Tag: festa

  • Os mortos não voltam – Parte V

    Os mortos não voltam – Parte V

    A música tocava alto demais para meus ouvidos sensíveis, e apesar de conseguir controlar isso, naquela noite eu estava extremamente desnorteada. Olhava ao redor procurando alguém com quem pudesse conversar. Alguém que fosse útil, talvez. Sophie resolveu dar uma volta com Lilian, que a todo instante perguntava se eu estava me sentindo bem, e não queria deixar-me sozinha, depois que contei os últimos acontecimentos e depois que mencionei estar com maus pressentimentos. “Relaxa um pouco e vamos nos divertir”. Sentei próxima ao balcão do barzinho e pedi uma bebida. Observando todos naquela festa, por um instante pensei que tudo aquilo era uma miserável perda de tempo. Lorenzo estava em apuros e eu estava ali, no meio daquela gente bêbada e alterada.

    – Você é daqui?

    – Oi? – Não percebi que alguém civilizado havia sentado ao meu lado.

    – Você… Nunca lhe vi por aqui. Aqui todos se conhecem…

    – Então, deve conhecer a Lilian. Vim com ela. – Falei sem olhar para ele, concentrada nas últimas gotas de meu Martini.

    – Ah sim, conheço ela de vista, Hélder, muito prazer. – Falou estendendo uma das mãos.

    Cumprimentei aquele rapaz que a principio não parecia interessante. Mas, como boa observadora que sou, percebi em seus olhos azuis outras intenções ao falar comigo. Após trocar algumas frases em meio a uma conversa desconexa, percebi que ele tinha uma tatuagem no pescoço, logo abaixo da orelha. Era um símbolo. Ele era um bruxo. Lembrei-me imediatamente do retrato de Thomas e Antoni, que por sinal, ainda estava no bolso da minha jaqueta. Minha memória visual era ótima. O símbolo tatuado naquele rapaz era o mesmo que Antoni tinha em suas mãos naquela imagem antiga. Percebi que eram do mesmo clã. Então, me perguntei se Thomas, que tinha em suas mãos o outro símbolo, o mesmo marcado na parede de meu apartamento, pertencia ao clã inimigo. Olhei para ele curiosa e ainda confusa com meus pensamentos, as peças estavam se encaixando, e acabei sendo impulsiva demais ao perguntar:

    – Você conhece algo sobre o clã de bruxos demônios? Conhece Antoni Erner?

    – Do que está falando?- perguntou surpreso, semicerrando os olhos e depois tentando disfarçar- Hahahahah, olha…acho melhor beber mais um drink, por minha conta, e vir comigo, vocês precisam esperar aqui….

    Sem entender nada, acabei tomando drinks que não devia, e havia algo na bebida que inexplicavelmente surtiu um efeito sobre mim. Não lembro como acabei indo dançar com aquele rapaz desconhecido. Mais tarde, Lilian e Sophie juntaram-se a nós estranhamente risonhas. Lembro-me que minha tensão passou por algumas horas e em alguns momentos, eu já nem sabia por que estava naquela festa. Lorenzo parecia estar ali comigo, sorrindo, dançando. Seus olhos verdes correndo sobre mim. Senti seu beijo adocicado em meio a um sorriso. De repente, uma forte dor de cabeça atingiu-me. Delirando, ouvi apenas:

    – Durma bem, minha pequena.

    Quando acordei, não sabia ao menos que horas eram. Se era noite ou se era dia. Estava zonza. Com certeza teria uma ressaca daquelas. Vi Sophie adormecida entre dois rapazes. Alguns bêbados perdidos. Encontrei-me junto a Lilian, vestindo apenas minha saia e meu sutiã. Quando dei por mim, comecei a perceber e a lembrar tudo o que havia acontecido. Caramba. A festa havia rendido. Olhei para Lilian. Nos beijamos? Pensei. Não. Foi mais do que isso. Mas havia sido bom. No momento tornou-se engraçado. Levei as mãos à cabeça. Durma bem minha pequena… Olhei ao redor. Então percebi, havia uma presença estranha e ao mesmo tempo familiar ali, nos observando.

