Tag: vampiros

  • Estranhos e loucos – pt1

    Estranhos e loucos – pt1

    Em outra noite, enquanto navegava pela internet e respondia alguns e-mails, recebi uma ligação do meu big boss, como sempre, tive que fazer uma piada ao atender.

    – Ual, recebendo ligações tuas?

    – Lili te ligo quase sempre, tonta!

    – Diga Fê, a que devo a honra?

    – Piadas a parte querida, preciso da tua ajuda.

    -Minha ajuda? Então devo esperar alguns confrontos.

    – Claro! Quem melhor para chamar?

    – Ok boss. Time and place!

    Após receber todas as coordenadas do Ferdinand, arrumei uma mochila com roupas e tudo que fosse precisar, claro, minha preciosa katana e esperei a noite seguinte. Logo que escureceu, segui até a cidadezinha onde seria o local do nosso encontro.

    Estacionei o carro que havia alugado e esperei pela chegada de Ferdinand, minutos depois  ao longe conseguia ouvir o forte barulho de uma moto se aproximando, logo presumi que fosse ele. Sai do carro e fiquei encostada, pude apreciar a chegada dele e ser recepcionada com um sorriso.

    – Olhe para você magrela, com todo este cabelo rosa!

    – Se isso for um elogio Fê, eu aceito!

    – É um elogio! Combinou com você.

    – Muito obrigada! Adorei a jaqueta by the way.

    – Vintage minha querida. Venha cá, deixe lhe dar um abraço.

    Terminado os cumprimentos e com a conversa em dia, ele finalmente me explicou o motivo do encontro. Ferdinand precisava ajudar um antigo amigo por nome Carlos. Um cacique que pelo que entendi era também um Lican. O mesmo estava preocupado com alguns sumiços estranhos, pessoas de sua aldeia ou da região, que simplesmente desapareciam sem deixar rastros. Se nem mesmo um Lican índio encontrou rastros, tire suas próprias conclusões.

    – Infelizmente não poderei ir. Inclusive já estou atrasado para uma reunião com o pessoal da Mão vermelha. Por isso deixo isso em suas mãos. Ficará como um favor pessoal ente você e eu.

    – Não vai se decepcionar, fique tranquilo.

    – Ah mais uma coisinha… Leve este amuleto contigo, é uma Ônix especial, vai te trazer proteção e talvez um pouco de sorte.

    – Muito obrigada Fê.

    – Sempre que precisar. E por favor, mantenha-se intacta, eu não gostaria de dar más noticias ao Trevor.

    Dizendo isso, Ferdinand voltou a sua moto e seguiu seu destino. Enquanto eu permaneci ali com um mapa cheio de coordenadas, um amuleto, uma mochila e um carro alugado, que aparentemente não me ajudaria em nada no meio da mata. Sim, no meio da mata. Afinal eu teria que chegar à tribo do Carlos.

    A caminhada até a aldeia me tomou três horas e ao me aproximar do local, senti uma presença sorrateira e que me analisou minuciosamente. Entre as folhagens e a escuridão da mata, consegui ver dois grandes pontos iluminados chegando cada vez mais perto de mim. Por precaução deixei uma das minhas mãos preparada em cima da katana e a outra livre para me proteger. Dei um passo a frente, vi que os pontos pararem e ficaram ali, como se esperasse um movimento meu. Mais um passo e retirei a minha espada da bainha, outro passo e eles sumiram. Na verdade os pontos sumiram e a sensação não.

    Esperei com a guarda alta. Imagine, iria me encontrar com um Lican desconhecido e aparentemente o líder da tribo, seria loucura achar que deveria ficar tranquila com esse fato. Mais alguns minutos e vejo a folhagem mexer, ainda empunhando a espada esperei cautelosamente, como felino analisando sua presa.  Desta vez eu escutava passos, passos humanos, conseguia sentir o cheiro, um cheiro nada agradável, diga-se de passagem. Vi uma forma humana, e que forma humana.

    Finalmente fiquei frente a frente com ele, o famoso Carlos. Alto, forte, de abdômen definido, bronzeado, longos cabelos negros que desciam até as costas, olhos escuros como se fossem duas pérolas negras. Trajado de o que me pareceu alguma folhagem para esconder sua partes intimas, as orelhas furadas com um adorno que, ao meu ver, pareciam alargadores indígenas. Estampando um grande sorriso ele veio  ao meu encontro e me deu um grande abraço, senti os músculos do corpo dele e  devo confessar, me senti até que bem, tirando aquele cheiro de tapete molhado. Ele me colocou no chão e ficou quieto, me olhando por alguns segundos, até que finalmente falou algo.

    – Olá! Você deve ser a Lilian!

    – Oi! Prazer Carlos.

    – Bem que o Ferdinand me falou que era linda.

    – Ah obrigada…

    – Ele apenas não me falou sobre o cabelo colorido e dessa “altura toda”.

    – Ah detalhes. Pois bem, aqui estou.

    – Aqui está! Desculpe ter te analisado antes, precisava ter certeza que não era ninguém com más intenções.

    – Tudo bem Carlos, eu te entendo.

    – Bom senhorita Lilian, vamos até a minha tenda. Lá poderá ficar mais a vontade e quem sabe retirar esses panos estranhos, que vocês da cidade usam.

    – Eu estou bem assim…  Não me incomodo de ficar vestida.

    – Não! Tem que usar algo menos ridículo, se não o povo da aldeia vai estranhar muito.

    – Valeu pelo ridículo!

    – De nada! Venha querida, venha.

