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  • Eleonor, vampiros e o tempo

    Eleonor, vampiros e o tempo

    “ O desenlace desta situação desigual entre um homem frio e uma mulher apaixonada parece que deverá ser a queda da mulher: foi a queda do homem. ” Ressureição – Machado de Assis

    Machado de Assis foi na minha época o que vocês chamam hoje em dia de ídolo. Alguém além do nosso tempo e que certamente era muito crítico, assim como eu. Ficou famoso por diversos contos, romances, folhetins e dramaturgias. Enfim, alguém que admiro tanto, a ponto de roubar algumas gírias, como: “Cousas”, que foi criada por ele e foi muito bem empregada em suas divagações e filosofias sobre o mundo, a sociedade e o tempo. Tempo este que será o assunto principal deste relato sobre minhas recentes noites, cujo palco foi a nossa fazenda e os atores foram na maior parte do tempo Eleonor e eu.

    Já faz tempo que a situação de minha doce morena é contada aqui para vocês e sendo bem sincero, tivemos poucas evoluções nas últimas semanas. Ao meu ver isso não é cousa de agora e pela minha experiência na existência vampírica, há momentos em que o tempo pesa demais, não somente sobre nossos ombros, mas em demasia sobre nossos pensamentos. É bem provável que seja o lado humano querendo se sobressair, mas até que ponto a humanidade de vinte e poucos anos pode influenciar uma vida centenária como um Wampir?

    Somos obrigados a conviver diariamente com humanos de todos os tipos, somos influenciados como eles pelas propagandas, imagens e até mesmo músicas do tempo atual. E talvez esta seja uma época de revisão de hábitos e costumes.

    Dormi nos anos 50 uma época em que se iniciaram diversas mudanças culturais, pelo menos no ocidente do mundo. Surgia o Rock, surgiam os biquínis pequenos, as mulheres e os negros começaram a ter uma participação de igual para igual na sociedade e resumidamente surgia uma sociedade que queria revolucionar o modo de pensar. Situação muito bem desenrolada nas décadas seguintes.

    Eleonor, que é algumas décadas mais velha que eu, viveu todas estas mudanças na sociedade. Como “mulher” vampira ela sentiu na pele o andar da carruagem do mundo. Foi discriminada por frequentar locais exclusivos aos homens. Precisou bater, matar e aniquilar e por vezes agir como “homem” para conquistar seu espaço, principalmente na sociedade vampírica. Pois vejam vocês, esta é ainda mais patriarcal e machista, que a humana.

    Atualmente, a aparência ainda conta muito e ela soube se adequar as modas. Prefere o estilo dama fatal de uns trinta e poucos e por vezes exagera no look perua fatal, mas isso é ao meu ver justificado. Anda sempre com um ghoul motorista, possui suas crenças, assim como cada um de nós e o que ela espera do mundo atual? Está errado aquele que conseguir afirmar com veemência qualquer cousa. Pois ao meu ver nestes tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade, como cantaria Renato Russo.

    Então, neste contexto de experiências vividas na carne e sofridas na alma em outrora, todos se perguntam: para onde vou? Onde estão as novas batalhas, aquela no qual eu possa investir minha vida? Na internet, naquele café “cult” de esquina ou apenas nos livros de outras épocas? As causas e os problemas mudaram e se um cara de 50 anos “patina” para entender as mudanças atuais, imagine alguém que nasceu antes da invenção da luz elétrica e que tem na alma, os calos de uma vida humana sofrida e uma vampiresca repleta de luxos fúteis.

    Eleonor, minha doce morena. Teu jeito de amante me atormenta, tua amizade me completa e teu jeito de mãe me conforta. O que será de mim sem o teu sorriso sacana, teu olhar tão frequente de desaprovação e teu abraço que me esquenta e congela? Vou precisar de outras bengalas ou será o momento de eu finalmente enfrentar sozinho meus próprios erros…!?

  • Como vejo a morte

    Como vejo a morte

    Muitos de vocês nos consideram um tipo de Serial Killer frio e calculista. Eu não me vejo desta forma, mas ao mesmo tempo também me faltam bons argumentos para ser contrário. É a mais pura verdade que a morte, no sentido de extinção de algo vivo é algo muito presente em nosso cotidiano. Por isso, hoje quero falar um pouco mais sobre a minha maneira de ver ou entender a vida e o seu fim.

