a Europa. Lógico, que vocês devem suspeitar desse fato, que as viagens eram à noite e de dia dormíamos em algum hotel chique e ridiculamente caro ( Pierre era rico, muito rico, que chegava a deixar o Tio Patinhas e o Riquinho no chão. E  por favor eu não sou tão velha quanto os vampiros que vocês estão acostumados, sem ofensas. E  sei de basicamente de tudo das últimas seis décadas).

    Depois de algumas semanas passando praticamente a noite acordada e o dia dormindo, eu me sentia uma VAMPIRA! Por que será? E como minha curiosidade estava aflorando e eu comecei a perceber muitas coisas em Pierre, uma delas a famosa pele branca fora do normal e quando ele me tocava,  eu sentia que o frio da noite era mais intenso, o que na verdade era a pele dele. E  quando ele sumia de madrugada para visitar algum cliente necessitado ( na verdade o necessitado era ele,) ele deixava um bilhetinho lindo pra mim.

    Mas um breve fato trouxe tudo a tona, em uma bela noite de dezembro na velha Londres, após alguns meses juntos, eu fiquei sem sono ao perceber que, na cama que cabiam umas dez pessoas ( Se você tem alguma dúvida, eu obviamente passei minha noite de núpcias acompanhada, não pelo meu noivo, mas passei ), eu estava sozinha, então resolvi perambular pelo quarto, e claro tinha um dos bilhetes clássicos e com uma caligrafia incrível, “ Minha  bela Lili, volto logo, Beijos do seu querido  Pierre.”  .

    Eu comecei a odiar esses bilhetes, essas saídas, mas mesmo assim mantinha a compostura perto dele. Então decidi naquela noite, que eu era alto suficiente para sair na rua sozinha e ir a algum lugar divertido e sem ele ( Vocês já viram um vampiro bravo? Se ainda não, continuem assim… Posso garantir que não é nada agradável), peguei alguns trocados e coloquei em uma pequena bolsa, vesti apenas um vestido preto com um sobretudo por cima, calcei minhas botas e sai do hotel, sem rumo.

     

    Acordo e apenas tenho vagas lembranças, da noite anterior. Tento me mexer, mas sinto dores por todo corpo, como se tivesse sofrido algum tipo de acidente. Conforme minha visão voltava ao normal, percebi,  que estava em um tipo de sala, adornada com móveis elegantes e bem talhados, grandes janelas no estilo colonial que cercavam todas as paredes do lugar, mas mesmo com toda aquela pompa parecia um lugar mórbido, frio, medonho. Tentei levantar, mas minhas pernas estavam presas a algum tipo de corrente, uma corrente curta. Apenas minhas mãos estavam soltas, mas do que adiantava se meus pés mal podiam se mexer. Senti-me um animal preso, o que eu fiz para estar ali?

    Comecei a lembrar de algumas cenas, lembro-me de estar em um bar com alguns banqueiros e algumas mulheres elegantes e bem sensuais (que hoje eu acho que eram as amantes da maioria ali), eu tomava uma dose de wiskey, bem pouco pois não era acostumada. Depois veio uma lembrança que me deixou atordoada, o bar tinha virado um cenário de guerra, corpos ensanguentados por todo lado, alguns desmembrados, outros pareciam ter marcas distintas pelo corpo.

    Mas a imagem que mais me chamou a atenção, foi uma frase escrita na parede e escrita em sangue eu acho,” O seu Deus não existe! Mas eis que a fúria que traçou em mim, tenha suas consequências.” Céus, será que eu tinha sido sequestrada? E o que fizeram comigo?

    Foi ai que eu percebi a presença de mais alguém ali comigo, como uma sombra que se movia na escuridão. A sombra parecia me observar de uma cadeira próxima, eu não conseguia identificar a silhueta que me observava tão silenciosamente, até que algo chamou minha atenção.

    – Minha doce Lili…

    – Pierre?

    – Sim minha cara…

    – O que aconteceu? Porque estou assim presa como um animal?

    – Por que minha querida, hoje você agiu como um!

    – Agi como um? Você ficou louco?

    – Louco? A insanidade me deixou há muito tempo, assim como a paciência não é a minha melhor companheira.

    – Mas eu sou humana… Como deveria agir?

