Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • Os mortos não voltam – Parte V

    Os mortos não voltam – Parte V

    A música tocava alto demais para meus ouvidos sensíveis, e apesar de conseguir controlar isso, naquela noite eu estava extremamente desnorteada. Olhava ao redor procurando alguém com quem pudesse conversar. Alguém que fosse útil, talvez. Sophie resolveu dar uma volta com Lilian, que a todo instante perguntava se eu estava me sentindo bem, e não queria deixar-me sozinha, depois que contei os últimos acontecimentos e depois que mencionei estar com maus pressentimentos. “Relaxa um pouco e vamos nos divertir”. Sentei próxima ao balcão do barzinho e pedi uma bebida. Observando todos naquela festa, por um instante pensei que tudo aquilo era uma miserável perda de tempo. Lorenzo estava em apuros e eu estava ali, no meio daquela gente bêbada e alterada.

    – Você é daqui?

    – Oi? – Não percebi que alguém civilizado havia sentado ao meu lado.

    – Você… Nunca lhe vi por aqui. Aqui todos se conhecem…

    – Então, deve conhecer a Lilian. Vim com ela. – Falei sem olhar para ele, concentrada nas últimas gotas de meu Martini.

    – Ah sim, conheço ela de vista, Hélder, muito prazer. – Falou estendendo uma das mãos.

    Cumprimentei aquele rapaz que a principio não parecia interessante. Mas, como boa observadora que sou, percebi em seus olhos azuis outras intenções ao falar comigo. Após trocar algumas frases em meio a uma conversa desconexa, percebi que ele tinha uma tatuagem no pescoço, logo abaixo da orelha. Era um símbolo. Ele era um bruxo. Lembrei-me imediatamente do retrato de Thomas e Antoni, que por sinal, ainda estava no bolso da minha jaqueta. Minha memória visual era ótima. O símbolo tatuado naquele rapaz era o mesmo que Antoni tinha em suas mãos naquela imagem antiga. Percebi que eram do mesmo clã. Então, me perguntei se Thomas, que tinha em suas mãos o outro símbolo, o mesmo marcado na parede de meu apartamento, pertencia ao clã inimigo. Olhei para ele curiosa e ainda confusa com meus pensamentos, as peças estavam se encaixando, e acabei sendo impulsiva demais ao perguntar:

    – Você conhece algo sobre o clã de bruxos demônios? Conhece Antoni Erner?

    – Do que está falando?- perguntou surpreso, semicerrando os olhos e depois tentando disfarçar- Hahahahah, olha…acho melhor beber mais um drink, por minha conta, e vir comigo, vocês precisam esperar aqui….

    Sem entender nada, acabei tomando drinks que não devia, e havia algo na bebida que inexplicavelmente surtiu um efeito sobre mim. Não lembro como acabei indo dançar com aquele rapaz desconhecido. Mais tarde, Lilian e Sophie juntaram-se a nós estranhamente risonhas. Lembro-me que minha tensão passou por algumas horas e em alguns momentos, eu já nem sabia por que estava naquela festa. Lorenzo parecia estar ali comigo, sorrindo, dançando. Seus olhos verdes correndo sobre mim. Senti seu beijo adocicado em meio a um sorriso. De repente, uma forte dor de cabeça atingiu-me. Delirando, ouvi apenas:

    – Durma bem, minha pequena.

    Quando acordei, não sabia ao menos que horas eram. Se era noite ou se era dia. Estava zonza. Com certeza teria uma ressaca daquelas. Vi Sophie adormecida entre dois rapazes. Alguns bêbados perdidos. Encontrei-me junto a Lilian, vestindo apenas minha saia e meu sutiã. Quando dei por mim, comecei a perceber e a lembrar tudo o que havia acontecido. Caramba. A festa havia rendido. Olhei para Lilian. Nos beijamos? Pensei. Não. Foi mais do que isso. Mas havia sido bom. No momento tornou-se engraçado. Levei as mãos à cabeça. Durma bem minha pequena… Olhei ao redor. Então percebi, havia uma presença estranha e ao mesmo tempo familiar ali, nos observando.

  • Tô curtindo uma lobisomem

    Tô curtindo uma lobisomem

    Apesar da nossa missão em conjunto (A magia e os vampiros), não ter evoluído do jeito que imaginávamos, eu consegui finalmente um encontro com Claire, lembram dessa lobisomem? Aquelazinha que quase me matou, mas que depois arrancou vários suspiros…

    Pois bem, o palco desse encontro foi Londres, numa noite qualquer dos últimos meses. Franz havia tomado um rumo qualquer, h2 estava com ele e decidi retomar o contato com Claire para ver se nossas investidas haviam a ajudado em em algo. Bem na verdade eu tinha segundas, terceiras e quartas intensões ao falar com ela. Sim, como deves estar pensando sou teimoso “pra caralho”…

    Local marcado e lá estava ela ao lado de um daqueles pomposos taxis ingleses e linda como sempre. Eu por outro lado estava de moto, resolvi abrir a mão e comprei mais uma para minha coleção a clássica Norton Café Racer.

    – Hey nice bike, boy! Disse ela com tom irônico e todo aquele charmoso sotaque inglês.

    Inicialmente eu sorry, provavelmente estava com cara de idiota, mas me contive e continuei o papo. (em inglês)

    – Faltava uma destas na minha coleção, só preciso ver como vou levar para o meu “canto”. Aliás, quer dar uma volta?

    – Mas ela é monoposto onde vou sentar?

    – Isso é um problema?

    – Um pouco, mas pode ser…

    Ela sorriu, dispensou o taxi e subiu atrás de mim. Me abraçou com força e disse:

    – Nunca andei de moto, acredita?

    – Para tudo na vida e na morte há uma primeira vez babe!

    Não achei que seria tão fácil convencer ela, mas liguei a moto, lhe dei meu capacete e fui devagar no início. As estradas com muitas curvas pareciam não ter fim e acho que ela chegou a ficar enjoada em alguns momentos, pois me apertava mais e mais. Finalmente, chegamos perto de um mirante e por lá resolvi parar. O mirante ficava próximo de um povoado, com algumas casas e um “pseudocentro” comercial.

