Tag: ritual

  • O mistério do lobisomem – pt5

    O mistério do lobisomem – pt5

    – Levanta logo Fê, o sol já se foi a tempos!

    – Ahh pega leve lobinha, ontem foi pesado.

    – Antes de ontem tu quer dizer né? Já passa da meia noite

    – Puta que pariu… Eu tô atrasado… marquei a às 22 com  Pepe e o Hadrian.

    Coloquei a primeira camiseta que vi pela frente, a mesma bota, calça e fui de moto. Cortei alguns sinais, peguei uns atalhos e lá estavam os dois no canto marcado da praça.

    -Poww Fê, três horas depois do combinado??? Assim não tenho como te defender. – Falou Pepe indignada.

    – Tô de férias, lembra? Mas desculpa meus queridos, trouxeram os ingredientes que faltavam?

    – Boa noite, tudo bem com você? Eu tô ótima, obrigado por perguntar, você é o legitimo cavalheiro, quando quer…

    – Tá com saudades filha ou é ciúmes?

    – Aff…

    Hadrian que até então não havia dito nada, me entregou uma bolsa de academia e disse:

    – Isso foi tudo o que encontramos. Tá bem difícil achar esse tipo de coisa hoje em dia.

    Conferi o interior da bolsa com cuidado e faltava algo muito importante…

    – E o sangue?

    Pepe interrompeu Hadrian…

    – Olha, tu sabe muito bem que não atacamos crianças, então sangue de virgem tá foda de achar!

    – Eu posso dar um jeito nisso se algumas regras puderem ser quebradas. – Ironizou Hadrian.

    – Relax man, eu dou um jeito. Tô devendo essa pra vocês, semana que vem voltamos as nossas atividades!

    Os olhos de Pepe vibraram com minhas palavras. Então, sem mais delongas me despedi e voltei para a casa de Claire.

    Consegui, quase tudo só preciso de um pouco de sangue.

    – Isso não deve ser problema para um vampiro? – Ironizou ela…

    – Não, o problema é achar um virgem que não seja criança.

    – Boa sorte, aliás com tantas câmeras, smartphones e gadgets. Deve ser difícil caçar nas cidades.

    – Sempre foi lobinha, por isso que os centros de doação tem se multiplicado… Aliás descobri um aqui perto, sabe a lavanderia do vizinho?

    – Não acredito, eles parecem tão normais!

    – Pois é…

    É lá fui eu com uma trouxa de roupas pra lavar em uma das mãos.

    – Tô precisando lavar algumas roupas com o “serviço especial” de vocês.

    A atendente me deu um ticket para as roupas e um cartão NFC. Depois apontou uma porta. Aproximei o cartão da fechadura, que se destravou e liberou minha passagem escada a baixo.

    Ambiente claustrofóbico, com paredes de tijolos a vista e iluminação com poucas lâmpadas incandescentes.

    Havia uma sala de estar com meia dúzia de pessoas lendo revistas velhas ou mexendo nos celulares. Aproximei e soltei:

    – Algum virgem?

    Dois caras gargalharam, uma garota estou uma bola de chiclete e os outros pareciam não ter ouvido. Tentei novamente com o tom de voz mais alto:

    – PODE SER UMA VIRGEM TAMBÉM!

    Os caras riram mais ainda e quando estava prestes a ir embora uma das garotas se levantou e foi pra cabine mais próxima. Ela devia ter uns 16 anos, usava fone de ouvido onde tocava algo eletrônico e tinha cara de  indiana. Entendi que se encaixava no perfil e fui atrás.

    – Seguinte eu tô aqui pela grana fácil do sangue, mas ando tão emputecida com a vida, que se o senhor pagar bem a gente negocia.

    – Relaxa eu te pago bem mas tô aqui pelo sangue. Só preciso saber se é virgem mesmo.

    – Sim, eu sou de uma família onde as moças precisam casar virgem… Tem algumas seringas descartáveis ali na bacia, ou prefere me morder? Só peço que não morda no pescoço, por favor.

    – Relaxa, pode ser com a seringa mesmo. Pago $1000 por 300ml.

    – Por 300ml eu quero $3000, sou virgem lembra?

    – Ok realmente tá difícil achar gente com teu perfil…

    Não conversamos sobre mais nada ao longo da Seção. Fiz o recolhimento, paguei e fui pra “casa”.

    – Super discretos na lavanderia – Comentei com Claire.

    – E conseguiu o que queria?

    – Sim, espero eu…

    – Antigamente devia ser muito fácil conseguir sangue, todos só rituais antigos usam. – Falou ela irritada.

    – Sim, sim. Sem falar que era fácil esconder corpos.

    – Nossa, que desapego com a humanidade.

    – Ah claro, falou a wairwulff que nunca comeu carne humana (risos)

    – Pior que nunca comi mesmo! – Disse ela com toda firmeza possível no tom de voz.

    – Não acredito, mas ok. Se quiser algumas receitas, peço para o Carlos mandar…

    – Idiota!!!

    Depois disso ela foi pentear macacos e tratei de me preparar para o ritual de purificação, que antecede o ritual principal.

  • Sexo, ritual e passeios de moto

    Sexo, ritual e passeios de moto

    Saindo daquela minha tragédia grega atual, vou mudar o foco um pouquinho e escrever sobre uma noite nada convencional com o Ferdinand, o nosso galã, o vampiro sedução, (ele vai me xingar depois dessa!).

    Bom, ele veio visitar no meu país há alguns tempos atrás e decidiu que seria bacana se nós nos conhecêssemos melhor, para o laço ficar mais forte e tal. Eu achei bacana e ficou combinado dele vir a minha casa em uma típica sexta-feira de muita lua e muita putaria noturna para relaxar!

    Lá estava eu vendo uma série quando minha campainha toca, e o vampiro alto, loiro cheio de charme estava entrando na minha sala e como sempre falando, “Cara como você cresceu!” ¬¬’’’’’’ Obrigada Fê nem da pra reparar! Demos um abraço, ofereci uma taça de sangue, afinal é o certo na nossa sociedade, assim como vocês oferecem um copo de água, um boquete…. Nós oferecemos sangue porque é bacana e tradicional.

    Depois de algum tempo colocando a conversa em dia e tratando de alguns negócios, decidimos que seria legal dar umas voltas de moto e ir em alguns lugares exóticos dedicados à nossa sociedade. Sugeri um BloodPub conhecido entre nós e super discreto, o mesmo aceitou, claro, e seguimos caminho indo até o lugar.

    Chegando lá é apenas uma entrada normal em uma sala discreta ao estilo vitoriano, mas ao descer ao porão ou ao HellRoom, nossa recepcionista era nada mais nada menos que uma bela vampira que escondia suas partes com tapa sexo, eu não me incomodei e o Ferdinand também não, afinal o que é bonito é para ser admirado, enfim, voltando ao local em si, passado pela recepcionista, chegamos até o salão principal, que lugar agradável, garçonetes semi vestidas, Blooddrink por toda parte e confortáveis sofás e ótimas funcionárias nos serviam do jeito mais agradável possível, – Se eu soubesse que frequentava lugares assim, confesso que teria lhe convidado bem antes Lili!- Ferdinand parecia surpreso com meu gosto peculiar – Achou o que Fê, que eu vivia em festas country e em passeios românticos?  – Apenas sentei mais próxima dele e com uma piscadela fiz sinal para que a vampira morena nos servisse – Mais alguma coisa que eu possa ajudar senhorita King? – Ela disse toda insinuativa – Mais tarde querida! – Respondi apenas flertando de leve, Ferdinand ainda pasmo com a minha atitude, tomou mais um gole de seu copo e sorriu – Sabe Lili, passeios românticos eu sei que não são tua praia, mas desse teu lado sedutora de vampiras, mocinhas e afins é novidade… – como não sou boba nem nada, dei mais um gole no meu copo e guiei Ferdinand até uma parede cheia de buracos, lá podia se ver vários casais na pegação – Tá saqueei o porquê do nome HellRoom, aliás eles são bem convidativos?!… – Ferdinand parecia cada vez mais animado, decidi então leva-lo dois andares a cima e apresentar o HeavenRoom, o quarto dos céus….

