Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • A bruxa sumiu – pt11

    A bruxa sumiu – pt11

    Quando você lida com seitas, grupos, clubes, associações, ou como queira chamar determinados indivíduos, que se reúnem de uma forma mais organizada. Certamente, terá uma preocupação a menos: eles próprios vão fazer de tudo para ocultar os cadáveres de seus membros e quaisquer que forem os vestígios deixados durante o evento. Ainda mais por que quem deve, teme!

    Mesmo assim saímos do lugar tentando produzir o mínimo de rastros que nos fosse possível. Fechei a conta no hotel e saímos com o único objetivo de achar um refúgio seguro, lugar no qual encontramos em um cemitério afastado do centro da cidade. Não é de hoje que vampiros escolhem este ambiente para se esconder e todos sabem da ligação intima que temos com covas, caixões ou criptas. Isso não é lenda, basta pensar na tranquilidade e proteção contra o sol, que estes lugares podem proporcionar e longe dos medrosos olhos humanos.

    Montamos um modesto escritório em uma cripta de dois andares e ao final daquela noite revisei meus passos. Pensei em tudo que possivelmente deixei passar despercebido e relacionado à Helen ou sua mãe. Diante dos fatos, escrevi algumas palavras soltas em meu Tablet e resolvi trocar algumas mensagens com Pepe. Disse ela que Eliot não havia encontrado nenhum DNA compatível com aquele dos pelos, que coletamos nas mãos de Helen. No entanto, houve uma revelação interessante o DNA era de uma fêmea. Fato que me fez chamar Hector e H2 para uma reunião do tipo “brainstorming”. Tivemos muitas ideias, mas apenas uma foi definida como plano de ação diante os fatos apresentados.

    Na noite do dia seguinte nos dividimos e cada um teve uma missão. Hector ficou na cripta vigiando nossas cousas enquanto ha2 foi atrás de um terceiro suspeito da seita e eu fui novamente a casa de Helen. Chagando próximo do local estacionei o carro um pouco longe e fui novamente em forma de névoa investigar o lugar, que para minha surpresa estava com as luzes acesas e com aparentemente algumas pessoas dentro.

    Aproximei-me da janela e lá estavam Helen, uma mulher estranha e sua tia, a tal Marie-Arthur. “Vacas!” pensei comigo e apesar da indignação continuei a observação da janela. O lugar estava muito bem arrumado, elas riam e conversavam com a melhor disposição de todas, como se fosse alguma data especial ou comemoração. Neste instante liguei alguns fatos e ao que tudo indicava inclusive pela aparência da terceira mulher, ela provavelmente era a bruxa que sumiu e mãe da infeliz que me enganou.

    Entre tanto, minhas constatações foram interrompidas abruptamente por algo que nunca me ocorreu antes e é até difícil de explicar. Algum feitiço, magia ou efeito começou a sugar minha névoa para dentro da casa. Tentei de todas as formas possíveis desfazer minha magia para voltar a qualquer forma física, mas quando dei por mim estava dentro da casa numa espécie de forma espectral entre fantasma e lobo.

    Naquele momento eu estava paralisado pela magia das bruxas e apesar do constrangimento  e indignação de não poder fazer nada, observei tudo ao redor. A Sala estava com as luzes apagadas, os móveis estavam revirados e praticamente tudo estava igual à noite em que pensei ter encontrado o corpo de Helen no porão.

    Confiei de mais em minhas teorias, não prestei a atenção em todos os fatos e possibilidades, deixei-me levar por um belo par de pernas… Fui capturado pelas bruxas!

  • A bruxa sumiu – pt10

    A bruxa sumiu – pt10

    Chegamos à casa do infeliz embalados pelo som do Strokes. Reptilia certamente nos incentivou a entrar no lugar arrebentando a porta da frente e gritando para todos os ventos a famosa frase cinema: “Mãos para o alto”. Hector imobilizou o amante, H2 partiu para cima do veterano e eu fiquei de apoio na retaguarda na expectativa, caso houvesse mais alguém ou eventuais surpresas.

    Por sorte eram apenas os dois, ambos na faixa dos 50, um pouco acima do peso e que de inicio não ofereceram nenhuma reação. Para ser honesto foram bem pacíficos e nem se manifestaram quando os amarramos nas cadeiras, deixando apenas as bocas livres para balbuciar eventuais respostas as nossas perguntas.

    Tsshhpa… Estalou o tapa de Hector na cara do tal veterano. – Desembucha, hoje tô sem paciência, anda logo! Sabe muito bem por que estamos aqui…

    – Não fala nada! Vão vir atrás da gente… – Disse o affaire do tal veterano.

    Certamente ele não sabia com quem estava lidando e convenhamos, mereceu a coronhada que o desmaiou dada por Hector.

    – Calma pessoal sem violência, vou explicar o que sei, mas por favor não nos matem… Helen é filha de nosso grão mestre e o que está acontecendo são duas ou três situações em paralelo. Nossa instituição está por todo o Brasil e estamos passando por uma renovação das lideranças regionais. Helen estava sendo cotada para ser a líder da “região 666”, a mais importante de todas. Só que alguém que disputaria isso com ela não gostou da concorrência e mandou eliminá-la.

    – E sobre a mãe dela o que tu sabes? – Perguntei.

    – Bom sobre a esposa de nosso gloriosos grão mestre (bla bla bla), ela foi raptada por uma grupo rival ao nosso, no qual temos rixas territoriais. Vocês devem saber como é isso… Eles só vão liberar o que sobrou dela, quando sairmos da “região 666” entendem o rolo?

    – Cara que merda… que merda…  – Resmungou Hector.

