Tag: criança

  • Na cama com Eleonor

    Na cama com Eleonor

    A noite de segunda foi um tanto quanto diferente do que eu imaginava. Primeiro foi Eleonor que acordou um pouco mais carinhosa do que o normal, inclusive me dando um abraço de boa noite, cousa que ela já não fazia há tempos. Sei que para alguns vai parecer estranho, mas independente de às vezes acontecer algo a mais entre ela, Franz e eu. Há na verdade muita amizade, muitas histórias e por que não, muito amor entre nós todos.

    Isto, aliás, é algo que vai além dos laços de sangue entre as crias de um mesmo mestre. Muitas décadas ou séculos de convivência acaba por nos fazer gostar da presença um do outro.  Detalhes a parte e depois que trocamos algumas palavras, foi à vez da segunda surpresa da noite, a pequena filha de Stephanie que tal qual sua nova “mãe” também me me deu um longo abraço: “Oiiiiii tio Fe”.

    Confesso que Eleonor fazendo o que fez, nem mexeu muito comigo, mas a pequenina humana de olhos grandes me fez parar alguns instantes e ver a situação de outra forma. Chamem isso como quiser, mas cheguei a pensar como seria ter um filho… Alguém crescendo, alguém aprendendo, alguém percebendo as mudanças do mundo e compartilhando-as comigo.

    Em seguida eu já havia assumido meu lugar ao sofá e apreciava um bom filme de comédia, quando Franz adentrou a casa e também fora agraciado por um longo abraço de Eleonor. A pequena estava ao meu lado e quando o viu também foi lhe dar um abraço. O que será que elas têm hoje, pensei comigo…  Porém, meus pensamentos foram interrompidos quando logo atrás de meu irmão surgiu uma loirinha de aparência tímida.

    A jovem realmente era tímida e percebi isso quando ele a apresentou: “Esta é Gizella, a nova tutora da pequena”. Diante tais palavras me acenei e lhe dei boa noite, Eleonor deu um beijo no rosto da garota e depois disso a Ghoul se abaixou para cumprimentar “nossa pequena”, que foi reciproca e também deu um beijo no rosto de sua nova e tímida professorinha. Um fato interessante de Gizella, além de suas bochechas coradas é francesa. Sim, tive uma súbita excitação ao ouvir seu acanhado “Bonjour messieurs, comment allez-vous ce soir?”.

    – Seu safado, de onde tirou esta apetitosa garota? – Foi a primeira pergunta que fiz, logo que as três foram para o quarto de Eleonor.

    – Sabe que ando sempre por muitos lugares, ao contrário de meu irmão que cada vez mais parece querer uma moradia fixa… Sabe aquela minha casa no sul? Ela apareceu por lá querendo trabalho como “garota”. Eu até vi algum potencial para os negócios nela, mas como precisávamos de uma tutora em tempo integral para a “pequena”, resolvi tirá-la daquela vida. Deve ter vindo por intercâmbio… E trate de moderar teus pensamentos predadores, eu que sou eu não toquei nela, acreditas?

    – Como os vampiros mudam não é mesmo? Hahahahaha

    E assim continuava nossa noite, entre piadas, conversas e aquelas cousas de irmãos, acredito que nisso vocês me entendam, pois não somos muito diferentes das famílias humanas? Perto das 22, Eleonor nos chamou para seu quarto. A pequena já estava dormindo, Gizella estava muito sonolenta e pediu se podia dormir também e nós três resolvemos colocar o papo em dia.

    Fazia tempo que eu não me sentia tão em casa e tranquilo com minha família…

  • Justiça?

    Justiça?

    Continuando o caso policial: Sacrifícios diabólicos…

    Desta vez não foram encontradas marcas na criança, e se não fossem as marcas de esganadura em seu frágil pescoço, muitos diriam que ela estava apenas  dormindo o sono dos inocentes. Meu ex-cunhado estava puto da vida e quando me ligou para informar de mais esta morte, ele também me perguntou se eu podia prever novamente onde que o próximo assassinato poderia acontecer. Me senti inútil dizendo que havíamos dado sorte neste, todavia, ele não se desanimou e foi a fundo na vida dos pais macabros da criança morta.

