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Um coletivo de vampiros e outros seres

Saímos da fazenda de helicóptero e algumas horas depois em um céu de brigadeiro, como disse o piloto, chegamos em uma grande metrópole brasileira. Do hangar da companhia aérea, até nosso refúgio foram mais alguns minutos de carro. Porém perto das 3h30 estávamos todos acomodados. Preciso dizer o quanto Audny ficou maravilhada com tudo? Sim…

Apesar de ser sua segunda viagem de helicóptero, ela ficou maravilhada em função do tempo de voo. Passamos por cima de muitas cidades menores e a cada uma ela se maravilha com as luzes e paisagens que o céu limpo proporcionou. Ela ficou ainda mais maravilhada quando chegamos na grande metrópole.

Os arranha-céus, as construções antigas misturadas as novas…tudo aquilo a vislumbrou de tal forma que é difícil descrever. Muitos comentários, muitas observações, muitas perguntas. Ela hibernou na época das caravelas e ainda estava pela Europa na época. Os outros velhos também foram trazidos já hibernando para o refúgio no Brasil. Algo que Georg construiu um pouco antes da minha vivência pela Alemanha em mil oitocentos e tantos.

Audny, me faz sentir nostalgia de um tempo que se foi. Sou um “Mucilon” perto dela, mas vivi a virada do sec XIX para o XX e ela sempre me faz os contrapontos daquelas épocas para a atual. Pepe também se encantou com suas histórias e tem sido um aprendizado para ambos os lados. Isso junto ao fato de estarmos ligados pelo laço de sangue tem sido proveitoso, apesar de que em algum momento isso pode nos afetar em função do seu temperamento e reconstrução.

Preocupações a parte, o refúgio havia sido limpo, cada um se acomodou no subsolo da melhor forma e estava de volta ao urbano, a selva de pedra e as possibilidades que isso nos proporcionaria em meio as sociedades humana e sobrenatural. Tanto é que passadas as primeiras noites em que nos acostumamos, veio o primeiro convite para socializar. Algo simples até. Um clã vizinho gostaria de resolver alguns assuntos pendentes.

Na verdade, não posso considerar um clã, pois nem mesmo eles se chamam assim a começar pelo nome “Coletivo alguma coisa”. Então vai vendo. Sobretudo tais adaptações modernas me deixam um tanto quanto perturbado, mas são os ventos da mudança e talvez os últimos tempos junto de Audny tenham me levado de volta ao passado. Fato é que ser imortal trás consigo a necessidade de resiliência e tratei logo de pensar num lugar para que pudéssemos nos encontrar com segurança.

Pepe, começou a se dedicar mais a sua carreira de DJ e com isso começaram a surgir algumas festas maiores para ela tocar e divulgar o seu som. Com isso veio a oportunidade de fazer um encontro público, o que beneficiaria ambos os lados. Tanto que ao propor tal lugar, ele foi aceito quase que de imediato pelos três representantes do tal coletivo. Eles também não apreciam o lance de liderança e são adeptos da neo-anarquia.

Com a noite marcada fomos os três para o lugar marcado. Pepe foi separada pois iria tocar, Audny foi comigo de moto. Ela gostou do passeio e confessou sentir um pouco de medo ao pegarmos o famoso corredor entre os carros, mas a noite estava fresca, apesar do calor daquele dia. Estacionei no subsolo do próprio prédio da festa e por um elevador velho fomos até o Rooftop. Vista bacana do lugar e ficamos pela varanda fumando um vape de melancia ice. Audny viciou no troço e quis comprar uma pra ela também.

Papo vai e vem, Pepe começou o seu som e perto da 1h apareceram os tais três “representantes do coletivo”. Um vampiro com idade aparente de uns 50 e duas mulheres uma na mesma faixa e uma outra novinha na faixa dos 21. Uma delas eu tive certeza eu era lobisomem a outra me deixou na dúvida. Nos cumprimentaram formalmente e fomos para um canto onde o som estava mais baixo. A mais nova foi a primeira a reivindicar algo:

– Escuta aqui cara, o papo vai ser reto e se liga na minha rima. Se vocês não fornecerem armas pra gente, ninguém aqui fica contente. A gente quer o ferro, o berro e ninguém vai ficar quieto.

Eu juro que tentei segurar, mas soltei uma gargalhada… me contive e soltei:

– Eu não sei rimar, mas não vaia ser assim garota…

Ela deu uma balançada na cabeça e parecia que estava entorpecida de algo, mas continuei:

– Algum de vocês quer refazer o pedido dela?

Encarei os outros mais velhos e ao perceber minha reação o cara mostrou as presas, sem se preocupar com os humanos em volta. Audny, deu um passo pra frente e segurei o braço dela. Tentei novamente:

– Sério, vocês vão ficar nessa de rima podre e mostrando os dentes. Sou dentista por acaso? Vamos embora, minha querida.

Ao perceber que eu estava ficando puto aquela que parecia humana, se aproximou. Olhou em meus olhos e disse com uma voz calma e tranquila, quase materna:

– Espere senhor Ferdinand e peço desculpas pelos meus companheiros. Eles são um pouco impulsivos e esquecem que os mais antigos preferem outro tipo de negociação. Permita-me trocar duas palavras a sós contigo?

Percebi que ela tentou usar algum tipo de poder em mim, mas estava me sentindo normal, então resolvi aceitar suas propostas e fomos para outro canto, um pouco mais barulhento, onde tivemos de nos falar próximos do ouvido e cada um.

Ela foi direto ao ponto, trouxe suas necessidades, falou como e quanto gostaria de pagar. Algo inclusive superior ao que iria pedir e a princípio tinha fechado negócio. Voltamos ao encontro dos demais. Audny encarava os outros dois que a encaravam de volta e por sorte ninguém deu um passo à frente.

– Senhores estamos acertados, retornarei em breve com o local para nossa troca. Venha, minha querida.

Peguei na mão gelada de Audny que resistiu brevemente, mas acabou cedendo e me seguiu. Percebi que o clima não tinha ficado muito bom entre os três, mas isso não era problema meu. Curti um pouco o som de Pepe e perto das 2h e poucos resolvemos voltar ao refúgio. No meo do caminho percebi um carro nos seguindo, mas já conheço bem a região e ao passar por alguns túneis e ruas menores consegui despistar.

Chegando no refúgio recebi uma mensagem do tal coletivo:

“Estamos com a tua cria, por segurança. Quando acontecer nossa troca ela será devolvida inteirinha.”

Pqp

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