Autor: Jean Felski

  • O preço da imortalidade

    O preço da imortalidade

    A garoa caía leve, deslizando pelo ar como pétalas entregues ao vento. A lua, tímida, se escondia entre as nuvens, quase imperceptível aos olhos humanos. No refúgio, Pepe estava largada no sofá, distraída, enquanto Audny folheava os manuscritos e anotações trazidos da fazenda. Mas eu… eu estava inquieto. A noite parecia exigir movimento, interação.

    “Algum esquema hoje no pub?”, escrevi para Franz.

    O silêncio da tela não me surpreendeu. Ele poderia estar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa que um imortal desejasse. Sem esperar resposta, peguei um dos carros – um híbrido – e segui para lá. O trânsito estava tranquilo após as 21h, mas ao me aproximar do pub, uma onda de presenças me atingiu. Majoritariamente humanos, sim, mas também sobrenaturais. Entre eles, um lobisomem, talvez uma bruxa… e uma energia fraca, oscilante. Um vampiro jovem.

    Estacionei na vaga habitual. O carro de Franz não estava ali. Nada preocupante – ele vinha e ia conforme queria. A fila para entrar estava longa. No meio dela, identifiquei a lupina e um possível feitiço na aura de alguém. A energia do vampiro novato também reverberava ali, instável.

    Passei pelos seguranças com um aceno rápido. Sabiam quem eu era. Desci para a área administrativa, onde a gerente e o chefe de segurança monitoravam as câmeras. Atrás daquela sala, uma segunda porta protegida por senha levava ao nosso espaço reservado: sofá amplo, uma mesa cercada por cadeiras, uma geladeira abastecida com bebidas e bolsas de sangue fresco, trocadas a cada três noites.

    Sentei por ali, consumindo uma dose, rolando as redes sociais. A banda começou pouco antes das 22h – uma boa oportunidade para interações. Ainda nada de Franz. Não que eu estivesse preocupado. Era apenas a inquietação geminiana. Fui ao lavabo, gargarejei flúor e finalmente me joguei na pista.

    — Senhor Ferdinand, sou sua fã! — A garçonete surgiu, prendendo-se ao meu braço. — Sempre acompanho suas postagens no Wampir! Estava comentando com uma amiga sobre como você e o senhor Franz interpretam bem os vampiros!

    Essas eram as ocasiões em que os dons mentais de Franz seriam úteis, mas eu sabia lidar. Soltei uma risada e correspondi:

    — Que bacana! Depois me chama lá e me conta quais histórias você curtiu mais. — Aproveitei a deixa. — Viu meu irmão por aí?

    Ela apenas balançou a cabeça. O som aumentava e a multidão se movia ao ritmo das melodias. A lupina se divertia como qualquer outro. Eu mergulhei nos riffs, absorvendo a vibração da noite. Era disso que eu precisava.

    O iPhone vibrou.

    “Tô indo pro pub, tais onde, maninho?” – Franz finalmente deu sinal de vida.

    Quando ele chegou, subimos para o terraço. Em meio a tragadas no vape de melancia, ele falou sobre uma vampira que havia conhecido recentemente. “Coisa boa”, pensei. O papo fluía até que senti aquilo.

    A energia que sempre vinha.

    A voz de Franz se tornou distante, as músicas se dissolvendo no fundo. A névoa surgiu, sinuosa, e eu… eu sabia. Estava sendo puxado para o Umbral.

    Era inevitável.

    Meu corpo não resistia. Atravessava.

    E então, 1945.

    O cheiro de maresia. O som das ondas. Leblon. Sentado numa cadeira de calçada, observava o velho bar Veloso – um mercadinho na época, ponto de encontro de quem apreciava música e cerveja gelada.

    A princípio, não me sentia dentro do meu corpo. Flutuava em uma estranha consciência, mas logo me reconheci. Era eu. Vestido com roupas da época. Estranho e fascinante.

    Alfredo, o ghoul de Eleonor, estava ao meu lado. Não Franz.

    Ele resmungava sobre os trabalhos, jogando para dentro doses generosas de cachaça – “oncinha”, como chamava. A cena era familiar. Eu lembrava daquela noite. A noite anterior ao dia em que conheci Aidê.

    Mas antes que pudesse interagir, tudo se esvaiu. Alfredo, o barulho, o ambiente. A névoa retornou.

    Pisquei e lá estava Franz, me encarando.

    O celular vibrou.

    A sobrinha de Aidê.

    Ela havia morrido.

  • Conto na Amazon: O coven perdido

    Conto na Amazon: O coven perdido

    Ando distante aqui do blog, pois desde o ano passado tenho dedicado meu tempo para criar contos lá na Amazon. Inclusive hoje eu publiquei mais um, com foco nos vampiros que andam mais presentes no clã atualamente: Pepe, Audny e eu Ferdinand.

    Esse conto se passa entre São Paulo e a Serra do Mar. Locais com um passado repleto de histórias, relatos e lendas sobre grupos, individuos e muitas situações místicas ou sobrenaturais.

    Resumo da Amazon

    O coven perdido – Uma Jornada Entre Sombras e Segredos

    Nas ruas escuras de São Paulo, Ferdinand, um vampiro investigador experiente, encontra um grimório perdido em um sebo misterioso. O que deveria ser apenas mais um artefato raro se revela um convite para desvendar segredos enterrados há décadas.

    Com a ajuda de Pepe, uma mente brilhante da tecnologia, e Audny, uma figura enigmática com conhecimentos ancestrais, Ferdinand mergulha em um mistério profundo envolvendo um antigo coven e um ritual proibido que nunca deveria ter sido realizado.

    As páginas do grimório pulsam com memórias fragmentadas e revelam um evento trágico ocorrido em 1985: um assassinato dentro do coven, traições e disputas de poder que ainda ecoam no presente. Determinado a encontrar respostas, Ferdinand reúne os sobreviventes—bruxos cujos passados ainda carregam cicatrizes da noite fatídica.

    Entre florestas que parecem vivas, feitiços poderosos e conflitos que desafiam lealdades, a busca pela verdade se transforma em uma luta contra forças obscuras. Mas algumas verdades podem ser mais perigosas do que as próprias mentiras.

    O passado nunca fica enterrado. Você está pronto para enfrentar as sombras?

    Adquira já a sua cópia na Amazon e leia no seu Kindle.

  • Papo de uma noite qualquer 

    Papo de uma noite qualquer 

    – Ahhh o pub Raibow, que ideia maravilhosa meu irmão! 

    Ali se iniciava um papo charmoso com o Franz, digo charmoso, pois ele estava inspirado. As noites em meio as pessoas ou sobrenaturais que se disfarçam entre os humanos em nosso espaço, tem sido muito bacanas e produtivas para o vampiro centenário. 

    Sim, eu tenho falando bastante disso e sobre o fato dele estar bem nessa empreitada. Sobretudo, isso é algo muito bom e que foge do fato de eu falar sempre sobre mim. Sério gente, cansei de falar das minahs histórias aqui em todos esses anos. Será que algum vampiro não teria histórias mais interessantes? 

