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  • Lilian à Reunião – Pt4

    Lilian à Reunião – Pt4

    Eu devo estar tendo algum tipo de alucinação muito doida, ou todo esse quebra cabeça não fazia o menor sentido…. Sabe aquela sensação em que parece que você viveu dentro de uma ilusão por muitos anos? Ou talvez por quase toda tua vida? Eu estava assim, me sentindo completamente sem chão, queria correr dali, mas não era a melhor opção, ainda tinha que resolver toda esta trama, dar fim nisto tudo.

    Eu precisava sentar, pensar, precisava de conselhos, mas de alguém de fora, que entendesse este sentimento de abandono, de tristeza e que mesmo assim continuou caminhando. Peguei meu celular e fui para longe da casa, perto do rio com boa recepção de sinal, procurei na agenda e lá estava ele, o único que poderia ter uma visão melhor de cada detalhe podre desta história, “Alô?”, ” Só escuta, sabe que sou eu Fê…”, “Lili? o que foi magrela, tudo bem? Diz ai…”, ” Cara, você já teve a sensação que sua vida foi virada do avesso, sem ao menos te avisarem?”, ” Claro ne, várias vezes. Tantas que nem me lembro de todas… Mas diz ai em que problemas te meteu?”, ” A minha vida acabou de tomar um rumo confuso e triste, que não sei o que fazer… resolvi te ligar pra ouvir a voz de alguém que não seja do meu clã, que não esteja nesta merda toda.”, ” Lili, cara, desenrola ai! O que aconteceu contigo?”, ” Eu estou bem, fisicamente, mas meu emocional está um lixo… Eu descobri que o cara que eu amei décadas, traiu minha confiança, me usou como uma arma de vingança e agora tô aqui, tentando pôr os pingos nos i’s e o máximo que eu consigo é perambular por estas noites sem muitas soluções…”, “Tá então o Trevor te fudeu em alguma missão?”, ” O que eu consigo dizer por hora é que eu me senti usada e nunca fui apta a perceber isso… Por que ele é tão bom em ser dissimulado, que me iludiu por décadas a fio…”, ” Magrela, eu não sei em que tipo de missão tais, mas o que eu posso te falar é pra tentar não agir com impulso! Sabes bem que na maior parte do tempo tu age impulsivamente, tipo eu, mas desta vez tenta ponderar!”, ” Eu sei, não vou fazer… Eu só preciso ficar sozinha um pouco, abstrair saca?”, ” Sei sim… Olha, tens meu apoio e sabe bem disso, se precisar me liga e desabafa ao invés de sair por ai tacando fogo em tudo que cruzar teu caminho. Vai por mim, aja com sabedoria!”, ” Pode deixar Fê, vou me lembrar disso, muito obrigada pelo conselho…”, ” Precisando me chama, sabes que meu clã pode te dar apoio total caso precise de algo, aliás, quando estiver por perto me liga que marcamos algum “rolê”. Força ai, beijão!”, “Obrigada, beijos!”.

    Apesar de eu ter me aproximado de Ferdinand a pouco tempo, eu sei que sempre posso contar com ele e vice versa, era bom ouvir o que ele tinha para falar, me dava de alguma forma, uma luz no fim do túnel.

    Voltei para a casa do lago e quando me aproximei, vi que haviam quatro motos e a presença de mais cinco vampiros no lugar, contando com o Daniel. Ao entrar pela porta minha reação não foi a das melhores, ali na minha antiga sala, sentavam-se Daniel, Michael, Ana Li, Matsuya e ele, Trevor… Dois dias haviam se passado desde que havia falado com ele, 48 malditas horas e aqui ele estava, minha vontade era de voar no pescoço dele e arrancar um pedaço e deixar uma lembrança, mas ao invés disso me lembrei do conselho do Ferdinand e apenas entrei com aquela famosa cara de poucos amigos, fui na direção de Trevor, ninguém moveu um músculo para impedir minha passagem. Fiquei frente a frente com ele, apenas o olhei por alguns segundos e então criei coragem e falei tudo que eu tinha engasgado no peito ” Sabe eu poderia até chegar a desconfiar do Daniel, mas nunca de você! O pior de tudo é que eu te amei, amei tanto a ponto de ficar cega… Mas parece que esse é um dom que eu tenho, afinal não é o primeiro vampiro a enganar todos meus sentimentos, não é mesmo?”, “Lili amor eu vim aqui…”, ” Eu realmente não quero saber o por que veio aqui! Pedir desculpas agora não vai lhe levar há lugar algum! Agora me transformar com o único intuito de destruir o Pierre para depois usufruir de todo dinheiro que seria seu por direito, afinal vocês eram sócios, enganaram a mim e quase toda a Ordem, não é mesmo Michael? Quando eu digo quase!?”, ” Você sabe que sempre te protegemos!”, ” De quem Trevor? Da sua ganância? Do teu orgulho? Do teu ego que vale mais que o sentimento de todos que estão a sua volta? De quem?” , “Mana, se acalma!”, ” Eu nunca estive tão calma Dani! Pode apostar nisso! Sabe o que vai acontecer Trevor? eu vou acabar o que eu vim fazer aqui! Vou matar teu sócio que você manteve escondido todo este tempo, você vai ter toda esta fortuna! Pode ficar tranquilo!”, “Não é apenas sobre a grana Lili, eu fiz isto por você!”, “Não fez, pode apostar que não, deixou minha mãe as margens de um assassino! Deixou que ele me levasse, para depois sair de herói! É aqui que esse filme acaba e você não vai ser nada além de uma nuvem que passou por mim!” , ” Lili volta aqui!”, ” Você não me dá mais ordens capitão!”

    Segui até minha moto e sai dali, segui em direção ao meu destino, como diz a canção:

    “Come join the murder
    Come fly with black
    We’ll give you freedom
    From the human trap
    Come join the murder
    Soar on my wings
    You’ll touch the hand of God”

    Come join the murder – The white buffalo

  • Lilian à Reunião – Pt3

    Lilian à Reunião – Pt3

    Tennessee, como era bom estar de volta, sentir os ares do lugar que eu nasci e cresci, admirar mesmo que sob o olhar cuidadoso da lua, os grandes pastos e os animais correndo livremente. Ao longe sentada apenas em uma cerca de madeira, recordei-me de momentos em que ali vivi, como andar a cavalo, os longos almoços embaixo de uma grande Choupos Tulip e sua magnifica presença, o cheiro do leite fresco e comendo o maravilhoso Banana Pudding que minha mãe nos dava o prazer de apreciar. Quando mais velha, com os meus 18 anos, adorava fugir para nadar no rio perto de casa, podendo ficar livre das roupas e mergulhar nas deliciosas água correntes.

    Tantas recordações vindo a tona e eu apenas estava aqui há duas horas, mais ou menos. Sai do meu transe nostálgico segui de volta até o hotel que estava hospedada junto ao Daniel, lá pude ver que ele havia providenciado nosso meio de transporte, “Ual! Simplesmente lindas Dani!”, “Achei que gostaria de andar por tuas terras apreciando mais de perto a paisagem!”, ” Acertou em cheio!”.