    Claire desceu meio cambaleante e se sentou em um velho banco de madeira. Por causa do capacete os seus cabelos estavam mais ondulados, o que lhe deixou ainda mais linda. Aproveitei o momento para me aproximar, mas ela foi arredia como sempre:

    – Stop… Nem vem!

    – Ok ok, calma só queria ver se está bem.

    – Estou sim…

    Peguei o capacete, coloquei pendurado no guidão da moto e quando me virei fui surpreendido por ela, que utilizou sua destreza lupina e parou com sua boca carnuda a centímetros da minha. O seu cheiro lupino estava aflorado e confesso que não era ruim, apenas forte. Por um instante ela mordeu os lábios e sim, não me aguentei segurei sua cabeça e tasquei um belo beijo.

    A verdade é que ela estava quente, fervendo e quase queimou minha pele frigida vampiresca, mas era bom! Tanto que por mim eu continuaria aquilo por horas, quando novamente fui surpreendido pela jeitosa brutalidade lupina e ela praticamente me jogou para trás. Não cheguei a cair mas foi por pouco. Olhei para ela e comentei.

    – Hey se não gostou não precisa me bater também.

    – Não, não é isso…

    Fui me reaproximando aos poucos e disse:

    – Quer falar sobre isso? Sou um bom ouvinte também.

    – Ah por agora não, quem sabe outra noite.

    – Bom eu vi um restaurante ali atrá, tá afim de comer algo?

    – Pode ser, essa volta de moto me deu fome.

    Passamos um bom tempo no restaurante, e fiquei impressionado com o gigantesco prato de Roast Beef bem malpassado que ela “destruiu” e por fim ficamos apenas na conversa. Falamos do projeto que tínhamos e não deu certo, falamos um pouco de nossas histórias pessoais e por fim chamei um taxi para leva-la para casa. Na despedida rolou um tímido “selinho”, meio boca meio bochecha e obviamente fiquei cheio de ideias.

    Fêmeas complicadas e cheias de problemas sentimentais, deve ser meu karma?

  • Os mortos não voltam – Parte IV

    Os mortos não voltam – Parte IV

    No avião, observava as nuvens escuras. Em alguns trechos, conseguia visualizar as luzes das cidades que haviam pelo caminho, tudo era tão pequeno dentro daquela imensidão. Lembrei-me de conversas que tive com Sophie a poucos minutos. Olhei para ela. Estava concentrada lendo um livro de magia, com uma de suas mechas loiras caindo sobre o rosto.  Sua expressão compenetrada e segura pouco lembrou aquela vampira apavorada de algumas horas atrás. Eu iria conhecer Antoni, e tudo o que estava acontecendo me deixava nervosa e ansiosa. Não me sentia insegura assim à anos.

    “Cresci em uma vila no interior da Índia. Minha família era muito humilde. Eu tinha 14 anos quando uma peste terrível atingiu a população, em meados de 1856. Não sei o que Thomas estava fazendo lá na época, acredito que eram negócios. Era só o que ele fazia. Negócios. Uma noite minha mãe levou-me para longe da vila e disse que eu deveria ir embora para não morrer. Foi difícil deixá-la naquela noite. Foi quando o conheci e pedindo ajuda, fui levada por ele para a Alemanha. Em troca, ele pediu para que eu o servisse com absolutamente tudo o que ele ordenasse, incluindo principalmente meu sangue, claro. Mas, Erner ficou cada vez mais doente e obcecado… Quando fiz 28 anos, ele me transformou achando que eu estaria pronta. Eu não progredia com seus métodos de ensinamento, e não fazia o menor esforço para isso. Anos depois, já casando e tendo você em seus planos, tentou me matar, pois, me tornei um peso para ele, seus objetivos já eram outros, de modo a simplesmente resolver me descartar, ele era totalmente louco… Mas, sobrevivi e fui encontrada por um senhor idoso que não tinha parentes próximos e precisava de uma cuidadora. Ele prometeu levar-me até os Estados Unidos, onde faria tratamento para uma doença. Para mim quanto mais longe de Erner, melhor, pois ele poderia descobrir que eu havia sobrevivido. Quando chegamos lá, eu fugi, pois não teria como cuidar daquele senhor, sem que ele descobrisse o que eu era. Meu destino era ser ajudada por estranhos. Meu destino era estar nas mãos deles. Entendi isso quando conheci Antoni.”

    Anos depois eu estava trancada na casa de Erner, era sua nova prisioneira, estava sobre sua”posse”. Imaginei o quanto Sophie deveria ter sofrido em suas mãos desde os 14 anos… Talvez, por isso ela me agradecesse por ter entrado no caminho daquele sádico, para então conhecer Antoni, por ironia, seu irmão, gêmeo. Desliguei-me de meus pensamentos quando o avião já estava em terra firme. Do aeroporto, tínhamos mais 40 minutos de carro. Então, meu celular vibrou no bolso da minha jaqueta.

    – Oi?

    – Eleonor? – Falei surpresa, reconhecendo sua voz.

    – Becky, como está? Liguei apenas para lhe dar um até mais.

    Por instantes fiquei em silêncio. Mas, não adiantava dizer nada que a fizesse mudar de ideia…

    – Bom ao menos lembrou de mim. Nos vemos logo?

    – Claro amiga! Nos vemos logo…

    -Hey!

    – Diga Becky.

    – Obrigada por tudo, volte logo e enquanto isso, descanse e sonhe com vampirinhos!!!

    – Hahahaha você não tem jeito….

    Era melhor assim, uma despedida como se fosse por pouco tempo. Os anos passariam rápido, temos a eternidade, e eu levava a certeza de que logo teria minha amiga comigo novamente. Ela me ensinou tantas coisas. Além disso, foi  por meio dela que conheci Ferdinand e hoje estou no clã Wampir. Depois daquela conversa, resolvi não ficar pensando na atual situação de Eleonor para não me chatear ainda mais. Então, liguei para Lilian e combinamos de nos encontrar já que estávamos por perto. Pelo que soube, Lilian também estava com alguns problemas e prometeu que após resolve-los iriamos a uma festa com alguns amigos. Apesar de ter achado estranho, afinal, não estávamos no clima para “festejar” deduzi que talvez houvesse algo que pudesse nos ajudar e que nos fosse útil: Lilian tinha amigos bruxos.

