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  • A magia e os vampiros – pt7

    A magia e os vampiros – pt7

    Barulhos de todos os tipos atingiam meus sentidos aguçados. Pedaços de madeiras, telhas, pregos, louças… Todos caiam sobre mim e alguns inclusive machucavam a ponto de fazer sangrar minha pele, que naquele instante estava mais grossa e recoberta por longos pelos, devido à transformação bestial. Durante esta metamorfose os pensamentos se tornam vagos e dispersos, como se estivéssemos em um sonho controlável, mas extremamente focado naquilo que queríamos antes de nos transformar.

    Meu objetivo era única e exclusivamente aniquilar aqueles dois peludos safados, que haviam nos sequestrado e atacado. Todavia, uma briga que envolva lupinos e magos nunca é algo linear e que siga uma sequencia lógica. Tanto que ao ser atingido pelos primeiros raios de sol, não aconteceu nada comigo, foi ali que alguns pensamentos relacionados aos ilusionistas vieram a minha mente.

    Escombros por todos os lados, mais tremores e de repente somos envoltos por uma densa e escura névoa negra, que silenciou absolutamente tudo, estabilizou os tremores e também bloqueou minha visão por completo. Naquele instante eu não sabia se ainda estava transformado ou se já havia voltado a minha forma humana, mas naquele momento eu descido ser menos agressivo e iniciei o ritual para transformação em névoa. Afinal, nesta forma eu pelo menos não seria atingido por armas físicas.

    Alguns minutos se passaram, eu achava que já havia me transformado e me locomovi sempre à frente, pois na minha cabeça em algum momento aquela nuvem negra iria ter fim. Perdi mais algum tempo nesta movimentação em câmera lenta, até que em fim e gradualmente voltei a ouvir alguns sons. Seguidos por raios de sol, que também não me machucaram e finalmente encontrei uma clareira em meio aquele lúgubre caos. Minha transformação em névoa não havia funcionado e ainda na forma bestial eu procurei pelos outros.

    Como faz pouco tempo que isto ocorreu eu ainda me sinto empolgado ao contar, o fato de que Hadrian deu uma bela surra nos dois peludos. Ele estava com o olhar diferente, parecia mais ofensivo e seus olhos estavam escuros tais quais as nuvens negras ao seu redor. Eram elas, aliás, que haviam bloqueado minha visão anteriormente, mas o que eu achei mais interessante e aterrorizador deste seu poder era o fato dele conseguir manipular graciosamente as sombras. Eu possuía conhecimento deste poder e já havia sido atacado por detentores deste dom antes, mas no caso de Hadrian era diferente, como se ele tivesse uma espécie de armadura de sombras ao redor de todo seu corpo. Algo espesso, denso ou palpável como cinzas de alguma cousa que fora queimada.

    E foi bonito ver os dois apanhando, sendo jogados de um lado para o outro, até que finalmente o velho foi o primeiro a cair inerte e esgotado, como o pobre do Sebastian anteriormente. Situação, aliás, que comprometera seus feitiços e desfez o lugar onde estávamos. O barraco, os raios de sol e até mesmo o campo ao nosso redor eram na verdade um galpão maior, típico de algumas fábricas abandonadas daquela região. Ainda era noite e o poder de ilusão deles era tão forte que fomos enganados por Claire desde o momento em que ela nos encontrou.

    Na sequência Claire baixou a guarda, tão logo percebera que seu pai havia sucumbido diante Hadrian. Ela na verdade parou tudo o que fazia e foi desesperadamente ao encontro do velho. Eu que ainda estava na forma de lobo gigante fui desfazendo minha transformação e percebi que Hadrian fazia o mesmo. Não vi Sebastian de inicio, mas ao procurar melhorar por ele, o vi sentado no chão e encostado a uma parede se recuperando.

    Feitiços desfeitos, olhei para Hadrian, que me sinalizou com a cabeça e nos aproximamos com cuidado dos dois peludos. O velho estava ofegante e com muitas escoriações, parecia que a famosa regeneração lupina não estava funcionando nele.

    – Ele usou todas as suas energias nesse teatro, era nossa segunda opção caso o Hadrian não quisesse ir pacificamente conosco. – Nos disse Claire, visivelmente abalada e prestes a chorar.

    – “Cof cof cof…” Estão vendo por que “cof”… Hadrian precisa ir conosco…

    Nesse momento Hadrian se aproximou do velho e interrompeu sua tosse ensanguentada com mais um de seus feitiços. Ele pôs a mão direita no peito do velho, murmurou algumas cousas em uma língua desconhecida para mim, depois mordeu um de seus dedos e despejou algumas gotas de seu próprio sangue na boca do moribundo. Este deu mais algumas tossidas, mas aparentava se recuperar mais rapidamente. O mago fez o mesmo com Sebastian e na sequencia veio a mim perguntando se também queria um gole, mas sorrindo recusei a proposta indecorosa.

    Sei que vai parecer estranho para alguns de vocês, mas depois de tudo isso e de quase nos matarmos, finalmente aconteceu uma conversa decente. Onde Hadrian pôde expor suas intenções e manifestar o seu direito de ir e vir como e quando quisesse. Na verdade ele acertou de viajar com os dois para conhecer a tal Labraid Lámh Dhearg e nós voltamos as nossas rotinas,  tendo como sempre mais uma história para vos contar…

  • A magia e os vampiros – pt6

    A magia e os vampiros – pt6

    Todos os vampiros que conheço e sem exceções, temem a famigerada morte final. Alguns por que se imaginam sofrendo a punição de algum Deus, outros por acharem que não há nada depois deste plano e muitos, tal qual eu, pelo aconchegante apego aos familiares, amigos e todas as memórias geradas nesta “vida”. Esse assunto é sempre muito polêmico e nos proporciona diversos pensamentos, ainda mais na situação que havia se formado ao meu redor naquele início de dia.

    Eu não sabia por quanto tempo poderia conter Claire entre minhas costas e a parede, mas certamente foi tempo suficiente para as ações de meus irmãos. Logo a minha frente Sebastian tentou imobilizar o grande Lobisomem com algumas técnicas de jiu-jitsu brasileiro. Seria uma bela briga caso o oponente fosse humano, mas tendo em vista a força do peludo a realidade foi outra. O Wampir foi jogado de um lado para o outro, como uma trouxa de roupas suja, na verdade até conseguiu se esquivar de algumas garradas, mas também levou várias mordidas e terminou jogado num canto, praticamente inconsciente e com o braço esquerdo quebrado.

