Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • A garota perdida – pt2

    A garota perdida – pt2

    Eu finalmente fiquei frente a frente com Matt, eu podia jurar que ele queria chorar tanto quanto eu. Eu precisava tomar coragem e foi ao voltar a olhar para a saída e não ver mais o homem que eu amava, que toda a coragem veio até mim. Eu segurei as mãos do Matt e interrompi o padre, que não ficou nada feliz com a minha atitude, por assim dizer.

    – Matt, o que nós estamos fazendo?

    – Sinceramente Lili, eu acho que estamos para cometer um erro.

    – O maior e pior erro de nossas vidas.

    – Eu quero que você seja feliz.

    – Eu desejo o mesmo pra você querido, nada menos que felicidade!

    Eu dei um longo abraço no Matt e depois de um bom tempo pude respirar de verdade, sem a sensação de peso e acho que ele também. Olhei para minha mãe e sorri, de um jeito tão sincero, que eu até tinha esquecido como era essa sensação. O vestido me atrapalhou um pouco para sair correndo da igreja e gritar de alegria. Eu  estava tão “empolgada” de estar livre de tudo aquilo que não percebi logo de cara a presença de Pierre.

    – Pensei que nunca fosse sair daquela maldita igreja.

    – Eu pensei que por um instante você fosse me arrancar de lá a força.

    – Vontade não me faltou Lili…

    Confesso que eu pulei nos braços dele como se fosse uma garotinha, e finalmente toda minha inibição parecia ter ido embora, porque quem deu o beijo em quem primeiro, fui eu. Sim eu a recatada e cheia de dúvidas, agora não tinha mais nada de dúvida ou vergonha.

    Gente que romântico tudo isso, não? Como que vocês descrevem nas famosas “hastags”? Final romântico! #SQN.

    Ai vem o que realmente me aconteceu, eu fugi sim com o Pierre, vestida de noiva e todos os clichês ridículos e românticos que são jogados na nossa cara através do cinema e da TV. Como uma adolescente cheia de hormônios eu apenas peguei uma mala com poucas roupas e na minha cabeça “fui viver a aventura romântica na EUROPA”. Sim nós fomos a Europa. Lógico, que vocês devem suspeitar desse fato, que as viagens eram à noite e de dia dormíamos em algum hotel chique e ridiculamente caro ( Pierre era rico, muito rico, que chegava a deixar o Tio Patinhas e o Riquinho no chão. E  por favor eu não sou tão velha quanto os vampiros que vocês estão acostumados, sem ofensas. E  sei de basicamente de tudo das últimas seis décadas).

    Depois de algumas semanas passando praticamente a noite acordada e o dia dormindo, eu me sentia uma VAMPIRA! Por que será? E como minha curiosidade estava aflorando e eu comecei a perceber muitas coisas em Pierre, uma delas a famosa pele branca fora do normal e quando ele me tocava,  eu sentia que o frio da noite era mais intenso, o que na verdade era a pele dele. E  quando ele sumia de madrugada para visitar algum cliente necessitado ( na verdade o necessitado era ele,) ele deixava um bilhetinho lindo pra mim.

    Mas um breve fato trouxe tudo a tona, em uma bela noite de dezembro na velha Londres, após alguns meses juntos, eu fiquei sem sono ao perceber que, na cama que cabiam umas dez pessoas ( Se você tem alguma dúvida, eu obviamente passei minha noite de núpcias acompanhada, não pelo meu noivo, mas passei ), eu estava sozinha, então resolvi perambular pelo quarto, e claro tinha um dos bilhetes clássicos e com uma caligrafia incrível, “ Minha  bela Lili, volto logo, Beijos do seu querido  Pierre.”  .

    Eu comecei a odiar esses bilhetes, essas saídas, mas mesmo assim mantinha a compostura perto dele. Então decidi naquela noite, que eu era alto suficiente para sair na rua sozinha e ir a algum lugar divertido e sem ele ( Vocês já viram um vampiro bravo? Se ainda não, continuem assim… Posso garantir que não é nada agradável), peguei alguns trocados e coloquei em uma pequena bolsa, vesti apenas um vestido preto com um sobretudo por cima, calcei minhas botas e sai do hotel, sem rumo.

     

    Acordo e apenas tenho vagas lembranças, da noite anterior. Tento me mexer, mas sinto dores por todo corpo, como se tivesse sofrido algum tipo de acidente. Conforme minha visão voltava ao normal, percebi,  que estava em um tipo de sala, adornada com móveis elegantes e bem talhados, grandes janelas no estilo colonial que cercavam todas as paredes do lugar, mas mesmo com toda aquela pompa parecia um lugar mórbido, frio, medonho. Tentei levantar, mas minhas pernas estavam presas a algum tipo de corrente, uma corrente curta. Apenas minhas mãos estavam soltas, mas do que adiantava se meus pés mal podiam se mexer. Senti-me um animal preso, o que eu fiz para estar ali?

    Comecei a lembrar de algumas cenas, lembro-me de estar em um bar com alguns banqueiros e algumas mulheres elegantes e bem sensuais (que hoje eu acho que eram as amantes da maioria ali), eu tomava uma dose de wiskey, bem pouco pois não era acostumada. Depois veio uma lembrança que me deixou atordoada, o bar tinha virado um cenário de guerra, corpos ensanguentados por todo lado, alguns desmembrados, outros pareciam ter marcas distintas pelo corpo.

    Mas a imagem que mais me chamou a atenção, foi uma frase escrita na parede e escrita em sangue eu acho,” O seu Deus não existe! Mas eis que a fúria que traçou em mim, tenha suas consequências.” Céus, será que eu tinha sido sequestrada? E o que fizeram comigo?

