Texto enviado pelo José Pereira…
Autor: Jean Felski
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Tentar
TentarExistem certos momentos em nossa vida que precisamos rever alguns conceitos, alguns atos e principalmente atitudes em vão.Há momentos que precisamos dar uma chance a nós mesmos e o principal, TENTAR, tentar fazer com que os erros sejam futuramente uma lição de aprendizado para você e cada dificuldade se torne uma lição fazendo-te assim uma pessoa melhor. Mas o importante é tentar e recomeçar… Nada melhor do que tentar ser feliz custe o que custar, nada melhor do que se libertar de coisas que te fazem mal e se apegar no que te faz bem, no que te faz feliz.Afinal, o que seria a vida se não tivesse suas barreiras !? O que seria a vida se fosse tudo tão fácil ? A vida assim seria tão sem graça, tão sem nexo que chega uma hora que a dificuldade te faz importar mais com as pequenas coisas da vida. TENTE sim, mas tente sem medo de errar, porque o erro te faz mudar! Viva cada dia intensamente e de forma diferente, tente e siga em frente.Porque o melhor da vida é fazer valer a pena! -
Três corações
Hoje escreverei meus relatos de uma forma diferente. Vamos ver se vocês apreciam este estilo mais impessoal, em terceira pessoa e sobre a noite de ontem.
Ferdinand se preparou para sair da mesma forma de sempre. Verificou os dois pentes sobressalentes de suas ponto 50, habitualmente totalmente carregados, com uma bala de prata intercalada com uma de chumbo. Vestiu uma calça jeans, amarrou o all star vermelho e procurou por uma camiseta qualquer em seu armário. Depois arrumou devidamente o coldre nas suas costas e por cima de tudo, ainda trajou a sua jaqueta de couro preta, feita sob medida por um velho amigo Wairwulf.
Ao mesmo tempo em que o Wampir aguardava a sua HD esquentar na garagem, Stephanie arrumava a sua filhinha na cadeirinha do banco de trás, do carro que fora emprestado por Eleonor. A ideia da morena era simples, ir a um dos shoppings da cidade e passear um pouco. Porém, o que ambos não esperavam é que a suas noites não seriam tão simples.
Moto na estrada e acelerando um pouco mais que o normal. A sensação de vento fazendo forte pressão contra seu corpo, sempre fora uma das mais apreciadas pelo notívago ser. Sem rumo, mas na certeza de que precisaria se alimentar, ele dirigia até o centro da cidade, quando fora fechado por um carro, que simplesmente saiu do acostamento sem sinalizar. O habilidoso motoqueiro jogou rapidamente sua moto para a esquerda, depois para a direita e com muita manha reestabeleceu a direção de forma ágil. Todavia, a indignação foi tanta que ele resolveu reduzir um pouco a velocidade, ficando ao lado do carro e quando estava para xingar o motorista, percebeu que era uma senhorinha muito idosa. Fato que o conteve e que ainda por cima lhe fez rir de tal situação.
Sthephanie estava um pouco estressada, sua filha estava num momento de teimosia e a saída de casa não foi das melhores. Em sua cabeça algumas voltas no shopping e quem sabe algumas roupas novas lhe faria muito bem. Ainda mais depois que Eleonor, sua atual tutora, disse que iria a encontra por lá para lhe dar algumas dicas. Ela nunca havia dirigido sozinha por aquela região, mas resolveu depositar todas as suas esperanças no moderno GPS instalado no painel do carro. A estrada em meio a floretas não era das mais fáceis, porém Stephanie nunca teve problemas com direção e dentro de 20 minutos no máximo ela deveria chegar a uma das principais avenidas da cidade.
Depois de levar um breve susto, Ferdiand conseguiu estacionar a sua moto em um lugar próximo ao pub que ele decidiu ir. A fome já estava lhe agoniando, tanto que nem percebeu que havia esquecido seus documentos em uma das carteiras em casa. Na entrada do lugar, o segurança lhe entregou um cartão, porém outro só permitiria sua entrada caso ele apresenta-se algum documento. O Wampir tentou de tudo inclusive suborno e por mais incrível que pareça nem assim conseguiu entrar em tal lugar. “Que noite” pensou ele e já que precisava se alimentar resolveu dar mais umas voltas pela cidade em busca de alguma alma perdida. Até que em determinado momento resolveu ligar para um amigo, que de imediato lhe passou o endereço do depósito de sangue mais próximo.
O carro de câmbio automático e de motor potente conquistou rapidamente a confiança de Stephanie. Oitenta, cem, cento e ciquenta… Rádio ligado bem alto e provavelmente tocando algum samba, seu som predileto. A perícia disse que não foram encontradas freadas, o que indica que ela provavelmente não viu a curva. Todos os airbags estouraram, várias capotagens e a 10 km de casa. Acabara naquele momento três décadas de vida, recheadas de confrontos que na maioria das vezes eram próprios e relacionados à sua falta de amor próprio. Acabara junto quatro anos de vida e que praticamente nem havia começado para aquele pequeno ser.
No instante do acidente Ferdianad estacionava sua moto e ao tirar o capacete, foi acometido por uma sensação estranha, uma espécie de calafrio. Algo que lhe fizera voltar um pouco a si, em meio os devaneios de seu companheiro demonico, como ele prefere chamar. Todavia, ele precisava se alimentar, concentrou-se novamente e entrou naquela espelunca. Logo na entrada três prostitutas lhe ofereceram um programa a R$50,00 a hora. Ele as ignorou como se não tivesse visto e foi direto ao balcão. A senha era “carne fresca” e ao pronunciá-la em claro e bom o tom o homem muito magro lhe apontou uma porta. Porta adentro e depois de dois corredores uma menina com pouco mais de 18 anos e muito magrinha disse ao lhe ver: “R$2000,00 e tudo que você quiser”.