    Naquela hora tudo começou a passar em câmera lenta aos meus olhos e talvez por isso pude prestar atenção na aura amarelo/avermelhada ao redor de Hadrian. O grande vampiro que até então nos parecia calmo e inofensivo, passou a esbanjar um ar literalmente radiante e imponente. Seus olhos fechados me deram a entender que ele estava concentrando seu poder para algo, e quando menos esperava, um súbito terremoto atingiu com força as estruturas do barraco. Várias cousas caíram das prateleiras e muitas delas em cima de nós. Inclusive algumas telhas foram arremessadas ao chão e abriram espaço para os malditos raios de sol.

    Entenderam por que falei de vida e morte no primeiro parágrafo? Pois era exatamente no que eu comecei a pensar naquele momento e qual seria meu plano de ação antes de virar churrasquinho…

    Mesmo naquela situação, consegui me soltar, porém ocorreu o mesmo com Claire e tanto ela como seu pai partiram de supetão para cima de Hadrian. Fora um momento péssimo e por mais que eu quisesse ajudá-lo, Sebastian era minha prioridade. Tratei então de garantir nossa sobrevivência e em meio a tudo aquilo não me restava outra opção, além da famosa “saída a francesa” e comecei a  pensar em como fugir ou se esconder  pelo menos do maldito sol.

    Outros momentos tensos viriam pela frente, especialmente quando uma parede do lugar foi inteira a baixo. Mais sol, mais tremores e por sorte parte do chão abaixo do piso do barraco ficou exposto, exibindo o que eu chamo de “maravilhosa terra”. Estava ali o meu plano de fuga, mas o que faria com Sebastian, sendo meu poder limitado a mim e no máximo a roupa do corpo, junto de mais alguns pertences pequenos? Porém, esta pergunta ficará sem resposta, haja vista a sequência dos fatos proporcionados por Hadrian.

    O terremoto cessou assim que o velho e sua filha começaram a atacar brutalmente o mago-vampiro. Foram tantos socos, chutes e garradas, que era possível ver o suor voando pelos ares junto de alguns pelos fedidos. Naquele momento Claire também havia se transformado, fato que me fez imaginar um “tudo ou nada”, mas que por sorte também foi deixado de lado devido as circunstâncias.

    Hadrian parecia ter assumido alguma forma astral, não física, mas é difícil explicar o fato de seu corpo ainda estava lá, rígido como a mais dura pedra e recebendo sem pestanejar, todos os golpes deferidos pelos dois brutamontes. Tudo parecia interminável, quando Sebastian saltou do meu lado diretamente para cima do velho peludo. De início uma “trocação” franca de socos, algo sujo e sem técnica, mas que teve efeito ao redefinir o foco dos lobisomens. Sinceramente, não sei como Sebastian conseguiu se recuperar tão rapidamente, mas estava ali minha deixa para também iniciar minha transformação…

    Mordi meus lábios inferiores, cuspi um pouco de sangue nas mãos e esfreguei no rosto. Sei que isso vai parecer nojento, mas faz parte da minha técnica para agilizar o processo. (Onde cada um faz da sua forma e numa noite destas eu prometo explicar o porquê disto. Lembrem-me por favor!) Desta vez a transformação levou menos de um minuto, tempo suficiente para analisar o perímetro e derrubar Claire com uma garrada certeira em seu pescoço.

    Por mais que Sebastian tivesse ressurgido das cinzas e aparentemente recomposto, na verdade ele ainda estava fraco e minha preocupação havia se tornado outra. Como provavelmente ele havia gasto muita energia para se “regenerar”, sua reserva estava quase no fim, momento no qual o demônio fica mais a flor da pele do Wampir. Situação extremamente indesejada por todos nós, no qual agimos no automático, podendo inclusive ferir quem estiver do nosso lado.

    Todavia, Sebastian levou um golpe tão grande que tive a impressão por alguns segundos de ter perdido minha cria… Novamente a trouxa de roupas sujas foi jogada contra uma parede, que se estremeceu e por sorte não tombou. Neste instante éramos três bestas colossais, babando, exalando todo o tipo odores e grunhidos selvagens.

    Um novo terremoto sacudiu tudo.

  • Frases engraçadas do site

    Frases engraçadas do site

    A Ana lá de Portugal, deu uma boa lida no site e separou as frases que achou mais engraçadas. Muitas foram ditas por mim, mas há várias escritas por vocês. Pensem nisso como uma retrospectiva deste ano. Espero que no próximo ano tenhamos vários momentos descontraídos como este. Küss e boas festas a todos!!! (Um beijo especial para a Ana)

    “Cara de boa eu estava aqui coçando o saco… Pois é vampiro também tem saco apesar de alguns acharem que não… E funciona muito bem obrigado!”

    “OMG… olha a modinha de vampiros aí de novo……”

    “Pessoal, cuidem de seus pescocinhos!”

    “…esquece essa coisa de bolsa de sangue eu quero um pescoço.”

    “E um deles meio bêbado resolver brincar de tiro ao alvo com minha pessoa.”

    “Fui, deu de blá blá blá que o estômago está roncando (como se o meu funcionasse aheuhauehauheau)”

    “Eu acredito na fé, principalmente na água benta, essa porcaria se jogada contar nós, faz um puta estrago.”

    “Cortar a cabeça: Tá isso nos mata… E deve doer…”

    “Pensando melhor eu nem sou tão ruim assim, por que tu gostarias de me matar, não é mesmo?”

    “kkkkk eu ri muitoooooooooooooooooooooooooooooooooooooo!!”

    “Cara esses ”amadores” que se dizem caçadores ¬.¬”

    “Parece até aqueles desenhos em que tem um monte de trombadinha dizendo ”eu vou fazer isso e aquilo com você.”

    “Daí desenterram a postagem, chegam os novatos e já se auto declaram vampiros. Posso contar um segredo pra vocês? Eu sou o Batman. Não contem pra ninguém, viu? SHHH!”

    “Sabe, tentar matar um vampiro? Bom, melhor não… se eu tentar é bem provável que quem acabe morta seja eu.”

    “Galego, o Maher Jabbar é meio retardado, ne n?!”

    “E tu por acaso acha que existe algum “tele-entrega de vampiro”? Cada cousa que leio por aqui…”

    “Tá afim de uma cerveja ai? Manda a minha com muito sangue…”

    “Ferdinand é um vicio eterno!!!”

