Tag: bruxa

  • A bruxa sumiu – pt7

    A bruxa sumiu – pt7

    – Quando percebi que ia dar merda me escondi em baixo da mesa. Pow cara cê sabe que é foda ali, nego com metranca e tal, atirando pra tudo o que é lado, pirei, saca? Acho que pegaram a véia, botaram no saco e a gente pá. Fiquei ali até pararem de atirar, a mina lá… “Helen” chorando… A tia dela levou umas porrada e comigo foi o tal do terrorismo psicológico…

    Imagine uma pessoa tensa e cheia de poréns? Depois que ele me confidenciou tal momento, até era possível ver em seus olhos o porquê de seu ser tão complexado. Por que Helen era tão carente e por que sua tia estava praticamente louca. A tortura mental talvez seja uma das piores formas de terrorismo.

    Para ser sincero eu estava muito puto com o tal grupo, estava a fim de ir lá liberar meu demônio de verdade, dar uns tiros, gritar, fazer o sangue fluir… Se há algo que odeio é opressão, seja ela na forma que for. Todavia, eles possuíam poder de fogo, possíveis ligações com um demônio e vontade de fazer merda, muita merda.

    Ferdinand e agora, vais chamar o exército? Claro mancebo, vou formar a liga da justiça ou dos vingadores e ir para lá feito um americano de filme ¬¬

    Conversei com Hector, expliquei o que estava ocorrendo e montamos um plano de ação. “Um de cada vez”, disse ele no que parecia mais uma caçada serial killer, do que a resolução de um crime. No entanto, o que importa realmente é resolver um crime ou impedir que os criminosos façam novas vitimas?

    Liguei para Helen e ela me confirmou a mesma história. Fiquei de passar em sua casa, mas naquele instante com parte do negócio resolvido eu estava receoso por me envolver mais. Já disse que detesto mulheres carentes, mas ainda havia aquele pé atrás. Ou ela era boa demais ou tramava algo… Mandei Pepe vir ao meu encontro e deixei tudo planejado com Hector para irmos atrás de um dos membros. Ao todo descobrimos 11 membros oficiais e o lado serial Killer de Hector entraria em ação na noite seguinte.

    – Estou perto, vai ficar em casa hoje à noite? – Perguntei a Helen por sms.

    Ela me respondeu alguns segundos depois – Sim, quer acabar comigo de novo esta noite? – Tal resposta era muito tentadora e respondi que chegaria em até uma hora. Eu até chegaria em 10 minutos no seu refugio, porém, tendo em vista meu receio resolvi deixar o carro um pouco afastado e fui para o lugar à surdina em forma de névoa.

    Ao chegar no lugar havia uma caminhonete nova, que até onde eu sabia não pertencia a Helen e pressenti a presença de alguém sobrenatural  e estranho pelas redondezas. “Tenho certeza que senti algum peludo passar por aqui” pensei comigo.  Instantes depois em meio à mata que ficava perto da casa e do carro um quarto sujeito entrou na história. Um homem na faixa dos 60 anos e muito bem vestido de terno e gravata.

    Voltei a minha forma humana e fiquei os observando com minha audição e visão aguçados. Ambos estavam felizes, Helen estava diferente, talvez um pouco mais confiante que o normal e o sujeito estava feliz.

    – Esse problema está chegando ao fim meu amor, logo mais você vai poder sair pelo mundo novamente e quem sabe eles queiram que você assuma a liderança aqui na cidade. Apesar de tudo o vampirinho está ajudando…

    Depois de tais palavras ela apenas consentiu com a cabeça e deu um longo abraço no misterioso homem, que lhe correspondeu da mesma forma com muito carinho, embarcou no carro e foi embora. Depois que ele partiu ainda havia a presença lupina na região e isso me preocupou mais que tudo.

    Decidi dar mais uma volta na forma de névoa e depois de um tempo voltei para o carro. Helen estava sendo vigiada ou aquilo podia ser uma emboscada para mim. Resolvi então me precaver e lhe mandei uma sms dizendo que iria atrasar, mas que iria para mesmo que fosse ao final da noite. Prontamente, ela me respondeu dizendo-se triste, mas que estava com saudades e era para eu ir assim que possível.