    Não pensem meus caros, que neste quarto ao invés da sexualidade explicita, teríamos vampiros recatados e conversando sobre livros! Não, muito pelo contrário, o HeavenRoom, era o quarto onde os rituais mais pesados, mais loucos aconteciam, rituais no qual vampiros e bruxos entravam em transe, saiam da sua realidade e participavam de sensações e momentos que não esqueceriam tão cedo – E ai Fê, topa? – olhei para ele com uma pontinha de esperança que ele dissesse sim e o mesmo me olhou sorriu e deu um passo para dentro do quarto de ritual. E lá fui eu atrás do boss…

    Olhares, corpos, alucinações das mais loucas, me senti quase despida, vi Ferdinand abraçado a outras vampiras enquanto eu ria sem controle, me senti leve, cores… muitas cores me deixaram fora de ar, até que senti braços fortes me tomarem em seu peito, era o Ferdinand que me puxava para junto de seu pequeno harem, lembro de tomar copos e mais copos de néctar da vida, senti meu corpo ser tocado enquanto eu mesma tocava outros, senti o Ferdinand e mais alguns dali, sensação boa, sensação muito boa, o prazer tomou conta e depois um apagão veio em minha mente e o mundo parou…

    Acordei com uma sensação de leveza e sinceramente não lembrava de nada, até que olho a minha volta e vejo que muitas pessoas participaram na minha loucura, aliás acho que foi loucura generalizada. Mas quando olhei pro lado eu me toquei do que aconteceu, vi um loiro, tatuado, conhecido, semi nu….. PQP!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Sempre que entro nesses lances acabo com um conhecido querido sem roupas ao meu lado, lembra da Becky? Rs

    Não posso reclamar até porque foi bom e eu consegui vários novos contatos para passar alguns dias… =x… Mas foi insano levar o Ferdinand, porque nunca imaginei nós dois em uma aventura tão peculiar. Ele, porém, acordou sorrindo, contente e ainda tirou comigo – Hey, vou te convidar pra sair sempre! Muito insane essas festas que tu vais Lili! – Ferdinand levantou a procura de suas calças em meio aos corpos nus vampíricos que dormiam no quarto escuro iluminado por pequenas luzes – Fê a gente meio que…. – Aiii como é difícil falar isso, mas ele sem problemas conseguia falar – A gente meio que se conheceu melhor e dividimos uma noite bem cheia de surpresas agradáveis… – sim, que noite… Achei que seria melhor pegar minhas peças de roupas espalhadas e me trocar, arrumar o cabelo e sair de lá antes do sol aparecer…

    Quando chegamos em nossas motos, sem falar uma só palavra, eu me perguntava o que ele iria fazer depois até que – Hey, que tal a gente dar mais umas voltas de moto e quem sabe se alimentar de alguns babacas atoa por ai?  – A sugestão dele era ótima, subi na moto e fiz com a cabeça um sinal de aprovação, Ferdinand logo em seguida subiu em sua moto e partimos para mais algumas voltas a procura de alguma diversão ou apenas bancar os “Justiceiros”.

    “Oh Senhor, nos diga

    Nosso lugar é bem lá embaixo

    Se você escutar atentamente

    Você pode ouvir o choro

    Oh Senhor, Deus sabe

    Nosso lugar é bem lá embaixo”

  • Os mortos não voltam – Parte VII

    Os mortos não voltam – Parte VII

    O mundo rodava a minha volta. Eu me iludi ao pensar que um dia teria liberdade. Thomas era um maldito! Além de um vampiro, sádico e psicopata, era um bruxo, um demônio ainda pior do que se poderia imaginar. Naquele momento, percebi que meu sofrimento, não era por amá-lo e por sentir sua falta mesmo com todo o mal que havia me feito. Era pelo ódio que eu sentia. Um ódio tão forte capaz de quebrar o elo entre uma cria e seu mestre. Depois de décadas fugindo dos regrados, agora tinha um clã inteiro de bruxos demônios atrás de mim e o fantasma de “Sr. Erner” a me perseguir, querendo voltar para este mundo e espalhar o caos, ou simplesmente vingar-se de mim. Antoni esperava alguma reação minha. Mas, eu estava atônita, tentando não me apavorar. Então, ele me beijou colocando-me contra a parede. Surpreendendo-me e me enchendo de fúria. Empurrei-o:

    -Me solta porra! Isso tudo é culpa de vocês! Se Sophie não tivesse vindo atrás de mim eles não me encontrariam. Levei anos fugindo até encontrar um lugar e uma identidade na qual estivesse protegida. E vocês foderam com tudo! – Falei aos berros. – E que loucura é essa? Beijar-me desse jeito. Está pensando que sou o que? E Sophie?

    – Sophie é uma filha para mim. Mas, você… Eu… Entendo porque Thomas ficou louco por você. Ele não pode voltar.

    – Ele não vai voltar!

    Eu estava perplexa. Além de gêmeos, também eram iguais na loucura. Semicerrei os olhos e disse:

    – Nós vamos resgatar Lorenzo e depois eu vou embora, precisarei de um lugar para nos esconder por um tempo. Nós nunca mais vamos nos ver! Não quero mais saber nem de você, nem de Sophie, entendeu?

    Sai batendo a porta sem olhar para ninguém. Sophie tentou falar comigo, mas fui direto até a moto esperar que eles viessem para partirmos. Lilian me levou até uma parte do trajeto, de lá, pegamos um avião. Pouco antes do amanhecer estávamos na França. Não levei Lilian comigo, que ficou brava porque não deixei – a ir. No caminho pensei em ligar para Ferdinand para pedir ajuda, mas não havia tempo, além disso, não quis levar perigo aos outros do clã. Mas, confesso que estava com medo de enfrentar tudo aquilo sozinha.

    – Vamos ficar nesse hotel durante o dia. Mas, à noite nós e minha equipe vamos invadir o local. Além de resgatar o humano, também tenho contas a acertar com aquela gente. – disse Antoni.

    – Que o dia termine logo, então. – Respondi friamente.

    No quarto, sozinha. Fechei as janelas para que os primeiros raios de sol não entrassem quando amanhecesse. Deitei naquela cama empoeirada tentando descansar um pouco, precisaria de força e energia. Estava quase dormindo, piscando os olhos várias vezes, quando ouço o estrondo de uma explosão em uma das janelas, na qual fui lançada a uma boa distância de onde estava deitada. Barulhos de tiro, gritos e outros ruídos tomaram conta do lugar. Tentei levantar, mas não conseguia ver nada. Lutei contra alguém que me puxava com força. Apaguei. Acordei horas depois presa pelas pernas em uma poltrona na cor de um vermelho vivo, paralisada de alguma forma, vestindo uma túnica preta, com um coração humano ainda pulsando vida, nas mãos.

  • Ritual para transformação em vampiro, pela internet

    Ritual para transformação em vampiro, pela internet

    Olá minhas queridas e meus queridos leitores. Ontem a noite eu resolvi gravar algumas risadas, digo comentários sobre os rituais de transformação em vampiro, encontrados nesta grande e populosa internet.

