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  • A garota perdida – pt1

    A garota perdida – pt1

    Algumas semanas atrás outra vampira entrou em contato conosco, achei a história dela bastante interessante e segue abaixo seus relatos. Obviamente, já nos encontramos pessoalmente, mas isso vai ser contato em partes, afinal acabamos de virar aliados. Bem-vinda Lilian!

    Teria sido apenas um sonho, ou uma mera lembrança do timbre que a voz dele trazia…  Tentei não vislumbrar qualquer recriminação pela ótima e ao mesmo tempo, péssima experiência que havia passado.

    Mas antes que eu chegue a esse ponto, deixe-me contar quem sou e por hora apenas direi meu primeiro nome, Lilian. Tenho vinte e um anos, alias, parei de viver nessa idade. Confuso não? Eu explico, eu era apenas mais uma mulher comum na década de cinquenta, fadada a casar, ter filhos e ser uma ótima dona de casa. Confesso que nada disso me agradava, por mais que fosse algo pelo qual eu fui criada. Meus pais eram conservadores, de uma típica família americana, ligada aos deveres do marido e os da esposa.

    Eu tinha um pretendente, um homem cobiçado por muitas, menos por mim… Ele era o típico milionário bonitão, “ The handsome guy”, o cara perfeito para gerar uma família. Minha mãe falava sem parar em como eu era sortuda por ter alguém assim para o resto da vida, “Deus como eu odiava aquilo”. Toda vez que eu o via eu sentia náuseas, e posso te afirmar que não eram de emoção e sim de raiva, não era de raiva do pobre Matt, mas sim dessa situação toda e eu nunca fui do tipo que se sentia atraída por homens daquele tipo. Enfim, um ano antes do meu “Casamento feliz”, eu conheci um jovem pintor, vindo de Paris, que adorava pinturas, obras de arte e tirar fotografias. Naquela época, não era como hoje, fotos eram difíceis de tirar; não era apenas pegar o smartphone, dar um sorriso e fazer um “selfie” pra postar nas redes sociais, era algo mais complexo que isso, mas não há necessidade de entrar neste contexto agora.

    Pierre era esse o nome dele, com aquele sotaque francês tentando dialogar o inglês americano. Como eu adorava o som da voz melódica dele, o sorriso branco e um pouco assustador, os grandes olhos verdes cheios de mistério, aquela segurança sobre tudo, nada parecia assusta-lo. Eu ainda jovem, fascinada por aquele homem, pelas belas palavras dele a cada conversa comigo ou em grandes grupos. Era delicioso sentir o longo cabelo castanho dele perto do meu rosto toda vez que ele teimava em tentar roubar um beijo meu. Tola…

    Em um breve resumo, após seis meses convivendo com ele, entre os amigos, festas de família, idas ao cinema e escapando pela janela do meu quarto no meio da noite. Claro eu era jovem e adorava fugir para me aventurar com os amigos, era muito comum isso na época. Eu criei uma forte amizade com Pierre, mas nada, além disso, mantinha minha postura de mulher comprometida, por mais que eu ficasse longe do meu suposto noivo a maior parte do tempo e quanto estávamos juntos, digamos que nada de produtivo ou divertido acontecia. Até que então eis que chegou o jantar de noivado, eu me arrumei com a ajuda da minha mãe, coloquei o melhor vestido, fiz a melhor maquiagem, que naqueles tempos eram usados os delineadores (o Olho gatinho que muitas hoje ainda usam e adoram), o famoso batom vermelho e um pouco de blush, eu tinha a pele branca e precisava deixar com uma aparência uma pouco mais saudável. Quando desci, recebi com toda cortesia  os convidados, sorri o tempo todo ( o sorriso mais falso e infeliz que poderia existir), e ingeria aos poucos o vinho branco na minha taça. As duas famílias socializavam, todos felizes, o meu noivo sendo paparicado por todas as minhas “amigas”, e o pior era que, aquilo não me incomodava, o que realmente me deixava ansiosa era que Pierre não chegava nunca. Eu tentei disfarçar o máximo a minha ansiedade e a falta que ele me fazia, esses sentimentos já estavam me  incomodando. Eu tomei uma taça cheia do vinho branco sem perceber, e quando  estava desistindo e deixando a esperança de vê-lo, eis que seus longos dedos tocam as minhas costas, e quando olhei para ver quem era, lá estava ele e toda sua grande presença.

    – Você está realmente linda Lili…

    – Pierre! Que bom que veio!

    – Apesar de ser um evento triste até onde eu sei,  não perderia por nada.

    – Está tão obvio assim?

    – Aos outros não, para mim, está mais que obvio!

    Aquelas palavras caíram nos meus ouvidos como flechas acertando o adversário, machucando cada membro do meu corpo. Por um instante eu senti minha respiração falhar, ele tinha razão, era um evento triste pra mim, o que eu estava fazendo? Poucos meses do casamento e ainda não sentia nenhum tipo alegria, nenhum tipo de alivio, o que eu mais sentia era medo, tristeza, incerteza, coisas que uma mulher prestes a casar não deve sentir, muito pelo contrario, isso não deveria existir no coração de alguém que vai unir a vida com outra pessoa. Eu mal conversava ou tinha qualquer tipo de ligação com o Matt, apenas falávamos sobre coisas banais, mal nos tocávamos, e ele parecia tão infeliz quanto eu, e disfarçava mais do que eu.

    – Lili?

    – Pierre, o que eu estou fazendo?

    – Querida, se eu soubesse eu teria evitado todo esse “circo” bem antes.

    – Circo?

    – E não é? Ou diria mais para um grande drama teatral, no qual, ambos os personagens principais estão fadados a miséria da alma e a falta de amor.

    – Meu Deus…

    – Deus não é resposta Lilian… Você está prestes a cometer o pior erro da sua vida.

