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  • Gone – Parte (eu já nem lembro mais)

    Gone – Parte (eu já nem lembro mais)

    Quanto tempo não? Pois é, mas eu Lilian estou aqui vez ou outra pra contar as minhas aventuras, andanças, meus momentos bons e over também para todos vocês. Como demorei muito para escrever preferi resumir o que aconteceu antes e trazer todos para a minha rotina mais atual.

    Onde começo? Bem como sabem na última parte eu estava na Ordem mantida lá dentro como passarinho na gaiola (Odeio isso, odeio, no more!), conheci o então famoso e carismático (#SQN) Jonathan, vampiro antigo, sábio, gato e que eu apelidei de elfo por parecer muito com um personagem do famoso e querido escritor J.R.R Tolkien, quem não sabe procure no google e logo vai ligar os fatos… Fiquei lá por algum tempo como índia na tribo sem acesso ao mundo conectado e sem acesso a muitos de vocês, fato que eu não curto muito também, mas acontece né galera, afinal temos também nossos compromissos e nossos problemas a resolver.

    Não vou ficar de delongas, afinal depois daquela parte não aconteceram coisas muito faraônicas ou bombásticas dentro da Ordem, no máximo uma discussão por que somos de uma teimosia enorme que chega a ser doença ás vezes… –“ Ao ficar na Ordem aprendendo vários novos truques, histórias e como conviver com um ser que saiu de um livro ( Não ele não saiu literalmente de um livro!) eu comecei a ver o quão egoístas e cegos todos nós deste lado da vida podemos ser… Lilian você está louca? Tomou sangue batizado com bost**? Não meus caros nada disso, eu comecei a enxergar e ver o mundo com outros olhos, comecei a ver os vampiros que convivo com outros olhos, comecei a ver os humanos com outros olhos e querem saber por que? Pelos simples fato do que o Jonathan e mais uma pessoa especial me falaram.

    Foi em um dia antes de irmos embora da Ordem e voltarmos para casa, eu, Daniel e Jonatahn, sim ele veio morar comigo, afinal tem coisa mais legal do que conviver com alguém como eu, assim cheia de personalidades e com o humor que varia com a cor da minha roupa? Brincadeiras a parte, ele veio morar aqui sim, para conhecer mais desse mundo novo, das novidades que o cercam, do jeito que ele deveria agir perto de vocês meus queridos, sim entre vocês, legal não? Mas foi neste dia em que eu estava a arrumar as minhas malas e com meu celular em mãos, finalmente, que ele veio abrir meus olhos – Lilian? – dizia o alto e imponente vampiro – Entre ó grande mestre! O que deseja? – claro que isto foi falado em tom de brincadeira da minha parte – O que desejo não posso fazer agora contigo, porém o que vim fazer aqui é te falar algo antes que voltemos para tua tão adorada terra e sua amada casa – lá vem bomba – Sim, por favor sente Jonathan, pode falar, estou toda ouvidos – Sentei então ao lado dele na cama e esperei o que pareceu uma eternidade para ele falar – Lilian, o que u vou te falar não vai ao todo lhe agradar, mas pode lhe ser bem útil – Quando começa com o seu nome inteiro e com “ não vai lhe agradar” já espere coisas negativas – Estou ouvindo… – porra desembucha essa caralha logo, pensei e ele ouviu, fez cara de desaprovação e continuou – Essa caralha que eu tenho pra lhe falar vai salvar a sua vida e a sua sanidade muitas e muitas vezes. Eu sei que a morte do teu amigo afetou o teu mais profundo, afetou a todos que conviviam com ele minha cara, não só você! – Ele falou palavrão graças a mim, que ótimo exemplo futurístico eu sou, enfim… – Pessoas e seres como nós vão e vem e a morte sempre vai ser a nossa maior inimiga Lili, a morte está a espreita mesmo de nós imortais, imagine então daqueles que não possuem o mesmo poder? –

    Eu sei que eu entrei em colapso pela morte do meu adorado lobisomem redneck, mas nenhuma perda é fácil pessoal e vocês sabem disso acho que melhor do que eu até, sendo muito honesta com todos vocês – Por mais fortes e ágeis que podemos ser Lili ainda não nos tornamos impenetráveis, apesar de alguns agirem como se assim o fossem… Mas isto não vem ao caso, o que quero realmente te dizer é que apesar da perda, apesar dos pesares, os que se vão estão provavelmente em um local melhor do que este terreno aqui e sabe por que? Por mais que a vida seja uma dádiva, tudo tem seu preço e acredito no mais fundo do meu ser, não perdemos a nossa alma, não perdemos a nossa essência e não perdemos acima de tudo o nosso caráter, mesmo depois de transformados. O único fator que pode ocasionar mudanças de temperamento e caráter nessa mudança nossa é o ego ferido ou o ego inflado devido a mudança corporal total que sofre um humano ao se transformar em vampiro – ele tem o dom de prender a atenção de qualquer um quando fala daquele jeito, todo educativo, todo positivo, todo sábio – Então digo que são poucos os que são vampiros por completo e sabe o motivo dessa minha teoria? – olha a minha cara de quem sabe – Está bem já que não sabe eu te falo, um vampiro que se prese, um vampiro que se dê o valor merecido não troca o seu caráter, não deixa a sua essência humana morrer por completo, não deixa o ego inflar e assim achar que é maior e melhor que as outras espécies… Não corrompe seres frágeis como humanos para o seu prazer ou por brincadeira… Que poder temos para trata-los assim? Que autoridade nós achamos que temos na vida desses seres? Nenhuma minha cara, eles são a nossa fonte de alimento, são, sempre vão ser e não é por isso que devemos trata-los como algum tipo de “menu”! Temos como nos alimentar de outras formas além da qual muitos estão acostumados, olhe a sua volta, não precisamos machucar o outro para nos alimentar, podemos adquirir através de várias outras formas o nosso alimento… – a pior parte ou melhor, não sei, era que ele tinha razão, não devemos machucar ninguém por luxúria ou ego inflado… Podemos aderir a bolsas de sangue e sermos felizes sem a consciência pesada, podemos matar apenas os que fazem mal ao próximo, no estilo power rangers! =X

    – Eu mesmo já matei muitos, já achei que poderia dominar todos e com o tempo, as coisas que passei, os tombos e as perdas que tive, percebi que as coisas não são bem assim pequena… Você ainda tem muito a apender, eu vou te ajudar na maioria, mas te deixo aqui um conselho, as perdas não tem que nos diminuir, nos afastar do mundo, elas precisam nos fortalecer pelos que foram e acima de tudo, por nós! Sempre lembre-se disso e do fato que podemos viver de outra forma, podemos manter nossa dignidade e podemos sim em nossa sabedoria ajudar o próximo, ajudar quem precisa, mesmo que a história nos diga para fazer o contrário, devemos pular os muros padronizados das sociedades que vivemos e mostrar que o mundo e nós mesmos podemos ser melhor e claro, ainda há amor no nosso coração congelado, afinal esse sentimento não precisa de um órgão batendo no peito para acontecer! – Fiquei no chão com tudo o que ouvi, foi como levar um tapa na cara e acordar para a realidade novamente.

    Jonathan saiu do meu quarto em segundos, eu fiquei ali com uma das minhas camisetas preferidas em mãos e por coincidência do destino a frase vale muito para o momento atual “ Just keep on Rolling under the stars!” pensando que tudo pode dar certo afinal, que tudo pode ser resolver e que as barreiras do sobrenatural não estão ai apenas para meter medo, elas podem ajudar alguns e abrir os olhos de outros.

    – Bora Lili? Só falta você! – era o Daniel me chamando, hora de ir embora… Cheguei no carro que nos esperava para irmos ao aeroporto, lá já vi um Daniel muito feliz e um Jonathan me olhando como se tivesse ganhado um prêmio – Vamos meus amores, maridos, amantes, sei lá como chamar essa nossa situação amorosa… – consegui tirar um sorriso do rosto do tão sério do lord vampiro – Com o tempo talvez  possamos definir isto, mas Daniel cada um na sua vez, nada de tudo ao mesmo tempo! – O Jonathan fez uma piada? Sim ele fez, por isso acredito mais ainda em uma amanhã melhor! RS Brincadeiras a parte, fomos embora para minha casa, confesso que estava louca de saudades do cheiro de terra e dos lagos aqui em volta.

    See you soon guys

    Ainda vamos contar quem matou o querido Steven.

  • Numa noite qualquer…

    Numa noite qualquer…

    Numa noite qualquer, daquelas que o tédio se sobressai, resolvi dar uma de minhas voltas sobre a luz da lua, e para não parecer poético demais, sobre a luz dos postes também… Era madrugada, e enquanto grande parte dos humanos se encontrava em sonos pesados lá estava eu, caçando confusão e bons pescocinhos para morder.