    Confesso que ao ver aquelas duas Harley ao estilo drag-bike paradas diante de mim, senti que toda motivação tinha voltado para a minha alma obscura. Enquanto sentia o tremer do motor e aquele som lindo que ele fazia, guiei Daniel até o nosso próximo destino, chegando lá, parecia que tudo voltava como um soco, todas minhas memórias, minha vida como humana. Ali estava, abandonada, pouco conservada, isolada em meio aos grandes terrenos e ao rio que a rondavam, mas ainda continuava imponente e clássica,  minha antiga casa, o lugar onde tudo começou, ” Então é aqui?”, ” Sim, vamos passar nossas próximas noites aqui…”.

    Depois que minha mãe morreu, não haviam herdeiros e também nenhum interessado na antiga casa do lago. Ela permaneceu ali, apodrecendo e sendo esquecida, alguns móveis continuavam cobertos, pertences esquecidos, quadros, algumas cortinas e nos quartos apenas existiam os antigos armários e os estrados de cama. Não era nada fácil estar ali, mas se fazia necessário. Andei e comecei a vasculhar todos os lugares, fiquei surpresa ao ver que ainda haviam coisas minhas no meu quarto, desde a minha penteadeira até algumas roupas antigas guardadas, e junto delas, escondidas em um canto escuro do meu armário,  guardadas em um lenço, achei algumas cartas… Quando me dei por conta, percebi que minha mãe havia escrito várias cartas, algumas eram anotações, outras poemas e uma especial feita para mim.

    Sentei-me na varanda do meu antigo quarto e li o que ela havia escrito…

    ” Querida Lili… 

    Como sinto falta de você, minha pequena Lili… Nunca imaginei que fosse lhe perder, todos os dias dos meus últimos anos eu pensei em você e nesta morte trágica que teve. Cheguei a sonhar com teus lindos olhos verdes, o teu sorriso toda vez que eu fazia teu doce preferido, lembra? E agora você partiu, se foi e me culpo todos os dias por ter lhe deixado ir. Eu vivi sozinha desde então, seu pai foi embora e também nunca mais voltou, mas não me fez falta, era um homem amargo e agressivo, ficar longe dele por um lado me fez bem… Enfim, escrevo isso pois sei que estou no fim de meus dias, sei que logo não estarei mais aqui neste mundo, mas quero de alguma forma deixar aqui algumas últimas palavras, pensamentos, saudades por assim dizer, expressar o que eu sinto nas palavras e não me permitir a loucura da solidão. Mas agradeço ao Pierre, por ter vindo aqui e me informado o que lhe havia acontecido, explicado que seu corpo teve que ser cremado devido a doença… Ele foi bom comigo por alguns meses após sua morte, me ajudando a superar sua perda de certa forma. Vinha me visitar algumas noites e partia quando eu estava cansada, foi um bom amigo, mas partiu também, deixando saudades, mas não a saudade que sinto de você filha… Não a saudade que eu sinto de você, minha pequena e doce Lili…”

    Pierre? Pierre veio até minha mãe? Depois da atrocidade que me fez? Como que eu nunca soube disso? Como que ninguém da Ordem soube disso? Esse canalha veio iludir minha mãe! Ele mentiu, falou que eu havia morrido de alguma doença contagiosa?! Cretino, filho de uma puta! Mas é claro que ele veio até minha mãe! Para ter certeza que eu estava morta! Que não havia sobrevivido a transformação! Que ninguém havia me salvado! Depois partiu quando teve certeza, já que fiquei por longas décadas na fortaleza da Ordem.

    “Lili?”, Daniel se aproximou e me encarou, apenas lhe entreguei a carta de minha mãe, ele leu em voz alta e quando chegou ao final, ficou tão surpreso quanto eu, ” Você não imaginava isso?”, ele olhou para mim em dúvida, balançou a cabeça em negação, ficou tão pasmo quanto eu, ” Dani, este cretino nunca saiu daqui! Ele apenas se fingiu de sombra por todos estes anos! Mas como?”, ” Lili eu não sabia, até onde sei Trevor tinha ficado encarregado de cuidar para que nada acontecesse com a sua mãe ou qualquer um que fosse relacionado com você!”, ” OH MY FUCKING GOD! Trevor! Ele sabia? Ele sabia!”, ” Vamos manter a calma Lili, Pierre pode ser muito sorrateiro e é inteligente, talvez tenha dado um jeito de distrair aqueles que cuidavam do local!”, ” Ele poderia até ser sorrateio, inteligente e um grande canalha! Mas passar por seres da Ordem é algo inédito, mesmo vindo de um vampiro antigo! Dani eu preciso falar com Trevor, ele sabe de algo, disso eu não tenho dúvidas!”

  • Os mortos não voltam – Parte I

    Os mortos não voltam – Parte I

    – Sophie, você deve estar vendo coisas. Tem certeza de que era ele?
    – Bom… Certeza, certeza eu não tenho. Mas, era muito parecido e fiquei nervosa na hora. Olha, não posso nem pensar nessa possibilidade…
    – Por que? – Falei sobressaltada – Não deveria se preocupar, até porque ele não irá atrás de você. E acho pouco provável que o que viu, seja real. Realmente acha que se ele estivesse vivo eu estaria assim…livre por todas essas décadas, e que ele só apareceria agora?
    – Enfim, tem razão…

    Sophie me olhou de um jeito estranho, semicerrando os olhos e emburrando o rosto feito criança mimada, acho que no fim das contas acabei ferindo seu ego com meu jeito sincero demais. Mas, era verdade, se de fato Sr. Erner estivesse vivo esse tempo todo, eu já não estaria por aqui para contar histórias, principalmente, depois do que fiz. Além disso, ele também não iria atrás dela para que ficasse tão exageradamente preocupada. Chegava a ser uma situação engraçada, ela uma vampira mais velha e experiente, deveria ser ao menos racional, e mesmo assim, eu estava a acalmá-la. Porém, realmente essas possibilidades estavam fora de questão, por outro lado, algo no qual eu não sabia exatamente o que era, estava acontecendo. O estranho sumiço de Lorenzo, a volta de Sophie, sem contar em pesadelos sem significados que voltavam a me perseguir nos últimos dias de sono.
    Saindo de meus pensamentos e deduções voltei meu olhar para Sophie dizendo:

    – Bom, por precaução você fica aqui hoje. Pode dormir no quarto de hóspedes, aqui no andar de baixo, fique a vontade.
    – Tudo bem, obrigada. – Falou Sophie cabisbaixa, porém mais tranquila.

    Subi para meu quarto, tomei um banho, vesti uma camisola leve e fui deitar. O primeiros raios de sol deveriam estar surgindo lá fora. Peguei no sono rapidamente, toda aquela conversa havia me deixado exausta, e estar assim tão exausta não era normal….

