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Trabalho para o vampiro: fome

Depois de brincar de humano, eu estava com fome e marquei um encontro com Pepe perto do galpão, onde havia encontrado os materiais relacionados ao culto do Santo Daime. Na estrada indo para o local havia alguns pontos de parada, onde estacionei o carro e fiquei no aguardo de minha cria.

Minutos mais tarde comecei a sentir uma presença. Aquele sentimento de quando outro sobrenatural está por perto e nesse caso, com maior intensidade por se tratar de Pepe. Ela também veio noutro carro e parou logo depois do meu.

– E ai mestre!?

– Ué pra que essa formalidade vampirinha?

– Zuera, só pra ver tua reação. (risos)

– Sei, tais andando muito comigo (risos) mas olha só olha só fui até o bar que aquele cara que sumiu trabalhava. Troquei uma ideia com o pessoal lá e descobri que a ligação mais próxima dele com a zinha lá influencer é por causa da irmã que está presa aqui perto.

– Irmã dela? Não entendi…

– Dele, vou pedir a ficha dela pra saber o que ocasionou sua prisão.

– Eita podia ter me mandado um whats pra falar disso, o que tem mais?

– Tá com pressa? Vamos por partes aiii. Seguinte, tais com fome? Porque eu tô viu!

– Não tava pensando nisso, mas se rolar algo eu topo, bora.

– Eu troquei uma ideia com o pessoal, que vem para cá as vezes. Sabe que sou mó preocupado com o território alheio. Como brinde pela boa vizinhança, me falaram de um bordel aqui perto, onde há uma ou duas damas que mercadejam sangue.

– Nossa, tá anacrônico hoje. Mercadejam é o que, tio?

– Tio? Volta pro mestre que era melhor, que vendem sangue… enfim, bora lá ver isso. Ah e se der ruim já sabe, corre, que eu me viro.

Lugarzinho simples, mas limpinho. Logo na entrada um barzinho com uns petiscos e uma velha com cara de poucos amigos atendendo no balcão. Na sua direita uma porta com aquelas cortinas de fita, que ao passar gruda em todas as partes do corpo e da raiva. Porém logo ali já havia três meninas com pouca roupa e sorriso de orelha a orelha.

– Boa noite damas, senhoritas e garotas. – Cheguei no melhor estilo Franz, bom vivant e continuei – Quem das senhoritas se dispõe a nos doar um pouco de seu amor?

“Doar amor” era a frase secreta que me indicaram e percebi que nenhuma delas reagiu ao que eu falei. Então, repeti em tom mais firme:

– Doar amor (pausa) ninguém quer?

Fiquei ali com cara meio de trouxa, por uns segundos até que alguém gritou dos fundos um tímido: “Eu… espera!”. Eis que surge uma outra garota, ela vestia preto e era pálida. Diferente das outras mais bronzeadas e meio indígenas. Essa tinha feições mais europeias e literalmente parecia fora de contexto.

Percebi um burburinho entre as meninas com sua chegada. Mas a garota foi logo pegando no meio braço, me puxando para dentro e dizendo.

– Oxi, esse é meu, suas rapariga! Venha você também se quiser, bonitinha. – Virando-se para Pepe.

Ao que me parecia, era o quarto dela mesmo, com uma caminha de solteiro, uma cômoda com meia dúzia de Funko e alguns livros. Também algumas roupas jogadas, restos de comida num prato e como disse antes ela parecia muito destoada para o local. Fiquei curioso e perguntei:

– Entendo que outros iguais a nós já trocaram uma ideia contigo antes?

– Sim vampirão, fica tranquilo. Já vendi meu sangue para caras do teu tamanho.

– Nem por isso senhorita, é que você me parece um pouco “longe de casa” aqui nesse lugar.

– Ai, sabe quando a vida te dá duas varetas e alguém fala, faça um barco? Eu tô nessa vampirão.

Curti a simpatia dela, bem na verdade tive um pouco de pena. Sobretudo, nossa fome foi saciada depois de alguns goles. A pobre coitada mal se aguentava em pé depois disso, mas ficou super feliz com o pagamento a mais que lhe dei.

3 comentários

  1. Como é bom saber que existem doadores pra ajudar, hj em dia deve estar cada vez mais difícil achar alimento né Fer, e sinto q muita água ainda vai rolar por baixo dessa ponte rsrs

  2. Eu já tinha conhecimento da existência desse tipo de comércio, no entanto, fiquei surpreendida ao saber que vocês conseguiram localizar uma vendedora em um estabelecimento deste tipo. Acredito que tenham tido sorte grande em tal feito.
    Sinto-me contente em saber que existem indivíduos dispostos a ajudar de forma voluntária em vossas refeições.
    Esta investigação está tornando-se cada vez mais interessante.

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