Tag: lobo

  • Pés descalços

    Pés descalços

    França, 1857

    Estou correndo no meio da floresta.
    Essa dor de cabeça insuportável está me deixando nauseada,
    meus pés tocam o solo e quebram os galhos secos, deixando rastros.
    A dor de cabeça se intensifica a ponto de meu corpo encontrar o chão bruscamente.
    Meus braços estão feridos e sangrando por conta dos pedregulhos, meu corpo se contorce freneticamente, estou caída ao chão, rendida, a agarrar os cabelos, tamanha é a dor que sinto. Meu grito é agoniante, sinto-me arrepiar, o mundo gira ao meu redor e vejo num lampejo a lua cheia e seu sorriso sádico.
    Ouço em vários estampidos de meus ossos quebrando, cada osso, desde o maior até o menor e posso sentir a dor de cada um deles. O grito agoniante que outrora estava preso na garganta, dá lugar a um uivo seco e aterrorizador que emana ódio e eriça meus pelos.

    Garras, presas, força descomunal e uma sina.

    Não, eu nunca quis isto.

    Por que comigo?

    Tudo o que quero agora é saciar este desejo sombrio que cresce inexplicavelmente aqui dentro, no mais sombrio do meu ser.

    Sim! Num gesto, minhas presas rasgam um humano desprevenido ao meio como um naco de carne e o devoro com a fúria de um demônio. O sangue inunda minha boca e a carne está espalhada por todo o lado. Quando penso em fugir, é um pouco tarde demais.

    Os caçadores se aproximam. Tudo é muito rápido.

    Será esta minha ultima noite? Mal sei o que está acontecendo comigo. Não posso…

    Morrer.

    Eles me cercam. Cutucam-me com lanças e espetam minhas mãos com suas foices afiadas. E ateiam fogo em meu corpo. Meus urros se misturam às chamas. Ajoelhada estou a contemplar a face de cada um, e parecem gostar de estarem me torturando. Vejo o sadismo estampado na cara de cada um deles enquanto minha pele se desfaz, e meus berros dão lugar à perda de consciência.

    Meus olhos se abrem e a claridade vinda de fora os inunda, e isso incomoda. Estou no céu ou no inferno?

    Em alhures, apenas em minha cama. Tudo não passou de um pesadelo terrível e agoniante. Estou pingando de suor e a respiração não é das mais controladas, mal posso perceber que continuo berrando e paro imediatamente quando me dou conta disso.

    Recomponho-me.

    Um galho bate na janela e vou abri-la.
    O vento esvoaça meus cabelos e sim, a lua cheia, sombriamente me ilumina. Sinto um arrepio e sorrio. Ela me chama.

    Será que devo ir?

     

    Nota: Este material foi enviado pela Sue e particularmente fazia tempo que eu queria ler algo diferente sobre lobisomens. Espero que ela nos mande mais relatos como este. Ferdinand

  • Vampiros e Lobisomens…

    Vampiros e Lobisomens…

    Confesso que ao me deparar pela primeira vez com um Wairwulff transformado eu me senti apavorado. Obviamente um ser com quase 2,5m de altura, forte, com feições animalescas e com cara de mal, não se vê a todo instante, não é mesmo?

    Dietrish surgiu num momento extremamente especial de minha vida. Logo após minha transformação Georg precisou cuidar de seus muitos negócios e me deixou aos cuidados deste seu amigo. Hoje pensando bem eu me arrependo por não ter aproveitado mais tudo o que aquele velho metamorfo podia ter me ensinado. Ao menos eu tenho plenas convicções de que ele deu o seu máximo e foi o melhor professor que eu podia ter tido.

    Sim, minhas eufóricas leitoras meu primeiro professor foi um lobisomem! Sei que no início de minhas postagens aqui no blog/site eu tive um período de revolta com relação aos peludos, mas tudo tem uma explicação. Quando voltei de meu sono, os pensamentos ainda estavam confusos. Imagine um sono de quase 50 anos, tive rever muitas cousas nos meus pensamentos nesse tempo todo.

