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  • Como encontrar um vampiro – pt3

    Como encontrar um vampiro – pt3

    Brincadeiras a parte, convidei Rebecca para se sentar ao meu lado e ali batemos um papo. Achei legal e inclusive comentei com ela algumas vezes sobre o fato de sermos parecidos. Inclusive quem conhece um pouco mais de signos vai conseguir imaginar a “conferência”, que se tornou o bate-papo entre dois geminianos natos.

    Depois de uma hora eu já sabia de sua história sobre seu mestre louco e ela já ficou sabendo de meu passado na Floripa, Alemanha e Rio de janeiro. Um papo tão descontraído que me fez voltar para meu “ap provisório” e fofocar com Franz. Inicialmente ele soltou que eu havia me apaixonado pela nova vampirinha, todavia fiz alguns comparativos práticos e ele percebeu meu sentimento fraterno.

    Na noite seguinte chamei-a para uma reunião mais informal junto de Franz no meu “ap provisório” e ali aconteceu algo engraçado. Estávamos no sofá assistindo algum seriado qualquer, quando Franz começou seus clássicos jogos de sedução. Obviamente havia ali sangue novo, alguém com o estilo rebelde que ele adora e era até previsível que ele fosse dar em cima dela em algum momento naquela fatídica noite.

    – Diga-me senhorita Rebecca. Tens onde ficar por aqui? Estou gostando desta cidade e como o vampiro líder é meu amigo estou pensando em ficar por aqui algum tempo. Na verdade cansei do interior e está na hora de voltar a civilização. O que achas maninho, não seria bom se eu saísse da casa do mato como tu sempre me falas? Talvez a Rebecca pudesse passar uns tempos conosco…

    Naquele momento estava acontecendo algo inusitado. Franz estava sendo aparentemente honesto com relação ao fato de querer sair da “roça” e parecia estar agindo da forma mais adequada com Rebecca. Tanto que fiz uma piadinha:

    – Rebecca coloca a mão na testa do Franz e veja se ele está com febre!

    – Se ela encostar em mim eu mordo… (risos)

    – Hey vocês dois, eu gostei da proposta do Franz. Disse Rebecca de forma séria.

    Diante tal frase paramos de rir imediatamente. Rebecca se levantou e ficou na frente de Franz. Em seguida soltou o rabo de cavalo, balançou seus longos cabelos negros e inesperadamente se sentou no colo do vampiro. Com as duas mãos ela agarrou com força a gola de sua camisa e começou a cheirar seu pescoço. Na sequencia ela ficou com as presas afloradas e deu a entender que queria morder seu pescoço. Franz também aflorou suas presas. Porém, antes que ambos pusessem meu “ap provisório” a baixo ela recuou. Deu um beijo na bochecha dele e se levantou dizendo:

    – Ok adoraria fazer parte do clã de vocês, mas pode ir tirando o teu cavalinho da chuva Franz. Conheço bem teu tipinho e fui vacinada pela Eleonor. Não vou virar tua putinha, não senhor!

    Só me restou uma cousa a ser feita naquele momento: cair na gargalhada…

  • Após a transformação, como é a “vida” de um vampiro?

    Após a transformação, como é a “vida” de um vampiro?

    Sempre me fazem esta pergunta: Ferdinand como é a vida ou morte depois de ser transformado em um ser da noite, vulgo vampiro? Obviamente isso é muito abrangente e dificilmente faço um detalhamento por e-mail. Salvo aquelas vezes em que simpatizo com quem me escreve.

    Em função disso e como hoje estou com muita insônia, resolvi dedicar parte do meu tempo on-line para vos falar um pouco mais da rotina de um vampiro. Seus afazeres, seus benefícios, malefícios e tudo o que mais que envolva as noites de um ser sobrenatural na atualidade.

    Logo em seguida a transformação em que a pessoa é submetida para se tornar um de nós ocorre a primeira grande mudança, no que diz respeito à alimentação. Tu vai ter de deixar de lado praticamente tudo: lasanhas, feijoadas, pão, vinho. Sangue será tudo o que precisas para sobreviver e de preferência o arterial. Todavia, como as artérias são muito finas dificilmente vais degustar tal manjar, então terá de te contentar com o sangue venoso, pouco oxigenado e menos nutritivo. Essa adaptação leva cerca de um mês, onde vai ter muita azia, ânsias de vômito, enjoos e sensação de fome a todo e qualquer instante.