    Bora falar do Nosferatu e do papel interpretado pelo Bill Skarsgård. Gente que ator maneiro e que foi além do It. Adorei o papel dele, sério mesmo. Bem na verdade o bigode foi algo, assim que somente o meu mestre Georg curtiria, ou os camaradinhas que frequentam a Santa Cecilia em São paulo, mas ok. 

    Voltando ao assunto do pub. Franz estava feliz pois se enamorou com uma garçonete. Garota simples do interior, mulata do sorriso cheio de dentes e cheia dos rebolados cativantes. Se você troca duas palavras com ela a mulher vem com um gingado do nada. Simpática, que só ela, não são apenas os vampiros que cuertem seus traquejos, mas muitos marmajos pagaram contas de 4 dígitos ao se engraçar com a sua lábia… 

    – Que felicidade é esta que te completa meu irmão, seria a tal mulher que tens saído? 

    Um papo

    Ele curvou a cabeça e entreolhou para o canto da sala… depois completou: 

    – Imagines tu que ela se pôs a conversar com um fulano noutro dia e o dissimulado pagou quase 5 digitos de conta numa simples noite de quarta e sem banda. 

    – Vislumbro que alguém merece uma promoção? 

    – Quem sabe? 

    – Pergunta com perguntas, como resposta meu irmão… Algo de errado não está certo, tal qual alguém me disse esta semana. 

    – Heim? 

    – Relaxa devaneios de alguém que tenta estar em todos os meios. Essa mulher, vamos chamar de Letja, o que tens a me dizer além do fato de que ela trabalha muito bem? 

    Ele ponderou por vários instantes… 

    – Ahh ela rebola por qualquer motivo. 

    – Olha ai tá vendo (risos) era esse o ponto… e esses rebolados como estão na tua cabeça? 

    – Poxa maninho, acho ela uma linda. Toda cativante, toda cheia dos sorrisos, toda cheia de energia, mas é uma funcionária humana. Como tal precisa nos servir! 

    Levantei a sobrancelha esquerda, depois falei pausadamente. 

    – Olha, eu passei contigo os perrengues da tua ex… e o pub veio como algo bacana para que você retomasse alguns pensamentos. Se achar que a tal Letja pode ser algo além de uma funcionária, eu acredito que você deveria pensar a respeito. Todos os dias os humanos nascem e peressem. São poucos que merecem uma sobrevida… pensa nisso. 

  • Backstage da sociedade sobrenatural

    Backstage da sociedade sobrenatural

    Leia a seguir ou ouça uma versão feita por I.A.:

    Minhas noites estavam tranquilas entre a nova a operação envolvendo o pub Rainbow, a gestão do clã e as noites junto de meus aliados. Pepe passou a equilibrar o tempo on-line com os aprendizados físicos e Audny colou em mim. Entendo os motivos dela, em função dos novos aprendizados contemporâneos, mas em algumas oportunidades comecei a sentir minha privacidade congestionada:

    – Audny, se não me engano hoje é a primeira ou segunda noite de lua cheia, vou dar uma volta de moto pra dar uma relaxada.

    – Sei, posso ir junto, Fêzinho? Eu queria ir junto, adoro passear contigo de moto…

    Nesse instante ela me olhou com aqueles olhos grandes, os cabelos ruivos brilhavam a luz das lapadas amarelas e foi difícil dizer não.

    – Tá bora, mas entenda que eu preciso do meu espaço também heimm.

    – Fiqueis tranquilo Fê, deixo-te em paz depois do passeio…

    – Sei, mas tô vendo que ainda precisa conjugar os verbos de uma forma mais atua, moça. Bom vamos, pega esse capacete aqui.

    Entreguei-lhe o capacete e na garagem optei pela clássica Harley antiga, que já estava um tanto quanto empoeirada. Limpei rapidamente e saímos. Sensação libertadora, daquelas que sempre falo por aqui. Quando o vento faz aquela esfoliação na pele e a cada acelerada, o corpo sente a vibração singular que o misto de motor e asfalto emanam.

    Passei por entre os carros, circulamos por ruas estreitas e grande avenidas de várias pistas… estava tudo bacana, mesmo com Audny agarrada e apertando com força todas as minhas costelas. Estávamos apreciando o passeio e eu tentando refletir um pouco entre as minhas ideias, até que duas motos esportivas começaram a nos perseguir.

    Não tive o que fazer, duas esportivas contra minha velha HD, me obrigaram a parar e tentar se proteger. Foi o que fiz abaixo de um viaduto e entre os pilares. Parei e sinalizei para a ruiva… praticamente, nos jogamos atrás das muretas de concreto e esperamos o ataque.

    Os dois pilotos pararam logo atrás e começaram ali o que talvez fosse uma chacina em suas cabeças. Descarregaram duas metralhadoras contra minha pobre moto e as muretas. Os pedaços da moto, concreto e o chumbo das balas voaram por infinitos segundos sobre nós. Em determinado ponto vi fogo no que ainda restava da minha moto.

    – Ferdinand, seu filho da puta isso é pra você ficar ligado que as coisas mudaram, na próxima vez vai ser no teu corpo que vamos fura com os berro.

    Aquilo tinha me deixado muito puto, mas entre o tempo que eu assimilava a perda de uma das motos que mais gostava da coleção e a ameaça feita por aqueles idiotas. Audiny saltou de trás da mureta e começou ali um ataque bestial.

    Fui logo atrás, mas não tive o que fazer… Ela pulou no peito do primeiro e lhe arrancou o capacete. Com a força e rapidez do movimento a sua mandíbula foi arrancada junto e o sangue jorrou por todos os lados. Em seguida ela usou o capacete e o pedaço de mandíbula para espancar o que restava da cabeça do infeliz.

    O outro ficou apavorado diante a rapidez da vampira e tentou subir na moto. Foi quando ela chutou suas costelas e o derrubou com moto e tudo. Ele bem que tentou se levantar, mas o peso da moto segurou sua perna. Dando tempo suficiente para que a ruiva embestada pulasse sobre ele, puxasse seu capacete um pouco para cima e sugasse todo o sangue que lhe fosse possivel, depois de abocanhar o seu pescoço ferozmente.

    Como eu disse, fiquei de voyeur daquela cena brutal. Me restou apenas iniciar uma breve investigação enquanto Audny terminava seu desjejum. Consegui pegar apenas as carteiras dos desgraçados e liguei uma das motos. Percebi luzes, era o farol de um carro e passaria por nós em poucos segundos… então puxei a vampira pelo braço e gritei:

    – Audny, chega, precisamos sair daqui, agora! Sobe aqui, anda! Vamo, vamo…

    Acelerei a esportiva até um lugar mais tranquilo, onde a abandonamos e chamei um carro de aplicativo, que nos deixou perto do refúgio. Lá eu tive um papo com a ruiva:

    – Porra Audny, já te disse que você precisa ser mais limpa, esse lance de arrancar membros, sair feito uma doida não pode mais acontecer na época atual. Tem o caralho de câmeras pra tudo o que é lado. Imagina se gravam o que você fez… Enfim, deixa eu me acalmar aqui. Vai lá tirar essa roupa, ainda bem tá de noite e o motorista não percebeu esse sangue ali na tua calça.