    Enfim, este post é mais um daqueles artigos explicativos e com detalhes sobre este tipo de ser. Tais quais os vampiros, os lobisomens também possuem um origem que se perdeu no tempo e com a evolução. Ferdinand, onde surgiram os vampiros? Perguntam-me sempre os novatos e eu respondo: Caro mancebo tal quais os humanos nós também não termos certeza sobre a origem da vida ou da não vida. Há quem diga que forma os Deuses, há a ideia alienígena e há a ideia evolucionária. Existem muitas lendas relacionadas a história da origem da vida e isso, como vocês sabem, está em muitos livros encontrados ao redor do globo inteiro.

    Peludo, Wairwulff, Werewolf ou ainda Lobisomem são em sua essência humanos que possuem o dom da metamorfose ou transformação em humanoides. Antes de tudo eu preciso deixar algo claro sobre estes seres, as lendas atuais sempre comentam do homem-lobo, mas na verdade isso é apenas um grupo ou clã destes indivíduos.

    Dietrich Dimitri Hollstoff, por exemplo, depois de transformado virava uma espécie de pantera negra humanoide. Apesar de aterrorizante para os desavisados que o vissem de supetão, era um ser muito bonito. Por falar em aterrorizante, eu já comentei por aqui em outras ocasiões sobre a dieta dos peludos… Carne. É neste aspecto que os lobisomens deixam de ser “peludinhos fofinho” (sim, eu já ouvi esta expressão) e transformam-se em bestas pavorosas, afinal a carne predileta de sua dieta é a humana.

    A lenda mais interessante que já ouvi falar sobre os Wairwulff nos conta que eles foram criados para defender a mãe terra ou Gaia dos humanos, que tanto exploram e destroem as riquezas naturais do planeta. Porém, a Deusa não contava que a dieta de seus “queridinhos” seria modificada ao longo da evolução e o lado negro dos lupinos surgiu quando o primeiro experimentou carne humana fresca… Dizem que eles se viciaram a ponto de quase entrarem em extinção por conta disto.

    Outro ponto que acho interessante sobre os peludos é o fato de que eles possuem no geral uma ligação maior com os outros mundos, planos paralelos ou como queiram chamar. Quando escrevi a saga do Totem desaparecido, tentei transmitir um pouco desse mundo para vocês e é preciso deixar claro que somente alguns deles possuem esta ligação ou poder. Muitos outros são como nós e aprenderam a manipular os elementais ou o próprio corpo ao longo da evolução.

    Vampiros e Lobisomens são inimigos Ferdinand? Sim e não caro mancebo… É uma história longa e que teve inicio em outra lenda. Uma história que inclusive mistura os dois seres dando origem a uma linhagem especial, os chamados “sanguinis puri” ou  sangue puro. No qual Georg, Franz e eu somos representantes, por isso podemos nos metamorfosear similarmente aos Wairwulffs…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Muitos dos mistérios, lendas e até mesmo profanações das civilizações antigas se baseavam na observação do céu e de seus astros e estrelas. Imaginem por exemplo o medo de alguém que vivia há 10000 anos quando ocorria um simples eclipse. Apesar disso, nem sempre esse tipo de situação foi temerosa e por vezes deve ter sido também um grande passatempo para muitos, afinal de contas, não havia celular, tv ou ainda menos a internet das noites atuais.

    Pensando nisso, eu sai do conforto de casa, transformei-me em lobo e fui para o mata próxima da fazenda. Onde durante uma longa corrida, pausada algumas vezes para descansar, cheguei ao alto de um dos montes. Lá de cima e novamente na forma humana e nu, pois eu queria estar mais próximo da terra, eu me deitei sobre uma grande pedra e fiquei por algumas horas apenas meditando.

    O processo de meditação foi incorporado as minhas rotinas de entendimento do mundo, nas idas e vindas pela casa de Kieran em meados de 1900. É poça em que a frase que ele mais dizia era: – Toda prática precisa de concentração, disciplina e esquecimento, tal qual a respiração, lembras?

    Inicialmente a meditação foi fácil, concentrei os pensamentos, deixei o corpo em estado de tranquilidade e imóvel. Porém, toda vez em que eu ia mais fundo nos pensamentos a imagem daquela garota loira, de capuz e sem face vinha aos pensamentos. Por que diabos isso? Seria ela a autora de tal obra nefasta? Seria algum aviso, seria Suellen querendo me chamando de alguma forma?

