Fomos embora da Ordem, tão logo fomos liberados e os novos acordos foram renovados. Mesmo tendo um clã pequeno, se comparado com o da Lili, é importante termos aliados de sangue, ainda mais nesse mundo da atualidade, onde a política tem sido cada vez mais um diferencial que contribui para a sobrevivência.
Estava dirigindo o carro alugado, quando recapitulei alguns pontos com Julian:
– Ainda não acredito que depois de tantos anos aquele puto se demonstrou tão sacana. Já dividi sangue com aquele filho da puta, te falei né?
– (pensativo) Fuck, tô preocupado com o desdobrar das ações dos Regrados. O tal ali não parecia ser um dos chefes que bolou todo aquele lance na África. No clã deles, ok, mas tem outros maiores por trás do que vimos. Tenho certeza!
– Bom, o que pediram foi entregue, meu amigo. Nem o meu pessoal nem o teu, tem condições de pescar peixes maiores agora, relaxa ai…
– Aye!
Seguimos viagem por mais algumas horas. O som do carro ia do bom e clássico rock inglês ao pop contemporâneo. Obviamente, quando tocava essas mais moderninhas Julian, reclamava. Algo no qual me acostumei depois de um tempo, a ponto de rir da revolta dele.
No esconderijo
Enfim chegamos e fomos recepcionados pela Megs, outra que está sempre empolgada. Sobretudo, no que diz respeito a falar sobre o que tinha rolado na missão. Então, quando resolvemos a entrega do carro e as malas foram desfeitas nos quartos ela nos chamou.
– Achei que ia dar merda isso ai que vocês fizeram, sei que os Regrados são contatos importantes, mas chamaram vocês para algo totalmente suicida.
– Fuck yeah Megs, ficou com saudade e medo de me perder então?
– Ahh bloody hell, claro de quem mais eu iria pegar no pé, precisaria dividir muitos pescoços pra confiar em alguém de novo.
Percebendo a merda que a gente tinha feito eu comentei:
– Desculpa Megs, eu devo ter empolgado o Julian nessa missão.
Fazendo cara séria ela me respondeu:
– Pois não desculpo mesmo, seu sacana!
Em seguida ela deu uma risada e continuou:
– Ahh seus filhos da puta, se não sou eu pra incentivar algum juízo em vocês… Dois moleques metidos a macho alfa…
– Relaxa mana, agora é relaxar com a grana que a gente levou nessa…
Complementei Julian:
– E os contatinhos…
– Ahh claro, só se for pra ti… Tirando a vampirona lá que você deu uns beijinhos as outras tudo com cara de bruxa velha. (risos)
Uma breve cerimonia
Julian e Megs, são vampiros extremamente antenados em tudo o que pode gerar benefícios a nossa existência. Inclui-se nisso rituais, itens mágicos, relíquias e afins. Comento isso, porque após nosso papo Julian me chamou para uma sala. Algo cerca de quatro ou cinco andares nos subsolo. Onde havia um armário com quatro portas pequenas, algumas cadeiras, uma mesa e um grande barril de madeira e metal. Cuja história do que era aquilo, ele me contou em seguida:
– Eu te falei que esse lugar aqui é bastante antigo e com o passar dos anos o protegemos e o mantivemos como refugio. Acontece que esse espaço pertenceu a alguns membros mais antigos que o meu mestre, provavelmente o mestre dos mestres. E ele era um grande influente da nossa cultura. Talvez fosse líder da cidade ou da região, fato é que recebia muitos presentes como esse. Diz a lenda passada pelo meu mestre que o barril armazena qualquer coisa, quase que para sempre em seu interior. Claro que isso é muito benéfico, especialmente para se armazenar sangue.
– Vindo de você eu espero mais alguma coisa além do sangue, estou certo?
– Aye! Aqui eu faço alguns experimentos e dessa última vez eu consegui o sangue de um ancião, me custou os olhos da cara, mas valeu a pena. Já era pra eu ter te trazido aqui para experimentar isso, mas você agora só fica lá no Brasil e sabe como é…
Fiquei pensativo por um instante, até que ele continuou:
– Quer experimentar? Acho que deve ter pouco menos de um litro ainda.
Aquele sangue
Relutei por alguns instantes novamente, enquanto ele servia duas taças. Porém o sangue ativou minhas narinas, senti algo magicamente adocicado, com notas florais. Quase como um perfume sobrenatural que me hipnotizou de imediato.
– Pela tua concentração, já percebeu que isso aqui é diferente, né?
– Olha se não fosse você me oferecendo isso… cara, certamente eu negaria. Mas me conta mais…
– Claro, experimenta um gole. Ah e bebe devagar.
Bebi e aquilo desceu de uma forma diferente. Parecia leve e pouco espesso, diferente de qualquer outro sangue que já havia bebido, mesmo o de meu mestre. Julian continuou
– Percebeu como ele é leve e diferente? Vamos, continua bebendo…
Apenas acenei com a cabeça e em questão de menos de um segundo tudo ficou escuro, eu apenas ouvia a voz de Julian e uma sensação de paz tomava conta do meu corpo. Todas as dores dos ossos calcificados fora do lugar sumiram, todos os meus músculos, veias… Parecia que eu podia sentir até meu cabelo ficando mais harmonioso.
Instantes mais tarde a luz da pequena lâmpada incandescente do teto voltou a ficar visível e o aparente transe havia passado. Julian ainda estava no transe sentado numa das cadeiras e ali percebi que meu corpo havia sido completamente restaurado.
– Fuck yeahh baby! Curtiu meu amigo?
– Pena que acabou….
– Pelo preço certo posso conseguir mais, sõ me falar pra quando!?
– Seu puto, agora sei de onde vem parte da tua grana (risos)
Algumas horas mais tarde eu fui dormir. Na noite seguinte acordei bem disposto, arrumei minhas coisas, me despedi e voltei para o Brasil. Ao longo do caminho alguns ossos e músculos voltaram a doer. Apesar disso, eu estava feliz por ter sobrevivido e renovado algumas alianças…