    É importante frisar que a transformação dos órgãos e do próprio corpo não é imediata, ocorre em etapas e isso de certa forma é bom para a adaptação. Outra observação importante sobre a alimentação é que alguns vampiros conseguem ingerir alguns líquidos ou alimentos. Porém, são exceções e precisam de muito esforço para expelir o que tiverem digerido. Inclusive já ouvi falar de alguns que precisaram de uma bela lavagem estomacal para eliminar tais resíduos.

    Além da alimentação, outra questão importante é a luz do sol. Esqueça ela, tu nunc amais vai vê-la ou senti-la a menos, que queira torrar feito um guardanapo na fogueira. Ninguém sabe ao certo o porquê deste “defeito”. Meu mestre me contou uma história interessante sobre uma punição dos Deuses aos primeiros vampiros, mas sinceramente isso até hoje me parece um pouco mitológico demais. O que tu precisa saber se algum for transformado é que no inicio vai sentir falta do dia, do movimento da vida ativa que tinhas. À noite tudo acontece mais devagar, quase todos os humanos estão cansados, a maioria dos lugares é fechado comercialmente e tu vai ter muito sono. Há quem se adapte fácil, eu, por exemplo, levei uns dois meses para trocar de rotina. Ainda mais porque antigamente não havia Conveniência 24h.

    Como eu já disse em outras ocasiões há diversos grupos ou clãs de vampiros e todos eles são muitos específicos com relação a regras, costumes ou hábitos. Há alguns que obrigam seus membros a seguirem determinadas religiões, certas formas de alimentação ou ainda certos tipos de vestimenta e ou hábitos de higiene. Acredite, há de tudo no que diz respeito a hábitos vampirescos. Imagine um clã que logo após a transformação coloca seus membros dentro de caixões e os enterra por um ou dois meses. Isso existe! Imagine um clã onde cada membro se alimenta apenas de determinados tipos de seres, como animais ou somente crianças… Isso existe!

    Além das questões comportamentais, a maior provação no qual passará um recém-transformado é o processo interno. Aquele que ocorre dentro de sua cabeça e que irá na maioria das vezes confrontar com seus modos e atitudes anteriormente humanos. Quase todos que conheço mantiveram boa parte dos hábitos de antes. Se era médico, continuou seus trabalhos ou estudos para com o meio. Se era policial, continuou agindo em prol da lei ou da justiça. Se era um vagabundo, dificilmente depois de transformado mudou de atitude, inclusive conheço vários que se tornaram ainda mais vagabundos e safados.

    Como eu sempre digo, a transformação me foi uma obrigação. Não pedi ou tive escolhas sobre o que me tornei, porém aprendi a conviver com isso e me manter o mais humano que me é possível. Apesar de ainda preferir o sangue humano e sabendo que isso é de certa forma um canibalismo enjeito pela cultura ocidental cristã, predominante na maioria dos países que frequento. Mesmo bebendo o sangue de marginais da sociedade, há aqueles que me criticam.

    Concluindo, depois de transformados todos passamos por uma fase típica, onde nos ocorre sempre a mesmas perguntas: O que é certo ou errado, para mim, para meu clã ou para o mundo?

  • Como encontrar um vampiro – pt2

    Como encontrar um vampiro – pt2

    A década de 60 foi uma década onde curti a não-vida “adoidada”, mesmo que em certos momentos eu tenha passado por noites muito tensas. Mas, foi mais ou menos nessa época que conheci Eleonor que por muitas vezes falou sobre “Dom Ferdinand” que segundo ela, era um verdadeiro gentlemam. Além disso, Eleonor se tornou uma grande amiga, com quem pude contar durante anos. Mas, as coisas estavam difíceis para mim em certa época onde eu não podia confiar em ninguém e, por isso precisei sumir por um bom tempo.

    Porém, Eleonor falava tanto do Sr. Di Vittore que minha curiosidade por conhecê-lo era imensa, além disso, quando soube que ele estava por perto, eu sabia que ele poderia ajudar-me diante da minha situação. Fiquei incrivelmente surpresa por ele ter aceitado conversar comigo quando entrei em contato inicialmente, e ter a amizade e referência da Eleonor contou muitos pontos para que isso fosse possivel.

    Quando recebi a ligação de Ferdinand, marcamos em um lugar próximo ao hotel em que eu estava. Arrumei-me, e caminhando apenas algumas quadras pude ver sua Harley estacionada. Ele era ainda mais alto que Sr. Erner e eu me senti ainda menor embora não seja  tão baixinha. Vestia uma jaqueta de couro e um tênis surrado. Estava escorado na moto olhando algo no celular.