Ao ouvir tais palavras o Wampir ignorou seus procedimentos de segurança, tomou a garota no colo e chutou uma porta que estava entreaberta a sua frente. Dentro do lugar ele bateu a porta novamente para fechá-la e com a garota contra a parede tomou seu sangue. Ferdinand estava possuído por seu lado mais nefasto, o sangue da jovem que vinha direto de sua jugular, entrava por suas entranhas e lhe extasiava. Ele não controlou o tempo, ele não se conteve, ele apenas se alimentou como um coiote extremamente selvagem faria com sua pobre vítima.
Numa única noite três corações haviam parado de bater por causa daquele jovem Wampir. Alguns trocados foram dados em troca do silêncio do barman e ele voltava para casa, quando sente o celular vibrando no bolso de seu jeans. Ele reduz um pouco a velocidade, olha no display quem lhe chamava e ao perceber que era sua irmã Eleonor, resolve parar para atendê-la. Foi no acostamento de uma BR que ele recebeu a notícia e aquele arrepio que o acometera, agora lhe fazia todo o sentido. Aquelas palavras haviam tocando fundo em sua alma e o ressentimento lhe viera a cabeça. Talvez a lua em escorpião seja a sua maior punição, porém o que foi visto é que o sentimento de culpa tomou conta da cabeça daquele eterno jovem de 25 anos.
Mais uma vez ele enfrentava de frente a crise que já o atormentava nos últimos sete meses. No entanto, alguns minutos sentado a beira do asfalto ao lado de sua moto, ele se lembrou de sua real situação. “Eu sou um Wampir, eu sou um predador e a morte não deve me abalar”. E no fundo de suas ideias o que acabou lhe confortando, fora o fato de que pelo menos dois daqueles três corações, haviam na verdade pedido por tal fim.
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Poema Sofrendo em silêncio
Este poema foi enviado pela Janielly:
Sofrendo em silêncio
Aqui…
Neste instante…
Sinto uma dor profunda,
Será que existe cura?
Penso em mnha família,
Será esse o motiva desta dor, dor tão intensa?
E me pego sofrendo em silêncio…
Por que tudo tem que ser tão complicado?
Eu queria ter uma família completa…
Sinto falta dos momentos bons,
Mas quero distanciar meus pensamentos dos ruins,
Sempre que me lembro de tudo que vi e ouvi…
Entro numa tristeza profunda e enlouquecedora,
Todas as agressões físicas e verbais sem sentido,
Tudo em vão e doloroso,
Mas quero enterrar toda parte ruim,
E sei que vou conseguir…
Só quero ter os momentos bons em minha memória,
Onde tudo era só riso e alegria,
Onde tudo era perfeito… -
Uma operação com risco iminente
Sabe aquele tipo de história que te prende do inicio ao fim, onde tu nem piscas e quer ler tudo até o fim?
Pois foi esta história que a Fernanda nos enviou e que repasso a vocês. Tenho certeza que irão adorar!Uma operação com risco iminente.
Antes de começar contar esta história, preciso esclarecer alguns fatos para que todos possam entender bem toda a trama. Como algumas pessoas sabem, eu trabalho no BOPE, mas sou Pedagoga de formação e tenho uma pequena escola aqui no DF. Pra ser policial temos que ter o condicionamento físico em dia, apesar de neste momento eu estar “ um pouco acima do peso” , malho todo dia, corro e ainda treino jiu-jitsu três vezes por semana, então o meu condicionamento está 100%.
No último semestre do ano passado a Polícia Civil nos passou alguns mandados de busca e apreensão de uma quadrilha de tráfico de mulheres, apesar da investigação do caso ainda na ter sido terminada, por ser complexa e por eles não terem conseguido apontar o líder deste “bando” ( o sujeito era escorregadio e tinha muitos testas de ferro).
O BOPE então começou a executar os mandatos enquanto a Civil tentava desvendar o mistério da liderança. Bem, dois meses se passaram todos os mandados foram executados e nada de pegar o chefão e nem ninguém abria a boca para delatar o “ patrão”, confesso que isso me deixava intrigada. Investigação em andamento, suspeitas do paradeiro do meliante, novo mandado de busca, nova execução e nada, era sempre assim, já estava ficando chato.
Início de ano letivo e algumas novas matrículas na escola(minha), inclusiva a da filha de um homem muito diferente, na ocasião, eu diria até, tenebroso, mas os dias foram passando e a má impressão passou e o homem se tornou um tanto quanto amável.
Quinze dias após a presença deste homem se tornar quase diária em minha vida, não sei como, ele já sabia que eu também era policial, ou já sabia antes e só se fez entender neste momento, apesar de todos lá na escola gostarem muito dele, eu não o conseguia suportar e achava bem estranho o interesse dele pelo BOPE, até que um dia ele perguntou:
– Você trabalhou na operação do tráficos de mulheres? A pergunta reforçou a desconfiança que eu tinha, porque este caso sequer foi noticiado aqui. Eu respondi:
– Não. Faço serviços burocráticos, não saio em operação.
Dias depois do ocorrido percebi que estava sendo vigiada. Fiquei tão preocupada e temerosa, e logo descobri que todos os meus companheiros que estavam envolvidos na operação também estavam sendo vigiados. O Clima ficou tenso. Resolvi comunicar ao meu Capitão, que me escutou, porém ficou apreensivo por eu ainda estar em acompanhamento pelo outro acontecimento que vocês já sabem.
Enquanto isso a investigação da Civil continuava no mesmo patamar e quase sem esperança de encontrar o “cabeça”.