    Aquele jantar, sem dúvida, foi uma das piores noites da minha vida, ainda mais após a conversa com Pierre. Eu consegui apenas fingir estar bem, enquanto tudo que eu queria era corre dali e gritar o máximo que eu pudesse. Mas o maior medo era decepcionar meus pais, minha família, naquela época decepcionar a todos teus parentes não era uma opção e quando falam que a mulher não era tão oprimida, acreditem, nós erámos sim.

    O grande dia ( miserável dia), chegou, era uma linda noite de inverno, tão linda quanto meu querido Pierre, que parecia cada vez pior com a chegada do meu casamento. Eu estava com o vestido de noiva mais lindo, bem costurado, com cristais, a longa calda, a renda branca contornando meus ombros e descendo gentilmente pelos meus braços. O lindo enfeite de diamantes da minha mãe enfeitavam meus longos cabelos escuros  que desciam em cascatas até minhas costas. Eu me sentia linda, mas não estava linda para o homem que eu realmente amava. Quando me olhei no espelho, algo me disse, “Lilian, isso está errado, muito errado”.

    – Querida? Estão todos te esperando. Está na hora.

    Ah mãe, que saudades da sua voz, e lembrar que aquele dia foi a primeira vez que você ficou do meu lado e não ao lado da hipocrisia da sociedade. No momento que a minha mãe encontrou meus olhos, ela percebeu, como qualquer outra mãe, que eu não estava bem, que tudo, aquela situação, estava me matando aos poucos. E com um longo abraço, ela pela primeira vez me falou algo que eu não esperava.

    – Lilian, minha filha, a última coisa que te desejo é infelicidade… Hoje era para ser um dia especial e de alegria para você e a única coisa que eu vejo nos teus olhos é desespero e duvida. Não quero isso pra você porque…

    – Por quê? Mãe?

    – Por que a infelicidade tem sido minha companheira desde que me casei com seu pai. Você foi a única alegria da minha vida. Não se permita a miséria da existência, apenas se permita a alegria plena da vida!

    – Você é incrível mãe!

    – A decisão é sua Lili. Eu te amo querida.

    Pode parecer clichê, mas eu caminhei até o altar, e lá eu vi um Matt tão aflito quanto eu, e de pé na saída a minha direita, vi Pierre, a feição dele era pura tristeza, ele não estava dentro da igreja, apenas do lado de fora, como se estivesse vendo um velório.

  • A vampira pin-up – pt6

    A vampira pin-up – pt6

    Durante aquela noite eu não pude fazer muitas cousas, além de indagar o mensageiro sobre quem havia entregado a caixa e dar uma olhada pela região próxima ao hotel. Sobre o entregador, não consegui nada além do fato de que havia sido um garoto do serviço de entregas. Com relação aos quarteirões próximos ao hotel eu vaguei por horas em busca de algo, mas não havia nada de suspeito nos telhados, becos ou lugares que invadi em forma de névoa.

    Antes do amanhecer eu voltava para o hotel, quando alguém passa muito rápido pelas minhas costas. Naquele momento, que durou pouco mais de 2 segundos, eu senti uma energia boa e que até havia dado a impressão de ser Eleonor e que me assustou um pouco pela surpresa. Porém, nada ao redor além de carros estacionados e alguns poucos infelizes, que recém haviam acordado e provavelmente iam para sua labuta diária.

    Novamente no quarto de hotel e por sorte alguma camareira havia arrumado o lugar na minha ausência. Desolação era o sentimento que mais marcava presença em minha cabeça naqueles dias e noites. Certamente, quem teve a infeliz ideia de me provocar, na tentativa de que eu pudesse refletir sobre tudo o que havia acontecido comigo, o fez num momento absurdamente errado.

    Durante aquele dia nublado, alguns raios de sol conseguiam transpor as nuvens e se chocavam contra a cortina furada do quarto, proporcionando um ambiente mais tenso ainda. Planos, ideias, medos e filosofias se chocaram na minha cabeça. Inclusive a página de meu diário em que deixei anotado esta passagem está com as letras muito borradas  e malfeitas, demonstrando a tensão do momento.

    Então veio mais uma noite e com ela o mais completo desânimo, outro dia em claro e se isso é péssimo para um humano, imagine para um vampiro que possui preocupações maiores ainda… Entre tanto, tudo mudou de figura quando recebi uma nova ligação da recepção e o garoto me informou que havia uma garota querendo conversar comigo pessoalmente. Naquele instante eu me preparei, deixei a porta aberta e a aguardei em forma de névoa. Para o momento e pela surpresa foi o melhor plano que tive.

    Alguns minutos depois ela deu duas batidas na porta e entrou furtivamente. Era uma garota nova, cerca de 20 anos, humana e aparentemente não me ofereceu nenhum perigo. Naquele instante eu já estava desfazendo a transformação para poder pegá-la de surpresa, quando ela me surpreendeu com um texto provavelmente decorado.

    – Senhor Ferdinand, eu vim busca-lo para que ele possam negociar pessoalmente com o senhor a libertação de sua irmã. Por favor apareça onde estiver, o senhor precisa de mim para chegar até lá.

    Mesmo assim, agarrei a garota por trás e travei minhas presas em seu pescoço. Pensar por tanto tempo havia me deixado com fome e não pude negar um belo pescocinho como aquele. Controlei a fome para não matá-la, lambi a ferida para cicatrizar mais rápido e por fim larguei-a desmaiada sobre a cama. Pedi um lanche para quando acordasse e aguardei ansiosamente ao seu lado.

