Autor: (w) Rebecca W. Erner

  • A Vingança de Rebecca – Parte II

    A Vingança de Rebecca – Parte II

    Eu acabei recordando o tempo em que era apaixonada pelo único professor de Francês que tive na adolescência, sempre tinha apenas professoras, até descobrir que ele era um psicopata, mas isso é outra longa história… E naquele momento, eu ainda não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Observei o que acontecia por alguns minutos, pensando no que faria em seguida, de que forma reagiria quando percebessem minha presença.

    Recostei-me na porta e olhando para minhas unhas, falei com desdém:

    – Meu querido Senhor, por que não me chamou para a festa? Vejo que realmente é insaciável, depois da noite que tivemos…

    Ele não se surpreendeu quando o encontrei com duas vadias na cama do meu quarto, que eu nem sei de onde vieram. Eu sei que no mundo de alguns vampiros essas coisas pareciam comuns, mas ele sabia que aquilo naquele momento me provocaria e até me machucaria, e era exatamente esse o propósito. Então, reagi de uma forma que nem eu mesma imaginava.  Aproximei-me das duas garotas. Estava decidida a não deixá-lo conseguir o que queria. Eu não reagiria feito uma moça iludida. Então, o provoquei como se estivesse gostando de senti-las me tocando, querendo participar da tal “festinha”. O surpreendi quando fiz parecer que até beijaria uma delas. Foi quando comecei a gargalhar nervosamente, mas de maneira estranha, digamos, demoníaca. Passei as mãos sobre os cabelos delas, e olhei bem o rosto de cada uma. Também eram jovens, bonitas. Olhei para Sr. Erner. O que será que ele pensava ou via em mim naquele momento? Queria também poder saber o que havia em sua mente. Desci minhas mãos até o pescoço das duas e sufocando-as senti que perdia o controle. Minhas unhas compridas apertaram ambas com tamanha fúria que acabei cortando a garganta de ambas. Seus corpos caíram como sacos no chão esvaindo-se…

    Silêncio. Suor. Sangue nas mãos. De onde havia surgido tanta força? Ele olhava para mim sarcasticamente, mas estava nervoso.

    Eu havia matado pela primeira vez.

  • A Vingança de Rebecca – Parte I

    A Vingança de Rebecca – Parte I

    Ao revirar e relatar meu passado, muitas lembranças vieram à tona. Tenho tentado contar tudo de maneira mais fiel e resumida possivel, mas claro que, muitos acontecimentos se seguiram, e, ainda trarei muitos relatos sobre os longos e confusos anos que vivi junto a Sr. Erner, um ser totalmente frio e manipulador.  Mesmo que eu tenha o amado de certa forma, eu sentia algo muito maior: ódio. Então, avançando um pouco no tempo, relatarei como consegui minha vingança, me libertando das garras calculistas e doentes de Thomas Erner.

    Por longos minutos, fiquei observando-o. Dormia de olhos abertos. Era estranho. Mas, por outro lado, seu corpo me chamava muito à atenção. Era forte. Mesmo dormindo daquela forma horripilante, seu rosto possuía traços bem marcados, tinha a aparência jovem, mas era excêntrico. Nariz fino, olhos escuros. Cabelos ondulados. Mantinha a expressão sempre séria. Era ríspido e… Sedutor. Lembrei do ocorrido nas últimas horas e imaginei novas situações. Havia sido uma noite incrível, realmente.  Ainda conseguia sentir suas mãos pesadas sobre meu corpo. Por um momento ri ao ver a situação do quarto. Mas, dentro de mim, ainda havia uma tempestade de emoções e oscilações de sentimentos. Senti-me orgulhosa por ter conseguido vencer meus medos, e desafiado aquele a quem eu temia e… Obtido êxito. Além disso, já não me reconhecia em alguns momentos. Eu estava diferente. Em meus pensamentos planejava coisas terríveis que não eram do meu feitio. Sentia amor e atração por aquela criatura, mas ao mesmo tempo, desejava a ele as piores e mais insanas dores e sofrimentos, eu queria vingança, esquecendo-me de que talvez ele estivesse vendo todos esses planos da minha mente. Vesti-me, recolhi os manuscritos e diários que havia deixado cair no chão. Ele continuava dormindo. Desci até a sala. E passei horas lendo e relendo todos os documentos…

