Categoria: Fan Art

O mundo é feito de experiências e cada um de nós, humano ou não, carrega diversos momentos especiais. Nos textos desta seção você irá se surpreender com os materiais enviados pelos leitores do Wampir.

  • Desabafo, dos meus desabafos

    Desabafo, dos meus desabafos

    Esse #FanArt foi enviado pela Bia e achei que a música a seguir combina.

    Desabafo, dos meus desabafos, é controlar a melancolia, que no meu peito acaricia as tantas emoções, ela somente queria, um pouco mais de harmonia e menos decepções, nos olhos dela escorriam salgadas gotas de agonia, e todas ela engolia, sem menos objeções… 

    Só ela, somente ela sabia o que ela sentia em meio a tantos turbilhões.

     Sentimentos… instalados no meio de suas emoções.

    Ela só queria calmaria, em meio a mares de confusões …

    Ninguém a queria, até ao ponto de querer deixar de existir, “se lembra do quanto era bom aqui” ?

    “Era tão bom, sim, era muito bom, lembro também disso”!.

    Me senti parte algo, mas logo tudo foi despedaçado em meio a tantas desilusões…

    O peito ardia, só ela sabia o que ela  queria, a sua janela interior ela abria, o temporal lá dentro dela caía, janela do peito, despedaçado…

    Tão dilacerado por seus segredos tão guardados, que não dirá, nem tampouco deixará de ter as suas decisões, a liberdade em sua alma, se espalha, e ao mesmo tempo se acalma em tantas situações, veja como ela é calma, ao mesmo tempo ela explode em suas próprias confissões…

    Ela vai voar, buscar o seu lugar, lugar que traga paz ao invés de arranhões, as feridas da vida, às vezes sofrida, ela cicatriza com suas próprias convicções, ela quer tudo, ela quer nada, muitas vezes desesperada, as vezes calma, ela só quer calma… 

    Devaneios da alma.

     Devaneios de  sentimentos confusos …

    Obscuros, do nada, boca calada, vontade de gritar, um grito ! silencioso, que só ela mesma poderia escutar ! 

    Devaneios dessa mente confusa, que fez a esse poema criar… 

  • Me arrrependo…

    Me arrrependo…

    Dos abraços que não dei

    Do amor que perdi, 

    Dos erros que cometi, 

    Até de tudo o que sofri.

    Se tivesse sido diferente, 

    A dor inerente, não estaria aqui. 

    As lágrimas rolam, se copiam sem cessar. 

    Será que essa dor nunca vai passar ? 

    Será que tudo isso não vai acabar.

    Somente ficará o seu olhar,

    seu jeito de abraçar, não mais sentirei o teu tocar, os teus lábios a me beijar, sua risada a me alegrar.

    Me arrependi,  dos erros que cometi, por não ter dito, o que senti, tu me quisestes  de volta pra ti.

    Eu não dei ouvidos e apenas saí.

    E a dor incessante continua aqui.

    Pois sei que pra sempre eu te perdi.

    Não tive o tempo que queria para me despedir.

    Arrancaram você de mim, a luz dos seus olhos se apagaram, com violência, de mim te tiraram, seu sangue inocente para quê derramaram ? 

    Me arrependo, 

    Pois sempre te amei, 

    Com essa dor no meu peito eu morrerei ? 

    Um amor igual ao teu eu jamais sentirei. 

    Me arrependi. 

    E até hoje choro

    Choro de tristeza, choro de raiva, 

    Choro por amor, choro de dor.

    Meu grito em silêncio, foi só o que restou…

    Me arrependi, me arrependo…Pois sempre será o meu grande e eterno amor.

    By Bia. 

    Baseado numa história real.

  • Servidão – pt3

    Servidão – pt3

    Após estacionar o carro em uma rua mais ou menos movimentada, Abdullah  se dirigiu a casa de Madame Scylla, junto com o seu corvo, que o seguia de perto, escondido por entre às árvores.

    Parando em frente a um casarão antigo, de caráter histórico, Abdullah bateu na porta com os nós dos dedos, levemente, sem fazer muito barulho.
    —Sim?

    O árabe se endireitou e, antes de entrar no casarão, estendeu o braço, de forma a receber o peso do corvo.
    —Madame Scylla se encontra, eu presumo?—Sussurrou Abdullah para o pequeno homem que atendeu a porta, um dos lacaios de madame.
    —Sim. O senhor deve ser Abdullah, não? Me siga por favor.