    Uma hora depois ela acordou muito fraquinha e me perguntou onde estava e o que estava fazendo em minha cama. Evidentemente e para minha tristeza haviam feito algum ritual ou hipnose com a coitada, e só me restou usar a lábia para convencê-la de que eu estava apenas ajudando. Depois conquistar parte de sua confiança, acabou me confessando que estava na rua voltando da faculdade, quando foi abordada por uma mulher mais velha que ela. Alguém de cabelos escuros, pele clara e grandes olhos azuis. Descrição muitíssimo similar a de minha querida Eleonor…

  • Minha nova Ghoul

    Minha nova Ghoul

    Eu tinha apenas o @user do Twitter, algo como @][akeeeer, mas quando se quer algo eu sou a prova de que um pouco de teimosia e curiosidade ajudam muito em determinadas situações…

    “Fê, invadiram aquele site novamente e o fulaninho teve a cara de pau de postar no lugar um botão de follow do Twitter, vê se pode uma cara de pau destas”. Essa foi a frase de uma amiga, letra após  letra. Sabe, eu até entendo invadir um site que possa servir de base para algum grande ataque a corporações e afins, mas por que invadir pelo simples fato de invadir? Esse foi meu primeiro pensamento diante o que ela me contou.

    Alguns minutos depois a curiosidade tomou conta de mim, ainda estávamos no bar e com o smartphone em mãos acessei o site invadido. Usuário do twitter, @follow, e algumas #dm’s depois persuadi o fulano com minha lábia de sempre. Uma semana havia se passado e eu falava com ele todos os dias, havíamos virado “amigos on-line”, quando ele me sinalizou um novo ataque a outro site qualquer.

    Sabendo dos procedimentos, haja vista que esse tipo de gente adora se gabar, contatei Elliot (cria de Hector) que começou a monitorar a ação de imediato e desde o início. Como alguns de vocês sabem cada aparelho que acessa a internet possui um número, tal qual um endereço. Esse número é chamado de IP (internet protocol) e possuem em si mesmos informações importantes como, por exemplo, o endereço local de onde o aparelho está acessando a internet. Claro que não é tão fácil ver a localização de alguém que acessa a internet, mas para terem ideia todo esse papo de privacidade é importante e está em alta no Brasil.

    “Bingo!” Elliot me manda uma mensagem com a possível localização do fulano. Mando algumas dm’s para disfarçar, parabenizando pelo ataque e sigo em direção ao seu esconderijo. Claro que eu não desprendi tanta atenção em alguém que estava longe e só me dei ao luxo de ir atrás do fulano, pois ele estava próximo de nós…

    Moto na estrada e minutos mais tarde eu estava no endereço que Elliot me passou… “Mini Mercado Aliança”. Dou umas voltas pelo lugar e sem dúvidas eu estava no lugar errado. Porém por via das dúvidas, estacionei a moto, fui para algum canto escuro e virei névoa. Vasculhei o lugar inteiro, inclusive o depósito e nada. Elliot é tão bom n oque faz, ele não me deixaria na mão, pensei comigo.

    Voltei para o lugar aonde virei névoa, desfiz a transformação e voltei para a moto. Rua residencial, poucas casas e um predinho de quatro andares logo a frente que me chamou a atenção. 2h 30h e só uma luz ligada, no que parecia ser um quarto. Como não posso refazer a transformação em névoa sem antes descansar um pouco e como eu estava curioso sobre o lugar, tive de improvisar um pouco. Analisei minunciosamente o lugar, percebi que só haviam câmeras no mercado e entre um salto e outro fui até a varanda do quarto de luz acesa.

    Mais silencioso que um predador felino, me curvei até a janela e percebi pelo cheiro e pela forma, que era uma garota num computador. Deixei então a ansiedade de lado e aguardei até que pudesse virar névoa novamente e invadi o lugar. Neste estado eu já vos falei que minha visão fica muito turva e meu movimento lento, mesmo assim consegui adentrar o lugar e me concentrar para entender a situação. Na verdade eu circulei o apartamento dela inteiro e para minha sorte ela estava sozinha naquela noite de quinta de quinta-feira.

    Sinceramente, eu não tinha motivos para atacar a garota até me deparar com um quadro desse tipo “mural de avisos”, onde identifiquei várias fotos e alguns desenhos com símbolos anárquicos… Quando percebi isso fui para um lugar onde pudesse ouvi-la e voltei à forma humana. Lembrei que o hacker utilizava Tweetdeck e enviei mais uma dm… Plimm, fez o programinha… Era o sinal que eu precisava!

    “Venha até a sala”, foi minha próxima mensagem. Eu sabia que ela também era muito curiosa e fez o que falei… A surpreendi, segurei sua boca para não gritar e apliquei um belo “mata leão”, que a imobilizou, por alguns minutos. Enquanto ela ainda estava dormindo mordi um de meus dedos e pinguei algumas gostas de meu sangue dentro de sua boca. Pronto a transformei em uma Ghul.

    Quando acordou ela me olhava diferente, estava extasiada pelo poder de meu sangue, porém isso não evitou as perguntas de sempre: Quem sou, o que sou, por que estava ali, o que tinha acontecido…

    “Tudo há seu tempo minha doce senhorita!”

  • O retorno do Doutor – Pt 1

    O retorno do Doutor – Pt 1

    Um calafrio percorreu a espinha do delegado Carlos Eduardo Guimarães quando ele, em pessoa, deixou a delegacia e se deslocou até o local onde, duas horas antes, vizinhos fizeram uma denúncia de mau cheiro. Quando o investigador, de maneira informal, comentou que estava indo até o bairro João Paulo, área nobre da cidade de Florianópolis, atender uma denúncia que, provavelmente resultaria em um cachorro, ou gato morto em uma tubulação de ar condicionado, algo simplesmente ligou o sinal de alerta do experiente delegado. Quase cinco anos atrás, quando Cadu, como os amigos o chamavam, era um investigador da Polícia Civil, a cidade também vivia um período de calmaria, e como agora, nesse início do ano de dois mil e treze, uma denúncia aparentemente boba fez com que a calmaria se transformasse em uma tempestade de sangue, morte e medo. Naquela época Cadu investigou uma série de assassinatos brutais que, simplesmente cessou antes que ele pudesse capturar o assassino. O assassino, sem identidade, alcunha, nome, se transformou em uma lenda urbana em Florianópolis, e como todas as lendas, logo foi substituída por outras.

