Uma entrevista descabida entre o Sociólogo Marcos Arruda e o Vampiro Thomas E.Lloyd

Achei extremamente original este conto baseado num universo paralelo, onde os sobrenaturais vivem em meio aos humanos e enviado por “The March Hare”. Espero que a continuação venha rápido….

Parte 1 – A entrevista

Andressa e Daniel, ambos âncoras do Jornal Nacional das 10 horas, preparam-se para o programa com o conteúdo mais inusual da década.

Pois num belo dia o excelentíssimo Secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, veio com a aprovação de  uma sanção (ainda que provisória e passível de reparos) em que todos os seres assombrados, fantásticos e sobrenaturais teriam o direito de (Finalmente!) aparecer em público, não só mais com a cara e a coragem, mas também com respaldo jurídico. Não sabendo o porquê, a população se encontrava ansiosa para descobrir mais sobre o assunto, o que fez com que (de acordo com a emissora),a audiência estivesse no pico.

Andressa olhava nervosa para o convidado sentado ao seu lado, um vampiro representante dos que eram a favor da nova sanção, o inglês (Recém-naturalizado Brasileiro) chamado Thomas Eleonor Lloyd, que deveria, de acordo com documentos históricos (previamente requisitados aos amigos do Jornal Inglês apresentado em solo Britânico, pertencente a mesma rede de televisão, etc.)ter falecido em 1835,em solo Londrino, por causas indeterminadas.

Do outro lado da mesa, Daniel tentava desviar a atenção do mais-do-que contra a nova sanção, Doutor Marcos Arruda (ironicamente um sociólogo),que não parava de encarar o vampiro com um olhar de puro ódio.

-Pois bem, senhor Marcos, o senhor terá direito a primeira pergunta. Por favor, tenha em mente que, apesar das 10 horas, o jornal ainda possui um seleto público infantil, e por isso a emissora pede encarecidamente que não se usem palavras de baixo calão.

Marcos Arruda desvia o olhar de Thomas por alguns instantes, os olhos frios lançando faíscas na direção do âncora Daniel:

– Tudo bem, mas posso saber por que tal observação só é dirigida a mim?

– Convenhamos, todos os que já leram algum livro seu sabem que o senhor tem uma danada de uma boca suja e que…

– Pessoal, vamos entrar no ar em 30 segundos! – Gritou-lhe o cameraman, sorrindo para os âncoras e acenando para Thomas, todo feliz da vida de finalmente conhecer um imortal. -3,2,1…!

Todos olham para a câmera, e o apresentador Daniel começa o programa:

-Boa Noite. Senhoras e Senhores, telespectadores desse respeitável jornal, após as surpreendentes solicitações do governo para que, de agora em diante, todos os seres sobrenaturais sejam considerados cidadãos da pátria e, portanto, passíveis das mesmas leis e direitos que nós, seres humanos, nós trazemos aqui em nosso programa dois convidados: O respeitável Doutor em sociologia Marcos Arruda, que se mostrou, desde o início da implementação de tais medidas governamentais, sua opinião de que a mesma não passa de uma lei sancionada pelo governo de forma a desviar a verba pública, e o mais que centenário Thomas Eleonor Lloyd, um dos primeiros seres sobrenaturais que tomaram partido da causa de integração.

-O assunto será tratado como uma entrevista, e cada convidado terá direito a três perguntas, começando pelo Doutor Marcos Arruda. – Comunicou Andressa, o sorriso radiante escondendo todo o nervosismo de a entrevista dar errado, e (Deus a livre) de o Doutor tentar sair na porrada com o outro convidado…

-Muito obrigado, Andressa. Gostaria de primeiramente comentar com vocês, telespectadores, que é um prazer estar aqui presente, de forma a desmascarar essa medida ridícula do Governo de associar a raça humana a esses monstros desumanos tidos por Vampiros, Lobisomens, Fantasmas e afins. Dito isto, apresento a minha pergunta, que é a seguinte: – Porquê depois de tantos séculos de segredos e anonimato, os senhores, ditos “seres sobrenaturais” decidiram importunar o excelentíssimo secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República com tal sanção?-Marcos Arruda terminou de ler a pergunta e, retirando seus óculos de leitura, passou novamente a fixar seu olhar de ódio para o vampiro, que apenas sorriu cordial.

-Antes de tudo, desejo uma Boa Noite a todos os que nos assistem agora, e que todos os seres não sobrenaturais estejam em suas confortáveis casas, longe de qualquer chance de acidente ou, bem… (risos) -Thomas para de falar por um instante e pisca, brincalhão, para a câmera, que dá um close in no rosto do rapaz (não mais que aparentes 20 anos, contra os velhos 49 de Marcos Arruda, já grisalho)-Respondendo a pergunta do senhor Arruda,(Doutor, sibila Arruda, se incomodando com a falta de honoríficos)nós não importunamos o Secretário de Assuntos Estratégicos, muito pelo contrário, foi ele quem nos procurou, de forma pacífica e inusitada, com uma proposta de integração, provisória é verdade, mas cheia de boas intenções.

Marcos Arruda já ia abrindo a boca para retrucar quando Thomas voltou a falar, no mesmo compasso lento e irônico com que começara:

-Aliás, devo comentar, em nome de todos os visados na sanção, que o senhor, como sociólogo, não deveria fazer uma pergunta tão descabida como essa. Pergunto aos telespectadores, principalmente aos considerados minoria, os excluídos da sociedade, se os mesmos não se sentem no mínimo incomodados com tal descaso e falta de respeito com que a sociedade vos trata, principalmente quando a mesma se diz tão inclusiva e “a favor de todos”. Ou estarei eu errado, após tantos anos de observação? – Thomas se vira de forma breve para encarar Arruda, que ofendido pela jovialidade e carisma do rapaz, já se preparava para um novo ataque…