  • Lilian à Reunião – Pt5

    Lilian à Reunião – Pt5

    “Since I met you I’ve been crazy, since I’ve been with you I’ve been lost.You make everything see hazy, love comes with such a cos… Follow me down to the river,drink while the water is clean.Follow me down to the river tonight. I’ll be down here on my knees!

    “Lilian?”, uma voz bem familiar me chamou do outro lado da linha, reconheceria aquela voz de longe, “Becky, e ai como está?”, “Estou bem minha querida… E você? Soube que está fora, alias raramente te encontro no mesmo lugar!”, “Saudades? Rs”, ” Talvez, quem sabe… Hahaha!”, “Em que posso ser útil Becky?”,  “Estou seguindo para os EUA!”, ” Opa pra onde?”, “Tua terra gata!”, “Onde eu te pego?”, “Na sua moto cabem duas pessoas?”,” Não, mas tenho um querido irmão vindo atrás de mim que adoraria levar a outra amiga, se for mulher claro! kkkk”, “Então tudo certo, passo o horário certo e o local!”, “Vou resolver um assunto pendente esta noite e nos vemos amanhã logo que anoitecer! Até Becky!”, “Até Lili! Não aja muito loucamente, ok?”, “Não prometo nada!”…

    Enquanto eu estava encostada na moto esperando o Daniel e a Ana li, fiquei repassando tudo o que faria com aquele cretino do Pierre… Mas antes vamos retomar um pouco desta confusão; por todos estes anos (porque cai aqui entre nós, não foram poucos) eu fiquei sem descobrir nada sobre essa “maracutaia”,”farsa”, “falta de vergonha na cara”, chamem do que quiser, que o Trevor veio escondendo de mim… Ai eu paro e me pergunto, como? Pra que? Porque? O cara falou que o outro foi expulso e recluso para longe da Ordem jurado de morte se aparecesse por perto, que um dia eu iria me vingar do cretino que só me fudeu e agora eu descubro que o Trevor fez o favor de deixar o Pierre “vivo”, ter um negócio lucrativo com ele, deixou o cara por perto da minha mãe por alguns anos, me treinou pra matar o então “sócio” dele, se “apaixonou” por mim, tivemos basicamente um casamento de uma vida humana, pra descobrir agora que ele não vale o que bebe…….

    Puta que o pario!!!!! Que confusão do cacete, se pra mim está difícil de juntar o tico e o teco desta história, imagina pra quem está lendo isso aqui…. Enfim, vamos continuar, agora o que eu faria? Eis a questão né?! Quem pouco me conhece sabe muito bem que eu não deixaria pedra sobre pedra, até conseguir acabar com Pierre e por tudo dar uma lição no Trevor.

    Meu querido irmão Daniel e minha muito amiga Ana li, me seguiram logo que eu sai praguejando de perto do Trevor. Daniel me ligou e pediu minha localização e estava vindo atrás de mim, ele parecia tão revoltado quanto eu, percebi pela voz dele que ele tinha no minímo falado umas poucas e boas pro Trevor, sem deixar escapar qualquer detalhe do que ele estava pensando na hora.

    Alguns minutos mais tarde, perto das duas da manhã, ele e Ana Li chegam e então me dão um abraço em grupo, tenho que confessar que aquilo me deu uma animada. “Maninha! Cara nem sei o que te falar grandona…”, “Apenas me diz se esta nesta comigo…”, “Sempre Lili, sempre! Na alegria e no punho, lembra?!”, “Lembro, como esquecer? Ana Li?”, “Lili eu sempre sigo pelo correto, pode contar comigo pra chegar naquele ser imundo… Falando nisso, Trevor nos deu as coordenadas pra chegar onde ele fica…”, “Ele deu é? Daniel?”, “Minha sugestão é analisar lá antes de entrar….”, “Sigo da opinião do Daniel Lili…””Então, estamos esperando o que?”

    Liguei a moto e seguimos em direção as coordenadas que o Trevor nos tinha passado, eu sabia que no fundo ele tinha se arrependido ou não queria que nosso relacionamento caísse na merda total… Quando faltavam alguns quilômetros para chegar no local, decidi que era melhor esconder as motos e seguir a pé.

    Sabe a sensação que você tem de que vai dar algo errado? Pois é, eu estava com essa sensação… Quanto mais perto do local, mais perto de dar merda… E ai o que você faz? No meu caso, eu continuo e ai eu vejo o que fazer, por que vamos ser honestos, neste tipo de situação não dá pra ficar de esquemas mirabolantes e táticas bem planejadas, as vezes em alguns momentos da vida a gente tem que chutar o balde, bater no peito e cair pra dentro do que der e vier. Se eu desse uma bobeada o Pierre sumiria mais uma vez pra Nárnia ou pra Terra do Nunca e eu ficaria mais alguns anos atrás dele… Não né! Se você tem a chance, agarra e vai! Sem medo, coragem e persistência são atitudes que ajudam e muito em algumas situações!

    “Lili, é ali!”, falou Ana Li em um tom baixo. Olhei o terreno, senti as presenças e ou era bom demais pra ser verdade, ou era uma armadilha, sabe-se lá se aquele louco da montanha não tinha algum tipo de guarda pessoal que ficava andando pela região…. Vai saber né, daquele insano eu espero qualquer coisa!

  • 3º capítulo Ilha da Magia

    3º capítulo Ilha da Magia

    Olá minhas queridas leitoras, está no ar mais um capítulo do meu livro, repleto de novos relatos sobre minha ascensão como vampiro. Como sempre eu tentei ir direto ao ponto, resumindo alguns acontecimentos e apimentando diversas situações que precisam de mais detalhes.

    Não vou gerar spoilers aqui, mas ao revisar as mais de 40 páginas desta parte, tive muitas saudades dos meus momentos em meio a minha família humana….

    Quero ler o capítulo 3

     

  • Os mortos não voltam – Parte III

    Os mortos não voltam – Parte III

    Antoni Erner era seu nome.