    Peguei Pepe no aeroporto, expliquei a situação e a levei junto para caso houvesse algum perigo iminente ou surpresa. Avisei Helen, que estava chegando e estranhamente ela não me respondeu. Não percebi nenhuma presença estranha ao chegar a sua casa e ao adentrar uma nefasta surpresa.

    O corpo da bruxa estava com muitos ferimentos sobre a cama do porão. Ela vestia uma daqueles lingeries sexys e estava à beira da morte. Mal consegui sentir sua pulsação e tudo o que ela me disse antes de partir foi: “Por favor… Salve… Mmmm… Mãe…”.

  • A bruxa sumiu – pt5

    A bruxa sumiu – pt5

    Helen possuía uma voz calma, tranquila, quase “chapada”. Sua idade, algo em torno de 30 e poucos não lhe pesava e confesso que me até me senti atraído por ela, afinal vocês sabem que tenho um fraco para bruxas loiras… Papo vai e vem, por alguns momentos eu até me perdi em mio as suas histórias ricas de detalhes, mas enfim depois de alguns minutos ela  tocou no assunto do desaparecimento de sua mãe.

    – Ferdinand, não é fácil para mim falar de mamãe, ela sempre me foi muito boa, tínhamos uma ótima relação e meu mundo virou do avesso quando ela sumiu. Na época os investigadores da policia procuraram em todos os lugares, vieram até mim com teorias loucas e até mesmo o minha casa e minhas intimidades foram reviradas por eles. Na sequencia disso eu ainda estava bastante abalada e ouve uma investigação por parte de alguns Regrados. Sabes que eles são extremamente loucos por regras e foi horrível  tudo o que eles me obrigaram a fazer. Passei uma semana inteira enclausurada numa sala escura e mal me davam água e comida. Portanto, ter de abrir essa conversa de novo contigo, depois de quase 10 anos é difícil, me entende?

    Nesse momento, o semblante dela havia se fechado, ela ainda não havia me falado nada sobre o dia fatídico, mas estava na cara que escondia algo importante…

    – Quando me lembro deles invadindo a reunião do nosso Coven, dos capuzes, dos tiros e todo aquele fogo…

    Depois dessas palavras ela desatou em lágrimas e tive pena dela e de quão ruim aquilo tudo havia acontecido para sua família. Tentei arrancar mais algumas palavras ou fatos, mas foi extremamente difícil. Comprei-lhe uma água e acabei oferecendo carona até a casa dela. Na minha cabeça eu queria apenas confortá-la e acabei dando um tiro certeiro. Ela Aceitou meu convite e fomos com meu carro para sua residência.

    Era um lugar afastado, longe do centro e bem arborizado, típico do interior e absolutamente tranquilo. Pelo que havia entendido ela morava sozinha e constatei isso ao chegarmos. Uma casinha bem amistosa, alguns gatos vieram ao nosso encontro quando chegamos e mesmo sendo tarde, próximo das 23h aceitei seu convite para entrar.

    Eu não deveria estar me envolvendo tanto com a vítima, mas havia algo a mais nela e isso excitava minha curiosidade vampiresca. Ficamos por algum tempo na sala e ela já havia desconfiado de meu lado sobrenatural. Claro que não saio dizendo para todos os ventos que sou vampiro, mas resolvi abrir o jogo com ela.

    Inicialmente ela ficou um pouco surpresa, mas depois me confidenciou que havia tido contato conosco por causa de sua mãe e até possuía um ou dois contatos no mundo dos vampiros e dos peludos. Isso abriu assunto para mais uma bela conversa que durou tempo suficiente para eu não ter mais como sair de sua casa antes do nascer do sol.

    – Pode passar o dia por aqui eu estou tão sozinha ultimamente, que um pouco de companhia irá até me fazer bem.

    “Quando a esmola é demais o santo desconfia”, não é isso que diz o ditado? Pois bem, não era minha ideia dormir na casa dela, mas resolvi dar pano para manga e deixar rolar o que tivesse que rolar. Ela bocejou a minha frente e disse:

    – Nosso papo foi tão bom, que nem vi o tempo passar. Queres que eu te apresente  oquarto de visitas ou já se apagou ao meu sofá?

