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  • Uma nova jornada – Parte IV: a viagem

    Uma nova jornada – Parte IV: a viagem

    Fomos recepcionados pessoalmente por Antoni, que foi nos buscar no aeroporto na qual aterrissamos com meu jato particular. Devido à diferença de horários, me arrependi de não ter saído mais cedo para poder chegar com tranquilidade depois da viagem. Ainda teríamos alguns quilômetros de viagem pela frente, e eu ainda estava receosa com a presença de um ser tão semelhante a Thomas… O clã ficava em uma cidade no interior dos Estados Unidos, uma região montanhosa e fria para Lorenzo. Logo que chegamos, observei que aquele não era o mesmo local que eu havia conhecido anteriormente, era uma fazenda em uma grande propriedade, e antes de exclamar qualquer coisa, Antoni foi logo explicando:

    – Aquela é uma de nossas sedes na cidade, digamos assim. Alguns vampiros-bruxos mais experientes ficam por lá. Aqui é um local onde temos mais contato com um meio natural, os iniciantes ficam instalados aqui, pois é onde conectamos melhor nossas energias, podendo contemplar a natureza em um todo.

    – Compreendo. Antoni me diga sinceramente, o que pretende me convidando para passar esses tempos por aqui?

    Ele olhou-me como se pensasse “Jura que você não entendeu ainda?”, mas eu havia entendido muito bem. Queria apenas ouvir diretamente. Sua expressão aliviou-se, então ele explicou:

    – Eu sei que você precisa dessa vivência. Quero ajudá-la de alguma forma. Você herdou alguns poderes de Thomas que ainda desconhece. És muito jovem ainda. Além disso, se adaptar-se tenho esperanças que faça parte de nosso clã.

    Naquele momento, meu pensamento foi direto a Ferdinand “… só espero que não resolva ficar por lá definitivamente.” Expressando dúvidas, resolvi mudar o foco:

    – Mas, se herdei os poderes de Thomas, eu não deveria fazer parte do outro clã? Sei que eles me consideram uma inimiga, mas eu me encaixaria aqui?

    – Nossos dons e poderes são muito semelhantes, pois, como lhe já contei, nossos clãs agiam em conjunto séculos atrás, a diferença é como e de que forma absorvemos essas energias e para quê as usamos atualmente. Mas, enfim, é cedo para abordamos tudo isso. Irei mostrar onde ficarão instalados. Vocês precisam descansar.

    Dormi durante quase todo aquele dia. Ao acordar, eu e Lorenzo organizamos nossas coisas. Até que alguém bateu na porta de nosso quarto.

    – Com licença – Disse uma pequena senhora de olhos cor de mel e cabelos curtos ondulados – Trouxe uma refeição para seu amigo. Senhora, Antoni precisa conversar com você em particular.

    – Obrigada e… Não precisa me chamar de senhora, por favor. – Olhei para ela e sem uma explicação aparente, senti certa afeição por aquela pequena senhorinha. Ela servia Lorenzo, enquanto saí.

  • Uma nova jornada – Parte III: a primeira vez de Becky

    Uma nova jornada – Parte III: a primeira vez de Becky

    Após a minha conversa com o Fê, entrei em contato com Antoni. Nos falamos pela primeira vez após a França e marcamos a data na qual Lorenzo e eu faríamos nossa viagem. Antoni empolgado, explicou-me que eu deveria passar ao menos um mês junto a eles para que pudesse conhecer boa parte dos métodos de seu clã. Um mês passaria rápido, mas era um tempo que me pareceu longo, visto que eu teria que adiantar muitos negócios em minhas empresas, para poder me desligar totalmente de tudo. Questionei-o sobre o fato de Lorenzo ser um humano, e isso não pareceu um problema para Antoni que se prontificou a recebê-lo de qualquer maneira. Confesso que nas noites que antecederam a viagem, já com os preparativos sendo encaminhados, tentei controlar a ansiedade e o desejo de desistir. Mas, muitas vezes, Lorenzo me incentivava e renovava meus ânimos, “Eu estarei lá com você, Beckynha…”

    Na véspera da viagem, saímos para fazer algumas compras logo que anoiteceu. Lorenzo precisava de algumas roupas de inverno, e ajudá-lo com isso, me distrairia. Na volta, brincávamos no carro enquanto o motorista que eu havia contratado dirigia discretamente. Pela primeira vez em décadas, resolvi contratar alguns funcionários fixos para questões pessoais. O motorista era um homem alto, moreno e de poucas palavras, que dirigiria para mim, apenas durante a noite. Planejava contratar uma funcionária para cuidar do meu novo apartamento, e para me acompanhar nos locais onde eu estivesse, por período integral, mas ela certamente teria que se tornar uma Ghoul também, por tanto, eu não havia decidido nada sobre isso. Deixando essas questões de lado e voltando ao que interessa, o clima no carro pareceu esquentar, e eu já planejava algumas artimanhas para praticar com Lorenzo, quando chegássemos em casa. Subimos o elevador em meio a abraços, beijos e amassos, mas quando chegamos, fui interrompida.

    – Rebecca, calma, por favor!

    – Ah Lorenzo, para com isso… – Falei enquanto dava algumas mordiscadas em seu pescoço.

    – Rebecca, estou falando sério. Será que posso comandar nossa brincadeira ao menos uma vez?!

    Olhei surpresa para sua expressão séria. Lorenzo me contrariar tinha se tornado algo raro, após transformá-lo em meu Ghoul. Mas, depois que voltamos da França, algo estava diferente. Talvez o ritual que fizeram, ou o tempo em que ele ficou sem o meu sangue, tivesse mudado algo. Nos primeiros dias, Lorenzo havia ficado deturpado, demonstrando pequenos sinais de loucura, como uma espécie de abstinência. Mas, logo havia se recuperado. Em volta a esses pensamentos, demonstrei certa preocupação, o que o fez se explicar rapidamente, deixando-me mais tranquila:

    – Rebecca, eu também tenho meus impulsos e meus desejos. Gosto de você, do sei jeito. Mas, queria tentar algo diferente. Você desperta em mim vontades diferentes.

    – Como assim Lorenzo?

    – Eu quero amar você. Não simplesmente fazer sexo, entendeu?

    Pensei por alguns instantes.

    – Eu não sei bem como fazer isso. O jeito que conheço é esse.

    – Mas, existem outros jeitos. Deixe-me mostrar a você? – Falou segurando meu queixo e sorrindo.

