“Mamãe? Mamãe!”, “O que foi querida?”, “Não consigo dormir!”, “Lili amor… Está com medo?”, “O monstro mãe!”, “Monstros não existem querida!”, “Posso dormir com você mamãe?”, “Deite aqui pequena, mamãe lhe protege”, “Mamãe promete nunca me deixar?”, “Sempre estarei aqui Lili, sempre!”
“Oh shit!”, sento na cama em questão de segundos, recordando novamente um sonho com minha falecida mãe, essa frequência de sonhos com ela e monstros infantis está me deixando cada vez mais preocupada. Recordo de outros sonhos que tive com ela recentemente e tento ligar os fatos, mas nada se encaixa, apenas ficam vagando como peças de um quebra-cabeça incompleto.
Achei que seria apropriado tomar um banho antes de olhar meu celular e responder seres queridos, quem sabe depois sair com as meninas ou talvez passar um tempo com meu irmão de clã o Daniel. No banho pude tirar alguns minutos para espairecer enquanto sentia o toque suave da água tocar meu corpo gélido, esquecendo dos atuais eventos com Trevor, meu adorado e agora ex amado vampiro. Quem sabe até quando esta merda de briga e desentendimentos vai durar. Mas que sirva de lição para ele, talvez assim aprenda a ser menos arrogante em alguns aspectos.
Senti que era hora de sair do banho, colocar alguns dos meus trajes de sempre, quem sabe uma regata, jaqueta de couro, tênis e jeans fossem suficientes para esta noite, não estava com vontade de fazer nada muito extravagante, quem sabe apenas dar uma volta de carro, achar algum vagabundo para me alimentar, jogar conversa fora com um humano que não suspeite o que sou, ou voltar para casa e atazanar o Daniel… Opções, poucas, mas para uma vampira com o tédio cantando no peito, tais opções sempre são bem vindas.
Trajada e “arrumada”, desci as escadas do flat do Daniel, que agora era meu colega de casa e segui até a saída quando me deparo com as costas tatuadas e bem definidas do meu irmão, “Saindo Lili?”, “Não! Chegando! Claro que estou saindo Dani!”, “Ogra! Vais onde hoje?”, “Não sei, talvez me alimente e volte… Não estou na vibe de muitas aventuras…”, ” Trevor?”, “E teria outra explicação?”, “Vocês dois deveriam ser menos orgulhosos maninha”, ” Ah claro, orgulho e auto respeito, esqueceu deste detalhe?”, ” Detalhes, sempre criando obstáculos!”, ” Dani eu amo você, mas será que eu posso sair?”, ” Então Lili, maninha linda, saia e volte em duas horas…”, ” Eu posso saber por que?”, “Volte em duas horas que descobrirá numa reunião!”, “The fuck Dani?”…” Duas horas…”, “Ok DAD! Bye!”.
Confesso que sai com a curiosidade aos gritos, berrando “Mas que porra!”, na minha cabeça. Nós vampiros temos todo o tempo do mundo, mas esperar não é um dos meus dons, ainda mais sobre algum assunto que me foi jogado vagamente como uma bomba, o que será que o Daniel aprontou desta vez? Ou o que será que vem por ai para a Lilian aqui resolver? Ou ter que engolir!?
Nestas horas eu realmente tenho que dizer que ” quero correr para as montanhas”, como diz uma adorada amiga, fugir para as montanhas nestes últimos dias de total confusão para mim, seria o ideal para manter alguma sanidade na minha cabeça… Mas infelizmente eu tenho compromissos e deveres a serem cumpridos e pedir “férias” agora não era uma opção.
Ao cruzar a esquina algumas quadras de onde moro, um lugar um tanto deserto e sem muita atividade humana, ou quase nenhuma atividade humana, vejo um rapaz um tanto bêbado, tentando abordar sem muitas gentilezas uma pobre menina, que aparentava ter no máximo seus quinze anos… O rapaz sem noção tentando colocar a mão lá nas partes intimas da pobre coitada e a empurrando para a parede, claramente não estava sendo gentil ou consciente da merda que estava fazendo, a garota chorando pedindo que ele parasse, tentava empurrar o canalha em vão e ele com algum desvio mental, não parava de abusar da jovem menina. Era isso, achei minha presa, um babaca bêbado e abusador, praticamente um banquete aos meus olhos.
Eu delicada do jeito que sou (até parece), apenas empurrei o pequeno agressor que caiu no chão como uma pedra, e então pedi que a moça assustada e com o coração claramente acelerado corresse para longe dali, sem gritar, que apenas fosse embora.
O rapaz idiota redobrou a consciência e agora teria que enfrentar uma garota um pouquinho maior. Levantando com dificuldades o grande imbecil ficou parado na minha frente, “Caraca, antes era uma vadia pequena! Agora vem uma vadia do meu tamanho! Acho que vou gostar disso”, um burro abusador de garotinhas a menos no mundo, vinha em minha direção, tentou pegar um dos meus braços, oops errou, o outro braço, hummm acho que não, “Vadia você é feita do que? Vem aqui!”, caindo no chão de novo, desta vez com uma leve ajuda minha, o rapaz tentou pegar minhas pernas, em vão claro, sacudindo no chão de raiva, foi levantado por mim, minhas mãos o agarraram pelo pescoço e o ergueram no ar, ele percebeu que a vadia grandona era um tanto mais forte que ele, “Homens como você, deveriam ser torturados e banidos do mundo fisíco e sofrer punições horrendas no lugar que os humanos acreditam existir, qual mesmo o nome? Umbral?”.
Dos olhos dele transbordaram lágrimas, e em mim transbordou um sorriso, “Chorando? Fique tranquilo, que hoje você deu sorte que eu não esteja com tempo de sobra, serei rápida”. Não precisou de muito, tomei de goles o sangue daquele canalha, deixei um pouco nele, que gemia baixinho no chão, logo sem paciência alguma, quebrei-lhe o pescoço e o arrastei para uma vala, sem deixar rastros, afinal o lugar apenas me favoreceu.
Caminhei de volta para casa, agora alimentada e um pouco mais feliz, no elevador consegui até ouvir a música ambiente que tocava, era algo daquela cantora famosa e que para alguns está na moda, Lana Del Rey, uma música um tanto irônica “Born to Die” Hahaha. Mas infelizmente ao sair para o Hall de entrada do flat, consegui sentir algumas presenças dentro do lugar, além do Daniel, outros vampiros, e sim, eram antigos.
Coloquei a chave na porta e a abri, quando chego na sala e vejo, Dani, Michael e Trevor sentados no sofá olhando para mim, minha reação foi única, parada e sem por hora mencionar nada, até que Trevor finalmente falou de um jeito amigável, “Lili, nós o achamos…”. O acharam? Eu estava mesmo ouvindo isso? “Isso é real ou estou em alguma piada mistica?”, “É real Lili!…” Ok agora a coisa ficou séria, “Lili?”, “A noite só melhora!”, foram as únicas palavras que consegui falar depois da inesperada noticia.
Agora apenas me restava ir atrás e acertar algumas contas pendentes.
I’m going behind you motherfucker! 😉