    Abdullah foi guiado escadaria acima até um salão de aparência modesta, com um conjunto de sofás de cor creme, onde estavam empilhados vários travesseiros de aparência macia.
    —Madame pediu para que o senhor se sentisse a vontade enquanto a espera.

    —Tudo bem.—Respondeu Abdullah, enquanto jogava algumas almofadas no chão de forma confortável para sentar em cima.
    —Não consigo me acostumar com esses costumes ocidentais…Madame Scylla não vai se incomodar se eu fumar, certo?—Perguntou, mais para puxar conversa enquanto já acendia um cigarro.

    O corvo passou a sobrevoar a saleta, a procura de um bom lugar para vigiar o cômodo inteiro. Abdullah, ao notar o nervosismo do animal, sorriu com o canto da boca:
    —Acalme-se. Não vai demorar. Madame Scylla não tem como costume deixar seus convidados esperando.

    —Certamente que não, meu caro amigo.—Uma voz de mulher veio da Janela, que se encontrava semi-aberta.—Ainda mais com um assunto tão urgente.—Madame Scylla encostou o corpo na cortina, os olhos azuis a analisar Abdullah, que continuou sentado.

    —Como vais, Maria?— sussurrou a mulher em direção ao corvo, que apenas moveu a cabeça para o lado, sem interesse.

    —Peço perdão pela familiaridade com que eu tratei suas almofadas, querida. Mas sabes como é, esses sofás são desconfortáveis demais e limitam meus movimentos.

    Madame Scylla riu baixinho, antes de se sentar em uma das poltronas:
    —Já se foi a época do conforto, não concorda, meu amigo? Eu mesma tenho tido certa dificuldade em encontrar móveis que me agradam…está tudo tão colorido, tão…ridículo.—A grega fez um gesto de desdém com a mão, sem desviar os olhos do árabe, que sorria.—Mais importante, porém: houve uma drástica mudança de planos.

    Abdullah levantou uma das sombrancelhas, intrigado, e relaxou mais o corpo entre as almofadas.
    —Deixe-me adivinhar: Ygor Pietro não quer saber de negociação nenhuma, e ao invés disso, se prepara para um conflito bélico entre os clãs?

    Scylla não demonstrou surpresa nenhuma com a pergunta, e apenas sorriu.
    —Não. Receio que você está um pouco desatualizado, meu querido. Ernst, por favor, não fique parado aí na janela, entre e fique a vontade…eu prometo quê, da minha parte, eu não mordo.

    Ernst se esquivou das cortinas e adentrou a sala, a cabeça baixa, ainda se sentindo fraco. Abdullah endireitou o corpo e fixou o olhar no rapaz, quê estremeceu.

    —Não se preocupe. Ele não irá lhe fazer mal. Por favor, sente-se sim? Ainda não estás totalmente recuperado dos últimos eventos,não é mesmo?

    —Obrigado, Madame Scylla.—sussurrou Ernst, deixando-se jogar na poltrona.

    —Pois então, meu caro,é como eu disse…mudança de planos.
    Solicita, Maria pousou de leve o corpo na beira da poltrona onde Ernst se encontrava, soltando um som amigável.

    —Não sinta pena, Maria.—Disse-lhe Abdullah, os olhos fixos no rapaz.—Ele ainda nos explicou o quê pretende ao vir aqui, voluntariamente, mesmo sabendo quê Madame Scylla queria a sua cabeça em uma bandeja de prata pelo o quê ele fez a Thomas.—Tragou um pouco mais do cigarro, voltando a relaxar o corpo. Soltou a fumaça de forma lenta e deliberada, como era de seu agrado.—Quanto a você, Sr.Ernst…Digamos quê o senhor tem muito a quê nos contar.

  • Servidão – Entre atos 2 e 3

    Servidão – Entre atos 2 e 3

    Ygor Pietro estava muito irritado. Não bastasse os erros de seu mais novo pupilo, o clã de Madame Scylla se recusava a aceitar um pagamento em espécie pela morte de um dos seus membros, Thomas E. Lloyd. Continuavam as negociações, mas a chance de o conflito, até o momento diplomático, tomar proporções militares era muito grande.

    -Me chamou, Pietro? -Uma voz feminina e calma veio da porta do salão em que o mesmo se encontrava sentado.