    Foi ai que eu percebi a presença de mais alguém ali comigo, como uma sombra que se movia na escuridão. A sombra parecia me observar de uma cadeira próxima, eu não conseguia identificar a silhueta que me observava tão silenciosamente, até que algo chamou minha atenção.

    – Minha doce Lili…

    – Pierre?

    – Sim minha cara…

    – O que aconteceu? Porque estou assim presa como um animal?

    – Por que minha querida, hoje você agiu como um!

    – Agi como um? Você ficou louco?

    – Louco? A insanidade me deixou há muito tempo, assim como a paciência não é a minha melhor companheira.

    – Mas eu sou humana… Como deveria agir?

    – Eu tentei te proteger, mostrar o mundo e não me aproveitar de você! Eu amava você sua vadia ingrata! Mas agora, depois dessa sua atitude infantil, eu resolvi que te proteger e tentar compreender os atos humanos é algo desnecessário… Uma total perca de tempo…

    – E por isso você me amarrou aqui? Por teus ideais banais? Que tipo de lunático é você?

    – Claro sua tola, quero lhe dar uma lição. E eu não me considero lunático, eu apenas vejo as coisas de um jeito diferente.

    – Que lição? Você vê o mundo de uma forma totalmente distorcida seu hipócrita.

    – Uma bela lição sua insolente! Acho engraçado essa mudança de sentimentos, uma hora você dizia que me amava e agora me chama de lunático e vomita palavras sem sentido a todo momento… Realmente divertido isso.

    – Divertido? Como você queria que eu reagisse a essa situação? Queria que eu pulasse de alegria? Ops, não dá! Estou amarrada pelos pés, graças a você seu cretino! Como continuar amando alguém que faz algo terrível assim?

    Veio o silencio e pude perceber que havia mais uma pessoa na sala, outra figura masculina, um pouco maior que Pierre, e isso me deixou com mais medo do que eu já estava.

    – Você continua sendo o mesmo sádico de sempre Pierre…

    – Trevor? Posso saber por que interrompeu a nossa conversa?

    – O mestre gostaria de ter uma palavra com você.

    – Ahhh, sempre interrompido e chamado nas piores horas.

    – Vá logo!

    Percebi que Pierre se afastava, enquanto o tal Trevor , ficava no lugar dele e me observava. Confesso que senti um pouco mais de segurança nele, pelo menos não fui tratada como um bicho e ele foi cortês, pelo pouco que pude ver, ele parecia um belo homem, nos seus quarenta e poucos anos, ele tinha uma feição forte, era muito alto, tinha um corpo e braços bem definidos, cabelos pretos curtos e bem aparados, e acompanhado de um belo bigode escuro e um olhar tranquilizante.

    – Pobre menina…

    – Você acha?

    – Pelo menos continua falando…

    – Quem é você?

    – Me chame de Trevor, sou um colega de trabalho do Pierre…

    – Porque estou assim? Você sabe me dizer?

    – Oh querida, eu não sei o porque… Eu sei que aquele canalha não passa de um sádico.

    – Me ajude!

    – Se eu te ajudar, te soltar, por mais que você fuja, ele vai te encontrar e vai ser pior do que está sendo Lilian…

    – Como sabe meu nome?

    – Ele nos falou…

  • Pés descalços

    Pés descalços

    França, 1857

    Estou correndo no meio da floresta.
    Essa dor de cabeça insuportável está me deixando nauseada,
    meus pés tocam o solo e quebram os galhos secos, deixando rastros.
    A dor de cabeça se intensifica a ponto de meu corpo encontrar o chão bruscamente.
    Meus braços estão feridos e sangrando por conta dos pedregulhos, meu corpo se contorce freneticamente, estou caída ao chão, rendida, a agarrar os cabelos, tamanha é a dor que sinto. Meu grito é agoniante, sinto-me arrepiar, o mundo gira ao meu redor e vejo num lampejo a lua cheia e seu sorriso sádico.
    Ouço em vários estampidos de meus ossos quebrando, cada osso, desde o maior até o menor e posso sentir a dor de cada um deles. O grito agoniante que outrora estava preso na garganta, dá lugar a um uivo seco e aterrorizador que emana ódio e eriça meus pelos.

    Garras, presas, força descomunal e uma sina.

    Não, eu nunca quis isto.

    Por que comigo?

    Tudo o que quero agora é saciar este desejo sombrio que cresce inexplicavelmente aqui dentro, no mais sombrio do meu ser.

    Sim! Num gesto, minhas presas rasgam um humano desprevenido ao meio como um naco de carne e o devoro com a fúria de um demônio. O sangue inunda minha boca e a carne está espalhada por todo o lado. Quando penso em fugir, é um pouco tarde demais.

    Os caçadores se aproximam. Tudo é muito rápido.

    Será esta minha ultima noite? Mal sei o que está acontecendo comigo. Não posso…

    Morrer.

    Eles me cercam. Cutucam-me com lanças e espetam minhas mãos com suas foices afiadas. E ateiam fogo em meu corpo. Meus urros se misturam às chamas. Ajoelhada estou a contemplar a face de cada um, e parecem gostar de estarem me torturando. Vejo o sadismo estampado na cara de cada um deles enquanto minha pele se desfaz, e meus berros dão lugar à perda de consciência.

    Meus olhos se abrem e a claridade vinda de fora os inunda, e isso incomoda. Estou no céu ou no inferno?

    Em alhures, apenas em minha cama. Tudo não passou de um pesadelo terrível e agoniante. Estou pingando de suor e a respiração não é das mais controladas, mal posso perceber que continuo berrando e paro imediatamente quando me dou conta disso.

    Recomponho-me.

    Um galho bate na janela e vou abri-la.
    O vento esvoaça meus cabelos e sim, a lua cheia, sombriamente me ilumina. Sinto um arrepio e sorrio. Ela me chama.

    Será que devo ir?

