Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • Girls night out – Final

    Girls night out – Final

    “Sete botas pisaram no telhado
    Sete léguas comeram-se assim
    Sete quedas de lava e de marfim
    Sete copos de sangue derramado
    Sete facas de fio amolado
    Sete olhos atentos encerrei
    Sete vezes eu me ajoelhei
    Na presença de um ser iluminado
    Como um cego fiquei tão ofuscado
    Ante o brilho dos olhos que olhei”

    Encontrei-me com Hadrian e Trevor, mestre de Lilian, em uma cidade estratégica e próxima de onde nossas vampiras estavam. Sujeito diferente, de traquejo eloquente e de certa forma disciplinado. Pelo que soube é um pouco mais velho que eu e suas habilidades vampirescas são muito peculiares. Seguindo a linha de possessão da alma e de todas as energias disponíveis no mundo, no qual ele e a maioria dos orientais chamam simplesmente de “Ki”.

    – Então és tu que anda arrastando as asas para cima da minha pequena menina.

    – Hahaha relaxa, minha relação com tua filha é puramente fraternal.  Afinal ela é praticamente uma das amiguinhas da minha pequena menina também.

    – Aham sei… E tu ai com essa cara de mau, tá com fome ou vai me morder?

    Hadrian não falou nada ou sequer se moveu para cumprimentar o mestre de Lilian. Visto o ocorrido, resolvi quebrar o gelo e comentei.

    – Ele tá puto com uma humana ai. Relaxa que isso passa durante a nossa missão. Por falar nisso elas mandaram mais algum sinal? Honestamente achei que elas dariam conta do tal “maguinho”.

    – Relaxa meu amigo que mulher é igual biscoito, tu come uma, mas ainda tens mais umas 20 no pacote… Pois agora, eu confio nas habilidades da Lilian, eu a treinei pessoalmente, mas acho que elas fuderam com algum detalhe crucial do plano. É bem provável que nem tenham feito um plano direito e pensando bem, cabe a nós dar um fim adequado para isso.

    – Mulheres são complicadas, mas tuas palavras me fazem muito sentido caro samurai. Respondeu então Hadrian.

    – Eu sei…  Já tive uma cota de complicações, mas eu adoro uma bela complicação. Hahaha

    Diante tal apresentação informal e um tanto incomum, revisamos os planos e partimos para os lugares onde elas poderiam estar. Não foi difícil achar o primeiro lugar em que elas foram aprisionadas e ao tocar nos corpos dos seguranças Trevor descobriu para onde elas haviam sido levadas. Não me perguntem como ele descobriu isso…

    Partimos então para o segundo lugar e lá estavam Becky e Pepe presas dentro daquela armadilha das trevas. Imediatamente Hadrian falou que conteria a magia e Trevor correu para tirá-las do raio de ação do feitiço. Eu por outro lado fiz o que comecei a tomar gosto nos últimos tempos: entreguei-me ao meu demônio.

    A transformação tem me ocorrido cada vez mais rápido e a media que eu corria eu percebia os músculos crescendo, junto dos pelos e demais feições animalescas. Mirei a porta e entrei com tudo, quebrando moveis e rasgando a carne de quem aparecesse a minha frente. Espalhando sangue e vísceras por todos os lados. Parei apenas quando o tal mago criou uma luz mágica e que me cegou instantaneamente.

    Momento no qual meus aliados também chegavam ao palco da carnificina. Lilian ainda estava amarrada a uma cadeira e aparentemente xingava todos que estavam ali antes que eu entrasse.  Porém  assim que entrei ela caiu e teve de esperar alguém que lhe libertasse. Hadrian foi o primeiro a agir e foi rápido. Utilizou seu poder de levitação e estourou a cabeça da maldita bruxa contra o teto do lugar.

    Eu ainda estava na forma bestial e recuperando a visão para atacar aquele filho de uma puta,  quando Trevor rapidamente assumiu minha frente falando e batendo palmas doentiamente:

    – Parabéns seu babaca. Finalmente nos encontramos, então quer dizer que tu queria fuder com a minha filha? Você pensou realmente que sairia bem dessa? Vem cá meu querido filho de uma vaca que hoje é você que vai levar uma bela enrabada, seu maguinho de merda. Ninguém mexe com a minha pequena! Seu puto!

    Confesso que naquela situação eu queria apenas ver uma última cabeça rolando, mas comecei a rir doentiamente ao mesmo tempo em que minha transformação era  desfeita e Trevor cuidava do “big boss”. O tal mago tentou resistir, mas o vampiro parecia imune aos seus feitiços, inclusive os mentais. Tanto que ele se aproximou rapidamente do infeliz, segurou com força os seus braços e o encarou em silêncio por alguns instantes.

    – Sabe, hoje eu acordei com muita fome… E acho que acabei de achar minha refeição…

    Em seguida o corpo do mago começou a tremer e alguns poucos como eu, Hadrian e talvez Becky conseguimos ver a energia dele se esvaindo em direção a boca de Trevor. Pouco tempo depois o corpo do infeliz parceria uma múmia antiga e havíamos presenciado uma nova forma de alimentação.

    Em seguida e Becky soltou Lilian, que estava completamente transtornada. Tanto que ela não disse nada e imediatamente se dirigiu ao corpo mumificado do infeliz. Sem piedade alguma ela arrancou a cabeça dos restos mortais e veio a minha direção com aqueles lindos olhos verdes gigantes. Entregou-me dizendo:

    – Aqui está o prometido boss. Espero que ajude como um peso de mesa.

    Com um belo sorriso e o que me pareceu um piscar de olhos, ela se afastou e foi em direção de Trevor, que a recebeu com um longo abraço.

    Apagamos nossos vestígios em ambos os lugares. Pepe anexou os bens e ações do maldito ao nosso inventário e nosso clã está mais próximo do clã de Lilian. Trevor é um sujeito que lida com as cousas de um modo muito peculiar, mas confesso que estou feliz por ter seus dons ao nosso lado.

    – Ferdinand meu caro, que tal irmos até o nossa casa, lá vocês podem descansar e se recuperar. Acredito que nossa atual aliança permita a discussão de alguns negócios bastante lucrativos!

    – Claro, ótima ideia! Mesmo por que vai amanhecer em breve e eu adoro negócios lucrativos.

    – Ótimo, ótimo. Vou adorar a companhia de vocês e creio que as meninas queiram ficar juntas mais um tempo. Lili meu amorzinho, tome sua espada. Becky e Pepe. É um enorme prazer conhecer tão belos seres como vocês.

    Lilian revirou os olhos e deu uma leve risada, obviamente ela havia ficado envergonhada diante as palavras de seu mestre. Porém, apesar de alguns atos doentios eles pareciam ser “bons vampiros”. Ofereci uma carona para Pepe na garupa da moto, mas ela preferiu o conforto da Mercedes de Trevor. Aliás, todos foram com ele de carro e eu atrás comendo poeira. Estava apenas de calças rasgadas e torci para que nenhum “policial mala de interior” surgisse para acabar com o meu estase pós-batalha.

    PS: Trevor passou o dia inteiro dando em cima de Becky.