    H2 que até agora não havia falado nada, colocou suas mãos sobre o ombro do veterano e resmungou alguma cousa numa língua completamente desconhecida para mim. Depois disso, concentrou-se e por alguns instantes o corpo do se estremeceu. Não foi nada muito perceptível, mas suficiente para que voltasse a nossa realidade com outro semblante.

    – Este não é o teu lugar, não somos teus súditos e tu voltará de onde veio! – Disse H2 com tom de imponência, praticando alguma espécie de exorcismo no tal veterano.

    Por alguns instantes o homem balançou a cabeça, suas expressões variavam entre a alegria, a tristeza e a indagação, até que finalmente a arrogância permaneceu e ele vomitou em nossos pés… Parte do suco gástrico sujou as calças de H2, que permaneceu imóvel e alguns respingos sujaram o braço de Hector. Este de tão puto que ficou ameaçou dar um soco no veterano, mas foi interrompido abruptamente por H2 que continuou o exorcismo. Mais alguns gestos, um pouco do que parecia ser água benta e o veterano nos falando, utilizando uma voz rouca e um vocabulário de Umbanda.

    – Suncê precisa agradá pai véio, suncê qué dá reza pra pai véio e não dá pito pra pai véio? Espirito sem luz, pai véi não é… Suncê usa mandiga em pai véio, pai véio não conta mironga sem agrado!

    Nesse instante Hector pegou uma carteira de cigarros na sua mochila, acendeu um deles e colocou na boca do veterano. Na sequencia ordenou em claro e bom tom:

    – Pai véio, precisamos saber a verdade sobre a alma da bruxa Helen e por que tu desceste neste cavalo!

    Na sequencia H2 e o tal “pai véio” conversaram com mais algumas frase até que finalmente a entidade saiu do corpo e o tal veterano voltou à realidade. Extremante suado, cuspindo o cigarro e reclamando do gosto de vômito. Sua voz era diferente daquela do início da ”entrevista” e cheia de trejeitos.

    Neste momento H2 olhou para Hector e consentiu. O ex-pirata empunhou sua espada e cortou a cabeça do sujeito, o que fez seu sangue podre jorrar por todo o sofá branco. Pensei em perguntar o que faríamos com o seu amante, mas o próprio H2 tratou de se aproximar dele com uma adaga e o apunhalou seu coração sem dó nem piedade.

    Eu poderia detalhar mais tudo o que fizemos, mas o importante é que o “pai véio” confirmou a história da Helen e de sua mãe, além do fato importantíssimo de que ambas ainda estavam vivas em algum lugar de nosso plano.

  • A bruxa sumiu – pt9

    A bruxa sumiu – pt9

    – Um filho da puta pedófilo a menos no mundo, mas que podia ter reagido. Tu sabe que gosto de uma boa briga. – Comentou Franz na volta para o hotel.

    Antes de voltar, fizemos uma boa revista no lugar e não encontramos nada de importante além de todo o lixo pornográfico e objetos pessoais do suicida. Já no hotel liguei para Eliot, ele havia obtido progressos na pesquisa sobre os pelos, mas precisava de pelo menos uma semana para testes e pesquisa nos bancos de dados. Comentei do smartphone, mas sem ver pessoalmente, ele me disse que não poderia fazer muita cousa. Mesmo assim passou alguns procedimentos e conseguimos mais algumas informações soltas.

    Antes do fim desta noite decidi sair para caçar com Hector e alguns adolescentes bêbados foram o prato principal. Este perfil é sempre mais fácil de lidar, são confusos quanto  a vida, cheios de ideias, inventivos e sob efeito do álcool ou drogas saem completamente da realidade. Certamente acordaram com dores de cabeça, vermelhidão no pescoço e achando que nunca mais vão beber.

    Continuando nossa saga, o smartphone do suicida tocou assim que o sol se pôs no dia seguinte. Era um número privado e fiz questão de atender no autofalante para que Hector acompanhasse o desenrolar.

    “Espero que não tenha incomodado vosso sono diurno? É uma pena que aquele jovem tenha se sacrificado em vão, sem estar participando de algum ritual. Pois bem, que Ágares tenha um encaminhamento digno para sua alma. Vós duvidais dos poderes deles? Fiquem longe seus tolos, saiam da cidade ou o dia não será mais a única preocupação de seu estado vampiresco!”

    Após o termino da ligação o aparelho começou a pegar fogo e o soltei ao chão. Hector deu um chute e ele foi de encontro com a parede. Chamuscou um pouco o carpete e quase incendiou a cortina, mas por sorte não explodiu ou machucou mais minha mão.

    – Puta que pariu, tudo bem com tua mão? Estava demorando para estes putos aprontarem! O que acha de chamarmos Julie ou H2 para agilizar o processo?

    – Relaxa, vai regenerar rápido meu irmão. Não não Julie não… Deixa aquela sanguessuga longe disso, vou ligar para o h2…

    Liguei para h2, que sem pestanejar me disse que ia falar com Franz, mas que certamente estava a fim de exorcizar alguns demônios. Pelo que sabemos da história de H2 ele havia sido padre em uma época remota de sua vida e fazia todo o sentido que ele estivesse presente em nossas investigações.

    Minutos mais tarde Franz me mandou uma mensagem: “Cuida bem da minha cria assim como cuidei da tua…” Depois dele H2 também me respondeu por mensagem no “grupinho” do Whatsapp: “Relaxa que sei muito bem me cuidar chefes”. Trocamos mais algumas mensagens, Hector também estava no grupo e inclusive compartilhamos algumas piadinhas infames, fotos e vídeos engraçados, que descontraíram um pouco aquele momento. Afinal, não é só de aflição, morte e sangue que “vivemos”.