    Quando a porta da luxuosa casa foi arrombada, o cheiro de carne podre fez com que dois ou três jovens policiais recuassem, controlando o asco e a ânsia de vômito. Assim que a porta foi aberta, Cadu teve certeza de que, mais uma vez, ele perderia muitas noites de sono devido aos pesadelos terríveis que lhe açoitariam como a chibata de um carrasco. É, ele precisaria visitar a psicóloga gostosa que o departamento de polícia civil de Florianópolis contratara no mês passado…

    ——–

    Hirma, Alessandra, Helena… Durante toda sua vida, e sua não-vida, o Doutor estivera a mercê dos encantos que sentia pelas mulheres. Mesmo hoje, uma criatura morta-viva saída de um pesadelo, começava a sentir falta de um novo encanto feminino. Quatro anos se passaram desde que o Doutor deixara Florianópolis, a cidade que cheirava magia – e podridão, segundo ele – para acompanhar Helena em uma viagem pela Europa. Juntos, as duas criaturas deixaram uma longa trilha de corpos por praticamente todos os países da comunidade europeia. Fora a lua de mel de Otto e Helena, mas ao final dos quatro anos, Otto simplesmente olhou para o lado e cansou-se daquela brincadeira, Helena matava sem qualquer requinte, pouco ligava para os ensinamentos que a dor proporciona, enfim, ao final de quatro anos, Otto von Bastian cansou-se daquela cadela vulgar e decidiu voltar a ser quem ele era, O Doutor.

    De volta, o vampiro sentia-se deprimido, sozinho, ele jamais fora uma criatura solitária, apesar de suas práticas não-ortodoxas – mesmo para uma criatura da noite – ao longo de seus quase cem anos como vampiro, O Doutor não conseguia lembrar de uma solidão e tédio tão avassaladores quanto aquele que sentia.

    Dezembro já passava de sua metade, aproximava-se de uma data que o Doutor simplesmente era apaixonado, o Natal. No Natal as pessoas ficavam mais tranquilas, mais bondosas, como se todos os pecados cometidos ao longo do ano tivessem sua absolvição garantida no infame “espírito natalino”… Era também a época que as pessoas ficavam mais despreocupadas, esquecendo-se que algo terrível sempre os espreita das sombras. Sentado tranquilamente embaixo de um banco da praça quinze de novembro, o Doutor folheava o jornal do dia anterior, a noite já era avançada, e a praça agora era o território de viciados em crack, prostitutas de baixíssimo nível, e mendigos. De alguns, o Doutor sentia genuína pena, de outros genuíno nojo, especialmente por aquelas mulheres sujas que vendiam seu corpo a bêbados, drogados e maníacos sexuais. Observando uma jovem viciada, o Doutor sorriu para si mesmo lembrando do Natal de 1975, quando ele, em visita na cidade de Atlanta, presentear um adolescente vítima de bullying com uma motosserra. O Doutor observara o adolescente por dias, vasculhara a sua mente, até chegar em seus desejos mais sombrios, a partir daí foi fácil, um presente e uma sugestão mental para ele fazer aquilo que sentia vontade. E na noite de Natal, com toda a família reunida, o jovem finalmente libertou-se de sua dor. O Doutor pensou em como estaria Gregory, seu pupilo, que naquela noite de libertação virara capa dos principais jornais dos Estados Unidos, após chacinar toda sua família, fazendo-a em pedaços obscenos de carne retalhada. O Doutor permitira que Gregory passasse cinco anos no corredor da morte, e na noite de sua execução, ao invés da injeção letal, O Doutor deu-lhe seu mais precioso presente: sua maldição.

    De fato, o natal o inspirava tanto, que ele decidiu que era chegada a hora de espantar aquela depressão que insistia em se abater sobre ele. Levantou-se, espanou as folhas da figueira que caíram sobre seu chapéu, e com o sorriso característico nos lábios, pôs-se a assobiar sua melodia favorita. A garota viciada, enchendo-se de coragem, aproximou-se da sinistra e quase caricata figura que deixava a praça.

    – E aí tio, tem um trocado? – Questionou a moça.

    O Doutor parou seu assobio de maneira tão súbita que a menina achou que ele lhe daria um soco, ou algo parecido. Mas, diferente do que imaginara, o homem virou-se para ela ainda sorridente.

    – O que você pretende fazer com esse trocado, criança? – Respondeu o Doutor com uma pergunta.

    – Ah tio, sabe como é…

    – Não, minha querida, não sei, me conte? O que você faria se eu ao invés de lhe dar trocados lhe desse isso? – Questionou o Doutor tirando duas notas de cem reais do bolso e deliciando-se com o olhar desesperado da jovem.

    – Nossa, dá pra comprar um monte de pedra com isso aí, tio! – Disse a jovem, quase não conseguindo se conter, sua vontade era agarrar as notas e correr o mais rápido que pudesse. Mas algo no aspecto incomum daquele homem lhe dizia que se fizesse isso ela dificilmente conseguiria dar mais do que dois passos. O homem tinha uma aparência bizarra e fascinante ao mesmo tempo, sua pele era extremamente pálida, não era um homem bonito, mas a inteligência exalava dele como perfume, não era alto, pouco mais de um metro e setenta e cinco, estava um pouco acima do peso, mas longe de ser obeso, mas era, com toda certeza o sorriso que ele tinha nos lábios que deixava a jovem viciada inquieta e fascinada: era um sorriso quase que lupino, o sorriso de alguém cujo raciocínio já estava segundos a frente de qualquer outra pessoa.