  • Sangue frio – Pt2

    Sangue frio – Pt2

    Atenção: Conteúdo inadequado a menores de 16 anos.

    Cheguei ao encontro daquele “vampirata moderninho” seguindo o endereço indicado pelo Fê, que em algumas de nossas conversas fraternas em companhia de bons vinhos deixou-me a par dos assuntos sobre o projeto “Escolhidos” e sobre os métodos utilizados por Hector. Segundo Ferdinand, a metodologia daquele vampiro sodomita era um pouco diferente do seu, acreditando que eu certamente me identificaria com seu estilo e que, de certa forma, seria deveras interessante cumprirmos algumas missões juntos, compartilhando nossos conhecimentos sobre a arte de causar sofrimento a alguns dos porcos e infelizes seres que praticam a perversidade contra inocentes. Eu sabia claramente em qual terreno estaria pisando, e estava ansiosa, como de costume, e ao mesmo tempo excitada com tais expectativas, pois sempre gostei de bons desafios.

    Eram por volta das onze, de uma noite qualquer, quando fui recebida em sua moradia para nosso primeiro encontro. Uma festa gótica.  Fui pega de surpresa em ter que ir a tal festinha a caráter, porém, eu possuía algumas peças no carro que quebravam um galho.  Confesso que inicialmente a conversa soava estranha, como se quiséssemos intimidar um ao outro. No entanto, logo constatei que tínhamos algumas afinidades em determinados aspectos. Hector estava sentado e com meu lápis de olho na mão mostrou precisar de auxílio. E foi então, que pude observá-lo com mais detalhes. Bem de pertinho. Tinha o corpo magro, mas definido. E uma altura mediana. Seu cheiro era instigante para mim, seus olhos miúdos e negros e suas mãos com dedos longos movimentavam-se junto ao cabelo razoavelmente comprido e escuro, com enorme destreza, conforme falava. Porém, naquele momento, nos mantivemos em silêncio. Concentrada no que estava fazendo, pude sentir sua perna roçar sobre a minha. Distraído, Hector pareceu não notar que eu imaginava sobre o que eram seus pensamentos. Ficamos ali por alguns minutos imaginando-nos em cenas sórdidas e quentes.

    Deixei meu carro em sua garagem para irmos juntos e, na tal festa, conheci alguns amigos de Hector.  Mas, no final cada um foi para um lado observar o ambiente, e claro, ambos sabíamos que estávamos atentos as ações um do outro. Mordemos alguns pescoços por lá e madrugada adentro constatamos que era hora de ir embora.  Chegando, desci e escorei-me no carro.

    – Você vai ficar hospedada aqui. Podemos levar sua mala lá para cima, pequena?

    -É… Na verdade eu havia me preparado para ficar em um hotel aqui perto.

    -Não. Agora que eu a conheci, realmente quero que fique aqui por esses dias. Devo agradecer a Ferdinand pela companhia que me enviou.

    – Quer é? Hector… Eu sei no que estava pensando quando eu estava fazendo essa maquiagem sexy de corvo em você. Não precisa se preocupar com nada.

    Ele compreendeu minhas intenções e olhou para mim, sem parecer surpreso. Deu um sorriso frio e sínico de lado.

    Nem o diabo pôde prever o que houve ali. Não havia nem uma alma na rua àquela hora, e se houvesse eu não me importaria. Hector veio para mim, agarrou meus cabelos já desalinhados com força e entre uma mordiscada e outra senti meu corpo arrepiar como há muitos anos não acontecia. Sim, ele rasgou ainda mais minha meia calça, colocou minha calcinha minúscula de lado, abriu sua calça jeans preta cheia de correntes somente o suficiente para transarmos ali mesmo, prensados sobre o carro.  A cada movimento, mordíamos e bebíamos o sangue frio um do outro na qual sentíamos uma junção do orgasmo humano com o vampiresco. Arrancávamos pedaços de nossa própria carne com as unhas e quando nos acalmamos, daquela sede doentia, continuamos ali, em movimentos lentos e fortes penetrando um corpo gélido no outro o máximo que fosse possivel…

    Naquela noite, após aquela loucura toda. Ele carregou minha mala até o quarto. Tomamos um belo banho. E ainda ficamos até amanhecer bebendo e conversando. Hector me mostrou sua coleção de utensílios e bisturis, onde planejamos nossos passos para resolver um dos casos entre os diversos que havia em toda aquela papelada de processos criminais encaminhados por um aliado e amigo policial. Eu estava determinada. Por enquanto, também estava satisfeita, mas eu queria e sabia que ainda haveria de acontecer muita coisa dali pra frente.

