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  • Uma nova jornada – Parte VIII: rituais e uma viagem no tempo

    Uma nova jornada – Parte VIII: rituais e uma viagem no tempo

    “-Rebecca… Quero que guarde essa sensação com você. Essa energia pode ser muito maior…”

    Sentei sobre o tapete no chão, em posição de lótus. Sentia que aqueles sete dias de isolamento haviam trazido novamente momentos difíceis à tona, lembranças de um passado trancada em um velho porão, ou entre as paredes escuras de um casarão longe da sociedade, na época em que eu julgava que deveriam ter sido os melhores da minha juventude. Eu sabia que em poucas horas, Antoni viria me buscar e logo aquelas terríveis sensações de medo, tédio e loucura passariam.

    Tentei criar a sensação de estar respirando fundo, concentrando minha mente em meus objetivos, sentindo meu corpo e minha alma em tamanha concentração, capaz de fazer-me entrar em transe. Estava definitivamente me sentindo mais calma e preparada para os próximos passos. O jejum que inicialmente me irritava, havia sido suficiente para purificar meu corpo, tornando-me sensitiva a tudo que houvesse ao meu redor, transcendendo a mim mesmo.

    Alguém abre a porta. Abro os olhos devagar. “Antoni”. “Sim, minha querida, está na hora de irmos.” “Finalmente.” Levantei, conduzida por ele, pois embora o jejum houvesse trazido efeitos positivos, também havia me enfraquecido, tentei afastar sua semelhança com Thomas. “Não, você é muito diferente. Ele podia ter sido como você…” Chegamos até o jardim, e eu mal lembrava o caminho que havíamos percorrido até lá. Senti a grama gelada em meus pés também frios, olhei para um céu com poucas estrelas. Com ajuda subi no cavalo que estava preparado para nós e na garupa de Antoni cavalgamos por um tempo que não pude determinar. Havia mais pessoas conosco, mas não lembrava de nenhum daqueles rostos.

    – Rebecca, devo dar-lhe os meus parabéns. Muitos não suportaram o que você suportou. Sei que foi difícil, mas você está aqui. Se leu as instruções, sabe como serão os próximos procedimentos. Está pronta?

    -Apesar de estar me sentindo estranha, estou pronta sim.

    Eu estava apenas com uma túnica branca que vesti antes de sair do isolamento. O cabelo preso em um rabo de cavalo, o mais natural possivel, sem minhas unhas habitualmente pintadas de vermelho, sem maquiagem ou nem sequer um batom.  Deixando minha vaidade de lado por alguns instantes. Todos fizeram um grande circulo, de mãos dadas.  Antoni dizia calmamente algumas palavras que mentalizávamos. Depois em coro, proferimos uma espécie de oração ao universo. Aquele era o primeiro ritual na qual eu participava.

    Antoni pegou um pequeno jarro de barro, que lhe foi entregue junto a uma tigela rasa. Despejou um liquido naquela tigela, falando baixo uma mistura de palavras indecifráveis.  Em seguida, falou em voz em alta:

    – Vejam, este é o sangue de nossa aliança. Aquele que bebe deste sangue, afirmará seu destino. O sangue derramado, vindo de sacrifícios daqueles que lutaram por nosso clã.

    E então, caminhando até um a um todos bebiam daquele liquido. Antoni parou a minha frente. Olhei- o fixamente, sem saber se deveria continuar com aquilo. Beber daquele liquido poderia confundir as coisas.

    – Não se preocupe. Beba. – Falou.

    Peguei a tigela junto as suas mãos, hesitante. Bebi. Não era sangue de humanos. Era sangue de animal, usado apenas para compor a mistura. Junto ao sangue havia uma composição de ervas naturais que adormeceram meus lábios, junto a um leve ardor. Em poucos minutos, eu me sentia ainda mais estranha. Não vi mais nada e ninguém ao meu redor. Deitada sobre a grama molhada, um céu colorido caia sobre meus olhos e me levava para longe. Fazendo-me lembrar tudo o que havia escondido bem no fundo de minha memória, como um filme. Momentos bons e ruins, as fantasias de minha infância, os medos noturnos, os cheiros, as músicas, as descobertas, a perda das pessoas que amei, a ilusão que foi a minha vida, as mentiras, as decepções, as torturas, uma mistura desenfreada de tudo.

    Deixei o vento me embalar, as folhas me cobrirem, perdendo-me sobre a terra molhada sentindo estar em outro lugar, um lugar onde eu pudesse me reinventar, e deixar o passado para trás, para aceitar “viver” uma nova jornada.

    Quando todo aquele efeito passou, percebi que estava em pé, parada no mesmo lugar. Antoni prosseguia levando o líquido aos demais. Permaneci ali, voltando de minha pequena viagem, entendendo o que havia acontecido e me sentindo leve, convicta de que não havia nada na qual me culpar, “o mundo está melhor sem ele”.

    – Eu estou muito melhor sem você, Thomas. – Falei baixinho e sorri para Antoni, que me retribuiu o sorriso demonstrando satisfação e um certo carinho, enquanto continuávamos os rituais.

  • Os mortos não voltam – Parte VII

    Os mortos não voltam – Parte VII

    O mundo rodava a minha volta. Eu me iludi ao pensar que um dia teria liberdade. Thomas era um maldito! Além de um vampiro, sádico e psicopata, era um bruxo, um demônio ainda pior do que se poderia imaginar. Naquele momento, percebi que meu sofrimento, não era por amá-lo e por sentir sua falta mesmo com todo o mal que havia me feito. Era pelo ódio que eu sentia. Um ódio tão forte capaz de quebrar o elo entre uma cria e seu mestre. Depois de décadas fugindo dos regrados, agora tinha um clã inteiro de bruxos demônios atrás de mim e o fantasma de “Sr. Erner” a me perseguir, querendo voltar para este mundo e espalhar o caos, ou simplesmente vingar-se de mim. Antoni esperava alguma reação minha. Mas, eu estava atônita, tentando não me apavorar. Então, ele me beijou colocando-me contra a parede. Surpreendendo-me e me enchendo de fúria. Empurrei-o:

    -Me solta porra! Isso tudo é culpa de vocês! Se Sophie não tivesse vindo atrás de mim eles não me encontrariam. Levei anos fugindo até encontrar um lugar e uma identidade na qual estivesse protegida. E vocês foderam com tudo! – Falei aos berros. – E que loucura é essa? Beijar-me desse jeito. Está pensando que sou o que? E Sophie?