    “Vestida com uma túnica preta, subia uma longa escadaria até um corredor cuja as paredes eram forradas com brocado acinzentado e arabescos dourados em formatos de símbolos estranhos que reluziam como se houvesse algum reflexo solar. Meus cabelos estavam lisos e longos até o chão e arrastavam-se junto a túnica conforme meus vagarosos passos, nas mãos levava um coração humano que ainda pulsava vida e pingava sangue, deixando um rastro pelo caminho. Ao fim do corredor, uma porta vermelha iluminada abria-se enquanto me aproximava. Ao entrar, ergui os olhos e avistei Lorenzo, alto, forte, com o corpo marcado por tatuagens por mim desconhecidas, vestindo uma calça e uma capa vermelha, sentado sobre uma poltrona larga, forrada de um vermelho vivo. Nossos olhos se cruzaram, e então, me vi tomada pelo desespero e por uma dor aguda na região do estômago, os olhos de Lorenzo reviravam e tornavam-se totalmente negros, pessoas ao nosso redor surgiam como vultos igualmente vestidos por capas pretas proferindo em coro palavras sem sentido, enquanto uma enorme quantidade de sangue escorria do peito aberto de alguém que já não era Lorenzo… Era Thomas, Thomas Erner, que olhava para mim e ria demoníaca e sarcásticamente. ”

    Acordei em desespero com um grito vindo do andar de baixo, com fortes dores acabei vomitando sangue e mesmo cambaleando, consegui correr escada abaixo até o quarto de Sophie que estava em desespero, olhando frenética e paralisadamente para uma das paredes do quarto em chamas, chamas essas que formavam o tal simbolo estranho que vi em meu sonho. Corri até o extintor de incêndio e apaguei o fogo com dificuldade antes que alguém do prédio percebesse aquele alvoroço. Sentei-me no chão, vencida pelo cansaço, me sentindo totalmente sem forças. Sophie permaneceu ali, estática olhando aquele estranho símbolo que agora decorava a parede de meu quarto de hóspedes. No ar, aquela estranha energia na qual eu nunca havia sentido, até o momento. Olhei para Sophie, e percebi claramente o que estava acontecendo. Sim, ela teria que me explicar direitinho de onde viera tudo isso e porque havia me incluído em suas encrencas “bruxólicas”.

  • A hibernação de Eleonor – 2 de 2

    A hibernação de Eleonor – 2 de 2

    Eleonor acordou melhor do que nas últimas noites. Estava falante, alegre e muito bem-disposta, tanto que me perguntei de imediato, será que ela havia desistido de hibernar?

    – Fê como andam os preparativos, tudo pronto?

    – Si-sim, claro tudo bem contigo? – Falei quase que gaguejando diante tal pergunta seca.

    – Ótimo, já separei umas duas malas, sabe, coisinhas simples de mulher. Quero ter tudo a mão para quando eu voltar daqui uns anos.

    – Humm sei, joia minha querida… – Respondi receoso e cheio de dúvidas.

    – Bom vou terminar de me arrumar, me avisa quando estiver pronto…

    A noite veio como uma faca que perfura a carne, destrói os tecidos e afana a vida das inofensivas células. Trouxe também movimento, pensamentos e intenções, daquelas que apenas dois seres muito próximos poderiam confidenciar diante a eminente hibernação.

    Sinceramente, estava surpreso pela vitalidade de minha doce morena. Será que ela estava ciente de tudo o que iria acontecer? Tentei não focar na desgraça da situação, deixei as dúvidas de lado e tomei todas as providências necessárias. Reuni os principais Ghouls da fazenda, informei o que aconteceria naquela noite e depois que eles se dispersaram em seus afazeres, pude contemplar por alguns instantes as estrelas e o bonito céu daquele momento.

    Fiquei por alguns instantes viajando, pensando no tudo e no nada, até que fui surpreendido sorrateiramente por Eleonor. Ela veio de mansinho e me abraçou carinhosamente. Tentei pronunciar alguma cousa, mas não cabeia mais nada entre nós. Ficamos nessa situação por alguns instantes, até que ela não aguentou e soltou o verbo:

    – Hey, não vai falar nada? Ai Fê para, não é o fim do mundo. Só vou digamos tirar umas férias. Nem sei se você vai sentir tanta falta assim, afinal nos últimos anos desde que acordou anda bem disperso. Focado na internet, nas suas leitoras e afins…. Nem vou comentar da Beth e das outras putinhas que você andou se envolvendo.

    – Caralho, guardou tudo e me solta só agora? aff

    – Deixa quieto mi amor…

    Ficou um clima chatíssimo, afinal Eleonor sempre teve um lugar especial no meu falecido coração, mas como bom geminiano eu sou resolvi dar um pouco mais de trela, afinal tudo o que ela me disse não poderia ir para o túmulo com ela….

    – Olha, eu até entendo e bastante o teu momento, entendo que nos afastamos de tudo o que vivemos antes da minha hibernação. Só que eu tô tentando algo novo. Sei que não posso mudar tudo o que fiz ou que aproveitamos juntos. Mas ao meu ver é para isso que o ritual de hibernação foi criado. Tu passas um tempo “off” e depois podes voltar com outras expectativas. É como se nós tivéssemos a chance de renascer, quase como a alma humana. Só que não vou entrar nessa discussão. Tenho feito sim uma aproximação gigantesca com o povo dessa época, mas isso faz parte do processo de reintegração na sociedade. Com certeza tu vai passar por isso quando voltar do teu sono. Não que eu esteja ignorando o teu amor, ciúmes ou como queira chamar, mas me deixa com os meus problemas e foca nos teus. Aliás, espero que eo teu inconsciente te de estas lições assim como o meu o fez quando hibernei. Aproveita essa chance e renasça como outra vampira quando voltar.

    Suponho que ela tenha absorvido pelo menos uma parte do que eu havia lhe dito, pois ela se calou e apenas me abraçou mais forte. Na verdade, acho que ela se perdeu por alguns instantes nos seus pensamentos e tive de dar o primeiro passo.

    – Tá desculpa, não queria soltar tanta cousa assim desta forma, mas foi tu quem começou. Foca nessa cousa que eu te disse que voltar como outra vampira daqui uns anos. O tempo que ficamos juntos foi muito divertido e tu sabes que és muito importante para mim. Somos irmãos, amantes, e além disso te vejo até como uma mãe as vezes…

    – Sim gosto muito de ti também, mi amor.

    – Bom, pensa no que eu te falei por mais um tempo, vou pagar tuas malas que está na hora de irmos…

    Eleonor ficou por mais um tempo sentada perto da cerca branca. Sabe-se lá se ao menos entendeu parte do que eu lhe disse.  Porém, depois de uns 20 minutos ela foi ao meu encontro na casa, eu estava mexendo no meu celular e sentado num dos sofás da grande sala. Seu olhar era fixo e disse-me apenas: “ Vamos? ” Consenti com a cabeça, pequei suas duas malas e fomos para a cripta.