    Apesar dos pesares e das minhas roupas “ridículas”, que, aliás, eu não tirei. Carlos foi receptivo e me guiou até sua tenda, a mesma estendia-se até uma larga e profunda caverna, lugar no qual eu passaria meu dias longe do Sol. O mesmo disse que iríamos começar as buscas na noite seguinte após um ritual de proteção indígena. Consenti  com a cabeça, seguindo em direção aos meus novos aposentos.

    Não sei o que nos espera, fico em dúvida se vou conseguir ajudar Carlos e deixar o Trevor e Ferdinand orgulhosos. Apenas sei que no fundo desejo ajudar todos e salvar as vidas em perigo.

  • Sangue frio – Pt1

    Sangue frio – Pt1

    Atenção: Conteúdo inadequado a menores de 16 anos.

    Ela surgiu numa noite qualquer, disse que estava disposta a ajudar em meus projetos e que de certa forma sentia simpatia por meus métodos. Não é sempre que a amiga de um amigo surge a tua porta e com tais intenções. Baixa estatura, esguia e se não fosse isso ainda estava  com a cabeça cheia de dúvidas e anseios, seria ela minha nova aprendiz?

    – O Fê me contou diversas histórias sobre os Escolhidos e o jeito com que vocês vão atrás dos bandidos. Ele de certa forma é bom ou bonzinho demais comparado a você, pelo que entendi…

    – Ele é justo. Todos temos um lado bom ou ruim.

    – Sim, ele já me disse isso, mas mesmo você tem um lado bom?

    – Talvez, pequena…

    Já em nossa primeira noite juntos, decidi levar Becky a uma festa diferente, onde eu testaria até onde vão os seus escrúpulos. Como era uma espécie de comemoração gótica, precisamos fazer algumas mudanças em nossa aparência. Nada demais na verdade, apenas algumas roupas, maquiagem e acessórios. Acontece que rolou um clima interessante, no momento em que ela resolveu me maquiar, estilo Corvo. Sim igual aquele do filme.

    Estava sentado e ela apareceu a minha frente de saia de couro curta, meia calça cheia de texturas e rasgos. A parte de cima do espartilho aumentou e realçou seus seios e para finalizar, ela ainda havia amarrado os cabelos lisos pretos estilo Lolita. Para ser bem sincero, ela estava bastante atraente, mas o que me chamou a atenção foi na verdade os seus procedimentos frios e calculistas.

    Olho no olho, coxa com coxa e ela começou a passar o lápis preto em meu rosto. Estava nítida sua concentração sem piscadas e como um experiente médico, que opera com muita precisão um bisturi afiadíssimo, ela desenhou todo meu rosto. Confesso que a cada traço a vontade de ser rasgado por aqueles dedos finos aumentava voluptuosamente.  Tanto que em determinados momentos eu cheguei a sentir o sangue escorrendo, o seu cheiro, o seu gosto, o seu corpo…

    “Se não fosse ela, a amiga do meu amigo, alguém de importância para o seu clã. Eu teria lhe agarrado, rasgaria ainda mais sua meia calça, colocaria sua calcinha minúscula para o lado e mandaria ver ali mesmo, com ela sentada em meu colo. Quem sabe com o mesmo bisturi, eu cortaria as amarras de seu espartilho e na sequencia morderia com força os seus seios juvenis. Depois, aproveitando todo tesão liberado por meus atos brutos e impensados. Entre uma metida ou outra, beberia com gosto vários goles de seu sangue frio e amaldiçoado. Num momento único, onde seriam combinados os dois tipos de orgasmo, que certamente só os vampiros tem o privilégio de sentir.”

    Ainda bem, que certas ações ficam apenas nos pensamentos e ao final da seção de maquiagem fomos diretamente para a tal festinha. Por lá encontramos alguns dos meus amigos e infelizmente, a pequena se entrosou com um deles. O que foi até bom na verdade, pois pude perceber seus métodos, principalmente os relacionados ao flerte e a dominação.

    O que vai acontecer depois disso? Só o diabo sabe, mas estou ansioso para ver ela usando algum bisturi da minha coleção.

    Posfácio do Ferdinand: Esse texto foi enviado por Whatsapp pelo Hector e dei uma “amenizada” antes de publicar por aqui. Diz ele que já conversou com a Becky sobre tais pensamentos e quem sabe ela mesma nos conte sua versão desse primeiro encontro entre ambos. Aguardem!

  • Minha família de Vampiros – Continuação

    Minha família de Vampiros – Continuação

    Sai da casa de Eleonor com a consciência tranquila. Pois assim como ela havia me ajudado nas épocas em que meu demônio estava a flor da pele, eu fiz a minha parte lhe devolvendo um pouco de sanidade. Pode não ter sido da forma mais fraterna, mas se há algo que aprendi depois de tanto tempo lidando com os mais diversos tipos de almas. É que tudo o que é importante, deve ser tido sem delongas, na cara mesmo.

    Pista de terra, solavancos, pancadas de um lado e de outros na poltrona. Apesar de imortal e de ter tantas horas de voo nas lembranças, é um dos lugares onde me sinto menos confortável. Provavelmente pelo fato de ser uma situação onde não tenho o controle em minhas mãos por completo. Apesar disso, pousamos pouco depois das duas da manhã numa fazenda e assim que as portas se abriram, vi que já estavam nos esperando.

    Habitualmente, sempre ativo minha respiração ao chegar a locais novos e naquele momento senti um perfume persistente e adocicado. Provavelmente, floral e que misturado ao cheiro da grama com terra molhada, trouxe diversas lembranças instantaneamente.