    Assim quem H2 chegou na noite seguinte, nos preparamos e fomos o mais rápido possível para o refúgio do próximo membro da seita a ser “entrevistado”. Desta vez alguém mais importante e tido como um dos veteranos.

  • A bruxa sumiu – pt8

    A bruxa sumiu – pt8

    Dificilmente, eu me comovo diante alguma causa, mas o que aconteceu com Helen mexeu muito com minha cabeça. Esqueça que tivemos alguns momentos mais íntimos, o que entrou em jogo depois de ver seu corpo inerte e desfigurado, foi o meu lado mais sombrio e nefasto. Um lado que nunca deveria assumir o controle de meu corpo e que certamente deixaria horrorizada minha mais nova cria.

    “Se eles querem um demônio eles terão… Pepe também ficaria chocada ao ver a casa bagunçada, por o que há de pior nos lupinos? Era muito para sua cabeça de vampira recente, será que ela daria conta do que estava acontecendo?” – Pensei comigo. Sei que ela já havia caçado junto de Franz, portanto vivenciado seus primeiros encontros com a morte humana.

    – Fê como está diante disso, te acalma. Você me disse que estava “saindo” com ela e isso não pode tirar o foco da situação. Lembra? Você mesmo disse que não podemos nos envolver emocionalmente com os investigados…

    “Essa é minha garota!” Para a minha alegria ela ficou mais preocupada com a minha reação e deixou de lado o fato de ter visto um corpo humano desfigurado, sujo de sangue coagulado e assassinado por uma besta descontrolada.

    – Todo esse sangue e essa situação são tranquilos para ti, minha querida? Quanto a mim estou bem, mas confesso que também quero fazer o sangue deles fluir…

    – Eu me alimentei antes de vir, talvez seja por isso rs… Hey olha ali, tem alguns cabelos na mão dela. Devem ser do tal lobisomem que a atacou.

    – E o que sugeres, vamos dar uma de “CSI” e procurar pelo DNA no banco de dados da polícia?

    – Claro Fê, tu não ouviu o Eliot falando outro dia, que está com acesso ao banco de dados e aos testes de DNA daquela universidade…

    Senti-me um velho naquele momento, daqueles que inclusive veem os programas dois anos depois do lançamento e dublados na TV aberta. Porém, tudo bem. Um dos motivos de eu ter transformado a Pepe era este: ter alguém jovem, deste século e com os pensamentos atualizados para me ajudar.

    Voltamos para o hotel e Pepe levou as amostras para Eliot. Na noite seguinte recebo uma ligação da recepção e era Hector, que havia chego para a captura de nossa primeira “entrevista”. Então sem me demorar arrumei uma mochila com alguns utensílios, munição extra de prata e algumas especiais com água benta. Além disso, separei num local de fácil acesso dois ou três ingredientes para anti-feitiços.

    Hector disse que estava com sua velha cimitarra de prata no carro e se “garantia” apenas com ela. Fato que agilizou nossa saída e cerca de duas horas depois chegamos perto da casa do tal “membro sênior”. Uma casa normal de subúrbio e próxima de outras, o que limitaria muito nossas ações.

    Logo na entrada percebi uma magia de proteção muito fraca e para se precaver virei névoa para dar uma vasculhada no lugar. O cidadão estava na sala assistindo tv, era algum programa de esportes e estava sozinho. Naquele lugar a magia de proteção parecia um pouco mais forte, talvez por sua presença e quando resolvi dar meia volta para avisar Hector, ele surgiu ao lado do homem no sofá.  Deve ter utilizado alguma magia de silêncio misturada com algo para invisibilidade, mas o importante é que “o cara ficou com o cú na mão”, como disse meu parceiro.

    – Se gritar feito mulherzinha ou chamar atenção dos vizinhos eu arranco tua cabeça com as mãos. O que tu sabes sobre a Helen, que foi morta ontem… Desembucha ai seu pervertido!

    Hector falou isso quando desfiz minha transformação e quando apareci junto deles os tal homem se desesperou. Tentou se levantar, tentou gritar, mas dei-lhe um tapa corretivo com as costas da mão, que inclusive o jogou de volta para o sofá.

    – Tu não ouviste? Desembucha ai o que tu sabes da Helen!!!

    Fui incisivo e vendo que não estávamos para brincadeira ele engoliu a saliva e nos disse gaguejando:

    – Não se-ei do vo-ce-cês ta-ão fala-lando…

    Nesse instante foi a vez de Hector deixar de lado a elegância e socar o estômago do infeliz. Naquele momento, ele gemeu e se contraiu para frente. Depois parou e ficou mudo como se estivesse apagado com as mãos ao rosto. Hector puxou-lhe para cima pelos cabelos e para nosso azar ele havia consumido algum veneno que estava dentro de um anel e tirou sua própria vida.

    Vasculhamos o lugar, encontramos algumas fotos em seu Tablet e para o azar deles obtivemos acesso ao grupo do Whatsapp, que por sinal compartilhava muitas fotos de pornografia, incluindo a infantil. O nojo e a revolta tomaram conta de mim naquele instante…

  • A bruxa sumiu – pt7

    A bruxa sumiu – pt7

    – Quando percebi que ia dar merda me escondi em baixo da mesa. Pow cara cê sabe que é foda ali, nego com metranca e tal, atirando pra tudo o que é lado, pirei, saca? Acho que pegaram a véia, botaram no saco e a gente pá. Fiquei ali até pararem de atirar, a mina lá… “Helen” chorando… A tia dela levou umas porrada e comigo foi o tal do terrorismo psicológico…

    Imagine uma pessoa tensa e cheia de poréns? Depois que ele me confidenciou tal momento, até era possível ver em seus olhos o porquê de seu ser tão complexado. Por que Helen era tão carente e por que sua tia estava praticamente louca. A tortura mental talvez seja uma das piores formas de terrorismo.