    Confesso que esse tipo de situação, além de revoltante por envolver frágeis almas infantis, também instiga a minha eterna disposição ao aprendizado do ocultismo, ou como alguns chamam, magismo. Desde quando eu praticava alguns rituais com Suellen, a descoberta por novos rituais e feitiços atiça minha alma demoníaca e eu não poderia deixar de lado este caso. Qual era o feitiço que bloqueou minha entrada no quarto daquele casal? Por que a filhinha deles fora assassinada logo depois que eu a vi? Tantas perguntas e praticamente nenhuma resposta concisa…

    Duas noites haviam se passado e nenhuma novidade de qualquer parte. Julie estava ocupada, Franz também tinha algo por fazer e só restava minha cria Sebastian. Eu não podia ir sozinho, no entanto levar alguém sem experiência de briga como minha cria podia piorar as coisas. Apesar disso relutei e liguei para o meu querido professor nerd.

    – Boa noite professor, afim de uma boa briga hoje?

    – Herr di Vittore…

    – Hahaha fazia tempo que tu não me chamavas assim, mas e ai vamos dar uma de Indiana Jones esta noite?

    – Você sabe que prefiro “viajar” nos meus livros, a fazer algo pessoalmente. Porém, diga no que posso lhe ajudar meu senhor, você é meu mestre e lhe devo minha alma.

    Detesto quando Sebastian faz esse terror psicológico, mas às vezes eu sinto que preciso tirar um pouco a poeira de seus músculos…

    – Estás no lugar de sempre? Passo ai em 5 minutos, tudo bem?

    – ok ok herr di Vittore…

    Como eu já esperava, ele não demonstrou a mínima vontade para sair de sua rotina. Porém, como eu disse antes, eu precisava de alguém e nessas horas o negócio é por o manual de regras vampirescas embaixo do braço e ir atrás de quem pode te ajudar. Mesmo que seja preciso forçar um pouco a barra, como eu quase sempre faço com o preguiçoso Sebastian. Então para economizar tempo fui de moto e cerca de uns 6 minutos depois eu estava no estacionamento de uma das bibliotecas da cidade.

    Sendo a ligação entre senhor e cria algo extremamente poderoso, eu praticamente senti a presença de Sebastian logo que tirei o capacete e olhei melhor ao meu redor. Alguns passos depois e lá estava ele com seus óculos sem grau, sua camisa xadrez, barba por fazer e tudo mais que o pudesse disfarçar em meio aqueles acadêmicos.

    Cumprimentamos-nos rapidamente e depois de alguns minutos o convenci de ir para algum lugar, a fim de vermos as possibilidades com relação ao caso. Então, fui para casa, troquei de roupas, peguei o carro e cerca de 30 minutos depois estávamos voltando a casa onde toda esta investigação, ao menos para mim, havia iniciado.

    Antes mesmo de chegar ao local, vários carros da policia passaram por nós e como nunca fui de duvidar de minha intuição resolvi ligar para o delegado. Como o telefone tocou várias vezes e eu não tinha o contato de sua delegacia, eu apenas resolvi continuar nossa incursão. Já próximos do lugar, havia uma barreira policial e sim, os carros que passaram por nós faziam um cerco na tal casa, que visitamos outrora.

    Estacionei o carro a poucos metros do lugar, mas o meu telefone tocou em quanto pensávamos no que fazer. Era o irmão de Beth, contando que o tal pai da garota havia confessado o crime. Ele não resistiu e depois de ver as fotos de sua filhinha morta, disse que se arrependeu do que havia feito e que aquilo precisava parar. Dedurando em seguida todo o restante do grupo (culto).

    Confesso que para mim o crime contra crianças é algo imperdoável e eu queria muito por minhas presas no pescoço daquele infeliz. Me diga leitor, que justiça será feita apenas pondo tal assassino atrás das grades? Se ao menos esses marginais vagabundos trabalhassem ou fizessem algo de útil a sociedade… Humanos brasileiros e suas leis idiotas…

  • Morte versus amor:  Aviso!

    Morte versus amor: Aviso!

    Hoje a minha querida Beth estão fora de casa e irá ficar por pelo menos um tempo até que sua família fique bem.  O tio da Beth foi acometido por um câncer há uns cinco anos, conseguiu se recuperar, fez transplante de rins, mas desde quinta passada acabou entrando em coma em função de uma pneumonia. Esta pneumonia foi muito cruel e o levou ao falecimento ontem pela manhã.

    É um momento de dor para toda a família da Beth e me dói muito não poder estar perto dela para lhe confortar, haja vista que ele lhe era praticamente um pai.

    A morte já é minha parceira a muitos anos, confesso que as vezes acho que já me acostumei com essa parceria. No entanto, é nesses momentos em que a dona morte rompe o amor entre as pessoas que eu vejo como ela pode ser cruel, com todos sem exceção.

    Outro dia inclusive me perguntaram se um dia eu transformaria a Beth. Já pensei nisso, mas é algo extremamente complexo, afinal eu seria como a morte e romperia novamente o fluxo normal da vida.