Tinha uma moça que sempre levava a M.A para escola, devia ser a babá, era uma moça muito bonita, morena, corpo bem definido. Esta moça e o sujeito começaram a se falar todos os dias, após deixarem suas respectivas crianças lá na escola. Um dia percebi que ela entrou no carro dele, não a culpo, pois embora eu não gostasse dele, era bem charmoso. Dois ou três dias após percebi que a moça não tinha ido deixar M.A na escola, vigiei, e no dia seguinte a mesma coisa e no outro dia, resolvi perguntar para a patroa dela o porquê dela não estar mais vindo trazê-la. A resposta que tive:
– Ela desapareceu sem deixar rastros a três dias, já fizemos até um boletim de ocorrência.
Juntei tudo num estante: o cara sabia minha escala, a dos meus companheiros e o caso que estávamos trabalhando e esta mulher ainda some, assim bem debaixo do meu nariz. Só podia ser ele, o “cabeça”
Levei esta informação até o Capitão, que me pediu desculpas e entrou em contato com o delegado da Civil, encarregado do caso, que pediu a Federal uma lista das mulheres que haviam saído do Brasil nos últimos três dias, por meios legais. B-I-N-G-O. Vôo para SP e direto para Barbados.
A partir daí foi emitido um novo mandado de busca e apreensão com base no endereço da ficha de matrícula da escola. O Capitão achou melhor eu não participar desta busca, que foi expedida em um sábado de manhã. Preciso falar como fiquei apreensiva? Logo que acabou a busca o Capitão me ligou para dizer que ele tinha saído momentos antes da abordagem. Mas ele não tinha fugido, tinha ido atrás de mim na minha casa, sorte é que meus filhos e meu esposo não estavam lá, só eu.
Lembra que falei que eu o achava tenebroso? Pois é tive a certeza e medo. Depois que desliguei o telefone ele apareceu e disse:
– Eu sabia que você fazia parte da operação, porque acha que matriculei minha filha na sua escola, só não esperava que você fosse tão esperta a ponto de ligar os pontos. Mas agora não adianta nada sua esperteza. Você vai morrer! Corri pra pegar minha arma pessoal, mas ele me pegou e me jogou no chão com muita força e veio pra cima de mim, nós lutamos e eu apanhei tanto e chegou um momento que ele cansou e aí foi a minha vez de bater, montei e estrangulei, quando ele desmaiou, liguei pro capitão e relatei todo o ocorrido ele tentou me acalmar com seguinte frase:
– Logo estaremos ai.
Fui até o quarto e finalmente peguei minha arma, mas acho que o estrangulamento não foi tão bom assim, porque o infeliz já estava acordado e partindo pra cima de mim novamente, fui surpreendida, o que não eu tempo de destravar a .40 que ficou caída no chão, sentado em cima de mim o FDP só batia na minha cara, quando consegui me desvencilhar dos tapas, segurei o braço dele e aí foi raspagem, omoplata e triângulo, bandido imobilizado, peguei a arma, destravei, tinha uma pistola .40 na mão e uma chance apenas. A cabeça dele está na mira. Será que depois de tudo que eu passei, eu conseguiria? Não sei e não vou saber, porque neste momento todo o batalhão chegou e eu me senti aliviada em não ter que puxar o gatilho mais uma vez.
Bandido preso.
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Hora da verdade
Pelo que a Evelyn me disse este é o último capítulo da história do Juan.
Para quem quiser ler os anteriores segue abaixo os links de todos:Hora da Verdade
O número 44 da Aveneue Verdun parecia não chegar nunca. Ele fazia a contagem em voz alta:
Número 10, 12, 14 …. 40, 42, cemitério, 46, 48…
Juan parou, verificou o nome da rua, o número das casas e viu que já tinha passado. Voltou e continuou falando sozinho:
Okay, passei. Vejamos, este é o número 50, ali o 48, do outro lado da ruas os número ímpares…
Caminhando no sentido contrário, Juan parou em frente ao cemitério:
Número 44, Avenida Verdun.
Viu que o cortejo que passara por ele na praça havia terminado ali. Algumas pessoas já estavam saindo, uma delas falou qualquer coisa para Juan mas ele não entendeu.
A jovem que ele vira caminhar logo atrás do carro fúnebre estava sozinha ao lado do túmulo, o homem jovem e um menino de uns 6 anos se aproximaram dele.
O homem lhe disse qualquer coisa em francês, mas Juan não entendeu nada, só conseguiu dizer em inglês que não compreendia. O homem se apresentou em um inglês impecavél:
– Me chamo John, o senhor conhecia a Madame Chatobriant?Sou marido da sua neta.
– Minhas condolências, mas não. Me chamo Juan e vim procurar uma amiga.
– No cemitério? Perguntou afoito o menino.
Surpreso com o inglês perfeito da crinaça, Juan respondeu sorrindo:
– Não, não. Acho que o endereço está errado.
Neste instante a jovem começou a caminhar em direção dos homens. E o jovem se apressou a dizer:
– Converse com o coveiro, ele conhece tudoe todos por aqui. Depois se despediu e com o menino pela mão, se afastou caminhando em direção à esposa.
Juan esperou o coveiro, ainda em pé na entrada do cemitério.
Ele era um homem meio corcunda, que caminhava com um pouco de dificuldade e parecia ser bastante velho. O coveiro nem se deu ao trabalho de olhar para o homem parado no portão principal, apenas entrou na pequena sala. O mexicano o seguiu no impulso, sem pensar muito no que ia dizer.
– Ah, Pardon, bonjour, Evelyn Dobois, ici.
O velho coveiro resmungou qualquer coisa em francês e apontou para uma lista na parede.
– Non, non, ici, ici (Juan gesticulava apontando o chão) Ici! (fazendo círculos com os braços) Evelyn Dobois, ici (tentava fazer mímicas que pudessem indicar uma casa e apontava para a anotação do endereço).
O velho pegou o papel da mão do jovem e leu em voz alta:
– Evelyn Dobois, 44, Aveneue Verdun, Paris – France. Pensou por um segundo, puxou um livro, verificou umas páginas e fez um sinal para que Juan o seguisse.