  • Girls night out – A missão – Pepe – Pt6

    Girls night out – A missão – Pepe – Pt6

    Fiquei um pouco receosa, achando que a Becky não daria conta de guiar a moto comigo na garupa, mas até que ela se virou. Claro, que não pilotou tão bem quanto o Fê e quase caímos por causa de alguns buracos.  Abstrai o medo de cair, me concentrei num celular que peguei de um dos capangas que matamos e depois liguei imediatamente para o Fê. Ele ficou feliz e bravo ao ouvir minha voz, mas me acalmou dizendo que estava junto do mestre da Lili, perto de nós e que logo tudo iria acabar.

    Seguimos eles por um tempinho até que pararam numa porteira no meio do mato e que aparentava ser  a entrada de algo maior. Esperamos eles entrarem e tivemos de dar conta de um dos seguranças que havia ficado de vigia. Novamente Becky distraiu o sujeito e eu cravei minhas presas no pescoço dele. Deixei um pouco de sangue no corpo para a Becky e depois que ela sugou o resto fomos como duas felinas sorrateiras para dentro do lugar.

    Na entrada tinha algumas arvores bem fechadas, que aos poucos foram ficando mais abertas e nos mostraram um lugar lindo. Estávamos numa sede social ou casa de campo grande e bem iluminada. A quantidade de seguranças havia dobrado e por algum tempo eu desejei apenas que o Fê chegasse e resolvesse tudo. Só que naquela hora eu me virei para Becky e vi seus olhos brilharem. Não consegui entender se ela estava excitada ou tão abalada quando eu, mas assim quem ela voltou a si ela me falou empolgada:

    – A Lili está amarrada num canto e desacordada. Tem mais alguém com o mago e tem tanto poder quanto o dele. Tem 14 criaturas ao todo por aqui e sem contar nós duas.

    – Uouu, como que você conseguiu ver tudo isso?

    – Usei um poder que ainda estou aprendendo, mas digamos eu levei meu espirito para dar uma voltinha pelo lugar e consegui essas informações.

    – Tô de cara amiga, será que consigo aprender? Brincs… O que sugere que façamos? Vamos esperar o Fê e pessoal?

    – Tô pensando, mas eu podia distrair alguns deles e tu podia entrar super-rápida e tirar a Lili.

    – Não sei amiga. E se o outro cara lá for mais punk que o mago que nos prendeu?

    – Tem essa também, bom vamos tentar ser o mais silenciosa que conseguirmos e ir acabando com eles aqui por fora então?

    – Ahh deixa aqueles três comigo, você  vai para o outro lado e nos encontramos atrás da casa.

    Mal deixei a Becky responder sim ou não e sai a toda para cima dos malditos. Pulei de um arbusto a outro e com duas passadas quebrei o pescoço do primeiro. Em seguida me escondi numa parede, depois agarrei o segundo pelas costas e antes dele gritar eu soquei sua garganta. Ele se contorceu  um pouco, mas sufocou em seguida. O terceiro viu minha aproximação, mas por sorte havia uma faca no colete do segundo e arremessei. Ela bateu numa das paredes e caiu longe do cara. Ele deu uma risada, veio até mim e começamos uma briga pelo chão. Ele era muito forte e conseguiu me prender de costa, só não contava com um contragolpe que o Franz me ensinou e me permitiu reverter a situação. Agora era ela que estava de costas para mim no chão deixando aquele belo pescoço a mostra. Foi por pouco e tudo aquilo havia me mostrado que eu precisava treinar muito mais. Não se trata apenas dos poderes, como diz o Fê.

    Encontrei Becky do lado de trás da casa e ela havia detonado mais quatro caras.

    – Só falta outros sete – Disse ela com o olhar ainda mais brilhante.

    – Ah tá fácil, e ai tem mais alguém aqui por fora?

    – Não, vem aqui, acho que conseguimos entrar pelos fundos.

    Tentamos entrar, mas tanto as janelas como as portas estavam seladas magicamente e tirando a forma espiritual acho que mais nada conseguia entrar naquele lugar. Além disso, eu marquei bobeira novamente e não percebi que alguns arbustos prenderam minhas botas ao chão. Olhei para os pés de Becky e ela também estava presa. Antes mesmo de tentarmos algo a cortina de uma das janelas foi aberta e surgia a nossa frente uma mulher velha. Seu olhos eram pretos por completo e assim que nos localizou ela olhou fixamente nos meus olhos e abriu a boca.

    Uma fumaça preta começou a sair da boca da bruxa, atravessando as frestas da janela e nos envolveu. Ficamos cegas, como se estivéssemos na escuridão completa. Tentei me mexer, mas tudo acontecia mais devagar, até que sinto um forte puxão no braço direito e que me arremessou para longe. Cai há  umas 7 ou 8 passadas largas da casa e pude ver próximo de onde eu estava um sujeito forte e com uma katana presa as costas. Ele fez o mesmo com a Becky e só depois disso percebi que ao meu lado estava Hadrian concentrado de olhos fechados e ao longe correndo em direção da casa o Fê em sua forma mais sinistra, bestial e demoníaca.

  • Girls night out – A missão – Becky – Pt5

    Girls night out – A missão – Becky – Pt5

    Corri o máximo que pude junto a Pepe, mas não estava com intenção alguma de fugir. Estava extremamente com raiva por não ter sentido a magia que nos rodeava antes de sermos capturadas. Mas, tínhamos uma missão a cumprir e faríamos isso com perfeição, mesmo com os incidentes. Além disso, a Lilian acabou ficando para trás, tentando nos ajudar e, ainda estava capturada, por tanto, não iríamos deixá-la.

    Sentamos em baixo de algumas árvores para recuperarmos o fôlego e pensarmos no que iríamos fazer. Pepe já não parecia tão machucada, se recuperava muito rapidamente e eu, era um pouco mais resistente, pois com as seções de tortura que Erner fazia a mim, meu corpo aprendeu a se regenerar mais facilmente.  Porém, aquela magia estranha vinda do tal mago parecia ter afetado nossas energias.

    – Pepe, precisamos pensar rápido no que fazer, não podemos ficar aqui paradas.

    – Eu sei Becky, mas ainda estamos fracas. Precisamos recuperar nossas energias, salvar a Lilian, que agora está lá sozinha e matar aquele maldito.

    -Matar todos aqueles malditos! Além disso, esquece que Lilian conseguiu mandar aquela mensagem para avisar o mestre dela.  Os nossos celulares foram completamente destruídos, não temos certeza se a mensagem foi realmente enviada e não podemos ficar esperando por eles, afinal, não é isso que o Fê esperava de nós quando nos mandou para cá.

    -Está mais do que certa Rebecca! Já sei o que podemos fazer… Ainda consegue confundir algumas mentes?