    Em certo ponto, o silêncio e a calmaria pareceram-me estranhos demais. Para mim quando tudo estava quieto era porque algo aconteceria. Caminhei até um espelho, meu rosto pálido, olhos fundos e escuros. Quem eu era naquele instante? Perdida em meus pensamentos sobre o que havia vivido até aquela noite, ouvi barulhos estranhos de gemido. Parei e prestei atenção no som. Como sempre, minha curiosidade era imensa. Caminhei em direção ao tal barulho.

    Ao abrir a porta do quarto, senti-me perplexa e enojada…

  • A Revelação: a história de Rebecca – Final

    A Revelação: a história de Rebecca – Final

    Naquele instante, olhava para o chão e para todas aquelas folhas caídas e sentia as paredes girarem e as pernas amolecerem. Senti que aquele poderia ser meu momento final no mundo. Arrepios. Não haveria o que eu pudesse fazer ou planejar para me livrar daquele homem terrível e me livrar daquela prisão maldita. Thomas Erner, era o nome dele. Um demônio manipulador. Pensei no que faria naquele momento. Não adiantava ter medo. Não havia nada a perder. Eu precisava reagir. Precisava deixar aflorar os instintos que ele atribuiu a mim. Ele perguntou-me novamente, sem tirar os olhos do chão também:

    – Me diga senhorita Rebecca. Encontrou o que precisava? Responda-me!

    Ergui minha cabeça. E então disse:

    – Realmente, encontrei. Mas, me diga você, Senhor Thomas Erner quando pretenderia me contar toda a verdade? Quando falaria que é um psicopata que me seguiu a minha vida inteira? Me diga, porque eu  fui predestinada a estar aqui? Quero saber por que sou tão diferente a esse ponto? Você tirou tudo de mim e não vai nem ao menos dizer-me por quê? Se sou igual a você agora, é melhor parar de me tratar como se eu fosse um de seus alvos a quem influencia e manipula.

    Ele não olhava para mim enquanto falava. Parecia realmente furioso e sua voz parecia não sair dele mesmo. Eu estava decidida a não deixá-lo me manipular, ou me fazer sentir medo. Estava disposta a inverter o jogo. Ainda não sabia ao certo como, mas sabia que era preciso.

    Ele ergueu a cabeça lentamente.

    – Você não deveria ter entrado lá! Eu havia lhe avisado.

    Seus olhos estavam vermelhos, arregalados. A porta estava aberta. Ele havia feito de propósito! Sua face desfigurada como se fosse atacar. Eu permaneci parada, encarando-o, disposta a enfrentá-lo. Não sei de onde veio minha coragem naquele momento, mas não pestanejei. Então, ele caminhou até mim enquanto seu rosto voltava ao normal. Então, me beijou vagarosamente, atirou-me na cama com violência e tudo o que eu me lembro do resto daquela noite, foi que quebramos o quarto inteiro…

    Continua, quem sabe…

  • A Revelação: A História de Rebecca – Parte III

    A Revelação: A História de Rebecca – Parte III

    Recolhi todos aqueles papéis do chão e li atentamente alguns trechos do que havia escrito neles, era uma história e tanto:

    “Alemanha, 1562. Foi o ano em que nasci. Sim, sou Thomas Erner. Cresci em um orfanato,mas  fugi e vaguei pelas ruas. Nela descobri o dom de manipular as pessoas e consegui tornar-me um homem rico, porém nada digno. Com 30 anos, e a beira da morte por uma terrível doença. Recebi uma visita de alguém desconhecido e… uma proposta na qual não me arrependo de ter aceitado. Teria vida eterna, mas uma vida sem alma, sem coração. Concebida pelo mal. Na qual a sede por sangue me consumiria, e a luz me queimaria. Escolhi viver na escuridão e com isso, adquirir ainda mais  poder. Eu morri e retornei a vida. Mas, retornei em forma de demônio. Um tipo de demônio na qual chamam de manipulador. Um ser da escuridão, capaz de controlar e manipular outros seres, um ser que anseia por sangue e sente prazer na dor e tortura alheia. Sou capaz de conseguir tudo o que quero!! Ainda mais agora, que conseguirei ainda mais e mais poder…”

    Virei algumas páginas aterrorizada, e….

