Boa noite mortais e imortais todos respectivamente vivos e mortos?
Depois de longas noites de muitas festas recheadas de acontecimentos, me sobrou um tempo para lhes transmitir minhas ações e pensamentos. Digamos que ao contrário dos outros anos eu resolvi cair de vez na folia e em meio às fantasias e festas pude aproveitar um pouco do calor humano, que me fez recordar muitas experiências do passado.
Antes de tudo eu queria falar sobre a história do príncipe, apelido dado por meus queridos Franz e Frederick há muitos anos atrás. Digamos que eu recebi tal apelido por ser um tanto quanto carinhoso e afetuoso com as mulheres. Bom, quem já lê meus artigos e histórias há algum tempo já deve ter percebido isso, não é mesmo? Então, nada de mais…
Quanto ao carnaval deste ano de 2012, eu passei uma noite com Franz em meio a um baile do centro de uma das cidades próximas de onde estamos. Como foi a primeira noite eu ainda não havia entrado no clima e fiquei um pouco travado de inicio, porem tudo mudou quando reencontramos a ruivinha de Franz, junto de algumas amigas fantasiadas de colegial. Foi um momento interessante, pois fui praticamente obrigado a beijar na boca todas as cinco meninas. Não sei se é um hábito daquela região, mas foi engraçado e me senti o próprio canalha, cafajeste e mulherengo em pessoa…
Depois de tal evento inusitado nós circulamos por mais um tempo em meio às ruas repletas de fantasiados, bêbados e gente de todo o tipo que dançavam ao som da bandinha que tocava em cima de uma caminhonete. As marchinhas eram muito diferentes daquelas antigas que cantávamos nos carnavais que eu ia com meu irmão em meados de 1850 na velha Desterro. Porém tão divertidas quanto.
Lembro que noite adentro o povo ficava cada vez mais bêbado, adolescentes inclusive e foi quando eu percebi como esta sociedade está diferente. Meninas com pouco mais de 15 anos e que ainda cheiravam a leite estavam caídas ao chão, obviamente alcoolizadas ou drogadas e isso mexeu comigo. Acredito que já era próximo das 3 da manhã quando eu entrei nesse modo filósofo e não fiz mais nada se não apenas o que eu mais gosto, que é observar os humanos e suas banalidades.
Alguns casais brigavam por ciúmes e alguns bêbados incomodavam todos que passavam perto. O lixo se acumulou rapidamente, alguns banheiros químicos foram quebrados por caras enfurecidos e a policia de choque já tomava algumas partes das ruas mais tumultuadas. Eu estava ali parado com minha fantasia de pirata e Franz havia dado suas famosas sumidinhas, quando uma garota que vinha correndo de qualquer lugar que eu não havia visto, para ao meu lado assustada.
Ela estava muito ofegante, seus olhos escuros borrados transmitiam muito medo e suas mãos tremiam. Ela praticamente ficou estática ao meu lado e ao perceber o estado da loirinha fui logo fazendo a aquela pergunta clássica “tudo bem?”. De inicio ela não me ouviu, então depois que repeti a pergunta colocando mais ênfase e preocupação na voz ela levou um moderado susto e me disse muito pausadamente:
– Eu… me perdi de minhas… amigas e… quando estava no meio das pessoas… surgiu um homem que me mostrou uma arma e… disse pra eu seguir ele………….. Dai ele me levou pra um beco escuro… e tentou abusar de mim…….. mas eu consegui sair correndo…..
Nesse momento eu lhe abracei. Ela ficou um pouco desconfortável com minhas mãos frias, mas aos poucos foi voltando a respirar normalmente. Com isso soltei-a e lhe perguntei sobre suas amigas. Depois dela descrever duas delas, nos saímos em meio a multidão que ainda festejava a orgia de Baco, afim de achar ao menos uma para lhe fazer companhia pelo resto da bagunça.
Nesses momentos em que algo acontece de errado e ainda mais com uma pessoa frágil, eu não sei o que acontece comigo e apenas tenho vontade de resolver o problema. Pode ser alguma habilidade ou até mesmo meu jeito justiceiro que aflora, ou até mesmo o meu demônio, que começa a salivar diante de algum mal encarado que por ventura cruze o meu caminho.
Tania viu ao longe e próxima de uma árvore uma de suas amigas aos beijos com um cara qualquer. Ela me apontou e íamos naquela direção quando me distrai por alguns segundos, olho para trás e lá estava o tal safado segurando pelos cabelos a indefesa loirinha. Em momentos como este minhas feições faciais sempre mudam, minhas pálpebras se fecham um pouco, a musculatura do meu rosto fica rígida eu estalo o pescoço para o lado direito. Meu demônio sussurra algumas blasfêmias diretamente em minha cabeça e eu parto para ação ignorando tudo a minha volta, vendo apenas o que me incomoda.
Três passos foram suficientes para me aproximar deles, esbarrando em duas pessoas no caminho. Parei ao lado do cara, que possuía uma barba fétida de cigarro e cara de poucos amigos. Como ele não se importou com minha chegada eu coloquei minha mão direita em seu ombro e o puxei levemente para trás, olhando fixamente em seus olhos claros. Nesse momento Tania se soltou, saiu correndo e eu estava com aquele saco de merda humana em minhas mãos.
A nossa volta o povo abria uma pequena roda e naqueles pequenos momentos de sanidade que me surgem eu peguei um distintivo que carrego junto em ocasiões públicas como esta, o levantei para o alto e disse em claro e bom tom “Fiquem calmos, policia!!!”. Com isso eu comecei a arrastar o lixo para fora dos olhos de todos e quando estávamos em meio à multidão ele infelizmente conseguiu sacar sua arma e tentou dar um tiro em mim. Por sorte a bala acertou apenas a parede de um dos prédios a nossa volta, mas isso já foi suficiente para começar uma correria.
Com isso eu tive de improvisar, agindo rapidamente e com minha força esmaguei sua mão que segurava o modesto 22. Ele gritou e gemeu de dor com o meu ato e antes que surgisse algum policial eu o levei correndo para o que julguei ser um lugar tranquilo, um beco escuro em uma das ruas da região. Um bêbado urinava naquele lugar e logo que ele saiu eu fiz o que achei mais correto, acabei com a vida daquele babaca. Algumas vezes como naquele sábado fatídico eu fico com nojo de consumir o sangue e o simples ato de acabar com um safado alivia de certa forma os desejos do meu demônio.
Deixei o corpo ali, certifiquei-me de que não havia ninguém por perto e decidi virar névoa, voltando a forma humana noutro lado da festa, onde já em forma humana voltei ao local onde eu estava inicialmente observando toda a multidão. Não nego que estava salivando e até havia ficado com vontade de tomar um bom A negativo, mas me aguentei e passei o resto da noite apenas observando novamente o publico. Minutos depois Franz reapareceu e então fomos para casa, ele bem tranquilo e eu ainda um pouco extasiado.
Assim começava meu carnaval. Nas noites seguintes não fiz nada de mais, apenas procurei por Frederick, mas ele estava viajando para resolver algumas questões com suas crias. Então diante disso eu decidi refrescar um pouco a cabeça com alguns passeios junto de Eleonor e Stephanie com sua filhinha.
Para um humano normal talvez seja difícil imaginar toda essa minha frieza ao tratar de um homicídio doloso, mas isso se deve ao fato de já estar fazendo este tipo de serviço há muitos anos. Dizem que um médico ginecologista perde o prazer do sexo depois de alguns anos de trabalho, no meu caso eu digo que às vezes perco o respeito com pessoas ordinárias…