    O lugar era o mesmo de sempre, com uma entrada repleta de armadilhas, os compartimentos, as portas e fechaduras…. Ao final de uma das salas estava a tumba que preparei para Eleonor e um lugar tipo “armário” com portas e mais fechaduras onde guardei suas malas. Feito isso me posicionei a sua frente e fui direto ao ponto:

    – Quais as tuas últimas palavras, minha doce morena?

    – Eu te amo – Disse ela olhando fixamente para os meus olhos.

    Seus lindos olhos azuis brilhavam como nunca e só me restou lhe dar um longo beijo. Cheguei a me excitar a ponto de querer algo a mais. Porém, ela me segurou em determinado momento, baixou a cabeça e disse sussurrando medrosamente:

    – Começa logo… por favor!

    Não pensei, nem refleti, apenas segui me instinto e aflorei as presas. Agarrei seus braços e cravei minha boca na maior de suas veias. Senti todo aquele turbilhão de pensamentos e emoções se transmitindo entre nossas almas. Agora estávamos mais próximos do que nunca e continuei até o ponto em que ela se amoleceu. Fiquei impressionado com o seu alto controle, pois nem um gemido ela soltou.

    Lá estava eu com seu corpo desfalecido e inerte. Cheguei inclusive a pensara que por um instante sua alma me tocou, mas deve ter sido apenas a emoção do momento…. Terminei o ritual, fiz tudo que era necessário para que ela não se fosse de vez e a enterrei. Cobri todo o seu corpo e a medida que ela sumia do meu campo de visão, diversos pensamentos vinham a minha mente. Lembrei-me do momento em que nos conhecemos em Desterro, do quanto ela me parece estranha e atraente desde o momento em que vi e de boa parte dos nossos momentos juntos.

    Inclusive ao final de todo o procedimento de hibernação eu me peguei sentado ao lado de sua tumba, sujo de terra e com uma pequena pá de jardinagem em mãos. A partir daquela noite eu estava afastado de meu criador e de minha maior tutora. O que viria pela frente teria apenas como testemunho o Franz, que apesar de também ter sido meu tutor, está num nível muito próximo do meu na hierarquia do clã. Clã? Espero que eu consiga manter essa nossa união…

  • Livro Ilha da Magia primeiro capítulo

    Livro Ilha da Magia primeiro capítulo

    Depois de muita promessa eu consegui escrever pelo menos umas 200 páginas do livro Ilha da Magia e todo o mês vamos disponibilizar um novo capítulo para a leitura de vocês. Isso quer dizer que o primeiro livro ainda não foi terminado, mas ao longo dos próximos meses eu finalizo.

    Além disso, tentei escrever com um português mais simples que me foi possível, mas qualquer crítica, sugestão ou ideia será sempre bem-vinda. Estou no Twitter ou no e-mail como sempre, babe!

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  • Lilian à Reunião – Pt2

    Lilian à Reunião – Pt2

     

    ” Eu vou te fazer implorar por isso! Pedir por isso! Até que você sinta que vive por isso… Eu quero lhe ver obcecado, que acorde e durma pensando nisto! Até que eu lhe tire cada membro… Que você dê um passo a frente e veja que não tem nada além de mim lhe esperando. Agora o seu tempo é meu, acredite! Por que  oque tivemos foi atração mortal e agora eu quero tudo e você não terá nada!”

    Sentada em minha varanda, querendo abstrair tudo que me falaram alguns minutos atrás, fumei um cigarro tentando de alguma forma uma solução para meu mais novo problema, afinal minha vida é uma eterna “aventura”, para minha alegria… ¬¬’ “Lili?”, lá estava ele em toda sua glória masculina que mexia comigo por mais que eu negue, ” Trevor, em que posso ser útil?”, “Acho que sou eu quem deveria lhe perguntar isso…”, tentei esconder a minha frustração, mas a merda é que ele me conhece tão bem que mesmo se eu quisesse mentir ele saberia que era mentira, ” O que quer que eu fale T? Vocês me aparecem com essa noticia boa e cheia de ótimas recordações! Me desculpe se não estou lá na sala fazendo uma festa!”. Senti aquelas mãos familiares tocarem minhas costas  e seguirem até a altura do meu pescoço, ” Eu queria lhe dar uma noticia boa todo santo dia Lili, mas sabe que as coisas não são bem assim! E acima de tudo eu confio em você e sei que vai conseguir fazer o seu melhor e trará excelentes resultados”.

    Com um beijo em minha testa Trevor foi embora antes que amanhecesse, já eu entrei em meu quarto e deitei na cama esperando que aquilo fosse de alguma forma me confortar, “Cada dia que passa as assombrações só aumentam! Eu realmente preciso de umas férias”. Adormeci depois de alguns minutos pensando como seria minha noite seguinte.

    “Acorda dorminhoca, hora de levantar!” Ao abrir os olhos me deparo com Dani já vestido e com uma mochila nas costas, “Posso saber aonde você vai?”, perguntei ao me levantar e começar a procurar algumas roupas no armário “Acho que sair em uma longa aventura com minha irmã querida!”, senti os olhos carinhosos do meu irmão descansarem sobre mim, parei de remexer entre os montes de roupas e me voltei para Dani, lhe dei um longo abraço e sei que ele sorriu, “Você realmente achou que eu deixaria você ir sozinha? Claro que não!” sai dos fortes braços do Dani e o olhei em dúvida ” Você será capaz de destruir ele, sem sombra de dúvidas! Mas não espere que ele esteja esperando sozinho!”

    Tudo que meu irmão me falou fazia sentido, ir sozinha seria arriscado, ter ele ao meu lado apenas me ajudaria. Tratei de fazer uma mochila, me troquei com as minhas roupas normais e me encontrei na garagem com Dani, de lá iriamos pegar um avião seguindo para o nosso primeiro destino, seria uma longa busca. Para nós vampiros muitas vezes chegar até um determinado destino, mesmo que seja de avião, demoram alguns dias, devido aos horários podemos apenas viajar a noite fazendo escalas entre um país e outro.

    Depois de alguns dias conseguimos chegar na Europa, lá seguimos até uma velha amiga de Michael, conhecida por todos nós como Sra. Mun Na, esta possuía algumas informações a respeito sobre o paradeiro da nossa vítima. O problema é que a Sra. Mun Na, não viva em uma simples casa rodeada de vinte gatos, ela vivia rodeada de seguranças e para chegar até ela deveríamos possuir uma espécie de convite e apenas um poderia entrar.

    Ao chegarmos em uma enorme e bem adornada mansão vitoriana, fomos recebidos por dois seguranças que nos acompanharam até uma grande sala, lá fomos orientados que apenas eu entraria, já que o assunto era à meu respeito, “Apenas a grandona pode entrar!”, falou um dos capangas, olhei para Daniel e disse que tudo bem.

