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O retorno – final

Após a prisão dos vampiros sombrosos…

A pesada porta de metal, o corredor gelado e mórbido que levava até onde Jonathan estava preso, me parecia uma cena de filme e eu me encontrava dentro dela. Conforme eu vou ficando mais velha na imortalidade eu aprendo que um dos bens mais valiosos é a honestidade e o ato de confiar em alguém… Estas pequenas palavras carregam consigo um significado enorme e que é pouco valorizado.  

Cada passo que eu dava até o local, ao longe consiga ouvir o tintilar de uma gota cair no chão, chovia lá fora e fazia uma tempestade dentro de mim. Por estes dias me vi angustiada, querendo uma simples explicação, do porquê e para que o Jonathan, que tinha tudo o que qualquer vampiro poderia querer, tomou uma decisão tão baixa e tão rala mesmo com toda sua sabedoria, apesar de sua arrogância.  

Os olhares que Trevor e Salazar me deram quando pedi para falar com o vampiro traidor, eram impagáveis, porém logo ele seria levado por forças maiores e talvez eu nunca mais o visse para obter a resposta. Salazar enfatizou que, apesar de fraco agora, Jonathan ainda era capaz de muita coisa, por isso ele ficaria próximo o suficiente para ajudar e Trevor junto, claro. 

Ao passar por aquelas portas que aguentariam até o fim do mundo, em um espaço escuro com uma pequena luz ao centro e um vampiro acorrentado pelos pés e pelas mãos, pude ver o que realmente acontecia com nossa espécie após tal golpe… Os longos e platinados cabelos, os olhos que brilhavam, o sorriso e o olhar de superioridade de um grande vampiro já não estavam mais ali. O que se sentava naquele local era a sombra do que já se foi.  

Jonathan levantou sua cabeça em minha direção, ele não parecia surpreso ao me ver, no fundo ele sabia que eu viria. Ainda com a marca da estaca cicatrizando no peito o vampiro me observava pegar um pequeno banco e me sentar alguns metros dele. Seu olhar era de arrependimento. 

– O que veio fazer aqui Lilian? Zombar da minha ignorância? – Fraco e derrotado, ele continuava sentado no chão sujo e insalubre daquele lugar. Suas forças finalmente haviam se esvaído. 

– Você jamais foi ignorante… Arrogante sim, mas ignorante nunca. Sempre soube o que estava fazendo.  

Eu sentia que ali eu conversava com um fantasma de um vampiro e não mais o vampiro em si. 

– Não Lili, não. Em tantos séculos finalmente a ignorância me alcançou e me vi perdido entre duas realidades. 

Ele agora olhava diretamente nos meus olhos, o pálido azul do que sobrava em seu olhar, me encarando com remorso. 

– Jonathan você tinha tudo, o que te fez convencer a entrar em uma missão tão tola e cruel com tua própria espécie? Foi por amor? Poder? Divertimento? 

Minhas perguntas pareciam cortar o mais profundo do vampiro pois sua feição parecia de pura derrota. 

– Sim foi por amor, por poder e pôr o que você quiser intitular… Iludido como nunca fui e desolado como eu nunca fiquei. Mas sentindo que pertencia há algum lugar, que era amado de certa forma e que tinha algum tipo de liberdade como não sentia há tempos. 

– Mas ela estava com você. Vocês tinham um relacionamento… Iludido como? Não tens o que ter se iludido! 

– Mais uma vez está errada ao presumir tantas coisas minha cara. Ela me prometeu que se eu aceitasse a nova supremacia, conseguiria tudo que eu quisesse. Bastava aceitar. 

– Não te entendo, vocês estavam juntos para tramar tudo e depois comemorar sozinhos? 

– Sim, afinal ela era atraente e queria me agradar, porém eu não a amava Lilian, tinha uma feição por ela, mas não era amor. Fiquei triste por sua morte, afinal ela foi sincera desde o começo e me fez sentir o que eu nunca senti na imortalidade… Pertencer…  

Senti que algo muito maior iria me atropelar de sentimentos quando ele terminasse de me contar tudo e sinceramente hoje eu vejo que eu não estava nada preparada.  

Agora ajeitando-se ainda sentado no chão e acorrentado, de uma forma que eu conseguia vê-lo, o vampiro contou de uma só vez as verdadeiras motivações dele. 

– Você foi embora… Machucada e derrotada, em nenhum momento eu tive a chance de te falar o que eu sentia e aquilo foi me corroendo por dentro, mas deixei passar porque no fundo eu sempre soube, era nítido pra mim, porém não para você, ainda não estava. Após os anos do seu sumiço eu resolvi seguir em frente e a Flora apareceu na minha vida, trouxe propostas indecentes que eu no começo recusei, mas com o tempo ela me cativou e eu sinceramente estava cansado da Ordem e de tudo que a envolvia.  

– Jonathan… Não venha me culpar pelos teus erros. 

– Eu nunca te culparia, afinal você nunca me iludiu, apenas me conquistou sem esforço nenhum e sem o teu retorno eu descobri que as amarras com nosso clã não eram tão poderosas mais. Se você podia mudar, porque eu não?  

