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  • Fui traído! E agora? – pt3

    Fui traído! E agora? – pt3

    “Eu desço dessa solidão
    Espalho coisas sobre
    Um Chão de Giz
    Há meros devaneios tolos
    A me torturar
    Fotografias recortadas
    Em jornais de folhas…”

    Eu estava com muitas ideias na droga da cabeça. A vontade era de sair de moto, sem juízo ou capacete. Achá-la e meter a mão na cara daquela puta. Como pôde depois de tudo o que tivemos? Depois de tudo o que lhe dei ou ainda poderia lhe proporcionar deste mundo ou dos outros?

    – Vadia! – Gritei sozinho e desolado no quarto do hotelzinho de beira de estrada.

    – Alô, alguma notícia do wi-fi ou ele tá vindo a cavalo? – Falei para a recepcionista

    – Disseram que “resetaram” o modem senhor – respondeu a garota cheia de resceio e aparentemente medo.

    – Ok. Por favor, me retorna quando voltar! – Falei grosseiramente.

    Se há algo que me irrita é o fato de não poder fazer o que quero. Sim sou teimoso, sim odeio ficar parado e sim vou parar de reclamar e lhes contar o que ocorreu depois que o maldito acesso a internet voltou…

    – Hey pessoal, finalmente consegui me conectar no Skype para falar com vocês. E ai Franz alguma notícia daquela puta?

    – Então irmãozinho. Fomos aos lugares que indicou e nem sinal dela…

    – Puta que pariu – Interrompi-o e louco para lhe dizer que eu iria cuidar daquilo eu mesmo.

    – Calma, deixa eu falar… Não a encontramos, mas a Pepe e a Becky fizeram um refém enquanto eu investigava outro lugar. Espera que vou te mostrar a cara do infeliz…

    Naquele instante Franz levou o notebook para o outro quarto, onde havia um senhor oriental de cabelos brancos e que vestia roupa social. Além disso, ele estava visivelmente abatido, machucado e sem saber o que estava lhe acontecendo.

    – Pelo que descobrimos ele é um “laranja”. Partiram dele os contatos feitos com a aquela vagaba e vamos tentar que ele marque uma nova reunião para emboscá-la. O que tu achas?

    – Acho que ouvi falar desse puto ai é o tal (…), mas acho que é uma boa opção. Conseguiram mais alguma cousa?

    – Por hora isso e o fato de que ela ainda não terminou a espionagem. Parece que ficou devendo alguns arquivos e projetos para eles. Quando ela soube que estava sendo investigada, simplesmente picou a mula, como dizem irmãozinho.

    – Menos mal, me mantenham informado. Não quanto mais ficar me escondendo do mundo. Não achei que a droga da transformação da Pepe fosse sugar tanta energia.

    – Quanto mais velhos, mais poder desprendemos nas transformações. Tanto que a Pepe está bem forte. Fica de molho ai por mais um tempo, melhor isso do que eu ter de te salvar em algum lugar (risos).

    – Ah falou o todo poderoso… Enfim deixa-me dar um tchau para as garotas…

    Depois disso, falei por mais alguns instantes com Pepe e Becky, mas nada além dos “oi, tudo bem?” e desliguei em seguida.

    Desliguei o notebook como quem fecha um livro depois de mais um capítulo lido. Avisei na recepção que iria sair e que era para preparar meu carro. Sai sem rumo, mas com o objetivo de esticar as peras e espairecer. Naquele momento eu estava um pouco mais aliviado por ter falado com meu irmão, mas seria muito interessante se surgisse algum bêbado ou perdido querendo doar sangue.

    “Boite (…) 2 Km”

  • Como eu encontrei o Ferdinand

    Como eu encontrei o Ferdinand

    Era uma típica noite em que eu decidi sair pela cidade, queria ver algumas pessoas e ficar um pouco sozinha, afinal eu moro em um apartamento com mais dois vampiros homens e eu sendo a única “mulher”, ainda tenho minhas necessidades femininas que incluem,  ler um bom livro, ir ao shopping gastar um pouquinho, as vezes assistir algum novo filme, ir a alguma exposição ou relaxar vendo um bom stand up. E nesta noite em particular, eu decidi mudar um pouco a minha rotina “feminina” e fui até um pub bem conhecido em uma das travessas de uma famosa avenida. Eu sempre gostei muito da diversidade de pessoas, estilos, os vários tipos de culturas que se misturam a noite nessas típicas travessas da avenida, pelo menos lá eu não me sentia tão “A estranha no ninho”.

    Esse pub em particular, apesar de estar muito cheio, era um lugar agradável, lembrava-me alguns pubs de Londres, com os banquinhos de madeira, o bar era bem rústico, exibindo vários tipos de cervejas e outras várias bebidas. Sentei-me em um canto mais discreto no balcão, pedi uma taça de espumante para disfarçar e fiquei ali, sentada, apreciando o lugar e como os humanos interagem.

    Após creio que uns quarenta minutos, senti uma forte presença aproximando-se, realmente muito forte, um vampiro antigo, e para minha sorte naquela noite eu decidi que não era necessário nenhum tipo de proteção… Eu sentei de uma forma mais ereta e comecei a me preparar para sair dali e sumir o mais rápido possível, só que a minha tática foi em vão, pois o tal vampiro sentiu minha presença (creio que ele sentiu a minha presença bem antes que eu percebesse a dele) e entrou no local que eu estava, alto, imponente, forte (lindo), parecia até que ele tinha saído de algum filme da época medieval. Cabelos longos despenteados, barba por fazer e vestido de forma simples:  jeans, camiseta preta surrada, allstar velho e carregando uma jaqueta de couro e um capacete vintage.