    Pepe era muito esperta, e teve sorte por ter como mestre, o Ferdinand. Eu havia aprendido muitas artimanhas com a necessidade de me virar sozinha. E então, partimos para a ação. Não tínhamos tempo a perder, afinal haveria poucas horas até o amanhecer. Aproximamo-nos do local, era uma casa antiga, com janelas altas e fechadas por dentro com madeiras mal pregadas. Mas, era possivel ver que havia luzes acessas. Caminhamos até os fundos da casa. Havia seguranças por todos os lados. Alguns capangas levavam Lilian cabisbaixa para dentro de uma caminhonete, ela e dois deles entraram no banco de trás, na frente, havia um na direção e um no banco do carona fortemente armado. Em outro carro, vimos mais alguns caras armados e o tal mago escoltado por todos eles.

    Pepe e eu nos aproximamos lentamente de dois caras que vigiavam mais a frente e estavam fora de vista dos demais. Com o pouco dos poderes que me restavam, confundi-os fazendo com que vissem vultos, algo que eu raramente conseguia fazer. Em um momento de distração de ambos, os pegamos pelas costas e com muita fome, bebemos todo aquele sangue sujo até não restar uma gota. Com as forças recuperadas conseguimos matar mais alguns pelo caminho, até acharmos algo que nos permitisse segui-los.

    -Para onde será que eles estão indo, Becky?

    -Para onde, eu não sei. Mas, acho que essa” troca” de esconderijo deve ter algum motivo.

    -Sabe pilotar essa moto?

    Eu olhei para Pepe, só havia pilotando uma moto em minha adolescência, o que quer dizer, há muuuuito tempo.

    – E temos outra opção, minha querida?

  • Servidão – pt2

    Servidão – pt2

    A alguns quilômetros do cemitério, em uma pequena cidade vizinha, o vampiro de origem egípcia Abdulah se encontrava deitado calmamente em sua cama, fumando um narguilé. Ao seu lado, dormia Maria de Assunção, sua esposa, os cabelos castanhos claros estendidos sobre o travesseiro, uma de suas mãos apoiada no peito de Abdulah, quê a acariciava de tempos em tempos…

    —Abdul… —sussurrou a moça, não mais quê um suspiro. O homem tragou um pouco mais do narguilé e o soltou em baforadas lentas, a fumaça lhe escapando dos lábios em pequenos círculos.

    —Sim? — Respondeu finalmente, os lânguidos olhos cor de mel admirando o corpo da esposa, uma ponta de desejo se formando em seu peito.

    — Por que não estás a dormir?—Maria se aproximou um pouco mais, deitando parte do corpo no peito de Abdulah, onde antes se encontrava sua mão. Tentou Puxar de leve o narguilé do mais velho, quê preguiçosamente puxou o corpo da moça para si, num abraço possessivo.

    —Tu me fez falta, mulher. —Comentou Abdul, um sorriso predador nos lábios.

    —É mesmo? Mas se fostes tu que me mandaste para a Europa, de forma a conciliar teus irmãos… —Maria sorriu, beijando de leve a face do esposo, ao mesmo tempo em que traçava círculos lentos no pescoço do mais velho, solene carícia. —Madame Scylla ligou, eu imagino… ou vai ligar, dependendo da hora.

    —Já ligou querida. Tenho de vê-la o mais rápido possível, ainda esta noite.

    Maria encostou os lábios no pescoço do egípcio, que soltou um leve suspiro, esticando o corpo, dando-lhe mais espaço.

    —Pois eu vou com você.  — Maria sorriu entre os beijos, os dedos se prendendo nos fios negros de Abdulah, que emitiu um som leve, parecido com o ronronar de um gato.

    —Não, não dessa vez. Tu ainda estás cansada da missão que eu vos encarreguei na Europa. Fique e descanse. —Respondeu-lhe o marido, ao mesmo tempo em que a beijava nos lábios, calculando lentamente quanto tempo teria para saborear a esposa, seu desejo contido a algumas semanas…

    —Mestre. Meu lugar é ao seu lado, e aonde tu fores eu irei, lhe servir de escudo… —Queixou-se a moça, interrompendo o beijo. Abdul a abraçou, ao mesmo tempo em que tentava se acalmar e não perder o controle.

    —Tu não és mais minha serva, Maria, tu bem o sabes…

    —Não, Abdulah. Eu sou ambos, tua serva e tua esposa. —Declarou firmemente Maria, os olhos verdes firmes a encarar o mais velho, que cerrou os lábios, irritado.

    Em menos de um segundo havia largado de todo o narguilé e puxado a moça para cima de si, fazendo pressão em uma certa área, os olhos cor de mel ficando um pouco vermelhos, os dentes a mostra:

    —Minha esposa, e minha serva? Tu existes solenemente para me servir? Pois bem, minha querida… — Cravou os dentes no pescoço da moça, que soltou um gemido, misto de dor e prazer.

    —Sirva-me da melhor forma que tu o podes fazer, e sacia os meus desejos…

    Mais tarde, Abdulah se encontrava na porta de casa, se preparando para sair. Ouviu passos leves atrás de si, e sorrindo preguiçosamente virou-se em direção a esposa:

    —Pensei que eu houvesse te cansado o bastante, de forma que tu não pudesses te mexer por algum tempo. Mas parece que me enganei.

    Maria, enrolada em um cardigã preto de seda, que deixava pouco a imaginação, curvou se no chão, a cabeça baixa, como fizera há tantos séculos atrás, ao jurar lhe sua lealdade:

    —Pois eu lhe disse mestre… Eu sou teu escudo, e aonde tu fores eu irei.

    Abdulah sentiu uma leve dor no peito. Esperava que um dia, Maria entendesse o quanto ela lhe era cara, amada. Que pudesse, principalmente, esquecer a forma como o egípcio a tratara no início, não mais que uma empregada a lhe servir na enorme casa que possuía, em Lisboa. Enquanto este dia não chegava, porém…

    —Me dê uma ordem, e ela será seguida. — sussurrou lhe Maria, os dentes a mostra, se preparando para a transformação.

    Abdulah passou as mãos pelo cabelo, incomodado. Com voz de comando, porém sibilou:

    —Te transformes em um corvo. Quero que fique junto a mim, durante a reunião com Madame Scylla, e que não faças um pio sequer. Nós discutiremos o que tu pensas a respeito da reunião depois, quando voltarmos.

    Maria se despiu do cardigã, ainda curvada, e se transformou em um corvo, pousando firmemente no braço de Abdulah.

    —Sim, mestre. — respondeu a moça mentalmente, os olhos negros a espreita, se preparando para o que viria a seguir…

  • Bruxaria (magia moderna)

    Bruxaria (magia moderna)

    Neste tempo que “fiquei de molho” em função da transformação de minha doce Pepe, Aproveitei para por em dia minhas leituras e escrevi mais algumas páginas de meu livro, que vai sair no primeiro semestre do ano que vem.  Sim, depois de muito tempo enfim essa trilogia vai deixar de ser apenas um projeto e isso é tudo o que posso falar, ao menos por agora.

    Pois bem, dediquei boa parte do meu tempo livre para me aprofundar na bruxaria contemporânea, ou como eu prefiro chamar: magia moderna.  Seus ritos, procedimentos e  adaptações as práticas tradicionais. Confesso que eu esperava mais criatividade ou pelo menos que este assunto estivesse mais na ótica dos povos de hoje, mas no geral foram poucas as adaptações ritualísticas desde aquelas retratadas nos primórdios do sec. XIX.