  • Sangue frio – Pt1

    Sangue frio – Pt1

    Atenção: Conteúdo inadequado a menores de 16 anos.

    Ela surgiu numa noite qualquer, disse que estava disposta a ajudar em meus projetos e que de certa forma sentia simpatia por meus métodos. Não é sempre que a amiga de um amigo surge a tua porta e com tais intenções. Baixa estatura, esguia e se não fosse isso ainda estava  com a cabeça cheia de dúvidas e anseios, seria ela minha nova aprendiz?

    – O Fê me contou diversas histórias sobre os Escolhidos e o jeito com que vocês vão atrás dos bandidos. Ele de certa forma é bom ou bonzinho demais comparado a você, pelo que entendi…

    – Ele é justo. Todos temos um lado bom ou ruim.

    – Sim, ele já me disse isso, mas mesmo você tem um lado bom?

    – Talvez, pequena…

    Já em nossa primeira noite juntos, decidi levar Becky a uma festa diferente, onde eu testaria até onde vão os seus escrúpulos. Como era uma espécie de comemoração gótica, precisamos fazer algumas mudanças em nossa aparência. Nada demais na verdade, apenas algumas roupas, maquiagem e acessórios. Acontece que rolou um clima interessante, no momento em que ela resolveu me maquiar, estilo Corvo. Sim igual aquele do filme.

    Estava sentado e ela apareceu a minha frente de saia de couro curta, meia calça cheia de texturas e rasgos. A parte de cima do espartilho aumentou e realçou seus seios e para finalizar, ela ainda havia amarrado os cabelos lisos pretos estilo Lolita. Para ser bem sincero, ela estava bastante atraente, mas o que me chamou a atenção foi na verdade os seus procedimentos frios e calculistas.

    Olho no olho, coxa com coxa e ela começou a passar o lápis preto em meu rosto. Estava nítida sua concentração sem piscadas e como um experiente médico, que opera com muita precisão um bisturi afiadíssimo, ela desenhou todo meu rosto. Confesso que a cada traço a vontade de ser rasgado por aqueles dedos finos aumentava voluptuosamente.  Tanto que em determinados momentos eu cheguei a sentir o sangue escorrendo, o seu cheiro, o seu gosto, o seu corpo…

    “Se não fosse ela, a amiga do meu amigo, alguém de importância para o seu clã. Eu teria lhe agarrado, rasgaria ainda mais sua meia calça, colocaria sua calcinha minúscula para o lado e mandaria ver ali mesmo, com ela sentada em meu colo. Quem sabe com o mesmo bisturi, eu cortaria as amarras de seu espartilho e na sequencia morderia com força os seus seios juvenis. Depois, aproveitando todo tesão liberado por meus atos brutos e impensados. Entre uma metida ou outra, beberia com gosto vários goles de seu sangue frio e amaldiçoado. Num momento único, onde seriam combinados os dois tipos de orgasmo, que certamente só os vampiros tem o privilégio de sentir.”

    Ainda bem, que certas ações ficam apenas nos pensamentos e ao final da seção de maquiagem fomos diretamente para a tal festinha. Por lá encontramos alguns dos meus amigos e infelizmente, a pequena se entrosou com um deles. O que foi até bom na verdade, pois pude perceber seus métodos, principalmente os relacionados ao flerte e a dominação.

    O que vai acontecer depois disso? Só o diabo sabe, mas estou ansioso para ver ela usando algum bisturi da minha coleção.

    Posfácio do Ferdinand: Esse texto foi enviado por Whatsapp pelo Hector e dei uma “amenizada” antes de publicar por aqui. Diz ele que já conversou com a Becky sobre tais pensamentos e quem sabe ela mesma nos conte sua versão desse primeiro encontro entre ambos. Aguardem!