    Confesso que dentro de mim eu não sabia o que fazer, eu não sabia se acenava a cabeça como quem diz “E ai somos do mesmo time”, se eu pegava e saia dali correndo, ou se eu dava um abraço.  Minha primeira opção foi dar no pé, mas como nem tudo sai do jeito que a gente deseja, quando eu me levantei um pouco na cadeira, ele em questão de segundos virou o rosto para mim e me penetrou com aqueles olhos azuis e pensando algo do tipo: “ Boa tentativa, mas não”. Em minha cabeça eu só conseguia pensar “ Fuck, fuck, fuck, fuck”, e sentei de volta e esperei ele vir até mim.

    – Boa noite senhorita.

    – Boa noite.

    – Minha cara, o que faz alguém como você, sozinha, sem nenhum tipo de proteção aparente e em um lugar como este?

    – Creio que hoje eu deixei a inteligência em casa e esqueci que o mundo ainda continua um lugar perigoso…

    – Ah gostei do teu sarcasmo, e não eu não vou lhe fazer mal.

    – Eu tenho o dom do sarcasmo e ironia quando estou em uma situação como essa, me desculpe.

    – Situação como esta?

    – Com medo e um pouco de receio.

    – Como te disse, fica tranquila, não sou nenhum sádico.

    – Que bom, porque desse tipo eu já tenho até doutorado. Enfim, onde está minha educação? Prazer Lilian.

    – Doutorado? Interessante… Mas ok as formalidades… Prazer em te conhecer Lilian.

    – Prazer em te conhecer também…….

    – Ferdinand.

    – Ferdinand, um nome antigo e creio que Europeu?

    – Sim… Conheces a Europa pelo visto?

    – Sim, mais do que gostaria.

    – A curiosidade é uma virtude e um defeito que tenho, conte-me mais. Estou até pensando em arrumar uma banqueta e sentar-me ao teu lado se não for incomodo, é claro.

    – Imagine, não quero desperdiçar teu tempo com minhas bobagens. Alguém como você deve ter muito mais com o que se preocupar…

    – Tempo? Querida, o que eu mais tenho é tempo! Adoraria ouvir tuas histórias.

    – Se não for problema, e se você não for me prejudicar, vai ser um prazer lhe contar.

    – Te prejudicar? Por um acaso você vai me bater ou algo do tipo?

    – Não tenho motivos aparentes…

    – Então não há nada que te impeça de começar a falar…

    – Você é bem insistente e persuasivo…

    – É um dos meus dons.

    Depois disso, comecei a contar tudo o que havia passado para Ferdinand e ele foi muito gentil ao me ouvir e entender o que havia passado. Foi um gentleman por todo o tempo que ficamos lá e confesso que me senti mais a vontade e também um pouco mais segura perto dele. Não por ser extremamente forte, mas por ter tido a paciência e por ter me aconselhado em muitas coisas, coisas pelo qual levo muito em conta hoje em dia.

     

  • Fui traído! E agora? – pt2

    Fui traído! E agora? – pt2

    Eu estava em meu sítio aproveitando uma maravilhosa noite sentada na varanda, lendo um bom livro. Por um instante, observei a lua cheia e pensei na hipótese de que talvez pudesse haver algum peludo por perto, e mesmo com os riscos eu estava tranquila. Lá era um dos meus novos refúgios, um ambiente calmo e pacato em que só se ouve os barulhos dos insetos. Além disso, só ficaria por lá no fim de semana e logo voltaria para a cidade e seu “agito” noturno.

    Após tantos anos “vivendo” com receio, eu me sentia livre e protegida com a ideia de ter encontrado um novo clã. Ou melhor, um clã, pois até então, eu nunca havia feito parte de algum. Naquele momento, tudo o que eu esperava era ser aceita, e acho que eu estava me saindo bem. Pois, apesar de ser brincalhona e ter a aparência frágil eu era sim, muito forte e fiel com aqueles que me mostravam merecedores. E diante de tal situação, eu sentia que tinha encontrado verdadeiros amigos, talvez até uma família.

    Estava quase amanhecendo. Resolvi voltar para dentro da casa e fui direto tomar um bom e demorado banho.  Na volta, olho para o celular. Duas ligações perdidas. Uma era de Eleonor. A outra, de Franz. Liguei para minha querida amiga que logo me encheu de perguntas sobre o que eu havia achado dos “meninos”, pois, ao saber do nosso encontro, não conseguiu conter a curiosidade.

    -Ah Ferdinand é super querido. De cara ficamos muito amigos e descobrimos inúmeras afinidades. Ainda não conheci os outros pessoalmente a não ser o… Franz, uma figura. Mas nem vem Eleonor! (risos)

    Ficamos horas no telefone “fofocando”. Mas enquanto falava com ela, imaginava por que raios Franz estava me ligando.

    -Alô? É…Oi… Franz? É a Becky. Desculpe retornar só agora. Eleonor me ligou e sabe como é…

    -Oi, ah sim. Imagino que ficaram horas falando de mim!

    Naquele momento, olhei para o teto do quarto e soltei um “convencido” e imediatamente o questionei:

    – Precisa de algo?