    – Sophie é uma filha para mim. Mas, você… Eu… Entendo porque Thomas ficou louco por você. Ele não pode voltar.

    – Ele não vai voltar!

    Eu estava perplexa. Além de gêmeos, também eram iguais na loucura. Semicerrei os olhos e disse:

    – Nós vamos resgatar Lorenzo e depois eu vou embora, precisarei de um lugar para nos esconder por um tempo. Nós nunca mais vamos nos ver! Não quero mais saber nem de você, nem de Sophie, entendeu?

    Sai batendo a porta sem olhar para ninguém. Sophie tentou falar comigo, mas fui direto até a moto esperar que eles viessem para partirmos. Lilian me levou até uma parte do trajeto, de lá, pegamos um avião. Pouco antes do amanhecer estávamos na França. Não levei Lilian comigo, que ficou brava porque não deixei – a ir. No caminho pensei em ligar para Ferdinand para pedir ajuda, mas não havia tempo, além disso, não quis levar perigo aos outros do clã. Mas, confesso que estava com medo de enfrentar tudo aquilo sozinha.

    – Vamos ficar nesse hotel durante o dia. Mas, à noite nós e minha equipe vamos invadir o local. Além de resgatar o humano, também tenho contas a acertar com aquela gente. – disse Antoni.

    – Que o dia termine logo, então. – Respondi friamente.

    No quarto, sozinha. Fechei as janelas para que os primeiros raios de sol não entrassem quando amanhecesse. Deitei naquela cama empoeirada tentando descansar um pouco, precisaria de força e energia. Estava quase dormindo, piscando os olhos várias vezes, quando ouço o estrondo de uma explosão em uma das janelas, na qual fui lançada a uma boa distância de onde estava deitada. Barulhos de tiro, gritos e outros ruídos tomaram conta do lugar. Tentei levantar, mas não conseguia ver nada. Lutei contra alguém que me puxava com força. Apaguei. Acordei horas depois presa pelas pernas em uma poltrona na cor de um vermelho vivo, paralisada de alguma forma, vestindo uma túnica preta, com um coração humano ainda pulsando vida, nas mãos.

  • Os mortos não voltam – Parte IV

    Os mortos não voltam – Parte IV

    No avião, observava as nuvens escuras. Em alguns trechos, conseguia visualizar as luzes das cidades que haviam pelo caminho, tudo era tão pequeno dentro daquela imensidão. Lembrei-me de conversas que tive com Sophie a poucos minutos. Olhei para ela. Estava concentrada lendo um livro de magia, com uma de suas mechas loiras caindo sobre o rosto.  Sua expressão compenetrada e segura pouco lembrou aquela vampira apavorada de algumas horas atrás. Eu iria conhecer Antoni, e tudo o que estava acontecendo me deixava nervosa e ansiosa. Não me sentia insegura assim à anos.

    “Cresci em uma vila no interior da Índia. Minha família era muito humilde. Eu tinha 14 anos quando uma peste terrível atingiu a população, em meados de 1856. Não sei o que Thomas estava fazendo lá na época, acredito que eram negócios. Era só o que ele fazia. Negócios. Uma noite minha mãe levou-me para longe da vila e disse que eu deveria ir embora para não morrer. Foi difícil deixá-la naquela noite. Foi quando o conheci e pedindo ajuda, fui levada por ele para a Alemanha. Em troca, ele pediu para que eu o servisse com absolutamente tudo o que ele ordenasse, incluindo principalmente meu sangue, claro. Mas, Erner ficou cada vez mais doente e obcecado… Quando fiz 28 anos, ele me transformou achando que eu estaria pronta. Eu não progredia com seus métodos de ensinamento, e não fazia o menor esforço para isso. Anos depois, já casando e tendo você em seus planos, tentou me matar, pois, me tornei um peso para ele, seus objetivos já eram outros, de modo a simplesmente resolver me descartar, ele era totalmente louco… Mas, sobrevivi e fui encontrada por um senhor idoso que não tinha parentes próximos e precisava de uma cuidadora. Ele prometeu levar-me até os Estados Unidos, onde faria tratamento para uma doença. Para mim quanto mais longe de Erner, melhor, pois ele poderia descobrir que eu havia sobrevivido. Quando chegamos lá, eu fugi, pois não teria como cuidar daquele senhor, sem que ele descobrisse o que eu era. Meu destino era ser ajudada por estranhos. Meu destino era estar nas mãos deles. Entendi isso quando conheci Antoni.”

    Anos depois eu estava trancada na casa de Erner, era sua nova prisioneira, estava sobre sua”posse”. Imaginei o quanto Sophie deveria ter sofrido em suas mãos desde os 14 anos… Talvez, por isso ela me agradecesse por ter entrado no caminho daquele sádico, para então conhecer Antoni, por ironia, seu irmão, gêmeo. Desliguei-me de meus pensamentos quando o avião já estava em terra firme. Do aeroporto, tínhamos mais 40 minutos de carro. Então, meu celular vibrou no bolso da minha jaqueta.

    – Oi?

    – Eleonor? – Falei surpresa, reconhecendo sua voz.

    – Becky, como está? Liguei apenas para lhe dar um até mais.