    Então, eis que meu celular toca. E automaticamente ele olha em minha direção e percebe que eu estava ali há algum tempo o observando e pensando se deveria ou não me aproximar.  Envergonhada, cumprimentei-o e falei:

    -Não basta já poder sentir minha presença?

    -Muito prazer em conhecê-la também. És ainda mais baixinha do que eu imaginava!

    Naquele instante percebi seu “elevado” senso de humor, “nem sou tão baixinha assim” pensei e como se nos conhecêssemos há anos conversarmos durante longas horas em um café que havia por perto.

  • Como encontrar um vampiro – pt1

    Como encontrar um vampiro – pt1

    Algum tempo atrás recebi um pedido de amizade no Whatsapp “Oi queria te conhecer melhor, sou amiga da Eleonor.” Como não é sempre que as amigas da Eleonor entram em contato comigo eu fiquei de certa forma receoso, mas minha curiosidade foi maior. Aceitei o convite e troquei algumas palavras com a “garota”. Algum tempo depois ela confirmou sua identidade vampiresca e marcamos de nos encontrar.

    Como seria possível uma amiga nova da Eleonor que eu não tivesse conhecimento. Ainda mais dizendo-se ela ser amiga de minha doce morena a mais de 40 anos e vampira. Liguei de imediato para Eleonor e depois do tradicional “oi, como vai?” fui logo perguntando sobre sua amiga.

    “Acho que era 65 ou 66 e eu estava passando um tempo em Paris. Foi numa festa da elite vampiresca da cidade que a encontrei. Tadinha parecia um bichinho fora da jaula, acuada e pacata num canto junto de alguns conhecidos meus. Trocamos algumas ideias e depois daquela noite passei algum tempo junto dela. Hoje eu penso que meu instinto materno havia me tocado com força quando a vi e até lhe ensinei algumas peripécias femininas.

    Chegamos a trocar algumas cartas quando voltei para nosso refúgio no Brasil, mas perdi seu contato depois de um tempo. Ouvi falar dela nos anos 70 e somente em 2000, antes de tu voltares a este mundo, que voltamos a nos falar. Ela é super queridinha, mas não te enganes, por trás daqueles olhos grandes há uma vampirinha fria, calculista e que certamente sabe os pontos fracos de qualquer um que entre em seu caminho.”

    Eleonor sabe exatamente como atiçar minha curiosidade e diante tal história liguei imediatamente para a tal Rebecca Erner. Marcamos um lugar público e de fácil acesso para ambos as 21 de uma noite enluarada. Preparei a Harley, tomei um belo banho e sem delongas fui ao seu encontro.

  • Sensitiva, a história de Aidê – pt2

    Sensitiva, a história de Aidê – pt2

    Já tinha ouvido falar de pessoas que são sensitivas, mas Aidê havia me oferecido à primeira experiência prática sobre o assunto. Na verdade com o passar do tempo ela me proporcionou outras experiências inusitadas, mas cada qual ao seu tempo.

    Fiquei estático por alguns instantes e refletindo sobre o que ela havia dito, mas no primeiro estalo de realidade voltei a si e confortei seu corpo quente no sofá da sala. Ela estava tão mole que parecia estar num coma profundo. Tanto que nem mesmo alguns tapas na cara a acordaram. Confesso, naquele momento eu queria muito ir para meu refugio, mas ainda era algo em torno de meio dia e seria impossível eu sair à rua.

    Voltei algumas vezes ao quarto do Alfredo, mas ele também estava desfalecido e só me restava aguardar o passar das horas. Dei uma geral no lugar e não havia mais ninguém além de nós. Meu único companheiro durante aquele dia foi um rádio e as notícias foram praticamente todas sobre a guerra na Europa. Naquela época havia o medo de que a guerra chegasse até o Rio e se hoje fazem tantas especulações imagine nos anos 40, quando as notícias ainda levavam dias para chegar.

    Ainda era dia, quando alguém bateu a porta de entrada afoitamente. Bateram tanto e com tanta força que às pauladas despertaram Aidê.  Ela acordou assustada e perdida, mas sinalizei para que se acalmasse e fui atender a porta. Fiquei atrás dela, ouvi duas ou três vozes do outro lado, mas resisti a tentação de abri-la.

    – Nós sabes que vocês estão ai. Abram logo seus sem vergonhas!

    Gritou alguém do lado de fora. Aidê me olhava preocupada e eu sinalizava para que ela ficasse quieta. Nisso surgiu Alfredo, todo abarrotado, cambaleado  e vestindo uma camisa.