     

    Nota: Este material foi enviado pela Sue e particularmente fazia tempo que eu queria ler algo diferente sobre lobisomens. Espero que ela nos mande mais relatos como este. Ferdinand

  • A garota perdida – pt1

    A garota perdida – pt1

    Algumas semanas atrás outra vampira entrou em contato conosco, achei a história dela bastante interessante e segue abaixo seus relatos. Obviamente, já nos encontramos pessoalmente, mas isso vai ser contato em partes, afinal acabamos de virar aliados. Bem-vinda Lilian!

    Teria sido apenas um sonho, ou uma mera lembrança do timbre que a voz dele trazia…  Tentei não vislumbrar qualquer recriminação pela ótima e ao mesmo tempo, péssima experiência que havia passado.

    Mas antes que eu chegue a esse ponto, deixe-me contar quem sou e por hora apenas direi meu primeiro nome, Lilian. Tenho vinte e um anos, alias, parei de viver nessa idade. Confuso não? Eu explico, eu era apenas mais uma mulher comum na década de cinquenta, fadada a casar, ter filhos e ser uma ótima dona de casa. Confesso que nada disso me agradava, por mais que fosse algo pelo qual eu fui criada. Meus pais eram conservadores, de uma típica família americana, ligada aos deveres do marido e os da esposa.

    Eu tinha um pretendente, um homem cobiçado por muitas, menos por mim… Ele era o típico milionário bonitão, “ The handsome guy”, o cara perfeito para gerar uma família. Minha mãe falava sem parar em como eu era sortuda por ter alguém assim para o resto da vida, “Deus como eu odiava aquilo”. Toda vez que eu o via eu sentia náuseas, e posso te afirmar que não eram de emoção e sim de raiva, não era de raiva do pobre Matt, mas sim dessa situação toda e eu nunca fui do tipo que se sentia atraída por homens daquele tipo. Enfim, um ano antes do meu “Casamento feliz”, eu conheci um jovem pintor, vindo de Paris, que adorava pinturas, obras de arte e tirar fotografias. Naquela época, não era como hoje, fotos eram difíceis de tirar; não era apenas pegar o smartphone, dar um sorriso e fazer um “selfie” pra postar nas redes sociais, era algo mais complexo que isso, mas não há necessidade de entrar neste contexto agora.

    Pierre era esse o nome dele, com aquele sotaque francês tentando dialogar o inglês americano. Como eu adorava o som da voz melódica dele, o sorriso branco e um pouco assustador, os grandes olhos verdes cheios de mistério, aquela segurança sobre tudo, nada parecia assusta-lo. Eu ainda jovem, fascinada por aquele homem, pelas belas palavras dele a cada conversa comigo ou em grandes grupos. Era delicioso sentir o longo cabelo castanho dele perto do meu rosto toda vez que ele teimava em tentar roubar um beijo meu. Tola…

    Em um breve resumo, após seis meses convivendo com ele, entre os amigos, festas de família, idas ao cinema e escapando pela janela do meu quarto no meio da noite. Claro eu era jovem e adorava fugir para me aventurar com os amigos, era muito comum isso na época. Eu criei uma forte amizade com Pierre, mas nada, além disso, mantinha minha postura de mulher comprometida, por mais que eu ficasse longe do meu suposto noivo a maior parte do tempo e quanto estávamos juntos, digamos que nada de produtivo ou divertido acontecia. Até que então eis que chegou o jantar de noivado, eu me arrumei com a ajuda da minha mãe, coloquei o melhor vestido, fiz a melhor maquiagem, que naqueles tempos eram usados os delineadores (o Olho gatinho que muitas hoje ainda usam e adoram), o famoso batom vermelho e um pouco de blush, eu tinha a pele branca e precisava deixar com uma aparência uma pouco mais saudável. Quando desci, recebi com toda cortesia  os convidados, sorri o tempo todo ( o sorriso mais falso e infeliz que poderia existir), e ingeria aos poucos o vinho branco na minha taça. As duas famílias socializavam, todos felizes, o meu noivo sendo paparicado por todas as minhas “amigas”, e o pior era que, aquilo não me incomodava, o que realmente me deixava ansiosa era que Pierre não chegava nunca. Eu tentei disfarçar o máximo a minha ansiedade e a falta que ele me fazia, esses sentimentos já estavam me  incomodando. Eu tomei uma taça cheia do vinho branco sem perceber, e quando  estava desistindo e deixando a esperança de vê-lo, eis que seus longos dedos tocam as minhas costas, e quando olhei para ver quem era, lá estava ele e toda sua grande presença.

    – Você está realmente linda Lili…

    – Pierre! Que bom que veio!

    – Apesar de ser um evento triste até onde eu sei,  não perderia por nada.

    – Está tão obvio assim?

    – Aos outros não, para mim, está mais que obvio!

    Aquelas palavras caíram nos meus ouvidos como flechas acertando o adversário, machucando cada membro do meu corpo. Por um instante eu senti minha respiração falhar, ele tinha razão, era um evento triste pra mim, o que eu estava fazendo? Poucos meses do casamento e ainda não sentia nenhum tipo alegria, nenhum tipo de alivio, o que eu mais sentia era medo, tristeza, incerteza, coisas que uma mulher prestes a casar não deve sentir, muito pelo contrario, isso não deveria existir no coração de alguém que vai unir a vida com outra pessoa. Eu mal conversava ou tinha qualquer tipo de ligação com o Matt, apenas falávamos sobre coisas banais, mal nos tocávamos, e ele parecia tão infeliz quanto eu, e disfarçava mais do que eu.

    – Lili?

    – Pierre, o que eu estou fazendo?

    – Querida, se eu soubesse eu teria evitado todo esse “circo” bem antes.

    – Circo?

    – E não é? Ou diria mais para um grande drama teatral, no qual, ambos os personagens principais estão fadados a miséria da alma e a falta de amor.