    Se você procura esse tipo de ritual, garanto que não vai encontrar por aqui…

    Caso tenha encontrado algo do tipo e queira compartilhar comigo e com os demais leitores s do site, publique nos comentários abaixo e até o próximo VampiroCast!

  • Bruxaria (magia moderna)

    Bruxaria (magia moderna)

    Neste tempo que “fiquei de molho” em função da transformação de minha doce Pepe, Aproveitei para por em dia minhas leituras e escrevi mais algumas páginas de meu livro, que vai sair no primeiro semestre do ano que vem.  Sim, depois de muito tempo enfim essa trilogia vai deixar de ser apenas um projeto e isso é tudo o que posso falar, ao menos por agora.

    Pois bem, dediquei boa parte do meu tempo livre para me aprofundar na bruxaria contemporânea, ou como eu prefiro chamar: magia moderna.  Seus ritos, procedimentos e  adaptações as práticas tradicionais. Confesso que eu esperava mais criatividade ou pelo menos que este assunto estivesse mais na ótica dos povos de hoje, mas no geral foram poucas as adaptações ritualísticas desde aquelas retratadas nos primórdios do sec. XIX.

    Sou um mero entusiasta deste assunto e não é do meu interesse que isto se pareça com compendium, mas nesta onda atual de compartilhamentos, julgo importante quaisquer menções, mesmo que mínimas, sobre um assunto tão fantástico. Noites atrás, por exemplo, nós publicamos um breve rito sobre amor na página do Facebook e foi uma das publicações mais acessadas.

    Delongas a parte, pedi para Hadrian produzir um texto em parceria comigo e segue abaixo boa parte do que conversamos nas últimas noites…

    Meu primeiro contato com magia ocorreu há longos anos e desde então minha visão sobre o mundo teve diversas alterações. Passei a acreditar na energia, experimentei-a em suas mais diversas formas e inclusive fiquei de joelhos ao perceber, que apenas uma centelha dela pode arruinar diversos caminhos. Portanto, para que compreendas parte do que digo é necessário, antes de tudo, que entendas um simples conceito: não existe bem ou mal, existe energia e as consequências de sua aplicação, estas aliás, que podem ressoar eternamente.

    Quando o magista faz a consagração, abre o círculo e pratica algumas evocações ou invocações em seu altar. Ele deve ter em mente que isso lhe gerará alguma espécie de reação. Sabe a lei de ação e reação? Este é um conceito muito simples e que deveria ser à base do aprendizado dos estudantes.  Este é o ponto no qual eu queria chegar nesta dissertação, pois foi o que mais me surpreendeu na magia moderna.

    Vejo atualmente muitos aprendizes praticando a velha arte da forma errada, pensando apenas no momento e esquecendo-se do futuro de seus atos. A magia não é uma brincadeira de crianças, tanto que antigamente muitos adeptos somente podiam estudá-las mediantes diversas provas de proficiência. Hoje em dia a internet rompeu esta barreira, permitindo o acesso a rituais, feitiços e práticas até então guardados a sete chaves. Algo fabuloso, mas extremamente perigoso.

    Portanto, esta foi minha dica para os iniciantes. Estou trabalhando outros textos com o Hadrian e a nossa ideia é trazer mais destes assuntos aqui para o site. Inclusive falarei numa próxima parte sobre a preparação do altar, do ritual de consagração e de como tais procedimentos podem ajudar na concentração para as invocações e evocações.

  • A bruxa sumiu – pt4

    A bruxa sumiu – pt4

    Quase no que parecia ser o fim de toda aquela baboseira, digo, ritual. Meu celular vibrou e ao ver que era Franz sai de imediato para atender. Obviamente, os mais fervorosos acharam um absurdo eu sair no meio da lenga lenga, digo cerimônia. Inclusive, ouvi alguns murmúrios, mas nada que me fizesse prestar tanta atenção no que estava acontecendo.

    – Acabei com tua cria, de calcinha ela é até bem gostosinha, sabia? Calma, calma, antes que me xingue, pode ficar tranquilo, pois ela está sã e salva lá na fazenda…

    – Só tu mesmo Franz, acho bom que ela esteja bem se não eu acordo “papai” e tu sabe que ele vai acordar bem puto da vida hahahaha.

    E nesse papo descontraído ele me disse que o treinamento de Pepe havia terminado, possibilitando-a agora um dos maiores dons de nosso clã, a metamorfose corpórea. Quais níveis ela havia aprendido? Eu estava tão curioso sobre a evolução de minha pequena, que larguei a investigação, subi na moto e voltei para o hotel.

    – Penélope, estou ansioso sobre teu aprendizado, conte-me tudo filha…

    – Ai Fe sabe como é o Franz, todo cheio de dedos, mas coloquei ele no lugar logo de cara e tentei aproveitar tudo o que ensinava para mim e H2. Consegui me transformar em lobo, acredita?

    Nosso papo durou por todo o restante da noite e quando dei por mim era quase dia e precisava verificar as janelas antes de tirar um cochilo. Nesta noite a investigação havia evoluído pouco e apesar da filosofias, que tentaram me empurrar goela abaixo em tal culto pseudosatanista, eu já possuía uma linha de pensamento.

    Restava agora achar a última testemunha, a filha da tal bruxa sequestrada. Pelo que consta nos relatórios ela tinha um caso com o tal Joâo e isso me preocupava, pois poderia ser tão fora da realidade quanto o pobre homem.

    “Helen, conversei com tua tia por esses dias e ela me passou teu número. Eu estou investigando os ocorridos e gostaria de falar contigo sobre o desaparecimento de tua mãe”.

    Foi à mensagem que deixei na caixa postal de seu celular. Porém dois dias e uma noite haviam se passado e ela não havia retornado, então tentei novamente e para minha surpresa fui atendido por uma bela voz  logo depois do primeiro toque.

    – Olá, desculpe não ter retornado, estava sem credito…

    Assim iniciava um papo harmonioso, onde ela me pareceu muito sã e lhe convenci a me encontrar perto de um dos teatros da cidade.

  • Quero me transformar em vampiro – pt final

    Quero me transformar em vampiro – pt final

    Durante o dia foi possível ouvir os barulhos feitos pelo andar pesado e tenso de Penélope. Certamente, a insônia atormentara seus pensamentos no que seria seu último dia como uma simples humana. Mesmo depois de tudo o que eu fiz para tentar acalmar seus pensamentos, ela devia estar afoita, praticamente eufórica por tudo o que lhe aconteceria nas horas seguintes…

    Acordei um pouco mais cedo e colhi algumas das ervas ainda frescas e sob os primeiros raios de luz da lua cheia. “Uma bela noite para uma morte”, pensei comigo. “Quem sabe ao fim de tudo isso, um passeio de moto traga tranquilidade ao meu demônio”, continuei.

    Com a colheita minuciosa dos ramos e folhas mais viçosos, tratei de voltar para meu quarto. Onde fiquei por mais alguns instantes, polindo o mesmo cálice no qual Sebastian e eu havíamos bebido nossas primeiras gotas de sangue. Poderia eu ficar por mais algum tempo refletindo e relembrando o passado, mas fui interrompido por Pepe.

    – Falta muito para eu me transformar Fê? Nem dormi hoje… Toda minha vida foi repensada e estou mega ansiosa!!!

    – Acalma-te pequena, mais alguns minutinhos e Sebastian vai te chamar lá para fora.

    Juntei tudo o que precisava e depois de uns minutos fui para o quintal onde preparei o círculo, acendi cada vela e posicionei todos os elementos em seus lugares com a precisão de uma bússola. Tal qual havia escrito num dos manuscritos de meu mestre Georg. Em seguida mandei chamar Pepe e junto dela vieram todos os outros.