– Você não mudou Jonathan! Você continuou aqui, matando dos seus! 

– Eles já estavam mortos mesmo, que diferença faria? Ficariam séculos aqui, vivendo alegremente em comunidade? Me poupe minha querida vampira, mas não, eu te garanto que não.  

– Apenas me diga logo o porquê dessa merda toda! 

– Impaciente como sempre… Obviamente porque eu aqui não posso ter nada do que eu realmente quero! Grande comandante da Ordem? Tens visto alguma guerra? Tens participado das reuniões dos grandes líderes? Não! Você ficou longe, teve teu tempo Lilian e eu estou preso aqui por mais que eu tenha viajado o mundo várias e várias vezes, eu estou preso aqui! Esse lugar te aprisiona. 

As palavras dele cortaram o mais profundo, pois o lugar que sempre o acolheu foi escolhido como o lugar de sua vingança cega e sem sentido.  

– Porque não saiu da Ordem? Foste embora! 

– Lilian acorde minha cara. Estes anos longe se recuperando e onde está neste exato momento? Sentada em um banquinho sujo, falando com um vampiro derrotado e de volta as grandes muralhas da Ordem. Vá embora soldada enquanto ainda te resta a sanidade mental que eu não tive quando a escuridão me tomou. 

– Por todos estes anos, apesar do seu ego inflado, eu jamais achei que promessas vazias pudessem fazer a sua cabeça, teus ideais intactos. 

– Não foram vazias, em retorno eu tive o que você e a Ordem não puderam me dar! O sentimento, a sensação de ser aceito, de ser necessitado e de ser amado!  

– Eu nunca te iludi Jonathan. 

– Sim, eu sei disso, mas também nunca correspondeu, assim como o seu adorado vampiro nunca irá te corresponder! Espero que aquele crápula pelo qual os teus olhos brilham tanto, reconheça o que você sente antes que você se olhe no espelho e ao invés do teu reflexo o meu apareça. 

Se eu tivesse lutado por um dia inteiro não me sentiria tão indisposta como me senti naquele dia, na hora daquela fatídica conversa. Algumas verdades foram ditas e aquilo foi como um banho de água fria. Ao sair daquele lugar eu olhei uma última vez para Jonathan e o que eu senti não foi raiva, não foi revolta e sim pena, a mais pura pena de no fundo saber que um vampiro que tinha tanto, queria na verdade tão pouco.  

Agora dirigindo meu carro e ouvindo uma música depressiva da Adele para entrar no clima, se eu pudesse ainda chorar eu choraria, porque no fundo eu sabia o que me faltava, porém será que essa falta seria preenchida?  

Quem sabe deixo isso pra outro dia. 

No fim, Salazar me falou o destino de Jonathan e eu ainda atordoada com a conversa apenas assenti com a cabeça e pensei que no fim das contas, não seria tão ruim assim para o atordoado vampiro. 

– Lilian, o não você já tem, mas mesmo assim continue tentando. E antes que me esqueça, aqui sempre será sua casa. 

Ele obviamente havia ouvido a conversa e no fim tudo que disse valeu mais que muita conversa esfarrapada por ai.  

10 comentários

  1. É, no final Jonatan só queria ser amado e correspondido por quem ele ama … É triste sentir isso, dá uma sensação de revolta de raiva, mas entendo o Jonatan em partes … Em outras não… Uma sensação de impotência de desprezo, é muito cruel … Sentir isso e não poder compartilhar com alguém …

  2. Mas se você não souber dosar isso e deixar tomar conta, te destrói te corrói, te faz sentir a pior pessoa do mundo, te faz tomar decisões levadas pelo desespero pelo medo de não ser aceito, vc quer fazer parte de algo .. ser algo, embora ele já fosse, mas pra ele isso n era o suficiente… Sinto muito que tenha acabado assim, por uma escolha errada, por decisões erradas tomamos caminhos as vezes irremediavelmente perdidos….

  3. Quem diria, vampiros com sentimentos tão humanos. Fiquei com pena dele😔

    • Vou parecer um pouco grosseiro com o comentário, mas cada um tem o que merece!

      • Verdade Fer cada um colhe o que planta, se tu planta amor, colhe amor, se tu planta ódio colhe ódio, tão obvio mas tão necessário… São as leis da vida… Serve tanto para seres sobrenaturais quanto pra humanos ninguém está isento …

  4. Complicado, Complicado…quem diria que vampiros podem possuir sentimentos assim,humanos?
    Mas no final cada um colhe o que planta…

    • Por hora prisão, depois é algo que sinceramente já dei como caso encerrado, minha querida.

  5. Oi Jane posso chamar te assim ? O Fer logo logo entra rsrs pois não rsrs, devemos lembrar que antes dos vampiros serem o que são na verdade eles já foram humanos, acho que estes sentimentos mudam com o passar dos anos mas continua sim algo lá bem no fundo … De seus corações ….

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