    -Sim, Emmanuelle, entre.

    Uma moça alta, perto de seus 30 anos de idade, olhos cinza e cabelos cortados rentes ao pescoço, em estilo militar, se curvou levemente em direção a Ygor Pietro.

    -Vejo que já está se preparando para o caso de as coisas saírem do controle com o teu irmão, não é mesmo Emma? -Comentou Pietro, os olhos fixos nas armas que a moça trazia presas ao quadril.

    -Você sabe como eu sou Ygor, e o que eu penso. Se eles querem guerra, então guerra é o que eles terão. -Respondeu Emmanuelle, a voz calma como sempre.

    -O que pretende fazer com aquele rapaz que nós capturamos?- Pietro começou a procurar pela ficha do rapaz, o âncora Daniel que, ao que parece, não se encontrava em juízo perfeito quando foi encontrado perambulando nas ruas, fugido da clínica.

    Emmanuelle alisou a parte superior de seu uniforme, desinteressada:

    -Klaus vai cuidar dele, senhor. Não tenho tido paciência para  com os humanos ultimamente, e receio que as minhas sessões de interrogação possam sair do controle.

    -Entendo. Mas não achas que o Klaus pode perder o controle bem mais cedo do que você, minha querida?

    Emmanuelle sorriu levemente, enquanto arrumava uma de suas armas no coldre.

    -Desculpe-me, senhor, mas acredito que Klaus já passou da época de perder o controle… eu, pelo contrário…

    -Está com sede, Emma? – Ygor se levantou e estendeu a mão para um cálice de cristal que se encontrava no canto da sala.

    -Um pouco. Não tive tempo de…

    -Muito trabalho, eu presumo? Klaus não tem lhe dado muita folga desde que tu voltou de Paris? Mas o que estás fazendo ainda de pé? Sente-se.

    Emmanuelle se sentou, como ordenado, e sorveu de um só gole o sangue frio do cálice que Ygor havia lhe estendido.

    -Então? Conte-me tudo, minha querida. Gosto de saber o que acontece no clã, principalmente quando eu estive um tempo fora…

    Os dois foram interrompidos por uma batida forte na porta, seguida pela entrada de Klaus, um homem na beira dos seus 35 anos, com um jaleco cheio de sangue, uma das mãos ensopadas com o mesmo líquido.

    -Senhorita Levours, sugiro que da próxima vez que empurrar uma de suas testemunhas para mim, certifique-se de que a mesma não vai me atacar durante as sessões. -Os olhos do homem estavam arregalados, um misto de surpresa e insanidade, os dentes a mostra.-Tu bem sabes que eu não possuo muita paciência para com essas crianças desmioladas de hoje em dia.

    Emmanuelle se levantou e sibilou, irritada:

    -O que tu fizestes seu monstro?! Não podes nem se dar ao trabalho de tirar essa roupa antes de vir falar conosco?

    Klaus fechou a porta de sí, os olhos adotando uma expressão divertida, sarcástica. Encostou-se na mesma, evitando a passagem de Emma, que roçou os dedos em uma de suas pistolas, em alerta.

    -Se bem me recordo, senhorita, eu não lhe dei o direito algum de se dirigir a mim de forma tão desrespeitosa. Aliás, me pergunto até quando essa raiva irascível vai durar, considerando que…

    -Não ouse.  -Sibilou Emmanuelle, o rosto em uma expressão de extremo incômodo.- Mantenha essa maldita boca fechada. Aquilo foi só um erro, não mais do que isso…

    Klaus começou a rir, uma risada baixa, controlada.

    -Um erro? Mas que curioso, eu jurava que na hora tu não pensavas dessa forma, considerando como a senhorita veio atrás de mim, desesperada por auxílio.

    Ygor Pietro, que ainda se encontrava na sala, se sentou novamente, entretido. Nada melhor que uma cena cômica que no final lhe revelasse a verdade a respeito daqueles dois, discutindo a sua frente.

    -Eu não sabia o que fazer homem. Mas ainda assim, penso que foi um enorme erro, e que o mesmo não vai voltar a se repetir. – Respondeu Emma, se aproximando da porta e parando na frente de Klaus. -Agora, se me der licença…

    Klaus estendeu ambas as mãos para cima, num gesto cômico de rendição:

    -Desculpe, mas estou um pouco cansado, e essa porta é tão sólida… Serve-me bem como apoio para as costas. Claro que, eu posso pensar em me afastar daqui se a senhorita se dispuser a falar a verdade.