    – Meu Deus…

    – Deus não é resposta Lilian… Você está prestes a cometer o pior erro da sua vida.

    Aquele jantar, sem dúvida, foi uma das piores noites da minha vida, ainda mais após a conversa com Pierre. Eu consegui apenas fingir estar bem, enquanto tudo que eu queria era corre dali e gritar o máximo que eu pudesse. Mas o maior medo era decepcionar meus pais, minha família, naquela época decepcionar a todos teus parentes não era uma opção e quando falam que a mulher não era tão oprimida, acreditem, nós erámos sim.

    O grande dia ( miserável dia), chegou, era uma linda noite de inverno, tão linda quanto meu querido Pierre, que parecia cada vez pior com a chegada do meu casamento. Eu estava com o vestido de noiva mais lindo, bem costurado, com cristais, a longa calda, a renda branca contornando meus ombros e descendo gentilmente pelos meus braços. O lindo enfeite de diamantes da minha mãe enfeitavam meus longos cabelos escuros  que desciam em cascatas até minhas costas. Eu me sentia linda, mas não estava linda para o homem que eu realmente amava. Quando me olhei no espelho, algo me disse, “Lilian, isso está errado, muito errado”.

    – Querida? Estão todos te esperando. Está na hora.

    Ah mãe, que saudades da sua voz, e lembrar que aquele dia foi a primeira vez que você ficou do meu lado e não ao lado da hipocrisia da sociedade. No momento que a minha mãe encontrou meus olhos, ela percebeu, como qualquer outra mãe, que eu não estava bem, que tudo, aquela situação, estava me matando aos poucos. E com um longo abraço, ela pela primeira vez me falou algo que eu não esperava.

    – Lilian, minha filha, a última coisa que te desejo é infelicidade… Hoje era para ser um dia especial e de alegria para você e a única coisa que eu vejo nos teus olhos é desespero e duvida. Não quero isso pra você porque…

    – Por quê? Mãe?

    – Por que a infelicidade tem sido minha companheira desde que me casei com seu pai. Você foi a única alegria da minha vida. Não se permita a miséria da existência, apenas se permita a alegria plena da vida!

    – Você é incrível mãe!

    – A decisão é sua Lili. Eu te amo querida.

    Pode parecer clichê, mas eu caminhei até o altar, e lá eu vi um Matt tão aflito quanto eu, e de pé na saída a minha direita, vi Pierre, a feição dele era pura tristeza, ele não estava dentro da igreja, apenas do lado de fora, como se estivesse vendo um velório.

  • Como encontrar um vampiro – pt3

    Como encontrar um vampiro – pt3

    Brincadeiras a parte, convidei Rebecca para se sentar ao meu lado e ali batemos um papo. Achei legal e inclusive comentei com ela algumas vezes sobre o fato de sermos parecidos. Inclusive quem conhece um pouco mais de signos vai conseguir imaginar a “conferência”, que se tornou o bate-papo entre dois geminianos natos.

    Depois de uma hora eu já sabia de sua história sobre seu mestre louco e ela já ficou sabendo de meu passado na Floripa, Alemanha e Rio de janeiro. Um papo tão descontraído que me fez voltar para meu “ap provisório” e fofocar com Franz. Inicialmente ele soltou que eu havia me apaixonado pela nova vampirinha, todavia fiz alguns comparativos práticos e ele percebeu meu sentimento fraterno.

    Na noite seguinte chamei-a para uma reunião mais informal junto de Franz no meu “ap provisório” e ali aconteceu algo engraçado. Estávamos no sofá assistindo algum seriado qualquer, quando Franz começou seus clássicos jogos de sedução. Obviamente havia ali sangue novo, alguém com o estilo rebelde que ele adora e era até previsível que ele fosse dar em cima dela em algum momento naquela fatídica noite.

    – Diga-me senhorita Rebecca. Tens onde ficar por aqui? Estou gostando desta cidade e como o vampiro líder é meu amigo estou pensando em ficar por aqui algum tempo. Na verdade cansei do interior e está na hora de voltar a civilização. O que achas maninho, não seria bom se eu saísse da casa do mato como tu sempre me falas? Talvez a Rebecca pudesse passar uns tempos conosco…

    Naquele momento estava acontecendo algo inusitado. Franz estava sendo aparentemente honesto com relação ao fato de querer sair da “roça” e parecia estar agindo da forma mais adequada com Rebecca. Tanto que fiz uma piadinha:

    – Rebecca coloca a mão na testa do Franz e veja se ele está com febre!

    – Se ela encostar em mim eu mordo… (risos)

    – Hey vocês dois, eu gostei da proposta do Franz. Disse Rebecca de forma séria.

    Diante tal frase paramos de rir imediatamente. Rebecca se levantou e ficou na frente de Franz. Em seguida soltou o rabo de cavalo, balançou seus longos cabelos negros e inesperadamente se sentou no colo do vampiro. Com as duas mãos ela agarrou com força a gola de sua camisa e começou a cheirar seu pescoço. Na sequencia ela ficou com as presas afloradas e deu a entender que queria morder seu pescoço. Franz também aflorou suas presas. Porém, antes que ambos pusessem meu “ap provisório” a baixo ela recuou. Deu um beijo na bochecha dele e se levantou dizendo:

    – Ok adoraria fazer parte do clã de vocês, mas pode ir tirando o teu cavalinho da chuva Franz. Conheço bem teu tipinho e fui vacinada pela Eleonor. Não vou virar tua putinha, não senhor!

    Só me restou uma cousa a ser feita naquele momento: cair na gargalhada…

  • Após a transformação, como é a “vida” de um vampiro?

    Após a transformação, como é a “vida” de um vampiro?