    Voltei para casa depois de mais alguns minutos em meio aquela confusão mental. – Por que eu tenho de ser assim teimoso, no sentido de por algo na cabeça e tentar resolver? – Era o meu pensamento constante em todo o trajeto de volta.

    Já em casa liguei para Joseph e quando ele retornou de sua “alimentação”, batemos mais um papo sobre os ocorridos. Ser assombrado, ou ter visões não é algo incomum para um Wampir, porém as que estavam ocorrendo comigo já haviam passado dos limites. Fato que nos fez ir atrás de mais pitas sobre o autor e as tais Stregas italianas.

    Sendo a fazenda um local tão isolado eu fiz as malas, juntei as cousas mais importantes e chamei Joseph para umas voltas por São Paulo e Rio de Janeiro. Reservei hoteis e na noite seguinte depois de avisar a todos, partimos em busca de mais informações. Obviamente a internet e até mesmo a deep web já haviam sido consultadas, bem como nossos informantes…

    Tendo como principal informação alguns entusiastas e estudiosos a respeito das bruxas, nós descobrimos facilmente um coven e onde seria sua próxima reunião. Duas noites se passaram desde que chegamos a São Paulo e com um carro alugado fomos ao tal pub na zona sul da cidade.

    Lugar bonito, escuro como todo pub e lá estavam mais ou menos 10 pessoas em uma mesa. Todos de preto, pentagramas no pescoço e alguns de moletom com capuz. Logo de inicio “apenas crianças brincando de bruxa”, foi o que me cochichou Joseph.

    Mesmo assim nos apresentamos: “Oi nos falamos pela internet…bla bla bla” E depois de alguns minutos eles realmente eram apenas crianças brincando de magia. Apesar de um deles ter potencial para bruxaria, inventamos uma desculpa qualquer e saímos à francesa. Ainda nesta noite aproveitamos para dar uma passada num dos negócios do Franz, uma casa de stripers, afinal nem tudo são negócios…

  • O totem desaparecido – Parte 3

    O totem desaparecido – Parte 3

    15h 32m era o horário que marcava meu smartphone, no momento em que olhei para sua tela e segundos depois de ouvir o barulho irritante e estridente do interfone. – Mas que diabos, eu já pedi para o porteiro não me incomodar durante o dia. – Pensei comigo. – Depois com a menor vontade de todas fui até a cozinha, peguei o interfone e balbuciei: – Oi, diga!

    – Doutor, o doutor Carlos está por aqui, ele pode subir? – Disse-me o porteiro do prédio, que inclusive me pareceu completamente assustado. Apesar disso, liberei entrada e fui correndo para o quarto para ao menos vestir uma cueca. Sim, eu durmo sem nada. Minutos depois, duas longas batidas à porta e a sensação de sua presença sobrenatural acusaram a chegada de meu velho amigo.

    Buenas noches cabrón! – Disse-me o homem grande, de olhos escuros profundos, barba rala, voz grave e roupas simples. Suas vestimentas eram as mesmas de sempre uma camisa xadrez verde e preta, com botas de couro cru por baixo das surradas calças jeans. Ele trazia consigo apenas uma mochila de lona grande, uma maleta quadrada forrada por fora com couro batido marrom e algo com quase 1,5m embrulhado em um bonito tecido vermelho. Tão logo ele entrou já foi me dando um abraço apertado seguido por um fraterno beijo no rosto. Sei que isso vai parecer estranho, principalmente para os brasileiros e ainda mais vindo de um brutamontes feito ele, mas tais procedimentos tem origem em sua cultura, no qual sempre admiro e respeito muito.

    Carlos atualmente é o Xamã/líder de sua tribo e apesar de já estar com quase 100 anos, possui a bela vitalidade Wairwulf (nome que damos aos lobisomens), que lhe garante uma aparência de no máximo 40 e poucos. Então, passados os papos iniciais sobre a viagem e toda aquela conversa fiada entre amigos, eu lhe contei sobre o tal caso do Totem e lhe mostrei todas as evidências que havia conseguido. Inclusive sobre a tal garota, que parecia não ter sido afetada pelas balas de prata de minha pistola “.50”.