    -Preciso sim, de sua ajuda. Ferdinand mandou chamá-la também. Mas, só poderei explicar quando você chegar aqui, “sabe como é…”

    Enfim, trocamos mais uma ou duas palavras e combinamos de nos encontrar, pois, eu estava curiosa para saber o que estava acontecendo…

  • Intimidades da Becky

    Intimidades da Becky

    Olá meus queridos, este VampiroCast surgiu entre a chegada de Becky e a operação que introduzi para vocês no Fui traído! E agora?

    Para que entendam melhor, solicitei a nova membro do clã algumas respostas que serviriam como avaliação para sua entrada em nosso seleto grupo. E é claro que isso foi mera formalidade, afinal, já havíamos feito às verdadeiras avaliações na forma tradicional: olho no olho.

    Além disso, como ela apresentou bons argumentos e faz tempo que não publicamos um VampiroCast, eu resolvi compartilhar isto por aqui. Por favor, ouçam com atenção e enfatizo que as perguntas são oportunamente relevantes a nossa avaliação. Todavia, dificilmente farei explicações sobre a importância do que foi dito e também não gostaria que vocês importunassem minha nova protegida sobre o que ela falou ou deixou de falar.

  • Fui traído! E agora? – pt1

    Fui traído! E agora? – pt1

    Tivemos muitas conversas, tive inclusive de refazer diversas das minhas contas, verifiquei muitos vídeos de segurança, até chegar a conclusão de que o inferno realmente estes cheio de indivíduos com boas intenções. Relutei muito. Larguei de lado os ensinamentos de meu mestre e até mesmo Carlos, meu amigo lobisomem,  consultou os espíritos sobre o que ocorreu: Débora, minha ex-assistente pessoal estava fazendo espionagem industrial conosco.

    Não posso entrar em detalhes sobre as cousas que ela nos roubou, mas precisei invocar uma legítima “caçada de sangue”, com o objetivo de por fim aos planos da infeliz e de quem mais estivesse envolvido com ela. Eu sabia que não seria algo fácil, porém havia alguém em minha cabeça que poderia dar a devida atenção ao ocorrido: Pepe!

    Os mais atentos as nossas histórias perguntarão: Ferdinand, Sendo ela uma Ghoul ela não deveria fazer tudo o que tu mandar? Sim e não mancebo. Há uma forte ligação entre o vampiro e aquele que recebe o seu sangue, no entanto, este laço é diferente daquele entre dois vampiros. É um laço muito fácil de romper, ainda mais tendo em vista os envolvidos nesta operação, um grupo de desavisados, que “compraram” Deb e certamente não sabem que eu sou o que sou.

    Tão logo Pepe controlou sua sede, tratei de colocá-la a par das cousas que Sebastian estava fazendo e uma delas era monitorar os “negócios da família”. Em especial uma das fábricas em que ainda temos controle direto, pois as demais já possuem capital aberto e demandam pouco acompanhamento diário. No meu livro eu falo um pouco mais desse meu lado empreendedor e empresário, mas por hora vamos à ação, afinal esse papo de negócios não tem a ver com o que vocês gostam de ler por aqui.

    Durante a minha investigação tivemos a chegada da senhorita Becky e Franz decidiu voltar ao ambiente urbano. Portanto, vocês já sabem vai atrás da loira traíra e seus comparsas? Optei por oferecer o comando da missão a Franz e julguei que a participação de Becky seria uma boa forma de comprovar sua lealdade. Além disso, vocês sabem muito bem que meus assistentes fazem muito mais que monitorar ações em sites, então Pepe teria uma oportunidade boa para por seus dons físicos em ação.

    Essa seria uma missão interessante para os “escolhidos”, mas Hector e Eliot estão envolvidos em uma determinada investigação e eu ainda não me recuperei por completo depois da transformação de Pepe. Portanto, me restou ficar como apoio e na torcida para que me trouxessem a loira ainda viva. Afinal, qual a graça de apenas aniquilar uma traidora, sem ao menos olhar em seus olhos e ver sua maldita vida se esvaindo? Posso estar andando muito com o Hector ou tendo muitas influências do Doutor em meus pensamentos, mas que fique claro. Ninguém sacaneia os negócios da minha família e sai ileso!

  • A garota perdida – pt3

    A garota perdida – pt3

    Eu comecei a chorar, o que seria de mim? Eu iria morrer? Pierre era algum tipo de serial Killer sádico que queria me torturar até a morte? Ou eu havia virado algum tipo de escrava dele, ou melhor, pelo que entendi, deles. Me sentei encolhida em um canto, abracei minhas pernas e deixei que as lágrimas rolassem… Senti então um toque mais robusto, mãos grandes tocando meu ombro, como que se de alguma forma quisesse me consolar.

    – Tão bela e inocente. Eu queria ter te achado antes, nunca trataria um ser tão lindo como você, de um jeito tão imundo e injusto. Mas se eu te ajudar, posso te prejudicar ainda mais, minha bela inocente.

    – O que devo fazer?

    – Deve pensar em coisas boas por hora. Lembre-se da sua família, dos teus amigos e de tudo que te faz bem.

    – Eu só queria ser feliz, ser livre da hipocrisia social, me sentir independente, me sentir amada e conhecer tudo que pudesse.

    – Você ainda vai querida, mas não do mesmo jeito de antes.