    Segui então até o quarto da antiga senhora, quando entrei lá vi que era uma oriental de idade, traços bem definidos e sem muitas surpresas, haviam gatos por todos os lados, ” Entre minha cara, aqui apenas vai obter o que deseja!”, ao me aproximar mais dela pude ver, olhos tomados pelo negro, não havia nada além de imensas bolas negras no lugar dos olhos, ” Devo perguntar ou não?”, “Jovem vampira, eu não sou uma mera velha, sou serva das trevas e as trevas me mantém neste mundo!”, acho que ela quis dizer Lúcifer ou algo do tipo, mas preferi não perguntar, “Apenas quero saber o que tens para me ajudar Sra. Mun Na…”, com facilidade aquela mulher  levantou da enorme cadeira em que estava e veio em minha direção, segurou meu queixo com uma das mãos e nos olhamos por alguns segundos até que ela finalmente falasse, “Sábio é aquele que procura no óbvio sem deixar que o complicado do mundo o atraia! Pense com o passado e veja o futuro!”

    Sai daquele lugar um tanto atordoada… Porra mas que merda, isso era hora dela me falar poema, cantiga, rima ou o caralho que fosse? Ao me deparar com Dani, ele no mesmo instante percebeu minha frustração, ” E ai como foi? Tudo bem? Descobriu algo? Ela é legal?”, eu apenas segui ele para a saída e não consegui conter a revolta ” Claro! Foi tudo bem! Ela me contou tudo em detalhes enquanto fazíamos tranças uma no cabelo da outra!”, Dani deu risada e continuou andando, ” A Sra. Mun Na falou algumas merdas mistícas, filosóficas que ela retirou de uma bosta de um biscoito da sorte!”.

    Mas que porcaria foi aquela? Cara me fez viajar até aqui pra falar isso? Sério? Se fosse assim era só ir em algum restaurante japonês, comprar a porcaria do biscoito e ler essa jóia rara que ela cuspiu pra mim!

    Enfim, agora vou te de esperar a noite seguinte em algum hotel e filosofar para onde devo seguir… Como se o mundo fosse um lugar pequeno e com escassas opções! É melhor eu sonhar com algo ou essa doida me ligar com informações  além de citações! #OHSHIT!

  • A hibernação de Eleonor – 1 de 2

    A hibernação de Eleonor – 1 de 2

    Este não é um texto normal daqueles no qual eu gosto de gerar expectativas e apreensões em vocês. Tampouco, um daqueles textos em eu encho de firula ou figuras de linguagem  afim de satisfazer aqueles que procuram algo a mais além dos livros, filmes e seriado humanos. Este é portanto um texto baseado em fatos e situações reais. Ocorreu no final da semana passada, uma data que ficará por um bom tempo em minha mente: 16/07/15, a noite em que minha linda morena decidiu hibernar por pelo menos 50 anos.

    Sendo extremamente honesto, não estou com o menor saco (paciência) para descrever todo o o procedimento aqui. Ainda estou um pouco abalado e padecendo dos efeitos de todo o processo. No entanto, é fundamental eu deixar gravado aqui e nos meus arquivos pessoais o momento exato em que Eleonor decidiu deixar esse mundo de lado por uns anos. Isso vai ser bom para mim e mais ainda para ela quando retornar. Mesmo por que eu preciso ser realista e quem sabe nem mesmo eu esteja aqui daqui 50 anos.

    Pois bem, estávamos sentados no gramado e a beira da cerca branca, aquela no qual ficam os recém-nascidos da fazenda. Nesse ano tivemos sorte e quase todas as fêmeas reproduziram, as vacas, os porcas, as ovelhas e até mesmo as cadelas. Com certeza foram os “pequenos saltitantes” que motivaram uma de nossas conversas, em meio àquela primeira noite de lua nova.

    – A vida se renova sempre e todas as gerações nos trazem aspectos do passado melhorados…

    – Não sei se essa é a teoria certa de Darwin, mas pode ser, minha querida!

    – Ai Fê, minha querida? Que deboche é esse?

    – Ahh ando tô em muitas cousas, inclusive escrevi lá no site sobre isso. Sobre o que está acontecendo contigo e comigo.

    – Eu sei que tu escreve lá frequentemente. É um bom passatempo humano, mas poxa tô aqui e temos tanto para conversar. Consegues focar o assunto aqui por favor?

    – Sabes que sou um pouco dispersivo nas conversas mas vamos lá então. E ai vais hibernar ou não.

    – Ahh para. Sabe que não é uma escolha fácil.

    – Eu sei que não, mas até quando vamos ficar nesse chove e não molha. Sabes que é complicado ter uma vampira Nômade no grupo.

    – Nômade? Hahaha de onde tirou isso? Estou me sentindo uma cigana…

    – Tirei daquele seriado Sons of Anarchy, sabe?

    – Ahn? Tá enfim, eu sei que não da pra ficar nessa Fê, mas relaxa, já tomei minha decisão.

    – E vai me enrolar até quando?

    – Eu quero hibernar!

    No momento em que ela pronunciou a palavra “hibernar”, senti um enorme vazio, meu corpo ficou adormecido e pareci que a mais dura das estacas havia perfurado meu coração duro e morto. Demorei para desenrolar os pensamentos, tanto que ela me “cutucou”.

    – Tá eu sei que não é do teu agrado mas , vai anda diz algo.

    – Olha para te ser bem honesto, não me imagino namorando ou tendo algo contigo de novo. Desbcobri depois da minha hibernação e com os estudo do mundo atual que cada um de nós é um ser completo e que não precisa da outra metade. Cousa bem diferente do eu fui no passado.

    – Para Fê, não me venha com os teus sermões filosóficos.

    – Não quero ir por esse lado, calma. Estou digerindo aqui essa situação. Tu estás comigo desde o inicio vou sentir falta de ti. Também não quero ser egoísta e vou tentar ser o mais objetivo possível…

    Fiz uma pausa, ponderei por mais alguns instantes e Eleonor me esperou.

    – Bom, vou me referir a situação como líder do nosso clã e te digo: ok, tens permissão para hibernar. Acredito que isso vai ser melhor para as tuas ideias e garantirá um ponto fraco a menos para o nosso clã. Inclusive já falei com os outros.

    – Não foi uma decisão fácil, sei que vou perder todas as mudanças atuais do mundo, mas como tu mesmo disse esses dias, o mundo atual está muito parado e estou sem objetivos para o momento.

    – Bom não vamos resumir isso. Volta lá para dentro e da mais uma pensada. Amanhã à noite resolvemos isso. Eu vou dar uma passada na cripta e deixar as cousas semi-prontas por lá. Como fizemos o procedimento com Georg a pouco tempo, vamos aproveitar algumas cousas e vai ser rápido contigo.

    Fiz a trilha que levava a cripta, um lugar de arbustos fechados e mata muito virgem. Fiz o ritual para achar a porta de entrada e cuidadosamente passei por todas as portas, fechaduras “armadilhas”, que levam ao salão principal.

    A nova iluminação funcionou muito bem e tratei de preparar a caixa de concreto que guardaria o corpo de Eleonor. Lubrifiquei algumas engrenagens, tive de usar um pouco da minha força sobrenatural e lá estava o túmulo, caixote ou como queira chamar. Um aparato com estrutura mista de concreto e aço e intensamente limpo. Como se tivesse sido limpo a poucos minutos.