Os dois homens caminharam pelo pequeno cemitério até uma ala onde os túmulos eram muito velhos, e estavam ali com certeza muito antes do coveiro nascer.
Uma hora o homem pareceu ter se perdido entre as lápedes, deu uns dois passos meio exitantes e parou derepente.
Sem olhar para o jovem disse bem lemtamente fazendo sinais com os braços:
– Evelyn Dobois, ici, seuelement, ici. Pas d´outre.Jamais.
Depois ele se afastou.
Juan ainda demorou uns segundos enquanto pensava no que o homem havia tentando lhe dizer, para olhar o que estava escrito na lápide:
Evelyn Dobois, *29/02/1600 +29/02/1632.
No dia seguinte o mexicano voava de volta para Cancún.
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Adolescência
Atualizando a seção #FanArt com esse poema enviado pela Janielly.
Adolecência
Durante muito tempo venho tentando entender-me, tenho pensado na vida, em mim…
O que realmente quero? Esta pergunta me persegue.
Tenho analisado minhas atitudes, minhas convicções.
Penso no passado, no presente e no futuro (…)
O PASSADO: Lembranças ruins me perseguem.
O PRESENTE: Confuso, sim, esta é a palavra certa para definí-lo.
O FUTURO: Temo-o, pois minhas escolhas irá definí-lo.
Sinto como se ouvesse um furacão dentro de mim…Como devo chamá-lo? Já sei! Furacão de Sentimentos, é isso…
E esse furacão de sentimentos dentro de mim esta levando tudo que não me pertence mais (…)
Que leve o passado para bem longe, pois ele não me faz bem.
Que coloque o presente nos trilhos certos da vida.
Que o futuro seja surpreendente.
Bom, como posso chamar tudo isto?
– Adolescência. -
Cinema, flertes e o meu demônio
Há algumas noites atrás eu já havia retornado ao Brasil e estava em uma de minhas casas por ai, quando resolvi sair para me alimentar. Preciso confessar que estou me esforçando ao máximo para terminar a revisão do meu livro, mas a cada momento que releio as mais de 250 páginas, eu me lembro de algo que precisa ser acrescentado. Então na verdade isso tem se tornado algo bem chato e as vezes preciso arrumar alguma coisa para me distrair antes de cair na monotonia.
Nesse contexto e apesar de não utilizar meus poderes com tanta frequência, o que me permite ficar alguns dias a mais sem se alimentar, é inevitável que o meu demônio venha a se manifestar em algum momento. Já faz tempo que não entro em nenhum caso policial, ou que me permito vasculhar a vida bandida alheia por ai, então naquele momento não tinha um alvo fácil à vista. Também não existia nenhum escravo ou banco de sangue por perto o que dificultaria ainda mais a minha caça. Com isso, resolvi dar aquela de voyeur de humanos e sai pela cidade de carro em busca de indivíduos possivelmente capazes de suprir minha fome.
Cidade grande e com muitas ruas para vasculhar. Eu até poderia, se estivesse com muita fome, ir a algum ponto de drogas. Porém estes lugares são nojentos e seria o mesmo que me alimentar de um porco em um chiqueiro, ou seja, evito ao máximo. Eu também não estava afim de uma balada ou de uma prostituta… Sim, estava muito chato… Fui então para um shopping e resolvi pegar uma seção de cinema, dessas que começam bem mais tarde, tipo 23 horas.
O filme não vem ao caso, o que importa é que lá também estavam algumas pessoas sozinhas tal qual eu. Sessão encerrada perto da uma da manhã e todos que lá estavam foram embora rapidinho. No entanto, logo que desci as escadas percebi uma mulher na faixa dos trinta anos. Cabelos encaracolados e loiros artificialmente, porém bonitos. Ela usava uma calça jeans bem colada que marcava um pouco sua pequena calcinha, e usava uma blusinha básica dessas de loja de departamento. Não estava vulgar ou até mesmo linda, mas também não seria um exemplo que os estilistas idolatrariam. Também não sei o que me chamou a atenção nela e talvez a sua simplicidade e solidão tenham me provocado algum desejo oculto.
Eu não a segui, mas como ela acabou pegando o mesmo elevador que o meu, eu não resisti à tentação de dar em cima. Olhei então em seus olhos castanho e flertei apenas com um sorrisinho leve. Entre nós havia um casal, mas ela percebeu minha investida e me respondeu da mesma forma. Isso indicava que a porta estava aberta e quando o casal desceu antes, eu me aproximei.
– Vimos o mesmo filme sabias? Tu gostou do fim?
– Pelo sotaque você não é daqui? Mas respondendo a sua pergunta: sim adoro finais que surpreendem.
Nesse momento eu me aproximei mais e lhe respondi.
– Sou do sul… Florianópolis conheces?
Com essa minha resposta ela não hesitou minha aproximação e me respondeu em seguida de uma forma mais receptiva ainda.
– Nossa, amo aquela cidade, já passei férias por lá uma vez. Você está passeando por aqui?
Depois da pergunta dela o elevador se abriu e para minha sorte o nosso andar era o mesmo. Permiti então que ela fosse a minha frente, ela agradeceu e eu continuei a conversa:
– Às vezes eu venho a trabalho pra cá. Uma das filiais da minha empresa fica por aqui e preciso acompanhar o negócio de perto. Como tu sabes tudo flui melhor diante aos olhos do dono, não é mesmo?
– Sim sei bem, sou do rh de uma empresa e sempre que os donos estão por perto parece que todo mundo trabalha mais, ou pelo menos finge que trabalha né?
Neste instante ambos rimos moderadamente e então eu resolvi ser mais direto no papo, pois a risada é uma grande porta aberta na conquista.
– Eu ainda não sei o teu nome, mas adoraria sabe-lo ali naquela cafeteria, que tal?
