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  • Recomeço – pt I

    Recomeço – pt I

    “Todos viemos ao mundo da mesma forma, todos vamos embora para a mesma merda de buraco, de um jeito ou de outro.” By Lilian King.

    Engraçado como as coisas são, como o tempo cura quase tudo e como o nosso corpo e a nossa mente consegue acatar mudanças… Hoje eu levo uma vida completamente fora do normal, para vocês claro! Eu as vezes acordo e nem percebo o quanto da humanidade eu já deixei para trás e o quanto dos sentimentos já deixei de sentir.

    Tenho poucos apegos mundanos, talvez apenas apegos emocionais com indivíduos específicos, seres que compartilham da mesma jornada que a minha, alguns até da mesma casa na maior parte do tempo quando ela não resolve voltar para o meio do mato e ser fazendeira… Enfim, muitos sabem muito bem de quem eu falo… Mas estes pequenos detalhes não vos convém por hora, deixo estes assuntos guardados para mais tarde quem sabe.

    Venho aqui neste local contar um pouco do que me aconteceu, como que eu cheguei aqui e por que eu estou aqui. Não vou me ater a datas específicas, pois gosto da minha intimidade passada e da minha sombra na mente de vocês, mas vou guiar por épocas, costumes, tentar trilhar na cabeça de cada um de vocês o meu caminho e o que eu vi antes e depois dessa jornada que eu venho caminhando há muito tempo…

    Não se iludam meus caros, não vão tirar daqui dicas de como ser um mitológico das trevas, um sobrenatural, vampiro ou vampira, apenas vão levar consigo o que aconteceu com um simples humano, que sonhava em apenas cultivar uma família e seguir com uma vida simples, um cara que um dia teve tudo e no outro, bom logo vocês vão descobrir… Vou me ater aqui ao momento presente e voltar alguns séculos atrás onde o carro esportivo do momento era uma carruagem com quatro cavalos de força.
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    Tempos novos batiam no nosso peito, a promessa de novos dias, a guerra contra a França havia tido uma trégua, a sensação de paz pairava no coração de cada britânico, o Reinado de Ana era bem vindo, talvez por nos trazer um certo conforto… Conforto esse talvez ilusório, mas por hora, era a calmaria longe da guerra, homens não seriam jogados em campos de batalhas, os filhos poderiam abraçar os pais e as esposas poderiam nos alegrar com um sorriso.

    A ansiedade era a minha maior aliada, era algo bom, eu iria ver meus filhos de novo, minha esposa, meus amigos, meus pais, todos aqueles que eu amava e como era boa aquela sensação, por hora toda a guerra tinha ficado para trás, esperando a sua volta, mas ainda sim eu teria tempo de ter momentos alegres, preciosos… Se eu soubesse o quão preciosos seriam, jamais teria saído daquele único momento.

    Não pense você que eu era um duque, um nobre ou da realeza! Não, não, eu era um soldado, um homem que ficava em frentes de batalha, me orgulhava daquilo, no fundo eu ficava aliviado de voltar inteiro e vivo de cada batalha que participei. Lembro como se fosse ontem, aos pés da porta da minha humilde casa eu sentia o doce cheiro da torta deliciosa que minha amada Marie fazia, o chá quente em cima da mesa, Gale e Carter brincando perto da lareira e as suas reações quando ali eu estava, parado na porta de casa, após um longo tempo indefinido longe deles. Gale o mais velho, tinha apenas dez anos e Carter tinha seis anos e um dente de leite faltando, deixando em seu sorriso uma pequena janelinha.

    Marie ah Marie e seu doce sorriso, o abraço delicado e o beijo inebriante, minha doce e delicada Marie e seus longos cabelos loiros, os lindos olhos verdes expressivos, as mãos delicadas e brancas como porcelana, frias quase o tempo todo, vinha me cumprimentar e dizer o quanto me amava e o quanto sentia a minha falta em meio aos gritos e aos pulos dos meus pequenos soldados – Dad, dad! You are back! ( Pai, pai! Você está de volta!) – O mais gratificante era que depois de todos estes abraços e boas vindas, eu poderia me sentar a mesa e jantar com a minha família, dividir minha atenção entre meus filhos e quando eles dormissem, bom quando eles dormissem eu iria finalmente cair nos braços da minha linda esposa e aproveitar cada centímetro dela, não deixando nada faltar ao meu toque…

    Amanhã seria um novo dia, novidades estavam por vir e eu na minha inocência ou talvez na minha ignorância humana não tinha noção do quão ruim e sem escrúpulos o mundo e seus habitantes podem ser.

    Vou deixar aqui este começo da minha jornada, logo trago mais do que me aconteceu e como vim parar aqui! E antes que me esqueça, vocês me conhecem ou pelo menos acham que me conhecem, se ainda não, prazer me Chamo Daniel e esse é o começo da minha história.

    See you all soon.

  • Ainda existe amor neste vampiro?

    Ainda existe amor neste vampiro?

    Com certeza uma das perguntas que mais ouço é: “um vampiro sente ou pode sentir alguma espécie de amor?” Essa é na verdade uma pergunta muito capciosa, no sentido de que me deixa um pouco confuso ou pensativo demais para responder de supetão ou de imediato.