    – Promete?

    – Como é linda, até com lágrimas nos olhos. Prometo, e quando tudo isso acabar, prometo que vou  te ajudar.

    Antes que pudesse perguntar qualquer coisa para Trevor, Pierre, que antes eu amava e agora eu odiava ( Sim a linha entre amor e ódio é tênue, muito tênue ), nos interrompeu.

    – Trevor nos deixe a sós. Tenho algo inacabado aqui.

    – Não judie dela.

    – E qual o objetivo disso então seu idiota?

    – Sabe Pierre, aqui se faz e aqui se paga.

    – Não me venha com frases prontas.

    – Eu ainda vou assistir você correndo de tudo isso.

    – Vá logo Trevor!

    – Não a machuque!

    – Ela vai ficar bem! Você sabe disso.

    Antes de sair, Trevor olhou para mim, e deu um sorriso, um leve sorriso de como quem diz “ Vai ficar tudo bem”. Eu estava pronta para o que estava prestes por vir, e o que veio não foi nada bom. Senti um soco no rosto, parecia que ira me quebrar ao meio, depois veio um chute forte na cintura, tapas e socos no rosto, me senti desfigurada, tonta, fraca, até que finalmente veio uma resposta de Pierre.

    – Vadias desobedientes devem apanhar para aprender!

    Com muito esforço eu consegui jogar minhas últimas palavras como humana:

    – Eu só queria ficar um pouco sozinha.

    E mais um soco, agora na boca do estômago, seguido de um chute perto do meu peito, isso me fez perder o ar por alguns instantes. Eu sentia meu corpo tremer com o choque, senti o sangue fluir na minha boca, senti meus olhos incharem, lágrimas e mais lágrimas escorriam pelo rosto, mas eu não emitia um som, não conseguia, a dor, a decepção, a angustia, o medo, tomaram conta dos sentidos. E Pierre finalmente soltou minhas pernas, e antes que eu pudesse sentir algum alivio ou ao menos mexe-las, senti as mãos dele quebrarem meus tornozelos como se fossem dois palitos, eu gritei, o mais terrível grito que uma alma poderia gritar, a angústia da dor e não conseguir mais senti-las causou o mais profundo desespero, uma dor que eu não desejo para ninguém.

    -Sabe o porque disso Lilian? Hein?

    – Não…

    – Por que eu queria você como minha parceira, mas quando vi que você me desobedeceu, fiquei irado, sai atrás de você por toda maldita Londres!

    – Você é um sádico maldito!

    – Eu sou um vampiro sua idiota! Eu iria te transformar como minha serva, e quem sabe depois como minha amante para a eternidade. E você sai por ai achando que pode tudo.

    – Eu não fiz nada errado… Meu único erro foi acreditar em um desgraçado dissimulado igual a você!

    – Fez sim! Me desobedeceu! Cale a boca, como ainda consegue falar? Quer que eu arranque sua língua? E alias meu clã já sabia de você e agora eles sabem o que vou fazer! E ninguém vai me impedir, nem aquele velho do Gage. Você queria ficar sozinha? Pois vou lhe dar esse ar da graça.

    Pierre me agarrou pelos cabelos e me ergueu como se eu fosse uma boneca de pano, eu mal conseguia enxerga-lo, mas mesmo sendo pouco, quando vi que estava frente a frente com aquele canalha, dei uma bela cuspida cheia de sangue bem no meio do rosto dele, uma leve lembrança que ele teria de mim.

    – Isso é pra você lembrar de mim!

    – Ainda vamos nos ver de novo querida!

    – Eu não sei como, mas se for pra te ver de novo, que seja no inferno.

    Ele então colocou uma das mãos em meu pescoço e começou a me sufocar, senti a vida, a minha vida me deixar, a velha Lilian ir embora, morrer. Foi quando senti minha garganta ser rasgada, que finalmente a minha consciência deixou o corpo e eu finalmente cai em um sono profundo, o sono da escuridão.

    Eu morri, a ingênua Lilian, que achava que conhecia o mundo e que havia feito ótimas escolhas, que queria ser livre e feliz, que adorava sair com os amigos e fazer longos passeios a luz do Sol, essa Lilian morreu e apenas o que sobrou dela, foi a volta de uma mulher, ou melhor,  uma vampira atormentada e com sede de vingança.

    Quando eu voltei ao mundo e a minha EXISTENCIA começou, eu não sentia mais nenhuma dor, conseguia ver claramente através da escuridão, tinha a mesma sensação de vida, não a normal que vocês sentem, mas uma sensação de vida. Vi que meu vestido estava rasgado em maior parte, deixando meu corpo em evidencia, senti meus cabelos descendo pelas costas, vi que minhas botas estavam dentro daquele lugar e as coloquei, fiquei de pé e busquei a saída dali.

    Sai em uma espécie de biblioteca vazia, com apenas um espelho ao centro e lá havia um bilhete, eu reconheceria aquela caligrafia em qualquer lugar, lá dizia apenas “ Boa sorte Lilian”. Eu tento até hoje descobrir o que fiz para merecer isso, mas nada me vem a cabeça além da injustiça que me foi feita.

    Vocês devem se perguntar, como uma vampira recém-nascida se adaptou ao desconhecido? Digamos que eu tive ajuda, mas que infelizmente por hora eu não posso entrar em detalhes. Só sei que tenho que agradecer muito ao meu adorado mestre.