    Lembro- me que a primeira vez que me envolvi com alguém, foi com Thomas, claro. Tenho tentado apagá-lo de minha memória, mas certas coisas são inevitáveis. Mas, naquele momento, as lembranças vinham para mostrar que outras opções existiam, e que eu tinha direito a pelo menos experimentar outro lado. Talvez um lado mais humano que se perdeu completamente no tempo. Aquela era uma primeira vez. A primeira vez em que eu, Becky, me permiti sentir algo, ao menos mais carinhoso. Sem dor, sem tortura, sem sofrimento. Sem causar isso em alguém. Era redescobrir o controle e meus desejos. Era, de certa forma, uma nova maneira de privação e de sentir prazer, talvez…

    Lorenzo pegou- me no colo, rindo e lançando-me em cima da cama. Tirou a camisa e me deixou admirá-lo. Meu desejo de arranhá-lo e vê-lo sangrar precisaram ser contidos. Depois, veio lentamente em minha direção com seus lindos olhos verdes me fitando. Fiquei observando, a espera. Despiu-me lentamente, enquanto espalhava beijos quentes por todo o meu corpo. Deitado sobre mim, já nu, parou por alguns instantes e olhando em meus olhos afagava meus cabelos, beijava meu rosto, meus olhos, o canto dos meus lábios, pedindo para que eu sentisse aquilo tudo e tivesse paciência. Sua língua procurando a minha e chegando até minhas presas, o que me provocou certa reação, que consegui controlar. Era algo que foi se tornando bom, e me permiti ir além do desejo de mordê-lo. Provocando-me desta forma, nossos corpos se uniram em um movimento lento, até chegarmos ao ápice, explorando, delimitando e sentindo com mais intensidade um ao outro. Passamos um bom tempo enrolados. Seu corpo quente aqueceu meu corpo frio e gélido, fazendo me sentir bem. Fechei os olhos por alguns instantes, sentindo sua respiração, ouvindo seu coração bater forte e logo me lembrei de nossa viagem. Logo lembrei que Lorenzo estaria comigo, e que isso também foi se tornando algo bom.

  • Os mortos não voltam – Parte IV

    Os mortos não voltam – Parte IV

    No avião, observava as nuvens escuras. Em alguns trechos, conseguia visualizar as luzes das cidades que haviam pelo caminho, tudo era tão pequeno dentro daquela imensidão. Lembrei-me de conversas que tive com Sophie a poucos minutos. Olhei para ela. Estava concentrada lendo um livro de magia, com uma de suas mechas loiras caindo sobre o rosto.  Sua expressão compenetrada e segura pouco lembrou aquela vampira apavorada de algumas horas atrás. Eu iria conhecer Antoni, e tudo o que estava acontecendo me deixava nervosa e ansiosa. Não me sentia insegura assim à anos.

    “Cresci em uma vila no interior da Índia. Minha família era muito humilde. Eu tinha 14 anos quando uma peste terrível atingiu a população, em meados de 1856. Não sei o que Thomas estava fazendo lá na época, acredito que eram negócios. Era só o que ele fazia. Negócios. Uma noite minha mãe levou-me para longe da vila e disse que eu deveria ir embora para não morrer. Foi difícil deixá-la naquela noite. Foi quando o conheci e pedindo ajuda, fui levada por ele para a Alemanha. Em troca, ele pediu para que eu o servisse com absolutamente tudo o que ele ordenasse, incluindo principalmente meu sangue, claro. Mas, Erner ficou cada vez mais doente e obcecado… Quando fiz 28 anos, ele me transformou achando que eu estaria pronta. Eu não progredia com seus métodos de ensinamento, e não fazia o menor esforço para isso. Anos depois, já casando e tendo você em seus planos, tentou me matar, pois, me tornei um peso para ele, seus objetivos já eram outros, de modo a simplesmente resolver me descartar, ele era totalmente louco… Mas, sobrevivi e fui encontrada por um senhor idoso que não tinha parentes próximos e precisava de uma cuidadora. Ele prometeu levar-me até os Estados Unidos, onde faria tratamento para uma doença. Para mim quanto mais longe de Erner, melhor, pois ele poderia descobrir que eu havia sobrevivido. Quando chegamos lá, eu fugi, pois não teria como cuidar daquele senhor, sem que ele descobrisse o que eu era. Meu destino era ser ajudada por estranhos. Meu destino era estar nas mãos deles. Entendi isso quando conheci Antoni.”

    Anos depois eu estava trancada na casa de Erner, era sua nova prisioneira, estava sobre sua”posse”. Imaginei o quanto Sophie deveria ter sofrido em suas mãos desde os 14 anos… Talvez, por isso ela me agradecesse por ter entrado no caminho daquele sádico, para então conhecer Antoni, por ironia, seu irmão, gêmeo. Desliguei-me de meus pensamentos quando o avião já estava em terra firme. Do aeroporto, tínhamos mais 40 minutos de carro. Então, meu celular vibrou no bolso da minha jaqueta.

    – Oi?

    – Eleonor? – Falei surpresa, reconhecendo sua voz.

    – Becky, como está? Liguei apenas para lhe dar um até mais.

    Por instantes fiquei em silêncio. Mas, não adiantava dizer nada que a fizesse mudar de ideia…

    – Bom ao menos lembrou de mim. Nos vemos logo?

    – Claro amiga! Nos vemos logo…

    -Hey!

    – Diga Becky.

    – Obrigada por tudo, volte logo e enquanto isso, descanse e sonhe com vampirinhos!!!

    – Hahahaha você não tem jeito….

    Era melhor assim, uma despedida como se fosse por pouco tempo. Os anos passariam rápido, temos a eternidade, e eu levava a certeza de que logo teria minha amiga comigo novamente. Ela me ensinou tantas coisas. Além disso, foi  por meio dela que conheci Ferdinand e hoje estou no clã Wampir. Depois daquela conversa, resolvi não ficar pensando na atual situação de Eleonor para não me chatear ainda mais. Então, liguei para Lilian e combinamos de nos encontrar já que estávamos por perto. Pelo que soube, Lilian também estava com alguns problemas e prometeu que após resolve-los iriamos a uma festa com alguns amigos. Apesar de ter achado estranho, afinal, não estávamos no clima para “festejar” deduzi que talvez houvesse algo que pudesse nos ajudar e que nos fosse útil: Lilian tinha amigos bruxos.

  • Os mortos não voltam – Parte III

    Os mortos não voltam – Parte III

    Antoni Erner era seu nome.

    Após Sophie finalmente contar o pouco que sabia sobre ele e sua história, conclui que era tão misterioso quanto o irmão, Thomas Erner. Após uma longa conversa, decidimos que investigaríamos melhor sobre o clã de bruxos-demônios, como resolvemos chamá-los, e que iríamos em busca de Lorenzo. Afinal, eu já estava preocupada com sua vida e segurança e, depois do que fizeram em meu apartamento, eu não poderia deixar barato. Mas, para isso, segundo Sophie, precisaríamos do auxílio daquele que desejava manter-me afastada tanto dele, quanto da própria Sophie, que até então, era sua protegida. Confesso que ansiava por esse encontro, estava curiosa. Qual seria a reação dele ou me ver? Sentiria raiva por mim, ou ele não queria me conhecer por que dei fim à “não-vida” de Thomas?