    Sempre me fazem esta pergunta: Ferdinand como é a vida ou morte depois de ser transformado em um ser da noite, vulgo vampiro? Obviamente isso é muito abrangente e dificilmente faço um detalhamento por e-mail. Salvo aquelas vezes em que simpatizo com quem me escreve.

    Em função disso e como hoje estou com muita insônia, resolvi dedicar parte do meu tempo on-line para vos falar um pouco mais da rotina de um vampiro. Seus afazeres, seus benefícios, malefícios e tudo o que mais que envolva as noites de um ser sobrenatural na atualidade.

    Logo em seguida a transformação em que a pessoa é submetida para se tornar um de nós ocorre a primeira grande mudança, no que diz respeito à alimentação. Tu vai ter de deixar de lado praticamente tudo: lasanhas, feijoadas, pão, vinho. Sangue será tudo o que precisas para sobreviver e de preferência o arterial. Todavia, como as artérias são muito finas dificilmente vais degustar tal manjar, então terá de te contentar com o sangue venoso, pouco oxigenado e menos nutritivo. Essa adaptação leva cerca de um mês, onde vai ter muita azia, ânsias de vômito, enjoos e sensação de fome a todo e qualquer instante.

    É importante frisar que a transformação dos órgãos e do próprio corpo não é imediata, ocorre em etapas e isso de certa forma é bom para a adaptação. Outra observação importante sobre a alimentação é que alguns vampiros conseguem ingerir alguns líquidos ou alimentos. Porém, são exceções e precisam de muito esforço para expelir o que tiverem digerido. Inclusive já ouvi falar de alguns que precisaram de uma bela lavagem estomacal para eliminar tais resíduos.

    Além da alimentação, outra questão importante é a luz do sol. Esqueça ela, tu nunc amais vai vê-la ou senti-la a menos, que queira torrar feito um guardanapo na fogueira. Ninguém sabe ao certo o porquê deste “defeito”. Meu mestre me contou uma história interessante sobre uma punição dos Deuses aos primeiros vampiros, mas sinceramente isso até hoje me parece um pouco mitológico demais. O que tu precisa saber se algum for transformado é que no inicio vai sentir falta do dia, do movimento da vida ativa que tinhas. À noite tudo acontece mais devagar, quase todos os humanos estão cansados, a maioria dos lugares é fechado comercialmente e tu vai ter muito sono. Há quem se adapte fácil, eu, por exemplo, levei uns dois meses para trocar de rotina. Ainda mais porque antigamente não havia Conveniência 24h.

    Como eu já disse em outras ocasiões há diversos grupos ou clãs de vampiros e todos eles são muitos específicos com relação a regras, costumes ou hábitos. Há alguns que obrigam seus membros a seguirem determinadas religiões, certas formas de alimentação ou ainda certos tipos de vestimenta e ou hábitos de higiene. Acredite, há de tudo no que diz respeito a hábitos vampirescos. Imagine um clã que logo após a transformação coloca seus membros dentro de caixões e os enterra por um ou dois meses. Isso existe! Imagine um clã onde cada membro se alimenta apenas de determinados tipos de seres, como animais ou somente crianças… Isso existe!

    Além das questões comportamentais, a maior provação no qual passará um recém-transformado é o processo interno. Aquele que ocorre dentro de sua cabeça e que irá na maioria das vezes confrontar com seus modos e atitudes anteriormente humanos. Quase todos que conheço mantiveram boa parte dos hábitos de antes. Se era médico, continuou seus trabalhos ou estudos para com o meio. Se era policial, continuou agindo em prol da lei ou da justiça. Se era um vagabundo, dificilmente depois de transformado mudou de atitude, inclusive conheço vários que se tornaram ainda mais vagabundos e safados.

    Como eu sempre digo, a transformação me foi uma obrigação. Não pedi ou tive escolhas sobre o que me tornei, porém aprendi a conviver com isso e me manter o mais humano que me é possível. Apesar de ainda preferir o sangue humano e sabendo que isso é de certa forma um canibalismo enjeito pela cultura ocidental cristã, predominante na maioria dos países que frequento. Mesmo bebendo o sangue de marginais da sociedade, há aqueles que me criticam.

    Concluindo, depois de transformados todos passamos por uma fase típica, onde nos ocorre sempre a mesmas perguntas: O que é certo ou errado, para mim, para meu clã ou para o mundo?

  • Como encontrar um vampiro – pt2

    Como encontrar um vampiro – pt2

    A década de 60 foi uma década onde curti a não-vida “adoidada”, mesmo que em certos momentos eu tenha passado por noites muito tensas. Mas, foi mais ou menos nessa época que conheci Eleonor que por muitas vezes falou sobre “Dom Ferdinand” que segundo ela, era um verdadeiro gentlemam. Além disso, Eleonor se tornou uma grande amiga, com quem pude contar durante anos. Mas, as coisas estavam difíceis para mim em certa época onde eu não podia confiar em ninguém e, por isso precisei sumir por um bom tempo.

    Porém, Eleonor falava tanto do Sr. Di Vittore que minha curiosidade por conhecê-lo era imensa, além disso, quando soube que ele estava por perto, eu sabia que ele poderia ajudar-me diante da minha situação. Fiquei incrivelmente surpresa por ele ter aceitado conversar comigo quando entrei em contato inicialmente, e ter a amizade e referência da Eleonor contou muitos pontos para que isso fosse possivel.

    Quando recebi a ligação de Ferdinand, marcamos em um lugar próximo ao hotel em que eu estava. Arrumei-me, e caminhando apenas algumas quadras pude ver sua Harley estacionada. Ele era ainda mais alto que Sr. Erner e eu me senti ainda menor embora não seja  tão baixinha. Vestia uma jaqueta de couro e um tênis surrado. Estava escorado na moto olhando algo no celular.