    – Irmãos e irmãs hoje é um momento muito especial para mim, pois como vós sabeis é com o máximo orgulho que Penélope entrará para nosso clã. Como sabeis faremos o ritual tradicional, que será seguido pela renovação de nossos laços familiares, onde cada um de vós compartilhará algumas gotas de seu precioso sangue. (pausa) Franz, nosso ancião em atividade, tratará das honras assim que minha alma se unir a de Penélope. (pausa) Portanto sem mais delonga, Penélope, aproxime-se do centro do círculo. Sebastian, o cálice com as ervas, por favor.

    Após o comunicado dei inicio ao ritual, onde as palavras certas foram ditas e fizeram o silêncio tomar conta de tudo. com o punhal consagrado cortei meu pulso esquerdo e derramei sangue suficiente para um gole. Outras palavras precisaram ser ditas para entorpecer a animalidade corpórea da alma e enfim o juízo acalentou seu corpo nu ruborizado. Sussurrei ao pé de seu ouvido direito aquilo que nunca devia ser dito… Finalmente aflorei minhas presas sem dó ou piedade e mordi com toda minha força seu pescoço pela última vez humano.

    “Este é o sangue da eterna aliança…” Beba dele todo e sinta o verdadeiro poder dos deuses!

    O corpo de Pepe morreu…

    Vi e senti todas as lembranças de Penélope como se fossem as minhas. Suas alegrias, seus sentimentos maia intensos e suas dores. Parte de minha energia vagou para seu corpo como um raio que penetra a terra. Concentrei-me para não cair e por ali fiquei de joelhos ao chão na expectativa do retorno da alma de minha nova cria ao seu corpo.

    Franz continuou o ritual…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 3

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 3

    Sonhos com Suellen, dias inteiros de sono profundo… Eu não queria que meus pensamentos adquirissem novamente aquela paranoia, no qual enfrentei antes da hibernação. O que havia em tal livro, que despertavam em mim os pensamentos mais obscuros e ainda me fazia ver uma loira de Capuz parecida com minha amada???

    Liguei para Sebastian e pedi para que ele fizesse algumas pesquisas com relação aos nomes e termos que havia encontrado no material. Falei com Joseph (Zé), que também achou o livro inusitado e resolveu ajudar. Além deles, também tentei contato com Kieran, mas nenhum de seus discípulos me retornou, aliás, é nesse tipo de situação que você percebe a importância dos contatos rs

    Noites depois, acabei deixando o tal livro de lado. Veio o Natal seguido pela virada de ano e algum tempo se passou até que numa noite qualquer e antes do carnaval de 2007, Joseph me surgiu com novidades. – Lembra-se du livre que j’ai pediu informações? Tenho bonnes informations à ce sujet. (Esse sotaque engraçado que ele tinha é uma das cousas que mais sinto falta).

    Nessa mesma noite ele me deu uma pasta de arquivos, nela além de diversos artigos impressos, havia também o que parecia ser o casco de uma árvore marrom escuro  e um saquinho de plástico transparente contendo um material arenoso e amarelado. Depois de olhar o material encontrei uma folha de instruções e lá estava o tal «Ritual de troca de posse do dono do livro»…

    Ansioso que sou eu já queria fazer o tal ritual naquele mesmo instante, porém como precisava de um lugar aberto tive de esperar até a noite seguinte, que por coincidência era sexta-feira de carnaval. Além disso, Joseph estava com tempo e decidiu que iria ajudar no que fosse possível.

    Preparamos os ingredientes : Uma toalha de algodão virgem, um punhal, a tal casca de Freixo, algumas gramas de enxofre ou breu e algumas velas. O local precisa ser próximo de alguma árvore e de preferência que esta fosse ao lado de água corrente. Não vou descrever o procedimento todo, mas depois que o altar foi montado e com as devidas entidades convocadas, eu precisei me cortar e derramar parte de meu sangue sobre a capa do livro.

    Depois disso, misturamos o pó de enxofre ao sangue e embrulhamos tudo com o tecido. Dispersamos as entidades, desfizemos o círculo, limpamos o lugar, nos lavamos no riacho e voltamos para a casa da fazenda. O livro deveria ficar naquele pacote por 3 luas, ou seja, próximo de junho eu poderia abri-lo e ver se tinha dado certo. Este é um bom exemplo do por que de eu nunca ter me envolvido a fundo nas práticas ritualísticas, não tenho paciência para esperar tanto tempo, ainda mais com algo que pode nem dar certo.

    Novamente em casa, Joseph me falou mais sobre o que havia descoberto sobre o livro e em específico sobre a Stregheria italiana e suas Janara Strega di Benevento. Um dos grupos de magia mais antigos e com raízes que remontam o século XIII. Contudo, pouco do que ele  descobriu possuía relevância, afinal este tipo de assunto é sempre repleto de muito  misticismo e lendas. Tanto que ao final da noite, eu já duvidava que o tal ritual de desapropriação do livro pudesse dar certo…

    Histórias, dúvidas e bruxarias a parte e como era carnaval, resolvemos cair na festa. Longe da fazenda, longe dos lugares conhecidos… Franz, Joseph, Eleonor e até mesmo Sebastian estiveram ao meu lado nas comemorações. Sete dias de orgias e todas as safadezas vampirescas que tu podes imaginar, pois dentre vários fatores, fazia tempo que não conseguíamos juntar o clã para uma «festinha»…

  • O totem desaparecido – Parte 1

    O totem desaparecido – Parte 1

    Naquela noite eu ouvia um som novo de uma banda chamada Texas Hippie Coalition, uma pegada pesada com vocal grave, daqueles que te fazem balançar as pernas e cabeça ao ouvir. Quando recebo uma sms do delegado, cuja interrupção abrupta na música, me despertou de imediato uma sensação de ansiedade pelo que estava por vir.

    “Tenho um novo caso pra ti, pago como sempre em moeda fresca.” – Dizia a simples frase que de súbito fez as papilas gustativas de minha língua se excitar. – “Estou longe, mas posso chegar rápido caso o pagamento esteja fresco mesmo RS” – Obviamente eu não podia deixar de fazer uma piadinha. –“Relaxa, vou te mandar as instruções, só precisava saber se queria um novo passatempo. Abs”

    Então, o som havia retornado, porém novamente fora interrompido pelo bip de “nova mensagem”. Alguns segundo para os arquivos serem baixados e lá estava eu diante mais um daqueles casos em a que a policia tinha dificuldades para atuar. Ainda mais a brasileira… Furto seguido de duplo homicídio, com posterior evasão sem vestígios de arrombamento ou quaisquer sinais de outra presença além das vítimas.

    Apesar de furtos com homicídios serem algo quase comum no Brasil, havia algo de estranho naquela ocorrência. De acordo com meu ex-cunhado, a cena estava muito limpa, algo que indicada uma ação profissional. Porém, o que lhe fez vir até mim foi o item afanado. De acordo com parentes do casal assassinado, dois homens gays e colecionadores de obras de arte, um totem antigo não estava na sala de estar.

    Quando o papo envolve totens há sempre o envolvimento de lobisomens, fato que de imediato me fez ligar para Carlos. Todavia, como o “peludo latino” está sempre em meio aos seus afazeres de tribo, consegui apensas lhe deixar uma mensagem na caixa postal. Também contatei Sebastian, que sempre se empolga neste tipo de ocorrência, porém ele ainda estava ocupado em suas ultimas aquisições amorosas. Apesar de ele ser minha cria e eu poder requisitar a sua presença quando necessitar, eu preferi deixá-lo fora desta vez. Afinal, não é sempre que um Nerd se permite desfrutar dos prazeres da carne.

