Andressa, uma jovem mulher beirando os seus 30 anos de idade, se encontrava em um dos dias mais estressantes de sua vida. Nunca que, em seus oito anos de carreira, a jovem repórter teve de servir como mediadora em uma situação tão propícia a dar errado como a que ela se encontrava, ali sentada ao lado do colega Daniel.
Quando o programa terminasse, Andressa iria diretamente ao diretor do Jornal expressar o seu descontentamento com a entrevista, afinal, o que o diretor Carlos Lacerda tinha na cabeça para colocar um vampiro no mesmo espaço que o doutor Arruda? Será que Carlos não conhecia a estória de vida do sociólogo, a ponto de lhe enviar um convite tão afrontoso como aquele?
Pois era o mesmo homem, o mesmo doutor ali sentado que havia perdido a sua família para um imortal como o Senhor Thomas Lloyd, a 10 anos atrás. Na época, não existia sanção alguma a respeito de humanos e sobrenaturais em termos legais de igualdade. A bem dizer, essa história de que “vampiros são mais do que ficção” nem era levada a sério, tanto que Arruda foi internado em uma “casa de repouso”, após o assassinato. Para o sociólogo, foram 6 longos meses vivendo em um inferno, o quarto fechado, os remédios mal administrados que quase o levaram ao loucura, o maldito assassino fazendo-lhe visitas semanais, a fim de aumentar-lhe a dor…
Muitos dos que estavam a assistir o programa não conhecem essa parte na vida do famoso Sociólogo Marcos Arruda. Pelo contrário, pensam que o mesmo só está ali como um adversário a altura de Thomas Lloyd, o único capaz de fornecer perguntas interessantes o bastante para que o vampiro se dê ao trabalho de respondê-las. Para Andressa, porém, a entrevista era mais do que isso, uma oportunidade de promoção, (se der tudo certo, meu Deus, eu juro, não adiarei mais aquela Romaria…) tão desejada pela jovem nos últimos 3 anos. Se tudo der certo…
-Bem, de acordo com as regras deste respeitabilíssimo jornal, o próximo a realizar uma pergunta é o senhor Thomas Lloyd. -Daniel sorriu amavelmente para ambos os convidados, dirigindo um olhar mais demorado para o sociólogo, cujos olhos teimavam em não se desviar do vampiro, que voltara a se sentar de lado.
-Muito obrigado, Daniel. Senhor Arruda, nos últimos anos, o senhor veio publicando várias matérias a respeito do que deve ser considerado sobrenatural. Em uma delas, intitulada “os inimigos da vida´´ o senhor demonstrou claramente o seu desprezo e ódio por todos os vampiros existentes neste País, bem como a outros seres considerados sobrenaturais . Como representante não só dos vampiros, mas de todos os grupos minoritários que foram agraciados com a sanção aqui em pauta, eu lhe pergunto: O que nós fizemos para o senhor? Porque tanto ódio, vindo de um homem cuja profissão é a de estudar e compreender a interação entre diferentes grupos e instituições, sempre lhes respeitando os costumes, a forma de viver?- A expressão de Thomas se tornara sombria, nem um leve traço do antigo sorriso brincalhão no rosto.
Marcos Arruda começa a rir, tenta parar, segurar o riso, não consegue, volta a fazê-lo. Andressa prende a respiração, olha para Daniel em pânico, tentando lhe passar pelos olhos o mudo pedido de ajuda. Interrompa a entrevista, Daniel, antes que o sociólogo diga alguma coisa, não lhe dê a chance de descontar todo o ódio no vampiro ali presente…
-Meu caro, – começa Arruda, os olhos a brilhar de forma senil, os lábios contorcidos em escárnio. -Tu me perguntas: qual o motivo para tamanho desrespeito, tamanho ódio? Oras, não temos todos nós o direito de odiar aquilo que nos destrói? Quando alguém, ou algo, que mesmo sem conhecê-lo, vem e tira tudo o que você tem de mais importante, tal ato não lhe dá o direito de fazer o que bem entender com o sentimento de perda? Não te dá o direito de odiar? Pois eu acredito que sim, e não duvido que mais da metade dos que estão a nos assistir pensaria da mesma forma, se passasse pelo o que eu passei.
-Então os boatos são verdade?-Pergunta-lhe Thomas, pouco se importando com as regras da entrevista. Não viera ali por formalidades, pouco lhe importando se a sanção fosse cancelada ao mais tardar. -Que o senhor, aos 39 anos, perdeu ambas mãe e filha para um assassino? Se for, isso ainda não lhe dá o direito de odiar um grupo inteiro por causa de uma ovelha negra! Como sociólogo, o senhor deveria se-Thomas foi interrompido por Andressa, que lhe estendeu a mão na frente do rosto, os olhos verdes a lhe censurar a conduta. -Senhor Arruda, peço-lhe que não leve em conta o último comentário que lhe foi dirigido pelo senhor Thomas Lloyd. O mesmo não deverá ser considerado pelos nossos telespectadores, visto que tal foi feito fora das regras anteriormente comunicadas a ambos os convidados.
Arruda, porém, não querendo deixar a oportunidade passar, respondeu mesmo assim:
-Sociólogo ou não, meu ramo de trabalho não tem nada a ver com a dor que qualquer pessoa sente ao ter sua família amada brutalmente assassinada por um monstro! E devo lhe comunicar, senhor Thomas Lloyd, que querendo o senhor ou não, é exatamente isso que a sua existência, sua e de todos os outros vampiros existentes nesse planeta, representa para mim. Os vampiros são, essencialmente, uma negação a vida, a existência. Demônios a andar pela Terra, destruindo tudo e qualquer coisa que vem a lhes contrariar a senil consciência!