    – Sim, um monte de pedra! E eu aposto que você faria qualquer coisa para que eu lhe desse esse dinheiro não é mesmo? – Perguntou o Doutor.

    – Tu quer trepar? Vamos ali do lado, posso te fazer um boquete… – Disse a jovem, pouco mais que uma criança, ansiosa para ganhar seu prêmio e correr para o primeiro traficante que encontrasse. Ela chegava a um ponto tão degradante de seu vício que pouco se importava em abrir as pernas ou fazer sexo oral em um desconhecido, tudo que importava era que o desconhecido tinha duas garoupas azuis que fariam da noite daquela jovem uma imensa viagem. O Doutor se deliciava quando os viciados chegavam a esse ponto, eram como cães ansiosos por fazer os truques que seus donos mandam, apenas para ganharem suas recompensas. Durante sua carreira como psiquiatra ele conviveu com vários viciados, e todas as vezes o Doutor aprendera um bocado testando os limites daquelas mentes destroçadas por substâncias ilícitas.

    – Não minha jovem, não quero trepar, nem um boquete, e uma menininha como você não deveria usar desse linguajar, não fica bem para você! Ao invés de sexo, vamos fazer um jogo, ao final dele, se você cumprir todas as provas eu lhe darei o dinheiro, que tal?

    – Pode ser… – Concluiu a jovem, desesperada mas achando tudo aquilo estranho.

    – Bem, caminhe comigo. Qual o seu nome, criança? – Disse o Doutor, dando o braço para que a garota o segurasse. Depositou sua mão gélida sobre a mão magra da menina, que sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

    – Ju… Julia…

    – Julia é um nome recatado demais! Não é o nome de uma jovem que estaria na rua a essa hora não é mesmo? Não! Hoje você se chamará… Vejamos… Hirma! – Disse o Doutor, rindo de si mesmo pela idéia genial de chamar uma prostituta viciada pelo nome de sua mãe.

    – Hirma??

    – Sim, criança, Hirma! É o nome de minha querida mãe, ela era uma mulher difícil, minha saudosa Hirma. E ela era assim, uma coisinha desesperada, como você. Então aí está sua primeira tarefa, Hirma, vê aquele homem no chão? O mendigo? Pegue a garrafa que está do lado dele e estoure-a na cabeça dele! – Disse o Doutor em um tom tão casual que era como se ele pedisse pra jovem lhe comprar um café, ou atravessar a rua…

    – Mas… – Abriu a boca a jovem.

    – Sem mas, Hirma, você não quer seu trocadinho? Pense em quanta pedra você poderá fumar, sem abrir as pernas hein?

    – Tá… eu faço.

    A jovem esgueirou-se, silenciosa como um camundongo, e o mendigo que estava bêbado e caído nem percebeu quando Julia apanhou a garrafa vazia de cachaça. A jovem olhou o homem por alguns segundos, por um lampejo de instante ela hesitou, em um dos raros momentos de lucidez, quando ela lembrava-se de sua casa, de sua família, do pai e da madrasta que Julia odiava, mas que, no fundo, fizera o papel de sua mãe. Por um breve instante ela hesitou, ela queria sair daquele monte de merda que sua vida se transformara, tinha dezesseis anos recém-completados, estava há seis meses na rua, e lá no fundo, tudo que Julia queria era aninhar-se no colo do pai e simplesmente chorar. Mas então ela sentiu a presença daquele homem sinistro atrás de si, imediatamente ela lembrou-se do sorriso lupino, e lembrou do dinheiro, e do que o dinheiro lhe proporcionaria. Quando deu por si, a garrafa já estava em cacos, e da cabeça do homem – agora desmaiado – o sangue jorrava em uma torrente vermelho-vivo. O Doutor olhou para o sangue extasiado, sangue de mendigo não era uma refeição digna, ainda que ele nunca entendesse as manias de alguns vampiros, sangue é sangue. Ele abaixou-se chamando a menina para perto de si. Tocou o pescoço do mendigo e disse:

    – Ele morrerá, vê esse corte? Você acertou-o em cheio Hirma!

    Julia olhou o sangue jorrando, e novamente a lucidez veio a tona, a jovem pôs-se a chorar e soluçar incontrolavelmente repetindo e implorando para que o Doutor ajudasse o homem que agonizava. Com uma tranquilidade perturbadora, o Doutor aninhou a criança nos braços, como um pai amoroso e disse:

    – Shhhhh… shhhhh… calma, criança, calma… Tudo ficará bem… vamos ajudar o pobre homem, sim?

    O Doutor colocou a menina sentada de maneira gentil, Julia olhou incrédula quando o homem tirou a fina lâmina do bisturi do bolso de seu casaco. Ela estava paralisada, aterrorizada, tudo que conseguiu fazer foi gaguejar algo incompreensível enquanto o Doutor passou a lâmina na garganta do homem, um corte fino e preciso, que abriu de uma jugular a outra fazendo o sangue jorrar farto. Em choque, Julia começou a tremer e soluçar, não demorou muito para que o sangue do homem, que agora tinha seus últimos espasmos, ensopasse Julia. O Doutor levantou-se e observou a cena, os segundos finais de uma vida, somados a flor da juventude, era algo poético e belo, e o Doutor sentiu vontade de imortalizar aquilo em uma tela. Usando seus poderes da mente, o Doutor entrou na cabeça da jovem, e deleitou-se com o que viu. Ela estava a um passo da insanidade, o que ele fizera arrancara o desejo pelo crack, substituindo por algo muito mais intenso que isso: o pavor.