    Claire vestia o mesmo sobretudo bege da última vez que lhe vi, estava bem maquiada e segurava um guarda-chuva grande. Sua feição era amistosa e ao que tudo indicava estava feliz em nos ver. Hadrian e Becky estavam ao seu lado e logo a frente, encostado a um furgão estava um cara grande. Provavelmente algum peludo aliado a mão vermelha – Pensei comigo.

    -Hi guys! Did you have a nice trip?

    Perguntou Claire e lhe respondi em inglês algo do tipo:

    – Não, mas ao te ver tudo melhorou…

    Ela apenas sorriu e com seu jeito sempre peculiar me estendeu o guarda-chuva e ofereceu abrigo até o carro. Hadrian estava utilizando uma espécie de magia sobre si, que o mantinha seco e ao perceber que Franz ficaria ao relento, gesticulo dois movimentos e estendeu-lhe o mesmo feitiço.

    No carro ele se sentou ao meu lado e sussurrou:

    – Eu podia ter feito uma redoma de proteção contra chuva sobre todos, mas resolvi te dar uma mãozinha. Será que ela percebeu?

    Soltei uma risada leve e pensei em comentar algo, mas Franz foi mais rápido soltou um comentário desnecessário:

    – Esse sobretudo me faz pensar se ela veste algo por baixo…

    O silêncio surgiu, todos olharam para ele. Como que se falássemos: “Cala boca seu mané”, mas ele insistiu na piada:

    – Ah qual é gente, vocês nunca viram aqueles filmes, onde a garota usa um desses para esconder um belo espartilho, cinta liga e tal?

    As palavras dele pareciam ecoar numa sala vazia, mas a fim de quebrar o gelo. Claire se manifestou de uma forma mais informal que o normal:

    – Calcinha preta, sem sutiã, meia calça nude e um vestidinho marrom escuro, decotado e com cinco dedos acima dos joelhos.

    Não sei se foi Franz ou eu, que teve a imaginação mais atiçada diante tal descrição minuciosa, mas o importante é que o restante da viagem foi bastante descontraído. Foram mais 50 minutos até o local que nos hospedaria e lá encontramos novamente o Pai de Claire. O velho parecia mais tenso do que quando o conhecemos naquele casebre “fake”. Além disso, parecia que estava de alguma forma puto com nossa presença. Tanto que ele apenas deu um beijo no rosto de Claire e sem nos cumprimentar, foi logo chamando o até então mudo, que estava conosco na Van:

    – Vamos Peter, precisamos dar andamento aos testes…

    -Sim, senhor!

  • Minha família de Vampiros

    Minha família de Vampiros

    Naquele clima de família reunida no final de ano, com uma criança correndo pelos quatro cantos do lugar e todos jogados no sofá, depois de uma bela noitada. Percebi que Eleonor me olhava de uma forma diferente. Lembrei-me de imediato das épocas em que namorávamos de uma forma séria e de certa forma senti aquela saudade que às vezes aperta o coração. Inclusive, pensei em me levantar e lhe abraçar de uma forma fraternal, mas ela possuía outros planos.

    Não sei se eu estava tão relaxado a ponto de deixar de lado minhas proteções mentais, mas ela foi incisiva por telepatia:

    “Depois que a pequena dormir, eu queria ficar um pouco contigo, estou com saudades. Convenhamos Fê, mal nos vimos neste ano que passou”.

    Eu sorri e lhe mostrei a língua, depois fiz sinal com a cabeça para subirmos aos quartos. Ela apenas sorriu e disse a todos:

    – Gente a noite foi ótima, fazia muito tempo que eu não ficava tão feliz com vocês por perto, mas está na hora dessa mocinha ir dormir.

    A pequena fez um pouco de manhã, não queria sair do colo do tio Franz, mas Eleonor a pegou no colo e subiu. Franz, como sempre, teve de uma piadinha:

    – Nessa horas meu lado paterno aflora… ops passou, vejam só (risos)

    – Eu até me animo também, mas a Pepe e o Sebastian suprem essas minhas necessidades. Por falar nisso H2 por onde anda?

    – Não sei maninho, o liberei no final do ano para fazer o que quisesse. Sabes que gosto desse tipo de reunião, mas ele preferiu fazer alguma espécie de retiro. Acho que ainda não se esqueceu de seu passado como padre. Enfim e vocês dois como anda o casamento?

    Sebastian olhou para Claudia, deu uma risadinha boba e quase nos afogou com tanto amor:

    – Por alguns anos eu cheguei a pensar em dedicar minha eternidade aos livros ou estudos, mas quando encontrei a Claudia. Descobri que o mais importante é ter alguém especial, no qual possamos compartilhar todos os acontecimentos. O casamento foi apenas uma celebração social para vocês, o que importa é que nossas almas foram feitas uma para a outra…

    Ao terminar a frase eles se beijaram e obviamente os mandamos para o quarto, debaixo de muitas piadas e risos. Pepe nos acompanhou nas risadas e piadas. Tive um momento pai, percebendo sua evolução como vampira e antes que ela decidisse ir dormir fiz uma piadinha:

    – A noite inteira tu não comentou nada sobre internet ou teus jogos e afins. Fico feliz que estejas um pouco longe disso.

    – Ah FÊ tenho evitado esse meu vicio, mas já que você tocou no assunto . Está todo mundo indo dormir, acho que vou dar uma olhada nos e-mails tudo bem?

    – Claro minha filha vai la…

    – Então mano, acho que vou subir também…

    – Ah vá maninho, sei muito bem em quarto vai dormir este dia. Só não te esqueças dos nossos negócios na América Latina, se elas forem para lá vamos ter problemas de novo…

    – Ok ok ok…

    Por vezes “Irmãos mais velhos” são um porre, ainda mais se ele for um vampiro igual ao Franz, que tem olhos e ouvido na nuca.  Até pensei no caso dele estar com um pouco de ciúmes, tendo em vista o seu passado com ela, mas em nossas últimas conversas ele não havia mencionado nada. Apenas discutimos alguns assuntos do clã e no que cada um tem feito para a continuidade dos negócios.