    A verdade é que me encontrava em uma daquelas fases “revolts” onde o desejo de arrancar a cabeça de alguém se torna mais forte. E sim, me sinto muuuuuito mais legal assim. Lorenzo que era um pouco devagar para me acompanhar, sabiamente preferiu ficar em casa. Naquela noite, não sai apenas para uma caminhada noturna. Eu queria fazer o mal. “-Mas Becky, você é uma vampira tão querida e gentil com todos, não acredito que faça maldades por ai.” Pois é, assim como muitos não acreditam em vampiros e nós estamos aqui! E… Não, meus queridinhos, vampiros não são bonzinhos, não brilham e não se alimentam de bichinhos na floresta. Essa piada já está velha, não está?E nós vampiras, nem de perto somos donzelas em perigo… Nós somos o perigo! (Imaginem minha risada sarcástica, enquanto escrevo isso!)

    Usava o habitual para a noite. Um vestido de veludo preto, botas over-the-knee e uma jaquetinha de couro bordô, a dica de usar vermelho para disfarçar o sangue é super válida! Meus cabelos soltos ao vento faziam movimentos em onda enquanto eu curtia um som da banda Oomph, Yes, my favorite band!. Dirigindo meu conversível novo em alta velocidade pelas amplas avenidas da cidade. Ao mesmo tempo, pensava em algumas questões, como sempre, meus pensamentos não param sequer um instante e viajam em ideias como um turbilhão. Mas, o momento não era propicio para isso e sim, eu deveria procurar me divertir um pouco, depois de tanto tempo cuidando de Lorenzo, de meus negócios e de problemas alheios nas quais eu não deveria me importar realmente.

    Parei o conversível em uma esquina qualquer, próximo a um dos meus lugares favoritos. Era noite de show, alguma banda cover pelo que percebi ao entrar. Havia uma grande quantidade de pessoas, no entanto, não havia sentido a presença de nenhum ser sobrenatural por lá. Enrolei, observando o lugar com uma bebida em mãos, que mal toquei nos lábios.

    – Quem será minha vitima esta noite… – falei baixinho.

    No entanto, acabei me misturando aos humanos que dançavam freneticamente, alguns podres de bêbados tinham o prazer de sentir o ardor de minha mordida discreta, seguida da tradicional “lambida” para cicatrização. Bem alimentada e após me divertir fazendo alguns humanos de marionetes, para treinar meus poderes de manipulação decidi que era hora de voltar. Mas eu não estava satisfeita… Ainda… Tudo estava muito tedioso de certa forma.

    Quando chegava onde havia estacionado meu carro, percebi uma movimentação estranha, uma mulher que provavelmente saia da festa, atravessava a rua caminhando apressada e logo quase correndo. Estava sendo seguida, ou melhor, perseguida por dois caras. Resolvi segui-los sorrateiramente para ver até onde tudo aquilo chegaria, essas situações parecem tão comuns em nosso caminho…  Destino? Acaso? Ou sempre atraímos confusão? Naquele momento eu desejava saber me transformar em névoa, ou mudar de forma, como Ferdinand, mas tinha meu “jeitinho” para não ser vista. Vi nos pensamentos dos caras, imagens obscenas, desejos sórdidos sobre aquela pobre coitada, que por que raios estavam na rua durante a madrugada, sozinha? As mulheres deveriam ter essa liberdade, mas não, elas não têm.  Mas, aquela era a minha chance de fazer o mal que tanto desejava para aquela noite, mesmo que ajudando uma senhorita em apuros.

    Os caras a encurralaram em uma esquina, jogando-a na escuridão de um beco, parecia até uma abordagem típica dos filmes. Fiquei assistindo eles tentando fazê-la ficar quieta, até deixá-los ouvir o barulho de meu salto naquela rua esburacada dos infernos, sabem bem como é andar de salto em um lugar desses, isso é difícil até para mim. Olharam para trás, viram apenas meu vulto desaparecer. Olharam para o lado, e sentiram o vento de minha passada rápida sobre suas costas. A mulher respirava ofegante, pensando em uma forma de escapar e ao mesmo tempo com medo do que estava acontecendo.  Esperei alguns segundos, quando os malditos se voltaram para a garota puxei os dois pela gola de suas camisas afastando-os e jogando-os em um monte de lixo.

    -Vá embora agora garota. A madrugada não é feita para moças indefesas… Vá!- Falei com os olhos cheios de malicia enquanto sem perder tempo, ela corria.

    Voltei-me para os caras ainda tontos, mas que se erguiam do chão:

    -Hey gostosões do bairro! Venham mexer com alguém da laia de vocês! – Falei me divertindo.

    Os caras investiram contra mim nervosos. Estufei o peito “como se ganhasse fôlego” e fui direto para o ataque, enquanto segurava um deles pelo pescoço preso à parede, mordia o outro até o sangue acabar em todo seu corpo. A beira de perder a consciência, aquele a quem segurava em minhas mãos, perdeu bons pedaços de seu corpo nojento, apenas pelo meu prazer de ver o sangue escorrer e, para poder lambê-lo em seguida. Não houve muito barulho, nem bagunça, só uma sujeirinha, na qual dei um jeito depois.  Mas, em certo ponto senti que perdia o controle e vi suas vidas se acabarem em minhas mãos de um jeito doentio. Passei alguns minutos observando meu feito, deixei-os ali, próximos as latas de lixo, virei às costas e voltei para casa sem olhar para trás….

    Numa outra noite qualquer…

    -Hey Becky, viu essa noticia? “Dois homens são brutalmente assassinados no bairro… Policia conclui que ação foi vingança do tráfico…”

    É, digamos que foi… Refleti sobre a palavra “vingança”. De quem? Do que, afinal?

  • GONE

    GONE

    -Hey! Wake up sleepbeauty! ( Bom dia bela adormecida!)

    -What the fuck Steve? (Mas que porra Steve!)

    -Come on! It’s late! Get your ass from the bed!( Ah fala sério! Está tarde! Sai dessa cama!)

    -No! ( Não!)

    -Don’t be a fucking kid! Get up man! ( Não seja uma criança! Levanta!)

    -Why? (por que?)

    -Let’s get out! Have some ride Lili!( Vamos sair Lili! Vamos andar de moto!)

    -Oh for fucks sakes! ( Ah minha puta que pariu!)

    -Comeeeeeee Liliiiiiiii!!! (vamossssss Liliiiiiii!!!)

    -Okay okay… Let me put my pants on… (Ta ta! Deixa eu colocar as minhas calças…)

    —-

    Porque? Nada nesse mundo tem sentido,minha cabeça estava a mil, me sentia inútil e de mãos atadas, o frio da noite pesou em meu corpo e a tristeza hoje é a minha compainha… Com o Steven em meus braços, o sangue quente dele escorrendo por minhas mãos e pernas ali estava eu, sentada no chão com ele, meu amigo antes forte agora estava frágil, eu sentia a vida dele indo embora e eu não podia fazer nada e em meu desespero, a tentativa em vão de te-lo de volta, falei baixinho em sua orelha – Steve please wake up, please, please… Don’t leave me… Just don’t… – Senti algo que há muito tempo não sentia, lágrimas, vermelhas descendo por meu rosto. Eu estava  dando Adeus para um ser que eu amei profundamente, onde o nosso laço era uma dos mais fortes que tive na vida, eu estou dando tchau para o Steve, que teve sua vida roubada da forma desumana-  Don’t go… I’ll miss you my friend, please stay with me Steve… – Em vão e logo a vida deixou o corpo do meu grande amigo, com ele em meus braços eu dei o meu último adeus – Good bye my friend, my the woolf spirit leeds you for the high moutains… I’ll be with you in my heart..

    —-

    Pela perspectiva do Daniel.

    Faz tempo que eu não vejo meus dois grande amigos, acho que não há nenhuma mal em ir visita-los sem avisar, afinal Steven estava morando com a Lilian depois que ela voltou de viagem e é sempre muito bom estar ao lados deles, a companhia deles me faz bem.

    Na primeira oportunidade peguei um jatinho particular e fui ao encontro deles, após algumas poucas horas de viagem cheguei na casa da Lili, percebi que as luzes estavam apagadas, mas como tenho a cópia da chave eu entrei, deixei minhas malas no que era dito como meu quarto e fui para a cozinha, provavelmente aqueles dois estavam por ai metidos em alguma farra, então me dei o prazer de tomar um O+ guardado com uma pitada de Jack antes de sair dali a procura  dos meus “uma noite e nada mais” amigos.