    Por instantes fiquei em silêncio. Mas, não adiantava dizer nada que a fizesse mudar de ideia…

    – Bom ao menos lembrou de mim. Nos vemos logo?

    – Claro amiga! Nos vemos logo…

    -Hey!

    – Diga Becky.

    – Obrigada por tudo, volte logo e enquanto isso, descanse e sonhe com vampirinhos!!!

    – Hahahaha você não tem jeito….

    Era melhor assim, uma despedida como se fosse por pouco tempo. Os anos passariam rápido, temos a eternidade, e eu levava a certeza de que logo teria minha amiga comigo novamente. Ela me ensinou tantas coisas. Além disso, foi  por meio dela que conheci Ferdinand e hoje estou no clã Wampir. Depois daquela conversa, resolvi não ficar pensando na atual situação de Eleonor para não me chatear ainda mais. Então, liguei para Lilian e combinamos de nos encontrar já que estávamos por perto. Pelo que soube, Lilian também estava com alguns problemas e prometeu que após resolve-los iriamos a uma festa com alguns amigos. Apesar de ter achado estranho, afinal, não estávamos no clima para “festejar” deduzi que talvez houvesse algo que pudesse nos ajudar e que nos fosse útil: Lilian tinha amigos bruxos.

  • Os mortos não voltam – Parte II

    Os mortos não voltam – Parte II

    Sophie ficou apavorada com o olhar que dirigi a ela, mencionou até minha semelhança com Sr. Erner. De fato, eu tinha muito em comum com ele, e, acabei aprendendo com aquele sádico mestre as piores coisas, infelizmente. Mas, diferente de suas atitudes totalmente impulsivas e doentias, eu havia também aprendido com os longos anos, a ser paciente e a ponderar algumas questões antes de sair “chutando o pau da barraca” , como costuma dizer um velho amigo meu, apesar de muitas vezes o meu lado geminiano ser mais forte. Ouvi minha nova e estranha amiga com atenção, e ao final, pude perceber que, apesar de eu estar com certa raiva, suas intenções eram as melhores possíveis, mas, para nossa infelicidade, ela vinha carregada de problemas e questões obscuras que acabaram afetando e envolvendo a mim, e com certeza também a Lorenzo.

    – Então, está me dizendo que depois que Erner a abandonou você se refugiou e tornou-se membro de um clã de bruxos-vampiros que se fixaram nos Estados Unidos? Mas, o que isso tem a ver com o que está acontecendo, pode explicar?

    – Nem todos os clãs são como o nosso. Alguns existem apenas para propagar o caos e a maldade no mundo. Nosso superior, nos ensina a praticar magia por meio de energias naturais. Porém, há bruxos humanos, bruxos vampiros, entre outros, e há bruxos na qual dizemos que se originam diretamente do inferno. São uma espécie de seres que estão constantemente atrás de almas na qual possam possuir e retirar a energia e tornarem suas magias cada vez mais fortes e terríveis. São representandos por esse maldito simbolo ali na parede… – Falou apontando para o simbolo.

    Olhei para aquelas manchas e marcações feitas pelo fogo. Mas, como sempre, estava muito curiosa e intrigada com toda aquela história para me perder em meus pensamentos naquele momento, sabia que havia algo por trás de tudo aquilo. Compreendi que Sophie não tinha culpa, não totalmente, mas ela não estava me contando tudo. Tentei ler seus pensamentos, mas ela se protegia muito bem quanto a isso. Estava ficando sem paciência, odiava ser enrolada.

    – Sei de tudo isso. Pode ir direto ao ponto? – Questionei.

    – Está certo… Um desses grupos é nosso clã inimigo. Quando vim atrás de você, não pedi autorização ao meu superior e por tanto estou sem proteção, de modo que esses inimigos conseguem se aproximar e nos prejudicar de alguma forma, pois, somos seus alvos contantes. Acabei dando-lhes a chance de me pegarem, só que…

    -Só que o quê, ora, diga-me logo!

    – Acho que pegaram Lorenzo para nos atingir, atrair, melhor dizendo.

    – Eu imaginei… Mas não entendo o que ele tinha a ver com isso.

    – Na verdade, nada. – Falou Sophie com desdém – É como agem, sabiam que você procuraria por ele. Querem nos atrair, como falei. Peço desculpas, sei que fui inconsequente, mas não imaginei que te atingiriam. Se soubesse, teria tomado mais cuidado, mas cheguei a acreditar que o próprio Erner teria voltado, eles são tão manipuladores quanto ele…- Falou divagando – Além disso, não pedi autorização ao meu superior porque… ele não queria que eu viesse atrás de você.

    – Olha, nem eu, nem Lorenzo tínhamos algo a ver com suas bruxarias, mas….Calma, espera um pouco. Por que seu mestre, superior, ou o diabo que seja, não queria que você me encontrasse? Como assim manipuladores? – Eu estava zonza naquele momento, mas peguei os fatos no ar.

    Sophie me olhou arregalada, como sempre, ela e suas expressões apavoradas, percebeu que havia falado demais, pensou por alguns instantes mas, finalmente resolveu falar:

    – Porque meu superior e Sr. Erner eram irmãos.

  • A magia e os vampiros – pt1

    A magia e os vampiros – pt1

    Quase sempre eu escrevo por aqui para confidenciar meus pensamentos e angustias, relacionados ao fato de eu ser um vampiro. Para alguns, isso não é um fato aceitável e exige muito mais do que conhecimentos ou crenças, pois vai além do que lhes é ensinado em escolas ou por suas famílias tradicionais. A cultura de muitos lugares, principalmente no Brasil da atualidade, salvo alguns lugares específico, é favorável a uma educação mais lógica, desprendida de mitos, lendas e histórias.