– Humm não sei se devo, já está tarde e preciso acordar cedo amanhã.
– Ok se tu me falares o teu nome pelo menos, eu te dou uma carona para casa.
– Mas eu também estou de carro.
Nesse momento ela havia dificultado um pouco as coisas, então precisei agir rápido.
– Nossa que difícil, se existe uma coisas que admiro nas mulheres é essa auto valorização. Parabéns me conquistasse.
Ela sorriu, ficou um pouco sem jeito, mas acabou respondendo:
– Marina.
– Prazer Marina, me chamo Roberto. Aceita um café agora que já nos conhecemos?
– Gostei de você gatinho, mas realmente preciso acordar cedinho amanhã. Tome, este é meu cartão. Amanhã é sexta talvez tenha happy com alguns colegas. Me ligue perto das 18, seria ótimo se você aparecesse por lá.
Às vezes algumas mulheres são super resistentes e na hora da conquista não vale apena forçar a barra. Então olhei brevemente o seu cartão e o coloquei no bolso do meu jeans. Depois me virei para ela e disse.
– Não sei se estarei aqui amanhã, mas se estiver te ligo. Foi um prazer senhorita!
Depois disso nos beijamos no rosto, e fui agraciado com seu belo perfume doce que inclusive aumentou um pouco o meu desejo por sangue. Apesar disso, como nossos carros estavam em locais diferente nos separamos por ali mesmo e então lá estava eu apenas com um mísero numero de telefone. Às vezes acho que minha idade aparente não passa muito credibilidade, porém isso é outra história. Tratei então de resolver minha fome e parti para uma rua de prostituição.
Peguei uma menina que achei mais de acordo com meu gosto e ali mesmo no carro começamos o que seria apenas um programa. No entanto, num momento de descuido, injetei no pescoço da menina uma dose de uma substância que compro sob medida e que faz a pessoa desmaiar. Com isso ela apenas sentiu um breve beliscão moderado e literalmente capotou cerca de 5 segundos depois.
Arrumei seu corpo no banco e em seguida me alimentei. Apenas com o suficiente para saciar o meu demônio e tradicionalmente lambi a ferida para potencializar a cicatrização. Depois fui para casa e lá chegando entreguei o carro para um de meus Ghoul que cuidou da moça, certamente da melhor forma que encontrou.
Na noite seguinte, pensei em ligar para a moça do cinema. Porém minha empolgação havia passado e hoje pensando melhor, acho que o destino vai ter um caminho melhor para ela. Certamente bem melhor daquele que eu a conduziria, caso estivesse entrado em sua vida… -
Uma visita inesperada
Mais uma vez a doce e fatal bruxinha Evelyn, que aliás eu não mencionei como participante deste site em meu último podcast, nos traz uma parte da sua história com Juan.
Eu já lí duas vezes essa história e queria a opinião sincera de vocês.
Evelyn sua malvada, por favor nos diga o que aconteceu com esse humano curioso…
Se fosse comigo eu já teria o lanchado em alguma noite em que eu quisesse uma boa sobremesa kkkkkkUma visita inesperada
Juan decidiu que era hora de encontrar Evelyn. Acordou cedo naquela manhã e saiu apressado em direção ao endereço na avenida Verdun.
Na porta do hotel Juan chegou a formular a frase e puxar o ar para pedir um taxi, mas desistiu. Achou que um taxi poderia chamar atenção em uma área residencial e decidiu que iria de metrô. Checou com os recepcionistas do hotel qual era a estação mais próxima do endereço e saiu apressado.
O caminho era longo, o número 44 da Avenue Verdun era do outro lado da cidade. Mas o mexicano não tinha pressa, eram 7 horas da manhã, e uma visita inesperada a esta hora seria um suícidio amoroso.
Ele queria chegar cedo para andar ao redor do bairro, observar o movimento e principalmente, as janelas da casa de Evelyn.
Pensou também em fazer perguntas em padarias ou pequenas cafeterias que fossem agravadéis, mas achou que fazê-las em inglês, chamaria muita anteção da vizinhança.
Juan aproveitou o passeio, parou uma ou duas vezes para obervar lugares e seguiu tranquilo no sentido oposto do tráfico que começava a se formar.
Mais de meia hora depois de sair do hotel, o mexicano chegava ao local que suas instruções indicavam.
Verificou o nome da rua, notou que estava perto do número e resolveu caminhar. Passava das 7:30 da manhã e os poucos comércios do local ainda nem faziam menção de abrir suas portas.
Na camonhada o mexicano viu uma pequena praça e sentou em um banco de onde era possível também ver a rua. Ali o tempo passou voando.
O dia estava maravilhoso, céu azul, nenhuma nuven e uma adoravél brisa de outono que mantinha o ar fresco e a temperatura agradavél. Era um dia perfieto para estar ao ar livre.
Aos poucos as pessoas começaram a circular, algumas crianças com mochilas, algumas mães com carrinhos de bebês, pessoas apressadas e casais de idosos bem arrumados que seguiam na mesma direção.
Juan observava de longe, prestava atenção também ao tráfico de veículos e um carro preto chamou sua atenção. Perto do carro muitas pessoas caminhavam e seguiam na mesma direção que os casais de idosos tinham passado.
Já era quase 9 horas da manhã e o sol forte refletido de uma janela atrapalhava sua visão. Alguns minutos se passaram e o carro se aproximou o suficiente para que ele entendesse melhor o que estava acontecendo.
Dentro do carro, uma coroa de flores e um caixão.
Quando o cortejo chegou na altura da praça, Juan se levantou em respeito ao luto das pessoas e ficou de cabeça baixa enquanto as pessoas caminhavam silenciosamente. Uma coisa chamou atenção do homem, a maioria das pessoas do cortejo, possuiam a maior parte do cabelo branco, e apenas uma pequena e jovem família caminhava logo atrás do carro fúnebre.