  • Girls night out – A missão– Pt4

    Girls night out – A missão– Pt4

    Primeiro eu gostaria de informar que a Pepe está sob efeito recente da transformação e é normal ela querer “puxar meu saco”. Todavia, boa parte do que ela disse pode ter vindo mesmo de seus pensamentos mais profundos e intensos. Questão que me é vista com muito carinho também.

    Como minhas queridas vampiras novatas no clã, detalharam em seus relatos anteriores, nos reunimos para um breve bate papo na forma de luau e a beira de um lago na fazenda. No qual festejamos nossas alianças e especifiquei minha vontade de estreitar nossos laços na sociedade vampiresca. Afinal, como todos bem sabem a união faz a força.

    Negócios vampirescos não são feitos apenas na base da palavra ou com contratos de papel e quase sempre se baseiam também na troca de favores. Portanto, para alguns de vocês já deve estar claro o que eu lhes pedi, mas vamos por partes e ao melhor estilo “tio Jack”.

    “Pois então minhas belas senhoritas. É sempre um prazer estar junto de vocês e preciso fazer uma pausa nesta noite de festa. Como bem sabeis nosso clã foi prejudicado recentemente por um  pilantra, que ludibriou uma de minhas Ghouls e afanou certas informações sobre uma de nossas empresa. Tal ser desprovido de inteligência, certamente não sabe onde se meteu e já que ele não utiliza sua cabeça por completo, eu desejo-a para utilizar como peso de papel.  Como eu não quero que isso se torne uma disputa entre todas vocês, eu vou premiá-las de uma mesma forma e independente de quem der o golpe final no fdp. Obviamente, além do presente, que ainda vou pensar, o clã da Lilian vai ter um favor em aberto conosco. O que proporcionará, imagino eu, um maior estreitamento de nossa amizade.”

    Diante tal pronunciamento Lilian disse que precisava da permissão de seu mestre para agir em tal empreitada, mas se mostrou muito empolgada pelo fato de poder por em prática seus estudos e treinamentos. Becky e Pepe sentiram-se felizes com a oportunidade de demostrar serviço para o clã e aquilo melhorou meu ânimo. Até então atordoado pela situação que a maldita loira havia proporcionado com sua traição.

    A transformação de Pepe havia sugado minhas energias de uma forma diferente aquela em que ocorrera com Sebastian. Ainda preciso consultar algum vampiro mais antigo para saber se fiz tudo certo, mas acredito que foi apenas uma fadiga ou stress. O importante é que aproveitei nossa festinha para voltar a frente do clã e dos negócios.

    Inclusive, estou com planos para novos investimentos e viagens. Quem sabe esteja novamente na hora de cair na estrada e conhecer novos lugares ou seres. Este ano eu resolvi me isolar do mundo, mas por que fazer isso se posso ir para todos os lados? Por que se prender em algo tendo a eternidade pela frente? Não sei as respostas para prevenir a rotina e a acomodação. Sei apenas, que eu não sirvo para ficar tanto tempo no mesmo lugar ou criar raízes como muitos preferem.

    Na noite seguinte a festa fui informado por um Ghoul que as garotas saíram cedo. Pepe inclusive havia me deixado um bilhete, que só vi depois de um belo banho quente, dizendo que me mandaria “sinais de fumaça” a cada noite e cada descoberta. Restou-me apenas seguir com os planos e desejar que o inimigo fosse apenas um cabeça oca qualquer.

    Três noites depois recebi a primeira mensagem de Pepe. Era uma gravação de voz no whatsapp cuja voz provavelmente era do meu novo inimigo:

    “Foi uma decepção enorme o fato de nenhuma cria do Exmo. Sr. Wulffdert ter vindo ao meu encontro. Por causa de tal infortúnio esclarecerei minha intenção: Manterei estas três pupilas intactas, até que vós resolveis vir buscá-las… Cuidado, posso ficar impaciente tão logo a lua nova se aproxime!”