    Para ser sincero eu estava muito puto com o tal grupo, estava a fim de ir lá liberar meu demônio de verdade, dar uns tiros, gritar, fazer o sangue fluir… Se há algo que odeio é opressão, seja ela na forma que for. Todavia, eles possuíam poder de fogo, possíveis ligações com um demônio e vontade de fazer merda, muita merda.

    Ferdinand e agora, vais chamar o exército? Claro mancebo, vou formar a liga da justiça ou dos vingadores e ir para lá feito um americano de filme ¬¬

    Conversei com Hector, expliquei o que estava ocorrendo e montamos um plano de ação. “Um de cada vez”, disse ele no que parecia mais uma caçada serial killer, do que a resolução de um crime. No entanto, o que importa realmente é resolver um crime ou impedir que os criminosos façam novas vitimas?

    Liguei para Helen e ela me confirmou a mesma história. Fiquei de passar em sua casa, mas naquele instante com parte do negócio resolvido eu estava receoso por me envolver mais. Já disse que detesto mulheres carentes, mas ainda havia aquele pé atrás. Ou ela era boa demais ou tramava algo… Mandei Pepe vir ao meu encontro e deixei tudo planejado com Hector para irmos atrás de um dos membros. Ao todo descobrimos 11 membros oficiais e o lado serial Killer de Hector entraria em ação na noite seguinte.

    – Estou perto, vai ficar em casa hoje à noite? – Perguntei a Helen por sms.

    Ela me respondeu alguns segundos depois – Sim, quer acabar comigo de novo esta noite? – Tal resposta era muito tentadora e respondi que chegaria em até uma hora. Eu até chegaria em 10 minutos no seu refugio, porém, tendo em vista meu receio resolvi deixar o carro um pouco afastado e fui para o lugar à surdina em forma de névoa.

    Ao chegar no lugar havia uma caminhonete nova, que até onde eu sabia não pertencia a Helen e pressenti a presença de alguém sobrenatural  e estranho pelas redondezas. “Tenho certeza que senti algum peludo passar por aqui” pensei comigo.  Instantes depois em meio à mata que ficava perto da casa e do carro um quarto sujeito entrou na história. Um homem na faixa dos 60 anos e muito bem vestido de terno e gravata.

    Voltei a minha forma humana e fiquei os observando com minha audição e visão aguçados. Ambos estavam felizes, Helen estava diferente, talvez um pouco mais confiante que o normal e o sujeito estava feliz.

    – Esse problema está chegando ao fim meu amor, logo mais você vai poder sair pelo mundo novamente e quem sabe eles queiram que você assuma a liderança aqui na cidade. Apesar de tudo o vampirinho está ajudando…

    Depois de tais palavras ela apenas consentiu com a cabeça e deu um longo abraço no misterioso homem, que lhe correspondeu da mesma forma com muito carinho, embarcou no carro e foi embora. Depois que ele partiu ainda havia a presença lupina na região e isso me preocupou mais que tudo.

    Decidi dar mais uma volta na forma de névoa e depois de um tempo voltei para o carro. Helen estava sendo vigiada ou aquilo podia ser uma emboscada para mim. Resolvi então me precaver e lhe mandei uma sms dizendo que iria atrasar, mas que iria para mesmo que fosse ao final da noite. Prontamente, ela me respondeu dizendo-se triste, mas que estava com saudades e era para eu ir assim que possível.

    Peguei Pepe no aeroporto, expliquei a situação e a levei junto para caso houvesse algum perigo iminente ou surpresa. Avisei Helen, que estava chegando e estranhamente ela não me respondeu. Não percebi nenhuma presença estranha ao chegar a sua casa e ao adentrar uma nefasta surpresa.

    O corpo da bruxa estava com muitos ferimentos sobre a cama do porão. Ela vestia uma daqueles lingeries sexys e estava à beira da morte. Mal consegui sentir sua pulsação e tudo o que ela me disse antes de partir foi: “Por favor… Salve… Mmmm… Mãe…”.

  • A bruxa sumiu – pt6

    A bruxa sumiu – pt6

    “O termo amor livre tem sido utilizado desde o século XIX para descrever o movimento social que rejeita o casamento e despreza estereótipos e que acredita no amor sem posse, controle ou nome. O amor livre surgiu enquadrado no seio do movimento anarquista, em conjunto com a rejeição da interferência do Estado e da Igreja na vida e nas relações pessoais. Alguns defensores do amor livre consideravam que tanto os homens como as mulheres tinham direito ao prazer sexual, o que na era vitoriana era profundamente radical.”

    – Ferdinand tu acredita no amor livre? Nós bruxas temos muito apreço a esse tipo de conceito. Pois ninguém é dono de ninguém  e sexo é algo tão bom…

    Acho que era algo em torno de meio dia quando rolou esse papo com Helen. Tivemos uma manhã agradável envoltos nos lençóis e aquele sexo maduro tinha satisfeito as carências de ambos. Em função da transformação de Pepe eu tinha deixado minha vida pessoal de lado e Helen pelo que entendi estava a tempos sem gozar dos prazeres sexuais mundanos.

    Confesso que estava com muito sono, depois de todo o envolvimento que tivemos. Só mesmo assim eu ainda tinha uma bela pulga atrás da orelha, então deixei que ela dormisse. Lavei o rosto e me aprofundei nos livros e papeis que havia no quartinho do porão.