    Após Sophie finalmente contar o pouco que sabia sobre ele e sua história, conclui que era tão misterioso quanto o irmão, Thomas Erner. Após uma longa conversa, decidimos que investigaríamos melhor sobre o clã de bruxos-demônios, como resolvemos chamá-los, e que iríamos em busca de Lorenzo. Afinal, eu já estava preocupada com sua vida e segurança e, depois do que fizeram em meu apartamento, eu não poderia deixar barato. Mas, para isso, segundo Sophie, precisaríamos do auxílio daquele que desejava manter-me afastada tanto dele, quanto da própria Sophie, que até então, era sua protegida. Confesso que ansiava por esse encontro, estava curiosa. Qual seria a reação dele ou me ver? Sentiria raiva por mim, ou ele não queria me conhecer por que dei fim à “não-vida” de Thomas?

    Apesar dessas preocupações, muitas outras dúvidas e questões inexplicadas pairavam sobre minha mente. Carreguei-as comigo, me sentindo exausta, e fui inquieta para meu quarto arrumar minhas malas. Iríamos fazer uma viagem longa. Depois de tudo pronto, caminhei até o escritório, fiz algumas ligações, e revirando os baús antigos de Erner, procurava alguma informação que pudesse nos auxiliar, ou ao menos esclarecer a bagunça que havia em minha cabeça após tantas novidades. Antoni seria parecido com Thomas? Isso Sophie não havia me falado. Como esses dois irmãos se separaram? Ela também não sabia explicar. Como os dois haviam se tornado vampiros? Porque Erner nunca mencionou o irmão? Como Antoni entrou para um clã de bruxos? Aliás, como Sophie conseguiu se envolver com os dois?

    Eu estava confusa. Perdida em meus questionamentos e devaneios, acabei não percebendo de imediato que uma folha havia caído em meio aquela bagunça, de um dos diários que guardava. Muitos relatos e anotações eu ainda não havia lido e talvez neles encontrasse algo. Peguei a folha nas mãos. Não era uma folha. Era um retrato, muito antigo, em preto e branco, feito com materiais desconhecidos por mim. Havia dois meninos, sentados em uma calçada de um jardim sombrio, seus olhares profundos estavam direcionados para quem pintava a imagem. Ao fundo uma casa, ou casarão, como chamava na época, com muitos andares, havia uma porta com algum enfeite pendurado e janelas largas. Nas mãos os meninos seguravam uma espécie de símbolos diferentes. Olhei com atenção. Virei a foto. “1565. 3 a” era o que estava escrito. Virei o retrato novamente. Observei os símbolos. Um deles eu havia visto a pouco tempo… Estava marcado na parede do meu quarto de hóspedes. Havia muito mais coisas envolvidas e obscuras do que eu poderia imaginar naquela história. Thomas e Antoni eram gêmeos. Se eu tivesse coração ele certamente pararia. “Gelei”. Guardei tudo rapidamente no cofre, carregando comigo apenas aquela imagem, dobrada dentro do bolso da minha jaqueta. No relógio, já eram 20:17. Alguém bateu na porta dando-me um susto.

    – Rebecca? Está na hora, vamos?

    Abri a porta de mal humor. Ahhh Sophie, porque mente para mim? Pensei.

    – Desculpe Sophie, mas não gosto que ninguém venha aqui no andar de cima sem minha permissão. Eu sei que horas são. – Falei emburrada.

    Pegamos as malas e materiais que julguei serem necessários. Sophie passou no hotel que estava, para pegar suas coisas. No caminho, liguei para Ferdinand para avisar e contar o que estava acontecendo, então, soube por ele que Lilian estaria por perto de onde iríamos. Talvez ela pudesse ajudar, ou poderíamos apenas nos encontrar para aliviar um pouco o stress. Então, pegamos meu avião particular e partimos, tínhamos algumas horas até chegar em nosso destino com segurança.

  • Os mortos não voltam – Parte II

    Os mortos não voltam – Parte II

    Sophie ficou apavorada com o olhar que dirigi a ela, mencionou até minha semelhança com Sr. Erner. De fato, eu tinha muito em comum com ele, e, acabei aprendendo com aquele sádico mestre as piores coisas, infelizmente. Mas, diferente de suas atitudes totalmente impulsivas e doentias, eu havia também aprendido com os longos anos, a ser paciente e a ponderar algumas questões antes de sair “chutando o pau da barraca” , como costuma dizer um velho amigo meu, apesar de muitas vezes o meu lado geminiano ser mais forte. Ouvi minha nova e estranha amiga com atenção, e ao final, pude perceber que, apesar de eu estar com certa raiva, suas intenções eram as melhores possíveis, mas, para nossa infelicidade, ela vinha carregada de problemas e questões obscuras que acabaram afetando e envolvendo a mim, e com certeza também a Lorenzo.

    – Então, está me dizendo que depois que Erner a abandonou você se refugiou e tornou-se membro de um clã de bruxos-vampiros que se fixaram nos Estados Unidos? Mas, o que isso tem a ver com o que está acontecendo, pode explicar?

    – Nem todos os clãs são como o nosso. Alguns existem apenas para propagar o caos e a maldade no mundo. Nosso superior, nos ensina a praticar magia por meio de energias naturais. Porém, há bruxos humanos, bruxos vampiros, entre outros, e há bruxos na qual dizemos que se originam diretamente do inferno. São uma espécie de seres que estão constantemente atrás de almas na qual possam possuir e retirar a energia e tornarem suas magias cada vez mais fortes e terríveis. São representandos por esse maldito simbolo ali na parede… – Falou apontando para o simbolo.

    Olhei para aquelas manchas e marcações feitas pelo fogo. Mas, como sempre, estava muito curiosa e intrigada com toda aquela história para me perder em meus pensamentos naquele momento, sabia que havia algo por trás de tudo aquilo. Compreendi que Sophie não tinha culpa, não totalmente, mas ela não estava me contando tudo. Tentei ler seus pensamentos, mas ela se protegia muito bem quanto a isso. Estava ficando sem paciência, odiava ser enrolada.

    – Sei de tudo isso. Pode ir direto ao ponto? – Questionei.

    – Está certo… Um desses grupos é nosso clã inimigo. Quando vim atrás de você, não pedi autorização ao meu superior e por tanto estou sem proteção, de modo que esses inimigos conseguem se aproximar e nos prejudicar de alguma forma, pois, somos seus alvos contantes. Acabei dando-lhes a chance de me pegarem, só que…

    -Só que o quê, ora, diga-me logo!