    Tratei de encher com a terra que sobrou do ritual de Georg, por sorte foi o suficiente e fiz mais alguns procedimentos para adiantar o ritual de hibernação. Voltei para a sede da fazenda e não consegui dormir naquele dia. Na minha cabeça ocorreu um misto de ansiedade, com pensamento desconexos e ideias para o futuro. Inclusive liguei para Franz, que prontamente me atendeu e não quis bater muito papo. Não demonstrou muita afeição pela situação, mas também não quis entrar em detalhes. Preferiu uma saída a francesa, dando uma desculpa qualquer.

    Finalmente, depois de algumas horas anoiteceu novamente……..

  • Eleonor, vampiros e o tempo

    Eleonor, vampiros e o tempo

    “ O desenlace desta situação desigual entre um homem frio e uma mulher apaixonada parece que deverá ser a queda da mulher: foi a queda do homem. ” Ressureição – Machado de Assis

    Machado de Assis foi na minha época o que vocês chamam hoje em dia de ídolo. Alguém além do nosso tempo e que certamente era muito crítico, assim como eu. Ficou famoso por diversos contos, romances, folhetins e dramaturgias. Enfim, alguém que admiro tanto, a ponto de roubar algumas gírias, como: “Cousas”, que foi criada por ele e foi muito bem empregada em suas divagações e filosofias sobre o mundo, a sociedade e o tempo. Tempo este que será o assunto principal deste relato sobre minhas recentes noites, cujo palco foi a nossa fazenda e os atores foram na maior parte do tempo Eleonor e eu.

    Já faz tempo que a situação de minha doce morena é contada aqui para vocês e sendo bem sincero, tivemos poucas evoluções nas últimas semanas. Ao meu ver isso não é cousa de agora e pela minha experiência na existência vampírica, há momentos em que o tempo pesa demais, não somente sobre nossos ombros, mas em demasia sobre nossos pensamentos. É bem provável que seja o lado humano querendo se sobressair, mas até que ponto a humanidade de vinte e poucos anos pode influenciar uma vida centenária como um Wampir?

    Somos obrigados a conviver diariamente com humanos de todos os tipos, somos influenciados como eles pelas propagandas, imagens e até mesmo músicas do tempo atual. E talvez esta seja uma época de revisão de hábitos e costumes.

    Dormi nos anos 50 uma época em que se iniciaram diversas mudanças culturais, pelo menos no ocidente do mundo. Surgia o Rock, surgiam os biquínis pequenos, as mulheres e os negros começaram a ter uma participação de igual para igual na sociedade e resumidamente surgia uma sociedade que queria revolucionar o modo de pensar. Situação muito bem desenrolada nas décadas seguintes.

    Eleonor, que é algumas décadas mais velha que eu, viveu todas estas mudanças na sociedade. Como “mulher” vampira ela sentiu na pele o andar da carruagem do mundo. Foi discriminada por frequentar locais exclusivos aos homens. Precisou bater, matar e aniquilar e por vezes agir como “homem” para conquistar seu espaço, principalmente na sociedade vampírica. Pois vejam vocês, esta é ainda mais patriarcal e machista, que a humana.

    Atualmente, a aparência ainda conta muito e ela soube se adequar as modas. Prefere o estilo dama fatal de uns trinta e poucos e por vezes exagera no look perua fatal, mas isso é ao meu ver justificado. Anda sempre com um ghoul motorista, possui suas crenças, assim como cada um de nós e o que ela espera do mundo atual? Está errado aquele que conseguir afirmar com veemência qualquer cousa. Pois ao meu ver nestes tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade, como cantaria Renato Russo.

    Então, neste contexto de experiências vividas na carne e sofridas na alma em outrora, todos se perguntam: para onde vou? Onde estão as novas batalhas, aquela no qual eu possa investir minha vida? Na internet, naquele café “cult” de esquina ou apenas nos livros de outras épocas? As causas e os problemas mudaram e se um cara de 50 anos “patina” para entender as mudanças atuais, imagine alguém que nasceu antes da invenção da luz elétrica e que tem na alma, os calos de uma vida humana sofrida e uma vampiresca repleta de luxos fúteis.

    Eleonor, minha doce morena. Teu jeito de amante me atormenta, tua amizade me completa e teu jeito de mãe me conforta. O que será de mim sem o teu sorriso sacana, teu olhar tão frequente de desaprovação e teu abraço que me esquenta e congela? Vou precisar de outras bengalas ou será o momento de eu finalmente enfrentar sozinho meus próprios erros…!?

  • De volta a uma rotina nada normal – Final

    De volta a uma rotina nada normal – Final

    Dias e noites se passaram, e Lorenzo agraciava-me com sua companhia. Eu que sempre me senti satisfeita com a solidão e sempre fui auto-suficiente, ao final, sentia-me alegre com essas novidades.  Lorenzo estava sendo um ótimo Ghoul e percebi que de certa forma, ele já não precisava ficar trancafiado comigo em meu apartamento, sua “dependência” já era o suficiente para fazê-lo ser fiel a mim, sem que precisasse ser literalmente um prisioneiro. Já sentia um carinho por Lorenzo, a ponto de querer vê-lo bem, tendo uma vida o mais normal possível, e pensava que talvez no futuro, quem sabe, se eu não me cansasse dele, ele poderia sim ser minha cria e meu companheiro eternidade à fora.

    – Rebecca, eu tenho mesmo que ir?

    – Claro meu querido, é melhor é assim. Venha me visitar sempre, e não fale nada sobre mim para sua família.

    – Não falarei nada. Contarei sobre a surra que levei e inventarei uma história, contarei que fiquei na casa de estranhos que me acolheram, em um lugar isolado, até que eu melhorasse para ir embora.

    – Exatamente. Só espero que acreditem. – Falei gargalhando.

    – Confie em mim, minha vampirinha sádica preferida! – Falou brincando.

    Dei um beijo em Lorenzo. Piscando para mim ele partiu olhando para trás e dando tchauzinhos de vez em quando. Pensei em quanto ele era bobo, às vezes até fazia-me sentir uma humana novamente e ao mesmo tempo lembrava-me de minha perversidade de vampira, quando eu o dominava. Parecia ser um equilíbrio perfeito para mim. Alguns dias depois Lorenzo reapareceu para uma visita, saímos juntos e nos divertimos.  Nos encontrávamos com frequência. Mas, um tempo depois passei a preocupar-me. Fazia semanas que não aparecia. Eu ligava em seu celular, mas não atendia.  Fui ao seu bairro durante algumas noites, tentar encontrá-lo de longe e observá-lo, nenhum sinal. O que havia acontecido com Lorenzo? Já estava tomada pela fúria, ao imaginar que ele havia fugido. Mas, aquilo não era possível. Pelo menos certeza de que meus segredos estavam guardados eu tinha.  Depois de uma dessas tentativas, na volta para casa, parei em um pub para beber algo e pensar. Liguei para Pepe, e ela ficou de tentar localizá-lo pelo sinal do celular. Por um instante pensei que se ele fosse embora, seria melhor e se Pepe não o encontrasse eu deixaria toda aquela história de lado. Era melhor mesmo não me apegar a nada assim. Mal terminei minha conversa com Pepe e então, meu celular toca. Era Sophie.