    Apesar dessas preocupações, muitas outras dúvidas e questões inexplicadas pairavam sobre minha mente. Carreguei-as comigo, me sentindo exausta, e fui inquieta para meu quarto arrumar minhas malas. Iríamos fazer uma viagem longa. Depois de tudo pronto, caminhei até o escritório, fiz algumas ligações, e revirando os baús antigos de Erner, procurava alguma informação que pudesse nos auxiliar, ou ao menos esclarecer a bagunça que havia em minha cabeça após tantas novidades. Antoni seria parecido com Thomas? Isso Sophie não havia me falado. Como esses dois irmãos se separaram? Ela também não sabia explicar. Como os dois haviam se tornado vampiros? Porque Erner nunca mencionou o irmão? Como Antoni entrou para um clã de bruxos? Aliás, como Sophie conseguiu se envolver com os dois?

    Eu estava confusa. Perdida em meus questionamentos e devaneios, acabei não percebendo de imediato que uma folha havia caído em meio aquela bagunça, de um dos diários que guardava. Muitos relatos e anotações eu ainda não havia lido e talvez neles encontrasse algo. Peguei a folha nas mãos. Não era uma folha. Era um retrato, muito antigo, em preto e branco, feito com materiais desconhecidos por mim. Havia dois meninos, sentados em uma calçada de um jardim sombrio, seus olhares profundos estavam direcionados para quem pintava a imagem. Ao fundo uma casa, ou casarão, como chamava na época, com muitos andares, havia uma porta com algum enfeite pendurado e janelas largas. Nas mãos os meninos seguravam uma espécie de símbolos diferentes. Olhei com atenção. Virei a foto. “1565. 3 a” era o que estava escrito. Virei o retrato novamente. Observei os símbolos. Um deles eu havia visto a pouco tempo… Estava marcado na parede do meu quarto de hóspedes. Havia muito mais coisas envolvidas e obscuras do que eu poderia imaginar naquela história. Thomas e Antoni eram gêmeos. Se eu tivesse coração ele certamente pararia. “Gelei”. Guardei tudo rapidamente no cofre, carregando comigo apenas aquela imagem, dobrada dentro do bolso da minha jaqueta. No relógio, já eram 20:17. Alguém bateu na porta dando-me um susto.

    – Rebecca? Está na hora, vamos?

    Abri a porta de mal humor. Ahhh Sophie, porque mente para mim? Pensei.

    – Desculpe Sophie, mas não gosto que ninguém venha aqui no andar de cima sem minha permissão. Eu sei que horas são. – Falei emburrada.

    Pegamos as malas e materiais que julguei serem necessários. Sophie passou no hotel que estava, para pegar suas coisas. No caminho, liguei para Ferdinand para avisar e contar o que estava acontecendo, então, soube por ele que Lilian estaria por perto de onde iríamos. Talvez ela pudesse ajudar, ou poderíamos apenas nos encontrar para aliviar um pouco o stress. Então, pegamos meu avião particular e partimos, tínhamos algumas horas até chegar em nosso destino com segurança.

  • De volta à uma rotina nada normal – Parte I

    De volta à uma rotina nada normal – Parte I

    Foram várias noites de viagem, com paradas em hotéis durante o dia. Ao longo do caminho aproveitei para passar em alguns lugares e resolver problemas com os negócios de algumas das empresas que “herdei” de Sr. Erner. Lilian e eu revezamos a direção, não por cansaço, mas porque ambas adoramos dirigir. Literalmente colocamos o papo em dia. Paramos em alguns bares e zoamos os caras que pensavam que éramos garotas indefesas se aventurando na estrada. Tivemos que trocar dois pneus ao longo do caminho, e para isso sim, acabamos precisando de auxilio, o que um pouco de sorte resolveu. Estávamos chegando em “casa” finalmente. Tudo o que eu queria era voltar para minha rotina nada normal. E, além disso, também queria dar um pulo para matar a saudade da Pepe e do Ferdinand e contar ao meu amigo – irmão minhas últimas peripécias, o que rendeu boas gargalhadas.

    Passando-se algumas noites, mesmo com muitas coisas para resolver depois de ter voltado, e mesmo todos muito ocupados, marcamos uma reunião informal e ao final, eu, Pepe e Claudia deixamos os rapazes e resolvemos passar em um barzinho para curtimos uma noite mais tranquila entre amigas. No caminho, buscamos a Lilian e então, as meninas começaram com um assunto que, de certo modo, para mim era engraçado:

    – Becky, você não vai mesmo conversar direito com Hector?- Perguntou Claudia.

    – Conversar sobre o que? – Respondi distraída enquanto dirigia.

    – Mas, você não gostou do tempo que passou por lá? – Disse Pepe, curiosa.

    – Gostei sim. Mas tenho outros compromissos, outros interesses. Não poderia ficar lá o resto da eternidade.

    – Mas, você veio embora sem se despedir dele. – Soltou Lilian.

    – Não tinha porque me despedir, Lilian. – Falei rindo – Hector e eu somos bem resolvidos e desencanados. Cada um foi para um lado e ponto. Se tivermos a oportunidade de trabalharmos juntos novamente, ótimo. Senão, já valeu as experiências que tivemos.

    – E que experiências eim… – Falou Lilian se abanando.

    -Hahaha Chega de papo! Chegamos! Vamos curtir a noite?!

    Confesso que só não viramos a noite, porque Claudia estava preocupada com Sebastian. Mas, nos divertimos, bebemos e rimos muito. Porém, por incrível que pareça, foi uma noite tranquila e sem aventuras, até certo ponto…

    Estávamos voltando. Deixei Claudia e Lilian perto de suas residências. Pepe ainda iria um bom caminho comigo. Quando chegamos, ela perguntou se eu gostaria de dormir por lá, já estava quase amanhecendo. Agradeci, pois sabia que daria tempo de chegar a meu apartamento tranquilamente. Desci do carro, para acompanhá-la. Despedimos-nos e ela entrou.  Ainda rindo ao lembrar as bobagens que as meninas falaram sobre Hector, estava entrando no carro quando parei para observar um rapaz que vinha caminhando apressado enquanto um grupo de mais ou menos quatro ou cinco, vinham atrás, rindo, xingando-o e ameaçando – o.

    – Hey viadinho. Nós vamos acabar com você!

    Logo o alcançaram, fizeram uma distribuição de socos e ponta pés. Um deles quebrou uma garrafa de cerveja em sua cabeça. Fiquei ali, pensando se deveria ajudá-lo, estava um pouco cansada de agir como justiceira. Suspirei. Olhei o relógio. Um pouco mais de diversão não faria mal. Dei de ombros. Fui em direção ao grupo, que não percebeu minha presença. Usando um pouco da minha velocidade e força, joguei dois deles a certa distância com um único golpe, deixando os outros assustados e procurando quem havia feito aquilo. Foi quando apareci caminhando calma e graciosamente sobre meu salto agulha de 15 cm, em meio à escuridão das árvores, o que os deixou surpresos.