    “…lembram do que eu tinha dito sobre as pessoas no Japão se vestindo estranho e tal, Imagina os vampiros… É um mais hilário que outro. Tá tá eu sei que não podem ser vistos como um bom exemplo de vampiros que se vestem normal, mas vejo por que eles estão em alta aqui.”

    “sem comentários esse doutor é realmente doentio”

    “…vou ter de arrumar um lugar para não virar churrasquinho…”

    “Cara que história é essa do vampiro na luz do sol ficar com a pele parecida com a de um diamante??? “

    “…raio ultraviolentos”

    “Olá pobres mortais!!!(parece que eu quero ser caçado falando essas cousas ne…)”

    “Toreadores??? Por que diabos eu fui tentar aproximar a minha realidade da realidade mortal dizendo que era tipo um Gangrel, agora todos vão achar que eu sou um mero NERD e jogador de RPG ¬¬”

    “Olá prazer eu sou o Galego você precisa me amar… (Galego, pare de ver séries velhas de tv¬¬)”

    “Hei droga de rato não, olha como fala”

    “faça o mais fácil não tente matá-los e fuja como uma menininha.”

    “você acha que por ter sido escolhido, o mundo da noite irá te acolher de braços abertos? Tch tch tch, pobre mancebo…”

    “Galego Productions apresenta…”

    (Na hora do título, minha imaginação travou.)”

    ”Cumé?” Então cachorro pode virar gente?!”

    ”Lá vem àqueles chatos pedirem dinheiro”

    “Por que diabos um cara de chapéu de palha, meio caipira estava me perseguindo?”;

    “Seu puto, não acredito que estou te vendo por aqui…”

    “Veio até nós na forma daquela loba loira de bumbum empinado…”

  • A magia e os vampiros – pt5

    A magia e os vampiros – pt5

    Uma longa história que se iniciou nas épocas medievais e pelo que ela nos disse dura até hoje. Mais uma daquelas sociedades secretas Ferdinand? Sim, mancebo e uma composta em sua maioria por peludos. A tal Labraid Lámh Dhearg, cuja tradução remete à “Mão vermelha” e que além de todos os interesses lupinos, também exerce poder sobre o mundo dos magistas. Veio até nós na forma daquela loba loira de bumbum empinado…

    Eu assumo que Claire, não é apenas um pedaço, mas sim o mau caminho inteiro. Cheia de atitudes, original, forte brarinha do jeito que eu gosto. Porém, Sebastian foi quem literalmente babou e despertou um interesse maior que o meu na bela senhorita. Sendo ele membro da Ordo Dracul, obviamente não faltou assunto até o “local seguro” no qual ela estava nos levando.

    Apesar de tanta conversa Claire ainda não havia falado sobre os seus reais interesses em Hadrian e tanto ele como eu, estávamos receosos sobre os planos de tal organização. Então depois de alguns minutos chegamos a um galpão no meio do nada e bem longe do centro da cidade em que estávamos. Algumas poucas lâmpadas incandescentes amareladas iluminavam o lugar e aquele nevoeiro típico do inverno em regiões litorâneas, garantiram um clima ainda mais sobrenatural a situação.

    Logo na porta um velho com cabelos longos e cinza nos aguardava. Ele vestia uma camisa xadrez vermelha, calça jeans, botas longas de couro marrom e nas mãos exibia o que parecia ser uma 12 ou similar. Sem mais delongas desembarcamos e ele foi nos falando:

    – Já era em hora, mas precisava trazer os três?

    -Calma pai, era isso ou eu iria chamar muito a atenção para a o lugar.

    – Que merda, entrem então!

    Naquele instante percebemos a origem do jeito “nervoso” de Claire.

    Ao entrar vimos um lugar simples, alguns colchonetes, repleto de malas e algumas caixas de isopor. Alem disso, havia também muitas armas, inclusive algumas granadas, o que me levou a crer que eles estavam preparados para uma possível guerra.

    – Já contou a eles sobre a O.T.O.?

    – Não pai, eles estavam mais interessados em mim e na minha calça, não é mesmo Ferdinand?

    Naquele momento se eu fosse humano certamente estaria com as bochechas coradas. Então abri um sorrisão a fim de quebrar o gelo. Obviamente ninguém havia entendido a piada, além dela, então resolvi fuçar mais um pouco.

    – Ahhh, mas quer dizer então que a senhorita além de ser uma bela espadachim, também tem dons mentais?

    Apesar de meu jeito mais descontraído ela manteve o charme, talvez por estar perto do pai e apenas comentou me desdenhando.

    – Nem imaginas do que sou capaz…

    Depois disso tudo aconteceu muito rápido e tentarei não poupar os detalhes de que me recordo…. Conversamos por mais um tempo, lembro que eu comentei que estava para amanhecer dentro de alguns minutos e o senhor foi até gentil e disse que poderíamos ficar por ali até a próxima noite. Depois disso, a conversa foi para o rumo desejado e finalmente Hadrian virou o centro das atenções.

    – Imagino que minha filha tenha fugido do assunto e se o fez foi por que lhe pedi. Como vocês já devem ter percebido eu vou direto aos assuntos e é por isso que o Hadrian irá conosco hoje à noite.

    No exato momento em quem ele terminou a frase, Claire se movimentou muito rápido a ponto de meus olhos não acompanharem. Passou provavelmente por trás de mim e quando percebi estava preso por alguma espécie de corda ou fio extremamente forte. Com os braços imobilizados eu não pude fazer outra cousa se não empurrá-la para trás contra uma das paredes. Com a força do impacto uma das janelas abriu e iluminou parte da sala com vários raios de sol matinais.

    Praticamente ao mesmo tempo em quem Claire tentava me conter, o seu pai se transformou na forma diabólica Lican e incitava naquele instante uma luta épica, daquelas que certamente ficará por um bom tempo em minha memória.

  • A magia e os vampiros – pt4

    A magia e os vampiros – pt4

    Quando se está numa situação tal qual esta, não há muito que fazer se não aguardar o pior, que certamente virá da pior direção. Armas à mão, silêncio absoluto e o mínimo de luzes acessas. Seja lá o que viesse, teria de ser muito bom para enfrentar nós três e sair vivo – Pensei comigo.

    A porta foi aberta vagarosamente, deixando a mostra alguém de cabelos longos e que conforme foi adentrando, me lembrou a loira doutra noite. Por causa da penumbra foi muito difícil identifica-la de início e aquilo me deixou intrigado. Curiosidade, que foi sanada assim que ela se aproximou um pouco mais e nos sussurrou – Venham, venham logo, consegui limpar a saída, mas é provável que outros estejam vindo atrás de vocês.