    Hoje eu não sou mais aquela flor delicada, continuo tendo as mesmas feições, o mesmo longo cabelo preto, a pele branca, os olhos verdes, e a ingenuidade nos olhos, apenas nos olhos. Digamos que me rebelei com o tempo e aderi as tattoos e piercings da atualidade e a roupa, bom isso varia do humor, mas sempre preto e branco e salto alto, lógico, e minha boa e velha maquiagem de sempre. De vestidos floridos, cabelos bem penteados, a educação impecável, a ingenuidade, o sorriso de menina, isso tudo acabou e agora eu havia me tornado a vampira com sede de vingança.

    Pierre sumiu após aquele acontecido, nenhum dos antigos, ou ninguém do clã sabia dizer aonde aquele maldito estava. Seis malditas décadas e ele consegue ainda desaparecer com total facilidade. Não se enganem, eu ainda o procuro, não com uma frequência grande, pois decidi aproveitar um pouco da minha imortalidade. Mas o dia em que eu achar aquele sádico, eu vou devolver em dobro toda dor, toda lágrima, toda angústia, toda mágoa e todos meus anos de vida, vida humana, perdidos graças a ele.

    Um dia contarei como me adaptei ao mundo após meu renascimento, e como aprendi tudo do meu clã e das minhas habilidades ainda não citadas. Mas por hora apenas deixo aqui registrado como uma doce menina perdeu-se ao cair nas garras de um demônio, e deixou a essência da humanidade.

    “Take care, the world is a shit hidden among beautiful distorted landscapes. “

  • A garota perdida – pt2

    A garota perdida – pt2

    Eu finalmente fiquei frente a frente com Matt, eu podia jurar que ele queria chorar tanto quanto eu. Eu precisava tomar coragem e foi ao voltar a olhar para a saída e não ver mais o homem que eu amava, que toda a coragem veio até mim. Eu segurei as mãos do Matt e interrompi o padre, que não ficou nada feliz com a minha atitude, por assim dizer.

    – Matt, o que nós estamos fazendo?

    – Sinceramente Lili, eu acho que estamos para cometer um erro.

    – O maior e pior erro de nossas vidas.

    – Eu quero que você seja feliz.

    – Eu desejo o mesmo pra você querido, nada menos que felicidade!

    Eu dei um longo abraço no Matt e depois de um bom tempo pude respirar de verdade, sem a sensação de peso e acho que ele também. Olhei para minha mãe e sorri, de um jeito tão sincero, que eu até tinha esquecido como era essa sensação. O vestido me atrapalhou um pouco para sair correndo da igreja e gritar de alegria. Eu  estava tão “empolgada” de estar livre de tudo aquilo que não percebi logo de cara a presença de Pierre.

    – Pensei que nunca fosse sair daquela maldita igreja.

    – Eu pensei que por um instante você fosse me arrancar de lá a força.

    – Vontade não me faltou Lili…

    Confesso que eu pulei nos braços dele como se fosse uma garotinha, e finalmente toda minha inibição parecia ter ido embora, porque quem deu o beijo em quem primeiro, fui eu. Sim eu a recatada e cheia de dúvidas, agora não tinha mais nada de dúvida ou vergonha.

    Gente que romântico tudo isso, não? Como que vocês descrevem nas famosas “hastags”? Final romântico! #SQN.

    Ai vem o que realmente me aconteceu, eu fugi sim com o Pierre, vestida de noiva e todos os clichês ridículos e românticos que são jogados na nossa cara através do cinema e da TV. Como uma adolescente cheia de hormônios eu apenas peguei uma mala com poucas roupas e na minha cabeça “fui viver a aventura romântica na EUROPA”. Sim nós fomos a Europa. Lógico, que vocês devem suspeitar desse fato, que as viagens eram à noite e de dia dormíamos em algum hotel chique e ridiculamente caro ( Pierre era rico, muito rico, que chegava a deixar o Tio Patinhas e o Riquinho no chão. E  por favor eu não sou tão velha quanto os vampiros que vocês estão acostumados, sem ofensas. E  sei de basicamente de tudo das últimas seis décadas).

    Depois de algumas semanas passando praticamente a noite acordada e o dia dormindo, eu me sentia uma VAMPIRA! Por que será? E como minha curiosidade estava aflorando e eu comecei a perceber muitas coisas em Pierre, uma delas a famosa pele branca fora do normal e quando ele me tocava,  eu sentia que o frio da noite era mais intenso, o que na verdade era a pele dele. E  quando ele sumia de madrugada para visitar algum cliente necessitado ( na verdade o necessitado era ele,) ele deixava um bilhetinho lindo pra mim.

    Mas um breve fato trouxe tudo a tona, em uma bela noite de dezembro na velha Londres, após alguns meses juntos, eu fiquei sem sono ao perceber que, na cama que cabiam umas dez pessoas ( Se você tem alguma dúvida, eu obviamente passei minha noite de núpcias acompanhada, não pelo meu noivo, mas passei ), eu estava sozinha, então resolvi perambular pelo quarto, e claro tinha um dos bilhetes clássicos e com uma caligrafia incrível, “ Minha  bela Lili, volto logo, Beijos do seu querido  Pierre.”  .