    O velho Wairwulf me contou sobre algumas experiências que estavam sendo desenvolvidas nos últimos anos e sobre um soro que diminuía a influencia de tal elemento em seus organismos. Ele não tinha muitos detalhes, mas a garota era a prova de que esse projeto havia saído do papel. Com relação ao Totem ele me apresentou outra história interessante. O casal que havia sido assassinado possuíam certa influência e eram uma espécie de guardiões da peça roubada, que dentre várias importâncias religiosas, também é visto como símbolo representativo de uma determinada tribo sul-americana.

    Em função de tais fatos planejamos uma nova incursão a tal cena do crime. Obviamente, aguardamos a noite e só fomos para o lugar depois de alguns preparativos, eu inclusive optei por levar junto comigo o novo IWI CTAR-21, que ganhei de presente de um amigo do Oriente médio. Carlos pegou alguns itens da caixa de couro e os embalou numa mochila menor e em seguida fez questão de se gabar de seu mais novo “brinquedinho”. Oculto sob o manto vermelho havia uma bela cimitarra com várias escrituras rúnicas entalhadas na lâmina. Arma que ele havia encomendado a pouco tempo de nosso, mas que já havia se tornado o seu “xodó” e certamente não era apenas um pedaço de metal forjado.

    Escondemos tudo entre algumas toalhas ou casacos e fomos para garagem. Lá peguei minha BM e fomos para a tal casa. Embalados na maior parte do tempo por uma banda nova que achei por essas noites na internet, chamada Piel de Serpiente e sua empolgante Muérdeme.

    Novamente em meio aos buracos e poças de lama da estrada de terra e algumas horas depois, finalmente estávamos nós diante ao monumento arquitetônico. Ainda dentro do carro não senti muita confiança na expressão de Carlos, que naquele instante parecia colado a sua cimitarra. Tendo em vista a situação acenei com a cabeça e disse um breve: – Vamos? Naquele instante minhas palavras pareciam ter surtido algum efeito no Wairwulf que franziu a testa e desceu muito rápido do carro, batendo a porta e me deixando ali sem saber o que estava acontecendo.

    Nos instantes seguintes eu sai rapidamente do carro e com minha audição aguçada apenas assisti ao que pareciam ser muitos galhos e até mesmo troncos, sendo dizimados por muitas e muitas espadadas. Confesso que de início pensei em ir atrás, depois ponderei e fiz uma rápida vistoria em volta do lugar, que parecia não ter recebido nenhuma visita depois de mim. Não sei dizer quanto tempo levou para Carlos voltar, mas algum tempo depois senti sua energia se aproximando novamente de mim.

    Eram passadas pesadas e longas. Porém, antes de pensar qualquer coisa lá estava novamente a minha frente aquela majestosa forma lobo humanoide com quase 3m de altura, que tal qual eu sempre digo, fariam um humano normal se arrepiar só de olhar.

    Sua respiração estava ofegante e pedaços de suas roupas rasgadas, ainda estavam presas em sua bela pelagem marrom escura. Em uma das mãos ele trazia a cimitarra, agora banhada de sangue e noutra uma cabeça humana. Percebi que seus olhos estavam fixos em mim e sem pronunciar nada apenas lambeu um pouco do sangue da cabeça decapitada, jogando-a em seguida aos meus pés.

    Pobre garota, nem deve ter visto o endiabrado se aproximando… Coisas de Wairwulf…

  • Carnaval, amor e surpresas

    Carnaval, amor e surpresas

    Ao contrário de meus irmãos, que preferiram os festejos brasileiros deste carnaval, eu por outro lado resolvi descansar em algum lugar junto de minha doce Julie. Como vocês já estão cansados de ouvir de mim, esta cousa de que vampiros vivem sempre sugando sangue, torturando, investigando ou afins, está longe de ser nossa realidade. Porém, às vezes um simples passeio pode trazer boas surpresas.

    Sexta-feira, pouco mais de 21 horas, o carro já estava carregado e eu estava fechando a porta da garagem, quando o telefone tocou. Número privado e depois de alguns instantes sem ninguém falar nada, eu ia desligar, quando ouço uma respiração forte do outro lado… Mais alguns instantes da respiração funda e seca em meio aos meus “alôs”, até que finalmente a linha cai. Aquilo me pareceu muito estranho, não do tipo que assusta, mas sim do tipo que nos faz imaginar um milhão de cousas. Todavia, como ninguém retornou depois de 10 minutos, arrumei o restante da bagagem e fui ao encontro de Julie.