    Emmanuelle soltou um palavrão baixo, em francês, e puxou a arma do coldre, encostando o cano da mesma na têmpora de Klaus, que apenas levantou a sobrancelha, divertindo-se ainda mais com a situação.

    -Semana da seca, pelo o que vejo?-Comentou ironicamente, ao mesmo tempo em que afastava a arma da própria têmpora, sem muita relutância.  -Há quantos dias tu não te alimentas direito, senhorita Levours?

    -Não é da tua conta, Klaus. Saia da minha frente, ou eu juro que te mato dessa vez.

    -Hm… Se bem me lembro, da última vez, tu me deixou em um estado bem lamentável… Mas que ainda assim foi até o meu quarto ver como eu me encontrava, cuidando de meus ferimentos, não é mesmo, senhorita?

    Antes que Emmanuelle pudesse responder, Klaus saiu da frente da porta, deixando-a passar.

    Alguns segundos de silêncio se estenderam enquanto Klaus retirava as luvas ensanguentadas e o avental, ficando apenas com a camiseta social branca e as calças pretas limpas.

    -Que cria mais complicada essa que tu veio a arranjar, não é mesmo, Klaus?- perguntou Ygor com um quê de divertimento na voz, enquanto o mais alto lhe apertava a mão, como de costume.

    -Nem me fale Ygor… Mas mais importante, como andam as negociações?

    Ygor Pietro suspirou, os olhos se fechando por alguns instantes:

    -Complicadas. O clã de Madame Scylla não quer negociar enquanto o assassino não estiver envolvido nas negociações. Chegou a tal ponto quê eles passaram as discussões para o nível militar, chamando Abdulah para tomar parte do problema.

    Klaus levantou os olhos das luvas que segurava, surpreso:

    -Abdulah? Tu não está falando de Abdulah, membro dos  Demônios do Oriente não é?

    -É dele mesmo que eu estou a falar, Klaus.

    -Mas então são três os clãs envolvidos até agora?-Perguntou o médico, curioso.

    -Precisamente. E eu estava para começar a discutir com Emma a respeito de que soluções tomar caso as negociações passem para o nível Bélico quando tu me aparece e estraga tudo. -Ygor criticou o mais jovem, que apenas sorriu, cansado.

    -Nós dois estamos cansados, a senhorita Levours e eu. Gostaria de passar umas férias na Bavária, com a moça, e tentar por lá mesmo resolver nossos assuntos…

    Ygor sorriu, cúmplice. Sabia bem aonde o alemão queria chegar.

    -Façamos o seguinte… Assim que essas negociações terminarem eu líbero vocês dois para uma viagem. Suponho que visitar a própria capital em missão não ajudou muito a Emma no quesito de férias…

    -Sinto dizer que não, Ygor. Emmanuelle não consegue se concentrar tanto quanto antes ao investigar os capturados, e passou a perder a paciência muito rápido, como tu podes ver agora.

    -Mas tu a provocou, não foi..-Ygor comentou, mais uma afirmação do que uma pergunta.

    -Parcialmente, sim. Mas eu estou apenas me esforçando para que ela me diga a verdade, e pare de mentir a respeito de nosso relacionamento. O problema, temo eu, é que não ando muito paciente tampouco.

    -Quando Ernst acordar, tu poderia vir até aqui me avisar, Klaus? É um favor que lhe peço.

    Klaus se levantou da cadeira, pôs as luvas de volta, e sorriu para o velho amigo, um sorriso honesto, sem brincadeiras ou piadas de mau gosto.

    -Certamente, senhor Pietro.

  • Servidão – pt2

    Servidão – pt2

    A alguns quilômetros do cemitério, em uma pequena cidade vizinha, o vampiro de origem egípcia Abdulah se encontrava deitado calmamente em sua cama, fumando um narguilé. Ao seu lado, dormia Maria de Assunção, sua esposa, os cabelos castanhos claros estendidos sobre o travesseiro, uma de suas mãos apoiada no peito de Abdulah, quê a acariciava de tempos em tempos…

    —Abdul… —sussurrou a moça, não mais quê um suspiro. O homem tragou um pouco mais do narguilé e o soltou em baforadas lentas, a fumaça lhe escapando dos lábios em pequenos círculos.

