Em outra noite, enquanto navegava pela internet e respondia alguns e-mails, recebi uma ligação do meu big boss, como sempre, tive que fazer uma piada ao atender.
– Ual, recebendo ligações tuas?
– Lili te ligo quase sempre, tonta!
– Diga Fê, a que devo a honra?
– Piadas a parte querida, preciso da tua ajuda.
-Minha ajuda? Então devo esperar alguns confrontos.
– Claro! Quem melhor para chamar?
– Ok boss. Time and place!
Após receber todas as coordenadas do Ferdinand, arrumei uma mochila com roupas e tudo que fosse precisar, claro, minha preciosa katana e esperei a noite seguinte. Logo que escureceu, segui até a cidadezinha onde seria o local do nosso encontro.
Estacionei o carro que havia alugado e esperei pela chegada de Ferdinand, minutos depois ao longe conseguia ouvir o forte barulho de uma moto se aproximando, logo presumi que fosse ele. Sai do carro e fiquei encostada, pude apreciar a chegada dele e ser recepcionada com um sorriso.
– Olhe para você magrela, com todo este cabelo rosa!
– Se isso for um elogio Fê, eu aceito!
– É um elogio! Combinou com você.
– Muito obrigada! Adorei a jaqueta by the way.
– Vintage minha querida. Venha cá, deixe lhe dar um abraço.
Terminado os cumprimentos e com a conversa em dia, ele finalmente me explicou o motivo do encontro. Ferdinand precisava ajudar um antigo amigo por nome Carlos. Um cacique que pelo que entendi era também um Lican. O mesmo estava preocupado com alguns sumiços estranhos, pessoas de sua aldeia ou da região, que simplesmente desapareciam sem deixar rastros. Se nem mesmo um Lican índio encontrou rastros, tire suas próprias conclusões.
– Infelizmente não poderei ir. Inclusive já estou atrasado para uma reunião com o pessoal da Mão vermelha. Por isso deixo isso em suas mãos. Ficará como um favor pessoal ente você e eu.
– Não vai se decepcionar, fique tranquilo.
– Ah mais uma coisinha… Leve este amuleto contigo, é uma Ônix especial, vai te trazer proteção e talvez um pouco de sorte.
– Muito obrigada Fê.
– Sempre que precisar. E por favor, mantenha-se intacta, eu não gostaria de dar más noticias ao Trevor.
Dizendo isso, Ferdinand voltou a sua moto e seguiu seu destino. Enquanto eu permaneci ali com um mapa cheio de coordenadas, um amuleto, uma mochila e um carro alugado, que aparentemente não me ajudaria em nada no meio da mata. Sim, no meio da mata. Afinal eu teria que chegar à tribo do Carlos.
A caminhada até a aldeia me tomou três horas e ao me aproximar do local, senti uma presença sorrateira e que me analisou minuciosamente. Entre as folhagens e a escuridão da mata, consegui ver dois grandes pontos iluminados chegando cada vez mais perto de mim. Por precaução deixei uma das minhas mãos preparada em cima da katana e a outra livre para me proteger. Dei um passo a frente, vi que os pontos pararem e ficaram ali, como se esperasse um movimento meu. Mais um passo e retirei a minha espada da bainha, outro passo e eles sumiram. Na verdade os pontos sumiram e a sensação não.
Esperei com a guarda alta. Imagine, iria me encontrar com um Lican desconhecido e aparentemente o líder da tribo, seria loucura achar que deveria ficar tranquila com esse fato. Mais alguns minutos e vejo a folhagem mexer, ainda empunhando a espada esperei cautelosamente, como felino analisando sua presa. Desta vez eu escutava passos, passos humanos, conseguia sentir o cheiro, um cheiro nada agradável, diga-se de passagem. Vi uma forma humana, e que forma humana.
Finalmente fiquei frente a frente com ele, o famoso Carlos. Alto, forte, de abdômen definido, bronzeado, longos cabelos negros que desciam até as costas, olhos escuros como se fossem duas pérolas negras. Trajado de o que me pareceu alguma folhagem para esconder sua partes intimas, as orelhas furadas com um adorno que, ao meu ver, pareciam alargadores indígenas. Estampando um grande sorriso ele veio ao meu encontro e me deu um grande abraço, senti os músculos do corpo dele e devo confessar, me senti até que bem, tirando aquele cheiro de tapete molhado. Ele me colocou no chão e ficou quieto, me olhando por alguns segundos, até que finalmente falou algo.
– Olá! Você deve ser a Lilian!
– Oi! Prazer Carlos.
– Bem que o Ferdinand me falou que era linda.
– Ah obrigada…
– Ele apenas não me falou sobre o cabelo colorido e dessa “altura toda”.
– Ah detalhes. Pois bem, aqui estou.
– Aqui está! Desculpe ter te analisado antes, precisava ter certeza que não era ninguém com más intenções.
– Tudo bem Carlos, eu te entendo.
– Bom senhorita Lilian, vamos até a minha tenda. Lá poderá ficar mais a vontade e quem sabe retirar esses panos estranhos, que vocês da cidade usam.
– Eu estou bem assim… Não me incomodo de ficar vestida.
– Não! Tem que usar algo menos ridículo, se não o povo da aldeia vai estranhar muito.
– Valeu pelo ridículo!
– De nada! Venha querida, venha.
Apesar dos pesares e das minhas roupas “ridículas”, que, aliás, eu não tirei. Carlos foi receptivo e me guiou até sua tenda, a mesma estendia-se até uma larga e profunda caverna, lugar no qual eu passaria meu dias longe do Sol. O mesmo disse que iríamos começar as buscas na noite seguinte após um ritual de proteção indígena. Consenti com a cabeça, seguindo em direção aos meus novos aposentos.
Não sei o que nos espera, fico em dúvida se vou conseguir ajudar Carlos e deixar o Trevor e Ferdinand orgulhosos. Apenas sei que no fundo desejo ajudar todos e salvar as vidas em perigo.