    – Já vai… Já vai…

    Gritou ele antes de me ver. Fiquei puto da vida, mas ele praticamente ignorou minha presença e se atracou na fechadura. Ele abriu apenas um pouco o que já foi suficiente para inundar parte da sala com muita luz e me segou por alguns instantes.

    – Quem é?

    – Você é Alfredo Laerte de Almeida?

    – Sim, por quê?

    Foi tudo o que pude ouvir antes de começar o maior quebra pau na entrada da casa. Aidê fugiu para a cozinha e eu ali tentando voltar a ver o mínimo que fosse. Eu torcia para que a briga ficasse do lado de fora, mas assim que Alfredo foi facilmente contido alguém disse:

    – Seu putanheiro filho de uma jumenta, sem vergonha. Não vai ficar barato não. O doutor Coronel quer o teu fígado seu traste.

    Depois de tal exclamação repleta de razão eles resolveram entrar. Tentei argumentar, falei que estava com os olhos machucados, mas eles nem quiseram conversa. Vieram os três para cima de mim. Resisti o quanto pude até levar uma bela paulada na nuca e vi estrelas. Capotei. Apaguei.

  • A Vingança de Rebecca – Final

    A Vingança de Rebecca – Final

    Erner até tentou fazer-se de desinteressado e ao final, eu, apesar dos meus planos o desejava também. Era estranho. Eu o amei. Mesmo com todo o sofrimento que passei em suas mãos. Mas, enquanto o beijava e sentia seu gosto doce, pensava em quanto àqueles anos haviam sido amargos.  Enquanto suas mãos frias trilhavam todo o meu corpo, eu sentia em cada toque, as dores, os cortes e as queimaduras. Enquanto ouvia as palavras insanas, sussurradas em meu ouvido, lembrava-me o quanto me sentia humilhada com seus xingamentos enquanto apanhava sem ao menos saber por quê.  Era hora de acabar com tudo aquilo. Era hora de dar um fim em todo o sofrimento. Vingar-me. Libertar-me.

    Quando senti que Erner distraiu-se em meio ao prazer que sentíamos, passei as mãos sobre sua nuca, olhei em seus olhos por alguns instantes e em um movimento rápido, quebrei seu pescoço. Eu sabia que logo ele acordaria. Seu corpo era pesado mas, eu o arrastava sem fazer muito esforço… Escorada na parede esperei que ele acordasse.  Quando ele percebeu que estava nu e amarrado no lugar que até então havia pertencido a mim, olhou-me com desespero. Então rindo, falei:

    – Consegue ver o que se passa em minha mente agora?

    – Maldita! Não sei como eu pude cair em um truque tão fajuto e me encontrar em tal situação.

    -É, nem eu sei como meu truque “fajuto” funcionou tão perfeitamente, você um velho e poderoso vampiro… Mas enfim, você brincou bastante comigo. Acho que agora é a minha vez…

    Por algumas horas exercitei minhas forças fazendo Erner sofrer, fazendo exatamente tudo o que ele havia feito para mim. Eu não pretendia prolongar os meus dias e noites naquela casa, porém, eu sabia que ele era um homem poderoso e cheio de negócios. O obriguei a assinar um documento que passava todos os seus bens para mim, naquela época não havia tantas burocracias e um documento assim já era suficiente, afinal meses anteriormente, ele mesmo, devido a sua possessividade, quis mudar meu nome, como se fossemos casados “Você é minha e não será de mais ninguém”. Em seguida, busquei alguns “brinquedinhos”. Quebrei ossos, retalhei sua pele e o fiz pedir por misericórdia…

    Olhei em seus olhos pela última vez, já não eram mais tão terríveis. Ele estava fraco. Agora só sobravam os restos de um homem que um dia eu temi. Amarrei seus braços com uma corrente, e arrastando- o levei-o até o lado de fora da casa. Pela primeira vez após anos eu podia ver o céu e as estrelas por inteiro. Joguei-o em um monte de pedras. Peguei um galão com gasolina. As últimas coisas que ouvi naquela noite, foram seus gritos de dor, seus xingamentos lembrando-me de o quanto eu era maldita.

    A última coisa que vi de Thomas Erner foi seu corpo queimar até virar cinza.