    Durante o caminho pedi a Julie que enviasse algumas mensagens ao restante do clã e por hora todos estavam bem. A viagem durou mais ou menos 3 horas, foi tranquila e pouco depois da meia noite chegamos ao nosso destino: uma casinha no alto de um morro, em meio a uma bela e escura floresta virgem e vizinha de alguns cânions e rios.

    Adoro fazer este tipo de viagem, principalmente pelo fato de que ali seriamos apenas nós dois e o casal de caseiros. Estes que graças a um tipo de feitiço, aquele que eu aprendi com a Beth, ficariam dormindo ao menos uns dois dias e noites seguidos

    Então logo na primeira noite, depois de fazer o feitiço nos casal de caseiros, eu aproveitei para esticar um pouco as pernas na forma de lobo. O que também serviria no sentido de analise e verificação das proximidades e seus possíveis habitantes. Este passeio durou pouco mais de uma hora e a exceção de alguns gatos ou cachorros do mato, estávamos enfim sós.

    Ao voltar para casa: suado e nu. Deparei-me com Julie sentada à varanda, trajando apenas uma pequenina lingerie e fazendo aquela cena que todo macho adora apreciar: uma bela fêmea passando cremes por todo o copo. Não sei se foi a aproximação com meu demônio, enquanto passeava na forma animal, ou se foi algum feromônio liberado pelos cremes de Julie, mas eu a ataquei…

    Calma leitora, ela “curtiu” meu ataque… Sorrateiro, como um bom caçador noturno eu surgi do nada, levantei-a e apertei contra a parede. Ela sentiu minha pegada, roçou seus lábios carnudos e macios em minha barba rala e me escalou. Suas fortes coxas seguraram com força minha cintura e aquele imensurável tesão aumentava a cada pegada mais forte. Intenso, profano, um só copo, uma única alma…

    Nosso carnaval iniciava da melhor forma, porém meu sono matinal fora interrompido por alguns passos do lado de fora da casa. Abri os olhos e enquanto entendia o que se passava percebi um andar arrastado e pesado. Sim, havia também a sensação de que algum Licantropo estava por perto, mas ao mesmo tempo havia algo familiar em tal indivíduo. Obviamente eu não poderia sair, pois o sol estava forte, mas por sorte aqueles passos duraram apenas alguns segundos, fazendo-me inclusive pensar na hipótese de sonhos ou pesadelos.

    Na noite do dia seguinte comentei o ocorrido com Julie ambos fizemos buscas na região, porém nenhum vestígio de pegada ou da presença de “outros”. Nesta noite depois do passeio tomamos um belo banho juntos e tratei de por em dia algumas leituras que estavam atrasadas. Julie também leu um pouco, mas acabou  trocando os livros pela prática e fez um ou dois rituais que a há tempos queria praticar longe da civilização.

    Nestes locais a magia fica mais forte, conseguimos uma ligação maior com os espíritos antigos e tudo que for relacionado à ritualística é favorecido. Nesta noite e na próxima fizemos praticamente as mesmas cousas, até que novamente na manhã de segunda eu acordo no mesmo horário com os mesmos barulhos. Desta vez os passos e a sensação pareciam mais nítidos, porém novamente duram poucos segundos.

    Passei aquela manhã me enrolando na cama e a tarde desisti do sono e escrevi um pouco. À noite logo depois que o sol se pôs e antes que Julie acordasse, eu resolvi sair sozinho pela região. Deixei um bilhete na mesa da cozinha e sai. Ao abrir a porta sou surpreendido por um objeto interessante e próximo da cadeira de balanço na varanda. Era uma caixa quadrada provavelmente de madeira e revestida em couro preto, com detalhes em metal.