    Liguei imediatamente para Franz e Eleonor…

  • Sensitiva, a história de Aidê – pt1

    Sensitiva, a história de Aidê – pt1

    “Tu estás ao centro, Alfredo de um lado e eu do outro. Estamos amarrados a três cadeiras presas ao chão e há muita fumaça, tem fogo em algum lugar… Tem alguém chegando… ”

    Era início do século XX e eu havia perdido completamente a noção dos dias e das noites. Confesso, tive diversas experiências inusitadas ao longo das quatro décadas que vivi no Rio de Janeiro. Porém, havia situações onde eu mal lembrava onde havia dormido ou muito menos aonde acordava.

    Foi numas destas idas e vindas que conheci Aidê. Filha de um ex-escravo com uma espanhola. Cuja combinação não seria outra se não alguém de traços marcantes e temperamento quente.

    Lembro-me de ter sentido alguma cousa me empurrando e ao abrir os olhos entendi que alguém me cutucava com uma vassoura. ”Tá vivo” ela perguntou. “Claro que não” respondi prontamente. Fato que a fez soltar uma gargalhada gostosa, daquelas que até assustam de tão espontânea. Cheguei a recuar e ao perceber minha reação ela se fechou, disse um tímido “desculpe” e voltou a varrer em outro canto.

    – Hey, sabes que horas são minha querida?

    – São quase duas da tarde sinhô.

    – Ah raios! Tens certeza que é tão cedo ainda?

    Ela me olhou estranho e ainda estava digerindo o fato de ter me encontrado usando apenas uma calça e ao chão do quarto de alimentos.

    – Calma,  é que trabalho a noite e durmo de dia…

    Tentei disfarçar, mas ela não ficou muito convencida. Ela inclusive se aproximou e soltou:

    – Desculpe-me o comentário sinhô, mas tu precisas de um bom banho e de um bom prato de feijão com arroz. Bebeu tanto, que tá até pálido… Deixa que eu vou ali no quarto ver se o patrão já acordou e trago uma camisa.

    Sem que eu pudesse dizer que não precisava ela largou a vassoura e foi-se correndo para outro cômodo. Foi neste momento que me lembrei da noite anterior e que eu estava na casa de um conhecido, chamado Alfredo. Na verdade era um ghoul de Eleonor e que havia me convidado para uma “festinha” na noite anterior. “Coitado, devia achar que eu a traria para que tirasse uma casquinha” Foi o meu pensamento.

    Depois de alguns minutos ouvi uma movimentação pelo lugar e surgia a minha frente uma garota loira usando apenas as calçolas. Ela protegia os seios com uma das mãos e na outra trazia o que pareciam ser seus outros pertences. Quando me viu ela sorriu e disse preocupada: “Meus pais vão me matar Fê”. Depois colocou um tipo de vestido e foi-se para outra parte da casa.

    Logo depois estampando um sorriso de orelha a orelha vinha Aidê com uma camisa na mão.

    – Sinhô, não sei o que fizeram na noite passada, mas tá parecendo que o patrão tá morto de morte morrida.

    – Como assim?

    – Eu entrei no quarto do patrão e ele tá sentado amuado num canto. A miúda tava na cama. Tomou um belo susto quando entrei e saiu correndo.

    – Calma, que vou lá ver! Espera aqui e se ver mais alguém na casa me chama!

    Fui para o quarto e o infeliz estava sentado no chão e pelado. A respiração estava muito fraca, mas a julgar pelas garrafas de cachaça, tinha tomado um porre daqueles. Coloque-o na cama e voltei para a sala. Onde por sorte ninguém havia aberto nenhuma janela ou porta

    Aidê estava sentada numa cadeira próxima a mesa e tomava um copo d’água. Quando me viu foi logo perguntando:

    – O patrão se foi?

    – Calma ele está bem, só bebeu um pouco além da conta ontem…

    – Ai minha nossa senhora ainda bem!