  • A Vingança de Rebecca – Parte V

    A Vingança de Rebecca – Parte V

    Voltei para meu corpo. E então, senti todas as dores de uma vez só. Parecia que eu iria “morrer”, era como um efeito colateral. Enquanto estava fora de meu corpo parte de mim estava imune, mas quando voltava, sentia tudo em dobro. Quando descobri meu primeiro dom, perguntava-me se teria só este ou se logo descobriria outros. Mas, já me sentia com uma grande vantagem, pois, além disso, havia descobrido que Erner já não lia mais minha mente por eu ter aprendido a controlar os meus medos. Para que entendam melhor, os manipuladores agem e conseguem o que desejam ao despertar o medo em suas vitimas, algo que eu descobri naquela ocasião…

    A porta foi aberta novamente. Erner veio em minha direção e surpreendentemente desamarrou-me e levou-me para cima.

    – Tome um banho e vista a roupa que está ali na cama, Rebecca – falou rispidamente.

    Eu sabia que ele planejava algo para aquela noite, talvez estivesse se preparando para “livrar-se de mim”, conforme suas anotações. Com isso, eu precisava pensar rápido. Quando ouvi que Erner retornava e subia as escadas, deixei a porta do banheiro entreaberta de modo a deixá-lo me observar enquanto secava-me do banho. Um truque típico, mas, eu sabia que ele faria isso e também sabia que em sua mente surgiriam desejos e ideias insanas a meu respeito. “Uma última vez, talvez, por que não?”. E sim, apesar de nunca ter me comportado de maneira, digamos, provocante, eu sabia que era capaz de despertar interesses em um homem.

    Enrolei-me na toalha. Caminhei até a cama sem olhar para Erner que naquele momento encontrava-se de costas para mim olhando para lua, pela janela. Vesti apenas a “roupa de baixo” que estava junto com um vestido e caminhando pelo quarto fui em direção ao espelho e comecei a observar-me. Erner virou-se para trás e perguntou:

    – O que está fazendo? Eu mandei você se vestir, faça logo o que mando.

    – O que foi? Não quer olhar para mim? – Falei sem deixar o espelho- Sabe, meu cabelo já cresceu novamente, passei anos sem olhar para mim e me sentir uma mulher bonita. Mas, lhe agradeço por tudo isso. Sou realmente grata. Tornei-me forte e confiante, pois mesmo sem ter escolhido isso para mim, hoje sinto que ganhei um presente… Pois serei jovem para sempre!

    -Vejo que você nunca deixará é de ser atrevida, e nunca deixará de provocar-me.

    Virando em sua direção, caminhei lentamente encarando-o, joguei-o na cama e disse:

    – E você não gosta que eu o provoque?

  • A Vingança de Rebecca – Parte IV

    A Vingança de Rebecca – Parte IV

    Quando recuperei a consciência. Continuava amarrada, porém estava sentada em uma cadeira de frente para um espelho. Quando minha visão normalizou-se e eu pude me ver, não consegui suportar e chorei desesperadamente. Eu estava horrível! Erner havia raspado meu cabelo, meus longos e escuros cabelos. Após aquela noite, fui mantida naquele lugar por vários anos, sofrendo as piores torturas, dores físicas e emocionais, sem ver o mundo lá fora. Em outros momentos, eu era forçada a estudar trancada na biblioteca, sobre assuntos que Erner me designava, em seguida, era mantida novamente na maldita sala de tortura enquanto ele saia para fazer coisas que não eram do meu conhecimento… Tive pouquíssimos momentos de paz e tréguas durante esse período.

    Ao ouvir que a porta estava sendo aberta, disfarcei e mantive meu olhar fixo para frente como se olhasse para o nada. Erner trazia sangue para alimentar-me.  Naquele momento, pensei em como eu o odiava, cada vez que se aproximava de mim tudo o que eu sentia era nojo. Eu havia me tornado uma pessoa seca. Que alimentava o ódio e tinha sede de vingança. Evitava olhar para mim mesma e me perguntava quando aquele inferno terminaria. Mas, com o tempo descobri que o vampirismo havia trazido consigo alguns dons e poderes…

    Quando meu corpo se recuperava das dores e dos hematomas eu sabia que seria torturada novamente, mas após tantas torturas na qual sofri, descobri que era capaz de fazer algo inimaginável. Descobri o meu primeiro dom, que aparentemente parecia algo comum, mas não em minha situação. Com isso, após tanto tempo negando-me a alimentar-me resolvi beber todo o sangue que havia sido trazido alegando que já não suportava mais as dores que sentia. Meu corpo recuperou-se logo e Erner iniciaria mais uma “sessão”. Concentrei-me para “me desligar”. Erner pensaria que eu havia desmaiado ou que já estava inconsciente, e foi quando senti que minha alma caminhava pela sala vendo meu corpo jogado no chão.