    Ao chegar na garagem percebi que haviam ido de moto, então não me resta opção a não ser dirigir o bebê possuído da Lilian, chamado carinhosamente por ela de “The Black Demon”. Voltei até a cozinha e peguei as chaves do Mustang, na metade do caminho resolvi ligar para Lilian, mas ela não atendeu, liguei para o Steve e ele não atendeu. Algo estava errado, liguei novamente e nada…  Depois de algum tempo andando pela estrada, parei o carro no acostamento, sai e tentei localizar eles, silêncio, e nada, até que ouço algo distante, parecia um grito…. Mais alguns segundos e pude sentir de onde vinham e em meu interior eu sabia de quem eram, voltei ao carro e dirigi o mais rápido possível, parei próximo ao que parecia uma estrada de terra, sai novamente do carro e corri o mais depressa que pude, foi então quando me aproximei que vi o que meu coração a muito tempo adormecido não queria ver, lá deitado no colo da Lilian e agora sem vida estava Steven, ele partiu deste mundo, gravemente ferido, Lilian estava banhada de sangue dele e o que eu pude perceber ela também estava ferida, havia um corte profundo em suas costas, mas sendo uma vampira a recuperação dela viria rapidamente, mas infelizmente Steven não teria a mesma sorte.

    -Lili! – Me ajoelhei em frente a vampira que tinha lágrimas vermelhas escorrendo pelo rosto pálido, ela virou o rosto para me ver – Eu estou morta? É você mesmo Dani?- as lágrimas corriam nos olhos dela, o sentimento de culpa e tristeza misturados nos lindos olhos verdes tomados pela vermelhidão, meu coração gelado estava em mil pedaços – Não meu amor não, eu estou aqui com você… – Eu a abracei e toquei o rosto de Steven, o que aconteceu ali era algo para depois, agora deveríamos enterrar o nosso amigo com honras e na terra dele.

    —-

    Visão da Lilian.

    Era aqui, em meio aos Vidoeiros junto aos amigos e descendentes do Steven que iriamos nos despedir dele uma última vez. Meu amigo lobo, tinha partido e eu falhei em defende-lo, ao ouvir as palavras do xamã deles uma lágrima solitária desceu por meu rosto – Não devemos nos despedir com tristeza, a despedida por mais dura tem que ser exaltada! Steven morreu em batalha, morreu lutando, morreu como um guerreiro! Guerreiro nosso! Que o grande lobo o guie, que o guarde e que na dimensão dos sábios lobos o nosso Steven corra livre, que sua forma natural fique solta pela eternidade e quando ele olhar para nós aqui neste lado, que ele se orgulhe de quem nos tornamos! Steven esse não é um adeus eterno, é apenas um até logo… Nos vemos em breve, que as estrelas lhe façam bom caminho! – as palavras do xamã atingiram o mais profundo da minha alma, pois se há uma outra dimensão eu provavelmente não vou para lá e não vou ter mais o prazer de abraçar ele de novo…

    Ao me aproximar do caixão entalhado com imagens dos lobos, dei um último beijo na testa dele e olhei seu rosto agora sereno, distante – Eu vou sentir a sua falta… – E foi assim que eu o vi uma última vez, não consegui ficar para ver ele ser enterrado pois não queria lembrar dele indo para aquele lugar, quero lembrar dele ao meu lado, sorrindo e me chamando de chata por inúmeras vezes…

    Caminhei de volta para o meu carro, abraçada com Daniel, caminhamos em silencio, Daniel me conhece melhor do que ninguém e sabe que agora eu precisava mais do que nunca ficar em silêncio. Ao chegar em minha casa fui até o quarto do Steven, comecei a arrumar as coisas dele, colocar dentro do armário até que achei o celular dele, ele odiava aquilo, sempre esquecia de levar consigo e nunca deixava com som, ele tinha mania de deixar no silencioso.

    Passei por algumas fotos vagas da natureza que ele tirava durante o dia, para me mandar até que um vídeo dele tentando tirar uma selfie que na verdade estava se filmando, mechamou a atenção. Ali estava ele sorrindo enquanto tentava tirar uma foto – Como é que funciona esse negócio? – em meio as risadas dele eu me senti melhor e guardei aquele vídeo para mim, uma eterna recordação daquele sorriso que um dia encheu a minha casa de alegria.

    Fui até o Daniel, sentei ao lado dele no sofá e coloquei minha cabeça em seu ombro, ele colocou um braço em volta de mim – Dani, eu cansei… Acho que está na hora de parar um pouco.. – Ele me olhou confuso, não entendeu muito bem o que eu queria dizer – Dani está na hora de retornar  para os muros da Ordem, preciso descansar por algum tempo indefinido… – Agora ele entendeu e sua feição mudou, pareceu mais triste ainda, mas mesmo assim consentiu com a cabeça – Então que seja minha amada vampira… Vou ligar para o Trevor e pedir que os preparativos adequados sejam feitos e antes de tudo Lili avise o Ferdinand, ele gostaria de saber, afinal vocês são amigos. Ele merece sua consideração. – E com isso Daniel se retirou, eu com o celular na mão digitei um e-mail para Ferdinand, sentiria falta dele e de todos do clã, mas preciso para algum tempo, me retirar deste mundo antes que a escuridão tome conta do que ainda resta da minha alma.

    Meu querido amigo Ferdinand,

    Sei que andas ocupado por isso deixo aqui algumas palavras e espero que as guarde.

    Não sei até quando vou ficar longe, mas devo me retirar por algum tempo, ficarei na Ordem e não sei quando retorno, por isso deixo aqui o meu muito obrigada por todo esse tempo e esse companheirismo. Você é um grande amigo, um vampiro excelente e sim és um homem excepcional. Sentireri sua falta e de todos do clã, em especial a Beck, Franz e Hector.

    Espero te rever em breve.

    De um beijo em todos por mim.

    Att: Lilian King

    Seeya soon my friend.”

    “Say something, I’m giving up on you

    I’ll be the one if you want me to

    Anywhere I would have followed you

    Say something, I’m giving up on you

    And I

    Am feeling so small

    It was over my head

    I know nothing at all

    And I

    Will stumble and fall

    I’m still learning to love

    Just starting to crawl”

  • Uma amizade improvável pt4

    Uma amizade improvável pt4

    Eu devia ter feito muitas perguntas para Steven antes de sair de casa daquele jeito, devia ter perguntado quem ela era realmente e o que ela queria. Mas sendo bem honesta, no fundo eu sabia que ele não teria todas as respostas e se tivesse provavelmente teria me falado…

    Segui até o endereço informado, mas alguns metros antes eu decidi guardar minha moto e seguir a pé, não queria chamar a atenção muito cedo, por tudo se Kate era uma vampira com uma “surpresinha”, seria bacana manter a precaução como aliada. Caminhei por uma trilha de terra que seguia até uma fazenda, algo mais rústico, mais country e claro do meu gosto.

    Aparentemente tudo estava muito tranquilo no local, não tinha a presença de ninguém, dentro e fora da casa. Andei em volta do terreno analisando muito fatores: 1º que não haviam carros ou motos, 2º as luzes estavam acessas, mas não tinha ninguém dentro da casa e 3º pude observar pelas janelas uma massiva coleção de armas guardadas em um armário que mais parecia uma cristaleira.

    Peguei meu celular e tirei algumas fotos, decidi que seria uma boa hora para sair dali, mas antes que pudesse ir, algo me chamou atenção, um amuleto na porta, parecia de proteção e eu que não sou boba nem nada, tirei uma foto para mandar para alguém especialista em amuletos e objetos antigos.

    Quando cheguei perto da minha moto tive uma péssima surpresa, os pneus foram perfurados e eu tive a certeza que algo ou alguém fez uma brincadeira no qual iria se arrepender depois ou o dono da casa misteriosa (ou seja, kate), viram minha moto por lá e não gostaram do fato de que eu estava bisbilhotando…

    Moto com pneu furado não anda né gente, mas ainda bem que todos temos nossos meios de “seguro” e o meu se chama Steven, peguei meu celular e liguei para ele e expliquei toda situação, Steven apenas falou “Não saia dai, estou indo!” e desligou. Não demorou muito para ver a caminhonete dele virar a estrada e se aproximar – Hum parece que lhe pregaram uma peça ou não te queriam aqui não é Lili¿ – ele parecia se divertir com tudo isso, – Aparentemente sim… Mas nada como ter um amigo muito bacana pra ajudar, não é Stevee¿! – mais alguns ajustes e minha moto estava descansando na caçamba da enorme picape do Steven.