    Naquela noite não fiz nada demais além de algumas pesquisas e contatos no submundo, mas não encontrei nada sobre eventuais rituais, movimentações lupinas ou qualquer outra cousa que merecesse maior atenção. Foi nesta noite, aliás, que Julie resolveu dar o ar da graça depois de algumas semanas oculta em suas próprias trevas. Disse ela que estava com saudades, mas me ver pessoalmente, que é muito melhor, ela não o fez ¬¬

    A lua já estava minguando quando Carlos finalmente retornou minha ligação. – “Como lo puedo ayudar?” – Lá estava a voz seca, grave e pouco gentil do peludo, tal qual sempre me é difícil de decifrar em função dos inexpressivos sentimentos, mas que depois de algumas piadas sempre emite uns moderados HÁ-HÁ-HÁ de assustar desavisados mais sensíveis.
    Contudo, tendo em vista suas atuais ocupações ele não poderia me encontrar de imediato, mas combinamos que caso minhas investigações iniciais produzissem algum resultado significativo, ele poderia “comparecer personalmente”.

    Contatos feitos e naquela mesma noite eu preparei minhas pistolas com balas de prata, juntei algumas outras surpresinhas “antilobisomem”, abasteci uma de minhas motos e fui investigar o local mais obviu: a cena do crime…

  • Demônios e um sequestro – 3 de 3

    Demônios e um sequestro – 3 de 3

    Depois de ser “liberada da possessão” a camareira precisou receber os cuidados dos poderes mentais de Franz, que na sequencia saiu junto de H2 para fazer alguns preparativos para nossa busca. Fiquei com Julie no quarto, na expectativa de que ela acordasse de seu transe e me fornecesse mais dicas sobre o que poderíamos fazer.

    Não tardou e cerca de uns 20 min mais tarde ela reabria seus lindos olhos e antes que eu lhe dissesse qualquer cousa ela me fala: “Detesto estes momentos, ficar desacordada e sem o controle da situação, não faz meu tipo…” Certamente aquelas palavras lembraram-me de muitos momentos íntimos que tivemos, e para minha sorte ou não, ela aproveitou a situação e me puxou pelo colarinho da camisa. Na sequência me tascou um beijo daqueles que só uma possuída pelas artes das trevas se atreve a dar.

    Os “amassos” duraram mais alguns instantes, até que infelizmente reassumi o controle sobre meu demônio e coloquei uma breve pausa naquele momento profano. A linda boca carnuda de Julie mantinha constantemente um sorrisinho sacana e aquilo me deixou incomodado. Eu precisava saber mais das Wampir de meu clã e aquela pervertida não prestava nenhuma atenção no que eu falava… Tentei argumentar e pedir algumas informações, porém ao fim de uns 5 mim aquelas mãos geladas abriram o zíper de minha calça. Fora a típica situação onde os sentimentos do passado excitam o lado humano macho, que por sua vez precisa esquecer-se da matilha e agir como o alfa diante uma bela fêmea.

    Ao fim de mais ou menos uma hora, Franz e H2 retornaram e ai então finalmente pude se desvencilhar de cima daquele corpo macio e agora quente. Vestimos-nos e depois na sala, ao invés de uma, eram três me olhando com o famoso sorrisinho sacana. Confesso que nunca fui um líder nato, porém nesse tipo de situação eu prefiro manter as rédeas: …ram, ram, ram… Pigarreei e falei na sequência:

    – Bom, senhores… Sabemos o local onde Eleonor e Stephanie estão, agora o que vocês dois conseguiram para a ação de amanhã? Neste momento eu olho com a cara mais fechada que podia para h2, que percebe rapidamente a situação e responde com sua voz grave e alta de sempre.

    – Contei a Franz de um filme que eu vi, que imediatamente fez Franz se lembrar do que os senhores fizeram no Texas em meio aquela tribo indígena…

    Nesse momento Franz interrompe sua cria e nos fala:

    – Resumindo é aquela situação para se chegar atirando meu irmão. Talvez Julie possa nos dar cobertura com seus dons e tu, eu ou ambos na forma bestial, o que achas?

    Enquanto as lembranças daquele ataque de índios possuidos, vinham a minha mente. Julie se pronunciou. Fazendo enfim o que eu tanto queria, que era ouvir os pontos fracos daqueles malditos. Suas descrições foram precisas com relação a quais de nosso poderes os afetariam mais e ao fim de mais algum tempo, havíamos traçado o que eu julguei ser naquele amanhecer: o plano ideal.

    Descansamos durante todo aquele dia, Julie sozinha no quarto e nós três na sala. Franz, não pregou os olhos, pois ao final de nossa conversa sentiu algo diferente, tal qual uma espécie de premonição. Apesar disso, todos descansaram a sua maneira e partimos assim que tudo foi resolvido no loft.

     

    O início da noite surgia, e com ele a vontade de sair da garagem. O forte ronco do motor da Dodge 2500 ecoava por todo o lugar, H2 estava ao volante e a cada acelerada mais brava que ele dava, ficava mais nítida a intensa ansiedade de todos. Meu relógio de bolso que sempre está correto, informou 17h e 37m e isso foi suficiente para o tão esperado cantar de pneus. Confirmando assim nossa partida a toda velocidade para a maldita fazenda onde Eleonor e sua cria estavam presas.

    H2 havia recheado a caçamba da caminhonete com alguns de seus “brinquedinhos prediletos”. Uma Bazuca M9A1, algumas granadas estilhaçantes, fuzis e um pouco de munição, sendo estas últimas chamadas por ele de “batizadas”. Inclusive este tipo de colocação me faz lembrar uma das lendas que rondam H2, no qual alguns dizem que ele já foi padre…

    A escuridão completa e o silencio mórbido do interior só eram rompidos por nossa 2500. Muita poeira, muitos buracos e todo aquele mato a beira da estrada de chão batido, foram os primeiros a estimular nossa sede por uma boa briga. Foi a típica situação em que o coração, se estivesse vivo, saltaria ao peito em frenéticas e ritmadas batidas.

    E a adrenalina aumentou ainda mais, quando começamos a sentir ao longe a energia sobrenatural emanada, por todos aqueles que deveriam estar presentes em tal antro infernal. Neste momento pedimos a H2 que parasse a caminhonete e nos preparamos. Julie e eu fomos pelo mato no intuito de fazer algo surpresa, enquanto h2 e Franz iriam começar a festa pela porteira da frente.

    Tomei Julie em meus braços e com minha velocidade junto da força chegamos rapidamente até uma clareira, onde fizemos uma breve leitura do lugar. A área útil era muito grande e lá estavam apenas duas casas de madeira, um galpão com maquinário agrícola e alguns poucos homens armados e de vigília. Procurei pelas energias de Eleonor ou Sthephanie, no entanto, somente Eleonor vinha aos meus pensamentos e estava muito fraca.

    Comentei com Julie de me transformar em névoa para localizar mais facilmente as Wampir de meu clã. Porém ela foi incisiva me apontando: – Eleonor está no porão daquela casa! Foi quando no mesmo instante lhe dei um voto de confiança, passando nas sequência as coordenadas para Franz.

    Cerca de 3 minutos depois iniciava uma grande movimentação no lugar. A luz havia sido cortada provavelmente por h2 e alguns seguranças engatilhavam suas armas, ao mesmo tempo em que alguns outros indivíduos saíam das casas no intuito de entender o que estava acontecendo. Além disso, e para minha surpresa, entre eles estava Stephanie… A linda mulher que havia conquistado meu morto coração no início deste ano… Seus cabelos que viviam soltos agora estavam amarrados estilo rabo de cavalo, seu olhar era muito concentrado, sendo a maior mudança a sua energia, que agora era mais fraca e diferente.