    Seria erro meu dizer com prontidão, que eu sinto amor ou que todo vampiro pode e sente amor. Contudo, para responder essa pergunta eu prefiro ir além dela e analisar o contexto histórico e local, que envolve as pessoas e suas dúvidas quanto a isso.

    É bem provável que as literaturas, filmes ou seriados da atualidade como Crepúsculo, Diários do Vampiro, Originais… Ou até a mesma aquelas dos anos 90, como entrevista com o vampiro ou Blade e afins tenham amenizado a monstruosidade que um vampiro exala.

    Além disso, no Brasil ou em Portugal e no restante do mundo estaríamos vivendo um momento de falta de amor? Será que a internet tem esfriado os contatos pessoais a ponto do poderoso e mais inconsciente sentimento humano ter sido deixado de lado? Sinceramente, é complicado responder as estas duas perguntas, mas acho que a época atual é bizarra.

    Digo bizarra, por se alguém no século XX ou XIX perguntasse sobre o amor. Aquele que tivesse de responder, certamente o faria com um brilho nos  olhos. Estufaria o peito, e mesmo que estivesse naquelas fases medíocres de falta de falta de amor. Falaria em claro e em bom tom que o amor é perfeito, que ele completa a união entre duas criaturas e que sem ele não é possível viver.

    Cara, estamos aqui no século XXI e o cotidiano tem mostrado, que é possível sim viver sem o amor. Mas teria o amor acabado? Não, claro que não, mas poucos tem percebido as suas mudanças.

    Voltando a antigamente, as pessoas se casavam e queriam passar a eternidade juntos, queriam passar 24 horas, dia e noite juntos. Porém, esse conceito mudou, as pessoas mudaram e hoje se vive junto de alguém até que a paciência acabe  e estamos todos sem muita paciência, não acham?

    Concluindo, se alguém me pergunta se um vampiro pode amar um humano ou qualquer outro ser, essa pergunta não é nada fácil de responder. Todavia, eu sempre digo que sim, sou otimista, sou daqueles que ainda acredita no amor, mas também estou naquela fase sem paciência e se avacalhar de alguma forma a fila anda, babe!

  • Sensitiva, a história de Aidê – Final

    Sensitiva, a história de Aidê – Final

    Leia a parte anterior

    24/10/19xx – Incêndio nos jornais da cidade, Rio de Janeiro, com a revolução que implantava o Governo Provisório, em 23 de Outubro de 1930, deu origem a vários distúrbios civis na cidade, sendo alvo de incêndios os Jornais “O País”, “A Noite”, “Jornal do Brasil” e “Gazeta de Notícias”.

    Fazia mais calor que de costume no Rio de Janeiro. Uma espécie de brisa forte castigava meu corpo e provavelmente foi isso que me despertou. Ao abrir meus olhos eu ainda sentia um pouco de dor das queimaduras de sol e para o meu azar à profecia havia se concretizado.

    Aidê estava do meu lado direito. Estava aflita e tentava a todo custo se desvencilhar das cordas que nos amarravam. Alfredo estava inconsciente do outro lado e ambos apresentavam muitas marcas e sangue, provavelmente da surra que eles nos deram.

    Assim que retomei a consciência, percebi que haviam ateado fogo pelos cômodos da casa e tratei de me libertar. Soltei uma das mãos, então aproveitei a força vampiresca e arrebentei uma das madeiras da cadeira. Soltei-me e em seguida fiz o mesmo com a mulata. Alfredo ficou por último e antes que pudesse soltá-lo fomos surpreendidos pela chegada de Eleonor, junto de outro de seus Ghouls.

    Eles tiveram de quebrar uma das janelas para entrar e aquilo obviamente tirou parte de minha atenção, além de pregar um belo susto em Aidê, que segurou com todas as forças meu braço. Nesse momento peguei a sensitiva no colo e pulei com ela para fora do lugar em chamas. Em seguida surgiu atrás de nós Eleonor seguida por seu segurança que também carregava Frederico no colo.

    Passado o susto surgiu a brigada de incêndio que passou o resto da noite contendo o fogo, afinal ele poderia atingir as casas vizinhas, mas isso nos foi contado na noite posterior. Haja vista que “fugimos” o mais rápido que nos foi possível daquele maldito lugar.

    – Ferdinand, tu sabes que odeio parecer-me com tua mãe, mas tu é uma besta ignorante ou ainda estás na fase de rapazito e das safadagens? Cresça por favor! Ou vou pedir para o Franz te por no jeito.

    Aquilo foi difícil de ouvir e deu muita vontade de sair de lá feito uma criança birrenta, mas foi um dos primeiros “tapas de realidade” onde percebi toda a bosta que eu andava fazendo. Como eu disse no começo dessa história, tive uma fase rebelde sem causa e iria me dar muito mal caso continuasse daquela forma.

    Passado o perigo eu descidi levar as cousas de outra forma e para me redimir passei boa parte dos próximos meses ensinando à Aidê tudo o que eu podia lhe ensinar sobre seus poderes sensitivos. Apesar de toda sua desconfiança a cerca de meu vampirismo, nos tornamos bons amigos e foi uma pena ter de me afastar de sua vida, tão logo ela pudesse dar conta de minha eterna jovialidade.

    Anos mais tarde e um pouco antes de eu me concentrar na fazenda para minha hibernação, eu tive noticias dela. Soube que ela havia montado um negócio de adivinhação na cidade e colocado “madame” na frente de seu nome.