    Erner saiu e fechou a porta. Eu o segui até seu quarto, pois em estado de espírito percebi que conseguia atravessar as paredes. Ele abriu uma gaveta e pegou um diário que estava junto a livros de rituais, para fazer suas anotações. Vi que ele realmente não percebia minha presença, ou melhor, a presença do meu espírito. Então, aproximei-me e pude ver o que escrevia:

    Alemanha, 1955

    É estranho olhar para ela e não saber o que se passa em seus pensamentos. E isso não é bom. Eu errei, pois, pensei que fosse submissa, mas seu gênio é forte. Preciso me preparar, pois logo ela poderá perceber que já não a domino. Sei que já não a assusto… Preciso tomar uma atitude. Preciso livrar-me dela, antes do meu “grande momento”, poderei ficar fraco, e vejo que as torturas e surras que lhe dou não adiantam, pois ela aprendeu a controlar-se e dominar-se, ela logo descobrirá o que é capaz de fazer por conta do vampirismo, ai será tarde demais, não conseguirei forçá-la a ficar, mesmo depois que nos casamos, e apesar de desejá-la não posso mais mantê-la viva.”

    Deixei-o com suas anotações, já havia visto o suficiente, mesmo sem entender o que era esse tal de “grande momento”. Eu precisava fazer algo. Ele já não podia mais me controlar e eu estava decidida a me libertar e a vingar-me daquele maldito de uma vez por todas.

  • A Vingança de Rebecca – Parte III

    A Vingança de Rebecca – Parte III

    Muitas coisas aconteceram. Algumas me lembro como se fossem ontem, acontecimentos estes que realmente marcaram grande parte da minha “não-vida”, principalmente sobre os primeiros e sofridos anos após minha transformação que eu nem cheguei a ver como aconteceu.  Digo-lhes que não foi escolha minha tornar-me o que sou. E por isso, embora houvesse amor, houve muito sofrimento, na qual alimentei o ódio dentro de mim. Um demônio é como me defino. Mas, de certa forma, ser uma vampira tem lá suas vantagens.

    Após aquela noite na qual enfrentei Sr. Erner e, na qual, em seguida, vi pela primeira vez o sangue em minhas próprias mãos, acabei provocando o ego daquele que jamais admitia perder o controle das situações. Que jamais admitia perder o controle sobre mim. Por longos minutos observei aqueles corpos no chão. Ajoelhada sentia-me um monstro e em pânico. Erner caminhou em minha direção e circulou ao redor dos corpos, dizendo:

    – Pequena e tola menina. Não vou dizer que não tenho orgulho de ver em quê lhe transformei. Mas devo dizer também que seu atrevimento passou dos limites, desafiando-me como se eu fosse um adolescente.

    Senti que suas mãos acariciavam meus cabelos enquanto falava. Quando repentinamente, puxou-os com força.

    -Vamos brincar mais um pouco, querida?

    Fui arrastada até a maldita sala na qual sofri torturas inimagináveis, eu sabia que passaria por tudo outra vez, mas não relutei. Não queria deixá-lo sentir o meu medo.  Ele amarrou-me no chão, de joelhos e com os braços para trás. Pegou uma faca. Eu o observava. Caminhou de um lado para outro, aproximou seu rosto do meu e então disse:

    – Sabe, até que a noite que passamos foi interessante. Deixei-me levar pelo desejo. Mas, aquelas duas garotas… Ah! Você não chega nem perto!

    Cuspi em sua cara. Eu sabia que era apenas provocação, mas era demais para mim:

    -Achas mesmo que estou preocupada? Você é um nojento, precisa manipular os outros para conseguir o que quer. Tenho pena por nunca ter conseguido que alguém sentisse algo por você verdadeiramente. Não é a mim que estas iludindo, é a você mesmo!

    Seus olhos ficaram vermelhos. Eu havia aprendido a provocá-lo.  Com fúria ele veio em minha direção.

    Não lembro bem sobre o resto daquela noite, sei apenas que em certo ponto apaguei.

     

  • A Vingança de Rebecca – Parte II

    A Vingança de Rebecca – Parte II

    Eu acabei recordando o tempo em que era apaixonada pelo único professor de Francês que tive na adolescência, sempre tinha apenas professoras, até descobrir que ele era um psicopata, mas isso é outra longa história… E naquele momento, eu ainda não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Observei o que acontecia por alguns minutos, pensando no que faria em seguida, de que forma reagiria quando percebessem minha presença.