    Com o intuito de acamá-la me aproximei e coloquei uma das mãos sobre seu ombro. Foi quando inesperadamente ela se arrepiou inteira e baixou a cabeça por alguns instantes como se estivesse sentindo algo. Cerca de uns 5 segundos depois ela balançou a cabeça, empurrou rapidamente a cadeira para trás e se levantou. Fixamente ela me observou por alguns instantes e disse antes de desmaiar:

    “Tu estás ao centro, Alfredo de um lado e eu do outro. Estamos amarrados a três cadeiras presas ao chão e há muita fumaça, tem fogo em algum lugar… Tem alguém chegando… ”

  • Religião, casamento e pegas de carro

    Religião, casamento e pegas de carro

    Apesar de terem me dedurado no twitter eu acabei ignorando minha segurança e fui para Florianópolis no final de semana. Um amigo casou-se com outra amiga e como fazia muito tempo que eu não ia numa festa destas, foi então uma ótima oportunidade de rever amigos e por que não fazer contatos.

    Desde que virei vampiro eu tenho evitados templos religiosos, não por que possa me fazer mal muito pelo contrário. É que decerta forma eu andei um pouco descrente mesmo. Sim eu era muito católico quando humano, minha família inteira aliás o era, inclusive íamos a missa todos os domingos com a melhor roupa.

    Nunca vou esquecer de uma vez em que me meu irmão se escondeu no poço para não ir e depois de tanto lhe procurarmos ouvimos um barulho tipo “Tibum” e lá estava ele ensopado e morrendo de frio. Lembro que minha mãe ficou tão brava que mandou ele se secar rapidamente e fomos assim mesmo para a igreja. Nos dias seguintes ele teve febre e minha mãe ficava lhe dizendo que era punição divina…

    Mas esta minha crença na religião foi parando com o tempo, tive muitas perdas, desacreditei por várias vezes da força divina até que de uns tempos para cá depois que acordei eu comecei a rever essa questão em minha vida e digamos que estou um pouco mais crente. Talvez depois que eu tenha conhecido a Beth esta crença tenha voltado, pois ela vive me falando da Deusa.

    Já tive provas, aliás os seres sobrenaturais tal qual eu somos prova de que deve existir sim uma força divina que rege a vida e a não vida de todos que estão nestes e nos outros planos de existência.
    Pois bem deixando a questão crença de lado vou lhes contar como foi minha estadia na bela nova Desterro. Hoje em dia ela é chamada de Florianópolis, nome que muitos julgam ser uma piada de mal gosto, afinal foi praticamente imposto pelo tal Floriano Peixoto.

    Na sexta reencontrei alguns amigos em um belo papo de Boteco, onde eles me contaram como anda a região, o que tem feito e onde alguns humanos que la estavam em nossa mesa acabaram bêbados. Coisa normal hoje em dia? Antigamente também era na verdade, eu mesmo quando humano tive alguns dias de ressaca depois de belas noitadas…

    No sábado aconteceu o tal casamento dos amigos que comentei anteriormente e a cerimonia foi bem parecida com as que eu já tinha visto a muitos anos atrás, acho que o último casamento que fui foi de um casal de vampiros, cuja cerimônia havia sido ministrada por um padre vampiro. Tirando o fato de que hoje em dia as decorações são muito mais bonitas e que as pessoas não se portam mais a igreja como antigamente o resto foi tranquilo.

    Já na festa fiz muitos contatos novamente, dancei, brincamos de sujar o carro do noivo, sujamos também os noivos com muito papel higiênico rss Nem preciso dizer o quanto me diverti, e naquelas poucas horas que estive com eles até esqueci do que sou, aparentando apenas ser mais um cara de 20 e poucos que lá estava.

    Madrugada adentro e antes que o salão fosse fechado eu resolvi sair de mansinho, me despedi apenas do noivos e dos mais chegados e fui para o hotel onde fiquei hospedado. Acontece que eu estava com um carro alugado, um modelo médio preto, no qual dirigia habilidosamente até que vejo a minha frente um carro fazendo fila.

    Os carros que estavam a minha frente buzinavam e o carro simplesmente não entrava em lugar nenhum, até que os carros começaram a subir pela calçada para desviar. Quando chegou minha vez eu dei sinal, buzinei e sinceramente até podia subir no meio fio, mas decidi abrir a porta e dar um xingão “Ow cara, não tá vendo que teu carro trancou a passagem?” Nesse momento o cidadão, abaixou o vidro, E me mostrou o dedo do meio, no qual todos sabem o significado… Eu estava muito bem, havia me divertido horrores, mas aquele cara em poucos segundos tirou minha paciência. Podem achar que sou esquentadinho, mas se existe uma coisa no qual preso é pelo bom senso e educação.