    Eu comecei a odiar esses bilhetes, essas saídas, mas mesmo assim mantinha a compostura perto dele. Então decidi naquela noite, que eu era alto suficiente para sair na rua sozinha e ir a algum lugar divertido e sem ele ( Vocês já viram um vampiro bravo? Se ainda não, continuem assim… Posso garantir que não é nada agradável), peguei alguns trocados e coloquei em uma pequena bolsa, vesti apenas um vestido preto com um sobretudo por cima, calcei minhas botas e sai do hotel, sem rumo.

     

    Acordo e apenas tenho vagas lembranças, da noite anterior. Tento me mexer, mas sinto dores por todo corpo, como se tivesse sofrido algum tipo de acidente. Conforme minha visão voltava ao normal, percebi,  que estava em um tipo de sala, adornada com móveis elegantes e bem talhados, grandes janelas no estilo colonial que cercavam todas as paredes do lugar, mas mesmo com toda aquela pompa parecia um lugar mórbido, frio, medonho. Tentei levantar, mas minhas pernas estavam presas a algum tipo de corrente, uma corrente curta. Apenas minhas mãos estavam soltas, mas do que adiantava se meus pés mal podiam se mexer. Senti-me um animal preso, o que eu fiz para estar ali?

    Comecei a lembrar de algumas cenas, lembro-me de estar em um bar com alguns banqueiros e algumas mulheres elegantes e bem sensuais (que hoje eu acho que eram as amantes da maioria ali), eu tomava uma dose de wiskey, bem pouco pois não era acostumada. Depois veio uma lembrança que me deixou atordoada, o bar tinha virado um cenário de guerra, corpos ensanguentados por todo lado, alguns desmembrados, outros pareciam ter marcas distintas pelo corpo.

    Mas a imagem que mais me chamou a atenção, foi uma frase escrita na parede e escrita em sangue eu acho,” O seu Deus não existe! Mas eis que a fúria que traçou em mim, tenha suas consequências.” Céus, será que eu tinha sido sequestrada? E o que fizeram comigo?

    Foi ai que eu percebi a presença de mais alguém ali comigo, como uma sombra que se movia na escuridão. A sombra parecia me observar de uma cadeira próxima, eu não conseguia identificar a silhueta que me observava tão silenciosamente, até que algo chamou minha atenção.

    – Minha doce Lili…

    – Pierre?

    – Sim minha cara…

    – O que aconteceu? Porque estou assim presa como um animal?

    – Por que minha querida, hoje você agiu como um!

    – Agi como um? Você ficou louco?

    – Louco? A insanidade me deixou há muito tempo, assim como a paciência não é a minha melhor companheira.

    – Mas eu sou humana… Como deveria agir?

    – Eu tentei te proteger, mostrar o mundo e não me aproveitar de você! Eu amava você sua vadia ingrata! Mas agora, depois dessa sua atitude infantil, eu resolvi que te proteger e tentar compreender os atos humanos é algo desnecessário… Uma total perca de tempo…

    – E por isso você me amarrou aqui? Por teus ideais banais? Que tipo de lunático é você?

    – Claro sua tola, quero lhe dar uma lição. E eu não me considero lunático, eu apenas vejo as coisas de um jeito diferente.

    – Que lição? Você vê o mundo de uma forma totalmente distorcida seu hipócrita.

    – Uma bela lição sua insolente! Acho engraçado essa mudança de sentimentos, uma hora você dizia que me amava e agora me chama de lunático e vomita palavras sem sentido a todo momento… Realmente divertido isso.

    – Divertido? Como você queria que eu reagisse a essa situação? Queria que eu pulasse de alegria? Ops, não dá! Estou amarrada pelos pés, graças a você seu cretino! Como continuar amando alguém que faz algo terrível assim?

    Veio o silencio e pude perceber que havia mais uma pessoa na sala, outra figura masculina, um pouco maior que Pierre, e isso me deixou com mais medo do que eu já estava.

    – Você continua sendo o mesmo sádico de sempre Pierre…

    – Trevor? Posso saber por que interrompeu a nossa conversa?

    – O mestre gostaria de ter uma palavra com você.

    – Ahhh, sempre interrompido e chamado nas piores horas.

    – Vá logo!

    Percebi que Pierre se afastava, enquanto o tal Trevor , ficava no lugar dele e me observava. Confesso que senti um pouco mais de segurança nele, pelo menos não fui tratada como um bicho e ele foi cortês, pelo pouco que pude ver, ele parecia um belo homem, nos seus quarenta e poucos anos, ele tinha uma feição forte, era muito alto, tinha um corpo e braços bem definidos, cabelos pretos curtos e bem aparados, e acompanhado de um belo bigode escuro e um olhar tranquilizante.

    – Pobre menina…

    – Você acha?

    – Pelo menos continua falando…

    – Quem é você?

    – Me chame de Trevor, sou um colega de trabalho do Pierre…

    – Porque estou assim? Você sabe me dizer?

    – Oh querida, eu não sei o porque… Eu sei que aquele canalha não passa de um sádico.

    – Me ajude!

    – Se eu te ajudar, te soltar, por mais que você fuja, ele vai te encontrar e vai ser pior do que está sendo Lilian…

    – Como sabe meu nome?