    Antes de virar o que sou hoje, o meu contato com a morte já era algo relacionado à sobrevivência. Quem viveu ou teve contato com fazendas e sítios irá me entender melhor, haja vista que nesses lugares é comum o abate de animais para alimentação. Então desde cedo eu me lembro de minha querida mãe depenando galinhas, de meu pai separando as partes boas de porcos ou bois. Com isso, não quero dizer que o vampirismo entrou mais fácil em minha vida, porém ao menos medo ou nojo por sangue eu não tinha, aliás, adorava o popular churrasco mal passado.

    Lidar com a morte humana não é nada fácil, além disso, na atualidade até mesmo quando se fala em morte canina alguns se ofendem. Todavia, o ato de tirar a vida de um humano ainda é visto como o maior pecado, estou certo?

    A morte humana surgiu pela primeira vez em minha vida quando me avô, pai de meu pai faleceu e fomos ao seu velório e enterro. Eu já estava no final da infância perto dos meus 10 anos e não entendia muito bem por que uma pessoa tão legal, que outrora corria e brincava comigo, de uma hora para a outra parecia ter perdido seu calor e havia entrado em um sono sem volta.

    Anos depois eu fui a vários outros sepultamentos, antigamente o povo morria mais rápido sem as drogas medicinais e higiene atual. Porém, a morte sempre era uma incógnita em meus pensamentos mais profundos e pessoais. Então, quando fui transformado pelo barão e tive de enfrentar a minha própria morte novos pensamentos e perguntas vieram a esta cabeça que nunca para. Seria morte o fim? De onde viemos e para onde vamos sempre foi a maior dúvida humana e eu tendo acesso a todo tipo de informação, costumo pesquisar bastante este tipo de assunto.

    Ano passado eu fiz uma prazerosa viagem à Grécia, onde meu amigo Hector me ajudou a obter algumas respostas e esse tipo de experiência me confirma que a morte não é o fim. Então, quando eu sou obrigado a remover a vida de algum humano, ao mesmo tempo eu desejo que ele encontre a tal luz.

    Pode ser que minha visão seja em demasia simplista, porém é no que eu acredito e sinto a cada noite que acordo de meu sono diário. Hector tem uma frase que se encaixa perfeitamente neste pensamento: “Somos iguais à Fênix, que ao perceber a concretização de um sonho, deixamos tudo de lado, até mesmo a vida, para iniciar outro.”

  • O velho e o novo

    O velho e o novo

    Escrever meu primeiro livro tem sido um trabalho árduo desde as primeiras linhas. Neste primeiro volume dos três que virão neste ano de 2012, contarei como fui transformado em vampiro e uma série de fatos que aconteceram desde 1850 até os dias de hoje. Posso adiantar que foram momentos muito proveitosos, onde todos os meus sonhos de humanos deram lugar aos pensamentos do monstro que as vezes eu me torno.
    Hoje não irei contar histórias, mas falarei um pouco de algumas constatações que obtive nos últimos dias. O primeiro fato que me marcou muito foi lembrar-se de minha primeira esposa a Suellen, uma vampira repleta de poderes dons e que sempre foi alguém que alegrou cada momento no qual estivemos juntos.
    A questão é que escrever sobre Suellen me fez lembrar muito de minha bruxinha Beth, haja vista que a maioria de seus comportamentos são muito parecidos. Ambas têm um jeitinho meigo que encanta no olhar, por vezes são um pouco indecisas com relação aos fatos mundanos e o mais importante, sabem como fazer um homem/vampiro feliz.
    Falar do passado sempre nos faz ter esses momentos de reflexão e o que mais tenho feito por causa disso é pensar em como o velho e o novo se repetem. Não falo só por causa de minhas amantes, mas por causa da vida e de como ela às vezes é impulsionada pelos ciclos. Vocês sabem que sou um estudante de diversas artes ou filosofias e tanto a astrologia como o espiritismo tem sido meus companheiros desde 2005 quando acordei.
    Povo, não irei pregar religiões ou crenças por aqui e na verdade este é mais um daqueles posts onde de alguma forma eu tento abrir minha mente para todos, no sentido de querer mostrar que no fundo os vampiros ainda são humanos. Muitos verão isto aqui como “Ahh quero ser vampiro por que eles são legais”… Não por favor, não vejam isso desta forma, vejam isso apenas como mais uma reflexão de um ser que já viveu muito mais do que deveria para alguns e que passa suas noite tentando entender se seus objetivos realmente estão certos…
    Talvez as páginas que eu escreva hoje em meu primeiro livro, não reflitam tudo o que elas realmente precisam, porém existem noites e noite, dias e dias. Afinal o que sempre ouvi falar é que o tempo resolve tudo não é mesmo?