    Então, eis que meu celular toca. E automaticamente ele olha em minha direção e percebe que eu estava ali há algum tempo o observando e pensando se deveria ou não me aproximar.  Envergonhada, cumprimentei-o e falei:

    -Não basta já poder sentir minha presença?

    -Muito prazer em conhecê-la também. És ainda mais baixinha do que eu imaginava!

    Naquele instante percebi seu “elevado” senso de humor, “nem sou tão baixinha assim” pensei e como se nos conhecêssemos há anos conversarmos durante longas horas em um café que havia por perto.

  • Como encontrar um vampiro – pt1

    Como encontrar um vampiro – pt1

    Algum tempo atrás recebi um pedido de amizade no Whatsapp “Oi queria te conhecer melhor, sou amiga da Eleonor.” Como não é sempre que as amigas da Eleonor entram em contato comigo eu fiquei de certa forma receoso, mas minha curiosidade foi maior. Aceitei o convite e troquei algumas palavras com a “garota”. Algum tempo depois ela confirmou sua identidade vampiresca e marcamos de nos encontrar.

    Como seria possível uma amiga nova da Eleonor que eu não tivesse conhecimento. Ainda mais dizendo-se ela ser amiga de minha doce morena a mais de 40 anos e vampira. Liguei de imediato para Eleonor e depois do tradicional “oi, como vai?” fui logo perguntando sobre sua amiga.

    “Acho que era 65 ou 66 e eu estava passando um tempo em Paris. Foi numa festa da elite vampiresca da cidade que a encontrei. Tadinha parecia um bichinho fora da jaula, acuada e pacata num canto junto de alguns conhecidos meus. Trocamos algumas ideias e depois daquela noite passei algum tempo junto dela. Hoje eu penso que meu instinto materno havia me tocado com força quando a vi e até lhe ensinei algumas peripécias femininas.

    Chegamos a trocar algumas cartas quando voltei para nosso refúgio no Brasil, mas perdi seu contato depois de um tempo. Ouvi falar dela nos anos 70 e somente em 2000, antes de tu voltares a este mundo, que voltamos a nos falar. Ela é super queridinha, mas não te enganes, por trás daqueles olhos grandes há uma vampirinha fria, calculista e que certamente sabe os pontos fracos de qualquer um que entre em seu caminho.”

    Eleonor sabe exatamente como atiçar minha curiosidade e diante tal história liguei imediatamente para a tal Rebecca Erner. Marcamos um lugar público e de fácil acesso para ambos as 21 de uma noite enluarada. Preparei a Harley, tomei um belo banho e sem delongas fui ao seu encontro.

  • Sensitiva, a história de Aidê – pt2

    Sensitiva, a história de Aidê – pt2

    Já tinha ouvido falar de pessoas que são sensitivas, mas Aidê havia me oferecido à primeira experiência prática sobre o assunto. Na verdade com o passar do tempo ela me proporcionou outras experiências inusitadas, mas cada qual ao seu tempo.

    Fiquei estático por alguns instantes e refletindo sobre o que ela havia dito, mas no primeiro estalo de realidade voltei a si e confortei seu corpo quente no sofá da sala. Ela estava tão mole que parecia estar num coma profundo. Tanto que nem mesmo alguns tapas na cara a acordaram. Confesso, naquele momento eu queria muito ir para meu refugio, mas ainda era algo em torno de meio dia e seria impossível eu sair à rua.

    Voltei algumas vezes ao quarto do Alfredo, mas ele também estava desfalecido e só me restava aguardar o passar das horas. Dei uma geral no lugar e não havia mais ninguém além de nós. Meu único companheiro durante aquele dia foi um rádio e as notícias foram praticamente todas sobre a guerra na Europa. Naquela época havia o medo de que a guerra chegasse até o Rio e se hoje fazem tantas especulações imagine nos anos 40, quando as notícias ainda levavam dias para chegar.

    Ainda era dia, quando alguém bateu a porta de entrada afoitamente. Bateram tanto e com tanta força que às pauladas despertaram Aidê.  Ela acordou assustada e perdida, mas sinalizei para que se acalmasse e fui atender a porta. Fiquei atrás dela, ouvi duas ou três vozes do outro lado, mas resisti a tentação de abri-la.

    – Nós sabes que vocês estão ai. Abram logo seus sem vergonhas!

    Gritou alguém do lado de fora. Aidê me olhava preocupada e eu sinalizava para que ela ficasse quieta. Nisso surgiu Alfredo, todo abarrotado, cambaleado  e vestindo uma camisa.

    – Já vai… Já vai…

    Gritou ele antes de me ver. Fiquei puto da vida, mas ele praticamente ignorou minha presença e se atracou na fechadura. Ele abriu apenas um pouco o que já foi suficiente para inundar parte da sala com muita luz e me segou por alguns instantes.

    – Quem é?

    – Você é Alfredo Laerte de Almeida?

    – Sim, por quê?

    Foi tudo o que pude ouvir antes de começar o maior quebra pau na entrada da casa. Aidê fugiu para a cozinha e eu ali tentando voltar a ver o mínimo que fosse. Eu torcia para que a briga ficasse do lado de fora, mas assim que Alfredo foi facilmente contido alguém disse:

    – Seu putanheiro filho de uma jumenta, sem vergonha. Não vai ficar barato não. O doutor Coronel quer o teu fígado seu traste.

    Depois de tal exclamação repleta de razão eles resolveram entrar. Tentei argumentar, falei que estava com os olhos machucados, mas eles nem quiseram conversa. Vieram os três para cima de mim. Resisti o quanto pude até levar uma bela paulada na nuca e vi estrelas. Capotei. Apaguei.