    Sem mais delongas subi par ao quarto de Eleonor e lá estava a pequena numa caminha improvisada ao chão, e sobre a cama estava Eleonor impecavelmente deliciosa, trajando apenas uma calcinha minúscula preta. Contrastando com sua pele branquinha e seus cabelos longos negros e sedosos.

    O que falar deste dia? Mordidas, unhadas, sangue, prazer, tesão, apertões, parede, chão, cama, teto… Tudo o que tu possas imaginar que um casal de vampiros possa fazer entre 4 paredes e claro, mais um pouco.

    Acordei apenas na noite seguinte e percebi de imediato que estava sozinho. A respiração e o coração da pequena não ecoavam pelo quarto e Eleonor também não estava do meu lado. Arrumei-me enquanto tentava se lembrar do que havia rolado com Eleonor e apesar de tudo de bom que tivemos foi consumido por uma tremenda sensação de culpa. Jogada na cara de Eleonor assim que a encontrei na sala.

    – Nossa fazia tempo que eu não dormia tanto tempo, acho que desmaiei na verdade.

    – Fê por que tu não ficas conosco um tempo, quem sabe curte a pequena como se fosse tua filha e eu tua mulherzinha…

    Sem um “oi” ou qualquer introdução, ela me jogou aquilo e fui obrigado a lhe responder a altura:

    – Sabes dos meus comprometimentos com o clã, sabes de todo o peso que carrego nas costas e te odeio por levar tanto tempo pensando nisso. Por que não ficasse conosco quando eu te pedi? Tu simplesmente pegou a pequena veio para cá e te isolou. Somos uma família, lembra? Não Eleonor, eu não devia ter ido para tua cama ontem e não posso, pelo menos agora, me dedicar a esse joguinho de “Papai e mamãe”.

    Nesse momento era possível ver algumas lágrimas em seu rosto, lagrimas estas de sangue e que me comoveram de certa forma, mas não o suficiente para conter o que estava “entalado na minha garganta”.

    – Sabes que isso é uma palhaçada e assim como tu me recomendou uma vez eu te peço agora. Não gostarias de hibernar por uns tempos? Por a alma e os pensamentos em ordem? Pensa nisso e me liga que venho correndo ao teu encontro. Só por favor não cai nesse joguinho humano sentimentalista e hipócrita. Somos superiores a tudo isso.

    Ela chorou ainda mais depois de minhas duras palavras e de certa forma parecia ter captado o recado. Não soltou nenhum “piu” e apenas me abraçou forte antes que de eu partisse. Beijei sua testa , dei um beijo na bochecha da pequena e fui ao encontro de Franz no aeroporto.

     

  • Boas festas para quem?

    Boas festas para quem?

    No final de 2014, precisamente no dia 23 de dezembro, Saturno saiu do signo de Escorpião e ingressou no signo de sagitário às 14h32m (horário de Brasília). O ciclo que durou cerca de dois anos trouxe diversos obstáculos à vida de muitos, porém o que torna este ciclo relevante ao mundo vampiresco é o fato de que um vampiro antigo pode ter voltado de sua hibernação.

    Por causa deste boato, passei o final de ano preocupado, aliás, essa preocupação foi a conversa principal com todos aqueles que souberam da possibilidade de tal acontecimento. Claro que não seria uma questão de Cristo ou do seu maior antagonista estarem voltado ao plano terreno, mas sempre que um dos antigos acorda todos os olhares se voltam para o Matusalém.

    O vampiro antigo em si não é maior problema. A causa maior das nossas dores de cabeça são sempre  os possíveis caçadores ou megalomaníacos, que se estapearão para obter os segredos, o sangue ou qualquer migalha, que seja deixada pelo caminho do ancião vampiresco.

    Longe de mim querer alarmar minhas queridas leitoras, mesmo por que há 99% de chance que nenhum humano fique sabendo da realidade deste assunto. Além disso, tudo foi esclarecido ainda antes do réveillon, quando recebi de uma fonte e absolutamente confiável, o que realmente aconteceu naquelas noites anteriores ao Natal cristão.

    Um famoso Coven de bruxas italianas se reuniu para comemorar o final de ano e as mudanças astrológicas da época. Comemorar é a palavra mais adequada que achei para representar a orgia e feitiçaria destas reuniões. Não é atoa que remetem a elas as primeiras menções ao termo Bacanal, ou simplesmente festas de Baco, o Deus romano das festas e do vinho.

    Diz a história que alguns vampiros foram convidados por engano para tal confraternização e ao serem barrados na entrada do lugar rolou o maior barraco. Acontece que barraco envolvendo seres sobrenaturais, é literalmente cousa de outro mundo. Obviamente, os vampiros banidos da festa quiseram se vingar e proporcionaram uma pequena vingança as bruxinhas sapecas.

    A dupla composta por um vampiro detentor de poderes mentais e  outro com talento para as ilusões, pensou rápido. Bolaram um plano em menos de 10 minutos e voltaram ao local. Passando-se por bruxas eles entrar facilmente no lugar e começaram a praticar suas maldades e traquinagens.

    – Soube que a festa não vai durar muito tempo, o local foi descoberto. – Fofocou um deles.

    – Uma bruxinha loirinha bonitinha me contou que por causa desta conjunção astral um vampiro antigo vai sair de sua hibernação aqui pertinho. – Sussurrou o outro vampiro.