    Tirei algumas fotos com o celular dos materiais que achei mais interessante e isso durou praticamente a tarde inteira. Perto das 18 horas Helen acordou, percebeu que eu estava concentrado num dos livros e me provocou com uma bela felina no cio. Tivemos mais alguns momentos muito agradáveis, profanos e intensos. Durante nossas perversões ela inclusive aranhou minhas costas várias vezes, mas minha regeneração rápida tornou aquilo uma grande brincadeira, só para ela.

    Sai de lá perto das 20 horas. Ela insistiu para que eu ficasse, mas algum tempo, mas se há algo que não me apetece é mulher carente e grudenta… Voltei para o hotel e passei parte do material que havia encontrado para Eliot, cria de Hector, analisar tudo nos mínimos detalhes junto de Pepe.

    Estava tão exausto, que decidi tirar tomar um bom banho e me acabei naquela cama gigante do hotel. Próximo das 11 da manhã do dia seguinte Pepe me mandou uma sms dizendo que havia encontrado algo. Enrolei um pouco na cama, mas depois de dois tapas na cara para acordar retornei com uma ligação.

    – Fê encontrei na deep web um grupo autointitulado “Seguidores de A ”, na página deles há vídeos de rituais com invocações demoníacas, esquartejamentos humanos e muitas outras coisas bizarras. O interessante desse grupo é que eles possuem um manto encapuzado e há várias fotos dos membros posando com armas de fogo de grosso calibre.

    Tendo em vista tal descobertas meus planos sofreram grandes mudanças. Já lidei antes com grupos diabolistas, mas neste caso eles realmente possuíam ligações demoníacas e isso saia um pouco da minha alçada. Não que eu estivesse com medo, muito pelo contrário, meu lado demoníaco se excitou com a possibilidade de uma boa briga.

    Liguei para Helen, expliquei o que havia encontrado e ela me disse que os Regrados havia comentado sobre tal grupo. Todavia, não deram detalhes, apenas lhe perguntaram se ela possuía algum contato no meio deles.

    Novamente fiquei desconfiado de suas palavras e fui atrás de João. Quem sabe ele em suas loucuras, pudesse me dar alguma pista que encaixaria pelo menos algumas peças desse quebra-cabeça.

  • A bruxa sumiu – pt5

    A bruxa sumiu – pt5

    Helen possuía uma voz calma, tranquila, quase “chapada”. Sua idade, algo em torno de 30 e poucos não lhe pesava e confesso que me até me senti atraído por ela, afinal vocês sabem que tenho um fraco para bruxas loiras… Papo vai e vem, por alguns momentos eu até me perdi em mio as suas histórias ricas de detalhes, mas enfim depois de alguns minutos ela  tocou no assunto do desaparecimento de sua mãe.

    – Ferdinand, não é fácil para mim falar de mamãe, ela sempre me foi muito boa, tínhamos uma ótima relação e meu mundo virou do avesso quando ela sumiu. Na época os investigadores da policia procuraram em todos os lugares, vieram até mim com teorias loucas e até mesmo o minha casa e minhas intimidades foram reviradas por eles. Na sequencia disso eu ainda estava bastante abalada e ouve uma investigação por parte de alguns Regrados. Sabes que eles são extremamente loucos por regras e foi horrível  tudo o que eles me obrigaram a fazer. Passei uma semana inteira enclausurada numa sala escura e mal me davam água e comida. Portanto, ter de abrir essa conversa de novo contigo, depois de quase 10 anos é difícil, me entende?

    Nesse momento, o semblante dela havia se fechado, ela ainda não havia me falado nada sobre o dia fatídico, mas estava na cara que escondia algo importante…

    – Quando me lembro deles invadindo a reunião do nosso Coven, dos capuzes, dos tiros e todo aquele fogo…

    Depois dessas palavras ela desatou em lágrimas e tive pena dela e de quão ruim aquilo tudo havia acontecido para sua família. Tentei arrancar mais algumas palavras ou fatos, mas foi extremamente difícil. Comprei-lhe uma água e acabei oferecendo carona até a casa dela. Na minha cabeça eu queria apenas confortá-la e acabei dando um tiro certeiro. Ela Aceitou meu convite e fomos com meu carro para sua residência.

    Era um lugar afastado, longe do centro e bem arborizado, típico do interior e absolutamente tranquilo. Pelo que havia entendido ela morava sozinha e constatei isso ao chegarmos. Uma casinha bem amistosa, alguns gatos vieram ao nosso encontro quando chegamos e mesmo sendo tarde, próximo das 23h aceitei seu convite para entrar.

    Eu não deveria estar me envolvendo tanto com a vítima, mas havia algo a mais nela e isso excitava minha curiosidade vampiresca. Ficamos por algum tempo na sala e ela já havia desconfiado de meu lado sobrenatural. Claro que não saio dizendo para todos os ventos que sou vampiro, mas resolvi abrir o jogo com ela.

    Inicialmente ela ficou um pouco surpresa, mas depois me confidenciou que havia tido contato conosco por causa de sua mãe e até possuía um ou dois contatos no mundo dos vampiros e dos peludos. Isso abriu assunto para mais uma bela conversa que durou tempo suficiente para eu não ter mais como sair de sua casa antes do nascer do sol.

    – Pode passar o dia por aqui eu estou tão sozinha ultimamente, que um pouco de companhia irá até me fazer bem.

    “Quando a esmola é demais o santo desconfia”, não é isso que diz o ditado? Pois bem, não era minha ideia dormir na casa dela, mas resolvi dar pano para manga e deixar rolar o que tivesse que rolar. Ela bocejou a minha frente e disse:

    – Nosso papo foi tão bom, que nem vi o tempo passar. Queres que eu te apresente  oquarto de visitas ou já se apagou ao meu sofá?