    Ele me levou até em casa e não perguntou quase nada a respeito da minha aventura como detetive, apenas falou que quem muito procura acha e que nem ele mesmo conseguia explicar o que havia de errado com a Kate, pois não chegou a ter intimidade o suficiente.

    Após ele ir embora peguei meu note e transferi as fotos do celular, tinha que enviar as fotos para um especialista, principalmente a foto do amuleto na porta, aquilo me deixou ainda mais intrigada.

    Trevor saberia provavelmente o que fazer e para quem perguntar, enviei o seguinte e-mail para ele: T… Neste anexo seguem algumas fotos de um local que estou investigando, se puder me ajudar eu agradeço.

    Att: Lilian.”

    Demorou mas ele respondeu: “ O amuleto da porta não é coisa boa Lili, lembra que te falei de mais alguns outros clã antigos, quase medievais¿ Se lembrar por favor não vá atrás sozinha, vou enviar alguém para lhe ajudar! Mas apenas digo que esse definitivamente é um antigo, apenas preciso descobrir que clã, pois não tenho certeza ainda. Mas fique sabendo que temos clãs inimigos, a eterna “Era Feudal” Vampiresca ainda existe! Clãs que disputam terrenos ou soldados, e a Ordem tem os seus inimigos por vez… Por hora fique de boa, settle down girl… Quando descobrir eu te ligo!”

    Hummmm se o Trevor que é, bom um vampiro considerado perigoso, ficou com receio do que viu, o mais sábio seria esperar a resposta do próprio para poder tomar qualquer atitude. Achei que seria melhor ir dormir e esquecer todo este pesadelo psicodélico por hora.

    Toques altos do meu celular logo do lado do meu travesseiro me acordaram fazendo com que eu desse um pulo e pegasse minha espada, mas quando me toquei que era apenas o celular, abaixei a lâmina e atendi o telefone, era Trevor e parecia estar angustiado – Lilian! Onde você está¿ – como assim onde eu estou – Em casa por que¿ – silêncio e depois um barulho preocupado do outro lado – Lembra o amuleto¿ Não é de proteção e sim um símbolo! Símbolo dos antigos Cruzados, clã de assassinos, não apenas vampiros, mas metamorfos e Licans! O que quer que queira fazer não faça! São perigosos e geralmente agem em bando! Fique ai, vou ligar para o Daniel e Steven, vocês precisam se reunir e nos manter informados… Um clã assim não fica em casas a toa, estão se reunindo para algo! – e então ele desligou o telefone e eu fiquei como uma palhaça no fim do circo coçando a cabeça e sem entender nada!

    Depois fui me tocar que havia uma mensagem de duas horas atrás da Kate, “Lili preciso falar com você! Será que posso ir ai¿”, e agora o que fazer¿ Olhei para a mensagem umas trinta vezes antes de responder, até por que vamos para aqui e pensar um pouco mais, eu fui na casa que supostamente era a casa dela de “férias” e lá encontrei um mega arsenal de armas e um amuleto tão antigo quanto a múmia viva do Michael e depois tive a ótima notícia a que tipo de clã amistoso e carismático aquele amuleto pertencia e obviamente a pequena vampira misteriosa pertencia! Que bom! Que alegria! Que alivio! ¬¬’’’’’’’’

    Respondi apenas que não e que outro dia nos encontraríamos, ela por sua vez apenas visualizou e ficou por isso até que sinto alguém lá na minha varanda, seguido de batidas na minha porta, fui silenciosamente até minha Katana e a segurei com força, mais batidas na porta e agora uma voz conhecida – Lilian abre por favor! – A minha pqp! Antes ela some, vai embora, não fala nada e fica com mistérios de Lúcifer e o caralho a 4! E depois de algumas horas que eu fui fuçar a casa que é dela, Kate me aparece na porta de casa pedindo para abrir a porta¿ What fuck¿ Depois do que eu descobri¿ Claro que eu vou abrir, mas armada até os dentes, porque sei lá o que me espera. Quando finalmente abro a porta, lá estava uma Kate nua e aparentemente com pequenos machucados, ajoelhada na minha varanda como se estivesse fugindo de algo ou alguém…

    – Lili! Help me! ( Me ajuda Lili!)

    Oh, uma tempestade está ameaçando
    Minha vida hoje
    Se eu não conseguir alguma proteção
    Oh, sim, Eu irei desaparecer
    Ooh, veja o fogo varrer
    Nossa rua hoje
    Queima como um carpete vermelho carbonizado
    Touro louco perdeu seu caminho
    Guerra, crianças
    Está apenas a um tiro de distância

     

     

     

     

  • Lilian à Reunião – Pt3

    Lilian à Reunião – Pt3

    Tennessee, como era bom estar de volta, sentir os ares do lugar que eu nasci e cresci, admirar mesmo que sob o olhar cuidadoso da lua, os grandes pastos e os animais correndo livremente. Ao longe sentada apenas em uma cerca de madeira, recordei-me de momentos em que ali vivi, como andar a cavalo, os longos almoços embaixo de uma grande Choupos Tulip e sua magnifica presença, o cheiro do leite fresco e comendo o maravilhoso Banana Pudding que minha mãe nos dava o prazer de apreciar. Quando mais velha, com os meus 18 anos, adorava fugir para nadar no rio perto de casa, podendo ficar livre das roupas e mergulhar nas deliciosas água correntes.

    Tantas recordações vindo a tona e eu apenas estava aqui há duas horas, mais ou menos. Sai do meu transe nostálgico segui de volta até o hotel que estava hospedada junto ao Daniel, lá pude ver que ele havia providenciado nosso meio de transporte, “Ual! Simplesmente lindas Dani!”, “Achei que gostaria de andar por tuas terras apreciando mais de perto a paisagem!”, ” Acertou em cheio!”.

    Confesso que ao ver aquelas duas Harley ao estilo drag-bike paradas diante de mim, senti que toda motivação tinha voltado para a minha alma obscura. Enquanto sentia o tremer do motor e aquele som lindo que ele fazia, guiei Daniel até o nosso próximo destino, chegando lá, parecia que tudo voltava como um soco, todas minhas memórias, minha vida como humana. Ali estava, abandonada, pouco conservada, isolada em meio aos grandes terrenos e ao rio que a rondavam, mas ainda continuava imponente e clássica,  minha antiga casa, o lugar onde tudo começou, ” Então é aqui?”, ” Sim, vamos passar nossas próximas noites aqui…”.

    Depois que minha mãe morreu, não haviam herdeiros e também nenhum interessado na antiga casa do lago. Ela permaneceu ali, apodrecendo e sendo esquecida, alguns móveis continuavam cobertos, pertences esquecidos, quadros, algumas cortinas e nos quartos apenas existiam os antigos armários e os estrados de cama. Não era nada fácil estar ali, mas se fazia necessário. Andei e comecei a vasculhar todos os lugares, fiquei surpresa ao ver que ainda haviam coisas minhas no meu quarto, desde a minha penteadeira até algumas roupas antigas guardadas, e junto delas, escondidas em um canto escuro do meu armário,  guardadas em um lenço, achei algumas cartas… Quando me dei por conta, percebi que minha mãe havia escrito várias cartas, algumas eram anotações, outras poemas e uma especial feita para mim.

    Sentei-me na varanda do meu antigo quarto e li o que ela havia escrito…

    ” Querida Lili… 

    Como sinto falta de você, minha pequena Lili… Nunca imaginei que fosse lhe perder, todos os dias dos meus últimos anos eu pensei em você e nesta morte trágica que teve. Cheguei a sonhar com teus lindos olhos verdes, o teu sorriso toda vez que eu fazia teu doce preferido, lembra? E agora você partiu, se foi e me culpo todos os dias por ter lhe deixado ir. Eu vivi sozinha desde então, seu pai foi embora e também nunca mais voltou, mas não me fez falta, era um homem amargo e agressivo, ficar longe dele por um lado me fez bem… Enfim, escrevo isso pois sei que estou no fim de meus dias, sei que logo não estarei mais aqui neste mundo, mas quero de alguma forma deixar aqui algumas últimas palavras, pensamentos, saudades por assim dizer, expressar o que eu sinto nas palavras e não me permitir a loucura da solidão. Mas agradeço ao Pierre, por ter vindo aqui e me informado o que lhe havia acontecido, explicado que seu corpo teve que ser cremado devido a doença… Ele foi bom comigo por alguns meses após sua morte, me ajudando a superar sua perda de certa forma. Vinha me visitar algumas noites e partia quando eu estava cansada, foi um bom amigo, mas partiu também, deixando saudades, mas não a saudade que sinto de você filha… Não a saudade que eu sinto de você, minha pequena e doce Lili…”

    Pierre? Pierre veio até minha mãe? Depois da atrocidade que me fez? Como que eu nunca soube disso? Como que ninguém da Ordem soube disso? Esse canalha veio iludir minha mãe! Ele mentiu, falou que eu havia morrido de alguma doença contagiosa?! Cretino, filho de uma puta! Mas é claro que ele veio até minha mãe! Para ter certeza que eu estava morta! Que não havia sobrevivido a transformação! Que ninguém havia me salvado! Depois partiu quando teve certeza, já que fiquei por longas décadas na fortaleza da Ordem.