    Sou um mero entusiasta deste assunto e não é do meu interesse que isto se pareça com compendium, mas nesta onda atual de compartilhamentos, julgo importante quaisquer menções, mesmo que mínimas, sobre um assunto tão fantástico. Noites atrás, por exemplo, nós publicamos um breve rito sobre amor na página do Facebook e foi uma das publicações mais acessadas.

    Delongas a parte, pedi para Hadrian produzir um texto em parceria comigo e segue abaixo boa parte do que conversamos nas últimas noites…

    Meu primeiro contato com magia ocorreu há longos anos e desde então minha visão sobre o mundo teve diversas alterações. Passei a acreditar na energia, experimentei-a em suas mais diversas formas e inclusive fiquei de joelhos ao perceber, que apenas uma centelha dela pode arruinar diversos caminhos. Portanto, para que compreendas parte do que digo é necessário, antes de tudo, que entendas um simples conceito: não existe bem ou mal, existe energia e as consequências de sua aplicação, estas aliás, que podem ressoar eternamente.

    Quando o magista faz a consagração, abre o círculo e pratica algumas evocações ou invocações em seu altar. Ele deve ter em mente que isso lhe gerará alguma espécie de reação. Sabe a lei de ação e reação? Este é um conceito muito simples e que deveria ser à base do aprendizado dos estudantes.  Este é o ponto no qual eu queria chegar nesta dissertação, pois foi o que mais me surpreendeu na magia moderna.

    Vejo atualmente muitos aprendizes praticando a velha arte da forma errada, pensando apenas no momento e esquecendo-se do futuro de seus atos. A magia não é uma brincadeira de crianças, tanto que antigamente muitos adeptos somente podiam estudá-las mediantes diversas provas de proficiência. Hoje em dia a internet rompeu esta barreira, permitindo o acesso a rituais, feitiços e práticas até então guardados a sete chaves. Algo fabuloso, mas extremamente perigoso.

    Portanto, esta foi minha dica para os iniciantes. Estou trabalhando outros textos com o Hadrian e a nossa ideia é trazer mais destes assuntos aqui para o site. Inclusive falarei numa próxima parte sobre a preparação do altar, do ritual de consagração e de como tais procedimentos podem ajudar na concentração para as invocações e evocações.

  • Girls night out – A missão – Lilian – Pt5

    Girls night out – A missão – Lilian – Pt5

    Que lugar é esse? Pensei comigo. Eu ainda estava tonta por causa de algum tipo de magia pesada e pela pancada que  havia levado na nuca, mas aos poucos  consegui lembrar do que havia acontecido. Estávamos sentadas num bar a beira da estrada, apenas observando o movimento no lugar, pois seria um dos locais de encontro dos capangas do tal mago que procurávamos.

    Passados alguns minutos, o lugar começou a ficar com um cheiro estranho, uma sensação de podridão,  indicando que algo pesado estava acontecendo naquele lugar. Puder sentir uma presença diferente, não era um vampiro ou lobisomem, mas sim um humano. Um humano com alguns dons bem notáveis. Olhei para Becky e Pepe, ambas pareciam retraídas com a tal presença, como se tivessem sido petrificadas. Vendo que tudo poderia ir por água abaixo e que talvez fossemos sequestradas ou atacadas não pensei duas vezes e mandei uma mensagem no Whatssap do Trevor : “Plano de ajuda ao Ferdinand indo para o buraco. Acione  o clã dele e os nossos da Ordem. Caso aconteça algo comigo, faça de tudo para salvar as meninas dele! Tentarei resistir ao máximo. Use o rastreador do meu celular para nos achar. Sorry Dad… I love you… :/”

    Assim que consegui mandar a mensagem, senti que a minha katana ainda estava escondida pelo feitiço do espelho. Olhei em volta mais uma vez, e contei quantos possíveis homens teria que enfrentar. Além da espada, todas nós estávamos armadas, não queríamos dar sorte para o azar, eu então coloquei minha mão disfarçadamente dentro da minha jaqueta de couro e segurei uma Colt Phython, e em meu cinto eu havia escondido algumas facas de arremesso. Antes de entrarmos lá também dei a Becky uma arma Colt Trooper e outra arma para Pepe, uma Desert Eagle.50.

    Mas de nada adiantou toda essa artilharia pesada, uma força maior e portadora de poderes mentais, entrou no lugar e baixou nossa guarda, em questão de segundos tudo foi para o ralo.  Senti uma mão tocar meu ombro e sussurrar algo do tipo “Seus poderes de luta não irão funcionar aqui. Melhor soltar essa bela Colt e nos seguir, se não suas amiguinhas morrem.”

    Quando olhei na direção da Pepe e da Becky, vi que estavam no chão, sendo amarradas, e que Pepe tentou resistir e levou alguns chutes no rosto. Aquilo me fez perder o controle, minha primeira reação ao ver as duas daquele jeito foi pegar e estourar os miolos daquele brutamontes e depois atirei em mais dois, antes de finalmente ser pega e poder ver o rosto do tal mago.

    – Olha o que temos aqui! Uma serva da famosa Ordem Vermelha… Senhores contemplem esse belo ser. Eles são treinados para matar de forma politizada. Como viram é melhor ficar com olhos bem abertos para essa bela donzela.

    Quanta arrogância para uma pessoa só! Um homem de estatura mediana, longos cabelos ruivos, olhos negros, parecia até o próprio Satã. Como ele sabia da Ordem?

    Minha cabeça girava, com perguntas e com a dor da pancada no estomago, e foi quando tentei me soltar, mais uma vez para salvar as meninas, levei uma pancada na nuca e tudo ficou escuro,  meu corpo cedeu a dor, caindo como uma pedra no chão.

    Quando finalmente voltei ao normal depois de seguidas pancadas e algum tipo de feitiço que nos deixou ali congeladas como pedras por o que parecia um bom tempo, pude me sentar e olhar ao redor, vi que estávamos em algum tipo de porão, ótimo lugar para manter alguém de refém. Procurei pelo meu celular, mas ele havia sido levado, junto das outras armas, inclusive a minha katana, óbvio que aquele cara estranho percebeu a presença dela e a retirou de mim. Chamei bem baixinho Becky e ela respondeu com uma voz muito fraca, mas consciente. Logo em seguida chamei a Pepe e não obtive resposta, o desespero bateu no meu peito, tentei de todos os jeitos me soltar, em um ataque de fúria consegui romper as cordas que prendiam minhas mãos e então pude soltar minhas pernas e ajudar a Becky a se livrar das amarras.

    Quando cheguei perto da Pepe a vi encolhida em um canto,  deitadinha, ainda presa, aquilo me deu um remorso, soltei ela e então a segurei em meu colo, o rosto dela ainda estava machucado dos muitos chutes que ela levou, se ainda conseguisse chorar como uma humana, com certeza eu estaria chorando naquele exato momento. Limpei o sangue dela com minha blusa, mais uma vez a chamei “Pepezita, acorda querida, acorda!”, milhares de pensamentos passaram por mim, um deles era , “Como o Ferdinand reagiria se a mais nova cria dele sofresse o pior?”, tive a certeza que ele ficaria sem rumo, afinal a Pepe era a menina dos olhos dele.