    Recostei-me na porta e olhando para minhas unhas, falei com desdém:

    – Meu querido Senhor, por que não me chamou para a festa? Vejo que realmente é insaciável, depois da noite que tivemos…

    Ele não se surpreendeu quando o encontrei com duas vadias na cama do meu quarto, que eu nem sei de onde vieram. Eu sei que no mundo de alguns vampiros essas coisas pareciam comuns, mas ele sabia que aquilo naquele momento me provocaria e até me machucaria, e era exatamente esse o propósito. Então, reagi de uma forma que nem eu mesma imaginava.  Aproximei-me das duas garotas. Estava decidida a não deixá-lo conseguir o que queria. Eu não reagiria feito uma moça iludida. Então, o provoquei como se estivesse gostando de senti-las me tocando, querendo participar da tal “festinha”. O surpreendi quando fiz parecer que até beijaria uma delas. Foi quando comecei a gargalhar nervosamente, mas de maneira estranha, digamos, demoníaca. Passei as mãos sobre os cabelos delas, e olhei bem o rosto de cada uma. Também eram jovens, bonitas. Olhei para Sr. Erner. O que será que ele pensava ou via em mim naquele momento? Queria também poder saber o que havia em sua mente. Desci minhas mãos até o pescoço das duas e sufocando-as senti que perdia o controle. Minhas unhas compridas apertaram ambas com tamanha fúria que acabei cortando a garganta de ambas. Seus corpos caíram como sacos no chão esvaindo-se…

    Silêncio. Suor. Sangue nas mãos. De onde havia surgido tanta força? Ele olhava para mim sarcasticamente, mas estava nervoso.

    Eu havia matado pela primeira vez.

  • A Vingança de Rebecca – Parte I

    A Vingança de Rebecca – Parte I

    Ao revirar e relatar meu passado, muitas lembranças vieram à tona. Tenho tentado contar tudo de maneira mais fiel e resumida possivel, mas claro que, muitos acontecimentos se seguiram, e, ainda trarei muitos relatos sobre os longos e confusos anos que vivi junto a Sr. Erner, um ser totalmente frio e manipulador.  Mesmo que eu tenha o amado de certa forma, eu sentia algo muito maior: ódio. Então, avançando um pouco no tempo, relatarei como consegui minha vingança, me libertando das garras calculistas e doentes de Thomas Erner.

    Por longos minutos, fiquei observando-o. Dormia de olhos abertos. Era estranho. Mas, por outro lado, seu corpo me chamava muito à atenção. Era forte. Mesmo dormindo daquela forma horripilante, seu rosto possuía traços bem marcados, tinha a aparência jovem, mas era excêntrico. Nariz fino, olhos escuros. Cabelos ondulados. Mantinha a expressão sempre séria. Era ríspido e… Sedutor. Lembrei do ocorrido nas últimas horas e imaginei novas situações. Havia sido uma noite incrível, realmente.  Ainda conseguia sentir suas mãos pesadas sobre meu corpo. Por um momento ri ao ver a situação do quarto. Mas, dentro de mim, ainda havia uma tempestade de emoções e oscilações de sentimentos. Senti-me orgulhosa por ter conseguido vencer meus medos, e desafiado aquele a quem eu temia e… Obtido êxito. Além disso, já não me reconhecia em alguns momentos. Eu estava diferente. Em meus pensamentos planejava coisas terríveis que não eram do meu feitio. Sentia amor e atração por aquela criatura, mas ao mesmo tempo, desejava a ele as piores e mais insanas dores e sofrimentos, eu queria vingança, esquecendo-me de que talvez ele estivesse vendo todos esses planos da minha mente. Vesti-me, recolhi os manuscritos e diários que havia deixado cair no chão. Ele continuava dormindo. Desci até a sala. E passei horas lendo e relendo todos os documentos…

    Em certo ponto, o silêncio e a calmaria pareceram-me estranhos demais. Para mim quando tudo estava quieto era porque algo aconteceria. Caminhei até um espelho, meu rosto pálido, olhos fundos e escuros. Quem eu era naquele instante? Perdida em meus pensamentos sobre o que havia vivido até aquela noite, ouvi barulhos estranhos de gemido. Parei e prestei atenção no som. Como sempre, minha curiosidade era imensa. Caminhei em direção ao tal barulho.