    – Acho que uma cama iria fazer bem as minhas costas se não te importas…

    – Imagine, venha aqui…

    Segui-a até o quarto e estava tudo muito escuro, para minha surpresa não era um quarto mas sim uma escada que dava para um porão. Mesmo diante disso, deixei ela descer a frente e para minha surpresa havia no porão uma cama confortável, limpa e alguns livros jogados numa estante do canto.

    – Aqui é onde minha mãe costumava ficar quando me visitava. Por causa da idade ela estava com os olhos cansados e falava que aqui nesse breu se sentia mais confortável. Pode por tuas coisas no criado mudo. Eu vou tomar um banho e volto para ver se está confortável.

    Será que eu estava numa noite de sorte, será que eu deveria ser o santo desconfiado? Deixei-a ir para o banho e obviamente revirei todos os livros e coisas do lugar. Alguns deles falavam de história, outros eram apenas romances e um deles me chamou atenção. Capa de couro, folhas amareladas e algumas delas rasgadas. Dentre uma linha e outra percebi que era algum tipo de diário impresso, ou seja, a reprodução da vida de alguém. Contudo, o que me chamou muito a atenção essa uma passagem grifada:

    “…é invocado por magos ou exorcistas, pode os ensinar todas as línguas, encontrando prazer em ensinar expressões imorais, e tem o poder de fazer os espíritos da terra dançarem, assim como por inimigos em fuga usando seus animais ou abalos sísmicos.”

    Eu já havia visto essa descrição de Ágares na internet, mas ali havia mais, inclusive um ritual para invoca-lo. Algo complexo e que inclusive envolvia grande quantidade sangue humano. Mesmo com tudo o que já havia visto mundo a fora, aquilo me deixou perplexo e pensativo. Todavia, tive de parar meus pensamentos por algum tempo, Helen havia voltado e trajava uma bela lingerie preta. Percebi muitas tatuagens pequenas por todo o seu corpo torneado e mesmo com o hobby cobrindo as partes mais gostosas, percebi que não dormiria sozinho naquele dia chuvoso e frio de outono…

  • A bruxa sumiu – pt4

    A bruxa sumiu – pt4

    Quase no que parecia ser o fim de toda aquela baboseira, digo, ritual. Meu celular vibrou e ao ver que era Franz sai de imediato para atender. Obviamente, os mais fervorosos acharam um absurdo eu sair no meio da lenga lenga, digo cerimônia. Inclusive, ouvi alguns murmúrios, mas nada que me fizesse prestar tanta atenção no que estava acontecendo.

    – Acabei com tua cria, de calcinha ela é até bem gostosinha, sabia? Calma, calma, antes que me xingue, pode ficar tranquilo, pois ela está sã e salva lá na fazenda…

    – Só tu mesmo Franz, acho bom que ela esteja bem se não eu acordo “papai” e tu sabe que ele vai acordar bem puto da vida hahahaha.

    E nesse papo descontraído ele me disse que o treinamento de Pepe havia terminado, possibilitando-a agora um dos maiores dons de nosso clã, a metamorfose corpórea. Quais níveis ela havia aprendido? Eu estava tão curioso sobre a evolução de minha pequena, que larguei a investigação, subi na moto e voltei para o hotel.

    – Penélope, estou ansioso sobre teu aprendizado, conte-me tudo filha…

    – Ai Fe sabe como é o Franz, todo cheio de dedos, mas coloquei ele no lugar logo de cara e tentei aproveitar tudo o que ensinava para mim e H2. Consegui me transformar em lobo, acredita?

    Nosso papo durou por todo o restante da noite e quando dei por mim era quase dia e precisava verificar as janelas antes de tirar um cochilo. Nesta noite a investigação havia evoluído pouco e apesar da filosofias, que tentaram me empurrar goela abaixo em tal culto pseudosatanista, eu já possuía uma linha de pensamento.

    Restava agora achar a última testemunha, a filha da tal bruxa sequestrada. Pelo que consta nos relatórios ela tinha um caso com o tal Joâo e isso me preocupava, pois poderia ser tão fora da realidade quanto o pobre homem.

    “Helen, conversei com tua tia por esses dias e ela me passou teu número. Eu estou investigando os ocorridos e gostaria de falar contigo sobre o desaparecimento de tua mãe”.

    Foi à mensagem que deixei na caixa postal de seu celular. Porém dois dias e uma noite haviam se passado e ela não havia retornado, então tentei novamente e para minha surpresa fui atendido por uma bela voz  logo depois do primeiro toque.

    – Olá, desculpe não ter retornado, estava sem credito…

    Assim iniciava um papo harmonioso, onde ela me pareceu muito sã e lhe convenci a me encontrar perto de um dos teatros da cidade.

  • A bruxa sumiu – pt3

    A bruxa sumiu – pt3

    Confesso que minha curiosidade sempre aflora ao me deparar com entidades demoníacas em investigações ou histórias. Afinal, vocês sabem que eu vivo falando que tenho um lado demoníaco fato, aliás, que meus leitores antigos interpretam como mera metáfora detalhada por minha cabeça criativa.

    Todavia, não é de hoje que os demônios ou demais entidades, se fazem presentes nas histórias e desde que o homem soube de Deus, há lendas, mitos e crenças quanto aos famosos anjos ou demônios. Porém, antes que eu me perca em minhas filosofias, segue abaixo o relato de quando fui atrás da tal entidade mencionada pela velha bruxa. Saibam, que para minha surpresa havia um culto na cidade e  especificamente para aquele “anjo caído”, chamado Ágares.