    Ficamos sem reação e abismados diante tal situação completamente inesperada e inusitada. – Quem é você? – Soltei ao perceber que os outros dois não se mexeriam – Andem logo, se eu quisesse já tinha despachado vocês quando entrei. Depois se quiser aperto sua mão ou te dou um beijinho de “oi” – Disse-nos a misteriosa e irônica senhorita…

    Mochilas nas costas, malas nas mãos e saímos o mais rápido possível do lugar. A cada lâmpada acessa que iluminava o nosso caminho, eu percebia um detalhe a mais da misteriosa dama. Primeiro foi uma tatuagem tribal cobrindo um dos seus antebraços, depois foi a espada, que possuía uma lamina muito bem forjada e com diversos entalhes cravados na lâmina. – Tão bela quanto mortal – pensei comigo.

    Além disso, ela trajava uma calça de lycra preta, dessas com detalhes de escamas, coturnos bem justos e amarrados. Para te ser sincero eu perdi um tempo analisando o traseiro dela e não encontrei marcas de calcinha, mas isso é um mero detalhe… Tudo isso, era complementado por  um resistente e bem feito colete a prova de balas, coberto por um casaco de couro sintético vermelho e fosco.

    Não usava brincos, colares ou maquiagem. Apenas um anel em cada um dos anulares, representando talvez alguma espécie de compromisso com alguém. Enfim, eu poderia escrever mais alguns parágrafos  sobre ela, mas a história precisa continuar…

    Ao passar pelos outros cômodos do lugar, não havia ninguém, nem mesmo marcas de sangue e aquilo começava a soar como uma emboscada, até que em fim chegamos ao comércio, que disfarçava nosso esconderijo. Vários produtos jogados ao chão, algumas prateleiras quebradas e finalmente sangue por alguns lugares, porém nada dos corpos dos tais agressores que estavam atrás de nós.

    Logo na saída havia apenas uma caminhonete grande e foi para dentro dela que a tal loira nos “mandou” entrar rapidamente. Junto ao volante, muitos fios soltos deixavam claro que ela era roubada, mas isso são apenas detalhes, cousas que minha mente irrequieta costuma não deixar passar despercebido.

    – Aqueles malditos devem ter regenerado e fugido, devia ter cortados suas cabeças nojentas!

    – Ok, então quer dizer que você é uma mercenária e está usando todo esse charminho para nos prender e ir receber alguma recompensa, é isso madame? – Disse Sebastian.

    – Não viaja barbudinho, modéstia a parte como eu disse eu podia ter acabado com vocês naquele buraco! Meu interesse é apenas no Hadrian e se não fosse por vocês seria muito mais fácil ter levado ele de volta para um lugar seguro.

    Nesse momento eu parei de observar e falei um “Como assim?”. Hadrian também chegou a resmungar algo, mas a garota nos ignorou e continuou. – Já ouviram falar dos LLD? – Ao ouvir tais letras, foi Sebastian se coçou para responder, mas ela permaneceu cheia de si, manteve os olhos na estrada e nos contou sua história:

    – Podem me chamar de Claire, sou da Irlanda e como já deve ter reparado tenho sangue Lican correndo em minhas veias. Há muitos anos faço parte da Labraid Lámh Dhearg…

  • A magia e os vampiros – pt3

    A magia e os vampiros – pt3

    Quando pensei em ir atrás do tal sujeito sinto alguém passando muito rápido por mim, não era nenhum conhecido e naquele momento eu me senti obrigado a deixar de lado os cuidados de sempre. – Foda-se as câmeras, foda-se quem estiver vendo, vou ter de usar tudo aqui – Pensei comigo, mas antes de precisar agir feito um monstro, senti as energias de Sebastian e Hadrian.

    Em poucos segundos eles surgiram e minha intuição mandou entrar no carro o mais rápido que me fosse possível. Na sequência eles entraram também e com algumas manobras rápidas eu deixei o carro pronto para sair, porém mesmo naquela escuridão ví algo pelo retrovisor que me chamou muito a atenção. Primeiro foi o brilho de algo metálico, que ao reparar melhor vinha de uma espada, talvez uma katana. Depois foi o conjunto, algo como um sobretudo escuro e por fim aqueles cabelos loiros longos e cacheados.

    – O que foi Ferdinand, bora bora bora – Confesso que a pressa de Sebastian não me incomodava e somente criei vontade de sair dali quando ví a bela senhorita, acertando em cheio o peito do infeliz, no que provavelmente foi um golpe mortal em seus órgãos internos. Feito isso, eu queria muito ir lá bater um papo com a tal justiceira, mas a merda que os dois haviam feito no hotel era mais importante.

    – Vocês viram aquela garota lá atrás? Ninguém havia visto nada além de um cara caído ao chão, foi a resposta de ambos.  Será que eu estava tendo alguma nova visão? – Pensei comigo. Enfim, o que rolou lá em cima senhores? – Chegamos em meu quarto e encontramos aporta entreaberta, havia um sujeitinho fuçando minhas coisas e Sebastian agiu rápido segurando-o. Todavia, ele se esquivou conseguiu ir para a janela. Sebastian tentou atirar nele, mas os tiros foram em vão e ele escapou aparentemente voando. Depois disso eu consegui juntar meus itens importantes nessa mochila e voltamos para cá.

    Contei a eles o que havia ocorrido comigo e todos ficaram sem saber o que havia acontecido. Será que estavam seguindo Hadrian, será que o cara do hotel tinha alguma ligação com o mendigo e tal loira que prendeu minha atenção? Noite a dentro Hadrian nos contou de seus passos até nos encontrar e tudo levava a crer que ele realmente havia sido perseguido por alguém, mas quem?

    Nesse momento ficará perceptível para vocês o fato de que é extremamente complicado manter alguma espécie de lar… Tratei de arrumar tudo o que pude no lugar em que estávamos e fomos passar o dia no “comércio” de um(a) conhecido(a).  Nessas emergências a rede de contatos vampiresca sempre se faz muito importante. Ainda mais que estava para amanhecer em poucas horas e havia alguém atrás de nós. Mesmo conhecendo há tanto tempo aquela cidade e a praticamente todos os sobrenaturais que viviam nela, senti-me um pouco preocupado.