    – Olá Rebecca. Eu… Eu preciso falar com você urgentemente. Onde está?

    – Oi… Nossa o que foi? Vou encontrá-la, fique calma.

    – Está bem.

    Encontrei Sophie na frente de meu prédio esperando. Parecia visivelmente nervosa. Aquilo era muito estranho. Quando cheguei ela olhou-me arregalada, veio correndo em minha direção e chacoalhando-me pelos ombros dizia desesperada:

    – Você o matou não o matou? Diga-me que o matou!!!

    -Para com isso! Matou quem? – Falei empurrando-a.

    – Ele Rebecca! Está de volta! Eu o vi.

    Respirei fundo. Ela estava histérica. Tive que acalmá-la e levá-la para cima. Para a idade que tinha, parecia uma criança amedrontada. Dei uma dose de conhaque a ela. Até então, eu não havia entendido nada do que estava acontecendo. Sentei ao seu lado, e com um esforço enorme para demonstrar paciência perguntei:

    – Sophie, me diga devagar. O que está acontecendo. De quem você está falando.

    Ela olhou para mim como quem diz “Sério que você não sabe do que estou falando?”. Gelei. Não era possivel. E o vi queimar e virar cinzas. Só podia ser brincadeira…

    – Eu o vi Becky. Estava aqui na frente olhando para o seu prédio, quando cheguei. Não era alucinação e…

    Enquanto ela falava desenfreadamente, meus pensamentos me levaram para longe. Seria possível? Talvez o sumiço de Lorenzo houvesse uma explicação…

  • De volta a uma rotina nada normal – Parte VII

    De volta a uma rotina nada normal – Parte VII

    Eu estava concentrada no tilintar do gelo batendo no copo de Whisky. Olhando distraída o movimento do liquido, pensando em Lorenzo, quando Sophie voltou, após precisar atender uma ligação. Até então, a conversa não havia nos levado a nada, mas já conseguia perceber que aquela vampira, mais velha e experiente que eu, queria apenas uma aproximação.

    – Eu gostaria de pedir desculpas pela forma nada cordial, na qual nos conhecemos. – Disse ela, tirando-me de meus pensamentos.

    – Hum. Realmente, sua forma de apresentação foi totalmente estranha e desnecessária. – Falei sem interesse. – Além disso, achei que seguiria seu rumo depois daquilo…

    – Bom… – Alguns minutos depois ela continuou – Vamos começar novamente? Realmente quero conhecê-la. Sou Sophie, muito prazer. – E estendeu-me a mão longa e fria.

    Fitando-a por alguns instantes, concordei embora desconfiada. Tudo bem vamos começar novamente, pensei. Estendi também minha mão, miúda e fria e a cumprimentei:

    – Você já sabe meu nome. – Falei apenas.

    – É, sei muito sobre você para falar a verdade.

    – Quem sabe um dia você me conte, então. – Falei irônica, mas interessada no assunto.

    – Claro, minha querida. Mas vejo que algo está lhe deixando nervosa. É o humano?

    Olhei- a com mais atenção. Merda! Enfim, ela também poderia ler meus pensamentos, óbvio. Revirei os olhos. Mas, senti que poderia conversar com ela a respeito. Talvez ela entendesse, ou tivesse algo útil a dizer. Pois é, logo ela, me daria conselhos relevantes. E após aquela noite, que no fim tornou-se agradável, senti que nos tornávamos amigas e que talvez ela me ajudasse de alguma forma. Sophie era simpática, gentil e tinha uma graciosidade em cada movimento conforme falava e gesticulava.  Em nada me lembrou Sr. Erner em toda nossa longa conversa, mas ao mesmo tempo revelou-se com grande personalidade. Bebemos muitos drinques e ao final, nos despedimos com um abraço, que surtiu um efeito fraternal. Voltei para casa, após uma noite estranhamente tranquila refletindo sobre as últimas palavras de Sophie naquela conversa:

    “- Lembre-se, nós somos vampiros. Não precisamos nos arrepender de nossos atos. Mas se acha que deves ponderar sobre algo, tenha consciência, nem todos somos uma cópia de Sr. Erner. Podemos não ser completamente bons, mas não precisamos ser totalmente maus…”

    Quando cheguei, tudo estava quieto. Sentei por alguns instantes, observando a noite e a cidade. Lembrei dos últimos acontecimentos. Eu gostava de Lorenzo, de sua companhia. Infelizmente, havia me apegado ao humano que em um momento impulsivo resolvi ajudar. Livrar-me dele não era o que eu queria. Após pensar por horas e já não sentindo tanta raiva, ponderei que só havia uma única solução para não colocar Lorenzo e o que eu era em risco, sem ligá-lo definitivamente a mim.

    Torná-lo um Ghoul.

  • De volta a uma rotina nada normal – Parte VI

    De volta a uma rotina nada normal – Parte VI

    Entrei no quarto, abrindo a porta bruscamente. Lorenzo estava me esperando, embora fraco. Tranquei a porta atrás de mim. Peguei algumas correntes, ele não reagiu para minha surpresa, mas ignorando meu espanto, falei enquanto o amarrava:

    – Eu ainda não sei o que vou fazer com você. O que sei é que ainda estou com muita raiva. E você merece um castigo.

    – Tudo bem. Eu não vou fugir. Pode fazer o que quiser.

    – Cala a boca seu estúpido, frouxo. Beba isso. – Falei literalmente metendo o liquido goela a baixo daquele infeliz.

    – O que vai fazer? Transformar-me?

    -Já disse para calar a boca. – Falei aos berros e depois mais calma. – É claro que não, não tenho tempo e nem disposição para cuidar de uma cria. Além disso, você não merece.

    – Não mereço? Mas é o que tem feito comigo, até então, cuidado de mim…

    Lorenzo era obediente, submisso, mas também muito atrevido. Olhei-o como quem diz “Se abrir a boca de novo arranco sua língua”, e certificando-me desnecessariamente de que estava bem preso, analisei cuidadosamente alguns materiais que ali havia, deixando- o me observar, até decidir-me por uma haste comprida, com filetes de couro nas pontas. Virei- o ajoelhado no chão e então, descontei toda minha raiva em seu corpo, deixando marcas  e hematomas terríveis eu suas costas, nádegas, peito e coxas. Quando terminei, Lorenzo encolheu-se no chão e olhou-me de canto, vencido pela dor e pelo cansaço. Ajoelhei na sua frente, observando o sangue escorrer pelo seu peito forte. Lentamente, lambi uma de suas feridas, até o pescoço, depois até a boca, beijando-o.

    – Você é um monstro, mas, inexplicavelmente eu gosto disso.  Rebecca… Eu gosto muito de você, eu acho que…Te amo.