    – Vocês não têm vergonha, bando de frouxos? Cinco contra um?- Falei apontando para o pobre rapaz.

    – E você não se enxerga mocinha, há essa hora dando sopa pela rua? – Disse um deles me desafiando.

    – Hum, olha o vestidinho dela, deve ser só mais uma puta. – Disse outro.

    -Hahahah de mocinha a puta… Decidam-se! Ou melhor, deixem que eu lhes mostre o que sou!

    Minhas presas estavam afloradas. A expressão demoníaca. Divertindo-me, rapidamente coloquei-me atrás de um deles e o mordi fazendo- o gritar. Os outros assustados saíram correndo mais surpresos ainda por minha força.  Assim que aquele verme desmaiou, deixei-o desacordado na calçada, certamente, acordaria pela metade da manhã, imaginando estar bêbado com um hematoma no pescoço. Empurrei – o com o pé e cuspi seu sangue no chão.

    -Nossa, que super corajosos…

    Fui até o pobre rapaz que havia apanhado daqueles delinquentes. Estava muito ferido e os cortes que havia levado o fizeram perder uma grande quantidade de sangue. Em meio aos ferimentos não deixei de observar que ele tinha lindos olhos verdes, que no momento reviravam-se e piscavam rapidamente. Foi quando me lembrei sobressaltada, da hora e do maldito sol.

    -Droga, já está amanhecendo. – Falei comigo mesmo.

    Não havia tempo para ajudá-lo. Seria mais fácil simplesmente deixá-lo ali, estava quase morto. Mas, no impulso fiz outra escolha, que até então eu não sabia ter sido ou não a mais correta…

  • Minha família de Vampiros – Continuação

    Minha família de Vampiros – Continuação

    Sai da casa de Eleonor com a consciência tranquila. Pois assim como ela havia me ajudado nas épocas em que meu demônio estava a flor da pele, eu fiz a minha parte lhe devolvendo um pouco de sanidade. Pode não ter sido da forma mais fraterna, mas se há algo que aprendi depois de tanto tempo lidando com os mais diversos tipos de almas. É que tudo o que é importante, deve ser tido sem delongas, na cara mesmo.

    Pista de terra, solavancos, pancadas de um lado e de outros na poltrona. Apesar de imortal e de ter tantas horas de voo nas lembranças, é um dos lugares onde me sinto menos confortável. Provavelmente pelo fato de ser uma situação onde não tenho o controle em minhas mãos por completo. Apesar disso, pousamos pouco depois das duas da manhã numa fazenda e assim que as portas se abriram, vi que já estavam nos esperando.

    Habitualmente, sempre ativo minha respiração ao chegar a locais novos e naquele momento senti um perfume persistente e adocicado. Provavelmente, floral e que misturado ao cheiro da grama com terra molhada, trouxe diversas lembranças instantaneamente.

    Claire vestia o mesmo sobretudo bege da última vez que lhe vi, estava bem maquiada e segurava um guarda-chuva grande. Sua feição era amistosa e ao que tudo indicava estava feliz em nos ver. Hadrian e Becky estavam ao seu lado e logo a frente, encostado a um furgão estava um cara grande. Provavelmente algum peludo aliado a mão vermelha – Pensei comigo.

    -Hi guys! Did you have a nice trip?

    Perguntou Claire e lhe respondi em inglês algo do tipo:

    – Não, mas ao te ver tudo melhorou…

    Ela apenas sorriu e com seu jeito sempre peculiar me estendeu o guarda-chuva e ofereceu abrigo até o carro. Hadrian estava utilizando uma espécie de magia sobre si, que o mantinha seco e ao perceber que Franz ficaria ao relento, gesticulo dois movimentos e estendeu-lhe o mesmo feitiço.

    No carro ele se sentou ao meu lado e sussurrou:

    – Eu podia ter feito uma redoma de proteção contra chuva sobre todos, mas resolvi te dar uma mãozinha. Será que ela percebeu?

    Soltei uma risada leve e pensei em comentar algo, mas Franz foi mais rápido soltou um comentário desnecessário:

    – Esse sobretudo me faz pensar se ela veste algo por baixo…

    O silêncio surgiu, todos olharam para ele. Como que se falássemos: “Cala boca seu mané”, mas ele insistiu na piada:

    – Ah qual é gente, vocês nunca viram aqueles filmes, onde a garota usa um desses para esconder um belo espartilho, cinta liga e tal?

    As palavras dele pareciam ecoar numa sala vazia, mas a fim de quebrar o gelo. Claire se manifestou de uma forma mais informal que o normal:

    – Calcinha preta, sem sutiã, meia calça nude e um vestidinho marrom escuro, decotado e com cinco dedos acima dos joelhos.

    Não sei se foi Franz ou eu, que teve a imaginação mais atiçada diante tal descrição minuciosa, mas o importante é que o restante da viagem foi bastante descontraído. Foram mais 50 minutos até o local que nos hospedaria e lá encontramos novamente o Pai de Claire. O velho parecia mais tenso do que quando o conhecemos naquele casebre “fake”. Além disso, parecia que estava de alguma forma puto com nossa presença. Tanto que ele apenas deu um beijo no rosto de Claire e sem nos cumprimentar, foi logo chamando o até então mudo, que estava conosco na Van:

    – Vamos Peter, precisamos dar andamento aos testes…

    -Sim, senhor!

  • A garota perdida – pt2

    A garota perdida – pt2

    Eu finalmente fiquei frente a frente com Matt, eu podia jurar que ele queria chorar tanto quanto eu. Eu precisava tomar coragem e foi ao voltar a olhar para a saída e não ver mais o homem que eu amava, que toda a coragem veio até mim. Eu segurei as mãos do Matt e interrompi o padre, que não ficou nada feliz com a minha atitude, por assim dizer.

    – Matt, o que nós estamos fazendo?

    – Sinceramente Lili, eu acho que estamos para cometer um erro.

    – O maior e pior erro de nossas vidas.

    – Eu quero que você seja feliz.

    – Eu desejo o mesmo pra você querido, nada menos que felicidade!

    Eu dei um longo abraço no Matt e depois de um bom tempo pude respirar de verdade, sem a sensação de peso e acho que ele também. Olhei para minha mãe e sorri, de um jeito tão sincero, que eu até tinha esquecido como era essa sensação. O vestido me atrapalhou um pouco para sair correndo da igreja e gritar de alegria. Eu  estava tão “empolgada” de estar livre de tudo aquilo que não percebi logo de cara a presença de Pierre.

    – Pensei que nunca fosse sair daquela maldita igreja.

    – Eu pensei que por um instante você fosse me arrancar de lá a força.

    – Vontade não me faltou Lili…

    Confesso que eu pulei nos braços dele como se fosse uma garotinha, e finalmente toda minha inibição parecia ter ido embora, porque quem deu o beijo em quem primeiro, fui eu. Sim eu a recatada e cheia de dúvidas, agora não tinha mais nada de dúvida ou vergonha.