    Sinceramente quando entrei nesse mundo on-line em meados de 2006, eu vislumbrei muitas cousas, principalmente o fato de que a internet permitiria o aumento do conhecimento geral das pessoas e uma possível aceitação do que nós somos. Todavia, o que eu vejo por ai nesses 7 anos de acessos é que houve sim o aumento do conhecimento geral, mas a questão lendas está cada vez mais apagada.

    Que papo de sociólogo é esse Ferdinand? Calma mancebo, essa introdução é para contextualizar minha última aventura junto de Hadrian e Sebastian em meio aos seres tidos como “despertos”.  “Despertos”, aliás, é um termo novo aqui no site, muito utilizado por Hadrian e de significado simples. Abrange todos nós que conhecemos a verdade por trás da penumbra da sociedade humana: Vampiros, bruxas, metamorfos …

    Enfim, essa história teve início meses atrás e logo que voltamos do enterro de meu estimado Kieram.  Lembram-se da caixa de Suellen? Pois então, cerca de duas noites depois eu recebi um telefonema de um cara até então desconhecido e que se dizia discípulo do falecido mago. No telefonema ele foi breve e disse apenas que gostaria de marcar um encontro para nos conhecermos.

    Naquela mesma noite liguei para meu pupilo (Sebastian) e ele tomou a liberdade de resolver tudo, definindo inclusive um local público e seguro. Tendo em vista, o fato de que não é sempre que nos contatam em números exclusivos aos membros do clã, tal preocupação se fez importantíssima. Naquele mesma noite ele foi ao meu encontro e combinamos algumas ações e reações para evitar imprevistos.

    22:10 estávamos no local marcado e fazia 10 minutos que o cidadão estava atrasado. Como não sou muito paciente com horários eu resolvi ir para o terraço e praticar aquela famosa “esticadinha nas pernas”. No meio das escadas eu esbarrei num sujeito  com quase meu tamanho, um pouco mais forte, feições europeias e que descia correndo. Apesar dele não emitir qualquer tipo de energia sobrenatural, os seus grandes olhos verdes e olhar penetrante me chamaram a atenção, a ponto de não reparar em sua voz grave e no rápido pedido de desculpas.

    Eu mal havia posto os pés no terraço e estava a ponto de queimar um pouco de essência de menta em meu cigarro eletrônico, quando sinto o smartphone vibrando no bolso. – Herr, nosso convidado chegou – Disse-me o afoito Sebastian. No mesmo instante voltei para o salão e lá estava o sujeito da escada…

    Durante alguns minutos ele confirmou sua ligação com Kieran, revelou momentos e situações muito íntimas do velho mago e aquilo me pareceu suficiente para que nos retirássemos para um lugar sem eventuais “ouvidos nas paredes”. Chamei Sebastian para um canto e ele também compartilhou de minha opinião, confesso que inicialmente o sentimento que vinha a minha mente era de que tínhamos diante de nós uma espécie de órfão. Alguém, que independente dos poderes, estava precisando mesmo de um ombro amigo.

    Instantes depois a conversa foi retomada num dos meus refúgios e lá veio a revelação: Estávamos diante um trunfo de Gaia, alguém que havia fugido a todas as regras e se revelou como sendo um “mago-vampiro”.

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Muitos dos mistérios, lendas e até mesmo profanações das civilizações antigas se baseavam na observação do céu e de seus astros e estrelas. Imaginem por exemplo o medo de alguém que vivia há 10000 anos quando ocorria um simples eclipse. Apesar disso, nem sempre esse tipo de situação foi temerosa e por vezes deve ter sido também um grande passatempo para muitos, afinal de contas, não havia celular, tv ou ainda menos a internet das noites atuais.

    Pensando nisso, eu sai do conforto de casa, transformei-me em lobo e fui para o mata próxima da fazenda. Onde durante uma longa corrida, pausada algumas vezes para descansar, cheguei ao alto de um dos montes. Lá de cima e novamente na forma humana e nu, pois eu queria estar mais próximo da terra, eu me deitei sobre uma grande pedra e fiquei por algumas horas apenas meditando.

    O processo de meditação foi incorporado as minhas rotinas de entendimento do mundo, nas idas e vindas pela casa de Kieran em meados de 1900. É poça em que a frase que ele mais dizia era: – Toda prática precisa de concentração, disciplina e esquecimento, tal qual a respiração, lembras?

    Inicialmente a meditação foi fácil, concentrei os pensamentos, deixei o corpo em estado de tranquilidade e imóvel. Porém, toda vez em que eu ia mais fundo nos pensamentos a imagem daquela garota loira, de capuz e sem face vinha aos pensamentos. Por que diabos isso? Seria ela a autora de tal obra nefasta? Seria algum aviso, seria Suellen querendo me chamando de alguma forma?

    Voltei para casa depois de mais alguns minutos em meio aquela confusão mental. – Por que eu tenho de ser assim teimoso, no sentido de por algo na cabeça e tentar resolver? – Era o meu pensamento constante em todo o trajeto de volta.

    Já em casa liguei para Joseph e quando ele retornou de sua “alimentação”, batemos mais um papo sobre os ocorridos. Ser assombrado, ou ter visões não é algo incomum para um Wampir, porém as que estavam ocorrendo comigo já haviam passado dos limites. Fato que nos fez ir atrás de mais pitas sobre o autor e as tais Stregas italianas.

    Sendo a fazenda um local tão isolado eu fiz as malas, juntei as cousas mais importantes e chamei Joseph para umas voltas por São Paulo e Rio de Janeiro. Reservei hoteis e na noite seguinte depois de avisar a todos, partimos em busca de mais informações. Obviamente a internet e até mesmo a deep web já haviam sido consultadas, bem como nossos informantes…

    Tendo como principal informação alguns entusiastas e estudiosos a respeito das bruxas, nós descobrimos facilmente um coven e onde seria sua próxima reunião. Duas noites se passaram desde que chegamos a São Paulo e com um carro alugado fomos ao tal pub na zona sul da cidade.