    Hadrian havia trousse consigo algo realmente novo para todos e infelizmente o preço deste “novo” foi um pouco caro no início. Ferdinand, vocês investigaram direito tudo e já colocas a culpa no recém-chegado? Calma mancebo, a história é mais longa do que imaginas…

    Enquanto descansávamos durante o dia, Hadrian revisou seus pertences e junto de alguns documentos numa das malas, encontrou uma espécie de selo, desenhado a mão com um pincel de cerdas finas, sobre um pedaço aparentemente de couro bovino. Disse ele, que aquele selo era uma espécie de localizador, então até que ele desfizesse a magia, era bem provável que ainda estivéssemos sendo seguidos.

    Dito e feito, pouco depois de escurecer recebemos um aviso vindo da superfície: Preparem-se estamos sendo invadidos!

  • A MAGIA E OS VAMPIROS – PT2

    A MAGIA E OS VAMPIROS – PT2

    O bate-papo entre vampiros é algo que merece uma atenção especial por minha parte. Imagine um asilo, onde todos os velhinhos estão com ótima saúde, senis e ainda com muita disposição para relembrar histórias e aventuras. Pois é mais ou menos assim que eu me sinto quando encontro amigos, ou faço novos neste meio.

    Hadrian nos trouxe novas visões do que até então tínhamos por verdade quase absoluta. A magia trabalhada por ele se aproximava muito daquelas que eu via sendo feitas por Kieran, só que de uma forma mais familiar. Era como se ele trouxesse vida a nossos corpos mortos e criatividade a nossas mentes. Poderíamos nós também adquirir tais dons?

    Eu já tinha ouvido falar de magistas que haviam sido transformados em vampiros, aliás, existem muitos clãs com esses indivíduos, porém o inglês grande, ruivo e de olhos verdes trouxe uma nova expectativa as minhas noites. Especialmente pelo fato de que ele mostrou interesse em se juntar a nós. – Vaguei por muitos lugares, conheci muita gente e o apreço que nossos mestres possuíam um pelo outro, me leva a crer que eu devo me juntar a vocês – Disse ele com sua voz grave e jeito de “bom vampiro”.

    Na noite seguinte fomos ao hotel em que ele estava hospedo para pegar suas bagagens. Uma espelunca no centro, provavelmente indicado por algum taxista maldoso que levou um por fora pela indicação. Apesar de tudo o que eu conto por aqui eu não gosto de lugares assim, sujos e cheios de mendigos ou drogados. Frequento-os apenas para me alimentar ou quando quero uma briga, então disse para eles agirem rápido.

    Mesmo naquela hora a rua estava movimentada, tive de parar o carro na entrada de uma garagem e como todo brasileiro, liguei o pisca alerta na intenção de amenizar o problema. Alguns minutos haviam se passado e paciência nunca foi minha virtude, sabe quando algo te incomoda e nem mesmo o Facebook no smartphone consegue te distrair? Lá fui eu acender um cigarro eletrônico, maldito vício que eu cultivei naqueles meses…

    Se não bastasse o lugar ruim e a espera, tive de ser incomodado por um mendigo atrás de cigarro. Faz a criatura entender que o cigarro era eletrônico e não dos normais… Eu estava quase dando o meu cigarro para ele, quando ouço três disparos vindos de dentro do hotel. Por instinto me abaixei atrás do carro, olhei para os lados e aparentemente só minha audição aguçada havia escutado os disparos.

    Dei um chega para lá no “sujismundo”, travei as portas do carro e liguei para Sebastian. No caminho até a recepção do hotel ele me atendeu e sussurrando me alertou para que os aguardasse no carro. O que diabos eles haviam feito? Cheguei a pensar em  ir ao encontro deles, mas aceitei o seu pedido e voltei para o carro. Ao voltar para a rua uma surpresa, o tal mendigo havia largado o cobertor, boné e jaqueta no chão. Extava apenas com as calças e uma regata que exibia seus braços tatuados. Ainda se não bastasse o que estava acontecendo o filho da puta estava tentando arrombar meu carro…

    “…Run, Pig, Run
    Here, I , Come
    There is no safe place
    There is no safe place
    There is no safe place to hide…”

  • A magia e os vampiros – pt1

    A magia e os vampiros – pt1

    Quase sempre eu escrevo por aqui para confidenciar meus pensamentos e angustias, relacionados ao fato de eu ser um vampiro. Para alguns, isso não é um fato aceitável e exige muito mais do que conhecimentos ou crenças, pois vai além do que lhes é ensinado em escolas ou por suas famílias tradicionais. A cultura de muitos lugares, principalmente no Brasil da atualidade, salvo alguns lugares específico, é favorável a uma educação mais lógica, desprendida de mitos, lendas e histórias.

    Sinceramente quando entrei nesse mundo on-line em meados de 2006, eu vislumbrei muitas cousas, principalmente o fato de que a internet permitiria o aumento do conhecimento geral das pessoas e uma possível aceitação do que nós somos. Todavia, o que eu vejo por ai nesses 7 anos de acessos é que houve sim o aumento do conhecimento geral, mas a questão lendas está cada vez mais apagada.

    Que papo de sociólogo é esse Ferdinand? Calma mancebo, essa introdução é para contextualizar minha última aventura junto de Hadrian e Sebastian em meio aos seres tidos como “despertos”.  “Despertos”, aliás, é um termo novo aqui no site, muito utilizado por Hadrian e de significado simples. Abrange todos nós que conhecemos a verdade por trás da penumbra da sociedade humana: Vampiros, bruxas, metamorfos …

    Enfim, essa história teve início meses atrás e logo que voltamos do enterro de meu estimado Kieram.  Lembram-se da caixa de Suellen? Pois então, cerca de duas noites depois eu recebi um telefonema de um cara até então desconhecido e que se dizia discípulo do falecido mago. No telefonema ele foi breve e disse apenas que gostaria de marcar um encontro para nos conhecermos.

    Naquela mesma noite liguei para meu pupilo (Sebastian) e ele tomou a liberdade de resolver tudo, definindo inclusive um local público e seguro. Tendo em vista, o fato de que não é sempre que nos contatam em números exclusivos aos membros do clã, tal preocupação se fez importantíssima. Naquele mesma noite ele foi ao meu encontro e combinamos algumas ações e reações para evitar imprevistos.

    22:10 estávamos no local marcado e fazia 10 minutos que o cidadão estava atrasado. Como não sou muito paciente com horários eu resolvi ir para o terraço e praticar aquela famosa “esticadinha nas pernas”. No meio das escadas eu esbarrei num sujeito  com quase meu tamanho, um pouco mais forte, feições europeias e que descia correndo. Apesar dele não emitir qualquer tipo de energia sobrenatural, os seus grandes olhos verdes e olhar penetrante me chamaram a atenção, a ponto de não reparar em sua voz grave e no rápido pedido de desculpas.