    – Eu tentei te proteger, mostrar o mundo e não me aproveitar de você! Eu amava você sua vadia ingrata! Mas agora, depois dessa sua atitude infantil, eu resolvi que te proteger e tentar compreender os atos humanos é algo desnecessário… Uma total perca de tempo…

    – E por isso você me amarrou aqui? Por teus ideais banais? Que tipo de lunático é você?

    – Claro sua tola, quero lhe dar uma lição. E eu não me considero lunático, eu apenas vejo as coisas de um jeito diferente.

    – Que lição? Você vê o mundo de uma forma totalmente distorcida seu hipócrita.

    – Uma bela lição sua insolente! Acho engraçado essa mudança de sentimentos, uma hora você dizia que me amava e agora me chama de lunático e vomita palavras sem sentido a todo momento… Realmente divertido isso.

    – Divertido? Como você queria que eu reagisse a essa situação? Queria que eu pulasse de alegria? Ops, não dá! Estou amarrada pelos pés, graças a você seu cretino! Como continuar amando alguém que faz algo terrível assim?

    Veio o silencio e pude perceber que havia mais uma pessoa na sala, outra figura masculina, um pouco maior que Pierre, e isso me deixou com mais medo do que eu já estava.

    – Você continua sendo o mesmo sádico de sempre Pierre…

    – Trevor? Posso saber por que interrompeu a nossa conversa?

    – O mestre gostaria de ter uma palavra com você.

    – Ahhh, sempre interrompido e chamado nas piores horas.

    – Vá logo!

    Percebi que Pierre se afastava, enquanto o tal Trevor , ficava no lugar dele e me observava. Confesso que senti um pouco mais de segurança nele, pelo menos não fui tratada como um bicho e ele foi cortês, pelo pouco que pude ver, ele parecia um belo homem, nos seus quarenta e poucos anos, ele tinha uma feição forte, era muito alto, tinha um corpo e braços bem definidos, cabelos pretos curtos e bem aparados, e acompanhado de um belo bigode escuro e um olhar tranquilizante.

    – Pobre menina…

    – Você acha?

    – Pelo menos continua falando…

    – Quem é você?

    – Me chame de Trevor, sou um colega de trabalho do Pierre…

    – Porque estou assim? Você sabe me dizer?

    – Oh querida, eu não sei o porque… Eu sei que aquele canalha não passa de um sádico.

    – Me ajude!

    – Se eu te ajudar, te soltar, por mais que você fuja, ele vai te encontrar e vai ser pior do que está sendo Lilian…

    – Como sabe meu nome?

    – Ele nos falou…

  • A morte de um mago – 2 de 2

    A morte de um mago – 2 de 2

    Lá estava eu admirando minha caixa de madeira, no intuito de achar alguma fechadura. Não sei explicar, mas algo naquele compartimento me ligava a uma época maravilhosa de minha não vida e era praticamente impossível não ligá-lo a minha querida Su. No entanto, não via nenhuma fresta ou furo naquele bendito cubo de mais ou menos uns 30 por 30 cm, e antes que pudesse investigar melhor tal artefato, nossa atenção foi requisitada novamente ao ritual de passagem de Kieran.

    “Todos em pé, por favor…” e eis que o ritual era retomado , o volume do som fora baixado e algumas tochas foram acessas. Neste momento, o sol já havia se posto e aos poucos algumas janelas eram abertas, junto do telhado móvel. Não sei informar se aquela movimentação do telhado e janelas era automática ou se usava magia, pois aparentemente não havia ninguém manuseando. No entanto, as tochas eram acesas uma a uma e de uma forma muito peculiar.

    Não sei se eu era o único a reparar tal procedimento de bastidores, mas me senti encantado ao ver uma mulher com aparência bonita, na faixa de uns 30 anos, que simplesmente pegava as tochas em suas mãos, mencionava duas ou três palavras e assoprava o pavio. Depois disso, magicamente e cerca de uns dois ou três segundos depois, uma linda chama com cor rosa alaranjada assumia por completo a cabeça da tocha.

    Bom, deixando de lado as particularidades, o ritual prosseguiu com mais alguns discursos. Amigos íntimos do mago proferiram breves palavras e ao fim de mais uma hora, a passagem iniciou-se de fato.
    O altar em forma de cúpula, que recebera o corpo inerte de Kieran, estava forrado com uma fina e viçosa palha seca. Já o corpo do mago fora vestido um manto de ceda, muito decorado e de cor vinho, similar ao utilizado por seus discípulos. Próximo ao mago foram dispostos alguns compartimentos, estes vasos de barro marrom cru continham óleos e emanavam um suave aroma de laranjeiras. Árvore, aliás, que era a predileta de Kieran, inclusive cuja primeira muda, que foi semeada em seu santuário, fora presenteada por Suellen.