    Gente que romântico tudo isso, não? Como que vocês descrevem nas famosas “hastags”? Final romântico! #SQN.

    Ai vem o que realmente me aconteceu, eu fugi sim com o Pierre, vestida de noiva e todos os clichês ridículos e românticos que são jogados na nossa cara através do cinema e da TV. Como uma adolescente cheia de hormônios eu apenas peguei uma mala com poucas roupas e na minha cabeça “fui viver a aventura romântica na EUROPA”. Sim nós fomos a Europa. Lógico, que vocês devem suspeitar desse fato, que as viagens eram à noite e de dia dormíamos em algum hotel chique e ridiculamente caro ( Pierre era rico, muito rico, que chegava a deixar o Tio Patinhas e o Riquinho no chão. E  por favor eu não sou tão velha quanto os vampiros que vocês estão acostumados, sem ofensas. E  sei de basicamente de tudo das últimas seis décadas).

    Depois de algumas semanas passando praticamente a noite acordada e o dia dormindo, eu me sentia uma VAMPIRA! Por que será? E como minha curiosidade estava aflorando e eu comecei a perceber muitas coisas em Pierre, uma delas a famosa pele branca fora do normal e quando ele me tocava,  eu sentia que o frio da noite era mais intenso, o que na verdade era a pele dele. E  quando ele sumia de madrugada para visitar algum cliente necessitado ( na verdade o necessitado era ele,) ele deixava um bilhetinho lindo pra mim.

    Mas um breve fato trouxe tudo a tona, em uma bela noite de dezembro na velha Londres, após alguns meses juntos, eu fiquei sem sono ao perceber que, na cama que cabiam umas dez pessoas ( Se você tem alguma dúvida, eu obviamente passei minha noite de núpcias acompanhada, não pelo meu noivo, mas passei ), eu estava sozinha, então resolvi perambular pelo quarto, e claro tinha um dos bilhetes clássicos e com uma caligrafia incrível, “ Minha  bela Lili, volto logo, Beijos do seu querido  Pierre.”  .

    Eu comecei a odiar esses bilhetes, essas saídas, mas mesmo assim mantinha a compostura perto dele. Então decidi naquela noite, que eu era alto suficiente para sair na rua sozinha e ir a algum lugar divertido e sem ele ( Vocês já viram um vampiro bravo? Se ainda não, continuem assim… Posso garantir que não é nada agradável), peguei alguns trocados e coloquei em uma pequena bolsa, vesti apenas um vestido preto com um sobretudo por cima, calcei minhas botas e sai do hotel, sem rumo.

     

    Acordo e apenas tenho vagas lembranças, da noite anterior. Tento me mexer, mas sinto dores por todo corpo, como se tivesse sofrido algum tipo de acidente. Conforme minha visão voltava ao normal, percebi,  que estava em um tipo de sala, adornada com móveis elegantes e bem talhados, grandes janelas no estilo colonial que cercavam todas as paredes do lugar, mas mesmo com toda aquela pompa parecia um lugar mórbido, frio, medonho. Tentei levantar, mas minhas pernas estavam presas a algum tipo de corrente, uma corrente curta. Apenas minhas mãos estavam soltas, mas do que adiantava se meus pés mal podiam se mexer. Senti-me um animal preso, o que eu fiz para estar ali?

    Comecei a lembrar de algumas cenas, lembro-me de estar em um bar com alguns banqueiros e algumas mulheres elegantes e bem sensuais (que hoje eu acho que eram as amantes da maioria ali), eu tomava uma dose de wiskey, bem pouco pois não era acostumada. Depois veio uma lembrança que me deixou atordoada, o bar tinha virado um cenário de guerra, corpos ensanguentados por todo lado, alguns desmembrados, outros pareciam ter marcas distintas pelo corpo.

    Mas a imagem que mais me chamou a atenção, foi uma frase escrita na parede e escrita em sangue eu acho,” O seu Deus não existe! Mas eis que a fúria que traçou em mim, tenha suas consequências.” Céus, será que eu tinha sido sequestrada? E o que fizeram comigo?

    Foi ai que eu percebi a presença de mais alguém ali comigo, como uma sombra que se movia na escuridão. A sombra parecia me observar de uma cadeira próxima, eu não conseguia identificar a silhueta que me observava tão silenciosamente, até que algo chamou minha atenção.

    – Minha doce Lili…

    – Pierre?

    – Sim minha cara…

    – O que aconteceu? Porque estou assim presa como um animal?

    – Por que minha querida, hoje você agiu como um!

    – Agi como um? Você ficou louco?

    – Louco? A insanidade me deixou há muito tempo, assim como a paciência não é a minha melhor companheira.

    – Mas eu sou humana… Como deveria agir?

    – Eu tentei te proteger, mostrar o mundo e não me aproveitar de você! Eu amava você sua vadia ingrata! Mas agora, depois dessa sua atitude infantil, eu resolvi que te proteger e tentar compreender os atos humanos é algo desnecessário… Uma total perca de tempo…

    – E por isso você me amarrou aqui? Por teus ideais banais? Que tipo de lunático é você?

    – Claro sua tola, quero lhe dar uma lição. E eu não me considero lunático, eu apenas vejo as coisas de um jeito diferente.

    – Que lição? Você vê o mundo de uma forma totalmente distorcida seu hipócrita.

    – Uma bela lição sua insolente! Acho engraçado essa mudança de sentimentos, uma hora você dizia que me amava e agora me chama de lunático e vomita palavras sem sentido a todo momento… Realmente divertido isso.

    – Divertido? Como você queria que eu reagisse a essa situação? Queria que eu pulasse de alegria? Ops, não dá! Estou amarrada pelos pés, graças a você seu cretino! Como continuar amando alguém que faz algo terrível assim?

    Veio o silencio e pude perceber que havia mais uma pessoa na sala, outra figura masculina, um pouco maior que Pierre, e isso me deixou com mais medo do que eu já estava.

    – Você continua sendo o mesmo sádico de sempre Pierre…

    – Trevor? Posso saber por que interrompeu a nossa conversa?

    – O mestre gostaria de ter uma palavra com você.

    – Ahhh, sempre interrompido e chamado nas piores horas.

    – Vá logo!

    Percebi que Pierre se afastava, enquanto o tal Trevor , ficava no lugar dele e me observava. Confesso que senti um pouco mais de segurança nele, pelo menos não fui tratada como um bicho e ele foi cortês, pelo pouco que pude ver, ele parecia um belo homem, nos seus quarenta e poucos anos, ele tinha uma feição forte, era muito alto, tinha um corpo e braços bem definidos, cabelos pretos curtos e bem aparados, e acompanhado de um belo bigode escuro e um olhar tranquilizante.

    – Pobre menina…

    – Você acha?