    “Alemanha, 1928. Ela estava saindo do seu novo trabalho, não sei por que insiste em fazer algo que é de domínio dos homens… Sempre atrapalhada e ansiosa. Era assim desde pequena. Ao menos consegui atraí-la para perto. Hoje será a grande noite em que sua vida mudará. Eu já estava preparando-a com seus pesadelos, adorava brincar com sua mente enquanto dormia. Então, está tudo planejado. Irei trazê-la para mim…”

    Por alguns instantes, permaneci recostada na parede olhando para o nada. Encontrei o que precisava. Ali havia toda a história, todas as anotações sobre mim e sobre ele, agora sabia quem ele era. O pior era que aquele homem havia me observado a minha vida inteira. Desde meu nascimento, talvez, e descobrir algo assim era desconcertante. Cada passo, cada palavra, cada acontecimento. Tudo estava ali.  Ele era maluco, realmente. Por um momento, senti tanta raiva que meu desejo era destruir e quebrar tudo aquilo. Mas eu não podia. Eu vivi uma ilusão, conclui.

    Certamente, ele já sabia que eu estava lá e que descobri tudo. Peguei alguns diários e manuscritos e voltei para o quarto. Tentei deixar tudo como estava para que talvez ele não sentisse falta do que eu havia pegado. Mas, ao entrar no quarto… Ele já estava lá. Sentado em minha cama, olhando para baixo. Gelei. E deixei tudo cair no chão novamente…

    – Vejo que achou o que precisava não é mesmo?

  • A Revelação: a história de Rebecca – Parte II

    A Revelação: a história de Rebecca – Parte II

    Senti um choque terrível. Dores de cabeça. Era como se eu tivesse voltado no tempo, então eu pude ver, como em um filme acelerado, cada passo e acontecimento ao longo da minha vida, a revelação de uma história que eu tentava esquecer… Pulei da cama, assustada. Era um pesadelo horrível lembrar tudo aquilo.

    Sai do quarto, estava com fome. Mas, eu sabia que já não me alimentava de comida comum. Mais do que um pesadelo horrível, agora sentia uma fome horrível. A situação só piorava. Será que eu realmente estava sozinha naquela casa?

    Andei pela sala, cozinha, onde não havia nada em que eu pudesse satisfazer minha fome, por outras salas, pela biblioteca. Observei quadros, revirei livros, abri portas, gavetas. Subi e desci escadas, era um tédio sem fim… Então, fui para o sótão. Havia um corredor daqueles escuros e apavorantes. Ao longo do corredor, portas de ferro, como uma prisão antiga. Mas, não havia nada, nem ninguém ali. Lembrei do que aquele homem ainda desconhecido havia falado:

    -“Cuidado com o que mexer e com aonde vai, posso estar fora por uns dias, mas saberei exatamente sobre todos os seus passos.”

    Mas, sim. Eu era teimosa, e curiosa. E já tinha enfrentando todo tipo de dor e tortura possivel. O que mais tinha a perder? Continuei caminhando até o fim do corredor. Parecia o cenário de um filme de terror desses criados atualmente, e, se já existissem certos filmes na época, com certeza imaginaria uma menina possuída aparecendo na minha frente. Porém, o único ser metido a demônio naquele lugar era eu mesmo. No fim do corredor, havia uma porta e, incrivelmente ela parecia ter sido esquecida aberta. Estranho, pensei. Então, entrei.