    O pavor era a sua droga, como ele ficara tanto tempo longe disso? Ele se perguntou. O barulho das sirenes o tiraram de seus devaneios, mas ele ainda não acabara com Julia, por isso, tomou-a nos braços e a levou até seu carro, estacionado há algumas quadras dali. Seu trabalho com o mendigo se encerrara, mas havia muito mais guardado para aquela jovem viciada, pois o Doutor estava de volta a ativa, e ele estava mais faminto do que nunca…

  • Fanart – Fotos da Dani

    Fanart – Fotos da Dani

    Pessoal, desculpem o meu ato falho.

    Na sexta estava muito ocupado com alguns amigos, que aliás ficaram conosco o final de semana inteiro e esqueci de colocar a fanart de sexta.
    Estas fotos foram enviadas pela Dani. Ela me disse que se achou um pouco “emo” o que vocês me dizem?

  • Fotos da Jessica e poema

    Fotos da Jessica e poema

    Pessoal sexta é dia de #Fanart

    Para tanto abaixo um poema escrito pela Mariliz Marins, acompanhado de belas fotos enviados pela Jessica Campeoti.

    Eu,
    Objeto de desejos contidos,
    Fruto suculentos instigando furores libidinosos.
    Eu, animal.
    Eu, instinto.
    Eu… fatal.
    Aparentemente bela.
    Superficialmente frágil,
    Tal qual um frasco de veneno
    Que, quebrado, esvai-se pelos solos tornando-os inférteis,
    E, se ingerido,
    Torna-se sem soluço.
    Veneno do qual vários seres imploram antídoto.
    Porém, um mórbido prazer me faz negá-lo.
    E a crueldade em mim presente torna-me irresistível a
    Incansáveis seguidores masoquistas.
    Só ditos suplicando migalhas do meu amor,
    As quais prefiro lançar aos ventos, aos mares,
    a Natureza, alcova dos meus segredos,
    Que a mim empresta os seus mistérios,
    E me faz encantadora sugadora de energias
    A seu serviço,
    A serviço da bola incandescente.
    Do início do Universo
    Do ápice da existência.
    Eu, energia… Eu, bela… Eu, fatal…
    Arrasando corpos e colecionando almas,
    a procura do encontro supremo,
    O encontro com a minha própria existência…

  • O Doutor – Grito No Vazio Parte 5 Final

    O Doutor – Grito No Vazio Parte 5 Final

    “Bisturi, faca, serra, alicate, chibata… É está tudo aqui…” Pensou o Doutor conferindo metodicamente pela quarta vez seus instrumentos de trabalho. Ele estava tão excitado que simplesmente não queria ter que interromper a sessão com Alessandra – a sua menina – para pegar algum instrumento que eventualmente esquecera. Era sempre assim, na primeira sessão o Doutor sempre levava seus pacientes aos seus limites físicos, a primeira sessão era sempre grosseira, com surras intermináveis, cortes precisos e dolorosos entre outras feridas feias. Tudo isso para saber se o paciente era digno do resto. “Ela vai agüentar… Ela TEM que agüentar…” Mais uma vez pensou o Doutor consigo mesmo. Normalmente eles agüentavam, a menos claro, que o Doutor enjoasse deles no meio da sessão, e então se contentava em reduzi-los a um amontoado de carne disforme. O Doutor era um mestre no uso de adrenalina, anfetaminas e outros medicamentos estimulantes, além disso em casos de extrema necessidade o Doutor administrava uma boa dose de seu próprio sangue, era do seu conhecimento que o sangue de um vampiro possuía grandes propriedades regenerativas, em Alessandra ele faria questão de utilizar esse seu medicamento “especial”, pois não iria se perdoar se aquele corpo deliciosamente pálido ficasse repleto de cicatrizes e marcas. O Doutor utilizava as feridas e o grotesco para iluminar seus pacientes, mas era um profundo admirador do belo.

    Estava quase tudo pronto, quase. Ainda faltavam alguns detalhes que o maníaco julgava serem importantes. O primeiro deles, um local onde deixar as coisas, bem, isso a mesinha portátil, dessas de acampamento, iria servir. Segundo porém não menos importante, um fundo musical. Otto Von Bastian – Ainda que ele se quer lembrasse desse nome – era um grande admirador da música, para ele cada canção evocava um tipo de sentimento, nele e nos seus pacientes, o Doutor estudou cuidadosamente a pilha de cds que mantinha em seu consultório. Pensou em algo clássico, Chopin, Mozart talvez… Não! Alessandra provavelmente dormiria ouvindo algo para ouvidos tão refinados, mas o Doutor não estava com espírito para a batida eletrizante do psy, então o que escolher? Seus olhos pararam em um cd que ele recentemente havia comprado…Ramstein, metal industrial alemão, ótimo! Era isso que o Doutor queria, apesar de sua idade já avançada, mesmo para um vampiro, ele ainda se maravilhava com a música moderna, e as letras em alemão, quase que sabáticas da banda viriam a calhar naquela noite. Agora estava tudo pronto, O Doutor pegou tudo, respirou fundo – algo desnecessário, mas que normalmente o acalmava – e seguiu para o subsolo do hospital psiquiátrico onde vivia, para a ala esquecida por todos, onde os pacientes eram mandados não para serem curados, mas para serem esquecidos.

    Assobiando para esconder a excitação o Doutor entrou mais uma vez na sala onde Alessandra estava, fazendo a moça dar um salto e se encolher ainda mais.

    _O que você vai fazer comigo seu desgraçado?

    Sem resposta…

    _Responda!