    “Lili?”, Daniel se aproximou e me encarou, apenas lhe entreguei a carta de minha mãe, ele leu em voz alta e quando chegou ao final, ficou tão surpreso quanto eu, ” Você não imaginava isso?”, ele olhou para mim em dúvida, balançou a cabeça em negação, ficou tão pasmo quanto eu, ” Dani, este cretino nunca saiu daqui! Ele apenas se fingiu de sombra por todos estes anos! Mas como?”, ” Lili eu não sabia, até onde sei Trevor tinha ficado encarregado de cuidar para que nada acontecesse com a sua mãe ou qualquer um que fosse relacionado com você!”, ” OH MY FUCKING GOD! Trevor! Ele sabia? Ele sabia!”, ” Vamos manter a calma Lili, Pierre pode ser muito sorrateiro e é inteligente, talvez tenha dado um jeito de distrair aqueles que cuidavam do local!”, ” Ele poderia até ser sorrateio, inteligente e um grande canalha! Mas passar por seres da Ordem é algo inédito, mesmo vindo de um vampiro antigo! Dani eu preciso falar com Trevor, ele sabe de algo, disso eu não tenho dúvidas!”

  • Os mortos não voltam – Parte I

    Os mortos não voltam – Parte I

    – Sophie, você deve estar vendo coisas. Tem certeza de que era ele?
    – Bom… Certeza, certeza eu não tenho. Mas, era muito parecido e fiquei nervosa na hora. Olha, não posso nem pensar nessa possibilidade…
    – Por que? – Falei sobressaltada – Não deveria se preocupar, até porque ele não irá atrás de você. E acho pouco provável que o que viu, seja real. Realmente acha que se ele estivesse vivo eu estaria assim…livre por todas essas décadas, e que ele só apareceria agora?
    – Enfim, tem razão…

    Sophie me olhou de um jeito estranho, semicerrando os olhos e emburrando o rosto feito criança mimada, acho que no fim das contas acabei ferindo seu ego com meu jeito sincero demais. Mas, era verdade, se de fato Sr. Erner estivesse vivo esse tempo todo, eu já não estaria por aqui para contar histórias, principalmente, depois do que fiz. Além disso, ele também não iria atrás dela para que ficasse tão exageradamente preocupada. Chegava a ser uma situação engraçada, ela uma vampira mais velha e experiente, deveria ser ao menos racional, e mesmo assim, eu estava a acalmá-la. Porém, realmente essas possibilidades estavam fora de questão, por outro lado, algo no qual eu não sabia exatamente o que era, estava acontecendo. O estranho sumiço de Lorenzo, a volta de Sophie, sem contar em pesadelos sem significados que voltavam a me perseguir nos últimos dias de sono.
    Saindo de meus pensamentos e deduções voltei meu olhar para Sophie dizendo:

    – Bom, por precaução você fica aqui hoje. Pode dormir no quarto de hóspedes, aqui no andar de baixo, fique a vontade.
    – Tudo bem, obrigada. – Falou Sophie cabisbaixa, porém mais tranquila.

    Subi para meu quarto, tomei um banho, vesti uma camisola leve e fui deitar. O primeiros raios de sol deveriam estar surgindo lá fora. Peguei no sono rapidamente, toda aquela conversa havia me deixado exausta, e estar assim tão exausta não era normal….

    “Vestida com uma túnica preta, subia uma longa escadaria até um corredor cuja as paredes eram forradas com brocado acinzentado e arabescos dourados em formatos de símbolos estranhos que reluziam como se houvesse algum reflexo solar. Meus cabelos estavam lisos e longos até o chão e arrastavam-se junto a túnica conforme meus vagarosos passos, nas mãos levava um coração humano que ainda pulsava vida e pingava sangue, deixando um rastro pelo caminho. Ao fim do corredor, uma porta vermelha iluminada abria-se enquanto me aproximava. Ao entrar, ergui os olhos e avistei Lorenzo, alto, forte, com o corpo marcado por tatuagens por mim desconhecidas, vestindo uma calça e uma capa vermelha, sentado sobre uma poltrona larga, forrada de um vermelho vivo. Nossos olhos se cruzaram, e então, me vi tomada pelo desespero e por uma dor aguda na região do estômago, os olhos de Lorenzo reviravam e tornavam-se totalmente negros, pessoas ao nosso redor surgiam como vultos igualmente vestidos por capas pretas proferindo em coro palavras sem sentido, enquanto uma enorme quantidade de sangue escorria do peito aberto de alguém que já não era Lorenzo… Era Thomas, Thomas Erner, que olhava para mim e ria demoníaca e sarcásticamente. ”

    Acordei em desespero com um grito vindo do andar de baixo, com fortes dores acabei vomitando sangue e mesmo cambaleando, consegui correr escada abaixo até o quarto de Sophie que estava em desespero, olhando frenética e paralisadamente para uma das paredes do quarto em chamas, chamas essas que formavam o tal simbolo estranho que vi em meu sonho. Corri até o extintor de incêndio e apaguei o fogo com dificuldade antes que alguém do prédio percebesse aquele alvoroço. Sentei-me no chão, vencida pelo cansaço, me sentindo totalmente sem forças. Sophie permaneceu ali, estática olhando aquele estranho símbolo que agora decorava a parede de meu quarto de hóspedes. No ar, aquela estranha energia na qual eu nunca havia sentido, até o momento. Olhei para Sophie, e percebi claramente o que estava acontecendo. Sim, ela teria que me explicar direitinho de onde viera tudo isso e porque havia me incluído em suas encrencas “bruxólicas”.

  • A hibernação de Eleonor – 2 de 2

    A hibernação de Eleonor – 2 de 2

    Eleonor acordou melhor do que nas últimas noites. Estava falante, alegre e muito bem-disposta, tanto que me perguntei de imediato, será que ela havia desistido de hibernar?

    – Fê como andam os preparativos, tudo pronto?

    – Si-sim, claro tudo bem contigo? – Falei quase que gaguejando diante tal pergunta seca.

    – Ótimo, já separei umas duas malas, sabe, coisinhas simples de mulher. Quero ter tudo a mão para quando eu voltar daqui uns anos.

    – Humm sei, joia minha querida… – Respondi receoso e cheio de dúvidas.

    – Bom vou terminar de me arrumar, me avisa quando estiver pronto…

    A noite veio como uma faca que perfura a carne, destrói os tecidos e afana a vida das inofensivas células. Trouxe também movimento, pensamentos e intenções, daquelas que apenas dois seres muito próximos poderiam confidenciar diante a eminente hibernação.

    Sinceramente, estava surpreso pela vitalidade de minha doce morena. Será que ela estava ciente de tudo o que iria acontecer? Tentei não focar na desgraça da situação, deixei as dúvidas de lado e tomei todas as providências necessárias. Reuni os principais Ghouls da fazenda, informei o que aconteceria naquela noite e depois que eles se dispersaram em seus afazeres, pude contemplar por alguns instantes as estrelas e o bonito céu daquele momento.

    Fiquei por alguns instantes viajando, pensando no tudo e no nada, até que fui surpreendido sorrateiramente por Eleonor. Ela veio de mansinho e me abraçou carinhosamente. Tentei pronunciar alguma cousa, mas não cabeia mais nada entre nós. Ficamos nessa situação por alguns instantes, até que ela não aguentou e soltou o verbo:

    – Hey, não vai falar nada? Ai Fê para, não é o fim do mundo. Só vou digamos tirar umas férias. Nem sei se você vai sentir tanta falta assim, afinal nos últimos anos desde que acordou anda bem disperso. Focado na internet, nas suas leitoras e afins…. Nem vou comentar da Beth e das outras putinhas que você andou se envolvendo.

    – Caralho, guardou tudo e me solta só agora? aff

    – Deixa quieto mi amor…

    Ficou um clima chatíssimo, afinal Eleonor sempre teve um lugar especial no meu falecido coração, mas como bom geminiano eu sou resolvi dar um pouco mais de trela, afinal tudo o que ela me disse não poderia ir para o túmulo com ela….