    Inicialmente parecia uma sala normal, na verdade um escritório “secreto”. Muito bem arrumado e organizado. Imaginei que ali era o local que pertencia ao meu “criador”. Talvez eu não devesse estar ali, mas estava. Observei o lugar. Frio, porém aconchegante. Estantes com livros. Mesas. Uma poltrona. Garrafas com sangue! Bebi três inteiras. Mapas e quadros muito antigos e estranhos. Imaginei então que talvez, houvesse algo naquele lugar que me ajudasse. E sim, havia. Livros. Diários. Manuscritos e muitas anotações.  Um desses “manuscritos” continha instruções para rituais que eu nem sabia para quê serviam. Mas, um dos diários em minhas mãos realmente me surpreendeu. Tontura. Pude vê-lo cair lentamente no chão…

  • A Revelação: a história de Rebecca – Parte I

    Bom inicialmente, peço desculpas aos leitores pela demora. Ferdinand entrou em contato comigo faz alguns meses, e só neste momento consegui parar para lhes contar um pouco mais sobre essa longa história. Conforme havia prometido ao meu querido Ferdinand, ai está. Espero que gostem!

    Quando senti que meu corpo recobrava a consciência novamente, mantive os olhos fechados. “- Becky… Becky!”. Minha mãe? Eu podia ouvir sua voz me chamando. Mas, eu sabia que era apenas minha imaginação, “ele” brincando com minha mente novamente, fazendo me sentir uma marionete. Afinal, eu não poderia lembrar sua voz. Nem cheguei a conhecê-la. Permiti que meus olhos abrissem. Por mais um longo tempo, permaneci olhando em direção à parede, observando todo aquele sangue que o manchava. Eu ainda podia sentir as dores, os cortes e as torturas que passei nos últimos cinco ou… vinte dias que permanecia ali? Não sabia ao certo por quanto tempo estava passando por tudo aquilo e, por quanto tempo ainda teria que suportar. Ele parecia se divertir, ao destroçar cada parte de meu corpo, esperando ele se regenerar para iniciar o processo outra vez. E eu percebia que a cada sessão, este se recuperava mais rápido. Após os processos, ele me alimentava e então, se apossava de meu corpo, fazendo com que todo o meu ódio e dores tornassem-se prazer. Um prazer que eu não tinha poder de controlar.

    Acima de tudo, minha mente oscilava em sentimentos de repugnância e atração e eu já não conseguia definir o que aquele homem era para mim. No entanto, apesar de entender o que estava acontecendo e no que eu estava me tornando, não conseguia compreender por que estava acontecendo comigo e onde tudo havia começado.  Ele me observava tentado deduzir o que eu estava pensando. Então, caminhou até onde eu estava. Jogada e encolhida, como o resto de alguma coisa. Erguendo-me, me levou para o quarto em que eu lembro ter acordado inicialmente. Em seguida, senti por alguns minutos a água quente sobre meu corpo frio, suportando suas mãos sobre mim. E após aquele banho, deitou-me na cama dizendo que era hora de descansar… Eu devo ter dormido por uma semana inteira. Ao acordar, percebi que ele permaneceu ali, sentado na poltrona ao meu lado, esperando que eu acordasse.

    -Olá, minha pequena. Não se preocupe. A pior parte do processo acabou…

    Sentando-me, perguntei lentamente:

    – Não sei se devo perguntar o que vêm daqui para frente, não é?

    -Bom, digamos que há um longo caminho. Mas, por enquanto posso dizer apenas que estarei ausente por uns dias. Não tente fugir, pois não achará o caminho de volta. Deve ter consciência que sua vida anterior acabou e que agora terá uma nova vida! A casa estará a sua disposição, mas cuidado com o que mexer e aonde vai, posso estar fora por uns dias, mas saberei exatamente sobre todos os seus passos….

    Ele saiu do quarto, sem se despedir. Não sei por qual razão esperei que se despedisse. Odiei-me por tais expectativas. Então, afundei-me no travesseiro, e na escuridão do quarto me vi uma prisioneira eterna.

     

  • O Manipulador: a história de Rebecca – Final

    O Manipulador: a história de Rebecca – Final

    Ele estava debruçado sobre mim…”Rebecca” Chamava-me.

    E eu não conseguia falar, nem me mexer. Ainda na poltrona, estava amarrada e sentia meu corpo gelado tal qual uma pedra. Minha cabeça doía e toda dor voltava como se eu ainda estivesse caída em meio às arvores. Olhei nos olhos daquele homem. Sim, ele me provocava e me desafiava. Tudo isso seria um pesadelo? Mais um daqueles na qual eu estava acostumada a ter em minhas noites de sono perturbadas? Mas não, eu estava realmente ali, sabe-se lá há quanto tempo. E essa era a única realidade. Ele começou a caminhar ao meu redor e seguindo seus movimentos com os olhos, pude perceber todo o ambiente. Tudo era escuro, úmido e terrível.