    – Acho que uma cama iria fazer bem as minhas costas se não te importas…

    – Imagine, venha aqui…

    Segui-a até o quarto e estava tudo muito escuro, para minha surpresa não era um quarto mas sim uma escada que dava para um porão. Mesmo diante disso, deixei ela descer a frente e para minha surpresa havia no porão uma cama confortável, limpa e alguns livros jogados numa estante do canto.

    – Aqui é onde minha mãe costumava ficar quando me visitava. Por causa da idade ela estava com os olhos cansados e falava que aqui nesse breu se sentia mais confortável. Pode por tuas coisas no criado mudo. Eu vou tomar um banho e volto para ver se está confortável.

    Será que eu estava numa noite de sorte, será que eu deveria ser o santo desconfiado? Deixei-a ir para o banho e obviamente revirei todos os livros e coisas do lugar. Alguns deles falavam de história, outros eram apenas romances e um deles me chamou atenção. Capa de couro, folhas amareladas e algumas delas rasgadas. Dentre uma linha e outra percebi que era algum tipo de diário impresso, ou seja, a reprodução da vida de alguém. Contudo, o que me chamou muito a atenção essa uma passagem grifada:

    “…é invocado por magos ou exorcistas, pode os ensinar todas as línguas, encontrando prazer em ensinar expressões imorais, e tem o poder de fazer os espíritos da terra dançarem, assim como por inimigos em fuga usando seus animais ou abalos sísmicos.”

    Eu já havia visto essa descrição de Ágares na internet, mas ali havia mais, inclusive um ritual para invoca-lo. Algo complexo e que inclusive envolvia grande quantidade sangue humano. Mesmo com tudo o que já havia visto mundo a fora, aquilo me deixou perplexo e pensativo. Todavia, tive de parar meus pensamentos por algum tempo, Helen havia voltado e trajava uma bela lingerie preta. Percebi muitas tatuagens pequenas por todo o seu corpo torneado e mesmo com o hobby cobrindo as partes mais gostosas, percebi que não dormiria sozinho naquele dia chuvoso e frio de outono…

  • A bruxa sumiu – pt4

    A bruxa sumiu – pt4

    Quase no que parecia ser o fim de toda aquela baboseira, digo, ritual. Meu celular vibrou e ao ver que era Franz sai de imediato para atender. Obviamente, os mais fervorosos acharam um absurdo eu sair no meio da lenga lenga, digo cerimônia. Inclusive, ouvi alguns murmúrios, mas nada que me fizesse prestar tanta atenção no que estava acontecendo.

    – Acabei com tua cria, de calcinha ela é até bem gostosinha, sabia? Calma, calma, antes que me xingue, pode ficar tranquilo, pois ela está sã e salva lá na fazenda…

    – Só tu mesmo Franz, acho bom que ela esteja bem se não eu acordo “papai” e tu sabe que ele vai acordar bem puto da vida hahahaha.

    E nesse papo descontraído ele me disse que o treinamento de Pepe havia terminado, possibilitando-a agora um dos maiores dons de nosso clã, a metamorfose corpórea. Quais níveis ela havia aprendido? Eu estava tão curioso sobre a evolução de minha pequena, que larguei a investigação, subi na moto e voltei para o hotel.

    – Penélope, estou ansioso sobre teu aprendizado, conte-me tudo filha…

    – Ai Fe sabe como é o Franz, todo cheio de dedos, mas coloquei ele no lugar logo de cara e tentei aproveitar tudo o que ensinava para mim e H2. Consegui me transformar em lobo, acredita?

    Nosso papo durou por todo o restante da noite e quando dei por mim era quase dia e precisava verificar as janelas antes de tirar um cochilo. Nesta noite a investigação havia evoluído pouco e apesar da filosofias, que tentaram me empurrar goela abaixo em tal culto pseudosatanista, eu já possuía uma linha de pensamento.

    Restava agora achar a última testemunha, a filha da tal bruxa sequestrada. Pelo que consta nos relatórios ela tinha um caso com o tal Joâo e isso me preocupava, pois poderia ser tão fora da realidade quanto o pobre homem.