  • A Vingança de Rebecca – Final

    A Vingança de Rebecca – Final

    Erner até tentou fazer-se de desinteressado e ao final, eu, apesar dos meus planos o desejava também. Era estranho. Eu o amei. Mesmo com todo o sofrimento que passei em suas mãos. Mas, enquanto o beijava e sentia seu gosto doce, pensava em quanto àqueles anos haviam sido amargos.  Enquanto suas mãos frias trilhavam todo o meu corpo, eu sentia em cada toque, as dores, os cortes e as queimaduras. Enquanto ouvia as palavras insanas, sussurradas em meu ouvido, lembrava-me o quanto me sentia humilhada com seus xingamentos enquanto apanhava sem ao menos saber por quê.  Era hora de acabar com tudo aquilo. Era hora de dar um fim em todo o sofrimento. Vingar-me. Libertar-me.

    Quando senti que Erner distraiu-se em meio ao prazer que sentíamos, passei as mãos sobre sua nuca, olhei em seus olhos por alguns instantes e em um movimento rápido, quebrei seu pescoço. Eu sabia que logo ele acordaria. Seu corpo era pesado mas, eu o arrastava sem fazer muito esforço… Escorada na parede esperei que ele acordasse.  Quando ele percebeu que estava nu e amarrado no lugar que até então havia pertencido a mim, olhou-me com desespero. Então rindo, falei:

    – Consegue ver o que se passa em minha mente agora?

    – Maldita! Não sei como eu pude cair em um truque tão fajuto e me encontrar em tal situação.

    -É, nem eu sei como meu truque “fajuto” funcionou tão perfeitamente, você um velho e poderoso vampiro… Mas enfim, você brincou bastante comigo. Acho que agora é a minha vez…

    Por algumas horas exercitei minhas forças fazendo Erner sofrer, fazendo exatamente tudo o que ele havia feito para mim. Eu não pretendia prolongar os meus dias e noites naquela casa, porém, eu sabia que ele era um homem poderoso e cheio de negócios. O obriguei a assinar um documento que passava todos os seus bens para mim, naquela época não havia tantas burocracias e um documento assim já era suficiente, afinal meses anteriormente, ele mesmo, devido a sua possessividade, quis mudar meu nome, como se fossemos casados “Você é minha e não será de mais ninguém”. Em seguida, busquei alguns “brinquedinhos”. Quebrei ossos, retalhei sua pele e o fiz pedir por misericórdia…

    Olhei em seus olhos pela última vez, já não eram mais tão terríveis. Ele estava fraco. Agora só sobravam os restos de um homem que um dia eu temi. Amarrei seus braços com uma corrente, e arrastando- o levei-o até o lado de fora da casa. Pela primeira vez após anos eu podia ver o céu e as estrelas por inteiro. Joguei-o em um monte de pedras. Peguei um galão com gasolina. As últimas coisas que ouvi naquela noite, foram seus gritos de dor, seus xingamentos lembrando-me de o quanto eu era maldita.

    A última coisa que vi de Thomas Erner foi seu corpo queimar até virar cinza.

  • A Vingança de Rebecca – Parte V

    A Vingança de Rebecca – Parte V

    Voltei para meu corpo. E então, senti todas as dores de uma vez só. Parecia que eu iria “morrer”, era como um efeito colateral. Enquanto estava fora de meu corpo parte de mim estava imune, mas quando voltava, sentia tudo em dobro. Quando descobri meu primeiro dom, perguntava-me se teria só este ou se logo descobriria outros. Mas, já me sentia com uma grande vantagem, pois, além disso, havia descobrido que Erner já não lia mais minha mente por eu ter aprendido a controlar os meus medos. Para que entendam melhor, os manipuladores agem e conseguem o que desejam ao despertar o medo em suas vitimas, algo que eu descobri naquela ocasião…

    A porta foi aberta novamente. Erner veio em minha direção e surpreendentemente desamarrou-me e levou-me para cima.

    – Tome um banho e vista a roupa que está ali na cama, Rebecca – falou rispidamente.

    Eu sabia que ele planejava algo para aquela noite, talvez estivesse se preparando para “livrar-se de mim”, conforme suas anotações. Com isso, eu precisava pensar rápido. Quando ouvi que Erner retornava e subia as escadas, deixei a porta do banheiro entreaberta de modo a deixá-lo me observar enquanto secava-me do banho. Um truque típico, mas, eu sabia que ele faria isso e também sabia que em sua mente surgiriam desejos e ideias insanas a meu respeito. “Uma última vez, talvez, por que não?”. E sim, apesar de nunca ter me comportado de maneira, digamos, provocante, eu sabia que era capaz de despertar interesses em um homem.

    Enrolei-me na toalha. Caminhei até a cama sem olhar para Erner que naquele momento encontrava-se de costas para mim olhando para lua, pela janela. Vesti apenas a “roupa de baixo” que estava junto com um vestido e caminhando pelo quarto fui em direção ao espelho e comecei a observar-me. Erner virou-se para trás e perguntou:

    – O que está fazendo? Eu mandei você se vestir, faça logo o que mando.

    – O que foi? Não quer olhar para mim? – Falei sem deixar o espelho- Sabe, meu cabelo já cresceu novamente, passei anos sem olhar para mim e me sentir uma mulher bonita. Mas, lhe agradeço por tudo isso. Sou realmente grata. Tornei-me forte e confiante, pois mesmo sem ter escolhido isso para mim, hoje sinto que ganhei um presente… Pois serei jovem para sempre!

    -Vejo que você nunca deixará é de ser atrevida, e nunca deixará de provocar-me.

    Virando em sua direção, caminhei lentamente encarando-o, joguei-o na cama e disse:

    – E você não gosta que eu o provoque?