    Mostrei para Julie quem era Stephanie e sua expressão ao vê-la não foi das melhores. Tanto que depois de uma breve analise ela se virou pra mim e tentou dizer algo, mas foi interrompida abruptamente pelo barulho de nossa caminhonete.

    Toda ação ou briga um pouco mais intensa, sempre geram novas sensações e esse resgate não fugiu a regra. Haja vista, que foi um daqueles do tipo que irá perambular por nossas cabeças por muito tempo…

    Ao longe era possível ver os grandes faróis da caminhonete, que vinha a toda para cima dos seguranças e em direção há uma das casas. Em cima da caçamba estava Franz no que nós chamamos de forma bestial, aquela mesma em que ficamos parecidos com um lobisomem. Ele estava com a bazuca no ombro e isso por si só já fez alguns presentes borrarem suas calças. Ainda se não bastasse uma besta empunhando um arsenal, H2 também havia feito um de seus procedimentos padrão antes de qualquer briga. Ele aumentou o som do rádio da caminhonete ao máximo e em meio às explosões provocadas por Franz era possível ouvir a agitada Highway to hell do ACDC.

    Os métodos de briga de Franz, H2 e até mesmo os meus podem ser vistos por muitos como joviais ou até impensados, no entanto, sempre deram muito certo. O ataque surpresa inesperadamente pela porta de entrada, havia pego de surpresa quase todos os nossos inimigos. Tanto que logo depois que H2 jogou a caminhonete contra uma das casas surgiu em mim o momento ideal para que Julie e eu agíssemos.

    A pequena e endiabrada Wampir iniciou um de seus rituais enquanto eu também adquiria minha forma bestial. Não tardou e uma nuvem cinza quase preta tomou conta da frente da casa onde teoricamente estava Eleonor. O ritual a meu ver era parecido com o que ela havia feito anteriormente no loft, porém agora todos que estavam próximos simplesmente perdiam a consciência.

    Já em forma bestial resolvo ir em direção à nuvem/casa, porém Julie me segura e amarra uma espécie de cordão feito de plantas em meu pulso direto. Nesta forma nos ficamos muito arredios, porém me contive o máximo que pude e ainda consegui ouvir algumas palavras da bela morena: “Vá e salve tua irmã, isso te protegerá do meu ritual”. Aquelas palavras me soaram tal qual um incentivo e certamente quem tivesse me vendo, perceberia uma besta com ódio nos olhos e muita sede de sangue.

    Deste momento em diante, quando meu demônio assume parte de minhas ações eu só consigo me recordar de poucas cousas. Porém antes de entrar na nuvem e depois na casa eu me lembro de desmembrar alguns amaldiçoados e também o que mais me marcou, ver Stephanie atacando H2. Nestes momentos dificeis as escolhas precisam ser feitas em frações de segundos, o que inevitavelmente me levou para dentro da casa, unicamente com o objetivo de salvar Eleonor.

    Dentro do lugar a nuvem de Julie havia feito um belo estrago, várias pessoas estavam pelo chão, porém antes que eu pudesse me dirigir para o porão sou surpreendido por um tiro de pistola, provavelmente .40 e que atingiu meu ombro direito. O forte impacto do projétil desloca minha atenção a quem o disparou e lá estava uma mulher seminua. Como eu estava praticamente ignorando a dor e antes que ela disparasse novamente, eu utilizei toda minha velocidade para lhe imobilizar agarrando-a pelo pescoço. Ela até tentou pronunciar alguma coisa, mas minha força foi tanta que lhe quebrei o pescoço em poucos segundos.

    De acordo com Julie a maior fraqueza de um seguidor das trevas é o longo tempo que precisam para conjurar seus rituais, neste caso atacá-los de surpresa é sempre a melhor alternativa. Então depois de uma breve verificada nos cômodos do lugar, eu fui para onde julguei que seria o porão da casa. No escuro total foi possível ver Eleonor sugando o sangue de um pobre coitado, no entanto, quando me viu ela parou e me disse: “Fê?” e depois deu uma risadinha perguntando via telepatia a mesma cousa.

    Quando estamos nesta transformação não conseguimos pronunciar qualquer palavra que seja, então telepatia ou leitura mental é uma boa forma de ao menos compreender o que se passa pela cabeça do Wampir. Cultura vampiresca a parte, ela percebeu que era eu e tratamos de sair logo daquele lugar maldito.

    Estranhamente Eleonor não havia sido afetada pelo ritual de Julie, e saímos tranquilamente por onde eu havia entrado. Todavia, ao rever a situação do lado de fora fomos pegos de surpresa por algo que mexeu muito comigo. Lá estava H2 ao chão sendo socorrido por Julie, que lhe doava um pouco de seu próprio sangue, enquanto Franz ainda na forma bestial segurava Stephanie pelo pescoço. Foram pouco segundo em que eu desfazia minha transformação e vagarosamente ia na direção deles.

    Sabe quando tu queres gritar, mas como num sonho as palavras não saem? Foi assim que presenciamos Franz utilizar suas garras para adentrar o peito de Stephanie, arrancando-lhe na sequência, sem qualquer dó ou piedade, seu desfalecido coração…

    Nem eu ou Eleonor sabíamos o que estava acontecendo, mas Eleonor que estava em sua forma normal e ainda mais vendo sua cria sendo sacrificada, tratou de correr o mais rápido que fosse ao seu socorro. Naquele instante eles estavam prestes a iniciar uma briga apocalíptica, quando Julie percebeu a situação e falou em claro e bom tom: “Parem, sua alma já estava perdida…”

    Naquele momento, Franz simplesmente largou o corpo desfalecido da jovem Wampir ao chão e tratou de voltar seu próprio corpo ao estado normal. Eu sabia que o momento estava complicado e mesmo nu tratei de procurar um transporte. Entre corpos queimados ou mutilados eu encontrei um Fiat do tipo Wekeend, no qual fiz uma ligação direta e voltei até eles. Todos entraram rapidamente e tratamos de ir embora do lugar o mais rápido que fosse possível. Julie nos disse que o efeito de sua “nuvem” duraria mais alguns minutos e isso foi o tempo que precisávamos para sair da zona de contato.

    Horas depois chegamos a um lugar seguro, no qual H2 havia previamente preparado para passarmos o dia que viria pela frente. Ficamos por ali até o inicio da outra noite, quando nos reestabelecemos e voltamos finalmente para um lugar seguro. Nesta outra noite Eleonor estava muito chateada, havia sido sequestrada, torturada, perdera uma cria e eu que até então estava com ela, agora estava com Julie.

    Como se ainda não bastasse tudo isso, tivemos de escutar também em meio a nossa conversa, mais uma daquelas frases célebres de Franz: “Já que tudo foi resolvido, inclusive com nossa querida maninha, fato que deixará papai muito feliz. Podemos ir relaxar por hora em algum dos nossos puteiros, em meio aqueles belos e deliciosos sacos de sangue quente o que acham?”.

    H2 e eu rimos, Julie ignorou, já Eleonor simplesmente fechou a cara e foi para um dos quartos. O mais engraçado é que Franz realmente falava sério, partindo minutos depois com seu pupilo em busca de diversão. Fiquei mais um tempo com Julie, que também nos deixou, mas que antes de sair me incentivou a ir cuidar de Eleonor.

    Assim terminava mais uma de nossas histórias, onde mais uma vez havíamos escapado por pouco de nossos inimigos. Noites depois Eleonor decidiu ir para junto de Georg, levando consigo a filhinha de Stephanie e na expectativa de ficar talvez por algum tempo aprendendo algo novo junto de nosso mestre. Já eu estou aqui fazendo o de sempre, tirando minhas fotos, administrando nossas empresas e tentando produzir novas histórias, numa espécie de recomeço junto Julie.