    Fui em direção ao carro do cidadão, parei ao lado e falei: “Não vai tirar o carro da rua?” Ele, então me ignorou fato que me fez perder a cabeça e lhe dar um belo tapa em sua cara. Nada que fosse deixar marcas apenas algo de advertência que nem deve ter doído, sim eu tenho controle da minha força…

    Depois disso voltei para o meu carro, subi o canteiro e fui indo para o hotel. Mas para o meu prazer os caras o tal cara do carro resolveu me perseguir e começamos ali um pega que duraria alguns minutos em meio a algumas ruas de um certo bairro. Ele quase bateu no meu carro várias vezes, junto dele havia outro cara que volta e mia saia pela janela e gritava desaforos para mim e a coisa esquentou quando passamos próximos a um córrego em que eles quase caíram.

    Povo, confesso que fiquei muito tentado em acabar com a brincadeira a qualquer momento, saindo do carro e acabando com os dois mancebos sem ter piedade nenhuma. Mas a noite havia sido tão boa que ontem de madrugada eu resolvi ter piedade. Talvez a igreja ou o sermão do padre tenham reavivado, alguns sentimentos humanos no meu caráter. No entanto eu resolvi passar próximo a um posto policial. Estacionei na frente e quando eles viram que eu havia parado ali eles passaram reto por mim sem parar. Alguns guardas vieram até mim perguntar o que eu estava fazendo na garagem deles, mas eu apenas fiz de conta que estava perdido e pedi informação.

    Obviamente anotei a placa do carro, vou passar para meu cunhado e em poucos dias terei a localização e nome do proprietário, se algum dia eu estiver por Floripa novamente e estiver com fome, já saberei em que casa bater para pedir comida…

  • Mulheres, tequila e sangue

    Mulheres, tequila e sangue

    Eu juro, mas eu juro que tento ser um cara tranquilo, por vezes tento esquecer que tenho poderes e que devo tentar ter uma vida pacata fazendo coisas normais, mas ontem foi mais daqueles dias que fui obrigado a me alimentar.

    Atualmente como alguns sabem eu vivo com minha noiva, rodando pelo mundo sem ter um lugar fixo. Nós já tentamos viver pacatamente em uma casinha no campo, mas ela foi invadida e nos últimos meses precisamos cair na estrada.

    Acontece que sou um vampiro e como tal preciso de tempos em tempos me alimentar de sangue principalmente humano para não enlouquecer ou fazer barbaridades deixando meu demônio aflorar. Até que esse meu martírio tem levado mais tempo para me atazanar, mas a cada 3 semanas, com uns dias a mais ou a menos eu preciso me nutrir.

    Desta vez infelizmente não encontrei nenhum meliante, meu manjar predileto, então tive de recorrer às pessoas normais. Isso me deixa sempre ruim, pois é mais complicado, afinal preciso “mexer” na vida de uma pessoa justa, trabalhadora e quase sempre pertencente a uma família. Sem contar o fato de que terei de ir a um lugar público e possivelmente flertar.

    Nessas ocasiões procuro lugares com grandes aglomerados de pessoas e que tenham pouca iluminação, tal qual as casa noturnas ou as populares “baladas”. Obviamente vou sozinho a Beth até já quis me acompanhar mas sempre argumento que é mais seguro para ela ficar em casa, afinal se algo der errado terei mais uma coisa para me preocupar além, dos seguranças, da polícia, caçadores, bruxas, metamorfos, anjos, demônios…

    Nesta última noite de quinta para sexta, resolvi ir a uma casa de shows, dessa em que algumas mulheres fazem strip-tease e homens gastam fortunas com bebidas e sexo. Esse é sempre um ótimo lugar para encontrar bêbados que mal conseguem se manter sentados.

    Aproveitei que a noite estava limpa sem ameaça de chuva e botei a moto na estrada. Sei que já falei disso, mas andar de moto para mim tem o mesmo efeito de um calmante para um humano e sempre faço isso para dar uma boa relaxada pondo as ideias em ordem.