    E diante estes e outros boatos a festa foi arruinada. Skype para cá, SMS para lá e tantos foram os contatos e whatsapps que a história espalhou-se rapidamente pelo mundo da noite. Medidas foram tomadas por parte dos vampiros, que controlam as regras de nossa sociedade. Lobisomens se reuniram, magos e bruxas temeram e alguns até profetizaram o final dos tempos em nossas redes de informações.

    Influências desse mundo moderno e conectado? Pode ser, mas que o que tiro disso é aquela velha história de que se três ou mais pessoas acreditam em algo, até a maior das mentiras pode virar realidade. Ainda bem que no fim foi tudo uma grande brincadeira de mal gosto e que venha 2015 com ótimas histórias para todos nós!!!

  • Servidão – Entre atos 2 e 3

    Servidão – Entre atos 2 e 3

    Ygor Pietro estava muito irritado. Não bastasse os erros de seu mais novo pupilo, o clã de Madame Scylla se recusava a aceitar um pagamento em espécie pela morte de um dos seus membros, Thomas E. Lloyd. Continuavam as negociações, mas a chance de o conflito, até o momento diplomático, tomar proporções militares era muito grande.

    -Me chamou, Pietro? -Uma voz feminina e calma veio da porta do salão em que o mesmo se encontrava sentado.

    -Sim, Emmanuelle, entre.

    Uma moça alta, perto de seus 30 anos de idade, olhos cinza e cabelos cortados rentes ao pescoço, em estilo militar, se curvou levemente em direção a Ygor Pietro.

    -Vejo que já está se preparando para o caso de as coisas saírem do controle com o teu irmão, não é mesmo Emma? -Comentou Pietro, os olhos fixos nas armas que a moça trazia presas ao quadril.

    -Você sabe como eu sou Ygor, e o que eu penso. Se eles querem guerra, então guerra é o que eles terão. -Respondeu Emmanuelle, a voz calma como sempre.

    -O que pretende fazer com aquele rapaz que nós capturamos?- Pietro começou a procurar pela ficha do rapaz, o âncora Daniel que, ao que parece, não se encontrava em juízo perfeito quando foi encontrado perambulando nas ruas, fugido da clínica.

    Emmanuelle alisou a parte superior de seu uniforme, desinteressada:

    -Klaus vai cuidar dele, senhor. Não tenho tido paciência para  com os humanos ultimamente, e receio que as minhas sessões de interrogação possam sair do controle.

    -Entendo. Mas não achas que o Klaus pode perder o controle bem mais cedo do que você, minha querida?

    Emmanuelle sorriu levemente, enquanto arrumava uma de suas armas no coldre.

    -Desculpe-me, senhor, mas acredito que Klaus já passou da época de perder o controle… eu, pelo contrário…

    -Está com sede, Emma? – Ygor se levantou e estendeu a mão para um cálice de cristal que se encontrava no canto da sala.

    -Um pouco. Não tive tempo de…

    -Muito trabalho, eu presumo? Klaus não tem lhe dado muita folga desde que tu voltou de Paris? Mas o que estás fazendo ainda de pé? Sente-se.

    Emmanuelle se sentou, como ordenado, e sorveu de um só gole o sangue frio do cálice que Ygor havia lhe estendido.

    -Então? Conte-me tudo, minha querida. Gosto de saber o que acontece no clã, principalmente quando eu estive um tempo fora…

    Os dois foram interrompidos por uma batida forte na porta, seguida pela entrada de Klaus, um homem na beira dos seus 35 anos, com um jaleco cheio de sangue, uma das mãos ensopadas com o mesmo líquido.

    -Senhorita Levours, sugiro que da próxima vez que empurrar uma de suas testemunhas para mim, certifique-se de que a mesma não vai me atacar durante as sessões. -Os olhos do homem estavam arregalados, um misto de surpresa e insanidade, os dentes a mostra.-Tu bem sabes que eu não possuo muita paciência para com essas crianças desmioladas de hoje em dia.

    Emmanuelle se levantou e sibilou, irritada:

    -O que tu fizestes seu monstro?! Não podes nem se dar ao trabalho de tirar essa roupa antes de vir falar conosco?

    Klaus fechou a porta de sí, os olhos adotando uma expressão divertida, sarcástica. Encostou-se na mesma, evitando a passagem de Emma, que roçou os dedos em uma de suas pistolas, em alerta.

    -Se bem me recordo, senhorita, eu não lhe dei o direito algum de se dirigir a mim de forma tão desrespeitosa. Aliás, me pergunto até quando essa raiva irascível vai durar, considerando que…

    -Não ouse.  -Sibilou Emmanuelle, o rosto em uma expressão de extremo incômodo.- Mantenha essa maldita boca fechada. Aquilo foi só um erro, não mais do que isso…

    Klaus começou a rir, uma risada baixa, controlada.

    -Um erro? Mas que curioso, eu jurava que na hora tu não pensavas dessa forma, considerando como a senhorita veio atrás de mim, desesperada por auxílio.

    Ygor Pietro, que ainda se encontrava na sala, se sentou novamente, entretido. Nada melhor que uma cena cômica que no final lhe revelasse a verdade a respeito daqueles dois, discutindo a sua frente.

    -Eu não sabia o que fazer homem. Mas ainda assim, penso que foi um enorme erro, e que o mesmo não vai voltar a se repetir. – Respondeu Emma, se aproximando da porta e parando na frente de Klaus. -Agora, se me der licença…

    Klaus estendeu ambas as mãos para cima, num gesto cômico de rendição:

    -Desculpe, mas estou um pouco cansado, e essa porta é tão sólida… Serve-me bem como apoio para as costas. Claro que, eu posso pensar em me afastar daqui se a senhorita se dispuser a falar a verdade.