    Becky sentou ao nosso lado, e começou a fazer leves carinhos na cabeça da Pepe, eu ainda a segurava como se fosse um cristal pronto para quebrar. Mais uma vez chamei Pepe e para meu alivio ela finalmente respondeu “ Lili, Becky, meu corpo dói muito.”

    Lógico que doía, ela tentou de todas as formas nos proteger, foi forte, e acabou levando a pior. Eu claro que queria me vingar, e Becky compartilhava da mesma vontade de vingança.

    Após alguns minutos de silencio, Becky levantou-se e começou a vasculhar o lugar em busca de alguma saída, enquanto eu ajudava Pepe levantar do chão e ficar em pé. Becky achou a saída e conseguimos ouvir alguns homens do lado de fora patrulhando o local. Era noite para nossa sorte, mas estávamos sem armas, com a Pepe ainda bem machucada e a minha espada desaparecida, se ao menos eu a tivesse, tudo seria menos complicado.

    – Lili, você tem algum plano? Por que eu sinceramente não sei nem por onde começar.

    – Eu não sei Becky, meus planos nesta situação, são todos planos suicidas. Estamos desarmadas, rodeadas do que parece ser um pequeno exercito particular ali fora e a Pepe está muito machucada.

    – Se quisermos sair daqui, temos que tentar algo, certo?

    – Mas o que?

    – Se eu conseguisse chegar até a parte superior, poderia confundir alguns dos seguranças e você poderia tentar abrir passagem de alguma forma, levando a Pepe para fora e eu as seguiria.

    – É uma opção muito boa. Mas eu precisaria da minha espada para isso e para nossa sorte, consigo senti-la na sala ao lado.

    – Então vamos melhorar o plano, deixamos a Pepe escondida aqui enquanto subimos, pegamos tua espada e abrimos passagem. Eu volto para pegar a Pepe e a levo para fora e volto para te ajudar.

    – Não precisa Becky, assim que pegar a Pepe, dê o fora daqui! Não olhe para trás e nem tente voltar. Corra até o encontro do Ferdinand, ele provavelmente está a caminho daqui junto do meu mestre  e do clã de vocês. Mandei uma mensagem para Trevor antes de sermos capturadas. Talvez os caras daqui estejam esperando por eles também.

    – Lili eu não vou deixar você aqui! De jeito nenhum!

    – Você vai e vai levar a Pepe com você. Assim que encontrar com eles, tenho total certeza que virão ajudar.

    – Lili não…

    – Becky vai dar tudo certo!

    Era um plano um tanto suicida, mas era nossa única opção. Becky escondeu Pepe embaixo de uma mesa com o que parecia ser um lençol mofado e então se encontrou comigo na porta que poderia nos trazer nossa total liberdade ou a nossa ruina.

    – Preparada Becky?

    – Sim e você?

    – Também.

    Com um chute abrimos a porta e Becky se escondeu rapidamente atrás do que parecia ser um grande armário, dando inicio a manipulação mental nos seguranças, eu corri em direção a minha katana, ela estava nas mãos de um dos idiotas comandados pelo ruivo. Voltei até Becky e pedi que ela pegasse a Pepe, ela rapidamente foi e tive que enfrentar alguns homens, degolando, cortando braços, pernas e tudo que podia para abrir passagem para as duas. Becky ajudava Pepe correr enquanto eu abria passagem, senti que os poderes de manipulação da Becky estavam acabando e então empurrei as duas para o que parecia ser a porta de saída daquela casa e atrai os outros em minha direção. Vi que Becky correu alguns metros de distancia do lugar junto de Pepe e em um movimento eu senti uma fisgada na perna e então cai, pude ouvir Becky gritando meu nome, olhei na direção dela e apenas consegui dizer “ Corre! “, algumas lágrimas de sangue escorreram o rosto da Becky e da Pepe, mas elas obedeceram e saíram dali. Senti meus braços serem amarrados mais uma vez, mas aquilo não me incomodou, afinal tinha ajudado duas pessoas no qual eu criei um grande carinho e que demonstravam o mesmo afeto por mim, o mesmo afeto que eu apenas senti da minha falecida mãe e do Trevor, antes de conhecer o clã do Ferdinand.

    Pude sentir a presença do ruivo de novo, o mesmo cheiro podre junto dele.

    – Deixem as outras irem rapazes. Eu quero fisgar o grande Ferdinand e de brinde parece que teremos a presença dele e de mais dois vampiros antigos. Consigo sentir a presença do teu mestre querida e também de outro poderoso vampiro. Talvez consiga completar minha coleção de relíquias!

    – Você não vai conseguir nada. No fim de tudo isso eu vou assistir a sua cabeça sendo arrancada e colocada em uma mesa com um peso de merda para livros.

    – Veremos querida… Veremos! Além das amarras, calem a boca dela, toda essa falação está me dando nos nervos!

    Fui então jogada no porão novamente, agora eu apenas torcia para ser salva de alguma forma, sabia que Trevor e Ferdinand viriam, só não tinha certeza se seria a tempo. Mas mesmo que eu não os visse mais, uma sensação de dever cumprido  por ter ajudado alguém que me aceitou do jeito que eu sou com tanto afeto, já eram suficientes para mim.

  • Girls night out – A missão– Pt4

    Girls night out – A missão– Pt4

    Primeiro eu gostaria de informar que a Pepe está sob efeito recente da transformação e é normal ela querer “puxar meu saco”. Todavia, boa parte do que ela disse pode ter vindo mesmo de seus pensamentos mais profundos e intensos. Questão que me é vista com muito carinho também.

    Como minhas queridas vampiras novatas no clã, detalharam em seus relatos anteriores, nos reunimos para um breve bate papo na forma de luau e a beira de um lago na fazenda. No qual festejamos nossas alianças e especifiquei minha vontade de estreitar nossos laços na sociedade vampiresca. Afinal, como todos bem sabem a união faz a força.

    Negócios vampirescos não são feitos apenas na base da palavra ou com contratos de papel e quase sempre se baseiam também na troca de favores. Portanto, para alguns de vocês já deve estar claro o que eu lhes pedi, mas vamos por partes e ao melhor estilo “tio Jack”.

    “Pois então minhas belas senhoritas. É sempre um prazer estar junto de vocês e preciso fazer uma pausa nesta noite de festa. Como bem sabeis nosso clã foi prejudicado recentemente por um  pilantra, que ludibriou uma de minhas Ghouls e afanou certas informações sobre uma de nossas empresa. Tal ser desprovido de inteligência, certamente não sabe onde se meteu e já que ele não utiliza sua cabeça por completo, eu desejo-a para utilizar como peso de papel.  Como eu não quero que isso se torne uma disputa entre todas vocês, eu vou premiá-las de uma mesma forma e independente de quem der o golpe final no fdp. Obviamente, além do presente, que ainda vou pensar, o clã da Lilian vai ter um favor em aberto conosco. O que proporcionará, imagino eu, um maior estreitamento de nossa amizade.”