A direção do cortejo era também a direção que ele deveria tomar, como ainda era cedo, resolveu esperar mais um pouco, mas desta vez em um charmoso café que ficava numa esquina próxima.
Eram 10 horas da manhã quando Juan resolveu que estava na hora de encontrar Evelyn. Confirmou a direção que deveria tomar no mapa e saiu do café.
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Inverno de 1975
No inverno de 1975 meu mestre estava hibernando e eu havia ficado responsável por cuidar de boa parte de seus negócios. Era uma rotina tranquila, pois todas as empresas do clã já eram praticamente auto sustentáveis e com isso eu enfim havia conseguido um tempo livre para me dedicar a uma de minhas paixões: a arqueologia.
Nesta época inclusive eu cheguei a dar aulas de arqueologia em uma faculdade e me lembro que o Brasil desta época ainda estava imerso no regime da ditadura. Foi na verdade uma época terrível pois ouvíamos freqüentemente notícias e boatos de pessoas, ditas liberais, sendo mortos ou espancados e sem cotar as que simplesmente sumiam do nada, sem deixar rastros. Contudo, ao menos esses sumiços possuiam um lado bom e ajudavam e muito quando eu precisava me alimentar.
Outro fato curioso desta época foi a ocorrência de um fenômeno chamado geada negra, que cobriu boa parte do estado do Paraná e que aniquilou boa parte da produção de café da região. Alguns conhecidos chegaram a confabular que tal fenômeno climático poderia ser sobrenatural, porém até hoje não se sabe ao certo o que ocorreu, haja vista que fora a última vez que precipitara neve naquela região.
Foi em meio a este contexto histórico que eu retomei as buscas por um artefato místico. Alguns me diziam que ele não passava de lenda, no entanto alguns relatos pareceram-me tão reais que me senti na obrigação de saber mais sobre o tal colar de Eros. Uma jóia feita de uma liga especial chamada Alpaca ou prata alemã, formada pela junção de 3 metais conhecidos: cobre, níquel e zinco. Portanto, seu valor material era irrisório se comparado a todo poder que tal artefato poderia carregar consigo.
Dizia a lenda que um antigo rei do oriente era muito poderoso, porém desprovido de beleza e isso lhe era um problema existencial. Em função de tal dificuldade, ele passou a sua vida inteira em busca de formas de amenizar sua aflição, até que em um belo dia ele se deparou com uma bruxa que lhe ofereceu um colar mágico. A jóia custara os dois dedos mínimos das mãos do rei, além de uma quantia mórbida em ouro e de outros favores. Já em posse de tal artefato ele deveria presentear a pessoa que quisesse conquistar e esta adquiriria um amor eterno pelo nobre.
Tal lenda não mencionava se o colar chegou a ser utilizado e se realmente funcionou. Apesar disso, o que me fez ir atrás dele foi o anúncio de um possível leilão na Argentina, onde uma peça com o mesmo nome estaria entre os itens a serem vendidos.
Contratei um avião de pequeno porte para um voo noturno e algumas horas depois em meio as várias turbulências chegamos a Buenos Aires. Nesta época fazia um frio moderado, algo em torno de -5 graus e não havia praticamente nenhum ser vivo pelas ruas. Meu taxi me levou até um modesto hotel no centro da cidade e neste eu fiquei até a próxima noite me divertindo com as conversas, gritos e barulhos que vinham de fora de meu quarto escuro.
Mal o sol se fora e eu já estava aflito por conhecer a tal cidade e tão mais por ir onde seria o leilão. Mesmo no frio quase absurdo para alguns humanos, era possível ver alguns casais dançando tango pelas ruas, recheadas de construções e carros. Andar por aquele lugar me fazia lembrar da antiga Prússia e de certa forma isso me deixava mais confortável. Diferente do sentimento de desconforto que eu sempre senti em terras tropicais.
Na hora marcada eu estava pontualmente no local combinado, quando um pequeno ônibus parou a minha frente e me levou junto de outros senhores, muito bem vestidos para o local do leilão. Esta prática apesar de inusitada, era necessária, haja vista o alto controle de segurança que se fazia necessário diante tais leilões ilegais.
Alguns minutos em meio a cidade e enfim chegamos a uma região central próxima de alguns aterros que hoje foram transformados na reserva ecológica de Buenos Aires. O prédio era antigo, como vários outros naquela região e logo que descemos do ônibus fomos acompanhados até uma entrada onde havia um primeiro check-in. Apresentamos os documentos e os que não possuíam problemas como eu, eram levados até uma outra sala. Nesta cada um recebeu uma plaquinha, para que pudéssemos dar os lances e na seqüência éramos encaminhados até um salão onde eram expostas todos os artefatos que seriam leiloados.
Neste momento deixei a parte social de lado e parti diretamente para o que me interessava, indo atrás do colar de Eros. Em meio as várias peças raras haviam alguns animais, algumas armas, quadros e várias jóias. As jóias pertenciam há um único colecionador que falecera e a família havia decido leiloá-las para dividir o montante resultante. Não haviam placas com nomes sobre as peças, mas foi impossível não perceber o colar de Eros dentro de uma caixa aberta. A joia estava em ótimas condições de conservação, porem não emana nenhum tipo de energia, o que me deixara preocupado.
Tentei chamar alguém, mas não pude fazer a avaliação da peça antes do inicio dos lances. Então aguardei e tentei fazer uma social em busca de mais informações sobre o antigo colecionador que era dono da peça. Nesse momento eu já estava ficando um pouco agoniado, estava debruçado sobre uma mureta e esfregava meu bigode inconscientemente, quando surge uma bela mulher, vestida dos pés a cabeça de preto e que emanava uma forte energia sobrenatural.