    – Acho que pegaram Lorenzo para nos atingir, atrair, melhor dizendo.

    – Eu imaginei… Mas não entendo o que ele tinha a ver com isso.

    – Na verdade, nada. – Falou Sophie com desdém – É como agem, sabiam que você procuraria por ele. Querem nos atrair, como falei. Peço desculpas, sei que fui inconsequente, mas não imaginei que te atingiriam. Se soubesse, teria tomado mais cuidado, mas cheguei a acreditar que o próprio Erner teria voltado, eles são tão manipuladores quanto ele…- Falou divagando – Além disso, não pedi autorização ao meu superior porque… ele não queria que eu viesse atrás de você.

    – Olha, nem eu, nem Lorenzo tínhamos algo a ver com suas bruxarias, mas….Calma, espera um pouco. Por que seu mestre, superior, ou o diabo que seja, não queria que você me encontrasse? Como assim manipuladores? – Eu estava zonza naquele momento, mas peguei os fatos no ar.

    Sophie me olhou arregalada, como sempre, ela e suas expressões apavoradas, percebeu que havia falado demais, pensou por alguns instantes mas, finalmente resolveu falar:

    – Porque meu superior e Sr. Erner eram irmãos.

  • Lilian à Reunião – Pt4

    Lilian à Reunião – Pt4

    Eu devo estar tendo algum tipo de alucinação muito doida, ou todo esse quebra cabeça não fazia o menor sentido…. Sabe aquela sensação em que parece que você viveu dentro de uma ilusão por muitos anos? Ou talvez por quase toda tua vida? Eu estava assim, me sentindo completamente sem chão, queria correr dali, mas não era a melhor opção, ainda tinha que resolver toda esta trama, dar fim nisto tudo.

    Eu precisava sentar, pensar, precisava de conselhos, mas de alguém de fora, que entendesse este sentimento de abandono, de tristeza e que mesmo assim continuou caminhando. Peguei meu celular e fui para longe da casa, perto do rio com boa recepção de sinal, procurei na agenda e lá estava ele, o único que poderia ter uma visão melhor de cada detalhe podre desta história, “Alô?”, ” Só escuta, sabe que sou eu Fê…”, “Lili? o que foi magrela, tudo bem? Diz ai…”, ” Cara, você já teve a sensação que sua vida foi virada do avesso, sem ao menos te avisarem?”, ” Claro ne, várias vezes. Tantas que nem me lembro de todas… Mas diz ai em que problemas te meteu?”, ” A minha vida acabou de tomar um rumo confuso e triste, que não sei o que fazer… resolvi te ligar pra ouvir a voz de alguém que não seja do meu clã, que não esteja nesta merda toda.”, ” Lili, cara, desenrola ai! O que aconteceu contigo?”, ” Eu estou bem, fisicamente, mas meu emocional está um lixo… Eu descobri que o cara que eu amei décadas, traiu minha confiança, me usou como uma arma de vingança e agora tô aqui, tentando pôr os pingos nos i’s e o máximo que eu consigo é perambular por estas noites sem muitas soluções…”, “Tá então o Trevor te fudeu em alguma missão?”, ” O que eu consigo dizer por hora é que eu me senti usada e nunca fui apta a perceber isso… Por que ele é tão bom em ser dissimulado, que me iludiu por décadas a fio…”, ” Magrela, eu não sei em que tipo de missão tais, mas o que eu posso te falar é pra tentar não agir com impulso! Sabes bem que na maior parte do tempo tu age impulsivamente, tipo eu, mas desta vez tenta ponderar!”, ” Eu sei, não vou fazer… Eu só preciso ficar sozinha um pouco, abstrair saca?”, ” Sei sim… Olha, tens meu apoio e sabe bem disso, se precisar me liga e desabafa ao invés de sair por ai tacando fogo em tudo que cruzar teu caminho. Vai por mim, aja com sabedoria!”, ” Pode deixar Fê, vou me lembrar disso, muito obrigada pelo conselho…”, ” Precisando me chama, sabes que meu clã pode te dar apoio total caso precise de algo, aliás, quando estiver por perto me liga que marcamos algum “rolê”. Força ai, beijão!”, “Obrigada, beijos!”.

    Apesar de eu ter me aproximado de Ferdinand a pouco tempo, eu sei que sempre posso contar com ele e vice versa, era bom ouvir o que ele tinha para falar, me dava de alguma forma, uma luz no fim do túnel.

    Voltei para a casa do lago e quando me aproximei, vi que haviam quatro motos e a presença de mais cinco vampiros no lugar, contando com o Daniel. Ao entrar pela porta minha reação não foi a das melhores, ali na minha antiga sala, sentavam-se Daniel, Michael, Ana Li, Matsuya e ele, Trevor… Dois dias haviam se passado desde que havia falado com ele, 48 malditas horas e aqui ele estava, minha vontade era de voar no pescoço dele e arrancar um pedaço e deixar uma lembrança, mas ao invés disso me lembrei do conselho do Ferdinand e apenas entrei com aquela famosa cara de poucos amigos, fui na direção de Trevor, ninguém moveu um músculo para impedir minha passagem. Fiquei frente a frente com ele, apenas o olhei por alguns segundos e então criei coragem e falei tudo que eu tinha engasgado no peito ” Sabe eu poderia até chegar a desconfiar do Daniel, mas nunca de você! O pior de tudo é que eu te amei, amei tanto a ponto de ficar cega… Mas parece que esse é um dom que eu tenho, afinal não é o primeiro vampiro a enganar todos meus sentimentos, não é mesmo?”, “Lili amor eu vim aqui…”, ” Eu realmente não quero saber o por que veio aqui! Pedir desculpas agora não vai lhe levar há lugar algum! Agora me transformar com o único intuito de destruir o Pierre para depois usufruir de todo dinheiro que seria seu por direito, afinal vocês eram sócios, enganaram a mim e quase toda a Ordem, não é mesmo Michael? Quando eu digo quase!?”, ” Você sabe que sempre te protegemos!”, ” De quem Trevor? Da sua ganância? Do teu orgulho? Do teu ego que vale mais que o sentimento de todos que estão a sua volta? De quem?” , “Mana, se acalma!”, ” Eu nunca estive tão calma Dani! Pode apostar nisso! Sabe o que vai acontecer Trevor? eu vou acabar o que eu vim fazer aqui! Vou matar teu sócio que você manteve escondido todo este tempo, você vai ter toda esta fortuna! Pode ficar tranquilo!”, “Não é apenas sobre a grana Lili, eu fiz isto por você!”, “Não fez, pode apostar que não, deixou minha mãe as margens de um assassino! Deixou que ele me levasse, para depois sair de herói! É aqui que esse filme acaba e você não vai ser nada além de uma nuvem que passou por mim!” , ” Lili volta aqui!”, ” Você não me dá mais ordens capitão!”