    Não senti nenhum tipo de perigo vindo daquele objeto, mas ao abri-lo desabei sobre meus joelhos… Muitos pensamentos vieram a minha cabeça, porém havia naquele simples objeto uma lembrança inesquecível… Minha família mortal…

  • Em busca da vampira assassina. Parte 2 de 2

    Em busca da vampira assassina. Parte 2 de 2

    Carlos começou a fazer o que sabe de melhor e nos levou mata a dentro atrás dos dois. Mesmo para nós que não somos rastreadores ficava evidente o cheiro do sangue perdido pela vadia. Os diabolistas tem um cheiro muito particular, fétido, que lembra carne podre e ácido. Tem como cheiro ser ácido? Ok…

    A cada passo que dávamos ficava mais evidente na cara de todos a vontade em terminar tudo logo para cada um poder voltar as suas rotinas. Apesar de termos nos recuperado parcialmente era agora o melhor momento para acabar de vez com a maldita sanguessuga diabolista. De nós cinco apenas Hector, Carlos e eu podíamos realmente cair no pau. H2 ainda estava sofrendo os problemas da transformação e Franz havia gasto muita energia, ou seja, na hora eu pensava somente em encontrar rápido a maldita e antes que ela viesse com outra surpresa.

    Carlos, manda todos se moverem em silêncio, mas nenhum de nos conseguiu fazer isso, afinal estávamos em meio a mata na escuridão total. Mesmo com a visão aguçada que possuímos os galho, folhas secas e arbustos formavam a sintonia perfeita para nos denunciar.

    Shiiiii insistiu ele… Mas antes que consiga terminar de falar uma granada de fumaça explode ao seu lado e o impacto o derruba. O forte barulho atordoou nossos sentidos e o susto nos dispersou. Olhei perdido para os lados e segui o que parecia ser o brilho da espada de Hector. No entanto antes que pudesse me aproximar do pirata sou atacado pelo maldito peludo, que em forma de humanoide agarra minha perna e me joga contra uma árvore.

    Sinto o estalar de algumas costelas e ao tentar me segurar em algo para pegar equilíbrio levo um chute na altura do ombro. Nos engalfinhamos então pelo chão, enquanto tentava começar minha transformação, mas não consegui haja vista que é algo que precisa de certa concentração. Nessas horas em meio a socos e agarrões é difícil concentrar e somente a sobrevivência fala mais alto.

    Consigo me levantar e enquanto tento aplicar um aperto em seu pescoço no infeliz ele me surpreende com um golpe de capoeira e me joga novamente contra outra árvore. Desta vez senti alguns ossos do braço esquerdo se quebrarem. Enquanto ele vinha para cima de mim, o que provavelmente resultaria em um belo estrago, vejo Carlos segura-lo e Hector aplicar um golpe certeiro com a espada de prata em seu coração. A besta peluda engoliu um uivo seco, seus olhos ficaram imóveis e ao levar as patas a espada ele se contorceu e ficou de joelhos. O velho pirata o empurrou para trás com o pé e usando sua rapidez deferiu um golpe que separou a cabeça do corpo. A rapidez do golpe foi tanta que certamente olhos humanos veriam apenas o pirata parado na frente da besta e sua cabeça caindo ao lado.

    Enquanto Carlos e Hector me ajudavam a se levantar somos surpreendidos por uma espécie de névoa escura. A névoa retardou nossos movimentos e reduziu a praticamente zero nossa visão. Mesmo utilizando a nossa velocidade e força superiores era difícil dar passos simples e por fim percebemos que estávamos presos no maldito poder de Tenébras.

    Depois de alguns poucos minutos sinto minha energia e força diminuírem, mas antes que eu vá ao chão alguma coisa forte me puxa para cima. Confesso que senti meu corpo flutuar como se a gravidade não existisse mais como em algo surreal. Na sequencia minha visão começa a melhorar e vejo ao meu lado Carlos me carregando junto de Hector para cima de uma árvore. Impressionado com a agilidade e força de um lobisomem? Tu nem imagina do que eles são capazes…

    Ele nos soltou em cima de um grande galho, onde ao longe era possível ver a fonte da névoa: a vampira bruxa com uma tênue aura alaranjada recobrindo o seu corpo.

    Antes que pudéssemos tentar falar algo Carlos foi em direção da luz e entre saltos chegou perto de um galho que ficava logo acima da feiticeira. Ele a fitou por alguns instantes, pois percebeu que abaixo de si vinha correndo Franz e H2 em direção da bruxa.