Ao passar por mim ela olhou fixamente em meus olhos, obviamente havia sentido meus poderes vampíricos e antes que ela se pronunciasse eu resolvi cumprimenta-la. Pensei em lhe dar boa noite e muito rapidamente antes de se pronunciar ela ignorou o local e todos a nossa volta, utilizando a sua rapidez para se aproximar de mim.
Ela parecia circular ao meu redor como um fantasma e nas duas vezes que passou perto me disse duas palavras: “Bem-vindo vampiro”. Imediatamente depois desta cena inusitada ela estava novamente na posição do inicio. O que me fez lembrar de imediato que ela deveria estar utilizando o famoso poder “Mutatis”, no qual quem o domina pode produzir ilusões que podem ser vista por uma ou várias pessoas em específico ao mesmo tempo.
Isso obviamente não me assustou, porém era um sinal de que ela queria demarcar território. Devia ser uma viciada em leilões e isso sim me deixou preocupado, pois certamente ela iria querer as mesmas peças que eu. Praticando o popular boicote alheio, pelo simples fato de enaltecer seu próprio ego diante um outro de nossa espécie.
Dito e feito como diz o popular ditado. Iniciou-se o leilão do colar quando estávamos na metade da noite e junto com isso aquela intrigante briga de plaquinhas sendo levantadas por mim e por ela. Infelizmente fui obrigado a parar quando o lance alcançou um valor maior do que eu possuía disponível no momento . Com isso ela apenas deu um leve sorrisinho sarcástico e aguardou o final do leilão para fazer os procedimentos de pagamento e retirada.
Eu fiquei bastante frustrado com a perda da possível relíquia, e me senti na obrigação de ir falar com ela antes de ir embora. Neste momento ela estava conversando com alguns senhores, porém quando me aproximei, ela os dispensou e comentou:
– Sabia que sua curiosidade o faria vir até mim, tome, pode verificar a peça com suas próprias mãos, meu caro professor.
Nesse momento eu não sabia se ela possuia alguns poderes de invasão mental, ou se minhas vestimentas davam tão na cara que eu era professor e apesar disso resolvi matar minha curiosidade. Tomei a caixa em minhas mãos enquanto lhe disse:
– Muito perspicaz de sua parte me oferecer tal privilégio nobre senhorita. Com sua licença!
Neste momento eu verifiquei a peça, e em meio a sua beleza rara não senti nada de anormal, foi quando me lembrei dos flertes de meu mestre e de Franz e lhe disse:
– Nobre senhorita, não sei o motivo de sua compra, mas se me permite, sentir-me-ia honrado se me permitires colocar tal joia em seu pescoço.
Nesse momento sua expressão mudou um pouco, mas se mantinha fria e controlada e apenas me consentiu com a cabeça. Neste instante aproximei-me mais ainda de seu belo rosto, encostei a joia em seu formosos seios e a subi um pouco até o quanto fosse possível prende-la atrás do pescoço.
Nestes instantes enquanto ficamos próximos eu senti um pouco de seu belo perfume doce , o que me fez ficar um pouco excitado e antes mesmo de me distanciar ela levantou um pouco a cabeça e me deu um longo beijo na boca. Será que o colar havia ativado o amor eterno nela para comigo, como dizia a lenda?
Depois do belo beijo ela se afastou um pouco e com uma das mãos limpou o excesso de batom de meus lábios dizendo:
– Fugaz e despretensioso. Achou mesmo que eu não sabia que a lenda deste colar era falsa? Tens de melhorar os teus contatos doutor. Quanto ao beijo, gostei seu alemão maroto!
Depois disso ela pegou um cartão em sua bolsa e colocou no bolso da minha camisa, indo embora logo em seguida. No cartão totalmente preto havia apenas um numero de telefone do Brasil escrito em dourado.
Por duas vezes eu tentei ligar no numero, mas este sempre tocava e ninguém atendia. No entanto a última vez que tive notícias de tal dama, elas foram as piores possível… Fora ela quem assassinou meu grande companheiro de estudos Joseph, vampiro que ficou conhecido por aqui pelo apelido “Zé”…
Amplexos,
Sebastian -
O carnaval que muitos não veem
Boa noite mortais e imortais todos respectivamente vivos e mortos?
Depois de longas noites de muitas festas recheadas de acontecimentos, me sobrou um tempo para lhes transmitir minhas ações e pensamentos. Digamos que ao contrário dos outros anos eu resolvi cair de vez na folia e em meio às fantasias e festas pude aproveitar um pouco do calor humano, que me fez recordar muitas experiências do passado.
Antes de tudo eu queria falar sobre a história do príncipe, apelido dado por meus queridos Franz e Frederick há muitos anos atrás. Digamos que eu recebi tal apelido por ser um tanto quanto carinhoso e afetuoso com as mulheres. Bom, quem já lê meus artigos e histórias há algum tempo já deve ter percebido isso, não é mesmo? Então, nada de mais…
Quanto ao carnaval deste ano de 2012, eu passei uma noite com Franz em meio a um baile do centro de uma das cidades próximas de onde estamos. Como foi a primeira noite eu ainda não havia entrado no clima e fiquei um pouco travado de inicio, porem tudo mudou quando reencontramos a ruivinha de Franz, junto de algumas amigas fantasiadas de colegial. Foi um momento interessante, pois fui praticamente obrigado a beijar na boca todas as cinco meninas. Não sei se é um hábito daquela região, mas foi engraçado e me senti o próprio canalha, cafajeste e mulherengo em pessoa…
Depois de tal evento inusitado nós circulamos por mais um tempo em meio às ruas repletas de fantasiados, bêbados e gente de todo o tipo que dançavam ao som da bandinha que tocava em cima de uma caminhonete. As marchinhas eram muito diferentes daquelas antigas que cantávamos nos carnavais que eu ia com meu irmão em meados de 1850 na velha Desterro. Porém tão divertidas quanto.