    Na sequencia as cadeiras foram afastadas do altar e todos os presentes fizeram um círculo ao seu redor. A pedido dos discípulos nos demos as mãos e ouvimos, em sua maioria de olhos fechados, a prece celta. Isso ocorreu simultaneamente ao ritual de cobertura do corpo pelo manto branco, feito do mais puro algodão egípcio.

    Após este simples ritual, o óleo das jarras de barro fora jogado em torno do corpo e o discípulo que até então apenas ministrava tudo, ficou de joelhos a frente do altar. Este erguera um pequeno cajado ao céus, dizendo em alto e bom tom: “Igne natura renovatur integra… Vá em paz meu mestre e senhor”.

    Ao final da frase a pedra vermelha, que estava cravada no cajado, iniciou a emissão de uma forte luz vermelha, que ficava mais forte a cada momento. Depois de alguns instantes, quando a pedra parecia ter atingido o seu ápice de luminescência, o discípulo, tocou o corpo de Kieran, que ardeu numa explosão de luz e fogo com chamas altíssimas.

    Todos os Wampir presentes incluindo eu, sentimos aquele arder em nossas frágeis peles. Porém graças à regeneração ou ao ritual, quase nenhum moveu pouco mais do que o simples piscar das pálpebras. Sim, estávamos totalmente hipnotizados com aquelas chamas fortemente avermelhadas, porém foram poucos segundos de apreciação até que finalmente restasse apenas pó do que um dia fora Kieran.

    Não sei explicar, mas ao fim daquele ritual eu me sentia revigorado. Muitos dos meus pensamentos estavam digamos mais tranquilos e inclusive eu não conseguira ter outras recordações de Kieran se não apenas dos momentos bons. Tudo o que eu sentira de ruim ou pessimista, não cabia ao momento e muitos foram os que apenas se sentaram ou ficaram calados por alguns instantes. Aproveitando o que certamente era a melhor de todas as sensações, a de paz com o mundo e principalmente consigo mesmo.

    Nunca saberemos o que Kieran ou seus discípulos haviam nos preparado em tal ritual de passagem, porém a sensação de paz nos acomete ainda hoje. Até mesmo Georg que quase sempre está sisudo, não consegue esconder os mais sinceros sorrisos por onde passa.

    Depois das várias despedidas cada um tomou um rumo diferente e para minha surpresa Achaïkos veio falar comigo. Nossa relação nunca foi das melhores, no entanto, para minha surpresa o ritual também parecia ter tocado aquele coração, que há séculos imergia na mais profunda escuridão.

    Quanto tempo não é mesmo? Disse-me o velho Wampir Grego, com seu inconfundível sotaque habitualmente estranho e sem precedentes. O respondi como sempre formalmente no meu alemão mais puro e seco, ou seja, normal.

    Esta conversa apesar de tudo foi rápida. Ele ressaltou o contive para ir as suas terras e ainda disse que eu teria uma grande surpresa ao abrir a tal caixa que naquele momento estava em minhas mãos. Além disso, George também trocou algumas palavras com o velho ancião e logo em seguida partimos novamente para o aeroporto.

    Desta vez Georg conseguira um voo particular e viemos com todo o conforto possível na volta para “casa”. Durante a viagem eu tentei abrir a caixa das mais diferentes formas possíveis, porém em meio às diversas turbulências daquele voo e depois de uma ou duas horas, resolvi tirar um belo cochilo. Sendo acordado apenas quando chegamos ao nosso destino.

    Hoje, ainda estou aqui na fazenda e nessa bendita missão de abrir a agora “famosa caixa”. Confesso que já passou pela minha cabeça: atirá-la ao chão, quase usei um serrote e até mesmo uma marreta frequentou meus pensamentos… Não sei se foi Kieran que a lacrou, mas com certeza quem o fez, queria garantir que eu somente a abrisse em algum momento muito especial… Alguém de vocês me sugere algo para abrir esta caixa, que aparentemente possui apenas alguns “kanjis” entalhados em alto relevo?