Depois de se separar de Beth, Evelyn ainda ficou alguns dias em João Pessoa. Ela ainda precisava decidir seu próximo destino.
Resolveu que voltaria a Caracas para esperar seu vôo de volta à Europa por lá, entendia melhor o idioma e como não estava mais com Beth para lhe auxiliar com as minúcias do português, resolveu não arriscar.
Passou alguns dias em Caracas até que conheceu um mexicano que também estava ali de passagem. Os dois passaram muitas refeições conversando no restaurante do charmoso hotel sem nem perguntar nomes. Era costume de Evelyn, nunca perguntava o que não pretendia responder.
Mesmo sem geralmente fazer uma única pergunta ela descobria muitas coisas sobre as pessoas. Principalmente se eram solitárias, esse tipo costuma conversar muito com qualquer estranho que lhe sorria.
O homem era bastante atraente, moreno de olhos escuros. Sua pele não era branca clara, nem chegava a ser negro, mas tinha uma cor bonita, diferente aos olhos dela.
Com alguns anos de prática Evelyn aprendeu um truque usado pelas antigas bruxas da Bretanha. Ela desenvolveu a capacidade de se conectar com algumas pessoas que tenha interesse e que tenham alguma sensibilidade ao dom da visão. Esta capacidade permitia a Evelyn apenas formular perguntas e sem pronuncià-las ouvir a resposta. Isto não chega a ser magia ou leitura de mentes, é apenas um dom que algumas pessoas possuem e ela aprendeu como controlar.
Assim Evelyn pensava em coisas que gostaria de saber sobre o homem, mas que não teria a menor intenção de responder se lhe fossem perguntadas, e ele as respondia, quase que voluntariamente.
Quatro dias e seis refeições se passaram até que ele finalmente a convidou para um passeio, foram ao Jardín Botánico. Passeando entre as raras espécies em exposição, o homem sempre cortez falou:
“A propósito, não me apresentei devidamente” disse, “ Me chamo Juan”
“Muito prazer, me chamo Evelyn”
Durante a caminhada, Juan relevou que voltaria a Cidade do México naquela noite e quiz saber mais sobre o próximo destino da bela mulher. Evelyn não revelou muito, apenas que ficaria mais alguns dias em Caracas. Voltaram ao hotel e pela primeira vez combinaram um jantar fora dali, Juan a levou no mais caro restaurante da cidade. Ele queria impressionar.
Os dois comeram, riram, dançaram e de volta ao hotel Evelyn negou às investidas e Juan se despediu com um cavalherio.
Na manhã seguinte Evelyn resolveu não correr o risco que encontrá-lo saindo e fez as duas priemiras refeições do dia no quarto. Passou o resto do tempo na piscina do hotel.
No início da noite embarcou para o uma cidade menor, um pouco afastada da capital. Ali encontrou uma amiga dos tempos de faculdade. Ela foi conhecer o Yopo. Nos últimos meses na América do Sul Evelyn conheceu muitas ervas, chás e misturas que tinha certeza que lhe ajudariam em um futuro bem próximo.
O Yopo é um pó das sementes de paricá, misturado com cinzas de conchas que é utilizado pelos nativos para fazer previsões e aguça o dom da visão. Algumas lendas dão conta que quando inalado o pó aumenta os poderes dos feiticeiros e bruxos.
A amiga de Evelyn já tinha preparado uma porção para as duas usarem aquela noite.
Para inalar algumas pessoas usam um tubo que é feito de ossos de pássaros, outras um tubo longo onde uma pessoa sopra o pó no nariz da outra, pela extremidade oposta. As duas ficaram com a segunda opção e Evelyn foi a primeira a inalar.
É dito que o Yopo geralmente causa dores de cabeça, vômitos e tonturas, principalmente aos que não são acostumados ao dom da visão.
Sentada olhando fixamente para o fogo que ardia na fogueira improvisada do lado de fora da casa, Evelyn esperou passar mal. Mesmo dotada da visão e de alguns pequenos poderes, sabia que não era uma bruxa poderosa e acreditou que seu corpo não suportaria um transe depois dos últimos dois, com o Santo Daime e principalmente com o Chá de Jurema que a deixou muito fraca.
O mal estar não veio e Evelyn viu outra vez a luz que a guiou no último transe. Tentou afastar a visão e a luz se apagou. Em seguida viu o mensageiro do hotel de Caracas, ele trazia uma bandeja com uma carta e uma rosa. As coisas não eram muito claras, e logo depois a imagem se desfez e uma praia surgiu, agora ela via Juan, ele falava mas não conseguia escutar o que era. As imagens continuaram evoluindo e ela viu os dois jantando, depois dançando e os dias passavam. Evelyn se viu coberta de jóias e presentes caros. Cenas do que poderia ser foram pasando e ela apenas assistia tentando entender o que queriam dizer. As imagens pararam de evoluir quando ela estava em pé, dois caminhos se abriam a sua frente, eram estradas escuras de terra, não se podia ver mais que 20 metros além do ponto onde estava. Ali a visão se desfez como fumaça e Evelyn voltou do transe.
Muito cansada e completamente suada, ela ainda precisou usar as últimas forças para entrar na casa, com a ajuda da amiga, para se deitar. Ela dormiu sem sonhar até a manhã seguinte.
De manhã as duas conversaram, Anne era uma simpática ex-colega que abandou a escola de Arte para se dedicar à causas ambientais em países do terceiro mundo. Evelyn tinha simpatia por ela e mesmo durante a faculdade a considerava a menos fútil de suas colegas. Nunca foram amigas íntimas, mas mantinham contato esporádico desde então.
Já de volta à Caracas, ela viu sua primeira visão se realizar. Minutos após entrar no quarto o mensageiro do hotel bateu à porta, ele estava sorridente com uma bandeija, um envelope e uma rosa.
Depois de agradecer ao rapaz, Evelyn sentou-se cuidadosamente na poltrona e leu:
“Espero por você. Juan”
Junto com o bilhete, uma passagem aérea e uma reserva de hotel.
Três dias depois Evelyn deu entrada no hotel em Cancún.
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Arriba, arriba!