    Segui até minha moto e sai dali, segui em direção ao meu destino, como diz a canção:

    “Come join the murder
    Come fly with black
    We’ll give you freedom
    From the human trap
    Come join the murder
    Soar on my wings
    You’ll touch the hand of God”

    Come join the murder – The white buffalo

  • Segundo capitulo Ilha da Magia

    Segundo capitulo Ilha da Magia

    Hey people, acabei de publicar na página do livro o segundo capítulo do meu livro. Como este capítulo ficou um pouco menor que o anterior eu resolvi liberar ainda este mês. Muitos estão me pedindo para soltar mais capítulos por mês mas isso está em discussão, pois além de revisar duas ou três vezes antes de publicar, em muitos eu ainda estou trabalhando.

    Sobre o que aconteceu neste capítulo eu não vou fazer spoiler, mas garanto que ele conta uma parte muito importante da existência de qualquer vampiro. Divirtam-se!

  • Lilian à Reunião – Pt3

    Lilian à Reunião – Pt3

    Tennessee, como era bom estar de volta, sentir os ares do lugar que eu nasci e cresci, admirar mesmo que sob o olhar cuidadoso da lua, os grandes pastos e os animais correndo livremente. Ao longe sentada apenas em uma cerca de madeira, recordei-me de momentos em que ali vivi, como andar a cavalo, os longos almoços embaixo de uma grande Choupos Tulip e sua magnifica presença, o cheiro do leite fresco e comendo o maravilhoso Banana Pudding que minha mãe nos dava o prazer de apreciar. Quando mais velha, com os meus 18 anos, adorava fugir para nadar no rio perto de casa, podendo ficar livre das roupas e mergulhar nas deliciosas água correntes.

    Tantas recordações vindo a tona e eu apenas estava aqui há duas horas, mais ou menos. Sai do meu transe nostálgico segui de volta até o hotel que estava hospedada junto ao Daniel, lá pude ver que ele havia providenciado nosso meio de transporte, “Ual! Simplesmente lindas Dani!”, “Achei que gostaria de andar por tuas terras apreciando mais de perto a paisagem!”, ” Acertou em cheio!”.

    Confesso que ao ver aquelas duas Harley ao estilo drag-bike paradas diante de mim, senti que toda motivação tinha voltado para a minha alma obscura. Enquanto sentia o tremer do motor e aquele som lindo que ele fazia, guiei Daniel até o nosso próximo destino, chegando lá, parecia que tudo voltava como um soco, todas minhas memórias, minha vida como humana. Ali estava, abandonada, pouco conservada, isolada em meio aos grandes terrenos e ao rio que a rondavam, mas ainda continuava imponente e clássica,  minha antiga casa, o lugar onde tudo começou, ” Então é aqui?”, ” Sim, vamos passar nossas próximas noites aqui…”.

    Depois que minha mãe morreu, não haviam herdeiros e também nenhum interessado na antiga casa do lago. Ela permaneceu ali, apodrecendo e sendo esquecida, alguns móveis continuavam cobertos, pertences esquecidos, quadros, algumas cortinas e nos quartos apenas existiam os antigos armários e os estrados de cama. Não era nada fácil estar ali, mas se fazia necessário. Andei e comecei a vasculhar todos os lugares, fiquei surpresa ao ver que ainda haviam coisas minhas no meu quarto, desde a minha penteadeira até algumas roupas antigas guardadas, e junto delas, escondidas em um canto escuro do meu armário,  guardadas em um lenço, achei algumas cartas… Quando me dei por conta, percebi que minha mãe havia escrito várias cartas, algumas eram anotações, outras poemas e uma especial feita para mim.

    Sentei-me na varanda do meu antigo quarto e li o que ela havia escrito…

    ” Querida Lili… 

    Como sinto falta de você, minha pequena Lili… Nunca imaginei que fosse lhe perder, todos os dias dos meus últimos anos eu pensei em você e nesta morte trágica que teve. Cheguei a sonhar com teus lindos olhos verdes, o teu sorriso toda vez que eu fazia teu doce preferido, lembra? E agora você partiu, se foi e me culpo todos os dias por ter lhe deixado ir. Eu vivi sozinha desde então, seu pai foi embora e também nunca mais voltou, mas não me fez falta, era um homem amargo e agressivo, ficar longe dele por um lado me fez bem… Enfim, escrevo isso pois sei que estou no fim de meus dias, sei que logo não estarei mais aqui neste mundo, mas quero de alguma forma deixar aqui algumas últimas palavras, pensamentos, saudades por assim dizer, expressar o que eu sinto nas palavras e não me permitir a loucura da solidão. Mas agradeço ao Pierre, por ter vindo aqui e me informado o que lhe havia acontecido, explicado que seu corpo teve que ser cremado devido a doença… Ele foi bom comigo por alguns meses após sua morte, me ajudando a superar sua perda de certa forma. Vinha me visitar algumas noites e partia quando eu estava cansada, foi um bom amigo, mas partiu também, deixando saudades, mas não a saudade que sinto de você filha… Não a saudade que eu sinto de você, minha pequena e doce Lili…”

    Pierre? Pierre veio até minha mãe? Depois da atrocidade que me fez? Como que eu nunca soube disso? Como que ninguém da Ordem soube disso? Esse canalha veio iludir minha mãe! Ele mentiu, falou que eu havia morrido de alguma doença contagiosa?! Cretino, filho de uma puta! Mas é claro que ele veio até minha mãe! Para ter certeza que eu estava morta! Que não havia sobrevivido a transformação! Que ninguém havia me salvado! Depois partiu quando teve certeza, já que fiquei por longas décadas na fortaleza da Ordem.