    Ela ficou puta da cara, pois provavelmente em seus pensamentos ela nos salvou. Mas deveria ter reagido de forma diferente. Quem sabe a troca de tiros com as nossas pistolas, não levantaria suspeitas sobrenaturais, caso alguém filmasse. Em seguida. Me acalmei e levei as carteiras dos fdp para Pepe analisar.

    Eles também eram do tal coletivo sobrenatural, que anda enchendo o nosso saco esse ano.

  • Alguém tem algo contra a esta união?

    Alguém tem algo contra a esta união?

    – Querida? Está quase na hora, vamos? – Disse Fatma, após bater e abrir a porta.

    – A Elis ainda está colocando as flores no meu cabelo… E estou terminando umas coisinhas pelo smartphone.

    – E o que ainda precisa terminar? – Perguntou-me.

    – Calma, estou apenas escrevendo alguns e-mails.

    – Você precisa parar de trabalhar… Até nesta noite está ai fazendo essas coisas? Estão todos te esperando lá embaixo. Está tão linda! Vamos, vamos que estão todos ansiosos.

    – Nos dê só mais um minuto, já estou terminando com as flores.- Adiantou-se Elis.

    Olhei-me no espelho, quase parecia humana com aquela maquiagem tão perfeita. O vestido gola alta, e mangas longas bordadas, um leve volume na saia. A delicadeza e elegância apresentavam-me totalmente diferente de quem já fui um dia. E naquela noite, era como se eu pudesse realmente sentir meu sangue quente outra vez, tamanha emoção e ansiedade. Passei pelo corredor, desci as escadas com calma e logo os vi me esperando.

    Enzo veio em minha direção, pegou minhas mãos, as beijou. Beijou minha testa e juntos fomos até Antoni, que nos olhava com aquele olhar fraterno de quem admirava seus filhos. Todos os nossos amigos estavam presentes e demonstravam alegria, mesmo diante a palidez de seus rostos. Então, Antoni começou a celebração, dizendo:

    – Queridos amigos e membros de nosso clã, estamos aqui, para anunciar à todos que Rebecca e Lorenzo se tornaram minhas crias legítimas, Lorenzo transformado por Rebecca em um de nós, e Rebecca transformada por meu irmão Thomas, os tornam de minha linhagem. Sendo, com isso, possivel eles deixarem de ser exilados e definitivamente estarem sob minha tutela e proteção. Além disso, esta noite se torna ainda mais especial, pois eu, como líder de nossa fraternidade abençoarei a ambos, conforme sua vontade manifestada de se darem um ao outro. Peço que nesse momento todos erguam suas mãos…

    E assim, Enzo e eu viviamos algo inimaginável para ambos. Libertos, sem precisarmos fugir dos regrados e como dizem os humanos, casados. Após toda a celebração, uma festa madrugada a fora instaurou-se animadamente. Dançamos e bebemos em meio à muitas conversas e brincadeiras. Mas claro, desde a celebração eu senti a falta do meu amigo, que deveria estar lá para nos apadrinhar junto com Lili.

    – Minha linda, nunca vi festa ou algo semelhante em nossos círculos, vocês aqui são realmente especiais. Parabéns por sua liberdade! Sei o quanto lutou por isso. – Disse Lilian, me dando um abraço apertado e nada delicado. – Você e Enzo estão lindos demaaais, eu amo vocês.

    – Nós também te amamos. Obrigada por estar aqui, sabe como sua presença é valiosa para mim. 

    – Eu sei… e escuta, ele não vem, pare de olhar para os cantos. Esquece isso amiga e aproveita sua festa. Você ficou bons anos sem aparecer ou ligar, quando entra em contato é pra um convite desses? É demais até pra ele. Eu quase cai para trás!! Então, imagina o quanto ele deve ter se irritado!

    Dei de ombros, mas ainda tinha esperanças, haviam coisas a serem ditas. Se o meu convite havia sido demais, como eu comunicaria nossa decisão sobre os rumos da história de agora em diante?

    – Testando, som!

    A música continuava tocando, mas então Antoni pegou o microfone, os instrumentos e a banda pararam e ele logo foi dizendo para abrirem espaço no centro da sala. Me chamou, e uma valsa começou a tocar lindamente. Madrinhas revesavam Enzo e os padrinhos tiveram seus minutos para me mostrar suas incríveis habilidades de dança. Novamente aos braços do noivo, nossos olhos se encontraram, sorrimos, nos beijamos e eu estava pensando em que momento eu havia me tornado a Rebecca noiva apaixonada, quando de repente reconheci um cheiro no ar. Meus olhos mudaram de cor quase que no mesmo instante e Enzo percebeu minha inquietação.

    – Poderia me dar a honra? – Ele disse ao se aproximar.

    – Claro, você também deve dançar a valsa dos padrinhos. – Disse Enzo cedendo seu lugar.

    Ferdinand tocou meus dedos até o anel que havia sido colocado horas atrás, olhou para mim, sorriu sarcástico e o outro braço, passou por minha cintura, ficando mais perto. Eu não consegui dizer nada, mas me sentia feliz com sua presença e ao mesmo tempo nervosa. Dançamos e então ele disse:

    – Precisamos conversar, mocinha.

    – Precisamos, mas por enquanto aproveite a festa. – Eu estaria com as bochechas coradas nesse momento, se pudesse.

    – Essa “fantasia” que vestiu, te deixou ainda mais bonita. Mas senti falta dos seus cabelos longos.

    – Gosto de mudar, e não estou fantasiada, mas obrigada. – Agradeci, pensando que tal agressividade não se justificava.

    Enzo voltou para concluirmos a valsa, em seguida, avisei a ele e Antoni que sairia por alguns instantes já que era madrugada. Fiz sinal para Ferdinand que naquele momento tinha ido cumprimentar a Lilian e fomos caminhar pelo jardim. Enquanto caminhávamos o silêncio se tornava pesado, eu tinha coisas à dizer mas não sabia por onde começar. Então, comecei do começo:

    – Olha Ferdinand, sei que você esperava um contato meu de outra maneira. Ou talvez não esperasse mais nada da minha parte em vista que ficamos tantos anos sem nos falar e você nunca me procurou. 

    – Na verdade eu não sei em que ponto nos distanciamos. Não sei o que eu fiz. – Ele respondeu. – Apenas focamos em outras coisas e seguimos nossos próprios caminhos.

    – Você tem razão. Mas tenho algo a lhe dizer, me senti descartada por você de certa forma. Como se eu só servisse para alimentar algum ego e do nada as coisas desandaram. Nosso erro, foi ter misturado e confundido quem éramos.

    – Você se refere ao que? – Ele perguntou de forma fria.

    – Me refiro a seu lado pirata.

    – Você se arrependeu do que passamos naquela fase?

    – Não, mas foi o que quebrou nossa amizade. Você era o irmão mais velho que eu não tive, mas tudo se tornou cada vez mais vazio, frio e distante. Percebi que nunca me senti realmente próxima, como sendo apenas uma peça de um jogo cheio de outras peças iguais que são largadas de lado no tabuleiro. Depois, algumas coisas chegaram aos meus ouvidos e fiquei confusa.

    Ele não disse nada, ouviu em silêncio e não notei nenhuma expressão para concluir algo. Então ele disse: 

    – Então, agora você tem seu próprio clã? O que vem depois?