    Parei o que estava fazendo como se tivesse levado um soco. Dei-lhe um tapa no rosto, fazendo- o  cuspir. Amor? Que tolice! Mas, Lorenzo me fez sentir algo diferente naquele momento. Sentei no chão. Coloquei sua cabeça em meu colo. E acariciando-o, falei:

    – Já chega por hoje. Durma criança…

    Algumas horas depois, deixei Lorenzo envolvido em uma manta cobrindo ao menos suas “partes” e então saí. Tomei um longo banho, cantarolando baixo para espantar o stress e a tensão. Coloquei uma calça montaria preta, saltos, blusa decotada, jaqueta de couro e deixei o cabelo solto, caindo pelas costas.  Estava saindo, precisava aproveitar a noite, o luar e pensar com calma no que fazer. Talvez passasse para conversar com Ferdinand, e pedir alguns conselhos de irmão mais velho. Mas, ele próprio já tinha seus problemas, não iria perturbá-lo com aquilo, mesmo sabendo que ele não se negaria em me ouvir alguns minutos. Peguei as chaves do carro e quando abri a porta dei de cara com ela. Sophie, convidando-me para um drinque pretendendo corrigir a má impressão da primeira e última vez que nos encontramos.

    – Você por aqui?

  • Poça de sangue

    Poça de sangue

    Texto recomendado a maiores de 16 anos: violência, sexo e sangue…

    Acordei assustado, uma sensação ruim tomava conta do meu corpo e havia várias perguntas em minha cabeça: “Onde estou, o que estou fazendo aqui…”. Era para ter sido uma incursão simples num lugar isolado e longe do centro, mas algo deu errado. Sangue por todos os lados, dois corpos nus e irreconhecíveis ao meu lado. Tudo isso ainda numa daquelas noites frias e chuvosas do hemisfério sul das américas.

    “Hey acorda porra”

    Senti alguém me chamar e alguns chute em um das minhas pernas…

    “Que merda Hector o que houve?”

    Minha visão estava embaçada. Esfreguei os olhos por alguns instantes e finalmente percebi que Ferdinand estava a minha frente. Aquilo era de certa forma um alívio, mas o que diabos aconteceu conosco?

    – Cara, o que tá rolando aqui?

    – Tu não lembras de nada, sério mesmo?

    – Até algum tempo atrás eu nem estava te reconhecendo cara!

    – Pqp levamos uma surra, mas mais uma vez entrei naquela forma horrível e quebrei tudo.

    O que Ferdinand me dizia fazia um pouco de sentido e na verdade alguns flashes apareciam. Lembranças rápidas de duas mulheres. Sim claro, nós viemos atrás de duas bruxas sodomitas. Ahh estamos  numa missão para “Os escolhidos”. Resolvi me levantar e percebi que minha calça estava arriada. Hey a cueca também estava. Inclusive que merda cara, que vergonha ter apagado desta forma. Pensei comigo.

    – Senta ai, vou te contar o que houve – Falou Ferdinand, que também estava só com as calças, aliás rasgadas e ainda esbanjava um sorriso sínico na cara.

    “Saímos daquele hotel perto da uma da manhã lembra? Marcamos um encontro com essas duas, que se diziam putas e local marcado foi aqui. Claro que já sabíamos do disfarce como garotas de programa. O que não sabíamos é que haveria magia negra nessa merda toda.

    Incialmente, ficamos com um pé atrás com o lugar, mas nos relatórios de Eliot e da polícia, havia apenas menções as tais “viúvas negras”e tu falou: “que se foda cara, vamos dar um bom susto nelas…”. Tu estavas tão confiante, que fui contagiado pela empolgação, nem pensei direto e entrei com tudo.

    Elas estavam de vestidinho curto, o lugar por dentro, como tu pode ver aqui não é tão ruim e começamos aquele papo falso de caras que estão atrás de sexo pago. Depois que acertamos o preço, tu praticamente voaste com uma delas para aquele sofá, arrancou as roupas dela e quando vi já estavam transando feito dois cachorros no cio.

    A outra estava estranha desde o início, acredito que ela tenha percebido nossa identidade vampiresca e relutou ao máximo a minha aproximação. Tentei me aproximar como um sexista safado, depois tentei dar uma de amigo e por fim agarrei ela a força. Foi ai que ela esbravejou algumas palavras em alguma linguagem bruxólica. Apertou com força os meus braço e por fim olhando em meus olhos me jogou para trás. A vadia tinha muita força e depois de me arremessar jogou várias cousas em mim. Alguns copos, talheres, uma cadeira, depois uma mesa e por fim parecia que o andar inteiro do lugar havia desabado sobre mim.

    Resolvi não dar chance para o azar e me transformei naquela forma grotesca, aproveitei para jogar algumas por cima dela e acho que sem querer alguma cousa acertou em cheio a tua cabeça. Cara, tu simplesmente caíste de cima da vadia e elas duas vieram pra cima de mim. Apesar do empenho delas em me abater eu podia sentir a tremedeira e o medo delas esvaindo pelo ar. Eu ainda estou naquelas de me concentrar para não perder a razão na transformação, mas devias ter visto foi lindo.

    Elas tentaram a mesma magia de “telekinesis”, jogaram várias tu o que o havia no lugar em cima de mim e fui desviando. Quando a primeira me deu uma braxa eu saltei em sua direção e mordi, arranhei e esmaguei. Me senti o próprio Diabo punindo alguma alma safada. Tanto que nem percebi a cabeça dela rolando pelo chão.  Em seguida a outr estava muito fraca, não senti nenhuma energia sobrenatural vindo dela e dei uma de “ghost rider”, me comuniquei por telepatia e joguei tudo o que eu consegui de profano e obsceno na fuça dela. Lebrei ela do fato de que elas estava sendo procuradas inclusive em outros países e que não ia sair impune dos 25 assassinatos que elas tinham nas costa.

    Mordi seu pescoço, macio e quente, arranquei na verdade um pedaço daquela carne podre e cuspi na própria cara dela. Mesmo assim ela se manteve em pé e lhe dei forte tapa com a mão virada. Daqueles corretivos, que todo mundo deveria levar quando faz merda e ela caiu no chão feio uma marionete.

    Voltei a minha forma normal, voltei a realidade do mundo e vim aqui pra perto de ti. Pelo visto a tua cicatrização sobrenatural ainda é boa e “tu voltou ao ar” depois de alguns chutes.”

    – Hey cara tu precisa controlar mais esse teu demônio ai, olha a merda que virou esse lugar, na boa? Tais precisando transar mais cara…

    – Eu sei, eu sei… Acho que tô estressado com tudo o que está acontecendo com a Eleonor.

    – Relaxa, vamos resolver isso aqui e esperar que teu amigo da polícia abafe o caso.

    – Sim, já liguei pra ele e avisei que deu “merda sobrenatural”. Ele tá puto, por que mais uma vez acabamos com os criminosos e vai ter de limpar tudo…