    “Helen, conversei com tua tia por esses dias e ela me passou teu número. Eu estou investigando os ocorridos e gostaria de falar contigo sobre o desaparecimento de tua mãe”.

    Foi à mensagem que deixei na caixa postal de seu celular. Porém dois dias e uma noite haviam se passado e ela não havia retornado, então tentei novamente e para minha surpresa fui atendido por uma bela voz  logo depois do primeiro toque.

    – Olá, desculpe não ter retornado, estava sem credito…

    Assim iniciava um papo harmonioso, onde ela me pareceu muito sã e lhe convenci a me encontrar perto de um dos teatros da cidade.

  • A bruxa sumiu – pt2

    A bruxa sumiu – pt2

    Iniciei minha noite ouvindo um pouco de Heidevolk…

    “De zon wordt zwart
    In zee zinkt de aarde
    Uit de hemel vallen
    Heldere sterren
    Damp en vuur
    Dringen dooreen
    Hoog tot de hemel
    Stijgt een hete vlam”

    Marie-Arthur du Buet foi a primeira testemunha que consegui contato. Liguei falando do caso, no início ela ficou receosa, mas talvez pelo fato dela ser irmã de sangue da desaparecida, me permitiu um bate-papo num café.

    Naquela noite uma inquietante névoa solida pairava pela cidade, o vento não era frio e decidi ir de moto, pois como sabem me sinto mais livre nesse tipo de veículo. Minutos mais tarde cheguei ao café e não foi difícil reconhecer Marie-Arthur. Uma mulher de meia idade, cabelos mistos loiros com grisalhos, com olhar fixo e preocupado. Ela emanava tanta energia que qualquer sobrenatural poderia lhe reconhecer a quilômetros de distância.

    – Olá boa noite, posso me sentar senhorita Marie-Arthur?

    Ela não pareceu nenhum pouco surpresa por eu ter lhe reconhecido, na verdade até se movimentou pouco quando me sentei a sua frente. Iniciamos um diálogo e como esperado ela tinha poucas respostas, senti-me por diversas vezes num monólogo áspero e interrogativo que não levaria a lugar algum.

    Ah certo momento um motoboy passou ao longe e fez aqueles estouros, que parecem tiros de armas de fogo. Naquele instante Marie-Arthur irrequietou-se a cadeira, arregalou os olhos e disse aos sete ventos:

    – Vocês não vão destruir a ordem. Podem levar o corpo de minha irmã, mas nunca terão sua alma!!!

    Claro que todos ao nosso redor ficaram olhando e tive que dar uma improvisada.

    – São os remédios pessoal, desculpem! Marie-Arthur, quem levou o corpo de tua irmã e atirou em vocês?

    E mais uma vez ela falou para todos em claro e bom tom:

    – Um homem velho pálido, cavalgando um crocodilo e com um falcão em seu punho, Agares, é o seu nome neste mundo…

    Depois disso tive de encerrar a conversa com a bruxa, pois já havíamos chamado muita atenção. Despedi-me de Marie-Arthur e voltei para o hotel, onde passei o resto da noite pesquisando sobre a tal entidade demoníaca no qual ela havia me falado.

  • A bruxa sumiu – pt1

    A bruxa sumiu – pt1

    Passados os detalhes pós-transformação de minha querida Pepe e depois que minha forças voltaram a quase 100%, é justo que eu volte as minhas rotinas. Principalmente, no que diz respeito ao projeto “Escolhidos”, junto do ex-pirata Hector Santiago. Antes que me perguntem de Pepe, ela passará algumas semanas junto de Franz e H2, no que meu irmão chama de jam session, que na verdade será uma série de ensinamentos coletivos no qual ele tentará passar as nossas novas crias. Portanto está bem, sã e salva…

    Chegando no QG dos Escolhidos, me encontrei sozinho em meio a muitas investigações, as quais o próprio Hector não estava dando conta de investigar. Inclusive ele e Eliot estavam em campo, provavelmente verificando um dos casos. Tendo em vista, o amontoado de processos optei pelo clássico uni, duni, tê e para minha sorte encontrei um caso em que as forças ocultas estavam envolvidas em mais uma trama.