    Lugar bonito, escuro como todo pub e lá estavam mais ou menos 10 pessoas em uma mesa. Todos de preto, pentagramas no pescoço e alguns de moletom com capuz. Logo de inicio “apenas crianças brincando de bruxa”, foi o que me cochichou Joseph.

    Mesmo assim nos apresentamos: “Oi nos falamos pela internet…bla bla bla” E depois de alguns minutos eles realmente eram apenas crianças brincando de magia. Apesar de um deles ter potencial para bruxaria, inventamos uma desculpa qualquer e saímos à francesa. Ainda nesta noite aproveitamos para dar uma passada num dos negócios do Franz, uma casa de stripers, afinal nem tudo são negócios…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 1

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 1

    “…A caligrafia do Livro deve ser firme, clara e bela. Na fumaça do incenso é difícil ler os conjuros. E enquanto tenta ler as palavras por entre a fumaça, ele desaparecerá, e terás de escrever aquela terrível palavra: Fracasso.”

    ―Aleister Crowley

    Quando fui acordado em 2005 depois de 50 anos hibernando nos braços de Morpheus, eu levei algum tempo para me readaptar. Todo Wampir que já hibernou alguma vez, enfrenta esta fase de uma forma muito pessoal e eu não fui diferente. Por incentivo de Joseph e Sebastian, ambos ratos de biblioteca, eu fiquei até meados de 2008, lendo sobre tudo que me aparecia. Livros, revista, internet, até bulas de remédios ou rótulos de produtos nos supermercados foram meu passatempo até que em fim montei este site em 2008.

    Dizem que esta hibernação pode recuperar a sanidade de um vampiro e foi por isso que tomei tal decisão nas idas e vindas pelo Rio de Janeiro dos anos 50. Alguns chamam esse processo de realinhamento de xacras, outros de cura da alma e eu só tenho a dizer que voltei “novinho em folha” e pronto para mais 100 anos de muitas peripécias…

    Mudando então de assunto, mas nem tanto, foi nesta época de muitas leituras que encontrei um livro especial nas cousas do Barão. Este material cujo nome não posso revelar e que chamarei por aqui de “Livro de bruxarias da Madame Borgia”, me despertou um interesse ímpar. Afinal, entre tudo o que o autor(a) anotou, há também muitas poções e rituais interessantíssimos.

    Na verdade, o livro é apenas a ponta de um iceberg que me levou a outra grande aventura, cujo fim será digamos revelador. Pois bem, deixando o contexto histórico de lado voltemos a uma sexta-feira e que por coincidência era  dia 13 de outubro de 2006. Não sei o que vocês faziam neste dia, mas eu estava em nossa casa da fazenda. Era uma noite quente, úmida e como todo final de ano no Brasil havia aquele clima Natalino onde todos só falavam disso, TV, internet, lojas decoradas, casas decoradas…

    Fazia quase um ano que eu havia voltado de meu sono e mesmo assim esta sempre me foi uma época difícil, pois sempre me recordo muito de minha família mortal. Obviamente chateado e triste decidi ligar o rádio e lá vinha o senhor Eric Clapton com sua famosa Layla.. Para quem não conhece a letra da música começa assim:

    “What will you do when you get lonely
    and nobody´s waiting by your side?
    You’ve been running and hiding much too long
    You know it’s just your foolish pride”

    Eu gosto desta música, gosto também do ritmo e do famosíssimo refrão: “Layla, you’ve got me on my knees… bla bla bla”, mas sabe aquele dia em você presta atenção na letra? Caso não tenhas reparado mancebo, a letra é um belo tapa na cara logo de início, onde o autor deu a entender algo do tipo: “Deixa de ser orgulhoso e faça alguma coisa seu babaca”.

    Para piorar mais ainda minhas ideias não havia mais ninguém comigo naquele dia. Franz havia saído com Eleonor, Sebastian e Joseph estavam em outro cidade/mundo e nenhum dos serviçais Ghouls da fazenda me instigavam a atenção a ponto de eu puxar assunto. Tento em vista isso tudo, eu comecei a vasculhar as coisas antigas em busca de algo que me distraísse.

    Quando um vampiro hiberna é como se ele fosse fazer uma mudança então imagine muitas cousas que eu possuía encaixotadas, fechadas ou entulhadas em uma grande sala de jogos, aquela sala onde você joga tudo a ponto de esquecer que possui e aos moldes dos problemáticos acumuladores.

    Uma caixa com objetos variados, outra com lembranças, outras tantas com coisas inúteis tipo talheres de prata, se bem que a prata na pior das hipóteses pode ser derretida… Enfim, fucei tudo até que finalmente achei mais uma com livros. Porém, estes eram do barão e eu não deveria mexer. Sabe quando você acha algo velho dos seus pais e surge aquela curiosidade?

    Manuscritos sobre biologia, química, algumas cartas… Até que finalmente encontro um pacote muito bem embalado com um tecido bege e lacrado com cera preta. Cujo carimbo não consegui identificar. Naquela de abrir ou não, eu simplesmente deixei de lado o fato de ser um vampiro, o fato de aquilo ser algo do meu mestre e toda aquelas cousas que nos falam sobre educação ou boas maneiras. Minha curiosidade sempre foi minha maior virtude e defeito, não é mesmo?

    Dito e feito, logo que rompi o selo do pacote, senti algo diferente, tal qual uma espécie de calafrio inesperado, daqueles que arrepiam os cabelos da nunca de qualquer um. Embalagem para um lado e em minhas mãos um livro grande de mais ou menos umas 500 páginas e uma bela capa de couro texturizado. Não havia cadeado, mas uma simples fechadura daquelas de empurrar uma bolinha para cima e outra para baixo. Ao abrir, as páginas se estufam dobrando de tamanho e algumas cousas caem de seu interior.