    – Ele nos falou…

  • Pés descalços

    Pés descalços

    França, 1857

    Estou correndo no meio da floresta.
    Essa dor de cabeça insuportável está me deixando nauseada,
    meus pés tocam o solo e quebram os galhos secos, deixando rastros.
    A dor de cabeça se intensifica a ponto de meu corpo encontrar o chão bruscamente.
    Meus braços estão feridos e sangrando por conta dos pedregulhos, meu corpo se contorce freneticamente, estou caída ao chão, rendida, a agarrar os cabelos, tamanha é a dor que sinto. Meu grito é agoniante, sinto-me arrepiar, o mundo gira ao meu redor e vejo num lampejo a lua cheia e seu sorriso sádico.
    Ouço em vários estampidos de meus ossos quebrando, cada osso, desde o maior até o menor e posso sentir a dor de cada um deles. O grito agoniante que outrora estava preso na garganta, dá lugar a um uivo seco e aterrorizador que emana ódio e eriça meus pelos.

    Garras, presas, força descomunal e uma sina.

    Não, eu nunca quis isto.

    Por que comigo?

    Tudo o que quero agora é saciar este desejo sombrio que cresce inexplicavelmente aqui dentro, no mais sombrio do meu ser.

    Sim! Num gesto, minhas presas rasgam um humano desprevenido ao meio como um naco de carne e o devoro com a fúria de um demônio. O sangue inunda minha boca e a carne está espalhada por todo o lado. Quando penso em fugir, é um pouco tarde demais.

    Os caçadores se aproximam. Tudo é muito rápido.

    Será esta minha ultima noite? Mal sei o que está acontecendo comigo. Não posso…

    Morrer.

    Eles me cercam. Cutucam-me com lanças e espetam minhas mãos com suas foices afiadas. E ateiam fogo em meu corpo. Meus urros se misturam às chamas. Ajoelhada estou a contemplar a face de cada um, e parecem gostar de estarem me torturando. Vejo o sadismo estampado na cara de cada um deles enquanto minha pele se desfaz, e meus berros dão lugar à perda de consciência.

    Meus olhos se abrem e a claridade vinda de fora os inunda, e isso incomoda. Estou no céu ou no inferno?

    Em alhures, apenas em minha cama. Tudo não passou de um pesadelo terrível e agoniante. Estou pingando de suor e a respiração não é das mais controladas, mal posso perceber que continuo berrando e paro imediatamente quando me dou conta disso.

    Recomponho-me.

    Um galho bate na janela e vou abri-la.
    O vento esvoaça meus cabelos e sim, a lua cheia, sombriamente me ilumina. Sinto um arrepio e sorrio. Ela me chama.

    Será que devo ir?

     

    Nota: Este material foi enviado pela Sue e particularmente fazia tempo que eu queria ler algo diferente sobre lobisomens. Espero que ela nos mande mais relatos como este. Ferdinand

  • A garota perdida – pt1

    A garota perdida – pt1

    Algumas semanas atrás outra vampira entrou em contato conosco, achei a história dela bastante interessante e segue abaixo seus relatos. Obviamente, já nos encontramos pessoalmente, mas isso vai ser contato em partes, afinal acabamos de virar aliados. Bem-vinda Lilian!

    Teria sido apenas um sonho, ou uma mera lembrança do timbre que a voz dele trazia…  Tentei não vislumbrar qualquer recriminação pela ótima e ao mesmo tempo, péssima experiência que havia passado.

    Mas antes que eu chegue a esse ponto, deixe-me contar quem sou e por hora apenas direi meu primeiro nome, Lilian. Tenho vinte e um anos, alias, parei de viver nessa idade. Confuso não? Eu explico, eu era apenas mais uma mulher comum na década de cinquenta, fadada a casar, ter filhos e ser uma ótima dona de casa. Confesso que nada disso me agradava, por mais que fosse algo pelo qual eu fui criada. Meus pais eram conservadores, de uma típica família americana, ligada aos deveres do marido e os da esposa.

    Eu tinha um pretendente, um homem cobiçado por muitas, menos por mim… Ele era o típico milionário bonitão, “ The handsome guy”, o cara perfeito para gerar uma família. Minha mãe falava sem parar em como eu era sortuda por ter alguém assim para o resto da vida, “Deus como eu odiava aquilo”. Toda vez que eu o via eu sentia náuseas, e posso te afirmar que não eram de emoção e sim de raiva, não era de raiva do pobre Matt, mas sim dessa situação toda e eu nunca fui do tipo que se sentia atraída por homens daquele tipo. Enfim, um ano antes do meu “Casamento feliz”, eu conheci um jovem pintor, vindo de Paris, que adorava pinturas, obras de arte e tirar fotografias. Naquela época, não era como hoje, fotos eram difíceis de tirar; não era apenas pegar o smartphone, dar um sorriso e fazer um “selfie” pra postar nas redes sociais, era algo mais complexo que isso, mas não há necessidade de entrar neste contexto agora.