    Desta vez não haviam raptado artefatos mágicos, mas sim a própria anciã de um Coven de bruxas. Um grupo peculiar, no qual nome não posso revelar, mas que foi importante na época da ditadura brasileira. Dentre as provas encontradas pela própria policia no local do crime, havia muitos pelos de pantera negra e diversos objetos estavam arranhados. Além disso, algumas poças ou pequenos espirros de sangue espalhado pelo lugar foram analisados e nenhum deles levou os investigadores da policia, a quaisquer suspeitos cadastrados em seus bancos de dados.

    Ainda nos arquivos do processo haviam os depoimentos de três membros do grupo que foram encontrados feridos e desacordados no local do sequestro. De acordo com o que foi relatado pelo escrivão eles não falaram “nada como nada” e tudo o que se relacionava com o momento do sequestro estava embaralhado na mente deles.

    Instigado pelo crime arquivado e aparentemente sem solução aos olhos humanos, tratei de por as mãos a obra e pesquisei tudo o que a internet e a Deep web podiam me informar sobre o tal Coven. Liguei para alguns amigos e um deles me disseque o caso era de média importância para a sociedade bruxólica e que também já havia sido investigado por olhos sobrenaturais. Porém mesmo assim nada havia sido encontrado.

    Minha curiosidade estava afoita diante um processo interessante e não me custava nada dar uma espiadinha nos envolvidos. A cidade era grande e isso ajudaria a camuflar minhas investigações, só precisava juntar alguns equipamentos e deixar Hector de sobreaviso no caso de eventualidades.

    Carro com roupas e afins, carretinha com uma de minhas motos e hotel reservado…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Final

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Final

    Noutra noite qualquer Franz também apareceu por terras paulistas e lá estávamos nós três juntos, como no inicio de minha vida vampiresca na Alemanha. Está certo que sempre ficávamos os três sozinhos em tantas outras ocasiões, aliás, belas e profanas ocasiões. Porém desta vez havia algo a mais, havia minha busca frenética por um grupo de magos/bruxas e por uma loira sem rosto e que mesmo sem eu conhecer, já estava tirando o meu sono.

    São Paulo é a quarta maior aglomeração urbana do mundo. São quase 30 milhões de pessoas e dentre elas são muitos os estudantes de Magia. Nesse contexto, certamente se tu não tiveres alguns bons contatos seria uma busca daquelas do tipo agulha no palheiro. Porém, como eu sempre fui muito bem assessorado, concentramos as buscas em alguns grupos isolados e que ao todo não passava de mil pessoas.

    E lá se foram outras noites em busca de mais informações até que na metade da madrugada de uma sexta, recebo uma mensagem de Joseph: – Mon ami, encontrei uma pista interessante, nos falamos no hotel Au revoir. Je dois partir...

    Perto das 3h da manhã eu voltei para o lugar e lá estava Joseph sentado no sofá mexendo em seu Nokia N95, junto de Franz que apenas assistia TV. Ao me ver Joseph largou o celular num canto, me cumprimentou estendendo a mão como sempre fazia e contou sobre suas descobertas. Ele havia achado um pesquisador especializado em bruxaria, professor de história da USP e que lhe forneceu mais detalhes sobre as Strega e suas ramificações no Brasil. Ele também soube de uma tal de Pietra, taróloga e conhecida adepta da Stregheria, porém esta não foi localizada para nos fornecer informações.

    Então, baseado em tudo o que havíamos encontrado decidi que deveria ir para a Itália. Cruzar o oceano por causa de sonhos e visões Ferdinand? Sim, minha cara leitora. Eu havia retornado recentemente de uma longa hibernação de 50 anos. Período no qual minha cabeça deveria ter sido curada deste tipo de incomodo e eu realmente queria começar “vida nova”.

    Algum tempo na Itália, algumas noites junto de meu amigo e mago kieran na Inglaterra e muitas das dúvidas, inclusive os feitiços do livro havia sido resolvidos. Meus pesadelos haviam acabado junto da leitura do tal livro e eu decidi retornar ao Brasil.