    – Olha, eu até entendo e bastante o teu momento, entendo que nos afastamos de tudo o que vivemos antes da minha hibernação. Só que eu tô tentando algo novo. Sei que não posso mudar tudo o que fiz ou que aproveitamos juntos. Mas ao meu ver é para isso que o ritual de hibernação foi criado. Tu passas um tempo “off” e depois podes voltar com outras expectativas. É como se nós tivéssemos a chance de renascer, quase como a alma humana. Só que não vou entrar nessa discussão. Tenho feito sim uma aproximação gigantesca com o povo dessa época, mas isso faz parte do processo de reintegração na sociedade. Com certeza tu vai passar por isso quando voltar do teu sono. Não que eu esteja ignorando o teu amor, ciúmes ou como queira chamar, mas me deixa com os meus problemas e foca nos teus. Aliás, espero que eo teu inconsciente te de estas lições assim como o meu o fez quando hibernei. Aproveita essa chance e renasça como outra vampira quando voltar.

    Suponho que ela tenha absorvido pelo menos uma parte do que eu havia lhe dito, pois ela se calou e apenas me abraçou mais forte. Na verdade, acho que ela se perdeu por alguns instantes nos seus pensamentos e tive de dar o primeiro passo.

    – Tá desculpa, não queria soltar tanta cousa assim desta forma, mas foi tu quem começou. Foca nessa cousa que eu te disse que voltar como outra vampira daqui uns anos. O tempo que ficamos juntos foi muito divertido e tu sabes que és muito importante para mim. Somos irmãos, amantes, e além disso te vejo até como uma mãe as vezes…

    – Sim gosto muito de ti também, mi amor.

    – Bom, pensa no que eu te falei por mais um tempo, vou pagar tuas malas que está na hora de irmos…

    Eleonor ficou por mais um tempo sentada perto da cerca branca. Sabe-se lá se ao menos entendeu parte do que eu lhe disse.  Porém, depois de uns 20 minutos ela foi ao meu encontro na casa, eu estava mexendo no meu celular e sentado num dos sofás da grande sala. Seu olhar era fixo e disse-me apenas: “ Vamos? ” Consenti com a cabeça, pequei suas duas malas e fomos para a cripta.

    O lugar era o mesmo de sempre, com uma entrada repleta de armadilhas, os compartimentos, as portas e fechaduras…. Ao final de uma das salas estava a tumba que preparei para Eleonor e um lugar tipo “armário” com portas e mais fechaduras onde guardei suas malas. Feito isso me posicionei a sua frente e fui direto ao ponto:

    – Quais as tuas últimas palavras, minha doce morena?

    – Eu te amo – Disse ela olhando fixamente para os meus olhos.

    Seus lindos olhos azuis brilhavam como nunca e só me restou lhe dar um longo beijo. Cheguei a me excitar a ponto de querer algo a mais. Porém, ela me segurou em determinado momento, baixou a cabeça e disse sussurrando medrosamente:

    – Começa logo… por favor!

    Não pensei, nem refleti, apenas segui me instinto e aflorei as presas. Agarrei seus braços e cravei minha boca na maior de suas veias. Senti todo aquele turbilhão de pensamentos e emoções se transmitindo entre nossas almas. Agora estávamos mais próximos do que nunca e continuei até o ponto em que ela se amoleceu. Fiquei impressionado com o seu alto controle, pois nem um gemido ela soltou.

    Lá estava eu com seu corpo desfalecido e inerte. Cheguei inclusive a pensara que por um instante sua alma me tocou, mas deve ter sido apenas a emoção do momento…. Terminei o ritual, fiz tudo que era necessário para que ela não se fosse de vez e a enterrei. Cobri todo o seu corpo e a medida que ela sumia do meu campo de visão, diversos pensamentos vinham a minha mente. Lembrei-me do momento em que nos conhecemos em Desterro, do quanto ela me parece estranha e atraente desde o momento em que vi e de boa parte dos nossos momentos juntos.

    Inclusive ao final de todo o procedimento de hibernação eu me peguei sentado ao lado de sua tumba, sujo de terra e com uma pequena pá de jardinagem em mãos. A partir daquela noite eu estava afastado de meu criador e de minha maior tutora. O que viria pela frente teria apenas como testemunho o Franz, que apesar de também ter sido meu tutor, está num nível muito próximo do meu na hierarquia do clã. Clã? Espero que eu consiga manter essa nossa união…

  • De volta a uma rotina nada normal – Parte V

    De volta a uma rotina nada normal – Parte V

    Uma dor horrível. Imensurável. Sentindo meu corpo entrar em combustão devido aos raios do sol, gritei desesperadamente quase que em súplica para que aquilo acabasse. Se fosse meu fim, que o fosse logo. Antes de perder a consciência, pude ver a escuridão novamente. Me senti envolvida e carregada por alguém, que eu já nem lembrava quem era naquele momento…

    Acordei sobressaltada, com fome, muita fome. E sim, com raiva, muita raiva. Encontrei-me envolto a uma manta que cheirava a queimado, óbvio, e ainda pude ver resquícios da fumaça em meu quarto que lentamente se desfazia. Levantei devagar, ainda sentindo a ardência em meu corpo que se recuperaria totalmente em algumas horas. As lembranças logo vieram à tona. Onde estaria aquele maldito humano? Pensei comigo mesmo. Podia ouvir sua respiração. Perto demais.  Estava atrás de mim encolhido contra a parede, ainda sem roupa. Olhando-me nervoso. Sem virar para trás, coloquei uma das mãos em minha cabeça, que ainda estava doendo. Mantendo meu autocontrole, pensei por alguns instantes. Que droga Lorenzo! Logo agora que eu estava gostando de você. Então, falei calma e sarcasticamente, ainda sem olhar para ele:

    – Loreeeeeenzo. Eu sei que está ai, meu querido. Depois de tudo o que fiz por você? Eu devia matá-lo imediatamente…

    Enquanto eu falava, percebi que ele chegou a prender a respiração. Então, me levantei devagar e caminhei em sua direção. Com o dedo indicador em seu queixo, o guiei para que se levantasse obediente e ficasse de frente para mim. Olhei-o fixamente por alguns instantes, seus olhos verdes semicerrados, sua boca tremula, o suor escorrendo, pude ouvir sua pulsação rápida. Roçando o nariz em seu pescoço, senti seu cheiro doce.  Eu estava com muita fome. Olhei – o novamente, e então segurando seu rosto com unhas longas e vermelhas, fechei os olhos e o mordi com todas as minhas forças.

    – Desculpe – Balbuciou. – Por favor, Rebecca, não faça isso. Eu te peço. Perdoe-me, eu não queria machucá-la. – Dizia sua voz fraca e lenta.

    – Eu preciso mais. O que fez comigo me deixou sem forças. – Respondi.

    – Não me mate, por favor. Não.  – Implorou.

    “Não me mate, por favor.” Repeti em minha mente inúmeras vezes, enquanto ainda o mordia. Então, satisfeita quase recuperada, agarrei-o pelos cabelos e o arrastei até um quarto sorrateiramente disfarçando dentro de minha biblioteca, onde eu guardava alguns utensílios básicos.

    – Como dizem alguns maus pais: Você vai ficar no canto escuro para pensar em suas travessuras. E depois eu vejo o que faço com você…. Loreeeenzo.

    Então, o tranquei lá. Ainda com os olhos vermelhos de raiva. Eu não podia negar, havia herdado a impaciência de meu sádico e antigo mestre.  E sinceramente, ser ferida inesperadamente e daquela forma, por causa de uma inconsequência, era humilhante demais para mim. Eu devia ter previsto o que aconteceria, como me distrai daquela forma? Durante horas, esses pensamentos perturbavam-me. O que vou fazer com o humano? O salvei e depois vou acabar com sua vida? Eu realmente não estava bem, pelo simples fato de ficar ponderando os fatos. Eu não tinha que preocupar-me com aquilo. Mas, estava realmente sentindo algo que o tempo aparentemente havia tirado de mim em relação a aqueles que eu escolhia como vitima. Eu estava sentindo: compaixão, e Lorenzo até o momento, não era uma vítima, afinal…

  • Estranhos e loucos – pt2

    Estranhos e loucos – pt2

    Confesso que sempre gostei de “meter a mão na massa” em minhas empreitadas, mas com a chegada da Lilian e da Becky estou conseguindo aliviar um pouco essas incursões práticas. Podendo me dedicar as outras funções mais organizacionais junto das necessidades de meu clã e dos aliados. Apesar disso, sempre que posso utilizo todos os meios disponíveis para ajudar meus irmãos em suas empreitadas.