Lembro que noite adentro o povo ficava cada vez mais bêbado, adolescentes inclusive e foi quando eu percebi como esta sociedade está diferente. Meninas com pouco mais de 15 anos e que ainda cheiravam a leite estavam caídas ao chão, obviamente alcoolizadas ou drogadas e isso mexeu comigo. Acredito que já era próximo das 3 da manhã quando eu entrei nesse modo filósofo e não fiz mais nada se não apenas o que eu mais gosto, que é observar os humanos e suas banalidades.
Alguns casais brigavam por ciúmes e alguns bêbados incomodavam todos que passavam perto. O lixo se acumulou rapidamente, alguns banheiros químicos foram quebrados por caras enfurecidos e a policia de choque já tomava algumas partes das ruas mais tumultuadas. Eu estava ali parado com minha fantasia de pirata e Franz havia dado suas famosas sumidinhas, quando uma garota que vinha correndo de qualquer lugar que eu não havia visto, para ao meu lado assustada.
Ela estava muito ofegante, seus olhos escuros borrados transmitiam muito medo e suas mãos tremiam. Ela praticamente ficou estática ao meu lado e ao perceber o estado da loirinha fui logo fazendo a aquela pergunta clássica “tudo bem?”. De inicio ela não me ouviu, então depois que repeti a pergunta colocando mais ênfase e preocupação na voz ela levou um moderado susto e me disse muito pausadamente:
– Eu… me perdi de minhas… amigas e… quando estava no meio das pessoas… surgiu um homem que me mostrou uma arma e… disse pra eu seguir ele………….. Dai ele me levou pra um beco escuro… e tentou abusar de mim…….. mas eu consegui sair correndo…..
Nesse momento eu lhe abracei. Ela ficou um pouco desconfortável com minhas mãos frias, mas aos poucos foi voltando a respirar normalmente. Com isso soltei-a e lhe perguntei sobre suas amigas. Depois dela descrever duas delas, nos saímos em meio a multidão que ainda festejava a orgia de Baco, afim de achar ao menos uma para lhe fazer companhia pelo resto da bagunça.
Nesses momentos em que algo acontece de errado e ainda mais com uma pessoa frágil, eu não sei o que acontece comigo e apenas tenho vontade de resolver o problema. Pode ser alguma habilidade ou até mesmo meu jeito justiceiro que aflora, ou até mesmo o meu demônio, que começa a salivar diante de algum mal encarado que por ventura cruze o meu caminho.
Tania viu ao longe e próxima de uma árvore uma de suas amigas aos beijos com um cara qualquer. Ela me apontou e íamos naquela direção quando me distrai por alguns segundos, olho para trás e lá estava o tal safado segurando pelos cabelos a indefesa loirinha. Em momentos como este minhas feições faciais sempre mudam, minhas pálpebras se fecham um pouco, a musculatura do meu rosto fica rígida eu estalo o pescoço para o lado direito. Meu demônio sussurra algumas blasfêmias diretamente em minha cabeça e eu parto para ação ignorando tudo a minha volta, vendo apenas o que me incomoda.
Três passos foram suficientes para me aproximar deles, esbarrando em duas pessoas no caminho. Parei ao lado do cara, que possuía uma barba fétida de cigarro e cara de poucos amigos. Como ele não se importou com minha chegada eu coloquei minha mão direita em seu ombro e o puxei levemente para trás, olhando fixamente em seus olhos claros. Nesse momento Tania se soltou, saiu correndo e eu estava com aquele saco de merda humana em minhas mãos.
A nossa volta o povo abria uma pequena roda e naqueles pequenos momentos de sanidade que me surgem eu peguei um distintivo que carrego junto em ocasiões públicas como esta, o levantei para o alto e disse em claro e bom tom “Fiquem calmos, policia!!!”. Com isso eu comecei a arrastar o lixo para fora dos olhos de todos e quando estávamos em meio à multidão ele infelizmente conseguiu sacar sua arma e tentou dar um tiro em mim. Por sorte a bala acertou apenas a parede de um dos prédios a nossa volta, mas isso já foi suficiente para começar uma correria.
Com isso eu tive de improvisar, agindo rapidamente e com minha força esmaguei sua mão que segurava o modesto 22. Ele gritou e gemeu de dor com o meu ato e antes que surgisse algum policial eu o levei correndo para o que julguei ser um lugar tranquilo, um beco escuro em uma das ruas da região. Um bêbado urinava naquele lugar e logo que ele saiu eu fiz o que achei mais correto, acabei com a vida daquele babaca. Algumas vezes como naquele sábado fatídico eu fico com nojo de consumir o sangue e o simples ato de acabar com um safado alivia de certa forma os desejos do meu demônio.
Deixei o corpo ali, certifiquei-me de que não havia ninguém por perto e decidi virar névoa, voltando a forma humana noutro lado da festa, onde já em forma humana voltei ao local onde eu estava inicialmente observando toda a multidão. Não nego que estava salivando e até havia ficado com vontade de tomar um bom A negativo, mas me aguentei e passei o resto da noite apenas observando novamente o publico. Minutos depois Franz reapareceu e então fomos para casa, ele bem tranquilo e eu ainda um pouco extasiado.
Assim começava meu carnaval. Nas noites seguintes não fiz nada de mais, apenas procurei por Frederick, mas ele estava viajando para resolver algumas questões com suas crias. Então diante disso eu decidi refrescar um pouco a cabeça com alguns passeios junto de Eleonor e Stephanie com sua filhinha.
Para um humano normal talvez seja difícil imaginar toda essa minha frieza ao tratar de um homicídio doloso, mas isso se deve ao fato de já estar fazendo este tipo de serviço há muitos anos. Dizem que um médico ginecologista perde o prazer do sexo depois de alguns anos de trabalho, no meu caso eu digo que às vezes perco o respeito com pessoas ordinárias…