    – Pelo menos continua falando…

    – Quem é você?

    – Me chame de Trevor, sou um colega de trabalho do Pierre…

    – Porque estou assim? Você sabe me dizer?

    – Oh querida, eu não sei o porque… Eu sei que aquele canalha não passa de um sádico.

    – Me ajude!

    – Se eu te ajudar, te soltar, por mais que você fuja, ele vai te encontrar e vai ser pior do que está sendo Lilian…

    – Como sabe meu nome?

    – Ele nos falou…

  • A magia e os vampiros – pt10

    A magia e os vampiros – pt10

    Chegamos a Berlin na noite do dia seguinte e fomos diretamente a um dos hotéis que temos “conta”. Infelizmente, Claire não nos acompanhou, mas sinceramente acho até que foi bom, pois certamente eu me perderia em suas curvas ou ao menos passaria muito tempo tentando fazer isso…

    Berlin e suas noites agitadas e cheias de atores, escritor, cantores, pintores… A diversidade cultural anda tão em alta na cidade, que chego a me imaginar voltando a morar por lá. Porém é realmente uma pena que algumas ruas, cujo passar dos anos não as altera, ainda me tragam tantas lembranças de um tempo que não volta mais.

    Memórias a parte Franz já chegou no espírito de festa (só para variar) e queria ir para algum lugar onde houvessem “garotas fáceis”, mas o convenci que seria interessante irmos primeiro ao refúgio do vampiro líder da cidade, aliás, amigo meu e que vou chamar por aqui de DW.

    Certas cousas nunca saem de moda para os vampiros e ainda é costume levar um presente quando se visita o refúgio de algum “conhecido”. Como havíamos chegado a pouco, obviamente não tive tempo de comprar nada. Porém Hadrian deum boa ideia e me convenceu a presenteá-lo com uma de minhas pistolas. Como eu sempre viajo com minhas pistolas nas maletas, havia ali um belo presente. Ainda mais por que elas são modelos especiais feitas sob medida em uma das fábricas em que sou sócio.

    – Ferdinand seu filho da… Por que não me avisou que vinham? Certamente teria preparado a casa…

    – Imagina cara e olha aqui… Acho que vai gostar do “brinquedinho” que te trouxe desta vez.

    – hahaha Não tivesse tempo de me comprar nada e vai me dar uma de tuas pistolas é safadão? Mas fica tranquilo fiquei “secando” da outra vez que visse aqui.

    – .50 adaptada para .40, o chassi é feito com uma liga experimental mais leve, tem um sistema antitravamento e mais alguns detalhes que eu vou deixar tu experimentar na prática…

    – Como eu te disse fiquei “secando” e muito elas… Mas vamos lá, que bons ventos o trazem aqui, ainda mais com esse safadão do teu irmão. Vem cá seu puto me da um abraço. Tô com saudades das festinhas ali na Kurfurstenstrasse… E tu não sei quem és, mas se é amigos desses dois está em casa, cara!

    Certamente, vocês já devem ter ouvido falar que os alemães são um pouco frios, mas DW já havia viajado tanto e feito tantas festas conosco que “viramos da família”. Berlin, aliás, é uma cidade onde sempre fomos bem-vindos, ainda mais depois que os muros caíram e a liberdade voltou à cidade. Turismo e recepção a parte eu não sabia o que meu amigo faria naquela noite, portanto resolvi ir direto ao assunto principal.

    – Não sei o que tens para fazer hoje à noite, mas passamos aqui para dar um oi rápido e perguntar sobre algo que estamos procurando pelo país. Já ouviu falar do projeto “Amadeos”?

    Nesse instante a expressão dele mudou um pouco, ele inclusive olhou para os lados e se aproximou de mim.

    – Não pude deixar de fazer um “draminha”. Cara, não sei de praticamente nada disso hahahaha… Mas é bem provável que vocês encontrem algo no Wash’s. É um “strip bar” novo na cidade, onde inclusive preciso ir qualquer dia desses para demarcar território. Parece que estão fechando alguns negócios importantes por lá ultimamente.

    DW é aquele tipo de sujeito cheio de histórias, que as conta de uma forma agradável e sempre te deixa com vontade de conversar mais. Porém, como adoro novidades e o Franz estava ansioso por uma noitada com os irmãos, dei uma “breve cortada” no papo e fui junto dos outros para a tal “Wash’s”. Onde antes mesmo de entrar senti a presença de outros dois vampiros desconhecidos.

  • A Revelação: a história de Rebecca – Parte II

    A Revelação: a história de Rebecca – Parte II

    Senti um choque terrível. Dores de cabeça. Era como se eu tivesse voltado no tempo, então eu pude ver, como em um filme acelerado, cada passo e acontecimento ao longo da minha vida, a revelação de uma história que eu tentava esquecer… Pulei da cama, assustada. Era um pesadelo horrível lembrar tudo aquilo.

    Sai do quarto, estava com fome. Mas, eu sabia que já não me alimentava de comida comum. Mais do que um pesadelo horrível, agora sentia uma fome horrível. A situação só piorava. Será que eu realmente estava sozinha naquela casa?

    Andei pela sala, cozinha, onde não havia nada em que eu pudesse satisfazer minha fome, por outras salas, pela biblioteca. Observei quadros, revirei livros, abri portas, gavetas. Subi e desci escadas, era um tédio sem fim… Então, fui para o sótão. Havia um corredor daqueles escuros e apavorantes. Ao longo do corredor, portas de ferro, como uma prisão antiga. Mas, não havia nada, nem ninguém ali. Lembrei do que aquele homem ainda desconhecido havia falado:

    -“Cuidado com o que mexer e com aonde vai, posso estar fora por uns dias, mas saberei exatamente sobre todos os seus passos.”

    Mas, sim. Eu era teimosa, e curiosa. E já tinha enfrentando todo tipo de dor e tortura possivel. O que mais tinha a perder? Continuei caminhando até o fim do corredor. Parecia o cenário de um filme de terror desses criados atualmente, e, se já existissem certos filmes na época, com certeza imaginaria uma menina possuída aparecendo na minha frente. Porém, o único ser metido a demônio naquele lugar era eu mesmo. No fim do corredor, havia uma porta e, incrivelmente ela parecia ter sido esquecida aberta. Estranho, pensei. Então, entrei.

    Inicialmente parecia uma sala normal, na verdade um escritório “secreto”. Muito bem arrumado e organizado. Imaginei que ali era o local que pertencia ao meu “criador”. Talvez eu não devesse estar ali, mas estava. Observei o lugar. Frio, porém aconchegante. Estantes com livros. Mesas. Uma poltrona. Garrafas com sangue! Bebi três inteiras. Mapas e quadros muito antigos e estranhos. Imaginei então que talvez, houvesse algo naquele lugar que me ajudasse. E sim, havia. Livros. Diários. Manuscritos e muitas anotações.  Um desses “manuscritos” continha instruções para rituais que eu nem sabia para quê serviam. Mas, um dos diários em minhas mãos realmente me surpreendeu. Tontura. Pude vê-lo cair lentamente no chão…

  • Penélope foi a última convocada

    Penélope foi a última convocada

    Os testes com minhas duas garotas espertas foi algo em conjunto, bem na verdade Deb participará de todos, mas deixe-me explicar… Tendo em vista o fato de que Sebastian está cada vez mais “tocando os seus próprios negócios” e eu estou cada vez mais sem algo muito importante, que ele fazia por mim: secretário pessoal para assuntos diversos.