    Dentre as cousas que caíram havia uma pena negra, um pingente aparentemente de prata com formato de pentagrama e algum tipo de pó, que simplesmente misturou-se ao ar. Guardei tudo nos bolsos e fui para a sala, onde passei o resto da noite folheando e folhando até apagar…

    Suellen? Quem é você? Não brinque comigo garota tire logo esse capuz!!!

  • Como a Evelyn conheceu a Beth

    Como a Evelyn conheceu a Beth

    Já consciente do poder sobre os homens e sem interesse algum de deixar pistas, Evelyn começou a criar um estranho interesse por plantas.
    Durante o primeiro verão fora do internato, ela foi à África do Sul conhecer um pouco mais sobre uso medicinal de ervas e plantas.
    Nos anos que seguiram ela continuou estudando o assunto. Durante o curso rápido em um instituto de Herbologia no leste Europeu ela conheceu Elizabeth.
    Em princípio bastante diferentes, as duas desenvolveram admiração mútua, conforme as conversas durante as caminhadas no jardim do instituto avançavam. Elas não estavam interessadas exatamente nas mesmas coisas, Elizabeth claramente possuía um conhecimento bem maior sobre os diferentes usos das plantas e Evelyn encantava-se ao ver como algumas coisas estranhamente belas aconteciam sem explicação na presença da outra mulher.
    De uma forma bastante geral, mulheres entediavam Evelyn. Roupas, cabelo, maquiagem e sociedade não estavam presentes nas conversas que a interessavam. Mas Elizabeth era diferente. Mesmo também interessada em todos os assuntos “de garota”, ela parecia saber um pouco a mais que as outras pessoas e aos poucos o conhecimento extra começou a interessar Evelyn.
    Pela primeira vez ela ouvia falar de bruxas. Já claro conhecia da literatura, mas por mais que desejasse obter o conhecimento sobre feitiços e poções que havia lido diversas vezes, não acreditava que fossem reais.
    Elizabeth mostrou à Evelyn coisas bastante simples. Uma delas uma poção do sono. A mistura era inodora e insípida, perfeita para misturar em bebidas. Além do mais se misturava rápido aos líquidos e podia ser feita com ingredientes encontrados com certa facilidade.
    Depois que Evelyn terminou sua primeira poção sugeriu a Elizabeth que fizessem um teste. Em uma festa no centro da cidade, Evelyn escolheu três pessoas de pesos e idades diferentes. Mesmo intrigada com a situação, Elizabeth deixou que a futura aprendiz fizesse seu experimento.
    A primeira pessoa era um homem gordo, que já havia passado dos 50 anos. Evelyn sentou-se no bar ao lado dele, que depois de observar a mulher dos pés a cabeça lhe ofereceu um drinque. Elizabeth observava de longe. O homem se insunuava o tempo todo e por várias vezes tentou tocar a perna de Evelyn. Ela não era de ser má com as pessoas apenas por ser, o homem poderia ter escapado do sonífero se tivesse sido um cavalheiro, mas como o comportamento rude a enfurecia, ela resolveu que escolhera a pessoa certa para o teste.
    Evelyn retirou da pequena bosla um vidrinho de perfume e começou a passar. Elizabeth entedeu, ainda de longe observando a cena, era o vidro que continha a poção. Enquanto Evelyn brincava com o vidro, alguém esbarrou nela e um pouco do “perfume” caiu no copo do homem, que não percebeu. Ele bebeu e continuou a insinuar-se. Logo depois pendeu sobre o balção e adormeceu.
    As outras duas pessoas, uma mulher jovem e fransina e um garotão saudável em torno dos 25 anos, não precisaram de muita aproximação, ambos, deixaram os copos no balcão ao lado das mulheres.
    O garotão já bêbado insinuava-se para qualquer ser vivo do sexo feminino que passava ao seu lado. Já a mulher foi escolhida porque naquele mesmo dia de tarde, Evelyn a viu maltratando um garçon em um café.
    Quando saíram da festa Elizabeth comentou qualquer coisa sobre as três vítimas terem se tornado “presas fáceis”, mas Evelyn não entendeu muito o comentário e também achou que seria indelicado perguntar.
    Elizabeth encantou-se com Evelyn por razões que podem parecer até frívolas. Apesar de ser tão bela e elegante quando a própria Evelyn, admirava nela a sua facilidade em participar dos eventos sociais, o seu conhecimento de arte, e o “poder de encantar as pessoas sem ter efetivemente nehum poder”.
    Chegava a hora de Evelyn retornar à Paris. Trocam endereços e telefones, Elizabeth, agora Beth, também deu algumas instruções em relação à livros que poderiam responder algumas questões sobre bruxaria.
    Sem saber, Evelyn acabara de conhecer sua mais forte aliada e fiel amiga.