    – Parece que sim. Depois vamos nos preparar para cuidar de tudo por aqui. Antoni está cansado e planeja hibernar, o que me deixa triste, mas aliviada por não precisar mais fugir dos regrados. Mas precisamos aprender muitas coisas… Ainda vai um tempo. Enzo é jovem, mas muito responsável e aprende rápido, já se adaptou a sua nova condição.

    – Entendi. E como tudo chegou até esse ponto? Eu queria realmente saber.

    – Antoni nos convidou para passarmos mais um tempo aqui em 2017. Na época a intenção dele era novamente me convencer a liderar ao lado dele. Mas ele percebeu que Enzo já ocupava um lugar importante e eu não aceitei sua proposta outra vez. Então, Enzo e eu fizemos algumas viagens, voltei para meus negócios, tive encrencas com a máfia por causa das empresas em plena pandemia, algumas quebraram, quase perdi todo meu patrimônio e descobrimos algumas coisas bem pesadas nesse meio que me fizeram ver tudo de maneira diferente. Precisei da ajuda do clã para me livrar de alguns regrados e desses malucos mafiosos. Então eu disse a Antoni em algum momento que não aguentava mais aquela vida de fugas e confusões, cheguei ao ponto de pensar em hibernar para sempre ou até de me entregar aos regrados. Mas ele não deixou e nos acolheu, foi onde se tornou um verdadeiro protetor e ele passou a nos ver como filhos.

    – Você poderia ter me pedido ajuda.

    – Será? Eu não senti que podia. Mas agora que as coisas já estão resolvidas eu queria ao menos que você soubesse.

    – Ok. Lamento e fico feliz por você, de verdade. E fico feliz por ter me procurado, apesar dos pesares.

    – Obrigada, eu acho. – Nesse momento rimos de forma contida e fiquei pensando que apesar de estranho não parecia que haviam tantos anos de distância e nem tanta mágoa entre nós.

    Continuamos a caminhada em silêncio. Eu guardava meus pensamentos. “Se eu queria que tudo tivesse sido de outra forma? Talvez. Em algum momento esperei mais? Talvez. Nem tudo acontece no tempo oportuno e com certeza existe uma razão oportuna.” Logo em seguida, vimos que todos saiam para fora, Enzo veio até mim e me puxou para ver fogos de artifício que estavam sendo lançados. Ao fundo, eu podia ouvir o som do mar, as risadas, conversas e o tilintar das taças. Num instante de distração, perdi Ferdinand de vista, quando me dei conta ele já havia ido embora outra vez.

  • Sangue e as drogas

    Sangue e as drogas

    Estava eu me alimentando… o caminho de um pobre coitado havia cruzado com a minha fome, no canto escuro de uma rua sem saída. Todo o cuidado com janelas, câmeras, celulares ou drones foi feito e me ti a boca naquele pescoço. Um, dois, três, quatro goles. Queria mais! Porém, era um sujeito de sorte. Abri os olhos, me contive, lambi a ferida para cicatrizar e soltei seu corpo mole por ali.

    Algumas horas depois ele deveria acordar ou ser acordado com uma baita dor de cabeça. Em sua cabeça viria a lembrança do uso de drogas e a minha abordagem, que no máximo o fará pensar que tudo foi uma grande “viagem”. Por outro lado, eu estava alimentado, mas as drogas utilizadas pelo individuo me fizeram divagar em meus pensamentos mais íntimos.

    Algo “bateu” assim eu saí do beco e me sentei no banco da moto. Eu estava prestes a ligá-la quando os pensamentos se bagunçaram. Eu ainda tinha o objetivo claro de ir para o meu refúgio, mas lembranças de Suellen, Beth, Julie, Lilian e Claire vieram a mente.

    “Por que diabos eu estou pensando nelas?”

    “Deixei algo inacabado com alguma?”

    Sim, Claire, a última… Aquela, que disse me visitar em breve no Brasil… Um flash e vi a gente em sua cama na Inglaterra. Outro flash e veio a mente aquele fantasma da bruxa, que deu arrepios… Um barulho começou a zumbir. Aos poucos ele ficou mais forte. Outro flash e o maldito som de uma buzina de caminhão de lixo, que passou raspando pela roda dianteira da moto. Acordei.

    – Pqp, que brisa, cara! – Falei como se houvesse alguém com quem papear por perto.

    Coloquei o capacete e sai acelerando alto o V2 da HD, que ecoou e certamente acordou quem dormia nos prédios ao redor. Para alegria dos Anarchs eu estava agindo conforme eles pregam, no desapego. Sobretudo, para alguém que ainda tenta seguir as leis antigas eu tinha feito muita merda. Ahh o limite entre o certo e o errado, que eu insisto em ultrapassar.

    Já no refúgio, encontrei Audny atoa. Ela assistia algum streaming deitada no sofá e quando me viu, se levantou e veio papear.

    – Olá sr. Ferdinand, quinta cria de Georg… Calma, calma é brincadeira!

    – Ufa, achei que todo o aprendizado que lhe proporcionamos nos últimos meses havia ido pelo ralo abaixo…

    Ela me observou, tal qual uma investigadora que fareja algo na cena do crime, cerrou os olhos para focar e disse em seguida:

    – Pupilas dilatadas, semblante mais apático ou relaxado… Valeu-se de algo diferenciado?

    Sentei-me numa banqueta alta que fica próxima de um balcão. Joguei as costas para trás, depois tirei os tênis e por dois ou três segundos eu ponderei sobre como lhe responder. Mas aquilo que meu doador havia utilizado, removeu os filtros. Tagarelei:

    – Simmmm, useiiii… Mas já que está interessada. Anos atrás eu tive uma namorada vampira e ela se chamava Claire…

    Devo ter ficado uns 15 ou 20 minutos contando as histórias de todas as vampiras, lobas ou mulheres que passaram pela minha não-vida. Parei apenas quando Pepe surgiu, se interessou pelo papo e começou a fazer caretas atrás de Audny. Aquilo era engraçado, tirou minha atenção e me deu um ataque de risos.

    Ambas ficaram me olhando e me julgando… até que eu não sabia mais por que dava risada e fui para o banheiro lavar aa cara. O que aliviou e deu um pouco de foco. Voltei para os sofás e me desculpei:

    – Sangue com drogas, evitem isso gente!

    Pepe apenas deu risada e Audny, tentou ser séria:

    – Quer dizer que você não sabia, ou o fez por querer sr. Ferdinand?

    – Tá de zuera ne ruiva… Fi-lo porque qui-lo, como diria Jânio Quadros!

    Ela fez cara de que não havia entendido. Então, soltei:

    – Fiz porque quis, entende?

    – Mas isso não [e perigoso nas noites atuais em meio a tudo o que nos compromete?

    Pepe respondeu no meu lugar:

    – Ai que está a graça Aud…

    – Vocês brasileiros tem um jeito peculiar de tomar decisões.

  • O pub Rainbow

    O pub Rainbow

    As minhas noites e dias passaram rápido em meio ao tempo que estive junto de Audny, cria de meu mestre, uma vampira com mais de 500 anos. Além de Pepe, minha cria, e uma vampira que não tem nem 35 anos de nascimento humano. Outro que voltou a ficar perto foi Franz, alguém que considero irmão e é um pouco mais novo que Audny.