    Em junho deste mesmo ano a rotina havia retornado as minhas noites, muitos dos negócios do nosso clã estavam novamente em minhas mãos e lá estava eu novamente procurando o que fazer, quando recebo um sms de Franz: “Ocupado hoje? Estou pensando em chamar alguns amigos e fazer aquela nossa tradicional noite de comes e bebes, vens?”.

    Confesso que a monotonia tomava conta de mim e também não estava nenhum pouco empolgado em sair de casa naquela noite. Porém como as festas do Franz são sempre empolgantes e agitadas, resolvi tomar um banho e parti para o tal lugar. Salão de festas de um prédio qualquer e vários humanos dividindo espaço com os vampiros de nosso clã.

    O mais engraçado destas festas é que Joseph e Franz sempre davam uma de “chef” e inventavam pratos exóticos para os convidados. Nesta em específico eles preparavam Sushi e tão logo cheguei já foram pedindo ajuda para enrolar as algas com arroz, salmão e afins…

    Tudo ia bem, eu já estava empolgado com a festa e inclusive havia encontrado uma garota alvo, no qual imaginava ter algum tipo de afair mais tarde. Quando olho para uma das janelas e vejo vindo ao longe uma garota loira de calça jeans e um casaco com capuz cobrindo seu rosto. Isso foi o suficiente para eu parar o que estava fazendo, limpar os olhos, olhar para os lados, me beliscar e piscar várias vezes na intenção de ver se era mesmo realidade.

    Mesmo assim a garota continuava vindo em direção a festa. Procurei alguém mais próximo, que por sorte era Joseph e apontei perguntando: – Estou vendo cousas meu amigo? – E para minha sorte ele me respondeu com um sorriso no olhar: – Acalma-te mona mi, também estou vendo!

    Alguns segundos depois a garota entra, cumprimenta os conhecidos pelo caminho e ao chegar próxima de Franz, tira o capuz deixando seus lindos cabelos loiros à mostra e da um oi do tipo “geral”.  Franz de imediato limpa as mãos com uma toalha, a coloca no ombro e se vira para mim dizendo: “Beth este é o meu irmão Ferdinand, que chegou recentemente da Alemanha”.

    O meu querido e tagarela Franz diz que “…quando eles se olharam os olhos de ambos brilharam, eles se concentraram um no outro e o amor podia ser visto na forma de corações estourando pelo ar…“ Poesias a parte, o papo inicial realmente foi muito bom. Compartilhamos muitas opiniões semelhantes e não tardou, até que surgisse algum tipo de confiança especial, que nos permitimos revelar os segredos sobrenaturais de ambos.

    O resto vocês já sabem e iniciava-se naquela noite nosso relacionamento. Um período no qual ela me ajudou a se readaptar ao mundo atual, ensinou quase tudo o que sei sobre bruxaria moderna e fomos muito felizes.  Apesar de seus poderes, humanidade e de minha condição vampiresca, o nosso relacionamento foi de vento em pompa até os últimos meses de 2011. Quando ela decidiu concentrar sua vida em seus aprendizados bruxólicos e partiu para uma longa jornada sozinha, em alguma parte deste ou dos outros mundos.

  • Download – Bíblia das bruxas

    Download – Bíblia das bruxas

    Noites atrás vários de vocês me perguntaram o que eu sei sobre bruxaria. Como eu disse não é o meu forte ou assunto no qual eu me dedico, porém sempre que posso ou tenho acesso eu desprendo algum tempo nisso também.

    Alguns anos atrás eu estava lendo muito sobre sobre Wiccas, talvez por influência da Beth (minha ex) e em meio alguns materiais eu me deparei com essa tal de Bíblia das bruxas:

    Clique aqui para ver o arquivo no formato pdf.