    O local ficava bem no centro mas as 3 da manhã foi fácil estacionar, paguei a pequena taxa de R$200,00 e adentrei o recinto. Quem já foi nesses lugares sabe que logo na entrada tu já viras alvo das periguetes, elas vêm pra cima se esfregando, nos empurrando gentilmente para uma mesa e praticamente nos obrigando a consumir algo: Bebidas ou elas mesmas.

    Como eu havia recém chegado e não conhecia o lugar me acomodei e disse para a menina que por enquanto iria apenas ver o show. Era noite da tequila, então entre algumas meninas trajando apenas sombreiros e com garrafas de tequila nas mãos eu percebi um grupinho de homens felizes engravatados. Nessas horas alguns já estavam com as gravatas na testa, outros estavam abraçados quase caindo no colo de algumas biscates e um deles me chamou atenção pela grande aliança dourada na mãe esquerda.

    Por mais que o cara não fosse um ladrão, bandido ou assassino, aquela traição me fez brilhar os olhos. Então o fitei por alguns instantes e percebi na sua ida ao banheiro uma chance de me alimentar. Observei a atentamente a minha volta, havia muitos seguranças e várias câmeras, mas o segui mesmo assim. Quando entrei no banheiro vi o cidadão em um dos mictórios e lavei as mãos em uma das pias para disfarçar. Aguardei ele se aproximar percebi que já estava meio tonto e puxei assunto:
    – Cara só gostosa aqui hoje…

    Ele começou a lavar as mãos, olhou meio de lado pra mim, levantou uma das sobrancelhas e comentou:
    – Pow veio já to meio doido, mas cê não é daqui ne? Pow cara ta usando maquiagem…

    E veio tentando colocar o dedo na minha cara. Nesse momento tive de agir rápido para não levantar suspeitas para quem estivesse vendo pela câmera e dei um passo para trás dizendo bravo:
    – Hei bicho, tá louco, tá me estranhando?

    Com a minha saída brusca para trás ele perdeu o apoio quase caiu e bateu forte com a mão em uma quina da pia. Com o impacto abriu um pequeno corte que logo corou e fez surgir o precioso líquido. Imediatamente senti minhas presas começarem a aflorar e precisei me conter. Peguei um pouco de papel higiênico, coloquei na mão do cara e disse para ele segurar apertado. Em seguida sai e voltei para mima mesa.

    Permaneci ali por mais alguns minutos, o cara do banheiro voltou para junto de seus amigos e depois de meia hora resolveram ir embora. Cheguei até a olhar em volta em busca de alguma presa fácil mas resolvi segui o mesmo Zé Mané.

    Eles saíram se despediram e cada um foi para o seu carro. Pensei então comigo: o cara já ta traindo a esposa e ainda é capaz de causar algum acidente, não é que consegui um lanche bom no fim das contas?

    Segui-o de moto por alguns minutos e quando parou em um sinal encostei do seu lado e lhe apliquei um anestésico em seu braço que estava para fora da janela. Depois de alguns segundos ele até tentou esboçar uma reação, mas não resistiu e sucumbiu em uma perfeita letargia. Encostei a moto na calçada, fui até o carro e quando ia abrir a porta vejo os faróis de um carro se aproximando. Ao passar perto vejo um casal dentro que me olham, abrem um pouco a janela e a mulher me pergunta:
    – Tudo bem?

    Eu finjo um sorrisinho de lado e digo:
    – Tudo certo minha querida, só to ajudando meu amigo que bebeu demais. Sou o motorista da rodada, fazer o que rsss.

    Ela riu, fechou o vidro e fez sinal para o namorado sair. Então eu mais que prontamente, empurrei o cara para o banco do carona, olhei em volta e estacionei perto de uma garagem, como havia película nos vidros, decidi me alimentar ali mesmo. Suguei apenas o necessário, sem o matar, lambi a ferida para cicatrizar e o deixei ali. Inclusive fui muito legal ligando para polícia informando o seu estado. Quando era quase 5 horas eu já estava em casa contando a história para a patroa…