    Tem gente que acha que ser vampiro é fácil, mas sempre se esquece de que isso não é uma brincadeira de criança…

    Quem dera eu pudesse não me apaixonar, quem eu não tivesse de ser o carrasco que precisa escolher quem vive ou quem se vai. Quem dera um dia eu fosse mortal de novo…

    Odeio quem quer essa maldição pra si e não tenho piedade nenhuma em atacar quem não ama e valoriza sua própria vida. Fique atento, eu posso puxar muito mais que os teus pés a noite!

  • Progênie, por que ter uma cria?

    Progênie, por que ter uma cria?

    Olá criaturas de floripa,

    Ontem conversávamos ao som de “Him” em um boteco no centro de Floripa sobre como escolher uma boa cria. Por vezes o vampiro se torna só e esse papo de que existem mansões abandonadas povoadas por colônias de chupadores de sangue é lenda, quem diabos gosta de viver na sujeira?  Eu não posso dizer a quantidade certa de vampiros nesta cidade por motivos óbvios, mas é diferente do que se vê em séries como “Hellsing” e afins. Por falar em Helsing, conheci ela ontem e estou gostando muito, engraçada…

    Quanto a questão da cria é simples, você precisa conhecer um vampiro e se mostrar muito importante em sua não vida. Há quem indique que um bom vampiro é aquele que iniciou sua morte sendo transformado inicialmente em Ghoul, ou seja, não foi mordido e passou pelo “ritual” antes de beber sangue de seu mestre. Eu por exemplo, já tenho minha cria, como já disse em posts anteriores e tenho minha namorada que é minha escolhida. Um vampiro pode ter quantas crias quiser, ou quanto sua paciência permitir.

    Ter uma cria é o maior compromisso que um vampiro pode ter. Tudo que essa criança fizer é de responsabilidade de seu mestre, é preciso lembrar que para um vampiro crie outro é necessário pedir  para o seu senhor. Claro que atualmente as coisas estão um pouco diferentes. Muitos se acham no direito de sair por ai procriando, mas os últimos de que tive notícia desse ato foram punidos com escarnificação e morte da criança.

    É contra as regras transformar crianças, doentes ou ineptos em vampiros pois eles não tem opção de escolha e defesa.

    Ter uma cria dentro de um clã é ter um contrato com o ancião e com seu senhor, “caso uma “criança” pratique ações que ameacem a segurança dos outros membros a responsabilidade cairá ao seu senhor. Este deve avaliar com cuidado a sua maturidade. Se a criança tentar trair a família e ameaçar a máscara, cabe ao senhor impedi-la. Enquanto ainda for uma criança da noite, um vampiro não possui direitos, apenas deveres”. Assim prega o livro sagrado…

    Eu acredito acima de tudo no bom senso, meu clã como já disse não é tão ligado as tradições, mas elas servem por base para a sobrevivência. Em época de guerras como já existiram, essas tradições ficam de lado e a procriação se torna uma necessidade, uma segurança. Muitos clãs não respeitam as tradições e estão de lado em nossa sociedade, é desses vampiros que você deve ter medo…

  • Instinto – Parte 3

    A chibata acertava as costas do Doutor arrancando nacos de carne de suas costas. Sempre que açoitava seu mestre utilizando uma chibata de tiras de couro, com lâminas de barbear presas, Alessandra ficava impressionada com as feridas feias que provocava bem como com a velocidade que elas regeneravam nas costas do Doutor, a ponto da pele sempre parecer lisa e branca como a de uma criança de um ano de idade. Um sangue poderoso – pensou Alessandra, invejando seu senhor.

    _Um dia você conseguirá o mesmo minha menina. – disse o Doutor lendo os pensamentos de sua acólita, sabendo que isso irritava profundamente Alessandra, já que violava sua mente e invadia os confins mais secretos de sua privacidade – Por hora contente-se em bater com mais força, vamos sua pequena cadelinha! Com força!

    Alessandra reuniu toda a força de seus jovens músculos e desferiu uma chibatada brutal, que fez com que as lâminas enterrassem fundo nas costas do Doutor, que gritou em total êxtase. A dor lhe era tão reveladora!

    A dor nos é tão natural quanto a vida e a morte – repetira ele mentalmente a si mesmo, quase que como um mantra, que o Doutor entoava há quase um século de estudos – ao nascer rasgamos nossa mãe, provocando-lhe a dor do parto, ao fazer isso somos expostos ao mundo, a uma vida de dor, e ao morrer, a dor, nossa eterna companheira está ao nosso lado! Os humanos são tão tolos, não entendem a dor – a chibata rasgava-lhe a carne, fazendo com que pedaços da mesma grudassem na parede do cubículo sujo que eles se encontravam, o mesmo que o Doutor usara para iniciar Alessandra, pedaços estes que viravam cinzas poucos segundos depois, pois eram arrancados do corpo imortal de um morto-vivo – A dor revela!