    —Sim? — Respondeu finalmente, os lânguidos olhos cor de mel admirando o corpo da esposa, uma ponta de desejo se formando em seu peito.

    — Por que não estás a dormir?—Maria se aproximou um pouco mais, deitando parte do corpo no peito de Abdulah, onde antes se encontrava sua mão. Tentou Puxar de leve o narguilé do mais velho, quê preguiçosamente puxou o corpo da moça para si, num abraço possessivo.

    —Tu me fez falta, mulher. —Comentou Abdul, um sorriso predador nos lábios.

    —É mesmo? Mas se fostes tu que me mandaste para a Europa, de forma a conciliar teus irmãos… —Maria sorriu, beijando de leve a face do esposo, ao mesmo tempo em que traçava círculos lentos no pescoço do mais velho, solene carícia. —Madame Scylla ligou, eu imagino… ou vai ligar, dependendo da hora.

    —Já ligou querida. Tenho de vê-la o mais rápido possível, ainda esta noite.

    Maria encostou os lábios no pescoço do egípcio, que soltou um leve suspiro, esticando o corpo, dando-lhe mais espaço.

    —Pois eu vou com você.  — Maria sorriu entre os beijos, os dedos se prendendo nos fios negros de Abdulah, que emitiu um som leve, parecido com o ronronar de um gato.

    —Não, não dessa vez. Tu ainda estás cansada da missão que eu vos encarreguei na Europa. Fique e descanse. —Respondeu-lhe o marido, ao mesmo tempo em que a beijava nos lábios, calculando lentamente quanto tempo teria para saborear a esposa, seu desejo contido a algumas semanas…

    —Mestre. Meu lugar é ao seu lado, e aonde tu fores eu irei, lhe servir de escudo… —Queixou-se a moça, interrompendo o beijo. Abdul a abraçou, ao mesmo tempo em que tentava se acalmar e não perder o controle.

    —Tu não és mais minha serva, Maria, tu bem o sabes…

    —Não, Abdulah. Eu sou ambos, tua serva e tua esposa. —Declarou firmemente Maria, os olhos verdes firmes a encarar o mais velho, que cerrou os lábios, irritado.

    Em menos de um segundo havia largado de todo o narguilé e puxado a moça para cima de si, fazendo pressão em uma certa área, os olhos cor de mel ficando um pouco vermelhos, os dentes a mostra:

    —Minha esposa, e minha serva? Tu existes solenemente para me servir? Pois bem, minha querida… — Cravou os dentes no pescoço da moça, que soltou um gemido, misto de dor e prazer.

    —Sirva-me da melhor forma que tu o podes fazer, e sacia os meus desejos…

    Mais tarde, Abdulah se encontrava na porta de casa, se preparando para sair. Ouviu passos leves atrás de si, e sorrindo preguiçosamente virou-se em direção a esposa:

    —Pensei que eu houvesse te cansado o bastante, de forma que tu não pudesses te mexer por algum tempo. Mas parece que me enganei.

    Maria, enrolada em um cardigã preto de seda, que deixava pouco a imaginação, curvou se no chão, a cabeça baixa, como fizera há tantos séculos atrás, ao jurar lhe sua lealdade:

    —Pois eu lhe disse mestre… Eu sou teu escudo, e aonde tu fores eu irei.

    Abdulah sentiu uma leve dor no peito. Esperava que um dia, Maria entendesse o quanto ela lhe era cara, amada. Que pudesse, principalmente, esquecer a forma como o egípcio a tratara no início, não mais que uma empregada a lhe servir na enorme casa que possuía, em Lisboa. Enquanto este dia não chegava, porém…

    —Me dê uma ordem, e ela será seguida. — sussurrou lhe Maria, os dentes a mostra, se preparando para a transformação.

    Abdulah passou as mãos pelo cabelo, incomodado. Com voz de comando, porém sibilou:

    —Te transformes em um corvo. Quero que fique junto a mim, durante a reunião com Madame Scylla, e que não faças um pio sequer. Nós discutiremos o que tu pensas a respeito da reunião depois, quando voltarmos.

    Maria se despiu do cardigã, ainda curvada, e se transformou em um corvo, pousando firmemente no braço de Abdulah.