    O Doutor tranqüilamente colocou a mesinha onde queria, dando as costas para Alessandra de maneira desdenhosa. Alessandra teve o ímpeto de saltar nas costas de seu algoz e bater nele mas ao fazer isso ela esqueceu dos tendões cortados, a dor novamente varou-lhe do calcanhar até a coxa, e Alessandra caiu no chão se contorcendo, arrancando mais uma risadinha cínica do Doutor.

    _Tão corajosa é a minha doce menina…

    Murmurou o Doutor, agora colocando seus instrumentos sobre a mesa, todos eles ajeitados em ordem, ainda que essa ordem só fizesse sentido para ele. Em um pequeno cd player ele colocou o cd e deixou a música invadir aquela sala imunda, desconcertando ainda mais Alessandra. Tomando o cuidado de deixar a mesa bem longe de Alessandra, o Doutor agora contornou a cadeira e apanhou o balde que continha o sangue de Paulo, o cadáver ainda estava ali, ensangüentado, a língua pendendo frouxa pra fora do horrendo corte que abriu de um lado ao outro do pescoço. O sangue seria o refresco do Doutor, e também uma ferramenta importante para a sessão. Sua habilidade na tortura destruiria o corpo e a dignidade de Alessandra e seus poderes de controle mental destruiriam sua mente… Ele iria violá-la e todos os sentidos.

    Agora ele precisava tirar o corpo do gancho, afinal ele queria que Alessandra ficasse em pé quando a sessão começasse. Erguendo o corpo de Paulo como se fosse um pedaço de carne em um açougue o Doutor retirou o gancho de aço que o mantinha pendurado pelo baixo ventre. Limitando-se apenas a jogá-lo num canto como um fardo indesejável o Doutor agora analisou cuidadosamente a altura do gancho… “É, serve…” Pensou ele satisfeito.

    _Agora venha minha menina, hora de começarmos nossa sessão de hoje…

    _Que sessão seu desgraçado? QUE SESSÃO? – Falou Alessandra mais apavorada do que nunca.

    O Doutor apenas a levantou, e habilmente algemou suas duas mãos utilizando uma algema firme. Ele a levantou com facilidade, mesmo com seus protestos, imprecações e chutes, e a colocou quase que pendurada pela algema, no gancho preso ao teto. Alessandra conseguia apenas tocar a ponta dos dedos no chão, e esse simples ato bastava para causar-lhe uma for terrível nas pernas.

    _Primeiro vamos dar uns pontos nesses calcanhares, não quero que você morra seca de tanto sangrar…

    Habilmente o Doutor costurou os cortes nos calcanhares de Alessandra, impedindo assim que ela se esvaísse em sangue. Satisfeito com a costura o Doutor sorriu e permitiu-se um momento de intimidade com a paciente, dando-lhe um gentil tapinha no traseiro generoso de Alessandra.

    _Pronto, agora vamos nos livrar dessas roupas…

    _É isso que você quer seu desgraçado? Tudo bem pode fazer, só não me machuque… Por favor… – Falou Alessandra, já perdendo qualquer noção de dignidade e orgulho.

    O Doutor riu quando voltava com um bisturi.

    _Não, não minha menina, por favor, sou um profissional, ainda que você seja uma mulher bastante atraente, não é em sexo que eu estou interessado, apesar de que, quem sabe depois da nossa sessão, se você quiser, podemos ter uma certa intimidade…

    Alessandra cuspiu no rosto do bastardo, a dor estava lhe deixando corajosa, exatamente como o Doutor previra, exatamente como o Doutor QUERIA. Ele então começou a cortar a roupa de Alessandra com bastante habilidade, cuidando para não passar a lâmina além do tecido e cortando a pele. O primeiro a aparecer foram os seios. “Sim, são rosados…” O Doutor falou a si mesmo em nota mental, olhando com desejo para os mamilos da moça. Em poucos segundos a tão esperada nudez de Alessandra estava exposta, e amarrada como estava ela não podia escondê-la. O trabalho do Doutor finalmente começara.

    As luzes dos carros davam um reflexo interessante no asfalto molhado pela chuva fria que caía, como se as imagens de repente ficassem distorcidas em um espelho molhado. Distorcida também ficara a mente de Alessandra depois que ela conhecera o Doutor, logicamente não era isso que ela achava, afinal o Doutor trabalhara duramente para fazer Alessandra crer que ela agora era uma pessoa iluminada pela dor. Alessandra desviou de algumas poças de maneira graciosa, saltitando como uma lebre jovem brincando nos campos primaveris. A menos de uma semana Alessandra se quer acreditava que voltaria a andar, não depois do Doutor ter cortado seus dois tendões que davam os movimentos aos pés. Mas o sangue vampírico era poderoso, ele curara as feridas no corpo violado de Alessandra, mas jamais seria capaz de curar as feridas em sua mente, tampouco as feridas em sua alma.

    O Doutor a reduzira a um pedaço de carne disforme e doentio, ele destruíra tudo que era humano em Alessandra, tornando-a um monte de nada, apenas uma massa agonizante que outrora foi uma pessoa, mas que, ao final da tortura, só era capaz de balbuciar gemidos e apelos vãos. Ele a surrara com uma chibata, fazendo nacos de carne e pele voarem por toda a sala, ele costurara sua boca, violara seu sexo, forçara a beber o sangue de Paulo, seu namorado, tudo isso em nome de seus estudos.

    _A dor leva ao tormento e o tormento leva a superação! – Alessandra agora repetia o mesmo discurso que o Doutor lhe dera antes de aplicar a primeira chibatada que lhe rasgou o couro das costas. De fato ele estava certo, Alessandra acreditava nisso, ela precisava acreditar, afinal aquela era a primeira vez que o Doutor permitira que ela saísse sozinha e ela não queria decepcionar seu novo e amado mestre. Não, o Doutor não lhe abençoara com a natureza vampírica mas Alessandra bebera sangue o suficiente, sangue do Doutor, para ser assolada por um amor incondicional, profano, como se agora ela estivesse presa pelos grilhões da escravidão.