    Eu que em algum momento chegarei aos 200 anos de existência me vi entre o velho e o novo mundo entre eles. Sendo a curiosidade algo comum a ambos e isso tinha sim um lado muito positivo. Haja vista, que em alguns momentos eu me peguei ouvindo certos hábitos e rotinas apresentadas por Audny ou Franz. Ao mesmo tempo que ouvia os contrapontos trazidos pela “novinha” Pepe.

    Tudo ia bem, mas em determinado ponto eu me cansei. Sim, eu sou assim, me canso fácil de rotinas e por sorte Franz, estava ali e isso foi muito propositivo. Pois ele estava empolgado com nosso novo projeto, o pub Rainbow. Um espaço para os sobrenaturais interagirem com segurança.

    Algo utópico, talvez. Sobretudo, por que não?

    Ainda no início do projeto, reforma e construção. Lembro de um papo que tivemos:

    – Tá empolgado lá com o Rainbow, então? – Perguntei.

    – Sim, tem ajudado a refazer os pensamentos depois daquela desgraceira que vivi. O que não me acostumei ainda é com o barulho aqui da cidade.

    Franz passou os últimos anos entre a selva e um relacionamento com uma humana que faleceu recentemente e não quis ser transformada num de nós.

    Vendo sua angústia, tentei lhe ajudar com o barulho da metrópole. Saquei a caixinha de fones de ouvido do bolso e lhe disse:

    – Pega isso aqui então e conecta no teu smartphone, depois deixa eu fazer uns ajustes.

    Fiz umas configurações meio padrão e ativei o isolamento de ruídos. Depois retirei da caixinha e ensinei ele como usar na posição certa nas orelhas. Depois coloquei uma música e ele falou mais alto, quase gritando:

    – Isso aqui é perfeito!!!

    Respondi mais alto também:

    – Simmm e você ainda pode escutar as músicas que quiser. Só precisa deixar carregando junto do smartphone quase todo dia a noite.

    – Heim?

    – Tu não ouviste nada que falei?

    – Heimmm?

    – Tá funcionou (risos)

    Minutos mais tarde eu me arrumei e chamei Franz para irmos até o pub. Ele estava tranquilo e ainda ouvindo um som no sofá. Porém tão logo me viu arrumado, levantou-se e fomos para a obra. A caminho de lá contei sobre algo que havia feito antes dele assumir o lugar:

    – Sabe, tem algo que eu não te contei sobre o Rainbow. Eu fiz uma pesquisa e o Carlos, meu irmão lobisomem, ajudou, inclusive. Simplificando, o local onde ele está é comercialmente e energeticamente estratégico. Pelo que vimos é possível estruturar um santuário ali, para acesso facilitado ao mundo espiritual.

    – Sei, mas faremos isso mesmo? – Ele respondeu preocupado

    – Estava pensando na oportunidade. Quem sabe atrair alguns interessados em sessões espirituais. Lembra disso antigamente? O povo se reunia uma vez ou outra por mês e algum sensitivo os conectava com parentes ou espíritos perdidos.

    Ele ponderou por um tempo e me respondeu entusiasmado:

    – Entendi, eu estava pensado num propósito mais político, chamar uns chegados de outros clãs e quem sabe a gente se alinhar melhor com a nossa sociedade. Usar aquela sala maior no subterrâneo para umas festinhas privadas. Clube do sangue, do tabaco, até para meu uso também, se é que me entendes…

    – Claro, sei (risos), mas que tal combinar um calendário, o que acha? Porque sinceramente acho um desperdício não aproveitar o lance espiritual do lugar, mesmo que você me libere apenas o rooftop pra isso.

    – Ah mas lá é claro maninho, inclusive estou querendo por uma cobertura que pode ser aberta por controle nas noites de tempo bom, o que acha?

    – Só vejo vantagens… fica pronta quando?

    – Vou mandar um dos meus ghouls ver isso e te falo… Gostei da ideia de ter uma agenda para públicos diferentes, vamos combinar com as noites em que a Pepe falou de tocar um som lá também…

  • A volta de Franz

    A volta de Franz

    Comecei minha noite com uma mensagem no whatsapp inesperada, vindo de alguém tão nobre que as vezes sinto vontade de mandar a merda:

    – E ai?

    – Fala – Respondi seco.

    – Tava pensando em dar um pulo em alguma cidade pra aprontar algo.

    – Sei, algo específico em mente e que possa atender as necessidades de vossa majestade? – Fiquei curioso

    – Tá começou a palhaçada, valeu…

    – Hey calma oww. Quer vir pra cá? Tá rolando um movimento diferente de outras épocas.

    -Sei

    Insisti:

    – A Audny tá bem mansa, Pepe tem feito um progresso bacana nas habilidades físicas e eu comprei um pub.

    Ele deu foco apenas naquilo que lhe interessava:

    – Me fala ai desse pub

    – Três andares, sendo um subsolo. Lá na região daquele outro que íamos anos atrás. Tá rodando e com movimento, mas quero investir e trazer os nossos pra la.

    – Tô indo pra ai. Devo chegar até o fim da noite, me manda o endereço!

    Eu ainda mexia com alguns e-mails, ajustes em sistemas e toda gestão de negócios a distância que os dias atuais me permitem. Quando ouvi algumas buzinas, seguida por meia dúzia de batidas no portão de entrada. Olhei para as câmeras e lá estava o marquês. Fui pessoalmente ao seu encontro onde ele dispensou o taxi, me cumprimentou com a mão direita ao nosso estilo, seguido por um abraço apertado.

    – Saudades?

    – Entra logo maninho!

    Já no espaço comum onde tem um sofá grande. Ele tirou as botas ainda meio sujas de terra, a camiseta surrada, a calça e ficou ali deitado apenas de cuecas.

    – Gostava da época que eu acordava de manhã e havia um punhado de roupas jogadas na sala. Lembra daquele sutiã de renda preto que nunca achamos a dona? Kkkk

    Falei e me sentei numa poltrona perto dele. Ele riu e continuou:

    – Lembro hahahah e aquela calcinha esfarrapada que surgiu quando mandei lavar o carro alugado.

    Pensei por uns instantes…

    – Não era da G.?

    – Ela nega até a morte hahahaha

    – Bons tempos, faz o que, uns 10 anos?

    Ponderei por uns segundos, mas lembrei:

    – Quase 12.

    Franz se arrumou no sofazão, barriga pra cima e olhando pro teto comentou algo que revirou com a minha noite e quase dia:

    – Sabe maninho, eu estava com saudades de tudo isso que falamos agora… Mas preciso te contar que eu conheci uma garota bacana nos últimos anos e ela morreu no final do ano passado. Teve essas merdas que os humanos pegam, acho que foi HIV. Tentei de tudo pra fazê-la virar uma de nós e mesmo sabendo que a manteria viva ela desistiu de tudo. Desejou a morte! Naquilo que alguns pregam como passagem ou evolução. Não sei se essa porra toda existe, mas eu quis ir com ela para o caralho que houver…

    – Merda cara, porque não me contou isso antes seu fdp! – Comentei preocupado.