  • A morte de um mago – 2 de 2

    A morte de um mago – 2 de 2

    Lá estava eu admirando minha caixa de madeira, no intuito de achar alguma fechadura. Não sei explicar, mas algo naquele compartimento me ligava a uma época maravilhosa de minha não vida e era praticamente impossível não ligá-lo a minha querida Su. No entanto, não via nenhuma fresta ou furo naquele bendito cubo de mais ou menos uns 30 por 30 cm, e antes que pudesse investigar melhor tal artefato, nossa atenção foi requisitada novamente ao ritual de passagem de Kieran.

    “Todos em pé, por favor…” e eis que o ritual era retomado , o volume do som fora baixado e algumas tochas foram acessas. Neste momento, o sol já havia se posto e aos poucos algumas janelas eram abertas, junto do telhado móvel. Não sei informar se aquela movimentação do telhado e janelas era automática ou se usava magia, pois aparentemente não havia ninguém manuseando. No entanto, as tochas eram acesas uma a uma e de uma forma muito peculiar.

    Não sei se eu era o único a reparar tal procedimento de bastidores, mas me senti encantado ao ver uma mulher com aparência bonita, na faixa de uns 30 anos, que simplesmente pegava as tochas em suas mãos, mencionava duas ou três palavras e assoprava o pavio. Depois disso, magicamente e cerca de uns dois ou três segundos depois, uma linda chama com cor rosa alaranjada assumia por completo a cabeça da tocha.

    Bom, deixando de lado as particularidades, o ritual prosseguiu com mais alguns discursos. Amigos íntimos do mago proferiram breves palavras e ao fim de mais uma hora, a passagem iniciou-se de fato.
    O altar em forma de cúpula, que recebera o corpo inerte de Kieran, estava forrado com uma fina e viçosa palha seca. Já o corpo do mago fora vestido um manto de ceda, muito decorado e de cor vinho, similar ao utilizado por seus discípulos. Próximo ao mago foram dispostos alguns compartimentos, estes vasos de barro marrom cru continham óleos e emanavam um suave aroma de laranjeiras. Árvore, aliás, que era a predileta de Kieran, inclusive cuja primeira muda, que foi semeada em seu santuário, fora presenteada por Suellen.

    Na sequencia as cadeiras foram afastadas do altar e todos os presentes fizeram um círculo ao seu redor. A pedido dos discípulos nos demos as mãos e ouvimos, em sua maioria de olhos fechados, a prece celta. Isso ocorreu simultaneamente ao ritual de cobertura do corpo pelo manto branco, feito do mais puro algodão egípcio.

    Após este simples ritual, o óleo das jarras de barro fora jogado em torno do corpo e o discípulo que até então apenas ministrava tudo, ficou de joelhos a frente do altar. Este erguera um pequeno cajado ao céus, dizendo em alto e bom tom: “Igne natura renovatur integra… Vá em paz meu mestre e senhor”.

    Ao final da frase a pedra vermelha, que estava cravada no cajado, iniciou a emissão de uma forte luz vermelha, que ficava mais forte a cada momento. Depois de alguns instantes, quando a pedra parecia ter atingido o seu ápice de luminescência, o discípulo, tocou o corpo de Kieran, que ardeu numa explosão de luz e fogo com chamas altíssimas.

    Todos os Wampir presentes incluindo eu, sentimos aquele arder em nossas frágeis peles. Porém graças à regeneração ou ao ritual, quase nenhum moveu pouco mais do que o simples piscar das pálpebras. Sim, estávamos totalmente hipnotizados com aquelas chamas fortemente avermelhadas, porém foram poucos segundos de apreciação até que finalmente restasse apenas pó do que um dia fora Kieran.

    Não sei explicar, mas ao fim daquele ritual eu me sentia revigorado. Muitos dos meus pensamentos estavam digamos mais tranquilos e inclusive eu não conseguira ter outras recordações de Kieran se não apenas dos momentos bons. Tudo o que eu sentira de ruim ou pessimista, não cabia ao momento e muitos foram os que apenas se sentaram ou ficaram calados por alguns instantes. Aproveitando o que certamente era a melhor de todas as sensações, a de paz com o mundo e principalmente consigo mesmo.

    Nunca saberemos o que Kieran ou seus discípulos haviam nos preparado em tal ritual de passagem, porém a sensação de paz nos acomete ainda hoje. Até mesmo Georg que quase sempre está sisudo, não consegue esconder os mais sinceros sorrisos por onde passa.

    Depois das várias despedidas cada um tomou um rumo diferente e para minha surpresa Achaïkos veio falar comigo. Nossa relação nunca foi das melhores, no entanto, para minha surpresa o ritual também parecia ter tocado aquele coração, que há séculos imergia na mais profunda escuridão.

    Quanto tempo não é mesmo? Disse-me o velho Wampir Grego, com seu inconfundível sotaque habitualmente estranho e sem precedentes. O respondi como sempre formalmente no meu alemão mais puro e seco, ou seja, normal.

    Esta conversa apesar de tudo foi rápida. Ele ressaltou o contive para ir as suas terras e ainda disse que eu teria uma grande surpresa ao abrir a tal caixa que naquele momento estava em minhas mãos. Além disso, George também trocou algumas palavras com o velho ancião e logo em seguida partimos novamente para o aeroporto.

    Desta vez Georg conseguira um voo particular e viemos com todo o conforto possível na volta para “casa”. Durante a viagem eu tentei abrir a caixa das mais diferentes formas possíveis, porém em meio às diversas turbulências daquele voo e depois de uma ou duas horas, resolvi tirar um belo cochilo. Sendo acordado apenas quando chegamos ao nosso destino.

    Hoje, ainda estou aqui na fazenda e nessa bendita missão de abrir a agora “famosa caixa”. Confesso que já passou pela minha cabeça: atirá-la ao chão, quase usei um serrote e até mesmo uma marreta frequentou meus pensamentos… Não sei se foi Kieran que a lacrou, mas com certeza quem o fez, queria garantir que eu somente a abrisse em algum momento muito especial… Alguém de vocês me sugere algo para abrir esta caixa, que aparentemente possui apenas alguns “kanjis” entalhados em alto relevo?