    “Fê, encontrei a tribo do Carlos, ou melhor, fui encontrada por eles com certa facilidade. Claro que é um mundo completamente diferente daquele que estou acostumada na cidade, mas estou me virando, ao modo Lilian de ser. Nossas investigações foram comprometidas, por causa da última enchente do rio próximo a tribo e faz mais de uma semana que os sumiços pararam. Então vim para a cidade, pois o faro do Carlos nos diz que poderemos encontrar algo por aqui. Se puder responda este e-mail ainda hoje, ou liga nesse número a seguir…”

    Carlos atendeu ao telefone e foi contando, tão logo percebeu que era eu do outro lado da linha:

    – A garota tem experiência em investigação, mas achei que você me mandaria alguém um pouco mais “velho”.

    – Ah meu irmão, ela é esforçada, sabe manusear uma espada como ninguém. Então dê uma chance que ela vai te surpreender. Reclamou muito da falta de conforto e das cousas da cidade?

    – Ela não quis usar as roupas tradicionais da tribo e fiquei desapontado por ela não se entrosar conosco dessa forma. Além disso, ela passa longos minutos escovando os cabelos coloridos, mas no geral fez amizade com facilidade por lá. Quanto a isso fica tranquilo, já estou acostumado com vocês caras pálidas noturnos. Fora isso, preciso que me ajude com alguns contrabandistas. Vou te passar alguns nomes e tu vê se consegues alguns endereços para nós?

    Para encurtar um pouco a história, Carlos me mandou os nomes, que repassei de imediato para Pepe. Ela fez suas “magias” na internet e Deep web e encontrou alguns endereços, no qual retornei em seguida e por telefone mesmo ao Carlos. O velho lobisomem anotou com cuidado e disse que naquela mesma noite eles iriam verificar pelo menos dois.

    Continuação baseada nos relatos do Carlos e da Lilian:

    Depois de conversar com Ferdinand, esperei a noite cair e fui acordar Lilian, podendo prosseguir até o local para que fizéssemos uma ronda e descobríssemos do que se tratavam os sumiços.

    Seguimos por algumas horas até chegarmos a uma espécie de galpão que parecia estar em atividade. Ficamos escondidos na floresta que cercava o local e conseguíamos sentir o forte odor de sangue que vinha de dentro. Eu sugeri que ela fosse até o local escondida, enquanto eu daria uma geral  onde haviam alguns ônibus estacionados, numa espécie de ferro-velho. Onde imediatamente vi vários homens armados protegendo a entrada.

    Após alguns minutos de observações percebi que a Lilian havia entrando sorrateiramente no galpão, onde ficou por lá alguns minutos e decidi voltar e aguardá-la na floresta. Mais um tempo se passou e ela finalmente voltou. Estava com a feição muito triste, na verdade estava completamente desolada, tanto que lhe perguntei imediatamente o que havia encontrado ou o que lhe deixou daquele jeito.

    – Carlos, o forte odor de sangue tem um motivo…

    – Qual Lili? Me fala!

    – Eu vi corpos, pequeninos, mutilados em mesas cirúrgicas.

    – O que? Me diz que isso é brincadeira.

    – Não.  Eles retiram os braços das pequenas crianças, colocam outro no lugar, algo de silicone.

    – Lilian…

    – Maioria deve ter apenas onze ou doze anos… Todas dopadas por algo anestésico.

    – Quantos estavam lá dentro?

    – Haviam cirurgiões, equipes médicas fazendo o procedimento de mutilação. A pior parte é que haviam pessoas comprando as crianças mutiladas… Algo para uso pessoal… As pobres crianças imóveis, sem saber o que estava acontecendo…

    – Lilian, precisamos sair daqui, voltar à tribo e traçar um plano.

    – Eu quero entrar lá e arrancar a cabeça de todos aqueles filhos da putas!

    – Você terá sua chance. Mas não hoje! Vamos voltar aqui preparados e com mais “gente”. Entrar ali agora seria suicídio e ninguém seria ajudado, nem elas ou nós.

    – Eu acho que vi os mandachuvas do lugar lá dentro. Eles são meus!

    – Feito! Agora vamos, temos que informar a todos, inclusive o Ferdinand e teu mestre, quem sabe eles mandem mais alguém ou possa dar mais informações sobre esses malditos.

    Seguimos imediatamente de volta à cidade, onde fizemos diversos contatos. Não consigo descrever a sensação de raiva ou ódio que tomou conta de mim e enquanto estávamos próximos do local, eu também tive vontade de entrar lá e quebrar tudo. Meu animal estava furioso e de certa forma excitado pela vontade comer carne humana, mas pelos deuses eu consegui me conter. Realmente, o que eu havia lhe dito era sensato e temos de voltar com mais alguns para lá.

    Quem diria, comecei a gostar da cara pálida metida a Samurai da cidade…

  • A vampira pin-up – pt1

    A vampira pin-up – pt1

    O lugar era pequeno e bem arrumado, pouco mais de 10 mesinhas de madeira escura com 2 cadeiras cada e que dividiam espaço com o balcão de bebidas e um palquinho oculto por cortinas vermelhas. Havia ainda um grande piano preto, onde um músico vampiro tocava algo sombrio, lento, triste e certamente atemporal. Algumas pessoas estavam conversando em pé e o papo não podia ser outro, a apresentação burlesque de madame Josephine e suas adagas.

    A época era algo em torno dos anos 40 e 50, o lugar um cabaret de New York, os personagens Eleonor e eu Ferdinand, em busca de novidades para nossas fábricas de roupas brasileiras. Para quem não sabe New se tornou o novo centro da moda depois da segunda guerra mundial, possuía vários estilistas envolvidos nas produções para Hollywood e para minha mim ainda havia um motivo a mais. Eu queria muito conhecer as legítimas pin-ups norte americanas.

    Tanto a viagem de ida como de volta tivemos muitas paradas, turbulência e incômodos em função de nossa situação vampiresca. O que um humano faria em no máximo um dia nos custou quase três dias e noites para cada trecho. Hoje em dia os voos particulares ou o Google Maps facilitaram muito as cousas…

    Cerca de uns 30 minutos depois que chegamos ao cabaret a musica parou, as pessoas foram ficando em silêncio e quando a ansiedade proposital tomou conta de todos o pianista retornou junto de um guitarrista. Alguns estalos e estampidos, duas ou três dedilhadas e começava um blues leve, uma espécie de som lounge que deu um clima interessante ao total breu que nos envolvia. De repente sinto uma brisa, aquela energia vampiresca tomando conta do lugar e um spot ilumina as cortinas.

    O som nos contagiava, fazia as pernas balançarem involuntariamente e até mesmo as mãos queriam batucar, enquanto algo ganhava forma atrás dos panos. Novamente um apagão, cortinas e lá estava aquela escultura em forma de mulher (vampira). Vestidinho preto com bolinhas brancas e notavelmente curto para a época. Pele branquinha, cabelos longos pretos brilhantes e com penteado de topete pin-up. Aquela boca, vermelha como quem havia passado um belo batom chamativo carmim ou acabado de se alimentar. Tudo isso, alinhado perfeitamente aos brincos esmeralda, que complementavam a maquiagem escura em torno de seus lindos olhos verdes e grandes.

    Sim confesso, babei… Até mesmo Eleonor, que é outra beldade se incomodou ao ver os atributos da belíssima Josephine. – hunf, vestidinho barato! – Comentou ela “se mordendo inteira”. E toda aquela inveja ficou ainda maior quando a beldade pin-up soltou a voz interpretando clássicos como Autumn In New York de Jo Stafford e I’ll Walk Alone da gotosíssima Dinah Shore.

    Depois de mais ou menos uma hora com muitas músicas a vampira voltou para trás das cortinas, as luzes se apagaram e o guitarrista tocou algo mais pesado. Ao mesmo tempo em que o pionista vampiro soltou sua viz, em algo que me lembrou muito as músicas de Elvis, a pin-up cortou as cortinas com suas adagas e iniciou seu famoso burlesque.

    Inicialmente ela dançou um pouco, fez cara bocas e esbanjou aos olhos concentrados de todos aquela deliciosa sensualidade e sexy appeal. Entre uma passada e outra entre as mesas ela ia cortando o vestido. Até que finalmente ficou apenas com de liga, scarpin de salto alto e exibindo a quem quisesse ver, aqueles belos seios fartos.

    Aplausos de pé, flores ao palco e vários assovios. Alguns mais exaltados inclusive gritavam amazing, fabulous, divine enquanto as portas do lugar foram abertas e aparentemente iam-se embora. Meu lado Casanova estava extasiado, eu precisava conhecer aquela deusa e por sorte o pianista nos reconheceu. – É sempre bom ter sangue novo por aqui – Disse ele em tom amigável. Eleonor foi a primeira a se apresentar e obviamente chamou atenção do vampiro com seu jeitinho meigo e inglês com sotaque carregado europeu.