    – Eu queria sei lá, guardar ela numa redoma de vidro e ficar ali só admirando seu jeito. Aquele sorriso as covinhas e os piercings. Ah as covinhas que ela tinha nas costas em cima da raba também. Branquinha que só ela… Ela tinha engordado um pouco, fazia tempo que nem tinha gripe e de uma hora pra outra ficou ruim. Levei ela pra aquele hospital da esquina, sabe? Ela ficou lá 2 meses e eu ia toda noite ver ela… Cantei pra ela algumas canções antigas da época do castelo coisas que meus pais cantavam. Lembrei sabe. Teve uma semana que eu amanheci la e passei o dia todo tb. Esqueci de me alimentar e algumas vezes tomei sangue gelado de bolsas. Ainda sinto o gosto daquela merda. Ai teve uma noite que eu fui ver ela e não tinha ninguém no quarto, muito menos na cama. A enfermeira disse que ela havia ido. Não consegui nem sentir sua morte, porque era desejo dela ser cremada e me deram uma caixinha de papelão com as cinzas.

    – Caralho as cinzas dela, mano!

    – Sim, só havia restado aquilo… Coloquei numa sacola e voltei pra fazenda. Foi um pouco antes do nosso tempo lá de clã. Depois disso fora longos 3 meses eu acho, procurando algum ânimo em qualquer coisa. Quem sabe o pub, tem nome?

    – Chamam os pubs dali de cores em inglês: blue, black, green… Quem sabe você possa me ajudar com algum nome que atraia nosso povo pra lá?

  • Uma noite no pub +18

    Uma noite no pub +18

    Para ler ouvindo…

    Eis que as coisas não andavam muito bem depois que minha cria a Pepe, acabou com aquela fdp noutra noite. Eu também não havia resolvido as coisas com o tal “coletivo” que pretendia negociar armas com as minhas fábricas e isso tudo tomava minha cabeça. Além disso, acabei esquecendo de me alimentar.

    Comecei a ficar nervoso, os pensamentos divagavam demais, então me toquei. Fiz as contas e estava no ápice da fome surgir. Estava cansado também de sangue frio ou doadores, eu precisava de algo a mais. Nesse sentido, eu me provoquei. Meu autocontrole precisava de novos testes e fui para um pub numa rua movimentada.

    Geminiano que sou, fui sozinho. Eu estava naquelas épocas que os amigos estavam ocupados e se parar para pensar, é muito bom sair sozinho. A liberdade dos pensamentos, do que fazer, como ir, aonde ir e quando der na telha me completa. Sei que muitos precisam de alguém para ampliar tais sentimentos, talvez eu seja quem as pessoas procuram quando querem sair da rotina?

    Enfim, divagações a parte eu me troquei. Calça jeans, camisa do Ramones, uma xadrez por cima e Vans com estampa de cobra… Estava disfarçado de bom vivant urbano motociclista…

    Lugar bacana e que surpreendeu pelo tamanho. Eram quatro andares com uma rooftop para fumantes, algo que se tornou padrão pela região. No “porão” uma banda de vocal feminino me encantou e tocou vários rocks clássicos. Fiquei por um tempo no alto, de pé encostado em algo que me lembrou o guarda corpo de uma varanda e de frente para a banda.

    Muitos estava ali em função do famoso happy hour e eu observei diversos grupinhos. Havia os bancários, os advogados, o povo sem tribo e inclusive diversos grupinhos de mulheres. Foi ai que começou a ficar interessante. Quando algumas se aproximaram, gosto de mulher com iniciativa, mesmo que a minha altura as intimide, sempre tem alguma querendo “escalar”.

    Momento egocêntrico a parte, troquei ideia com algumas, mas os papos eram muito vagos… Eu até me perco nas piadinhas e me viro bem no “small talk”, mas os sentidos estavam apurados em função da fome. A cada jogada de cabelo eu desejava seus pescoços, a carótida e a aorta pulsavam ao meu olhar e aquilo me distraia demais. Tanto que dispensei umas duas ou três.

    Tudo isso mudou quando mirei um altona ao longe, ela tinha praticamente o meu tamanho em cima de seus saltos também grandes. Era ali que eu iria investir, pesei comigo. Sobretudo depois de um tempo a observando percebi que era da casa e conhecia todos os atendentes e até alguns frequentadores. “Merda” pensei comigo, eu vou chamar muita atenção andando ou saindo com ela.

    Eis que minha sorte mudou quando uma baixinha de no máximo 1,60 brotou do meu lado. Loirinha simpática, olhos bem abertos com decote mostrando tudo o que eu queria ver. Incluindo belas tattoos preto e branco e uma lingerie azul de renda. Ela pulou muito e cantou bem até “Pour Some sugar on me” e sua dança com rebolados me atiçou.

    Ela não falou nada, mas a triangulação de olhos e boca deixou claro o que ela desejava: minha boca. Inclinei-me, fiquei ali com tipo, uns 20 cm a menos e dando abertura. Quando dois corpos se atraem a sutileza de movimentos é o bater de asas que move marés… Ahh o beijo numa boca carnuda, gostosa e cheia de desejo… aquela troca quente que excita e deprava os mais puros.

    Dediquei um bom tempo na degustação, a cada mordida ela me deixa com mais vontade de aflorar minhas presas, ou até mesmo segurá-la no colo e desbravar algumas posições do Kama sutra, quem sabe a posição do “chef”?

    Sei que a sua boca desprendeu mais tempo que devia e isso gastou o que ainda havia de sanidade mim. Eis que a arrastei para um canto do que parecia ser um banheiro mais escuro. Entre beijos, pequenas mordidas na pele e depravados apertões naquele corpo quente e sinuosos. Era para ela estar dolorida, mas a cada aperto ou investida mais forte, ela ampliava sua força e aquilo mexeu comigo.

    Certamente era uma Wairwulf, a loba, a fera… pensei comigo.

    Já longe dos frequentadores a fome veio e eu travei as presas afloradas em em seu seio direito. O Sangue brotou e ela nem se moveu. Foi um gole… Subi e mordi seu pescoço, ela gemeu de leve, como quem espera mais e ali bebi três goles. A maior parte da fome havia sumido. Foi quando ela soltou:

    – Agora é minha vez.

    Então pegou aquilo que somente as escolhidas tiveram o prazer de desbravar e encheu a boca… ficou ali degustando, até que encontrou a melhor forma e pulou no meu colo. Onde ela foi a “chef”. Quebramos alguns azulejos!

    Não sei o seu nome, nem o telefone…

  • O retorno da minha cria

    O retorno da minha cria

    Minha cabeça estava cheia de dúvidas e isso se refletiu no sono ruim daquele próximo dia e nas estratégias que deveria montar para conseguir resgatar Pepe. Sem falar que lidar com um coletivo é algo novo pra mim e ao que tudo indica eles não seguem as mesmas ideias dos clãs tradicionais. Inclusive Audny estava preocupada, mas ainda estava receoso para envolver ela ainda mais nisso.

    A noite veio e com ela novos pensamentos e ideias. O local onde eles se encontram foi fácil de descobrir, além do contato daquela que me chamou para nos falarmos a sós. Optei por deixar meu lado frio, calculista e manipulador agir em prol do caos. Mandei uma mensagem para a bruxa em questão: “Da mesma forma que me chamou para nos falarmos a sós, conseguimos nos encontrar dessa forma para falar dos negócios?”