    Diante tal pronunciamento Lilian disse que precisava da permissão de seu mestre para agir em tal empreitada, mas se mostrou muito empolgada pelo fato de poder por em prática seus estudos e treinamentos. Becky e Pepe sentiram-se felizes com a oportunidade de demostrar serviço para o clã e aquilo melhorou meu ânimo. Até então atordoado pela situação que a maldita loira havia proporcionado com sua traição.

    A transformação de Pepe havia sugado minhas energias de uma forma diferente aquela em que ocorrera com Sebastian. Ainda preciso consultar algum vampiro mais antigo para saber se fiz tudo certo, mas acredito que foi apenas uma fadiga ou stress. O importante é que aproveitei nossa festinha para voltar a frente do clã e dos negócios.

    Inclusive, estou com planos para novos investimentos e viagens. Quem sabe esteja novamente na hora de cair na estrada e conhecer novos lugares ou seres. Este ano eu resolvi me isolar do mundo, mas por que fazer isso se posso ir para todos os lados? Por que se prender em algo tendo a eternidade pela frente? Não sei as respostas para prevenir a rotina e a acomodação. Sei apenas, que eu não sirvo para ficar tanto tempo no mesmo lugar ou criar raízes como muitos preferem.

    Na noite seguinte a festa fui informado por um Ghoul que as garotas saíram cedo. Pepe inclusive havia me deixado um bilhete, que só vi depois de um belo banho quente, dizendo que me mandaria “sinais de fumaça” a cada noite e cada descoberta. Restou-me apenas seguir com os planos e desejar que o inimigo fosse apenas um cabeça oca qualquer.

    Três noites depois recebi a primeira mensagem de Pepe. Era uma gravação de voz no whatsapp cuja voz provavelmente era do meu novo inimigo:

    “Foi uma decepção enorme o fato de nenhuma cria do Exmo. Sr. Wulffdert ter vindo ao meu encontro. Por causa de tal infortúnio esclarecerei minha intenção: Manterei estas três pupilas intactas, até que vós resolveis vir buscá-las… Cuidado, posso ficar impaciente tão logo a lua nova se aproxime!”

    Liguei imediatamente para Franz e Eleonor…

  • Servidão – pt1

    Servidão – pt1

    A The March Hare enviou-me mais algumas histórias do vampiro Ernst, no qual compartilho com vocês abaixo:

    Servidão – Parte 1

    O cemitério de Bom Descanso era um dos mais requisitados em todo o País. Suas lápides eram todas iguais e seguiam um padrão clássico, onde todas as cruzes, santos e vasos contidos alí deveriam ser da cor branca, de modo a trazer mais paz para os seus poucos visitantes. Stephen Ernst não se encontrava nem um pouco em paz. Enterrado a alguns palmos abaixo do chão, Ernst gritava a plenos pulmões, esperando que algum conhecido imortal o ouvisse ou, (mais provavelmente) sentisse a sua fraca presença dentro daquele caixão.

    – Alguém me escute e me tire daqui! – Exclamou Ernst, o corpo dolorido devido ao longo tempo deitado na mesma posição.

    Rapaz orgulhoso, não implorava nem em uma situação tão delicada como aquela. Pensando em ninguém mais do que em seu mestre e em como o mesmo o deveria estar procurando, Ernst mal sentiu a presença de um imortal parado em cima do seu caixão, a vários metros acima do solo.

    – Me deixe sair! – Gritou Ernst, o som de sua voz a lhe machucar os ouvidos, o apertado caixão lhe proporcionando uma desagradável sensação de claustrofobia.

    “Acalme-se, criança.” Sussurrou-lhe mentalmente o estranho que se encontrava em cima de sua lápide. “Eu te tiro daí, se permaneceres quieto…”

    – Mestre! Abençoado seja! – Respondeu-lhe Ernst, os olhos cheios de lágrimas, o medo já começando a lhe tomar a razão.

    “Criança Ingrata! Não podes nem cumprir uma simples ordem, logo tu, que me implorou por uma chance de se mostrar digno do presente que eu vos dei? Eu deveria deixá-lo aí, preso por toda a eternidade!”

    Ygor Pietro se afastou da lápide e fingiu se encaminhar para a saída quando ouviu Ernst chorar, a voz baixa e subserviente que lhe dava tanto prazer:

    – Por favor, mestre, eu lhe imploro. Tires-me daqui, e eu prometo que farei o possível para pagar pelos meus erros!

    Ygor sorriu. Os alvos dentes à mostra, no rosto uma expressão mista de desdém e compaixão por aquela cria que havia apenas causado tumulto, mas que lhe era tão cara, tão amada.

    “Pois bem, Ernst. Por ser um homem benevolente, vou tirá-lo daí e levá-lo de volta para casa, para junto de seus irmãos…”.

    Ernst não teve tempo de responder, tendo uma sensação quente de paz, ao mesmo tempo em que sua consciência ia se apagando e caindo em um sono induzido, outra característica de seu mestre…

  • Girls night out – Pepe – Pt3

    Girls night out – Pepe – Pt3

    Desde que me tornei uma sanguessuga há meses atrás, minha vida virou do avesso. Claro, que não foi um avesso de forma ruim por completo, mas no sentido de que tive de mudar praticamente tudo o que fazia antes. O Fê já contou sobre minha transformação em: Transformação em vampiro, porém hoje eu resolvi dedicar uma parte de meu tempo livre para contar a minha impressão de tudo isso.

    Passados os dramas iniciais de minha transformação, eu precisei dedicar um tempo para me adequar à nova realidade. Tanto que resolvi abolir as roupas de pirralha revoltada e quase todos os meus piercings, salvo alguns estratégico, e adotei algo mais 30 anos, executiva e linda. Para ser honesta eu ainda tenho 23 e estava prestes a completar 24 e esse estililinho, que deixa alguns fulanos de queixo caído por onde passo, vai ajudar n os meus deveres. Aliás o Franz ficou de queixo caidinho quando me viu (risos).

    “Divando” a parte, eu troquei uma vida de infortúnios, onde eu não tinha uma família e vivia as custas de meus “freelas on-line” para algo mais honesto e em tempo integral. Digo honestos por que até agora não precisei invadir a conta de ninguém ou ficar produzindo Bitcoins feito uma loka em servidores zumbi. Como o FÊ já lhes disse eu curto essa coisas on-line. Tive minha primeira máquina em 99, quando doaram algumas peças usadas da AMD para o orfanato que eu vivia. Era a porcaria de um AMD Duron 1200 algo tosco para hoje em dia, mas foi aquilo que me ensinou tudo o que sei hoje.

    Ok, deixando meu lado nerd de lado, eu preciso dizer que passei por um aperto gigante ao ser transformada. Diz o Fê que não, mas eu acho que ele bebeu quase todo o meu sangue antes de me dar parte do dele. Enfim, foi bizarro cara! Morrer e voltar dessa forma é punk em muito sentidos doidos. Primeiro veio aquela vontade de beber ou comer algo e que não passava. Depois vieram as ânsias e até vomitei algumas vezes, por que aquela droga de sangue de vaca que me deram era insuportável.