    Eu mal havia posto os pés no terraço e estava a ponto de queimar um pouco de essência de menta em meu cigarro eletrônico, quando sinto o smartphone vibrando no bolso. – Herr, nosso convidado chegou – Disse-me o afoito Sebastian. No mesmo instante voltei para o salão e lá estava o sujeito da escada…

    Durante alguns minutos ele confirmou sua ligação com Kieran, revelou momentos e situações muito íntimas do velho mago e aquilo me pareceu suficiente para que nos retirássemos para um lugar sem eventuais “ouvidos nas paredes”. Chamei Sebastian para um canto e ele também compartilhou de minha opinião, confesso que inicialmente o sentimento que vinha a minha mente era de que tínhamos diante de nós uma espécie de órfão. Alguém, que independente dos poderes, estava precisando mesmo de um ombro amigo.

    Instantes depois a conversa foi retomada num dos meus refúgios e lá veio a revelação: Estávamos diante um trunfo de Gaia, alguém que havia fugido a todas as regras e se revelou como sendo um “mago-vampiro”.

  • A vampira pin-up – pt7 – final

    A vampira pin-up – pt7 – final

    – Seria tudo uma grande brincadeira de meus irmãos? – Fora meu pensamento durante outro dia de insônia. Franz, Joseph, nem mesmo minha cria Sebastian atendiam aos vários telefonemas e todo o jogo parecia se encaixar. Filhos da puta pensei comigo, porque diabos não podia fazer as cousas de uma forma mais tranquila, desde a meda do vampirismo entrar na minha vida era assim, sempre o último a saber…

    Cansado de tentar achar respostas e entupido de perguntas, pensei em exercitar uma das primeiras cousas que Georg havia me ensinado e um dos poderes mais antigos dos vampiros: a meditação junto a terra. Assim sendo, eu contei os minutos e logo que pude desci correndo para algum lugar. O mais próximo do hotel era o famoso Central Park, que na época não era tão movimentado à noite e seria perfeito para meu descanso.

    Várias clareiras escuras, muitos lugares, que certamente serviriam para se abandonar algum corpo, mas isso não passava na minha mente naquela noite. Onde eu queria apenas um canto para sossegar, dormir ou ter algumas ideias. Depois de um tempo deitei-me sobre uma pequena clareira, oculta das trilhas principais por vários arbustos e folhagens. Ao meu redor apenas os insetos e alguns cachorros que provavelmente estavam perdidos e latiam sem parar.

    Neste contexto iniciei meus trabalhos e relaxei. Envolto por Gaia e no mais completo relaxamento, consegui ter minhas primeiras visões do que parecia ser Eleonor, Franz, Sebastian, Joseph e Georg. Todos pareciam felizes e jantavam como numa família humana comum. Até o instante que alguma cousa aconteceu e todos ficaram agitados, corriam de um lado para o outro e o fogo tomou conta do lugar. Acordei e dei de cara com um filhote de cachorro sem coleira, molhado e perdido ao meu lado.

    Antigamente, alguns povos nórdicos acreditavam que ver um animal escuro depois da meditação era sinal de confirmação dos pensamentos, mas o que podia ser absorvido de tal visão? Voltei para o hotel, deixei uma caixinha para o recepcionista me liberar a entrada com o cachorro e dei um trato no animal. Banho, comida… Parecia outro bicho depois de algum tempo.

    Ainda naquela noite recebi uma ligação, inicialmente o recepcionista e depois um homem, cuja frase me tirou do sério novamente: “Passaremos às 21h amanhã, esteja pronto para negociar sua hermosa morena”. Não me ouviu xingando, não escutou e ignorou completamente. Fiquei naquela maldita situação de dependência, que abomino acima de qualquer outra cousa.

    Já era pouco mais de 5 da manhã eu tinha poucos minutos para providenciar algo ainda naquela noite. Revisei o que eu tinha de armamento. Na época eu já tinha o hábito de andar sempre com duas pistolas nos coldres nas costas, no caso duas MAC-50 de origem francesa,, que aliás ainda tenho, mas não tenho saudades pois as minhas ao menos  tinham o hábito de travar e dar fortes “beliscões” em minhas mãos, quando eram usadas para muitos tiros em sequência.

    Já tinha perdido a conta dos dias que eu havia passado “em claro”, não estava com fome e tudo que vinha a minha mente, eram as possibilidades de negociação e poderes que que eventualmente eu poderia utilizar para sair com Eleonor de onde estivéssemos.

    21 em ponto tocou o telefone, era o recepcionista dizendo que estavam me aguardando na entrada do prédio. Arrumei tudo o que pude e deixei um bilhete junto de alguns tocados para a camareira cuidar do cachorro enquanto eu estivesse fora. Desci e dei de cara com dois brutamontes, provavelmente capangas dos gangster que estavam com Eleonor. Não senti nenhuma energia sobrenatural nos dois então apenas os acompanhei para o carro, um belo e polido Lincoln preto.

    Os dois foram no banco da frente e me levaram sem dar nenhum pio até um açougue fora de Manhatan. Entramos pela frente, passamos por diversas portas e enfim me deixaram numa saleta que tinha apenas duas cadeiras e uma mesinha todas de madeira escura. Segundos depois ouço passos de mais de uma pessoa, eram os dois brutamontes seguidos por uma figura gorda, bem vestida com um terno feito sob medida, mas com cara de nojento.

    – Senhor Ferdinand vou direto ao assunto, me chamo Tony Castellanno e tu já deve ter ouvido falar de meu irmão, capiche? – Eu até tinha ouvido falar dos tais Castellanno da região, mas como continuei com meu semblante apático ele apenas continuou. – Enfim, encontramos tua garota aprontando no nosso pedaço e acredito que merecemos um ressarcimento pelo trabalho que ela nos causou, claro, obviamente se o senhor quiser ela viva ou em fatias para a viagem de volta, capiche?

    Neste momento ele ficou calado esperando uma resposta, então eu me mantive controlado olhando para o nada. – Ela está aqui? – Não senhor, mas posso chamar caso tenha interesse em iniciar, Cap… – Eu já estava puto com os tais “capiche” e o interrompi com um soco forte na mesa – Trás ela pra cá agora!