  • A Vingança de Rebecca – Parte IV

    A Vingança de Rebecca – Parte IV

    Quando recuperei a consciência. Continuava amarrada, porém estava sentada em uma cadeira de frente para um espelho. Quando minha visão normalizou-se e eu pude me ver, não consegui suportar e chorei desesperadamente. Eu estava horrível! Erner havia raspado meu cabelo, meus longos e escuros cabelos. Após aquela noite, fui mantida naquele lugar por vários anos, sofrendo as piores torturas, dores físicas e emocionais, sem ver o mundo lá fora. Em outros momentos, eu era forçada a estudar trancada na biblioteca, sobre assuntos que Erner me designava, em seguida, era mantida novamente na maldita sala de tortura enquanto ele saia para fazer coisas que não eram do meu conhecimento… Tive pouquíssimos momentos de paz e tréguas durante esse período.

    Ao ouvir que a porta estava sendo aberta, disfarcei e mantive meu olhar fixo para frente como se olhasse para o nada. Erner trazia sangue para alimentar-me.  Naquele momento, pensei em como eu o odiava, cada vez que se aproximava de mim tudo o que eu sentia era nojo. Eu havia me tornado uma pessoa seca. Que alimentava o ódio e tinha sede de vingança. Evitava olhar para mim mesma e me perguntava quando aquele inferno terminaria. Mas, com o tempo descobri que o vampirismo havia trazido consigo alguns dons e poderes…

    Quando meu corpo se recuperava das dores e dos hematomas eu sabia que seria torturada novamente, mas após tantas torturas na qual sofri, descobri que era capaz de fazer algo inimaginável. Descobri o meu primeiro dom, que aparentemente parecia algo comum, mas não em minha situação. Com isso, após tanto tempo negando-me a alimentar-me resolvi beber todo o sangue que havia sido trazido alegando que já não suportava mais as dores que sentia. Meu corpo recuperou-se logo e Erner iniciaria mais uma “sessão”. Concentrei-me para “me desligar”. Erner pensaria que eu havia desmaiado ou que já estava inconsciente, e foi quando senti que minha alma caminhava pela sala vendo meu corpo jogado no chão.

    Erner saiu e fechou a porta. Eu o segui até seu quarto, pois em estado de espírito percebi que conseguia atravessar as paredes. Ele abriu uma gaveta e pegou um diário que estava junto a livros de rituais, para fazer suas anotações. Vi que ele realmente não percebia minha presença, ou melhor, a presença do meu espírito. Então, aproximei-me e pude ver o que escrevia:

    Alemanha, 1955

    É estranho olhar para ela e não saber o que se passa em seus pensamentos. E isso não é bom. Eu errei, pois, pensei que fosse submissa, mas seu gênio é forte. Preciso me preparar, pois logo ela poderá perceber que já não a domino. Sei que já não a assusto… Preciso tomar uma atitude. Preciso livrar-me dela, antes do meu “grande momento”, poderei ficar fraco, e vejo que as torturas e surras que lhe dou não adiantam, pois ela aprendeu a controlar-se e dominar-se, ela logo descobrirá o que é capaz de fazer por conta do vampirismo, ai será tarde demais, não conseguirei forçá-la a ficar, mesmo depois que nos casamos, e apesar de desejá-la não posso mais mantê-la viva.”

    Deixei-o com suas anotações, já havia visto o suficiente, mesmo sem entender o que era esse tal de “grande momento”. Eu precisava fazer algo. Ele já não podia mais me controlar e eu estava decidida a me libertar e a vingar-me daquele maldito de uma vez por todas.

  • A Vingança de Rebecca – Parte III

    A Vingança de Rebecca – Parte III

    Muitas coisas aconteceram. Algumas me lembro como se fossem ontem, acontecimentos estes que realmente marcaram grande parte da minha “não-vida”, principalmente sobre os primeiros e sofridos anos após minha transformação que eu nem cheguei a ver como aconteceu.  Digo-lhes que não foi escolha minha tornar-me o que sou. E por isso, embora houvesse amor, houve muito sofrimento, na qual alimentei o ódio dentro de mim. Um demônio é como me defino. Mas, de certa forma, ser uma vampira tem lá suas vantagens.

    Após aquela noite na qual enfrentei Sr. Erner e, na qual, em seguida, vi pela primeira vez o sangue em minhas próprias mãos, acabei provocando o ego daquele que jamais admitia perder o controle das situações. Que jamais admitia perder o controle sobre mim. Por longos minutos observei aqueles corpos no chão. Ajoelhada sentia-me um monstro e em pânico. Erner caminhou em minha direção e circulou ao redor dos corpos, dizendo:

    – Pequena e tola menina. Não vou dizer que não tenho orgulho de ver em quê lhe transformei. Mas devo dizer também que seu atrevimento passou dos limites, desafiando-me como se eu fosse um adolescente.

    Senti que suas mãos acariciavam meus cabelos enquanto falava. Quando repentinamente, puxou-os com força.

    -Vamos brincar mais um pouco, querida?

    Fui arrastada até a maldita sala na qual sofri torturas inimagináveis, eu sabia que passaria por tudo outra vez, mas não relutei. Não queria deixá-lo sentir o meu medo.  Ele amarrou-me no chão, de joelhos e com os braços para trás. Pegou uma faca. Eu o observava. Caminhou de um lado para outro, aproximou seu rosto do meu e então disse:

    – Sabe, até que a noite que passamos foi interessante. Deixei-me levar pelo desejo. Mas, aquelas duas garotas… Ah! Você não chega nem perto!

    Cuspi em sua cara. Eu sabia que era apenas provocação, mas era demais para mim:

    -Achas mesmo que estou preocupada? Você é um nojento, precisa manipular os outros para conseguir o que quer. Tenho pena por nunca ter conseguido que alguém sentisse algo por você verdadeiramente. Não é a mim que estas iludindo, é a você mesmo!

    Seus olhos ficaram vermelhos. Eu havia aprendido a provocá-lo.  Com fúria ele veio em minha direção.

    Não lembro bem sobre o resto daquela noite, sei apenas que em certo ponto apaguei.