    Depois da alimentação veio a adaptação com os novos sentidos aguçados. Adorei poder ouvir os cochichos, ver as coisas de uma forma mais nítida e poder sentir os cheiros ou as coisa na pele mais facilmente. Claro que passar perto de algum esgoto é horrível, mas não respiramos e isso é algo ainda inédito para mim. Isso e a falta de um coração batendo é algo difícil de explicar. Você sente muita falta dessas coisas quando vai dormir e é muito ruim estar sozinha sem esses barulhos tão banais do mundo humano. Cara, como foi difícil dormir nos primeiros dias.

    Depois que criei um pouco mais de noção dessas coisas simples do mundo dos vampiros o Fê me mandou passar um tempo com o tio Franz (ele odeia quando eu lhe chamo assim). Todos nós temos mais ou menos a mesma idade. Perto dos 25 e isso me ajudou a se adaptar. É divertido estar junto de uma galerinha que parece o grupo da faculdade para o resto da vida.

    Isso de resto da vida eu não assimilei muito ainda e nem o fato de que posso fazer algumas coisas que antes não fazia. Como ter mais força, ser mais rápida e as malditas transformações. Estou aprendendo a me transformar em loba e isso tem me tirado do sério as vezes. Não sou paciente feito o Fê ou o Seba, então estou tentando outros métodos indicados pelo tio Franz. Num deles ele quis por que quis que eu ficasse sem roupa nenhuma, mas isso também é outra coisa que não rola ainda. Ainda mais depois de tudo o que me falam dele. Por incrível que pareça ainda tenho medo de muitas coisas ne gente. Não sou do tipo que se joga de cabeça em certas coisas, prefiro meu canto e meu tempo e como tenho muito, acho que vou aprender tudo mais devagar. Leu isso né Fê?

    Sim, eu falei muito do Fê aqui e acho que é por causa do nosso vínculo. Só que eu preciso terminar meu relato dizendo o quanto ele tem sido querido, gentil e fofo comigo. Ele praticamente me adotou. Coisa que eu mais queria em toda minha vida e somente quem foi abandonado pelos pais ou passou quase toda a vida num orfanato longe de uma família é que vai me entender. Claro que eu tive uma espécie de sorte diferenciada, mas estou curtindo cada momento desta nova fase.

    Tanto que adorei ser chamada para esta nova missão junto das novas aliadas do clã: a Lili e a Becky e seja lá o que o Fê quiser que eu faça, eu farei com todas as minhas forças.

  • Sensitiva, a história de Aidê – Final

    Sensitiva, a história de Aidê – Final

    Leia a parte anterior

    24/10/19xx – Incêndio nos jornais da cidade, Rio de Janeiro, com a revolução que implantava o Governo Provisório, em 23 de Outubro de 1930, deu origem a vários distúrbios civis na cidade, sendo alvo de incêndios os Jornais “O País”, “A Noite”, “Jornal do Brasil” e “Gazeta de Notícias”.

    Fazia mais calor que de costume no Rio de Janeiro. Uma espécie de brisa forte castigava meu corpo e provavelmente foi isso que me despertou. Ao abrir meus olhos eu ainda sentia um pouco de dor das queimaduras de sol e para o meu azar à profecia havia se concretizado.

    Aidê estava do meu lado direito. Estava aflita e tentava a todo custo se desvencilhar das cordas que nos amarravam. Alfredo estava inconsciente do outro lado e ambos apresentavam muitas marcas e sangue, provavelmente da surra que eles nos deram.

    Assim que retomei a consciência, percebi que haviam ateado fogo pelos cômodos da casa e tratei de me libertar. Soltei uma das mãos, então aproveitei a força vampiresca e arrebentei uma das madeiras da cadeira. Soltei-me e em seguida fiz o mesmo com a mulata. Alfredo ficou por último e antes que pudesse soltá-lo fomos surpreendidos pela chegada de Eleonor, junto de outro de seus Ghouls.

    Eles tiveram de quebrar uma das janelas para entrar e aquilo obviamente tirou parte de minha atenção, além de pregar um belo susto em Aidê, que segurou com todas as forças meu braço. Nesse momento peguei a sensitiva no colo e pulei com ela para fora do lugar em chamas. Em seguida surgiu atrás de nós Eleonor seguida por seu segurança que também carregava Frederico no colo.

    Passado o susto surgiu a brigada de incêndio que passou o resto da noite contendo o fogo, afinal ele poderia atingir as casas vizinhas, mas isso nos foi contado na noite posterior. Haja vista que “fugimos” o mais rápido que nos foi possível daquele maldito lugar.

    – Ferdinand, tu sabes que odeio parecer-me com tua mãe, mas tu é uma besta ignorante ou ainda estás na fase de rapazito e das safadagens? Cresça por favor! Ou vou pedir para o Franz te por no jeito.

    Aquilo foi difícil de ouvir e deu muita vontade de sair de lá feito uma criança birrenta, mas foi um dos primeiros “tapas de realidade” onde percebi toda a bosta que eu andava fazendo. Como eu disse no começo dessa história, tive uma fase rebelde sem causa e iria me dar muito mal caso continuasse daquela forma.

    Passado o perigo eu descidi levar as cousas de outra forma e para me redimir passei boa parte dos próximos meses ensinando à Aidê tudo o que eu podia lhe ensinar sobre seus poderes sensitivos. Apesar de toda sua desconfiança a cerca de meu vampirismo, nos tornamos bons amigos e foi uma pena ter de me afastar de sua vida, tão logo ela pudesse dar conta de minha eterna jovialidade.

    Anos mais tarde e um pouco antes de eu me concentrar na fazenda para minha hibernação, eu tive noticias dela. Soube que ela havia montado um negócio de adivinhação na cidade e colocado “madame” na frente de seu nome.

  • Girls night out – Becky – Pt2

    Girls night out – Becky – Pt2

    “Estou amarrada. Meu corpo todo dói e eu ainda podia sentir aquela maldita sensação. Minha visão está turva, mas posso ver a sombra de Erner caminhando em minha direção… – Minha pequena Becky…”

    Acordo assustada. Maldita insônia. Meu corpo tenso e a cabeça zonza. Eu ainda não havia me recuperado totalmente das últimas noites em busca da maldita Débora.  Levanto-me, lavo o rosto. Lá fora, o sol estaria forte naquele horário. Eu estava entediada e com aquele pesadelo, acabei por lembrar meu passado. Peguei os diários antigos de Erner e comecei a ler alguns trechos que já havia lido inúmeras vezes.

    “Alemanha, Agosto de 1932.