    Gosto de quem responde rapidamente nas redes sociais e em questão de segundos ela retornou: “Claro, pode ser naquele mesmo lugar?”. Aceitei, pois além e tudo o lugar é de propriedade de uma amiga.

    Perto das 00h00 a senhora surgia naquele mesmo canto do rooftop. Senhora é apenas uma educação minha, pois para alguém na faixa dos 50, ela até que enganava uns 15 anos a menos. Talvez havia ali a indicação de alguns procedimentos bruxólicos? Enfim, divaguei…

    – Olá senhorita, aliás como é sua graça mesmo?

    – Lourdes, mas por favor me chame de Lu.

    – Ah sim, obrigado. Pois então, como resolvemos o infortúnio que teu grupo me proporcionou?

    – É simples, nos traga o carregamento, faça o preço que foi indicado e seguimos liberando a tua cria para voltar a beber sangue por ai…

    – Certo e se eu não concordar com o preço baixo que me oferecem?

    – Então teremos problemas.

    – Vou fazer uma contraproposta. Ofereço metade da grana dessa negociação, para que você me traga minha cria sã e salva. Basta me passar uma conta tua ou um pix o que preferir. Depois disso, você se afasta da negociação das armas e eu me viro com os outros dois. O que me diz?

    – Quais certezas você me da sobre o que vai rolar com meus colegas?

    – Nenhuma!

    – Preciso pensar Ferdinand.

    – Tens 5 minutos, é o tempo de eu fumar um pouco e a música do camaradinha ali terminar. – Apontei para o DJ que estava no lugar onde a Pepe estava noite passada.

    – Certo, vou aceitar tua proposta, mas preciso ver se consigo liberar tua cria ainda esta noite.

    – Te deposito metade agora e metade quando ela estiver na minha frente até o fim da noite.

    Fiz um pix com a grana que havia combinado e fui para lugar, onde combinei que ela deveria ser entregue. Perto das 4 chegou uma mensagem da Lu: “Tô levando ela onde cominamos”. Pepe estava normal, exceção das roupas um pouco judiadas. Tão logo a vi lhe dei um abraço e percebi o quanto havia me apegado.

    Lu se aproximou, com a intenção de receber a outra metade do pagamento. Porém num lance de duas ou três passadas para o lado e para atrás, Pepe a agarrou. A vampira mordeu seu pescoço num ato animalesco. Aquela mulher estremeceu de dor, pela surpresa, mas muito mais pela fúria cruel e violenta da mordida de Pepe.

    Fiquei ali de voyeur, até que minha cria terminasse o que se propôs a fazer e teve mais. Ao final de sua refeição ela me olhou, como quem pedisse permissão. Todavia, antes que eu me manifestasse ela quebrou o pescoço da infeliz.

    – Tá certa, minha filha! Eu sou bom de mais as vezes… Coloca ela no banco do motorista, fogo talvez?

  • Um coletivo de vampiros e outros seres

    Um coletivo de vampiros e outros seres

    Saímos da fazenda de helicóptero e algumas horas depois em um céu de brigadeiro, como disse o piloto, chegamos em uma grande metrópole brasileira. Do hangar da companhia aérea, até nosso refúgio foram mais alguns minutos de carro. Porém perto das 3h30 estávamos todos acomodados. Preciso dizer o quanto Audny ficou maravilhada com tudo? Sim…

    Apesar de ser sua segunda viagem de helicóptero, ela ficou maravilhada em função do tempo de voo. Passamos por cima de muitas cidades menores e a cada uma ela se maravilha com as luzes e paisagens que o céu limpo proporcionou. Ela ficou ainda mais maravilhada quando chegamos na grande metrópole.

    Os arranha-céus, as construções antigas misturadas as novas…tudo aquilo a vislumbrou de tal forma que é difícil descrever. Muitos comentários, muitas observações, muitas perguntas. Ela hibernou na época das caravelas e ainda estava pela Europa na época. Os outros velhos também foram trazidos já hibernando para o refúgio no Brasil. Algo que Georg construiu um pouco antes da minha vivência pela Alemanha em mil oitocentos e tantos.

    Audny, me faz sentir nostalgia de um tempo que se foi. Sou um “Mucilon” perto dela, mas vivi a virada do sec XIX para o XX e ela sempre me faz os contrapontos daquelas épocas para a atual. Pepe também se encantou com suas histórias e tem sido um aprendizado para ambos os lados. Isso junto ao fato de estarmos ligados pelo laço de sangue tem sido proveitoso, apesar de que em algum momento isso pode nos afetar em função do seu temperamento e reconstrução.

    Preocupações a parte, o refúgio havia sido limpo, cada um se acomodou no subsolo da melhor forma e estava de volta ao urbano, a selva de pedra e as possibilidades que isso nos proporcionaria em meio as sociedades humana e sobrenatural. Tanto é que passadas as primeiras noites em que nos acostumamos, veio o primeiro convite para socializar. Algo simples até. Um clã vizinho gostaria de resolver alguns assuntos pendentes.

    Na verdade, não posso considerar um clã, pois nem mesmo eles se chamam assim a começar pelo nome “Coletivo alguma coisa”. Então vai vendo. Sobretudo tais adaptações modernas me deixam um tanto quanto perturbado, mas são os ventos da mudança e talvez os últimos tempos junto de Audny tenham me levado de volta ao passado. Fato é que ser imortal trás consigo a necessidade de resiliência e tratei logo de pensar num lugar para que pudéssemos nos encontrar com segurança.

    Pepe, começou a se dedicar mais a sua carreira de DJ e com isso começaram a surgir algumas festas maiores para ela tocar e divulgar o seu som. Com isso veio a oportunidade de fazer um encontro público, o que beneficiaria ambos os lados. Tanto que ao propor tal lugar, ele foi aceito quase que de imediato pelos três representantes do tal coletivo. Eles também não apreciam o lance de liderança e são adeptos da neo-anarquia.

    Com a noite marcada fomos os três para o lugar marcado. Pepe foi separada pois iria tocar, Audny foi comigo de moto. Ela gostou do passeio e confessou sentir um pouco de medo ao pegarmos o famoso corredor entre os carros, mas a noite estava fresca, apesar do calor daquele dia. Estacionei no subsolo do próprio prédio da festa e por um elevador velho fomos até o Rooftop. Vista bacana do lugar e ficamos pela varanda fumando um vape de melancia ice. Audny viciou no troço e quis comprar uma pra ela também.

    Papo vai e vem, Pepe começou o seu som e perto da 1h apareceram os tais três “representantes do coletivo”. Um vampiro com idade aparente de uns 50 e duas mulheres uma na mesma faixa e uma outra novinha na faixa dos 21. Uma delas eu tive certeza eu era lobisomem a outra me deixou na dúvida. Nos cumprimentaram formalmente e fomos para um canto onde o som estava mais baixo. A mais nova foi a primeira a reivindicar algo:

    – Escuta aqui cara, o papo vai ser reto e se liga na minha rima. Se vocês não fornecerem armas pra gente, ninguém aqui fica contente. A gente quer o ferro, o berro e ninguém vai ficar quieto.