    —Sim, mestre. — respondeu a moça mentalmente, os olhos negros a espreita, se preparando para o que viria a seguir…

  • Servidão – pt1

    Servidão – pt1

    A The March Hare enviou-me mais algumas histórias do vampiro Ernst, no qual compartilho com vocês abaixo:

    Servidão – Parte 1

    O cemitério de Bom Descanso era um dos mais requisitados em todo o País. Suas lápides eram todas iguais e seguiam um padrão clássico, onde todas as cruzes, santos e vasos contidos alí deveriam ser da cor branca, de modo a trazer mais paz para os seus poucos visitantes. Stephen Ernst não se encontrava nem um pouco em paz. Enterrado a alguns palmos abaixo do chão, Ernst gritava a plenos pulmões, esperando que algum conhecido imortal o ouvisse ou, (mais provavelmente) sentisse a sua fraca presença dentro daquele caixão.

    – Alguém me escute e me tire daqui! – Exclamou Ernst, o corpo dolorido devido ao longo tempo deitado na mesma posição.

    Rapaz orgulhoso, não implorava nem em uma situação tão delicada como aquela. Pensando em ninguém mais do que em seu mestre e em como o mesmo o deveria estar procurando, Ernst mal sentiu a presença de um imortal parado em cima do seu caixão, a vários metros acima do solo.

    – Me deixe sair! – Gritou Ernst, o som de sua voz a lhe machucar os ouvidos, o apertado caixão lhe proporcionando uma desagradável sensação de claustrofobia.

    “Acalme-se, criança.” Sussurrou-lhe mentalmente o estranho que se encontrava em cima de sua lápide. “Eu te tiro daí, se permaneceres quieto…”

    – Mestre! Abençoado seja! – Respondeu-lhe Ernst, os olhos cheios de lágrimas, o medo já começando a lhe tomar a razão.

    “Criança Ingrata! Não podes nem cumprir uma simples ordem, logo tu, que me implorou por uma chance de se mostrar digno do presente que eu vos dei? Eu deveria deixá-lo aí, preso por toda a eternidade!”

    Ygor Pietro se afastou da lápide e fingiu se encaminhar para a saída quando ouviu Ernst chorar, a voz baixa e subserviente que lhe dava tanto prazer:

    – Por favor, mestre, eu lhe imploro. Tires-me daqui, e eu prometo que farei o possível para pagar pelos meus erros!

    Ygor sorriu. Os alvos dentes à mostra, no rosto uma expressão mista de desdém e compaixão por aquela cria que havia apenas causado tumulto, mas que lhe era tão cara, tão amada.

    “Pois bem, Ernst. Por ser um homem benevolente, vou tirá-lo daí e levá-lo de volta para casa, para junto de seus irmãos…”.

    Ernst não teve tempo de responder, tendo uma sensação quente de paz, ao mesmo tempo em que sua consciência ia se apagando e caindo em um sono induzido, outra característica de seu mestre…

  • Pés descalços

    Pés descalços

    França, 1857

    Estou correndo no meio da floresta.
    Essa dor de cabeça insuportável está me deixando nauseada,
    meus pés tocam o solo e quebram os galhos secos, deixando rastros.
    A dor de cabeça se intensifica a ponto de meu corpo encontrar o chão bruscamente.
    Meus braços estão feridos e sangrando por conta dos pedregulhos, meu corpo se contorce freneticamente, estou caída ao chão, rendida, a agarrar os cabelos, tamanha é a dor que sinto. Meu grito é agoniante, sinto-me arrepiar, o mundo gira ao meu redor e vejo num lampejo a lua cheia e seu sorriso sádico.
    Ouço em vários estampidos de meus ossos quebrando, cada osso, desde o maior até o menor e posso sentir a dor de cada um deles. O grito agoniante que outrora estava preso na garganta, dá lugar a um uivo seco e aterrorizador que emana ódio e eriça meus pelos.

    Garras, presas, força descomunal e uma sina.

    Não, eu nunca quis isto.

    Por que comigo?

    Tudo o que quero agora é saciar este desejo sombrio que cresce inexplicavelmente aqui dentro, no mais sombrio do meu ser.

    Sim! Num gesto, minhas presas rasgam um humano desprevenido ao meio como um naco de carne e o devoro com a fúria de um demônio. O sangue inunda minha boca e a carne está espalhada por todo o lado. Quando penso em fugir, é um pouco tarde demais.