  • No semi-árido com Jurema

    No semi-árido com Jurema

    Depois de descansar durante alguns dias em Manaus, Evelyn e Beth embarcaram para João Pessoa, a capital da Paraíba. Mesmo nessa época do ano é bastante agradável por lá e as duas resolveram passar alguns dias na praia.
    Evelyn precisava trabalhar um pouco, aproveitou que veio ao Brasil com a desculpa de aprender mais sobre as artes dos Cordéis e levou Beth em um longo passeio pelo sertão.
    Lá conheceram histórias, ouviram músicas e se encantaram pelos Cordéis que cantam o dia-a-dia e as lendas da região. Foi durante esses dias que ouviram falar do Chá de Jurema.
    A bebida faz parte de um ritual que é as vezes chamado de Catimbó e é dito que este ritual é uma viagem interior, onde é possível curar-se de doenças, afastar o mau olhado e receber conselhos. Beth ainda andava confusa sobre o futuro ao lado do namorado, chegou a conversar algumas vezes sobre isso com Evelyn durante os dias que passaram juntas, mas não havia chegado a nenhuma conclusão. Ela amava Galego, sem dúvidas, mas não queria ser transformada, pois pensava em filhos, e isto, um vampiro não poderia lhe dar. Em meio a confusão de Beth, acharam que uma viagem espiritual para conselhos poderia ser interessante, assim, dirigiram no 4×4 até Alhandra na Paraíba.
    A cidade é tida como local sagrado para os cultos com o chá de Jurema e as celebrações são realizadas com bastante freqüência.
    Chegaram, instalaram-se em uma pequena pensão e saíram em busca de algum dos mestres da cidade santa para participarem do ritual. O fato de Evelyn ser estrangeira abre muitas portas, o povo receptivo do nordeste adora mostrar sua cultura aos “gringos” e logo elas encontraram um lugar para participar da cerimônia.
    Desta vez nenhuma das duas participou do preparo, descobriram apenas que também são denominadas como “ciência de índio” as artes do preparo do chá, e que as árvores são bastante comuns na região do semi-árido brasileiro, sendo também usadas como lenha.
    Sentadas em roda no chão juntos com as outras pessoas, elas viram sobre uma toalha vermelha algumas outras ervas para fumo, além de quatro velas acesas em cima de pedaços do tronco da árvore, dois copos altos com água e alguns recipientes com o chá.
    O mestre que conduzia a cerimônia disse as duas que não deveriam lutar contra os efeitos do chá, que caso a bebida não firmasse no estômago da primeira vez deveriam beber quantas vezes fosse necessário até que se acostumassem com ela.
    Evelyn não gostava de maneira alguma de ficar indefesa, a idéia de que não poderia ter alguém de confiança na roda sem estar sob o efeito do chá a assustava. Mas Beth não queria ficar ali sozinha, insistiu que a amiga também passasse pela experiência e ela cedeu.
    De tão relutante em ficar “desprotegida” Evelyn acabou não segurando o chá no estômago da primeira vez. O gosto extremamente desagradável não ajudou nem um pouco. Beth se entregou prontamente a experiência e já não teve problemas com a primeira dose.
    As duas bebiam uma mistura da Jurema Preta e de Arruda da Síria. Evelyn vomitou mais duas vezes antes de finalmente se acostumar com o chá no estômago. A essa hora a cerimônia de invocação dos encantados já estava acontecendo.
    Com maracá, um chocalho indígena, sinos de metal nobre e Toantes (uma espécie de cântico meio falado), as pessoas ao redor pareciam em transe.
    Os encantados são as entidades que regem a mística em torno da crença, e estão presentes nas árvores de Jurema que são sempre muito antigas. Dizem que ali é onde se encontram as almas que já foram pessoas, as que nunca foram e algumas que vivem em um mundo onde nunca se transformaram em carne viva. Conta-se que aos pés da Jurema é possível ver as pessoas queridas que já se foram e também os anjos.
    Já fazia quase uma hora do início e ninguém havia se levantado ou feito qualquer movimento. Uns quinze minutos depois de ingerir, Beth sussurrou para Evelyn que sentia uma forte dor de estômago, mas sabia que já não conseguiria mais vomitar. Logo depois ela viu a amiga de olhos fechados, sem nenhuma expressão no rosto. Parecia que apenas o corpo dela estava ali.
    Evelyn ainda olhou para o céu mais umas duas vezes, tentando imaginar o que acontecia com as outras pessoas, antes de conseguir se entregar aos poderes do chá.
    Primeiro veio a dor no estômago, depois uma forte ânsia, mas já não havia nada para colocar para fora. A dor parecia lhe consumir e olhando as pessoas ao redor, Evelyn achava que nunca mais sairia dali. Todos pareciam ter abandonado seus corpos, como Beth, estavam sentados. Alguns cantavam e tocavam os sinos e os maracás automaticamente. Aquele tempo pareceu uma eternidade.
    Sentada tentando controlar a dor Evelyn começou a ver uma luz, ficou em dúvida se era alguém com lanterna que se aproximava, chegou a achar que seria o sol, mas era muito cedo.
    De repente ela estava de pé e olhou ao redor achando que havia levantado em um impulso de dor, mas viu apenas idéias. A luz havia desaparecido e ela caminhava por um lugar escuro. Aos poucos a luz voltou a se aproximar e Evelyn viu vários pedaços da sua própria vida. Algumas vezes ela era pequena demais até para se lembrar do que tinha acontecido.
    Viu os pais no dia do casamento deles, o pai andando de um lado para o outro em um lugar de paredes frias, depois um mulher de branco e o pai explodindo em alegria.
    Também viu os dois chegando em casa com um bebê nos braços, sabia que era ela. As cenas foram mudando e ela foi crescendo nelas como um filme que passa apressado. A infância em Bruges, os verões na casa de campo dos tios, os anos no colégio interno, os primeiros anos em Paris e alguns dos lugares que visitou.
    Ela sorriu quando a lembrança da primeira viagem ao Estados Unidos pareceu, esta lembrança pareceu maior que as outras, seguindo de coisas que aconteceram anos depois e em ordens diferentes. Nessa hora Evelyn notou que não era ela quem controlava as lembranças, mas não conseguiu entender o que estava acontecendo.
    A misteriosa luz mostrou o canto preferido dela no apartamento que morava e desta vez era real. Ela foi até a poltrona que fica perto da janela e se sentou. Parecia estar de volta em casa, relaxou e dormiu.
    Quando Evelyn acordou estava sentada no chão, exatamente na posição que se lembrava de ter ficado quando sentiu as fortes dores de estômago. Beth estava ao seu lado, já relaxada olhando para a amiga. Completamente tonta e ainda sentindo náuseas Evelyn acompanhou Beth até o alojamento e se deitou sem falar nada. Dormiu logo em seguida.
    Na manhã seguinte Evelyn já se sentia melhor, estava até com um pouco de fome. Beth levantou cedo e foi procurar o mestre da roda da noite anterior. Ela voltou com algumas coisas para o café da manhã e as duas comeram no carro mesmo.
    “Você ainda precisa fazer mais alguma coisa no sertão?” Beth perguntou.
    “Não e estou ansiosa para dormir em uma cama confortável de um bom hotel” Evelyn respondeu.
    Beth disse apenas “ótimo” e as duas embarcaram no carro e dirigiram até João Pessoa. A viagem era curta, já que Alhandra é perto do litoral.
    No hotel Evelyn se apressou em tomar banho e pedir ao serviço de quarto um chá calmante para o estômago. Beth não subiu ao quarto com ela, disse que ia resolver uma coisa e saiu pela porta do hotel sem ao menos se registrar.
    Algumas horas depois quando Beth voltou Evelyn já tinha caído no sono outra vez, desta vez mais tranquila e sem sentir enjôo.
    Evelyn acordou com a amiga entrando no quarto e quis saber se ela havia conseguido resolver o que queria.
    “Sim”, respondeu Beth.
    Enquanto arrumavas as coisas Beth perguntou a Evelyn o que aconteceu durante o transe da noite anterior, ela respondeu, mas confessou que não entendeu direito o que a misteriosa luz queria mostrar.
    Beth contou que assim que se entregou aos poderes do chá viu um grande fluxo de idéias passarem por ela. “É isto!” pensou Evelyn, a ligação das duas não era só de tutora-aprendiz no mundo da magia, nem só de amizade neste mundo, pois quando ela entrou no transe acabou “se levantando” bem no meio do fluxo de idéias do transe de Beth.
    A amiga também contou que sentiu o poder da árvore e que havia se aconselhado com sábios encantados que se encontravam ao pé de uma antiga Jurema.
    “E o que você vai fazer? Tem alguma relação com sua saída mais cedo?” Indagou Evelyn.
    “Tem, sim. Os conselhos tem relação com muito do que conversamos nos últimos dias, e bem… Eu vou embora esta noite.”
    Sem tocar mais no assunto as duas jantaram em um restaurante próximo ao hotel e Beth se despediu, indo direto para o aeroporto.