    Os dois vampiros deferiram vários golpes, mas não conseguiram desfazer o círculo mágico, que repentinamente se expandiu e os arremessou para muito longe em meio a mata.

    Enquanto achávamos que tudo ia dar errado, consigo descer da árvore com a ajuda de Hector e rumamos em direção a bruxa que já não conseguia mais manter a escura e espessa névoa.

    Ao chegar perto da vadia ví algo que nunca havia visto em todos os meus muitos anos como vampiro. Não vou conseguir transmitir em palavras tudo que ví, mas vou tentar… Carlos saltou da árvore de onde estava em forma de lobo humanoide, isso quer dizer que ele parecia uma besta de quase três metros de altura ou seja o máximo de poder que um lobisomem poderia ter, achava eu…

    Na verdade acho que a própria encarnação do lado mais nefasto de Gaia estava a nossa frente. Certamente o simples fato de olhar para Carlos faria um humano normal entrar em colapso e o que parecia grandioso aumentaria ainda mais com os atos posteriores da fera.

    Carlos precisou de poucas passadas para ficar frente a frente com a mulher e por algum tempo se encararam. A primeira a se manifestar foi a vadia que mudou cor da aura de energia que a envolvia para uma cor vermelho carmim e se preparou para receber algum tipo de golpe. O peludo em sua vez já estava a conjurar algo até que quando sua longa calda peluda que balançava muito ficou repentinamente parada. Ele abriu então os braços, dobrou um pouco os joelhos e como um relâmpago deferiu uma centena de garradas que perfuraram várias partes da  bruxa.

    Em poucos segundos  o corpo da mulher amaldiçoada foi ao chão e entre contrações e espasmos foi possível sentir o que lhe restava de não vida se esvaindo junto do seu sangue podre, até que restassem apenas um corpo seco.

    Carlos ainda de costas para nós e muito ofegante se ajoelhou em frente aos restos da diabolista agarrando sua cabeça com as duas patas. Ele resmungou mais alguma palavras em uma língua completamente desconhecida para mim e assoprou a face desfigurada do corpo. Com o ato o que ainda restara se desmanchou em cinzas até que não existisse mais nada em frente ao lobo.

    Nos aproximamos, ele estava mais calmo e já era possível ver seu rosto humano novamente. Antes que ele se levantasse diante de mim vejo algumas lágrimas esvaíram-se de seus olhos profundos. Solto então meu braço esquerdo que já estava um pouco melhor e apoio minha mão direita em seu ombro o encarando de frente.

    O peludo limpa o rosto e me fala pausadamente algumas frases que me deram mais confiança para continuar minha jornada:

    – Sonho todos os dias com o fim dessa guerra inútil… Gaia deu hoje mais um voto de confiança para o seu plano contra as trevas… Aproveite pois acabamos de pagar a minha dívida contigo e a alma do seu amigo está livre novamente!

    Voltamos todos para casa e já estamos recuperados, mas ainda fico no meu canto pensando nas palavras de Carlos. Voltei a pesquisar nossas origens e confesso que os últimos acontecimentos deixaram-me na dúvida quanto ao meu lado bestial. Será que meu lado agressivo é realmente demoníaco como insisto em idealizar sempre?

     

  • Menaje atroa na década de 20

    Menaje atroa na década de 20

    Sempre me perguntam sobre o lado sexual dos vampiros, sobre como mantemos nossas relações sexuais, ou como funcionam nossos órgãos sexuais. Tal qual sempre digo, somos humanos normais nesse sentido com a exceção de que não podemos nos reproduzir, ou seja, explicando de uma forma clara: um vampiro não pode fecundar mulheres e uma vampira não pode gerar um bebe. A menos que ocorra algo através de magia ou com alterações genéticas, como se ouve falar muito atualmente.

    Esses dias lembrei-me de uma noite de festa no qual sai com Eleonor (minha irmã) para uma festinha (orgia). Para que fique claro Eleonor é filha do Barão, que é tio “tataravoavô” de minha falecida mãe, ou seja, parente distante mas na mesma linhagem de sangue. Deixando mais claro ainda, chamo Eleonor de irmã, por convivência da mesma forma que homens chama outros amigos de irmãos, ok?