    “Lili?”, Daniel se aproximou e me encarou, apenas lhe entreguei a carta de minha mãe, ele leu em voz alta e quando chegou ao final, ficou tão surpreso quanto eu, ” Você não imaginava isso?”, ele olhou para mim em dúvida, balançou a cabeça em negação, ficou tão pasmo quanto eu, ” Dani, este cretino nunca saiu daqui! Ele apenas se fingiu de sombra por todos estes anos! Mas como?”, ” Lili eu não sabia, até onde sei Trevor tinha ficado encarregado de cuidar para que nada acontecesse com a sua mãe ou qualquer um que fosse relacionado com você!”, ” OH MY FUCKING GOD! Trevor! Ele sabia? Ele sabia!”, ” Vamos manter a calma Lili, Pierre pode ser muito sorrateiro e é inteligente, talvez tenha dado um jeito de distrair aqueles que cuidavam do local!”, ” Ele poderia até ser sorrateio, inteligente e um grande canalha! Mas passar por seres da Ordem é algo inédito, mesmo vindo de um vampiro antigo! Dani eu preciso falar com Trevor, ele sabe de algo, disso eu não tenho dúvidas!”

  • Os mortos não voltam – Parte I

    Os mortos não voltam – Parte I

    – Sophie, você deve estar vendo coisas. Tem certeza de que era ele?
    – Bom… Certeza, certeza eu não tenho. Mas, era muito parecido e fiquei nervosa na hora. Olha, não posso nem pensar nessa possibilidade…
    – Por que? – Falei sobressaltada – Não deveria se preocupar, até porque ele não irá atrás de você. E acho pouco provável que o que viu, seja real. Realmente acha que se ele estivesse vivo eu estaria assim…livre por todas essas décadas, e que ele só apareceria agora?
    – Enfim, tem razão…

    Sophie me olhou de um jeito estranho, semicerrando os olhos e emburrando o rosto feito criança mimada, acho que no fim das contas acabei ferindo seu ego com meu jeito sincero demais. Mas, era verdade, se de fato Sr. Erner estivesse vivo esse tempo todo, eu já não estaria por aqui para contar histórias, principalmente, depois do que fiz. Além disso, ele também não iria atrás dela para que ficasse tão exageradamente preocupada. Chegava a ser uma situação engraçada, ela uma vampira mais velha e experiente, deveria ser ao menos racional, e mesmo assim, eu estava a acalmá-la. Porém, realmente essas possibilidades estavam fora de questão, por outro lado, algo no qual eu não sabia exatamente o que era, estava acontecendo. O estranho sumiço de Lorenzo, a volta de Sophie, sem contar em pesadelos sem significados que voltavam a me perseguir nos últimos dias de sono.
    Saindo de meus pensamentos e deduções voltei meu olhar para Sophie dizendo:

    – Bom, por precaução você fica aqui hoje. Pode dormir no quarto de hóspedes, aqui no andar de baixo, fique a vontade.
    – Tudo bem, obrigada. – Falou Sophie cabisbaixa, porém mais tranquila.

    Subi para meu quarto, tomei um banho, vesti uma camisola leve e fui deitar. O primeiros raios de sol deveriam estar surgindo lá fora. Peguei no sono rapidamente, toda aquela conversa havia me deixado exausta, e estar assim tão exausta não era normal….

    “Vestida com uma túnica preta, subia uma longa escadaria até um corredor cuja as paredes eram forradas com brocado acinzentado e arabescos dourados em formatos de símbolos estranhos que reluziam como se houvesse algum reflexo solar. Meus cabelos estavam lisos e longos até o chão e arrastavam-se junto a túnica conforme meus vagarosos passos, nas mãos levava um coração humano que ainda pulsava vida e pingava sangue, deixando um rastro pelo caminho. Ao fim do corredor, uma porta vermelha iluminada abria-se enquanto me aproximava. Ao entrar, ergui os olhos e avistei Lorenzo, alto, forte, com o corpo marcado por tatuagens por mim desconhecidas, vestindo uma calça e uma capa vermelha, sentado sobre uma poltrona larga, forrada de um vermelho vivo. Nossos olhos se cruzaram, e então, me vi tomada pelo desespero e por uma dor aguda na região do estômago, os olhos de Lorenzo reviravam e tornavam-se totalmente negros, pessoas ao nosso redor surgiam como vultos igualmente vestidos por capas pretas proferindo em coro palavras sem sentido, enquanto uma enorme quantidade de sangue escorria do peito aberto de alguém que já não era Lorenzo… Era Thomas, Thomas Erner, que olhava para mim e ria demoníaca e sarcásticamente. ”

    Acordei em desespero com um grito vindo do andar de baixo, com fortes dores acabei vomitando sangue e mesmo cambaleando, consegui correr escada abaixo até o quarto de Sophie que estava em desespero, olhando frenética e paralisadamente para uma das paredes do quarto em chamas, chamas essas que formavam o tal simbolo estranho que vi em meu sonho. Corri até o extintor de incêndio e apaguei o fogo com dificuldade antes que alguém do prédio percebesse aquele alvoroço. Sentei-me no chão, vencida pelo cansaço, me sentindo totalmente sem forças. Sophie permaneceu ali, estática olhando aquele estranho símbolo que agora decorava a parede de meu quarto de hóspedes. No ar, aquela estranha energia na qual eu nunca havia sentido, até o momento. Olhei para Sophie, e percebi claramente o que estava acontecendo. Sim, ela teria que me explicar direitinho de onde viera tudo isso e porque havia me incluído em suas encrencas “bruxólicas”.

  • A hibernação de Eleonor – 2 de 2

    A hibernação de Eleonor – 2 de 2

    Eleonor acordou melhor do que nas últimas noites. Estava falante, alegre e muito bem-disposta, tanto que me perguntei de imediato, será que ela havia desistido de hibernar?

    – Fê como andam os preparativos, tudo pronto?

    – Si-sim, claro tudo bem contigo? – Falei quase que gaguejando diante tal pergunta seca.

    – Ótimo, já separei umas duas malas, sabe, coisinhas simples de mulher. Quero ter tudo a mão para quando eu voltar daqui uns anos.

    – Humm sei, joia minha querida… – Respondi receoso e cheio de dúvidas.