    – Vejo que está tranquila demais de acordo com suas circunstâncias. Admiro criaturas assim, observadoras, pacientes. Me instigam. Mas, devo revelar que a trouxe até aqui e brinquei com sua mente. Nada foi real, isso é real!  Também não há ninguém aqui além de mim e você. E não se preocupe com sua amiga. Acho que talvez ela nem exista… Confesso que certas coisas que fiz não são do meu feitio. Mas tenho aprendido coisas novas, mesmo com todos os meus longos anos de “não-vida” e precisava escolher alguém com seu perfil. Desejo torná-la apta para mim.

    Eu não estava entendendo o que aquela criatura queria dizer com tudo o aquilo, parecia loucura. Em meio a dores e agonias, contestei:

    – Engraçado, creio que o escolhi para mandá-lo para o inferno nesse exato momento.

    – Hahahaha. Além de tudo é ousada, ingênua e insolente. De onde achas que eu devo ter vindo? -Silêncio. – Oh, finalmente sinto cheiro de medo…

    Abri os olhos. Dores. Não podia acreditar no que via. Não havia acidente, não havia salvação. Só havia umidade, medo e podridão. E nenhuma explicação sobre como teria ido parar naquele lugar realmente. Sim, ele estava debruçado sobre mim. Sua mandíbula deslocava-se e seus dentes afiados cresciam. Seus olhos. Aqueles terríveis olhos, esbugalhados. Pavor. Medo. Dor. Porém, finalmente… Um alívio repentino. Não havia explicação. O medo surpreendentemente havia desaparecido e tornava-se uma entrega involuntária. O que repugnava, era capaz de trazer sensações inimagináveis. Silêncio. Calmaria. Encontrei-me recostada em um corpo gélido e sem vida. Com os olhos fechados sentia-me descansar em baixo das sombras. O que o destino guardava para mim? Agora parecia entender. Sim, eles existem. Mas, o que são realmente? E sim, após um longo e tortuoso processo eu ainda teria que me acostumar com a escuridão.

  • O Manipulador: a história de Rebecca – Parte IV

    O Manipulador: a história de Rebecca – Parte IV

    Durante horas, fiquei ouvindo aquele homem falar e me interrogar. E impaciente, eu tentava respondê-lo sem entrar em muitos detalhes. Mas, percebi que deveria tomar cuidado, ele era meio… Manipulador. A cada pergunta seu rosto aproximava-se mais e, ao mesmo tempo em que me repugnava me fazia sentir uma atração estranha. Mal percebi o quanto as horas haviam passado. Na verdade não sabia identificar se era dia ou noite, além disso, a todo instante insistia em encher minha taça  com bebida, mesmo eu dizendo que não bebia. Comecei a me sentir tonta, então questionei:

    – Tudo bem, o senhor parece disposto e me manter aqui. Mas, que fique bem claro que não estou com medo. Visto que não tenho outras opções, o senhor poderia ao menos me dar licença para retornar ao quarto na qual estou instalada?

    O homem fitou-me por um tempo e com um sorriso cínico, disse parecendo estranhamente animado:

    – Ah sim! Desculpe-me a indelicadeza senhorita. Deve estar cansada. Acredito que por hoje seja o suficiente. Tenha uma boa noite, e… Bons sonhos, pequena.

    E levantando-se se retirou da sala. Calafrios. Sim, ele parecia provocar-me. Nada me fazia duvidar que ele fosse o causador de tudo. Mas o que queria comigo? Voltei ao quarto, cambaleando e me sentindo ridícula por causa da bebida. “Bons sonhos, pequena” repeti, lembrando sua voz, nem pude perceber como cheguei até a cama…

    Um homem sentado em uma poltrona. Não, eu estava sentada em uma poltrona. Ao redor pessoas riam, gritavam e falavam. Levo a mão à cabeça, está sangrando. Tontura. Dores. “Aproxime-se, deve sentar-se aqui”.