    Pierre era esse o nome dele, com aquele sotaque francês tentando dialogar o inglês americano. Como eu adorava o som da voz melódica dele, o sorriso branco e um pouco assustador, os grandes olhos verdes cheios de mistério, aquela segurança sobre tudo, nada parecia assusta-lo. Eu ainda jovem, fascinada por aquele homem, pelas belas palavras dele a cada conversa comigo ou em grandes grupos. Era delicioso sentir o longo cabelo castanho dele perto do meu rosto toda vez que ele teimava em tentar roubar um beijo meu. Tola…

    Em um breve resumo, após seis meses convivendo com ele, entre os amigos, festas de família, idas ao cinema e escapando pela janela do meu quarto no meio da noite. Claro eu era jovem e adorava fugir para me aventurar com os amigos, era muito comum isso na época. Eu criei uma forte amizade com Pierre, mas nada, além disso, mantinha minha postura de mulher comprometida, por mais que eu ficasse longe do meu suposto noivo a maior parte do tempo e quanto estávamos juntos, digamos que nada de produtivo ou divertido acontecia. Até que então eis que chegou o jantar de noivado, eu me arrumei com a ajuda da minha mãe, coloquei o melhor vestido, fiz a melhor maquiagem, que naqueles tempos eram usados os delineadores (o Olho gatinho que muitas hoje ainda usam e adoram), o famoso batom vermelho e um pouco de blush, eu tinha a pele branca e precisava deixar com uma aparência uma pouco mais saudável. Quando desci, recebi com toda cortesia  os convidados, sorri o tempo todo ( o sorriso mais falso e infeliz que poderia existir), e ingeria aos poucos o vinho branco na minha taça. As duas famílias socializavam, todos felizes, o meu noivo sendo paparicado por todas as minhas “amigas”, e o pior era que, aquilo não me incomodava, o que realmente me deixava ansiosa era que Pierre não chegava nunca. Eu tentei disfarçar o máximo a minha ansiedade e a falta que ele me fazia, esses sentimentos já estavam me  incomodando. Eu tomei uma taça cheia do vinho branco sem perceber, e quando  estava desistindo e deixando a esperança de vê-lo, eis que seus longos dedos tocam as minhas costas, e quando olhei para ver quem era, lá estava ele e toda sua grande presença.

    – Você está realmente linda Lili…

    – Pierre! Que bom que veio!

    – Apesar de ser um evento triste até onde eu sei,  não perderia por nada.

    – Está tão obvio assim?

    – Aos outros não, para mim, está mais que obvio!

    Aquelas palavras caíram nos meus ouvidos como flechas acertando o adversário, machucando cada membro do meu corpo. Por um instante eu senti minha respiração falhar, ele tinha razão, era um evento triste pra mim, o que eu estava fazendo? Poucos meses do casamento e ainda não sentia nenhum tipo alegria, nenhum tipo de alivio, o que eu mais sentia era medo, tristeza, incerteza, coisas que uma mulher prestes a casar não deve sentir, muito pelo contrario, isso não deveria existir no coração de alguém que vai unir a vida com outra pessoa. Eu mal conversava ou tinha qualquer tipo de ligação com o Matt, apenas falávamos sobre coisas banais, mal nos tocávamos, e ele parecia tão infeliz quanto eu, e disfarçava mais do que eu.

    – Lili?

    – Pierre, o que eu estou fazendo?

    – Querida, se eu soubesse eu teria evitado todo esse “circo” bem antes.

    – Circo?

    – E não é? Ou diria mais para um grande drama teatral, no qual, ambos os personagens principais estão fadados a miséria da alma e a falta de amor.

    – Meu Deus…

    – Deus não é resposta Lilian… Você está prestes a cometer o pior erro da sua vida.

    Aquele jantar, sem dúvida, foi uma das piores noites da minha vida, ainda mais após a conversa com Pierre. Eu consegui apenas fingir estar bem, enquanto tudo que eu queria era corre dali e gritar o máximo que eu pudesse. Mas o maior medo era decepcionar meus pais, minha família, naquela época decepcionar a todos teus parentes não era uma opção e quando falam que a mulher não era tão oprimida, acreditem, nós erámos sim.

    O grande dia ( miserável dia), chegou, era uma linda noite de inverno, tão linda quanto meu querido Pierre, que parecia cada vez pior com a chegada do meu casamento. Eu estava com o vestido de noiva mais lindo, bem costurado, com cristais, a longa calda, a renda branca contornando meus ombros e descendo gentilmente pelos meus braços. O lindo enfeite de diamantes da minha mãe enfeitavam meus longos cabelos escuros  que desciam em cascatas até minhas costas. Eu me sentia linda, mas não estava linda para o homem que eu realmente amava. Quando me olhei no espelho, algo me disse, “Lilian, isso está errado, muito errado”.

    – Querida? Estão todos te esperando. Está na hora.

    Ah mãe, que saudades da sua voz, e lembrar que aquele dia foi a primeira vez que você ficou do meu lado e não ao lado da hipocrisia da sociedade. No momento que a minha mãe encontrou meus olhos, ela percebeu, como qualquer outra mãe, que eu não estava bem, que tudo, aquela situação, estava me matando aos poucos. E com um longo abraço, ela pela primeira vez me falou algo que eu não esperava.

    – Lilian, minha filha, a última coisa que te desejo é infelicidade… Hoje era para ser um dia especial e de alegria para você e a única coisa que eu vejo nos teus olhos é desespero e duvida. Não quero isso pra você porque…

    – Por quê? Mãe?

    – Por que a infelicidade tem sido minha companheira desde que me casei com seu pai. Você foi a única alegria da minha vida. Não se permita a miséria da existência, apenas se permita a alegria plena da vida!

    – Você é incrível mãe!

    – A decisão é sua Lili. Eu te amo querida.

    Pode parecer clichê, mas eu caminhei até o altar, e lá eu vi um Matt tão aflito quanto eu, e de pé na saída a minha direita, vi Pierre, a feição dele era pura tristeza, ele não estava dentro da igreja, apenas do lado de fora, como se estivesse vendo um velório.