    Emmanuelle soltou um palavrão baixo, em francês, e puxou a arma do coldre, encostando o cano da mesma na têmpora de Klaus, que apenas levantou a sobrancelha, divertindo-se ainda mais com a situação.

    -Semana da seca, pelo o que vejo?-Comentou ironicamente, ao mesmo tempo em que afastava a arma da própria têmpora, sem muita relutância.  -Há quantos dias tu não te alimentas direito, senhorita Levours?

    -Não é da tua conta, Klaus. Saia da minha frente, ou eu juro que te mato dessa vez.

    -Hm… Se bem me lembro, da última vez, tu me deixou em um estado bem lamentável… Mas que ainda assim foi até o meu quarto ver como eu me encontrava, cuidando de meus ferimentos, não é mesmo, senhorita?

    Antes que Emmanuelle pudesse responder, Klaus saiu da frente da porta, deixando-a passar.

    Alguns segundos de silêncio se estenderam enquanto Klaus retirava as luvas ensanguentadas e o avental, ficando apenas com a camiseta social branca e as calças pretas limpas.

    -Que cria mais complicada essa que tu veio a arranjar, não é mesmo, Klaus?- perguntou Ygor com um quê de divertimento na voz, enquanto o mais alto lhe apertava a mão, como de costume.

    -Nem me fale Ygor… Mas mais importante, como andam as negociações?

    Ygor Pietro suspirou, os olhos se fechando por alguns instantes:

    -Complicadas. O clã de Madame Scylla não quer negociar enquanto o assassino não estiver envolvido nas negociações. Chegou a tal ponto quê eles passaram as discussões para o nível militar, chamando Abdulah para tomar parte do problema.

    Klaus levantou os olhos das luvas que segurava, surpreso:

    -Abdulah? Tu não está falando de Abdulah, membro dos  Demônios do Oriente não é?

    -É dele mesmo que eu estou a falar, Klaus.

    -Mas então são três os clãs envolvidos até agora?-Perguntou o médico, curioso.

    -Precisamente. E eu estava para começar a discutir com Emma a respeito de que soluções tomar caso as negociações passem para o nível Bélico quando tu me aparece e estraga tudo. -Ygor criticou o mais jovem, que apenas sorriu, cansado.

    -Nós dois estamos cansados, a senhorita Levours e eu. Gostaria de passar umas férias na Bavária, com a moça, e tentar por lá mesmo resolver nossos assuntos…

    Ygor sorriu, cúmplice. Sabia bem aonde o alemão queria chegar.

    -Façamos o seguinte… Assim que essas negociações terminarem eu líbero vocês dois para uma viagem. Suponho que visitar a própria capital em missão não ajudou muito a Emma no quesito de férias…

    -Sinto dizer que não, Ygor. Emmanuelle não consegue se concentrar tanto quanto antes ao investigar os capturados, e passou a perder a paciência muito rápido, como tu podes ver agora.

    -Mas tu a provocou, não foi..-Ygor comentou, mais uma afirmação do que uma pergunta.

    -Parcialmente, sim. Mas eu estou apenas me esforçando para que ela me diga a verdade, e pare de mentir a respeito de nosso relacionamento. O problema, temo eu, é que não ando muito paciente tampouco.

    -Quando Ernst acordar, tu poderia vir até aqui me avisar, Klaus? É um favor que lhe peço.

    Klaus se levantou da cadeira, pôs as luvas de volta, e sorriu para o velho amigo, um sorriso honesto, sem brincadeiras ou piadas de mau gosto.

    -Certamente, senhor Pietro.

  • Girls night out – A missão– Pt4

    Girls night out – A missão– Pt4

    Primeiro eu gostaria de informar que a Pepe está sob efeito recente da transformação e é normal ela querer “puxar meu saco”. Todavia, boa parte do que ela disse pode ter vindo mesmo de seus pensamentos mais profundos e intensos. Questão que me é vista com muito carinho também.

    Como minhas queridas vampiras novatas no clã, detalharam em seus relatos anteriores, nos reunimos para um breve bate papo na forma de luau e a beira de um lago na fazenda. No qual festejamos nossas alianças e especifiquei minha vontade de estreitar nossos laços na sociedade vampiresca. Afinal, como todos bem sabem a união faz a força.

    Negócios vampirescos não são feitos apenas na base da palavra ou com contratos de papel e quase sempre se baseiam também na troca de favores. Portanto, para alguns de vocês já deve estar claro o que eu lhes pedi, mas vamos por partes e ao melhor estilo “tio Jack”.

    “Pois então minhas belas senhoritas. É sempre um prazer estar junto de vocês e preciso fazer uma pausa nesta noite de festa. Como bem sabeis nosso clã foi prejudicado recentemente por um  pilantra, que ludibriou uma de minhas Ghouls e afanou certas informações sobre uma de nossas empresa. Tal ser desprovido de inteligência, certamente não sabe onde se meteu e já que ele não utiliza sua cabeça por completo, eu desejo-a para utilizar como peso de papel.  Como eu não quero que isso se torne uma disputa entre todas vocês, eu vou premiá-las de uma mesma forma e independente de quem der o golpe final no fdp. Obviamente, além do presente, que ainda vou pensar, o clã da Lilian vai ter um favor em aberto conosco. O que proporcionará, imagino eu, um maior estreitamento de nossa amizade.”

    Diante tal pronunciamento Lilian disse que precisava da permissão de seu mestre para agir em tal empreitada, mas se mostrou muito empolgada pelo fato de poder por em prática seus estudos e treinamentos. Becky e Pepe sentiram-se felizes com a oportunidade de demostrar serviço para o clã e aquilo melhorou meu ânimo. Até então atordoado pela situação que a maldita loira havia proporcionado com sua traição.