    Quando se lida com esse tipo de gente é necessário abrir a mente, anotar os detalhes e deixar-se levar muitas vezes pelas lendas e sua interpretação. Como se na verdade estivéssemos num agradável bate papo entre amigos na mesa de um boteco, por exemplo…

    – Você precisa entender, que todos nós somos almas perdidas, desgarradas e abandonadas pelo criador. Lúcifer soube disso e chutou o balde, cara. Junto dele muitos outros fizeram o mesmo e criaram um novo “clube” chamado inferno. O lugar não tem nada de ruim não, muito pelo contrário, saca? Tudo foi confabulado para que nós pessoas inteligentes, não fossemos atrás dessa nova onda… Deus na verdade é um grande f.d.p.. Ele nos criou e nos abandonou. Lúcifer quer o nosso bem, cara. Só que lógico ele segue a lei da troca, saca? Tipo, se você quer algo dele, tem que dar algo pra ele também…

    E assim foi por durante boa parte da minha noite, ouvindo o satanista e seus argumentos evangélicos. Essa segunda testemunha no qual vou chamar de João Batista, não foi fácil. Sujeito maroto, daqueles tipo “dono da verdade” e que na verdade não passam de pessoas que foram extremamente doutrinadas, obviamente por alguém que com certeza sabe das reais manhas do jogo.

    Lá estava eu diante mais um João como tantos outros, que leem a bíblia e acha que Jesus realmente andou sobre as águas ou transformou tal líquido em vinho. Tive de ouvir suas teorias e ao fim de alguns minutos onde doei meu precioso tempo, finalmente surgia um nome: Arquimedes Peixoto, o líder de tal culto e provavelmente o espertinho que manipulava todos em prol de suas necessidades.

    Naquela mesma noite haveria um culto ministrado por eles e para minha sorte fui convidado por João para apreciar. De acordo com o apóstolo, eu precisaria doar apenas um pouco do meu tempo e deixar de lado tudo o que havia ouvido até então sobre o céu e inferno.

    Perto da 1h da manhã iniciava-se a missa e logo de inicio fui convidado a tomar um pouco do “suco do despertar”, servido num copo descartável de cafezinho e densamente preto. Obviamente, não o bebi e isso já deixou alguns deles de olhos sobreaviso sobre mim. Apesar disso, o rito continuou com uma música de órgão sinistra, seguida pelo desligar das luzes, acendimento das velas pretas e vermelhas e pela aparição do tal Arquimedes.

    Envolto num manto vermelho com detalhes em preto e dourado ele iniciou seu discurso, aliás, muito bem pontuado:

    – Bem-vindos a casa do verdadeiro pai, aquele que acolhe a todos sem exceção. Ele descobriu a verdade sobre a luz e quer partilhar tudo contigo. Repitam comigo: Hey Satanás, hey Satanás, hey…

  • A bruxa sumiu – pt2

    A bruxa sumiu – pt2

    Iniciei minha noite ouvindo um pouco de Heidevolk…

    “De zon wordt zwart
    In zee zinkt de aarde
    Uit de hemel vallen
    Heldere sterren
    Damp en vuur
    Dringen dooreen
    Hoog tot de hemel
    Stijgt een hete vlam”

    Marie-Arthur du Buet foi a primeira testemunha que consegui contato. Liguei falando do caso, no início ela ficou receosa, mas talvez pelo fato dela ser irmã de sangue da desaparecida, me permitiu um bate-papo num café.

    Naquela noite uma inquietante névoa solida pairava pela cidade, o vento não era frio e decidi ir de moto, pois como sabem me sinto mais livre nesse tipo de veículo. Minutos mais tarde cheguei ao café e não foi difícil reconhecer Marie-Arthur. Uma mulher de meia idade, cabelos mistos loiros com grisalhos, com olhar fixo e preocupado. Ela emanava tanta energia que qualquer sobrenatural poderia lhe reconhecer a quilômetros de distância.

    – Olá boa noite, posso me sentar senhorita Marie-Arthur?

    Ela não pareceu nenhum pouco surpresa por eu ter lhe reconhecido, na verdade até se movimentou pouco quando me sentei a sua frente. Iniciamos um diálogo e como esperado ela tinha poucas respostas, senti-me por diversas vezes num monólogo áspero e interrogativo que não levaria a lugar algum.

    Ah certo momento um motoboy passou ao longe e fez aqueles estouros, que parecem tiros de armas de fogo. Naquele instante Marie-Arthur irrequietou-se a cadeira, arregalou os olhos e disse aos sete ventos:

    – Vocês não vão destruir a ordem. Podem levar o corpo de minha irmã, mas nunca terão sua alma!!!

    Claro que todos ao nosso redor ficaram olhando e tive que dar uma improvisada.

    – São os remédios pessoal, desculpem! Marie-Arthur, quem levou o corpo de tua irmã e atirou em vocês?

    E mais uma vez ela falou para todos em claro e bom tom:

    – Um homem velho pálido, cavalgando um crocodilo e com um falcão em seu punho, Agares, é o seu nome neste mundo…

    Depois disso tive de encerrar a conversa com a bruxa, pois já havíamos chamado muita atenção. Despedi-me de Marie-Arthur e voltei para o hotel, onde passei o resto da noite pesquisando sobre a tal entidade demoníaca no qual ela havia me falado.