    – Bom vou terminar de me arrumar, me avisa quando estiver pronto…

    A noite veio como uma faca que perfura a carne, destrói os tecidos e afana a vida das inofensivas células. Trouxe também movimento, pensamentos e intenções, daquelas que apenas dois seres muito próximos poderiam confidenciar diante a eminente hibernação.

    Sinceramente, estava surpreso pela vitalidade de minha doce morena. Será que ela estava ciente de tudo o que iria acontecer? Tentei não focar na desgraça da situação, deixei as dúvidas de lado e tomei todas as providências necessárias. Reuni os principais Ghouls da fazenda, informei o que aconteceria naquela noite e depois que eles se dispersaram em seus afazeres, pude contemplar por alguns instantes as estrelas e o bonito céu daquele momento.

    Fiquei por alguns instantes viajando, pensando no tudo e no nada, até que fui surpreendido sorrateiramente por Eleonor. Ela veio de mansinho e me abraçou carinhosamente. Tentei pronunciar alguma cousa, mas não cabeia mais nada entre nós. Ficamos nessa situação por alguns instantes, até que ela não aguentou e soltou o verbo:

    – Hey, não vai falar nada? Ai Fê para, não é o fim do mundo. Só vou digamos tirar umas férias. Nem sei se você vai sentir tanta falta assim, afinal nos últimos anos desde que acordou anda bem disperso. Focado na internet, nas suas leitoras e afins…. Nem vou comentar da Beth e das outras putinhas que você andou se envolvendo.

    – Caralho, guardou tudo e me solta só agora? aff

    – Deixa quieto mi amor…

    Ficou um clima chatíssimo, afinal Eleonor sempre teve um lugar especial no meu falecido coração, mas como bom geminiano eu sou resolvi dar um pouco mais de trela, afinal tudo o que ela me disse não poderia ir para o túmulo com ela….

    – Olha, eu até entendo e bastante o teu momento, entendo que nos afastamos de tudo o que vivemos antes da minha hibernação. Só que eu tô tentando algo novo. Sei que não posso mudar tudo o que fiz ou que aproveitamos juntos. Mas ao meu ver é para isso que o ritual de hibernação foi criado. Tu passas um tempo “off” e depois podes voltar com outras expectativas. É como se nós tivéssemos a chance de renascer, quase como a alma humana. Só que não vou entrar nessa discussão. Tenho feito sim uma aproximação gigantesca com o povo dessa época, mas isso faz parte do processo de reintegração na sociedade. Com certeza tu vai passar por isso quando voltar do teu sono. Não que eu esteja ignorando o teu amor, ciúmes ou como queira chamar, mas me deixa com os meus problemas e foca nos teus. Aliás, espero que eo teu inconsciente te de estas lições assim como o meu o fez quando hibernei. Aproveita essa chance e renasça como outra vampira quando voltar.

    Suponho que ela tenha absorvido pelo menos uma parte do que eu havia lhe dito, pois ela se calou e apenas me abraçou mais forte. Na verdade, acho que ela se perdeu por alguns instantes nos seus pensamentos e tive de dar o primeiro passo.

    – Tá desculpa, não queria soltar tanta cousa assim desta forma, mas foi tu quem começou. Foca nessa cousa que eu te disse que voltar como outra vampira daqui uns anos. O tempo que ficamos juntos foi muito divertido e tu sabes que és muito importante para mim. Somos irmãos, amantes, e além disso te vejo até como uma mãe as vezes…

    – Sim gosto muito de ti também, mi amor.

    – Bom, pensa no que eu te falei por mais um tempo, vou pagar tuas malas que está na hora de irmos…

    Eleonor ficou por mais um tempo sentada perto da cerca branca. Sabe-se lá se ao menos entendeu parte do que eu lhe disse.  Porém, depois de uns 20 minutos ela foi ao meu encontro na casa, eu estava mexendo no meu celular e sentado num dos sofás da grande sala. Seu olhar era fixo e disse-me apenas: “ Vamos? ” Consenti com a cabeça, pequei suas duas malas e fomos para a cripta.

    O lugar era o mesmo de sempre, com uma entrada repleta de armadilhas, os compartimentos, as portas e fechaduras…. Ao final de uma das salas estava a tumba que preparei para Eleonor e um lugar tipo “armário” com portas e mais fechaduras onde guardei suas malas. Feito isso me posicionei a sua frente e fui direto ao ponto:

    – Quais as tuas últimas palavras, minha doce morena?

    – Eu te amo – Disse ela olhando fixamente para os meus olhos.

    Seus lindos olhos azuis brilhavam como nunca e só me restou lhe dar um longo beijo. Cheguei a me excitar a ponto de querer algo a mais. Porém, ela me segurou em determinado momento, baixou a cabeça e disse sussurrando medrosamente:

    – Começa logo… por favor!

    Não pensei, nem refleti, apenas segui me instinto e aflorei as presas. Agarrei seus braços e cravei minha boca na maior de suas veias. Senti todo aquele turbilhão de pensamentos e emoções se transmitindo entre nossas almas. Agora estávamos mais próximos do que nunca e continuei até o ponto em que ela se amoleceu. Fiquei impressionado com o seu alto controle, pois nem um gemido ela soltou.

    Lá estava eu com seu corpo desfalecido e inerte. Cheguei inclusive a pensara que por um instante sua alma me tocou, mas deve ter sido apenas a emoção do momento…. Terminei o ritual, fiz tudo que era necessário para que ela não se fosse de vez e a enterrei. Cobri todo o seu corpo e a medida que ela sumia do meu campo de visão, diversos pensamentos vinham a minha mente. Lembrei-me do momento em que nos conhecemos em Desterro, do quanto ela me parece estranha e atraente desde o momento em que vi e de boa parte dos nossos momentos juntos.

    Inclusive ao final de todo o procedimento de hibernação eu me peguei sentado ao lado de sua tumba, sujo de terra e com uma pequena pá de jardinagem em mãos. A partir daquela noite eu estava afastado de meu criador e de minha maior tutora. O que viria pela frente teria apenas como testemunho o Franz, que apesar de também ter sido meu tutor, está num nível muito próximo do meu na hierarquia do clã. Clã? Espero que eu consiga manter essa nossa união…