    Abro os olhos e em um sobressalto acordo assustada, continuo presa naquele lugar.

  • O Manipulador: a história de Rebecca – Parte III

    O Manipulador: a história de Rebecca – Parte III

    Eu não sabia se deveria esperar alguém aparecer, ou se seria melhor continuar a procurar uma saída. Acreditava ter caminhado por muito tempo em vão. Passando por corredores, subindo e descendo escadas. Sentia-me uma prisioneira em um labirinto, e toda essa história mal explicada me deixava confusa. Então, ouvi barulhos de pratos. Corri até a sala de jantar novamente, e vi que aquela mesma senhora recolhia as coisas da mesa. Tentei segui-la para falar com ela, mas ela pareceu sumir diante dos meus olhos. Então,  ouvi risadas, e uma das portas no caminho parecia ter sido aberta.

    Nada soava agradável naquele lugar, mas mesmo assim aproximei-me. Minhas mãos suavam, mas estavam geladas. Abri a porta lentamente. Havia um homem. Estava sentado em uma poltrona, com uma taça em mãos, mas bebia sozinho. De onde tinha vindo àquelas risadas? Eu deveria estar louca.

    – Pequena, aproxime-se.

    Olhei ao redor. Estaria ele falando comigo? Ele não havia olhado para mim, porém, sabia que eu estava ali. Havia me chamado de “pequena”. Um pequeno filme passava em minha cabeça: “É hora de acordar minha pequena!” A mesma voz. Dei um passo para trás…

    – Não se preocupe. Aproxime-se. Estava aguardando a senhorita.

    Mesmo confusa e apavorada, decidi falar algo:

    – Olha… Sinto muito, mas preciso realmente ir. Agradeço ao senhor por ter me ajudado, mesmo sem saber ao certo o que aconteceu comigo. Mas… Poderia chamar a telefonista? Para que eu… Entre em contato com meus familiares… Para que venham me buscar? – Falei tentando mostrar sinceridade.

    – Querida, eu insisto. Não desejaria que eu mesmo lhe fizesse sentar aqui ao meu lado… Não se preocupe com sua “família”, aliás, que família?

    Calafrios. Como ele sabe? Sim, as coisas pareciam ficar cada vez piores, mas resolvi não complicá-las e tentar contornar a situação. Não tinha outra opção. Caminhei até uma das poltronas. Sentei e esperei. Após um longo tempo, o homem virou-se para mim. Tão branco quanto aquela senhora, e também com olhos muito escuros e familiares que pareciam ver até a minha alma, porém, com lábios mais vermelhos que o normal. Seu rosto em meio a um sorriso malicioso me apavorava mais ainda. Porém, parecia sedutor. Por mais um longo tempo permanecemos em silêncio, olhando um ao outro. E tudo foi ficando mais desconfortável, ele me analisava insistentemente. Quando finalmente disse, em meio a um sorriso entrecortado:

    – Não. Não era exatamente ai que deveria sentar-se. E sim, mais perto, por favor.

    Algo me dizia que tudo iria piorar ainda mais.

  • O Manipulador: a história de Rebecca – Parte II

    O Manipulador: a história de Rebecca – Parte II

    Acordei após um tempo, e embora de maneira lenta, semicerrei os olhos algumas vezes até recobrar a consciência. Estava em um ambiente totalmente diferente do que imaginava que iria acordar. Era um quarto grande e arejado. O sol ultrapassava as grandes cortinas feitas de cetim cor de pérola. E eu estava em uma cama, surpreendentemente aconchegante, com travesseiros feitos de plumas de ganso. Havia alguns móveis e uma poltrona, acredito que devido à tontura da qual ainda me encontrava, tive a impressão de que alguém estivesse sentado ali me observado. Mas não. Não havia nada. Nenhum som. Ninguém.

    Lembrei-me de Alice e de seus olhos. Aquela voz… Levantei, e para minha surpresa eu estava aparentemente bem, com minhas roupas limpas, sem nenhum ferimento. Seria tudo um pesadelo? Onde eu estava? Será que teria dormido por tanto tempo para estar totalmente curada? E… De quem era aquela casa? Caminhei até a porta e antes de abri-la, tentei escutar algo. Nada novamente. Então, decidi que era hora de sair dali, tudo estava muito quieto. Ao sair do quarto, deparei-me com um longo e escuro corredor. Fora do quarto parecia ser noite.