    Nesse momento um dos brutamontes deu um passo em minha direção, mas antes de tentar algo foi barrado com um aceno do balofo. – Senhor Ferdinand, não te exaltes, por favor, somos homens de negócio. Jonnhy vá buscar a dama! – Nesse instante eu me dei conta de que ele era um vampiro, sua energia era fraca, provavelmente por ter sangue sujo, mas isso mudava um pouco os improvisos que eu havia idealizado.

    Durante o tempo que ficamos aguardando ele tentou puxar assunto, se gabou inclusive que era parente de sangue do vampiro chefe da cidade e deu a entender que se eu tentasse algo me daria muito mal. Situação que me deixou ainda mais puto e afim de ver seu sangue podre colorindo as paredes sujas de onde estávamos.

    Senti a energia de Eleonor se aproximando de nós, mas ela estava muito fraca e provavelmente estava imobilizada por algum ritual. Dito e feito trouxeram a pobre coitada para a saleta toda amarrada, inclusive com os olhos vendados. Cena que de imediato mexeu comigo a ponto de não conseguir segurar mais o meu demônio. Era deixa de que ele precisava para aflorar em meu corpo, destruindo o pouco de humanidade que minha alma sempre insiste em manter.

    Escuridão, sangue e pedaços dos corpos dos três por toda sala, apenas Eleonor ainda amordaçada sob a mesinha. Minhas roupas estavam inutilizáveis, meu corpo apresentava várias escoriações, hematomas e eu não pude distinguir o sangue deles do meu. Parecia que tudo, a exceção de Eleonor e a mesa, havia sito colocado num liquidificador…

    Atordoado, sem saber direito o que havia acontecido novamente e tendo de pensar mais rápido que o normal. Peguei Eleonor nos braços e fui para o carro que por sorte ainda estava parado na frente do açougue. O “laranja” que cuidava do lugar provavelmente havia fugido em função do barulho e aliado a mania americana de deixar uma chave reserva no tapa sol, facilitaram nossa fuga.

    De volta a Manhatan, consegui parar num lugar tranquilo próximo ao hotel, desamarrei Eleonor e tentei acordá-la dando um pouco de meu sangue. No início ela não teve reação alguma, porém foi o tempo de meu sangue misturar-se ao seu para despertar. Muitos minutos se passaram até que ela finalmente voltou a si, querendo saber o que havia ocorrido. Resumi rapidamente os ocorridos, dando ênfase ao fato de que meu demônio parecia ter se acalmado mais rapidamente do que nas outras vezes.

    Por sorte havia um casaco no carro o que cobriu ao menos minhas partes íntimas para poder retornar ao quarto do hotel. Desta vez o recepcionista ficou preocupado, tive de inventar que havíamos sido assaltados (bla bla bla), mas ele pareceu ter ficado feliz quando fizemos check-out na noite seguinte e lhe damos uma grande gorjeta.

    Noites depois soube da verdadeira história, de que o plano inicial de Eleonor era me dar um susto, inclusive alguns dos envolvidos no incêndio eram amigos delas e ainda estavam vivos. Tinha o aval de meus irmãos e queriam me mostrar de alguma forma, que eu precisava descansar por uns anos. Aquele papo de que eu sempre falo por aqui de que a hibernação ajuda a trazer tranquilidade aos nossos companheiros demônios. Por fim, os gângsteres haviam sido apenas uns pobre coitados que se meteram com os Wampirs errados.

  • A vampira pin-up – pt6

    A vampira pin-up – pt6

    Durante aquela noite eu não pude fazer muitas cousas, além de indagar o mensageiro sobre quem havia entregado a caixa e dar uma olhada pela região próxima ao hotel. Sobre o entregador, não consegui nada além do fato de que havia sido um garoto do serviço de entregas. Com relação aos quarteirões próximos ao hotel eu vaguei por horas em busca de algo, mas não havia nada de suspeito nos telhados, becos ou lugares que invadi em forma de névoa.

    Antes do amanhecer eu voltava para o hotel, quando alguém passa muito rápido pelas minhas costas. Naquele momento, que durou pouco mais de 2 segundos, eu senti uma energia boa e que até havia dado a impressão de ser Eleonor e que me assustou um pouco pela surpresa. Porém, nada ao redor além de carros estacionados e alguns poucos infelizes, que recém haviam acordado e provavelmente iam para sua labuta diária.

    Novamente no quarto de hotel e por sorte alguma camareira havia arrumado o lugar na minha ausência. Desolação era o sentimento que mais marcava presença em minha cabeça naqueles dias e noites. Certamente, quem teve a infeliz ideia de me provocar, na tentativa de que eu pudesse refletir sobre tudo o que havia acontecido comigo, o fez num momento absurdamente errado.

    Durante aquele dia nublado, alguns raios de sol conseguiam transpor as nuvens e se chocavam contra a cortina furada do quarto, proporcionando um ambiente mais tenso ainda. Planos, ideias, medos e filosofias se chocaram na minha cabeça. Inclusive a página de meu diário em que deixei anotado esta passagem está com as letras muito borradas  e malfeitas, demonstrando a tensão do momento.

    Então veio mais uma noite e com ela o mais completo desânimo, outro dia em claro e se isso é péssimo para um humano, imagine para um vampiro que possui preocupações maiores ainda… Entre tanto, tudo mudou de figura quando recebi uma nova ligação da recepção e o garoto me informou que havia uma garota querendo conversar comigo pessoalmente. Naquele instante eu me preparei, deixei a porta aberta e a aguardei em forma de névoa. Para o momento e pela surpresa foi o melhor plano que tive.

    Alguns minutos depois ela deu duas batidas na porta e entrou furtivamente. Era uma garota nova, cerca de 20 anos, humana e aparentemente não me ofereceu nenhum perigo. Naquele instante eu já estava desfazendo a transformação para poder pegá-la de surpresa, quando ela me surpreendeu com um texto provavelmente decorado.

    – Senhor Ferdinand, eu vim busca-lo para que ele possam negociar pessoalmente com o senhor a libertação de sua irmã. Por favor apareça onde estiver, o senhor precisa de mim para chegar até lá.

    Mesmo assim, agarrei a garota por trás e travei minhas presas em seu pescoço. Pensar por tanto tempo havia me deixado com fome e não pude negar um belo pescocinho como aquele. Controlei a fome para não matá-la, lambi a ferida para cicatrizar mais rápido e por fim larguei-a desmaiada sobre a cama. Pedi um lanche para quando acordasse e aguardei ansiosamente ao seu lado.

