A volta de Franz

Comecei minha noite com uma mensagem no whatsapp inesperada, vindo de alguém tão nobre que as vezes sinto vontade de mandar a merda:

– E ai?

– Fala – Respondi seco.

– Tava pensando em dar um pulo em alguma cidade pra aprontar algo.

– Sei, algo específico em mente e que possa atender as necessidades de vossa majestade? – Fiquei curioso

– Tá começou a palhaçada, valeu…

– Hey calma oww. Quer vir pra cá? Tá rolando um movimento diferente de outras épocas.

-Sei

Insisti:

– A Audny tá bem mansa, Pepe tem feito um progresso bacana nas habilidades físicas e eu comprei um pub.

Ele deu foco apenas naquilo que lhe interessava:

– Me fala ai desse pub

– Três andares, sendo um subsolo. Lá na região daquele outro que íamos anos atrás. Tá rodando e com movimento, mas quero investir e trazer os nossos pra la.

– Tô indo pra ai. Devo chegar até o fim da noite, me manda o endereço!

Eu ainda mexia com alguns e-mails, ajustes em sistemas e toda gestão de negócios a distância que os dias atuais me permitem. Quando ouvi algumas buzinas, seguida por meia dúzia de batidas no portão de entrada. Olhei para as câmeras e lá estava o marquês. Fui pessoalmente ao seu encontro onde ele dispensou o taxi, me cumprimentou com a mão direita ao nosso estilo, seguido por um abraço apertado.

– Saudades?

– Entra logo maninho!

Já no espaço comum onde tem um sofá grande. Ele tirou as botas ainda meio sujas de terra, a camiseta surrada, a calça e ficou ali deitado apenas de cuecas.

– Gostava da época que eu acordava de manhã e havia um punhado de roupas jogadas na sala. Lembra daquele sutiã de renda preto que nunca achamos a dona? Kkkk

Falei e me sentei numa poltrona perto dele. Ele riu e continuou:

– Lembro hahahah e aquela calcinha esfarrapada que surgiu quando mandei lavar o carro alugado.

Pensei por uns instantes…

– Não era da G.?

– Ela nega até a morte hahahaha

– Bons tempos, faz o que, uns 10 anos?

Ponderei por uns segundos, mas lembrei:

– Quase 12.

Franz se arrumou no sofazão, barriga pra cima e olhando pro teto comentou algo que revirou com a minha noite e quase dia:

– Sabe maninho, eu estava com saudades de tudo isso que falamos agora… Mas preciso te contar que eu conheci uma garota bacana nos últimos anos e ela morreu no final do ano passado. Teve essas merdas que os humanos pegam, acho que foi HIV. Tentei de tudo pra fazê-la virar uma de nós e mesmo sabendo que a manteria viva ela desistiu de tudo. Desejou a morte! Naquilo que alguns pregam como passagem ou evolução. Não sei se essa porra toda existe, mas eu quis ir com ela para o caralho que houver…

– Merda cara, porque não me contou isso antes seu fdp! – Comentei preocupado.

– Eu queria sei lá, guardar ela numa redoma de vidro e ficar ali só admirando seu jeito. Aquele sorriso as covinhas e os piercings. Ah as covinhas que ela tinha nas costas em cima da raba também. Branquinha que só ela… Ela tinha engordado um pouco, fazia tempo que nem tinha gripe e de uma hora pra outra ficou ruim. Levei ela pra aquele hospital da esquina, sabe? Ela ficou lá 2 meses e eu ia toda noite ver ela… Cantei pra ela algumas canções antigas da época do castelo coisas que meus pais cantavam. Lembrei sabe. Teve uma semana que eu amanheci la e passei o dia todo tb. Esqueci de me alimentar e algumas vezes tomei sangue gelado de bolsas. Ainda sinto o gosto daquela merda. Ai teve uma noite que eu fui ver ela e não tinha ninguém no quarto, muito menos na cama. A enfermeira disse que ela havia ido. Não consegui nem sentir sua morte, porque era desejo dela ser cremada e me deram uma caixinha de papelão com as cinzas.

– Caralho as cinzas dela, mano!

– Sim, só havia restado aquilo… Coloquei numa sacola e voltei pra fazenda. Foi um pouco antes do nosso tempo lá de clã. Depois disso fora longos 3 meses eu acho, procurando algum ânimo em qualquer coisa. Quem sabe o pub, tem nome?

– Chamam os pubs dali de cores em inglês: blue, black, green… Quem sabe você possa me ajudar com algum nome que atraia nosso povo pra lá?

Ferdinand
Ferdinand

Nascido em 1827, foi transformado em vampiro com 25 anos em 1852, enquanto ainda vivia na pequena cidade de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, Santa Catarina – Brasil.

Criou este site em 2008 com o objetivo de divulgar as ideias do seu clã, instituição fraternal em que ele, seu mestre e alguns amigos mais chegados pertencem. Está quase sempre bem humorado e nos últimos anos possui um projeto chamado “Os escolhidos” em parceria com sua cria mais recente, Pepe. No qual eles “ajudam” a polícia e a sociedade na resolução de crimes hediondos.

Ferdinand também ocupa suas noites com a escrita e tem trabalhado no livro Ilha da Magia.

2 comentários

  1. Nigth dark acho massa … Ou BLUE blood … O famoso sangue azul … Mas aCho que levantaria muitas suspeitas, Reed moon tbm fica massa ! Rsrs

  2. Tadinho do Franz se apegar assim a uma pessoa, depois vê-la ir assim, derrepente… Deve doer pra caramba essa dor a gente nunca esquece 😔

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