    Caminhei em direção a uma escada, desci e entrei em um ambiente que parecia uma sala de jantar. Então, finalmente alguém. Era uma senhora. Arrumava uma mesa enorme com talheres, pratos, taças e muita comida. Assustei-me quando ela percebeu minha presença, porém, ela não parecia surpresa. Pude então, ver seu rosto, claro como uma vela, e seus olhos negros como a noite. Seus cabelos desalinhados e brancos, e suas rugas mostravam-lhe certa idade, era exageradamente gorda. Então, com um sorriso pálido convidou-me para sentar e disse:

    – Minha querida sirva-se à vontade! Precisa estar bem alimentada. Se desejar, pode passar o restante do dia na biblioteca, na sala ao lado.

    Senti calafrios com aquela mulher que falava como se sua voz não saísse de si mesmo e que não me deu ao menos a chance de pedir maiores explicações, deixando-me sozinha. Então, percebi que realmente estava com muita fome e não acreditei que toda aquela mesa estava posta apenas para mim. Alimentei-me como se estivesse sem comer a dias. Em seguida, comecei a notar o quanto tudo era estranho naquela casa, e as lembranças em minha mente, faziam-me imaginar que talvez alguém tivesse me salvado. Mas, mesmo assim, me senti receosa, era meu sexto sentido, falando mais alto. Na biblioteca, encontrei folhas e tinteiro em uma estante, escrevi um recado em forma de agradecimento sem saber ao menos a quem escrevia, e mesmo que talvez estivesse sendo indelicada, decidi que era hora de ir embora.

    Havia portas e portas naquela casa, nenhuma estava aberta. Comecei a apavorar-me, estava trancada naquele lugar!

  • O Manipulador: a história de Rebecca – Parte I

    O Manipulador: a história de Rebecca – Parte I

    A Rebecca W. Erner me procurou há um tempo atrás e gostei do que ouvi dela. Portanto, nada mais justo do que liberar um espacinho para ela falar por aqui também. Espero que gostem de suas histórias!

    O Manipulador, A História de Rebecca – Parte I

    Abri os olhos. Olhei para um céu pálido e triste. Dores. Fechei os olhos. Abri os olhos novamente, e percebi árvores que cresciam sem fim e que pareciam debruçarem-se sobre mim. Tentei levantar, mas meu corpo parecia morto. Aos poucos, fui podendo fazer alguns movimentos até conseguir me recostar em um daqueles enormes troncos. Respirei fundo. Não conseguia me lembrar o que havia acontecido, e nem onde estava, percebia apenas que não era minha cama quente e macia.

    Tentei manter a calma e identificar o que havia acontecido comigo, pernas raladas e com cortes profundos que ardiam de maneira insistente. Um dos meus braços parecia estar quebrado e eu não podia nem pensar em movê-lo, e percebi que também havia cortado a cabeça, mas aparentemente, não parecia ser algo pior do que em todo o resto do meu corpo. O que havia acontecido comigo? Eu realmente preferia não lembrar ao pensar nas possibilidades. Tentei levantar, e quando finamente consegui, andei alguns metros e caí outra vez. Tive que começar esse processo de tentar sair daquele lugar várias vezes, até conseguir identificar uma luz à frente. Caminhei vagarosamente em direção a luz que parecia nunca se aproximar, até identificar que… Aquele era o meu automóvel!

    Então, eu lembrava. Lembrava de tudo. Ou quase tudo. Estava confusa. Lembrei de Alice que voltava da festa comigo. Eu não havia bebido, e voltávamos tranquilamente. Teríamos sofrido um acidente? Mas como eu havia parado em um lugar tão distante do automóvel? Alice ainda estaria lá? E então, quando me aproximei melhor, pude vê-la. Sentada no banco do carona, também tão machucada quanto eu, em seu corpo sem vida parecia dormir, até que… Seus olhos se abrem esbugalhados e, ouço uma voz aterrorizante que diz:

    – É hora de acordar minha pequena!

    Então caí novamente.