    Uma hora depois ela acordou muito fraquinha e me perguntou onde estava e o que estava fazendo em minha cama. Evidentemente e para minha tristeza haviam feito algum ritual ou hipnose com a coitada, e só me restou usar a lábia para convencê-la de que eu estava apenas ajudando. Depois conquistar parte de sua confiança, acabou me confessando que estava na rua voltando da faculdade, quando foi abordada por uma mulher mais velha que ela. Alguém de cabelos escuros, pele clara e grandes olhos azuis. Descrição muitíssimo similar a de minha querida Eleonor…

  • A vampira pin-up – pt5

    A vampira pin-up – pt5

    Um mandamento, um pensamento e uma flor em meio as cinzas do que ainda restava de paciência em minha cabeça. Novamente eu tive mais um dia sem sono, as pálpebras dos meus olhos simplesmente não queriam se tocar… Como Franz parecia não ter dado muita bola para o que havia acontecido liguei para o meu melhor amigo, Joseph. Tentei vários números que eu tinha em minha caderneta e quem disse que ele estava em algum deles?

    Torturado por meu próprios pensamento, fatigado por tudo o que eu já havia feito e ainda estava fazendo. Hoje eu vejo claramente como minha cabeça estava uma merda naquela época, mas te digo mancebo, que não desejo passar por aqueles pensamentos novamente.

    Perto das 20h o telefone do quarto tocou, era da recepção e o garoto me informou que havia uma encomenda, uma caixa embrulhada para mim. Desci o mais rápido que pude, pois certamente era algo do tal ameaçador misterioso. Dei aquela sacudida básica, parecia haver algo grande dentro, mas me contive e voltei para o quarto.

    Não havia bilhetes, apenas um “To: sir. Ferdinand” escrito a mão e com uma letra bonita, provavelmente teriam utilizando uma caneta tinteiro e nanquim, pensei.  Ao cheirar senti ainda um forte odor de enxofre, elemento bastante difundido entre os praticantes de magia ou feitiçaria. Tendo em vista os ocorridos e o fato de eu estar sozinho eu não tive outra escolha se não desembrulhar e abrir o pacote.

    Papel pardo ao chão, sentidos aguçados e lá estava eu com uma caixa de chapéu em mãos recheada de itens. Havia algumas mechas de cabelo, uma calcinha de renda preta, alguns batons, dinheiro e um vidro contendo aparentemente sangue já coagulado. Além disso, havia também um bilhete, onde provavelmente utilizaram a mesma caneta e tinta. Muita raiva, ódio e todos os palavrões possíveis vieram a minha cabeça ao ler o que o infame folhetinho continha:

    “Imagino que tenhas passado o teu dia indagando sobre o outro bilhete? Sim, te conhecendo como conhecemos provavelmente fizeste isso, tua impaciência e  falta de controle sobre os teus  dons, são os teus maiores defeitos Ferdinand… Para que tenhas certeza de que estamos falando muito sério te enviamos o que havia na bolsa da Eleonor, bem como um pouco de seu sangue e alguns fios de seu cabelo. Não aceitaremos nada a menos do que a tua vida em troca por ela. Reflita mais um pouco até nos encontrarmos!”.

    Puto da vida liguei novamente para Joseph, que desta vez me atendeu depois de umas quatro ou cinco tentativas. Ele foi extremamente atencioso, me acalmou, mas também como todo bom amigo me jogou na cara que tudo aquilo era culpa minha e da minha rotina Casanova desregrada. Parece que alguns amigos gostam de nos dar na cara nesses momentos… Apesar disso, ele me deu algumas dicas e procedimentos que poderia fazer. Na visão dele eu deveria procurar o vampiro chefe da cidade, mesmo sob pena de ser punido pela morte de alguns de nós.

    Franceses e suas tagarelices, eu não podia correr o risco de ser punido por algo que na minha cabeça não havia sido culpa minha. Malditas vadias e seus rituais de fertilidade… Como eu poderia saber que meu demônio não gosta desse tipo de estimulação?

  • A vampira pin-up – pt4

    A vampira pin-up – pt4

    Alguns barulhos ao redor e tive de sair em função dos policiais que chegavam para investigar. Acabei aceitando que não havia o que fazer, pois não sentia mais sua energia e voltei para o hotel onde estávamos hospedados. Um bom banho quente de banheira para tentar relaxar e fiquei imaginando o que poderia ter acontecido. Como não relaxei, nem muitos menos tive conclusões condizentes liguei para Franz, que nesta época estava em algum lugar da Alemanha tentando reassumir nosso negócios por lá.

    – Lembra que Eleonor estava empolgada um tempo atrás com aqueles shows de mágica? Vai ver ela resolveu praticar um pouco. Aguarde mais uma noite ou duas… – Recordou meu irmão. Estaria ela envolta em algum ritual ou truque novo? Vocês sabem que minha cabeça não sossega, então fiz mais algumas ligações durante aquele dia e assim que anoiteceu retornei ao lugar.

    Eu estava atordoado, alguns pensamentos transformavam-se em imagens que vinham aos meus olhos, provavelmente lembranças ocultas de mim por mim mesmo naquele estado demoníaco…

    “Waiting for my time
    Oh Lord, please forgive me
    Waiting for a hero,
    An angel relieve me”

    Vaguei cabisbaixo e com as mãos no bolso, apenas seguindo meu caminho em direção as possíveis cinzas daquela linda alma. Alguém, aliás, que eu não estava dando o devido valor mesmo depois de tanto tempo juntos. Sim, eu estava tendo aquele típico pensamento depressivo com auto-avaliação.

    Alguns passos e lá estava aquele palito de fósforo queimado. Nenhuma energia sobrenatural ao seu redor e apenas duas placas com o desenho do distintivo do distrito policial, informando que o lugar estava fechado e a entrada proibida. Uma viatura a poucos metros do lugar, indicava que alguns investigadores deveriam estar vasculhando a região, então tive de agir rapidamente.

    Passei rapidamente em frente ao lugar e arrumei um beco para me transformar em névoa. Voltei a casa e como um bom farejador, senti cada canto daquele lugar, porém nada no porão. Também nada na parte de cima, mas antes de ir embora novamente eu resolvi passar nos fundos do lugar. Um quintal pequeno, com pouco mais de 10m² onde havia um gramado, um ofurô e algumas flores.

    Fiquei impressionado com o fato de que apenas uma flor amarela havia sobrevivido a todo aquele caos. Seria um sinal? – Pensei comigo, então retomei minha forma de névoa e voltei para o hotel.  Onde fui surpreendido por um bilhete deixado na recepção.

    “Lei nº 5 do livro sagrado, não matarás. Pense nisso esta noite Ferdinand.”