    Pois bem vamos aos fatos daquela noite…

    Todo vampiro tido como normal depende de sangue humano para sobreviver, esse sangue nos proporciona toda a energia que nos mantém mortos-vivos e precisa ser reposto de tempos em tempos. Não vem ao caso o porquê da necessidade desse líquido precioso, mas é fato que se desprovidos dele entramos primariamente em um estado de fúria, que pode proporcionar um sono quase eterno. Por que essa explicação? Sei lá, volta e meia me pergunto algo e vou respondendo como posso.

    Em uma bela noite de primavera acordei com fome, a década era a de 20, o ano não lembro e a cidade era a bela rio de janeiro, no entanto, o que importa mesmo é que Eleonor havia acordado da mesma forma. É fato que vampiros quando estão com fome transpiram brutalidade e sexualidade, então imagine o ambiente naquele dia. Tomei um banho, aparei a barba e quando menos espero a sinto passando suas mãos e unhas em minhas costas. Como é bom acordar assim não é mesmo?

    Entre alguns amassos e beijos, de inclusive fazer sair sangue, a convenci de ir à caça na av. Atlântica. E lá fomos-nos, eu na forma de lobo e ela como uma bela pantera negra em meio à selva fechada e com poucas trilhas que na época existiam no parque da Tijuca.

    Enquanto corria em meio às árvores eu sentia meu demônio aflorando implorando para se libertar e tomar o controle, mas agüentei o quanto pude até que chegamos próximos a Praça Bernadelli, um local que não existe mais e que era ótimo para ver ao longe o majestoso Copacabana Palace.

    Era perto das 22 quando andávamos de mãos dadas nas calçadas “petit pavet”, já em forma humana e em direção ao hotel. Nesta noite acontecia uma festa no lugar, pelo que lembro era um casamento mas isso não vem ao caso.

    Naquela época todos andavam bem vestidos e não tivemos dificuldades em dar uma de “furão” haja vista o alto poder de persuasão de Eleonor. Ok, a beleza sobrenatural da linda moça de seios fartos e lábios carnudos, bem vermelhos, ajudaram um pouco.

    É preciso informar que nesse momento o meu demônio já estava prestes a assumir e não demorou a acharmos algumas vítimas, além do que em casamentos sempre tem gente “fácinha”. Por sorte as senhoritas estavam hospedadas e nos convidaram para os seus aposentos, local onde a nossa festa começou.

    Cabe aqui recordar o fino traço das senhoritas que nos acompanhavam, uma bela descendente de irlandeses, de cabelos alaranjados como o fogo. Lindos olhos azuis, vestido verde oliva de fina seda francesa com detalhes em renda e pedrarias. Sua amiga escolhida por Eleonor, era loira, tão jovem quanto à outra e dona de um sorriso rejuvenescedor que contrastava com o azul claro e radiante de suas jóias decoradas com belas turquesas.

    Subimos pelo elevador e dentro dele iniciei meu festim. Entre toques suaves e pegadas firmes não demorou muito para que a pele clara da ruiva se estremecesse toda. Alguns beijos gélidos no pescoço dela e minhas presas afloraram… O corredor foi um caminho longo até o quarto, que foi aberto no desespero, fazendo a porta ser fechada com um grande estampido seco.

    Antes que pudesse manifestar qualquer reação humana, meu demônio sugou a pobre ruiva até que pode, terminando antes que seu sopro de vida se fosse a fazendo desmaiar em pleno tapete branco que cobria o assoalho de fina madeira. Excitado pelo jovem sangue consumido, não precisei pestanejar muito para compreender que seria aquele dia que eu aprofundaria meu relacionamento com Eleonor.

    As moças semi-nuas na cama e o forte perfume exalado pelos hormônios femininos foram o combustível motivador dos meus seguintes atos. E lá ficamos nós três envolvidos pela ardente excitação sobrenatural no mais fabuloso ménage atroa, onde três almas se tornam apenas uma. É certo que depois de alguns instantes éramos apenas dois, mas quem disse que queríamos parar?

    Quarto arrumado com as donzelas deixadas sob os lençóis e voltamos corados para casa. Esta noite havia selado algo que nos unia há muito tempo, sentimentos recolhidos que se expandiram na forma de uma grande amizade fraternal que dura até os dias de hoje.