    Ao abrir a porta do quarto, senti-me perplexa e enojada…

  • Sensitiva, a história de Aidê – pt1

    Sensitiva, a história de Aidê – pt1

    “Tu estás ao centro, Alfredo de um lado e eu do outro. Estamos amarrados a três cadeiras presas ao chão e há muita fumaça, tem fogo em algum lugar… Tem alguém chegando… ”

    Era início do século XX e eu havia perdido completamente a noção dos dias e das noites. Confesso, tive diversas experiências inusitadas ao longo das quatro décadas que vivi no Rio de Janeiro. Porém, havia situações onde eu mal lembrava onde havia dormido ou muito menos aonde acordava.

    Foi numas destas idas e vindas que conheci Aidê. Filha de um ex-escravo com uma espanhola. Cuja combinação não seria outra se não alguém de traços marcantes e temperamento quente.

    Lembro-me de ter sentido alguma cousa me empurrando e ao abrir os olhos entendi que alguém me cutucava com uma vassoura. ”Tá vivo” ela perguntou. “Claro que não” respondi prontamente. Fato que a fez soltar uma gargalhada gostosa, daquelas que até assustam de tão espontânea. Cheguei a recuar e ao perceber minha reação ela se fechou, disse um tímido “desculpe” e voltou a varrer em outro canto.

    – Hey, sabes que horas são minha querida?

    – São quase duas da tarde sinhô.

    – Ah raios! Tens certeza que é tão cedo ainda?

    Ela me olhou estranho e ainda estava digerindo o fato de ter me encontrado usando apenas uma calça e ao chão do quarto de alimentos.

    – Calma,  é que trabalho a noite e durmo de dia…

    Tentei disfarçar, mas ela não ficou muito convencida. Ela inclusive se aproximou e soltou:

    – Desculpe-me o comentário sinhô, mas tu precisas de um bom banho e de um bom prato de feijão com arroz. Bebeu tanto, que tá até pálido… Deixa que eu vou ali no quarto ver se o patrão já acordou e trago uma camisa.

    Sem que eu pudesse dizer que não precisava ela largou a vassoura e foi-se correndo para outro cômodo. Foi neste momento que me lembrei da noite anterior e que eu estava na casa de um conhecido, chamado Alfredo. Na verdade era um ghoul de Eleonor e que havia me convidado para uma “festinha” na noite anterior. “Coitado, devia achar que eu a traria para que tirasse uma casquinha” Foi o meu pensamento.

    Depois de alguns minutos ouvi uma movimentação pelo lugar e surgia a minha frente uma garota loira usando apenas as calçolas. Ela protegia os seios com uma das mãos e na outra trazia o que pareciam ser seus outros pertences. Quando me viu ela sorriu e disse preocupada: “Meus pais vão me matar Fê”. Depois colocou um tipo de vestido e foi-se para outra parte da casa.

    Logo depois estampando um sorriso de orelha a orelha vinha Aidê com uma camisa na mão.

    – Sinhô, não sei o que fizeram na noite passada, mas tá parecendo que o patrão tá morto de morte morrida.

    – Como assim?

    – Eu entrei no quarto do patrão e ele tá sentado amuado num canto. A miúda tava na cama. Tomou um belo susto quando entrei e saiu correndo.

    – Calma, que vou lá ver! Espera aqui e se ver mais alguém na casa me chama!

    Fui para o quarto e o infeliz estava sentado no chão e pelado. A respiração estava muito fraca, mas a julgar pelas garrafas de cachaça, tinha tomado um porre daqueles. Coloque-o na cama e voltei para a sala. Onde por sorte ninguém havia aberto nenhuma janela ou porta

    Aidê estava sentada numa cadeira próxima a mesa e tomava um copo d’água. Quando me viu foi logo perguntando:

    – O patrão se foi?

    – Calma ele está bem, só bebeu um pouco além da conta ontem…

    – Ai minha nossa senhora ainda bem!

    Com o intuito de acamá-la me aproximei e coloquei uma das mãos sobre seu ombro. Foi quando inesperadamente ela se arrepiou inteira e baixou a cabeça por alguns instantes como se estivesse sentindo algo. Cerca de uns 5 segundos depois ela balançou a cabeça, empurrou rapidamente a cadeira para trás e se levantou. Fixamente ela me observou por alguns instantes e disse antes de desmaiar:

    “Tu estás ao centro, Alfredo de um lado e eu do outro. Estamos amarrados a três cadeiras presas ao chão e há muita fumaça, tem fogo em algum lugar… Tem alguém chegando… ”