    Vocês se lembram de minhas outras histórias quando eu falei que nestes anos eu estava um tanto rebelde e alheio aos pudores ridículos da sociedade daquela época? Bom, na próxima parte falarei do meu primeiro contato “mais íntimo” com Josephine…

  • Um vampiro invisível?

    Um vampiro invisível?

    A noite estava fria, uma densa névoa insistia em ocultar a maioria dos prédios ao meu redor e lá estava eu num dos meus apartamentos próximo ao centro. Estar próximo ao centro de uma cidade é sempre muito vantajoso com relação à acessibilidade, principalmente aos bares, lojas de todos os tipos, ambientes culturais e tudo mais que possa servir de apoio à vida eterna de um vampiro.

    Todavia, estes mesmos centros suportam também muitas cousas ruins, tais quais: criminalidade, excesso de pessoas, trânsito, polícia e todo tipo de caçadores que um sobrenatural possa imaginar. Os antigos inclusive, nos dizem para nos ausentarmos o máximo possível de tais lugares, porém eu mesmo sou a prova de que o “agito” é totalmente viciante.

    Então, enquanto eu assistia a um bom filme, praticando aquele gostoso ócio, surge-me aquela tradicional presença de algum ser sobrenatural. De início devido à distância do fulano eu não soube definir o que era. Porém, à medida que ficava mais próximo eu soube com exatidão que era um Wampir e a cada segundo a mais que passava algo me dizia que era provavelmente um conhecido.

    Sabe aqueles momentos em que você não espera visitas, não agendou nada e ainda por cima quer curtir uma noite de sossego fazendo o simples “nada”? Calma, isso ainda vai piorar… Já apostos e preparado para o que pudesse surgir, sinto o tal Wampir perto do prédio. Aparentemente é apenas a sensação da presença e nada físico ou audível surge aos meus sentidos aguçados.

    Certamente, algum poder estava sendo utilizado e antes que pudesse ser surpreendido, parti para um dos quartos, onde noites atrás eu havia guardado a “caixa”. Esta nada mais é do que uma caixa de madeira, tratada de forma hermética e onde guardo algumas poções, amuletos e demais utilidades que a vida sobrenatural me obrigou a colecionar.

    Confesso que ser surpreendido nunca é bom, mas rapidamente liguei alguns fatos e lembrei com precisão das aulas que tive com o falecido Joseph (saudades do Zé) sobre invisibilidade. Inclusive, achei um saquinho de tecido onde ele havia escrito algumas palavras e eu outras por cima: “Apenas dois poderes avec une réelle visibilité, estes somente les vieillards dominavam. Juste au cas ou autre sempre tenha consigo algumas feuilles des lespedezioides para a magia…”.

    Daquele instante em diante, minha noite de calmaria virou o mais absoluto caos. Alguns objetos da sala começaram a levitar, outros simplesmente caiam ao chão e até mesmo as cortinas balançavam sem o sopro de qualquer vento. Fatos que me puseram a preparar uma anti-magia. Concentrei-me enquanto mascava as folhas de lespedezioides e com o punhal ritualístico cortei a palma da mão esquerda. Misturei a pasta com o sangue e disse as palavras mágicas… Silêncio… Tudo imóvel e calmo novamente, mas por pouco tempo. Segundos depois sou surpreendido por um novo barulho do lado de fora, daqueles onde algo grande cai e se espatifa ao chão.

    Sendo minha curiosidade algo tão evidente, eu não me contive e fui rapidamente a janela ver o que era. Imagine a minha surpresa ao ver Letícia, a vampira ruiva, imóvel ao chão. Por sorte ela havia caído num gramado escuro e oculto do jardim lateral, o que facilitou o seu “resgate”.

    Uma coisa é a Julie ou a Beth com suas brincadeirinhas, outra é uma novata vindo desrespeitar o meu doce lar. Confesso que a minha vontade naquele instante era de deixá-la no quintal para que o sol levasse a sua alma para o inferno, mas seria complicado explicar tudo para o seu mestre. Então, por via das dúvidas acabei levando-a para o apartamento onde ela dormiu por mais uma noite e dois dias.

    Existem poucas regras em nosso mundo, mas certamente brincar com um vampiro mais velho pode até mesmo ser punido com a morte final. Sinceramente, mesmo depois de ela ter dito que tudo não passava de uma brincadeira, eu ainda tive vontade de perfurar cada uma de suas unhas com várias agulhas. Todavia, pensando na aliança entre nossos clãs, mandei-a de volta ao seu criador. Ao menos por uns tempos não verei a cara da infeliz.

    Obviamente aqui estou eu vendo os classificados de imóveis…

  • A vampira ruiva

    A vampira ruiva

    Hoje começarei a contar sobre uma nova “personagem”, confesso que ainda nos dias de hoje e depois de quase cinco anos de site, me é estranho chamar meus amigos e conhecidos de personagens. Todavia, como sempre, isso se faz necessário para ocultar nossas reais identidades. Portanto, hoje falarei de Letícia…

    Assim como Stephanie, Letícia também entrou em nosso mundo aqui pelo site. Porém, ao contrário da anterior, esta já havia sido transformada em Wampir há muitos anos atrás. Letícia é uma Wampir nova ou como alguns de nós apelidamos esta fase: pupillus ou simplesmente pupilo.

    Tudo começou por causa de um e-mail no qual ela se apresentou. Desde então tivemos várias conversas, que se estenderam ao telefone e dentre os quais falamos muito sobre Wampirs conhecidos em comum. Até que depois de tais confidências finalmente agendamos um “bom papo de boteco”. Sim, vocês sabem que a Bohemia é constante em nossas não vidas, sendo assim, nada melhor que um local movimentado e com boa música para fazer novos amigos.

    Mesmo com tudo agendado noites antes, tive de ir sozinho a nosso primeiro encontro, pois todos os outros estavam ocupados. Inclusive Sebatian, que há semanas pesquisa para mim um feitiço novo chamado Vita ultra modum, mas isso é outra história. Era uma noite fria destas típicas de outono no Brasil, um vento fresco pairava no ar e as estrelas convidavam qualquer um a um belo passeio. Sendo assim nem pensei duas vezes antes de sair com uma de minhas motos, aliás, estou gostando cada vez mais da minha nova moto e do silencioso “giro” de seu potente motor elétrico.

    23h00m em ponto e lá estava eu sentado a mesa de um tradicional boteco que eu frequento, é um dos negócios que tenho em sociedade com o Franz, então estava digamos seguro. Sem saber muito da aparência da garota eu fiquei lhe esperando por longos 23 minutos. Percebendo que pontualidade não era o forte da pupilo, aguardei mais alguns instantes até que finalmente percebo uma energia moderada vindo de algum lugar próximo a mim.

    Olho para os lados e como toda Wampir novinha lá estava à espalhafatosa ruiva, que havia deixado de lado os conselhos que eu havia dado sobre vestimenta. Trajando um belo corselete verde que parecia lingerie, com calças jeans super justas e um casaquinho preto. Um belo salto a deixava com mais de 1,75 e a carregada maquiagem escura a faziam parecer uma garota de programa da Baixo Augusta.

    Com a primeira impressão deixando a desejar, só me restava aguardar que ela viesse ao meu encontro. Então dito e feito, ao menos o poder de sentir os sobrenaturais ela havia aprendido e não demorou até que parou ao lado de minha mesa. Sr. Ferdinand? – Perguntou ela – Sente-se minha querida – Disse eu ficando de pé e puxando a cadeira para que ela se acomodasse.

    Então finalmente chegastes senhorita Letícia, é um prazer tê-la aqui esta noite! – Por mais que eu me sinta incomodado com atrasos ou algo do tipo eu não consigo tratar mal uma mulher. Primeiras impressões a parte e o papo durou por longos minutos, entre uma ou outra beliscada de água para disfarçar as aparências. Nunca é fácil aceitar a companhia de novos indivíduos em nosso convívio, porém Letícia havia gerado belas expectativas. Principalmente por confessar de quem ela era pupilo e tendo em vista o renome de seu mestre.

    Noites depois Franz também quis conhecer a pupilo e me jurou de pés juntos que só conversaram… Difícil acreditar que ela não tenha experimentado os lençóis de meu irmão, porém ele está convicto que ela pode andar mais vezes conosco. Independente do que eles tenham feito, imagino que ele tenha lido a mente da ruivinha e visto as suas principais intenções.

    Novos aliados? Amigos? Só o destino sabe o que esse novo contato irá nos trazer…