    Eu juro que tentei segurar, mas soltei uma gargalhada… me contive e soltei:

    – Eu não sei rimar, mas não vaia ser assim garota…

    Ela deu uma balançada na cabeça e parecia que estava entorpecida de algo, mas continuei:

    – Algum de vocês quer refazer o pedido dela?

    Encarei os outros mais velhos e ao perceber minha reação o cara mostrou as presas, sem se preocupar com os humanos em volta. Audny, deu um passo pra frente e segurei o braço dela. Tentei novamente:

    – Sério, vocês vão ficar nessa de rima podre e mostrando os dentes. Sou dentista por acaso? Vamos embora, minha querida.

    Ao perceber que eu estava ficando puto aquela que parecia humana, se aproximou. Olhou em meus olhos e disse com uma voz calma e tranquila, quase materna:

    – Espere senhor Ferdinand e peço desculpas pelos meus companheiros. Eles são um pouco impulsivos e esquecem que os mais antigos preferem outro tipo de negociação. Permita-me trocar duas palavras a sós contigo?

    Percebi que ela tentou usar algum tipo de poder em mim, mas estava me sentindo normal, então resolvi aceitar suas propostas e fomos para outro canto, um pouco mais barulhento, onde tivemos de nos falar próximos do ouvido e cada um.

    Ela foi direto ao ponto, trouxe suas necessidades, falou como e quanto gostaria de pagar. Algo inclusive superior ao que iria pedir e a princípio tinha fechado negócio. Voltamos ao encontro dos demais. Audny encarava os outros dois que a encaravam de volta e por sorte ninguém deu um passo à frente.

    – Senhores estamos acertados, retornarei em breve com o local para nossa troca. Venha, minha querida.

    Peguei na mão gelada de Audny que resistiu brevemente, mas acabou cedendo e me seguiu. Percebi que o clima não tinha ficado muito bom entre os três, mas isso não era problema meu. Curti um pouco o som de Pepe e perto das 2h e poucos resolvemos voltar ao refúgio. No meo do caminho percebi um carro nos seguindo, mas já conheço bem a região e ao passar por alguns túneis e ruas menores consegui despistar.

    Chegando no refúgio recebi uma mensagem do tal coletivo:

    “Estamos com a tua cria, por segurança. Quando acontecer nossa troca ela será devolvida inteirinha.”

    Pqp

  • Novos laços – final

    Novos laços – final

    Depois da saraivada de tiros, que inclusive nos deixam mais atordoados na forma de lobo. Olhei para os lados e meu bando havia se dispersado. Procurei pelos infelizes que haviam provocado tal caos e há alguns metros de mim senti a presença de Audny. Franz estava mais para frente junto de Pepe. Não senti Sebastian, tampouco H2. Por que decidi ir atrás de Audny? Só o Diabo sabe…

    Mas foi bom, pois vi um pouco do que Georg descreveu em seus diários. Certamente, a palavra carnificina, vem a minha mente quando lembro da cena que presenciei. Ao me aproximar comecei a ver o que parecia a queda de um avião ou a explosão de uma bomba. Vi uma mão com um pedaço do pulso e um relógio. Depois um pé ainda na bota de mato e um pedaço da perna cheios de sangue e rasgos de mordidas.

    A cena ainda piorou quando vi o que parecia um corpo menor talvez de um adolescente ou criança e Audny sentada no chão nua. Ela tinha em seu colo um corpo sem cabeça e bebia o sangue direto de onde estava o pescoço. A cena beirava o animalesco, mas piorou quando me aproximei. Pois ela sentiu minha presença, largou o que estava fazendo e veio em minha direção.

    Sua face estava deformada, meio morcego, meio humana. Suas feições me lembraram algo demoníaco e cara, aquilo me perturbou. Seu corpo estava mais forte e toda a sua meiguice ou belas formas haviam dado lugar há um lutador de MMA diabólico. Ainda em forma de lobo eu dei umas rosnadas e comecei a dar passos para trás. Eu comecei a desfazer minha forma e pensei em voltar a forma de humano.

    Sobretudo, o calor do momento e diante de algo que lembrou minha própria forma bestial, eu não tive escolha se não executar a mesma. Rolamos pelo mato, caímos de um barranco e apanhei muito até completar a transformação. Em seguida a isso continuei apanhando até que finalmente consegui encaixar uma mordida que arrancou um pedaço de carne do seu braço. Ela urrou de dor, mas em questão de segundos ignorou tal situação e continuou a trocação comigo.

    Ficamos ali entre golpes de garras, chutes e mordidas por um bom tempo. Quando simplesmente ela começou a parar. Suas feições começaram a voltar ao normal e quando vi, eu estava praticamente com ela em meus braços. Ela me dava apenas soquinhos leves, como um brinquedo que ficou sem bateria. Achei aquilo muito ridículo. A forma bestial é sempre difícil de controlar e a última lembrança que eu tenho nesse estado é de a ter levantado e dado umas sacudidas.

    Voltei ao normal e estávamos os dois exaustos. Completamente surrados, cheios de hematomas, rasgos e perfurações. Feridas que em pouco tempo se fecharam, mas trazia consigo fome e a vontade de beber o sangue quente de qualquer coisa viva. Audny me reconheceu e soltou um simples:

    – Desculpa, estava com fom….

    Ela mal terminou a frase e apagou de ficar mole em meus braços. Franz e Pepe chegaram logo em seguida. Pepe foi a primeira a comentar:

    – Caraca chefe, vocês acabaram rapidinho com os caçadores, tudo bem?

    Franz me cortou:

    – Foi ela e o Georg tava certo!

    Existem poucas coisas que impressionam Franz, mas certamente o perrengue causado por Audny o fez rever a ida para a cabana. Decidimos em seguida que eu voltaria com ela e Pepe para a casa da fazenda, enquanto ele e outros dariam fim as hienas. Foi coisa de uns 30 minutos para voltar a passos largos. Coloquei a velha vampira no chuveiro quente e reparei que suas formas eram realmente notáveis enquanto tirava o grosso do sangue e terra de seu belo corpo.

    Pepe trouxe uma roupa e a colocamos para dormir em seu quarto, que possui duas camas. Por precaução resolvi mandar minha cria para o meu quarto e fiquei ali vigiando e imaginando como ela iria acordar. Será que lembraria da nossa briga, ou do massacre que ela causou ao pai e filho? Antes de amanhecer apenas H2 e Sebastian voltaram.

    Na noite seguinte Audny acordou e se lembrou apenas de flashes. Sebastian me contou que as hienas não ofereceram trabalho e estavam praticamente todas juntas o que facilitou sua captura. Franz foi para a cabana, mas me mandou uma mensagem: “Vou deixar a velha contigo, preciso dar uma relaxada, mas se der merda, avisa maninho!”. Ele realmente estava preocupado.

    H2 e Sebastian foram para seus refúgios. Pepe e eu ficamos com Audny mais um tempo na fazenda e em nenhuma noite ela voltou a manifestar toda aquela agressividade. Resolvi que ela poderia passar uns tempos conosco numa grande metrópole brasileira. Quem sabe os encontros com outros velhos e um pouco de política ajude ela?

    2024 vai ser um ano intrigante.