  • A bruxa sumiu – pt1

    A bruxa sumiu – pt1

    Passados os detalhes pós-transformação de minha querida Pepe e depois que minha forças voltaram a quase 100%, é justo que eu volte as minhas rotinas. Principalmente, no que diz respeito ao projeto “Escolhidos”, junto do ex-pirata Hector Santiago. Antes que me perguntem de Pepe, ela passará algumas semanas junto de Franz e H2, no que meu irmão chama de jam session, que na verdade será uma série de ensinamentos coletivos no qual ele tentará passar as nossas novas crias. Portanto está bem, sã e salva…

    Chegando no QG dos Escolhidos, me encontrei sozinho em meio a muitas investigações, as quais o próprio Hector não estava dando conta de investigar. Inclusive ele e Eliot estavam em campo, provavelmente verificando um dos casos. Tendo em vista, o amontoado de processos optei pelo clássico uni, duni, tê e para minha sorte encontrei um caso em que as forças ocultas estavam envolvidas em mais uma trama.

    Desta vez não haviam raptado artefatos mágicos, mas sim a própria anciã de um Coven de bruxas. Um grupo peculiar, no qual nome não posso revelar, mas que foi importante na época da ditadura brasileira. Dentre as provas encontradas pela própria policia no local do crime, havia muitos pelos de pantera negra e diversos objetos estavam arranhados. Além disso, algumas poças ou pequenos espirros de sangue espalhado pelo lugar foram analisados e nenhum deles levou os investigadores da policia, a quaisquer suspeitos cadastrados em seus bancos de dados.

    Ainda nos arquivos do processo haviam os depoimentos de três membros do grupo que foram encontrados feridos e desacordados no local do sequestro. De acordo com o que foi relatado pelo escrivão eles não falaram “nada como nada” e tudo o que se relacionava com o momento do sequestro estava embaralhado na mente deles.

    Instigado pelo crime arquivado e aparentemente sem solução aos olhos humanos, tratei de por as mãos a obra e pesquisei tudo o que a internet e a Deep web podiam me informar sobre o tal Coven. Liguei para alguns amigos e um deles me disseque o caso era de média importância para a sociedade bruxólica e que também já havia sido investigado por olhos sobrenaturais. Porém mesmo assim nada havia sido encontrado.

    Minha curiosidade estava afoita diante um processo interessante e não me custava nada dar uma espiadinha nos envolvidos. A cidade era grande e isso ajudaria a camuflar minhas investigações, só precisava juntar alguns equipamentos e deixar Hector de sobreaviso no caso de eventualidades.

    Carro com roupas e afins, carretinha com uma de minhas motos e hotel reservado…

  • Quero me transformar em vampiro – pt final

    Quero me transformar em vampiro – pt final

    Durante o dia foi possível ouvir os barulhos feitos pelo andar pesado e tenso de Penélope. Certamente, a insônia atormentara seus pensamentos no que seria seu último dia como uma simples humana. Mesmo depois de tudo o que eu fiz para tentar acalmar seus pensamentos, ela devia estar afoita, praticamente eufórica por tudo o que lhe aconteceria nas horas seguintes…

    Acordei um pouco mais cedo e colhi algumas das ervas ainda frescas e sob os primeiros raios de luz da lua cheia. “Uma bela noite para uma morte”, pensei comigo. “Quem sabe ao fim de tudo isso, um passeio de moto traga tranquilidade ao meu demônio”, continuei.

    Com a colheita minuciosa dos ramos e folhas mais viçosos, tratei de voltar para meu quarto. Onde fiquei por mais alguns instantes, polindo o mesmo cálice no qual Sebastian e eu havíamos bebido nossas primeiras gotas de sangue. Poderia eu ficar por mais algum tempo refletindo e relembrando o passado, mas fui interrompido por Pepe.

    – Falta muito para eu me transformar Fê? Nem dormi hoje… Toda minha vida foi repensada e estou mega ansiosa!!!

    – Acalma-te pequena, mais alguns minutinhos e Sebastian vai te chamar lá para fora.

    Juntei tudo o que precisava e depois de uns minutos fui para o quintal onde preparei o círculo, acendi cada vela e posicionei todos os elementos em seus lugares com a precisão de uma bússola. Tal qual havia escrito num dos manuscritos de meu mestre Georg. Em seguida mandei chamar Pepe e junto dela vieram todos os outros.

    – Irmãos e irmãs hoje é um momento muito especial para mim, pois como vós sabeis é com o máximo orgulho que Penélope entrará para nosso clã. Como sabeis faremos o ritual tradicional, que será seguido pela renovação de nossos laços familiares, onde cada um de vós compartilhará algumas gotas de seu precioso sangue. (pausa) Franz, nosso ancião em atividade, tratará das honras assim que minha alma se unir a de Penélope. (pausa) Portanto sem mais delonga, Penélope, aproxime-se do centro do círculo. Sebastian, o cálice com as ervas, por favor.

    Após o comunicado dei inicio ao ritual, onde as palavras certas foram ditas e fizeram o silêncio tomar conta de tudo. com o punhal consagrado cortei meu pulso esquerdo e derramei sangue suficiente para um gole. Outras palavras precisaram ser ditas para entorpecer a animalidade corpórea da alma e enfim o juízo acalentou seu corpo nu ruborizado. Sussurrei ao pé de seu ouvido direito aquilo que nunca devia ser dito… Finalmente aflorei minhas presas sem dó ou piedade e mordi com toda minha força seu pescoço pela última vez humano.

    “Este é o sangue da eterna aliança…” Beba dele todo e sinta o verdadeiro poder dos deuses!

    O corpo de Pepe morreu…

    Vi e senti todas as lembranças de Penélope como se fossem as minhas. Suas alegrias, seus sentimentos maia intensos e suas dores. Parte de minha energia vagou para seu corpo como um raio que penetra a terra. Concentrei-me para não cair e por ali fiquei de joelhos ao chão na expectativa do retorno da alma de minha nova cria ao seu corpo.

    Franz continuou o ritual…