    Os caçadores se aproximam. Tudo é muito rápido.

    Será esta minha ultima noite? Mal sei o que está acontecendo comigo. Não posso…

    Morrer.

    Eles me cercam. Cutucam-me com lanças e espetam minhas mãos com suas foices afiadas. E ateiam fogo em meu corpo. Meus urros se misturam às chamas. Ajoelhada estou a contemplar a face de cada um, e parecem gostar de estarem me torturando. Vejo o sadismo estampado na cara de cada um deles enquanto minha pele se desfaz, e meus berros dão lugar à perda de consciência.

    Meus olhos se abrem e a claridade vinda de fora os inunda, e isso incomoda. Estou no céu ou no inferno?

    Em alhures, apenas em minha cama. Tudo não passou de um pesadelo terrível e agoniante. Estou pingando de suor e a respiração não é das mais controladas, mal posso perceber que continuo berrando e paro imediatamente quando me dou conta disso.

    Recomponho-me.

    Um galho bate na janela e vou abri-la.
    O vento esvoaça meus cabelos e sim, a lua cheia, sombriamente me ilumina. Sinto um arrepio e sorrio. Ela me chama.

    Será que devo ir?

     

    Nota: Este material foi enviado pela Sue e particularmente fazia tempo que eu queria ler algo diferente sobre lobisomens. Espero que ela nos mande mais relatos como este. Ferdinand

  • Sonho de verão, numa noite quente…

    Sonho de verão, numa noite quente…

    Estava escuro, já passava das 10 da noite, seu coração batia, o vento cantava e as folhas dançavam na linda noite de verão, aquela linda brisa quente batia em sua saia vermelha, fazendo o doce embalo, do ir e vir. “Já é tarde, estou atrasada!” pensou a bela dama de olhar aconchegante, começou a correr, carregava em seus braços, os livros que pegara emprestado de seu amado, Sebastian… Olhou o relógio, os ponteiros marcavam 10h30min da noite, já não precisava mais correr, encontrou seu par:
    – Por que estava correndo? Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou lhe preocupado.
    – Tive um mau pressentimento, senti que devia chegar logo… – ela disse, deu lhe um sorriso, ele retribuiu e abraçou-a; dali saíram em encontro ao romantismo, uma noite quente cuja poesia e o doce aroma do amor lhes presenteariam mais uma vez, por estarem na bela campainha da noite amiga…
    – Como esta guria pode ser tão linda?  – Ele pensou
    – Corri, porque não quero te perder, demorei muito para te encontrar… – Ela pensou, sentia-se sortuda…
    E assim esse casal magico andava em direção ao lugar especial, que nem eu mesmo sei! Pois esse local é secreto, onde só eles podem ter acesso, onde só os seres que amam podem encontrar, quem sabe um dia a gente não encontre também né!?
    E assim eu sonhei…

    Por Verônica Antonio

  • Dois dedos

    Dois dedos

    Dois dedos à testa e os mesmos ao cabelo. Pensativa, fazia igual, tensa, daquela forma, chateada, também… Não sei se vais me entender, mas aquilo era algo muito estranho…

    Pode ser que tenha vindo de sua doce mãe ou é bem possível que esteja em seu pai. O importante é que me deixou curioso… Eu queria entender de seus problemas, talvez dar minhas opiniões. Ser daquela forma não me parecia normal, porra te ponha em meu lugar, garota! Aquilo tudo fugia do que eu acreditava ser normal…

    Porém, quem sou eu para querer entender os protuberantes problemas humanos? Não sei caro mancebo, mas diante aquela tenebrosa luz de velas, ainda mais repleta de sombras, eu me sentia apenas como um cara. Talvez alguém um pouco pensativo…

    Passaram-se minutos, dias em minha cabeça e eu somente tinha atenção para o toque. Robôs, aliens, hipnotizados? Tudo passou a minha mente… Dois dedos… Por que diabos fazia tudo com o indicador e o dedo do meio “colados”???

    Fe… Feeeee… Galego……. Ferdinannnnnd! Ouvi meu nome, até meu apelido surgiu… Não, não era de outro mundo. Apenas eu sentado a frente de tal dama, a mesma dos dois dedos durante a reunião.

    Ela continua falando, exprimindo suas vontades até o fim de mais uma noite.