    A transformação de Pepe havia sugado minhas energias de uma forma diferente aquela em que ocorrera com Sebastian. Ainda preciso consultar algum vampiro mais antigo para saber se fiz tudo certo, mas acredito que foi apenas uma fadiga ou stress. O importante é que aproveitei nossa festinha para voltar a frente do clã e dos negócios.

    Inclusive, estou com planos para novos investimentos e viagens. Quem sabe esteja novamente na hora de cair na estrada e conhecer novos lugares ou seres. Este ano eu resolvi me isolar do mundo, mas por que fazer isso se posso ir para todos os lados? Por que se prender em algo tendo a eternidade pela frente? Não sei as respostas para prevenir a rotina e a acomodação. Sei apenas, que eu não sirvo para ficar tanto tempo no mesmo lugar ou criar raízes como muitos preferem.

    Na noite seguinte a festa fui informado por um Ghoul que as garotas saíram cedo. Pepe inclusive havia me deixado um bilhete, que só vi depois de um belo banho quente, dizendo que me mandaria “sinais de fumaça” a cada noite e cada descoberta. Restou-me apenas seguir com os planos e desejar que o inimigo fosse apenas um cabeça oca qualquer.

    Três noites depois recebi a primeira mensagem de Pepe. Era uma gravação de voz no whatsapp cuja voz provavelmente era do meu novo inimigo:

    “Foi uma decepção enorme o fato de nenhuma cria do Exmo. Sr. Wulffdert ter vindo ao meu encontro. Por causa de tal infortúnio esclarecerei minha intenção: Manterei estas três pupilas intactas, até que vós resolveis vir buscá-las… Cuidado, posso ficar impaciente tão logo a lua nova se aproxime!”

    Liguei imediatamente para Franz e Eleonor…

  • Como encontrar um vampiro – pt1

    Como encontrar um vampiro – pt1

    Algum tempo atrás recebi um pedido de amizade no Whatsapp “Oi queria te conhecer melhor, sou amiga da Eleonor.” Como não é sempre que as amigas da Eleonor entram em contato comigo eu fiquei de certa forma receoso, mas minha curiosidade foi maior. Aceitei o convite e troquei algumas palavras com a “garota”. Algum tempo depois ela confirmou sua identidade vampiresca e marcamos de nos encontrar.

    Como seria possível uma amiga nova da Eleonor que eu não tivesse conhecimento. Ainda mais dizendo-se ela ser amiga de minha doce morena a mais de 40 anos e vampira. Liguei de imediato para Eleonor e depois do tradicional “oi, como vai?” fui logo perguntando sobre sua amiga.

    “Acho que era 65 ou 66 e eu estava passando um tempo em Paris. Foi numa festa da elite vampiresca da cidade que a encontrei. Tadinha parecia um bichinho fora da jaula, acuada e pacata num canto junto de alguns conhecidos meus. Trocamos algumas ideias e depois daquela noite passei algum tempo junto dela. Hoje eu penso que meu instinto materno havia me tocado com força quando a vi e até lhe ensinei algumas peripécias femininas.

    Chegamos a trocar algumas cartas quando voltei para nosso refúgio no Brasil, mas perdi seu contato depois de um tempo. Ouvi falar dela nos anos 70 e somente em 2000, antes de tu voltares a este mundo, que voltamos a nos falar. Ela é super queridinha, mas não te enganes, por trás daqueles olhos grandes há uma vampirinha fria, calculista e que certamente sabe os pontos fracos de qualquer um que entre em seu caminho.”

    Eleonor sabe exatamente como atiçar minha curiosidade e diante tal história liguei imediatamente para a tal Rebecca Erner. Marcamos um lugar público e de fácil acesso para ambos as 21 de uma noite enluarada. Preparei a Harley, tomei um belo banho e sem delongas fui ao seu encontro.

  • A Vingança de Rebecca – Parte II

    A Vingança de Rebecca – Parte II

    Eu acabei recordando o tempo em que era apaixonada pelo único professor de Francês que tive na adolescência, sempre tinha apenas professoras, até descobrir que ele era um psicopata, mas isso é outra longa história… E naquele momento, eu ainda não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Observei o que acontecia por alguns minutos, pensando no que faria em seguida, de que forma reagiria quando percebessem minha presença.

    Recostei-me na porta e olhando para minhas unhas, falei com desdém:

    – Meu querido Senhor, por que não me chamou para a festa? Vejo que realmente é insaciável, depois da noite que tivemos…

    Ele não se surpreendeu quando o encontrei com duas vadias na cama do meu quarto, que eu nem sei de onde vieram. Eu sei que no mundo de alguns vampiros essas coisas pareciam comuns, mas ele sabia que aquilo naquele momento me provocaria e até me machucaria, e era exatamente esse o propósito. Então, reagi de uma forma que nem eu mesma imaginava.  Aproximei-me das duas garotas. Estava decidida a não deixá-lo conseguir o que queria. Eu não reagiria feito uma moça iludida. Então, o provoquei como se estivesse gostando de senti-las me tocando, querendo participar da tal “festinha”. O surpreendi quando fiz parecer que até beijaria uma delas. Foi quando comecei a gargalhar nervosamente, mas de maneira estranha, digamos, demoníaca. Passei as mãos sobre os cabelos delas, e olhei bem o rosto de cada uma. Também eram jovens, bonitas. Olhei para Sr. Erner. O que será que ele pensava ou via em mim naquele momento? Queria também poder saber o que havia em sua mente. Desci minhas mãos até o pescoço das duas e sufocando-as senti que perdia o controle. Minhas unhas compridas apertaram ambas com tamanha fúria que acabei cortando a garganta de ambas. Seus corpos caíram como sacos no chão esvaindo-se…

    Silêncio. Suor. Sangue nas mãos. De onde havia surgido tanta força? Ele olhava para mim sarcasticamente, mas estava nervoso.