    A senhorita Rebecca, logo Sra. Erner, tem alcançado alguns progressos. Ela vem resistindo mesmo que lentamente às dores e as seções nas quais a submeto. Em seu pouco tempo como vampira tem demonstrado um bom desempenho, mas há muita coisa a ser feita. Sua mente ainda é fraca, a manipulo com facilidade. Ainda não sei se herdará meus poderes, mas preciso ter paciência, pois ainda é apenas uma tola menina e prefiro que não progrida tanto…”

    Eu lembrava-me bem, que meu tempo aos domínios daquele doente e extremamente demoníaco, havia sido duro demais. Porém, mesmo que naquela época tudo o que eu mais desejasse era ser livre, eu me esforcei para que com certa “obediência” pudesse aprender a controlar os poderes que adquirisse após ser transformada. Mas, não é tão fácil quanto parece, ainda mais quando aquele que deveria ser o seu mestre e treiná-la, só deseja torturar você e ver o seu sofrimento. É certo, como alguns de vocês sabem que um dos meus poderes é realizar a viagem astral, algo que desenvolvi sozinha após o vampirismo, mas que muitos humanos também podem e conseguem fazer. Só que uma das principais diferenças entre os vampiros e os humanos é que nossas almas já estão de certa forma, condenadas, por tanto, viajar por outras dimensões é um tanto quanto perigoso e traz suas consequências, por exemplo, perda parcial da memória, fortes dores, além do risco de minha alma não conseguir encontrar meu corpo novamente.

    Porém, o clã do qual Sr. Erner pertencia e na qual eu também deveria pertencer (mas precisei fugir), possuem poderes, que os possibilitam conseguir tudo o que desejam. Até onde sei, eles são  vampiros manipuladores. Mas, durante as décadas que passei com Sr. Erner, busquei em tentativas frustradas ser como ele era e aprender a controlar e manipular mentes, a causar dores e sensações terríveis em outros seres apenas com o pensamento, como ele fazia muitas vezes a mim. Mas, adquirir essas habilidades requer muitos anos de experiência e eu não aguentaria tanto tempo presa naquele porão. Então, após me livrar de Sr. Erner, me apossar de todos os bens que ele tinha e conseguir fugir, eu me virei bem. Porém, sem ajuda, amparo e orientação de alguém mais experiente, em muitos momentos precisei encontrar em mim mesmo formas simples para sobreviver, pois, eu era um ser diferente, descobri que era um pouco mais forte do que os humanos normais, mas quando precisava me alimentar usava artimanhas femininas e conseguia ser extremamente convincente para atrair “vitimas” ou conseguir informações necessárias.

    Já é fim de tarde, eis que meu celular toca. Deixo o meu momento “Remember” de lado. Quem seria?

    -Alô.

    -Oi Becky, está a fim de fazer algo?

    -Olá, Lilian? Eu ia mesmo te ligar. Eu, você e Pepe temos uma pequena reunião com Ferdinand esta noite.

  • Girls night out – Lilian – Pt1

    Girls night out – Lilian – Pt1

    24/05/1960 – 21h34m

    – Você acha realmente que poderá lidar com isso?

    – Come on T! Será que é tão difícil confiar em mim?

    – Não é uma questão de confiança Lili, isto é extremamente perigoso!

    – Se eu nunca treinar, como é que vou exercitar meus dons?

    – Seus dons precisam de treino emocional e físico!

    – Manusear uma katana precisa de emocional?

    – Minha cara, pare de ser ingênua e foque no necessário!

    Trevor , como sempre exigindo o máximo de mim, desde que eu me transformei em vampira. Meus primeiros dez anos nesta nova vida foram feitos por longos aprendizados, um deles era o controle sobre a sede, digamos que foi o mais difícil de lidar. Eu tive que aprender a meditar e controlar a vontade de saciar meus desejos vampíricos, aprendendo também a seguir  as regras da Ordem Vermelha ( Posso apenas dizer o primeiro nome do clã), lá me foi ensinada as técnicas de arte da luta japonesa, uma delas a minha especialidade o Kenjutsu ( Técnica da Espada) uma arte marcial clássica japonesa do combate de espadas. Eu domino oito dos mais antigos estilos do Kenjutsu, estes foram criados no século 15 e 16 na região de Kyoto e mantidos dentro da Ordem, cultivados e repassados aos mestres e seus aprendizes. Dizem que essa arte foi passada para um vampiro antigo, o merecedor do aprendizado, o mesmo foi agraciado com a dádiva de aprender com os oito monges criadores  da arte da espada, dando inicio a criação da Ordem.

    Nossos mestres tinham o dever de nos preparar para muitos tipos de combate além do principal citado a cima. Tínhamos que provar diariamente que poderíamos ser soltos no mundo após o treinamento completo. No nosso clã, você é preparado para o mundo após renascer como um ser da escuridão, sendo treinado e guiado, até que venha a certeza de que atingiu a evolução física e emocional necessária  para lidar com essa nova vida sozinho e fora das fortalezas da Ordem.

    Uma vez liberado, você é marcado para sempre com o guia espiritual do clã através do Tebori ( Tebori  é a tradicional arte de tatuar manualmente o corpo ) com a marca do Dragão Vermelho nas costas ( O Dragão Vermelho  simboliza o poder e a valentia, o heroísmo e a perseverança), eu fui treinada durante trinta anos antes de receber a grande chance de sair para o mundo e mostrar aos meus mestres que eu era merecedora da confiança deles.

    Eu aproveitei para viajar e conhecer o mundo durante cinco anos, acabei conhecendo outros tipos de artes marciais, culturas, vampiros de que ainda mantenho contato, nunca saindo do que me foi ensinado, mantive as regras e contribui para o meu crescimento como vampira.

    Após estes cincos anos, voltei ao local no qual a Ordem fica localizada, estava sentindo falta do meu mestre e grande amigo (praticamente a minha figura paterna vampírica). Uma vez que voltei ele me propôs ir morar em um pais da Latino America, lá ele tinha alguns amigos e eles ajudavam vampiros na mesma situação que eu, ou que apenas precisavam ser guiados. Ele queria que eu ajudasse, e claro que aceitei e segui Trevor  começando uma extensão da Ordem.

    2014 – 22h45m

    Era uma típica noite de segunda-feira, eu podia ouvir Dani e Trevor discutindo sobre alguma coisa relacionada aos novos membros que estavam em treinamento.

    – Dani você as vezes parece uma criança teimosa!

    – Se eu sou uma criança teimosa, você é um típico velho rabugento.

    – Eu tento lhe falar para manter as técnicas da Ordem e guiar os mais novos através deste meio! Ponto final Dani!

    Eu tentei por muitas vezes explicar que por mais que fossem “recém nascidos” ou vampiros que precisavam de algum tipo de ajuda, eles eram adultos pensantes e com opiniões. Mas vai tentar discutir isso com dois vampiros com mais de quatrocentos anos… Total perca de tempo. E eu estava totalmente entediada, precisava sair para tirar o tédio da minha cola, resolvi então pegar minha katana,( ela fica escondida através de um efeito de espelho criado por um mago conhecido por nosso clã, a espada não aparece aos olhos humanos e nem aos não humanos, ela aparece apenas quando está em uso), liguei meu carro, um Charger 1970 preto e reformado (Claro) e então resolvi conhecer uma das vampiras do clã do Ferdinand, alguém que me foi muito receptiva e simpática ao me conhecer.

    – Alô?

    – Oi Becky, está afim de fazer algo?