    _A dor revela! – Gritou o Doutor – Mãe! – Clamou.

    A mente do Doutor o levou até sua infância, em uma casa de campo, na beira da estrada na Bavária. Era um casarão feito de pedra, com telhas cobertas de musgo, que pertencera à família Von Bastian desde 1815, quando o bisavô de Otto, o Doutor, comprou de um barão que utilizava a residência como casa de campo. Mas o ano que o doutor foi remetido foi o ano de 1920, e logo veio em sua mente os gritos de Hirma Von Bastian, sua mãe.

    _Otto! Venha cá, agora! – Ouviu o pequeno Otto, sentindo os pêlos de sua nuca arrepiarem, tal qual um cervo ao ouvir o uivo noturno de um lobo.

    Em sua mente, o Doutor podia visualizar com perfeição o quarto de orações de Hirma, uma saleta escura, iluminada debilmente por velas grandes e pesadas, que Hirma gastava uma boa quantia em dinheiro para mantê-las. Diante de uma pesada imagem da Santa Cruz encontrava-se Hirma, o corpo imenso e gordo como um barril, o vestido velho de onde brotavam pedaços de carne e gordura, os cabelos louros e secos como palha, uma verruga bulbosa na bochecha esquerda, de onde brotavam um ou dois fios de pêlos duros, de fato, a mãe do Doutor estava longe de ser uma beldade, na verdade ela mais parecia o fruto de um pesadelo infantil, e talvez até mesmo fosse. Mas fora Hirma quem iniciara o Doutor em seu tormento, e por isso ele lhe era grato, foi a gratidão e não o ódio que guiara o bisturi do Doutor na garganta velha de sua mãe, anos mais tarde. E por essa gratidão, Otto achava que a mãe era a criatura mais adorável de Deus, um anjo.

    _Sim, mãe? – Disse Otto, relutante ao se ajoelhar do lado da mãe.

    _Varreu todos os quartos? – Perguntou Hirma.

    _Sim senhora… – Respondeu Otto.

    _Trouxe a lenha do depósito para a cozinha?

    _Sim senhora… – Respondeu o Doutor, acariciando suas mãos esfoladas, e lembrando do frio que sentiu por ficar a manhã inteira caminhando na neve, trazendo lenha para aquecer a casa, um trabalho que seu irmão mais velho certamente teria feito mais rápido, mas Hirma insistia que Otto, o caçula, fosse o único a trabalhar na casa.

    _Sua irmã me disse que não trouxe lenha o suficiente… Quer que eu e seus irmãos morramos de frio aqui dentro, Ottinho? – Perguntou Hirma de forma delicada, se Otto não carregasse várias marcas das surras da mãe ele até não teria percebido o tom de ameaça lupina que havia no diminutivo de seu nome.

    _Eu carreguei a manhã inteira mamãe, e a senhora disse para eu varrer a… – Defendeu-se Otto, mas teve seu argumento interrompido pelo violento tapa de irmã, que pegou Otto de surpresa arremessando-o contra o chão.

    _Seu bastardinho desgraçado! Cria do excremento de Satã! Quer matar sua mãe e seus irmãos de frio seu sodomitazinho? Baixe as calças agora, vou te ensinar uma lição! – Gritou Hirma em uma explosão de fúria, no intuito de disciplinar o amado filho.

    Otto arriou as calças velhas e reclinou-se sobre o pequeno altar de velas de Hirma, o menino fechou bem os olhos e mordeu a língua, as lágrimas já vertendo dos olhos antes mesmo que Hirma desferisse o primeiro golpe. Hirma levantou de forma dolorosa seu corpo pesado, dirigiu-se até um altar secundário onde a bíblia sagrada repousava e onde o retrato de Hans Von Bastian, o pai de Otto, soldado morto no dever, ocupava posição de honra. Abrindo uma gaveta Hirma retirou uma haste de madeira onde na ponta pequenas tiras de couro prendiam galhos secos da planta coroa de cristo, com seus espinhos compridos, muitos deles já com manchas de sangue velho, do garoto.

    _Você é um pecador miserável Ottinho, você não me deixa escolha, senão lhe punir. Tentar matar sua mãe e seus irmãos de frio! Foi isso que você aprendeu Ottinho? – Disse Hirma aproximando-se do filho.

    _Não mamãe! Não! Por favor… – Implorou Otto, então com seis anos de idade…