    Eu havia matado pela primeira vez.

  • A magia e os vampiros – pt8

    A magia e os vampiros – pt8

    Tempos atrás contei aqui a história de quando alguns integrantes da “Labraid Lámh Dhearg” vieram atrás de Hadrian. (ver A magia e os vampiros) Onde inicialmente eles quiseram levá-lo a força, e por fim depois de terem quase sucumbido aos poderem do jovem mago/vampiro, decidiram “pegar leve” e fazer tudo amigavelmente.

    Ao longo da história tivemos conhecimento de muitas sociedades, grupos ou reuniões secretas com objetivos variados. Muitas delas foram ou são na verdade apenas confrarias de cavalheiros reunidos em prol do bem mútuo, porém algumas delas são realmente em prol de algo além da realidade cotidiana.

    Como é o caso da Labraid Lámh Dhearg, cujo um de seus objetivos é a proteção da sociedade diante tantos seres sobrenaturais a solta mundo a fora. Inclusive, há quem diga que eles possuem relações próximas com a igreja católica ou com outros grupos, como aquele fundado por Christian Rosenkreuz, mas isso não vem ao caso agora.

    – Pow maninho tu não perde essa mania de usar os pulmões como um reles humano?

    Disse-me Franz assim que desembarcamos no porto de Londres e depois de eu mencionar que o cheiro do lugar me era repleto de lembranças.

    Para nossa alegria não tardou e ao longe era possível sentir a presença de nosso amigo. Ele trajava um manto vermelho escuro, que cobria todo o seu corpo e o capuz deixava apenas sua barba à mostra.  Para ser bem honesto a chegada de Hadrian me lembrou de algum filme noir. Onde o cara anda em câmera lenta, tendo ao redor de si um ambiente com poucas luzes e terrivelmente sombrio, em função da tradicional neblina da região.

    Déjà vu a parte, Hadrian se mostrou feliz em nos ver. Seu semblante transmitia cansaço, mas apesar disso estava bastante animado com nossa chegada. Tanto que estava com um taxi pronto para nos levar há um dos pubs mais badalados da cidade.

    Nesta noite colocamos os papos em dia, Hadrian nos contou de sua estadia Londrina e do quanto estava com saudades do Brasil. Eu aproveitei para ouvir todas as suas histórias e Franz garantiu as boas-vindas ao conquistar algumas garotas para o “after” no hotel.

    Por falar em hotel, fui acordado com alguns empurrões. Não foi um susto, mas assim que abri os olhos percebi que estava seminu e sentado na poltrona ao lado da cama. Para a minha alegria eu não estava sonhando e quem me trazia de volta ao mundo dos acordados era aquela beldade de bumbum empinado, chamada Claire…

  • Amores do Barão

    Amores do Barão

    Outro dia eu vos contei que o meu tio, o Barão e Líder do nosso clã, também possui algumas de suas histórias guardadas em diversos livros ou diários. Todavia, como ele está neste plano há muito tempo, mais do que a grande maioria de vocês poderiam imaginar, a linguagem que ele utiliza é muito arcaica. Então quando nos sobra tempo, Sebastian e eu fazemos algumas traduções destes materiais, sendo nossa maior expectativa, o fato de poder trazer parte da antiguidade para vocês. Esperamos que gostem de mais esta história, que ocorreu em 1312.

    Há mais ou menos quatro solstícios atrás, eu enfrentei o sofrimento da perda de minha companheira Adalheid.

    Durante muito tempo ela teve algum tipo de doença, que paralisou seus membros, inclusive perto do fim era difícil manter-me por perto, diante aquele corpo praticamente imóvel a cama. Foram vários os dias em claro pesquisando medicamento, rituais ou qualquer tipo de droga que pudesse ao menos lhe proporcionar uma breve melhora. Tantas noites em busca de conhecimentos fora de nosso castelo, que hoje eu me culpo por não ter passado mais tempo próximo de seu leito final.

    Sei que eu não deveria ocupar tanto do meu tempo com uma humana, ainda mais por que tínhamos muitos problemas para resolver. Nosso castelo ocupado durante o dia por Ghoulsera alvo de constantes tentativas de invasões ou saques, e nem mesmo aqueles pobres coitados, que viviam marginalizados nas plantações nos davam sossego.

    Adalheid tinha pouco mais de 23 anos e não queria passar por tudo o que passei. Insisti por várias vezes que ela poderia ser uma sanguessuga, talvez fosse a mais bela de todas, mas ela não suportava o fato de ter de se alimentar de sangue. Inclusive quando soube que eu agia de tal forma teve uma piora de seu estado mental. Ficou louca como dizem e inclusive me recriminou como um monstro pelo inverno inteiro. Diante os fatos, só me restou proteger sua constituição humana e zelar, que nada de pior pudesse lhe acontecer.

    Apesar de eu ter enfrentado longos anos desanimadores, recebi a duas luas atrás a notícia de que um aliado solicitou minha presença em suas terras.  Sabe-se lá o que ele quer de mim, mas servirá para distrair minhas noites e mudar o foco dos meus interesses.

    Nota: O velho Achaïkos Nileas não estava em Berlin nesta época e seu território compreendia a região da antiga Constantinopla, em meio à disputa de poder entre Latinos e Bizantinos.