    Obviamente até aqui os mais espertos já captam o que Deb fará? Pois bem, não é que a loirinha seja predileta, mas acredito que cada um deles tem um diferencial e Deb se daria muito bem cuidando desta parte organizacional de meus negócios. Portanto sem delongas, mostrei os planos relacionados a Willian e a Penélope e fomos a casa de Penélope tratar do seu teste.

    Durante aquelas noites até o presente momento Deb está comigo e para ser sincero está desempenhando muito bem o papel de assessora pessoal. Todavia, como ela vai ler isto, pararei por aqui os comentários sobre ela… Tentarei ao menos…

    Então, já na cidade da Pepe marcamos um encontro, onde além dos avisos de praxe, informei-a sobre a tal vaga deixada por Sebastian. Ela não conseguia conter a felicidade e da mesma forma que Sebastian fizera um dia, a garota também vislumbrou um futuro diferente do que havia vivido desde a sua infância.

    – Acalma-te minha criança, sei que isto seria um grande passo para tua vida, mas como falei tens dois concorrentes importantes no páreo… Por hora quero que vá comigo para a “fazenda” passarás as férias de verão conosco, o que achas, vamos?

    Assim como uma criança que havia ganhado um pirulito gigante, eram os olhos dela. Tamanha empolgação que nunca vi uma mulher se arrumar tão rapidamente… Na sequencia voltamos para o aeroporto onde um dos Ghols de Hector nos aguardava as portas do jatinho emprestado.

    Durante o voo passei alguns trabalhos para a Deb e depois de 2 horas ao pousarmos na fazenda dediquei o resto da noite para mostrar o lugar para as duas. Levei-as inclusive a caso do mato de Franz, que devia estar caçando e não pode nos receber.

    Na noite seguinte Franz surgiu, logo de cara me chamou de “safadão” por estar com duas garotas e não deixar ele fazer nada com nenhumas delas. Na verdade, naquela noite eu não estava com muita paciência e como ele já conhecia Deb, receosamente deixei-os conversando e tratei de mostrar o projeto para a Pepe.

    – Sabes que um dos meus projetos pessoais é aumentar a influência politica de nosso clã no mundo homens, certo? Portanto, preciso que utilize tuas habilidades e faça uns “grampos”, se é que vocês ainda utilizem esses nomes… Tens aqui neste iPhone diversos contatos e neste MacBook Air alguns programas que pedi para uns amigos deixarem pré-instalados para teu usufruto… Sim, percebo no teu olhar o quanto ficastes feliz por tais presentes, veja isso como minha boas-vindas, dizem que sou um “chefe” legal, mas não te iludas com minhas adulações, vou cobrar muito de ti, pois afinal de contas sei bem de tuas capacidades!

  • Lobisomens chilenos na década de 30

    Lobisomens chilenos na década de 30

    No início da década de 1930, o Chile enfrentava o uma grande reviravolta política e social. Alguns chamaram aquele período de anarquia, porém nada mais era do que uma espécie de retomada do poder pelo povo, onde os militares entraram em acordo e deixaram aos poucos o comando do país nas mãos dos políticos ditos democratas.

    Como nós sabemos essas mudanças entre regimentos nunca são tranquilas e para meu azar foi justamente numa época em que eu resolvi tirar umas férias por lá. O interesse era simples, o Chile daquela época possuía muitos atrativos, principalmente a possibilidade de contato com uma antiga tribo de Lobisomens de origem Inca.

    Então, aproveitei o momento em que nossa fazenda já estava completamente estruturada e funcionando sozinha, para viajar junto de Sebastian e mais alguns Ghouls. Lembro-me que até comprei um caminhão Ford daqueles AA na tentativa de levar nossas bagagens, porém boa parte do caminho acabou sendo de barco.

    Foram muitos os detalhes, as histórias e tudo mais que precedeu nossa chegada até tal tribo e na verdade isso por si só já renderia bons contos, mas foi o acaso que realmente trouxe Carlos ao nosso convívio. O jovem lobisomem que já apareceu por aqui em outros contos, estava de passagem pelo minúsculo porto de Pisagua e coincidentemente ao mesmo tempo em que fazíamos uma parada por lá.

    De inicio aquela velha simpatia (grosseira, desconfiada e petulante) dos lupinos, porém depois das devidas apresentação, onde especifiquei minha linhagem, conseguimos acesso há matilha. Esta, aliás, na época se concentrava em uma região conhecida atualmente como parque nacional Volcán Isluga. Certamente, muitos de vocês só entenderão essa minha ligação com os peludos depois do lançamento do meu livro 1, mas digamos que nossa proximidade é familiar.

    Cerca de 150km do mar e depois de um longo caminho de paisagens por vezes desértica ou com pedras escuras provenientes da última erupção do vulcão em 1913, chegamos a tal lugar. Dificilmente algum outro Wampir acompanhado de mais quatro indivíduos teria acesso, porém a descendência do Barão sempre me abriu muitas portas ou pernas…

    Completamente diferente do Brasil, aquela região não possuía árvores maiores de 2m, era fria, extremamente alta aos pés do Andes e se não bastasse, eles ainda viviam em casas feitas de barro, pedra e palha. Imaginem vocês que até mesmo Sebastian, que nunca foi de reclamar, estava indignado pelo lugar que eu havia o levado.

    De inicio mais hostilidade e petulância até que novamente minha linhagem entrou em questão fazendo até mesmo o ancião nos pedir desculpas pelo tratamento selvagem inicial. Cabe aqui uma explicação nunca antes dita por mim, de acordo com algumas lendas, vampiros e lobisomens tiveram uma origem coirmã. Sendo assim, as linhagens mais antigas como a minha, transmitem maior credibilidade e confiança entre ambos os grupos.

    Enfim, passamos quatro noites entre eles, tivemos oportunidade de participar de um ritual de fertilidade, mas esse tempo acabou sendo muito curto para que adquiríssemos os conhecimentos que almejávamos. Fomos descobertos por um grupo de caçadores fortemente armados.

    Ataque furtivo, exatamente no final do dia enquanto ainda acordávamos. No entanto, por sorte algumas medidas haviam sido tomadas, como se fundir a terra durante o dia e deixar os ghouls de vigília. Fatores que garantiram nossa proteção até que o sol fosse embora por completo.