  • No semi-árido com Jurema

    No semi-árido com Jurema

    Depois de descansar durante alguns dias em Manaus, Evelyn e Beth embarcaram para João Pessoa, a capital da Paraíba. Mesmo nessa época do ano é bastante agradável por lá e as duas resolveram passar alguns dias na praia.
    Evelyn precisava trabalhar um pouco, aproveitou que veio ao Brasil com a desculpa de aprender mais sobre as artes dos Cordéis e levou Beth em um longo passeio pelo sertão.
    Lá conheceram histórias, ouviram músicas e se encantaram pelos Cordéis que cantam o dia-a-dia e as lendas da região. Foi durante esses dias que ouviram falar do Chá de Jurema.
    A bebida faz parte de um ritual que é as vezes chamado de Catimbó e é dito que este ritual é uma viagem interior, onde é possível curar-se de doenças, afastar o mau olhado e receber conselhos. Beth ainda andava confusa sobre o futuro ao lado do namorado, chegou a conversar algumas vezes sobre isso com Evelyn durante os dias que passaram juntas, mas não havia chegado a nenhuma conclusão. Ela amava Galego, sem dúvidas, mas não queria ser transformada, pois pensava em filhos, e isto, um vampiro não poderia lhe dar. Em meio a confusão de Beth, acharam que uma viagem espiritual para conselhos poderia ser interessante, assim, dirigiram no 4×4 até Alhandra na Paraíba.
    A cidade é tida como local sagrado para os cultos com o chá de Jurema e as celebrações são realizadas com bastante freqüência.
    Chegaram, instalaram-se em uma pequena pensão e saíram em busca de algum dos mestres da cidade santa para participarem do ritual. O fato de Evelyn ser estrangeira abre muitas portas, o povo receptivo do nordeste adora mostrar sua cultura aos “gringos” e logo elas encontraram um lugar para participar da cerimônia.
    Desta vez nenhuma das duas participou do preparo, descobriram apenas que também são denominadas como “ciência de índio” as artes do preparo do chá, e que as árvores são bastante comuns na região do semi-árido brasileiro, sendo também usadas como lenha.
    Sentadas em roda no chão juntos com as outras pessoas, elas viram sobre uma toalha vermelha algumas outras ervas para fumo, além de quatro velas acesas em cima de pedaços do tronco da árvore, dois copos altos com água e alguns recipientes com o chá.
    O mestre que conduzia a cerimônia disse as duas que não deveriam lutar contra os efeitos do chá, que caso a bebida não firmasse no estômago da primeira vez deveriam beber quantas vezes fosse necessário até que se acostumassem com ela.
    Evelyn não gostava de maneira alguma de ficar indefesa, a idéia de que não poderia ter alguém de confiança na roda sem estar sob o efeito do chá a assustava. Mas Beth não queria ficar ali sozinha, insistiu que a amiga também passasse pela experiência e ela cedeu.
    De tão relutante em ficar “desprotegida” Evelyn acabou não segurando o chá no estômago da primeira vez. O gosto extremamente desagradável não ajudou nem um pouco. Beth se entregou prontamente a experiência e já não teve problemas com a primeira dose.
    As duas bebiam uma mistura da Jurema Preta e de Arruda da Síria. Evelyn vomitou mais duas vezes antes de finalmente se acostumar com o chá no estômago. A essa hora a cerimônia de invocação dos encantados já estava acontecendo.
    Com maracá, um chocalho indígena, sinos de metal nobre e Toantes (uma espécie de cântico meio falado), as pessoas ao redor pareciam em transe.
    Os encantados são as entidades que regem a mística em torno da crença, e estão presentes nas árvores de Jurema que são sempre muito antigas. Dizem que ali é onde se encontram as almas que já foram pessoas, as que nunca foram e algumas que vivem em um mundo onde nunca se transformaram em carne viva. Conta-se que aos pés da Jurema é possível ver as pessoas queridas que já se foram e também os anjos.
    Já fazia quase uma hora do início e ninguém havia se levantado ou feito qualquer movimento. Uns quinze minutos depois de ingerir, Beth sussurrou para Evelyn que sentia uma forte dor de estômago, mas sabia que já não conseguiria mais vomitar. Logo depois ela viu a amiga de olhos fechados, sem nenhuma expressão no rosto. Parecia que apenas o corpo dela estava ali.
    Evelyn ainda olhou para o céu mais umas duas vezes, tentando imaginar o que acontecia com as outras pessoas, antes de conseguir se entregar aos poderes do chá.
    Primeiro veio a dor no estômago, depois uma forte ânsia, mas já não havia nada para colocar para fora. A dor parecia lhe consumir e olhando as pessoas ao redor, Evelyn achava que nunca mais sairia dali. Todos pareciam ter abandonado seus corpos, como Beth, estavam sentados. Alguns cantavam e tocavam os sinos e os maracás automaticamente. Aquele tempo pareceu uma eternidade.
    Sentada tentando controlar a dor Evelyn começou a ver uma luz, ficou em dúvida se era alguém com lanterna que se aproximava, chegou a achar que seria o sol, mas era muito cedo.
    De repente ela estava de pé e olhou ao redor achando que havia levantado em um impulso de dor, mas viu apenas idéias. A luz havia desaparecido e ela caminhava por um lugar escuro. Aos poucos a luz voltou a se aproximar e Evelyn viu vários pedaços da sua própria vida. Algumas vezes ela era pequena demais até para se lembrar do que tinha acontecido.
    Viu os pais no dia do casamento deles, o pai andando de um lado para o outro em um lugar de paredes frias, depois um mulher de branco e o pai explodindo em alegria.
    Também viu os dois chegando em casa com um bebê nos braços, sabia que era ela. As cenas foram mudando e ela foi crescendo nelas como um filme que passa apressado. A infância em Bruges, os verões na casa de campo dos tios, os anos no colégio interno, os primeiros anos em Paris e alguns dos lugares que visitou.
    Ela sorriu quando a lembrança da primeira viagem ao Estados Unidos pareceu, esta lembrança pareceu maior que as outras, seguindo de coisas que aconteceram anos depois e em ordens diferentes. Nessa hora Evelyn notou que não era ela quem controlava as lembranças, mas não conseguiu entender o que estava acontecendo.
    A misteriosa luz mostrou o canto preferido dela no apartamento que morava e desta vez era real. Ela foi até a poltrona que fica perto da janela e se sentou. Parecia estar de volta em casa, relaxou e dormiu.
    Quando Evelyn acordou estava sentada no chão, exatamente na posição que se lembrava de ter ficado quando sentiu as fortes dores de estômago. Beth estava ao seu lado, já relaxada olhando para a amiga. Completamente tonta e ainda sentindo náuseas Evelyn acompanhou Beth até o alojamento e se deitou sem falar nada. Dormiu logo em seguida.
    Na manhã seguinte Evelyn já se sentia melhor, estava até com um pouco de fome. Beth levantou cedo e foi procurar o mestre da roda da noite anterior. Ela voltou com algumas coisas para o café da manhã e as duas comeram no carro mesmo.
    “Você ainda precisa fazer mais alguma coisa no sertão?” Beth perguntou.
    “Não e estou ansiosa para dormir em uma cama confortável de um bom hotel” Evelyn respondeu.
    Beth disse apenas “ótimo” e as duas embarcaram no carro e dirigiram até João Pessoa. A viagem era curta, já que Alhandra é perto do litoral.
    No hotel Evelyn se apressou em tomar banho e pedir ao serviço de quarto um chá calmante para o estômago. Beth não subiu ao quarto com ela, disse que ia resolver uma coisa e saiu pela porta do hotel sem ao menos se registrar.
    Algumas horas depois quando Beth voltou Evelyn já tinha caído no sono outra vez, desta vez mais tranquila e sem sentir enjôo.
    Evelyn acordou com a amiga entrando no quarto e quis saber se ela havia conseguido resolver o que queria.
    “Sim”, respondeu Beth.
    Enquanto arrumavas as coisas Beth perguntou a Evelyn o que aconteceu durante o transe da noite anterior, ela respondeu, mas confessou que não entendeu direito o que a misteriosa luz queria mostrar.
    Beth contou que assim que se entregou aos poderes do chá viu um grande fluxo de idéias passarem por ela. “É isto!” pensou Evelyn, a ligação das duas não era só de tutora-aprendiz no mundo da magia, nem só de amizade neste mundo, pois quando ela entrou no transe acabou “se levantando” bem no meio do fluxo de idéias do transe de Beth.
    A amiga também contou que sentiu o poder da árvore e que havia se aconselhado com sábios encantados que se encontravam ao pé de uma antiga Jurema.
    “E o que você vai fazer? Tem alguma relação com sua saída mais cedo?” Indagou Evelyn.
    “Tem, sim. Os conselhos tem relação com muito do que conversamos nos últimos dias, e bem… Eu vou embora esta noite.”
    Sem tocar mais no assunto as duas jantaram em um restaurante próximo ao hotel e Beth se despediu, indo direto para o aeroporto.