Silêncio no set. Arruda, em pé, tendo levantado em alguma hora durante seu inflamado discurso, tenta retomar o fôlego, enquanto se prepara para a resposta de Thomas, que irritado, se encontra com os olhos num tom vermelho vivo, as presas a mostra. Andressa se põe no meio dos dois, amaldiçoando mentalmente Daniel, que está sentado, em choque, sem saber o que fazer.
-E com isso, senhoras e senhores, termina a nossa entrevista! Os interessados a debater sobre o assunto em pauta, favor se dirigir ao nosso site, agora com debate aberto. Desejo uma boa noite a todos!-Andressa encerra o programa de forma apressada, e o cameraman desliga a câmera, o canal agora a mostrar os comerciais.
-Devo lhes avisar que, devido a sanção, seres humanos e vampiros estão agora em pé de igualdade. Se um dos dois partir para qualquer tipo de agressão física, serei obrigada a chamar a polícia. Acrescento também que se algum dos dois vier a óbito, o outro será devidamente processado por homicídio. – Comunica-lhes a jovem, os olhos passando de um convidado para o outro. – Estou sendo clara?!
-E eu, minha cara – Responde -lhe Thomas, os olhos fixos em Arruda, as presas ainda a mostra. -vou lhe dizer, apenas uma vez: com sanção, sem sanção, este homem na minha frente é um homem morto! Não vim aqui para conversar, muito menos para discutir em entrevista alguma. Tampouco eu vim aqui tomar partido a favor da sanção, coisa mais ridícula nunca vi em meus longos anos de vida. Desde o início, o meu alvo era ele.
-Sou obrigado a comentar que essa talvez seja a primeira e última vez que eu vou concordar com um morto-vivo. Andressa, agradeço o carinho e a consideração que você tentou administrar nessa entrevista. É uma pena que a mesma vai terminar em um banho de sangue. Quanto a você, Senhor Thomas – Arruda pronuncia o nome de forma venenosa, os olhos azuis fixos no vampiro enquanto retira do casaco uma pistola semiautomática. Andressa sente um peso estranho a lhe agarrar as pernas, Daniel a soluçar descontroladamente nas pernas da moça.- Aproveite agora para comunicar aos aqui presentes as suas últimas palavras, porque eu vou te mandar para o inferno!
Thomas olha surpreso para o sociólogo. Endireita-se, respira fundo, os olhos vermelhos voltando ao tom mel. Senta-se na poltrona, gesticula com a mão, demonstrando descaso:
-Só pode ser brincadeira. Vais me matar com o quê? Com esse brinquedo, essa arma inútil que está agora em sua mão? Não sei se lhe contaram, mas balas não são a melhor forma de aniquilar um vampiro. Uma estaca talvez, um pouco de fogo. Ambas inúteis, o senhor não conseguiria chegar perto de mim antes de eu lhe matar.
Marcos Arruda sorri, enquanto carrega a arma, colocando uma bala de cada vez. Andressa se pergunta se alguém já chamou a polícia, e se a polícia vai ajudar em alguma coisa. Se recorda das palavras do diretor, estúpido para algumas coisas, sábio para outras: Se der merda, trate de concertar, eu não quero nem saber como, apenas de um jeito.
– Nós não podemos ter um pouco de calma? Senhor Arruda, o senhor aceita um café, um chá? Para o senhor Thomas, presumo que lhe seria agradável tomar uma taça de sangue, amenizar o clima, não concorda Daniel?- Andressa tenta se desvencilhar do patético colega agarrado em suas pernas, em vão.
Thomas desvia seu olhar de Arruda, e passa a admirar a jovem jornalista. Mulher bonita, mesmo que fisicamente mais velha que o vampiro. Uma pena que vai acabar morta, assim como o resto das pessoas presentes no set. Ordens de seu mestre, infelizmente.
Marcos Arruda termina de carregar a arma, mira a mesma na própria têmpora…
Escrito por The March Hare
Nossa… Gostei muito dessa parte!!
Que Bom que gostou, Ana Julia. 🙂 O que achas que vai acontecer?
Eu achava que o Thomas ai simplesmente morder o Dr. Arruda e fazer com que ele sofresse a eternidade sendo uma coisa que ele odeia!! Agora que já saiu a parte 3, vejo que eu estava errada! Porém, minha imaginação não tem fim!!
Estive em diversos locais onde não havia internet e essa última parte foi escrita pela Becky há umas três noites, mas só tive tempo de revisar hoje. Ainda essa semana vocês saberão o que fizemos com aquela pu… Traíra.
A história do Fui Traído, e agora ?- Parte 3… Você quis dizer né Fê!! Tenho certeza que todos estão ansiosos para saber o que aconteceu com Débora… Beijos.
Isso, obrigado!!! Comentei pelo painel do site no lugar errado… Cabeça na lua hoje…
Huahauhua…Escrevia a PARTE 4 Na verdade. Acho que nossos muitos anos de vida não estão ajudando nosso raciocínio ultimamente :X (Brincadeira)
Muito bom!!! A narrativa prende minha atenção o tempo todo e com o suspense melhor ainda… Parabéns!! Pode escrever mais que leio com o maior prazer! 🙂
Também 😛
Igual. ^-^