    Nesta época eu ainda possuía muito controle sobre minha forma digamos bestial, porém em situações deste tipo, digamos que ela surgia mais facilmente. Muito se fala sobre a selvageria dos lobisomens nos filmes ou livros, mas presenciar uma briga junto de qualquer grupo deles, é algo que certamente faria qualquer um ter seu estômago revirado do avesso.

    Partes humanas voavam pelo ar, junto do rubro plasma, que se intercalava ao cheiro de pólvora queimada. Gritos de mulheres e crianças se intercalavam aos gemidos e golpes secos de socos, garras e tudo mais que pudesse ser quebrado. Uma eternidade havia passado no tempo de alguns minutos até que um longo e gutural uivo ecoou por toda a região. Silenciando desta forma toda aquela evasiva e desnecessária matança.

  • A morte de um mago – 2 de 2

    A morte de um mago – 2 de 2

    Lá estava eu admirando minha caixa de madeira, no intuito de achar alguma fechadura. Não sei explicar, mas algo naquele compartimento me ligava a uma época maravilhosa de minha não vida e era praticamente impossível não ligá-lo a minha querida Su. No entanto, não via nenhuma fresta ou furo naquele bendito cubo de mais ou menos uns 30 por 30 cm, e antes que pudesse investigar melhor tal artefato, nossa atenção foi requisitada novamente ao ritual de passagem de Kieran.

    “Todos em pé, por favor…” e eis que o ritual era retomado , o volume do som fora baixado e algumas tochas foram acessas. Neste momento, o sol já havia se posto e aos poucos algumas janelas eram abertas, junto do telhado móvel. Não sei informar se aquela movimentação do telhado e janelas era automática ou se usava magia, pois aparentemente não havia ninguém manuseando. No entanto, as tochas eram acesas uma a uma e de uma forma muito peculiar.

    Não sei se eu era o único a reparar tal procedimento de bastidores, mas me senti encantado ao ver uma mulher com aparência bonita, na faixa de uns 30 anos, que simplesmente pegava as tochas em suas mãos, mencionava duas ou três palavras e assoprava o pavio. Depois disso, magicamente e cerca de uns dois ou três segundos depois, uma linda chama com cor rosa alaranjada assumia por completo a cabeça da tocha.

    Bom, deixando de lado as particularidades, o ritual prosseguiu com mais alguns discursos. Amigos íntimos do mago proferiram breves palavras e ao fim de mais uma hora, a passagem iniciou-se de fato.
    O altar em forma de cúpula, que recebera o corpo inerte de Kieran, estava forrado com uma fina e viçosa palha seca. Já o corpo do mago fora vestido um manto de ceda, muito decorado e de cor vinho, similar ao utilizado por seus discípulos. Próximo ao mago foram dispostos alguns compartimentos, estes vasos de barro marrom cru continham óleos e emanavam um suave aroma de laranjeiras. Árvore, aliás, que era a predileta de Kieran, inclusive cuja primeira muda, que foi semeada em seu santuário, fora presenteada por Suellen.

    Na sequencia as cadeiras foram afastadas do altar e todos os presentes fizeram um círculo ao seu redor. A pedido dos discípulos nos demos as mãos e ouvimos, em sua maioria de olhos fechados, a prece celta. Isso ocorreu simultaneamente ao ritual de cobertura do corpo pelo manto branco, feito do mais puro algodão egípcio.

    Após este simples ritual, o óleo das jarras de barro fora jogado em torno do corpo e o discípulo que até então apenas ministrava tudo, ficou de joelhos a frente do altar. Este erguera um pequeno cajado ao céus, dizendo em alto e bom tom: “Igne natura renovatur integra… Vá em paz meu mestre e senhor”.

    Ao final da frase a pedra vermelha, que estava cravada no cajado, iniciou a emissão de uma forte luz vermelha, que ficava mais forte a cada momento. Depois de alguns instantes, quando a pedra parecia ter atingido o seu ápice de luminescência, o discípulo, tocou o corpo de Kieran, que ardeu numa explosão de luz e fogo com chamas altíssimas.

    Todos os Wampir presentes incluindo eu, sentimos aquele arder em nossas frágeis peles. Porém graças à regeneração ou ao ritual, quase nenhum moveu pouco mais do que o simples piscar das pálpebras. Sim, estávamos totalmente hipnotizados com aquelas chamas fortemente avermelhadas, porém foram poucos segundos de apreciação até que finalmente restasse apenas pó do que um dia fora Kieran.

    Não sei explicar, mas ao fim daquele ritual eu me sentia revigorado. Muitos dos meus pensamentos estavam digamos mais tranquilos e inclusive eu não conseguira ter outras recordações de Kieran se não apenas dos momentos bons. Tudo o que eu sentira de ruim ou pessimista, não cabia ao momento e muitos foram os que apenas se sentaram ou ficaram calados por alguns instantes. Aproveitando o que certamente era a melhor de todas as sensações, a de paz com o mundo e principalmente consigo mesmo.

    Nunca saberemos o que Kieran ou seus discípulos haviam nos preparado em tal ritual de passagem, porém a sensação de paz nos acomete ainda hoje. Até mesmo Georg que quase sempre está sisudo, não consegue esconder os mais sinceros sorrisos por onde passa.

    Depois das várias despedidas cada um tomou um rumo diferente e para minha surpresa Achaïkos veio falar comigo. Nossa relação nunca foi das melhores, no entanto, para minha surpresa o ritual também parecia ter tocado aquele coração, que há séculos imergia na mais profunda escuridão.

    Quanto tempo não é mesmo? Disse-me o velho Wampir Grego, com seu inconfundível sotaque habitualmente estranho e sem precedentes. O respondi como sempre formalmente no meu alemão mais puro e seco, ou seja, normal.

    Esta conversa apesar de tudo foi rápida. Ele ressaltou o contive para ir as suas terras e ainda disse que eu teria uma grande surpresa ao abrir a tal caixa que naquele momento estava em minhas mãos. Além disso, George também trocou algumas palavras com o velho ancião e logo em seguida partimos novamente para o aeroporto.

    Desta vez Georg conseguira um voo particular e viemos com todo o conforto possível na volta para “casa”. Durante a viagem eu tentei abrir a caixa das mais diferentes formas possíveis, porém em meio às diversas turbulências daquele voo e depois de uma ou duas horas, resolvi tirar um belo cochilo. Sendo acordado apenas quando chegamos ao nosso destino.

    Hoje, ainda estou aqui na fazenda e nessa bendita missão de abrir a agora “famosa caixa”. Confesso que já passou pela minha cabeça: atirá-la ao chão, quase usei um serrote e até mesmo uma marreta frequentou meus pensamentos… Não sei se foi Kieran que a lacrou, mas com certeza quem o fez, queria garantir que eu somente a abrisse em algum momento muito especial… Alguém de vocês me sugere algo para abrir esta caixa, que aparentemente possui apenas alguns “kanjis” entalhados em alto relevo?