  • Vampirísmo x Bruxaria

    Vampirísmo x Bruxaria

    Não sei se é por influência do documentário “Vampiros de Veneza” que está sendo transmitido na Nat Geo, mas de tempos em tempos eu preciso retomar alguns assuntos por aqui no site.

    Confesso que não estou com paciência para vasculhar o meu site atrás das vezes que já falei das bruxas por aqui, mas tenho recebido vários e-mail nos últimos dias sobre pessoas querendo saber mais do assunto. Por mais que as bruxas não sejam o meu foco de reflexão eu até que arranho alguns palpites em virtude da minha convivência com a Beth. Minha doce e atual companheira, Elizabeth, tem estudado nos últimos 15 anos arte da magia. Uma arte que em diversos momentos se confunde com a bruxaria clássica.

    Antes de tudo eu queria esclarecer novamente algumas coisas. Vampiros e magistas são antagonistas, uns sugam a vitalidade humana enquanto os outros se aprofundam nos conhecimentos mais profundos da vida. Antes que alguém me pergunte o porquê de Beth eu estarmos juntos, eu explico: afinidade, destino, amor. Gente nem tudo na vida é 8 ou 80 as vezes algumas as regras podem ser modificadas.
    Já que estou falando de Bruxas é preciso falar do druidismo. Um culto antigo que data 1200 A.C. e que era relacionado aos povos Celtas. Sua doutrina tinha forte ligação com o mundo feminino e eram politeístas adoradores acima de tudo da grande mãe, traduzida pela Natureza. Conforme os anos passaram eles se subdividiram em algumas ordens como: a dos Bardos, Ovates, Druídas (OBOD) na Irlanda, wiccas e Neo-druídas. Sendo que estes dois últimos como explica a wikipedia, tem forte influência dos ocultistas do século XX, como Gerald Brousseau Gardner, Aleister Crowley e também das sociedades secretas como maçonaria, rosa cruz entre outras.

    Enfim, bruxaria é um apelido antigo e pejorativo dado pelos católicos aos praticantes das doutrinas fora ao culto que esta religião prega. Portanto por mais que alguns falem de bruxas em sentido bom no fundo estão falando mal.

    A verdadeira arte é chamada de magia real ou alta magia e vem desde a época dos antigos Egípcios, fenícios e outros “icios” que existiam há mais de 5 mil anos atrás e pode ser estudada através das obras do Eliphas Lei, Papus, Saint Martin, Stanislas de Guaita, entre outros.

    Como sempre digo não sou o dono da verdade e nem quero ser, como sei que tem muitas bruxas que me seguem eu gostaria que vocês ficassem a vontade para comentar o que eu disse e aumentar o conhecimento coletivo.

  • 999 Bíblia das Bruxas

    999 Bíblia das Bruxas

    Hoje faz uma bela noite para um ritual, não? Por isso estou disponibilizando um material chamado bíblia das Bruxas. Achei esse arquivo em 2002, portanto mil perdões caso já exista alguma versão mais atual.

    Carmina poderia dizer se este material tem procedência?

    Clique aqui para ver a bíblia das bruxas.

    Já li e reli este material e achei bem interessante! Na verdade ele foi disponibilizado em uma das aulas do qual minha namorada participou. Quem acompanha esse blog sabe que ela está estudando magia na Europa oriental…

    Além disso, eu gostaria de ouvir de vocês alguns comentários sobre esse assunto. Qual será o limite da magia? Será que isso é acessível a todos ou apenas a alguns privilegiados?

    Por hoje é isso, dentro em breve trarei algumas novidades, vou focar meu tempo disponível na internet para terminar uma de minhas histórias: A vingança, parte final…

    Kisses^^
    Galego