    Ainda se lembrando dos ensinamentos de seu mestre Alessandra passou a se perguntar que momento da tortura foi mais importantes e mais revelador para ela. Seria a seqüência interminável de chibatadas? Ou quem sabe os cortes dolorosos e o banho com álcool? Foi o momento que o Doutor rasgou o próprio pulso e ofereceu seu sangue para que ela pudesse curar seus ferimentos? Quase isso… Gratidão… Era isso que havia ficado e o que mais humilhara Alessandra. A gratidão que Alessandra sentiu quando a tortura terminou e o Doutor permitiu que ela vivesse, afinal não valeria a pena morrer depois de enfrentar todas as provações que Alessandra enfrentara. Não, o Doutor não havia destruído seu corpo, tampouco sua vida, ele a fizera nascer, ele causou e tratou de suas feridas, como um pai disciplinador, porém amoroso.

    _E aí gata afim de uma carona? Ta chovendo pra caralho hein? – O pensamento de Alessandra foi subitamente cortado pelo homem de meia idade a bordo do Palio Weekend marrom que reduzira a velocidade ao seu lado. A interrupção irritou Alessandra, reflexos do tratamento que o Doutor lhe reservara. Mas de fato estava chovendo, apesar de que Alessandra ainda retinha boa parte do sangue que o Doutor lhe dera, e ele prometeu que ela jamais ficaria doente novamente, bem, o que o Doutor promete, ele cumpre. Mas aquela era a primeira “saída de campo” de Alessandra, ela sabia que o Doutor estava lhe testando, então “foda-se” – pensou a moça – “vou seguir com esse babaca e ver no que dá”.

    _Uma carona? Claro, ta chovendo bastante mesmo… – Mentiu Alessandra cinicamente, era apenas uma garoazinha fria do inverno de Florianópolis.

    _Meu nome é Alessandra e o seu? – Sorriu a exuberante loira entrando no carro.

    _Ãn, é… Eu sou o João Pedro… – Respondeu o homem desconcertado pelo fato de uma mulher daquelas aceitar sua carona.

    Alessandra ergueu um pouco a saia leve, ensopada pela chuva, arrancando um olhar repleto de volúpia de seu benfeitor. O Doutor iria se orgulhar dela, João Pedro era um homem de meia idade, com seus trinta e dois, trinta e três anos. Era divorciado, ou estava traindo a mulher, deduziu Alessandra pela marca de aliança no dedo que segurava o volante do Palio. Sempre observadora, Alessandra foi instigada pelo Doutor a prestar a atenção em cada detalhe. “Os detalhes são essenciais aos olhos” dissera ele enquanto acalentava Alessandra em seu colo, após a última sessão de tortura.

    Ela não sabia direito o que fazer com João Pedro, mas certamente ele jamais iria esquecer. Será que ela deveria levar ao Doutor? Não! Ele iria querer que ela fizesse sozinha! Mas o que fazer? Alessandra começava a sentir o peso da inexperiência, o Doutor certamente saberia o que fazer, se é que ele escolheria alguém como João Pedro para dar vazão aos seus instintos… Não, o mestre de Alessandra é muito mais metódico, mais detalhista, mais… perfeito.

    _Pare o carro! – Falou subitamente Alessandra, fazendo João Pedro se assustar e frear de maneira brusca.

    _Mas que mer… – João Pedro foi sufocado pela boca quente da pupila do Doutor. O homem queria se beliscar, ele só podia estar sonhando. A mão ousada de Alessandra desceu pelo peito de Alessandro, chegando a barriga e, descendo mais um pouco, encontrando o zíper da calça jeans, a última resistência que separava o toque devasso de Alessandra do sexo desejoso de João Pedro.

    Alessandra puxou João Pedro para si, o homem, afobado e sedento que era, já foi logo desabotoando a blusa da moça, expondo um belo par de seios. “Sim, são rosados”, foi o que disse o Doutor quando expôs a nudez de Alessandra pela primeira vez. Alessandra lembrou das palavras de seu mestre exatamente no momento que João Pedro abocanhava-lhe o seio direito tomado pela volúpia e pelo tesão. Alessandra não segurou a risadinha cínica, a risadinha que aprendera com o Doutor em seu tormento. João Pedro se quer percebeu a risadinha e percebeu ainda menos quando Alessandra habilmente levou sua mão até a bolsa caída no chão do carro. Com a destreza de uma ladra profissional ela abriu o zíper da bolsa enquanto seu sedento amante se fartava em seus seios generosos.

    O brilho da lâmina do bisturi prendeu a atenção de Alessandra por um instante, mas João Pedro… Bem, ele só se deu conta que era seu fim quando Alessandra já havia lhe aplicado o terceiro golpe. O primeiro fora certeiro, direto no pescoço, o segundo Alessandra enfiara por baixo das costelas flutuantes. Uma perfuração no pulmão impediria João de gritar, foi o que o Doutor lhe ensinara, e parece que sua aluna aprendeu bem. Alessandra foi tomada pelo furor assassino, outrora preso no âmago mais profundo de sua alma, mas ela não negaria mais seus instintos… Não depois do Doutor mostrá-la o verdadeiro significado da dor. Pobre João Pedro, mais uma vítima do acaso em uma cidade que certa vez já foi tranqüila.

    Alessandra deixou o Palio Weekend ali mesmo na rua, a porta aberta, e o braço de João Pedro para fora, era seu presente ao Doutor, bem, com certeza aquela cena seria a primeira capa dos jornais da cidade. “Ups!” – Pensou Alessandra e saiu saltitante, como uma colegial, assobiando “Rosenrot” do Rammstein, a música que marcou sua libertação…