    Eu não vou falar muito e queria na verdade, antes de dar minha opinião, ouvir o que vocês acham sobre esse material. Vamos lá leiam, não é tão longo e garanto que os textos são de fácil interpretação, vejam o trecho abaixo:

    Queríamos referir que os bruxos Americanos usam agora universalmente o pentagrama direito isto é, apenas com uma ponta para cima como sigla do Segundo Grau, porque o pentagrama invertido é associado com o pensamento americano sobre o satanismo. Os bruxos europeus, no entanto, ainda usam o tradicional pentagrama invertido, com as duas pontas para cima, mas sem implicações sinistras. O simbolismo europeu significa que, não obstante os quatro elementos de Terra, Ar, Fogo e Água estarem agora em equilíbrio, ainda dominam o quinto, o Espírito. O pentagrama direito do Terceiro Grau simboliza que agora o Espírito domina, rege os outros. Dada a diferença entre o uso Europeu e o Americano, damos duas alternativas no procedimento da unção no ritual que se segue.

  • E o tiro saiu pela culatra – Parte 2

    E o tiro saiu pela culatra – Parte 2

    De volta ao seu quarto de hotel em Paris, Juan apressou-se em ligar para o hotel em Cancún e confirmar o endereço. Ele tinha copiado corretamente do computador, mas pediu que o gerente procurasse a ficha preenchida por Evelyn para verificar algum possível erro.
    Enquanto esperava, Juan tentou por seguidas vezes contato através do número de telefone. Mais uma vez, não houve resposta.
    Já perto da hora do jantar o gerente do hotel de Juan em Cancun finalmente entrou em contato confirmando que não houve erro de digitação. O endereço e telefone que Juan possuía, eram os informados por Evelyn.
    Juan ligou para Miguel e os dois se encontraram no café onde se conheceram para jantar. Depois de ouvir atentamente o que Juan contou sobre as verificações que pedira, Miguel sugeriu que o homem entrasse em contato com o serviço de informações da empresa de telefone, um tipo de auxilio à lista, e verificasse o endereço que consta para aquele número, e o número que consta para o endereço.
    Como já era bastante tarde quando voltou ao hotel, Juan decidiu que a manhã seguinte seria o melhor horário para fazer as ligações, e por causa do seu fraco entendimento da língua francesa, ele também precisaria da ajuda de um dos recepcionistas.

    Naquela tarde Miguel e Juan se encontraram novamente. O homem espanhol já suspeitava que o mexicano estivesse caindo na teia de uma mulher perigosa, mas achou melhor só comentar isso depois de ter certeza.
    A confirmação aconteceu quando Juan contou que o endereço do número de telefone e o telefone do endereço não batiam. Apenas um dígito de diferença e o endereço apontava para o outro lado da cidade. Louco para reencontrar aquela deslumbrante mulher, o mexicano não aceitou o aviso de Miguel de que aquilo poderia ser proposital. Insistiu em ir até os dois endereços. O espanhol disse que havia falado com um amigo que tinha negócios naquela área e que talvez pudesse ajudar Juan a entrar no bairro, mas o mexicano não poderia sair do carro, ele tinha autorização para parar em lugares determinados, tanto dos que controlavam a àrea, quanto da polícia.
    Marcaram o encontro com o tal amigo de Miguel para o outro dia. O francês mal falava qualquer outra língua, e meio que por gestos fez Juan entender que deveria vestir o uniforme igual aos outros carregadores, que não deveria falar em montento algum e também ficar o tempo todo dentro da van.
    O veículo era uma van normal, sem os últimos bancos de passageiros, que eram substituídos por guloseimas em caixas, entregues nas áreas mais perigosas da cidade.
    Juan se sentou à janela, único lugar dispinível e deu uma olhada nos outros homens, todos negros, mal vestidos com o uniforme já bastante desgastado. Alguns passavam a impressão de não serem muito ligados em higiene pessoal. Dentro da van o cheiro era uma mistura de chiclete de tuti-fruti com cigarro e suor. Nada agradavel.
    O amigo de Miguel parecia ser o chefe e também era o motorista. Pelo pouco que conhecia da língua francesa, sabia que ele também era o único francês dali. Os outros homens tinham sotaques fortes e diversos, isso dificultava muito saber o que eles falavam. Juan chegou a conclusão que eles deveriam ser da Argélia ou Congo.
    A van passou por três barreiras antes de finalmente entrar no bairro. A primeira era claramente policial, com homens fortemente armados e uniformizados. Ali todos desceram e foram revistados, assim como cães farejadores e dispositivos anti-bombas foram usados para vistoriar o veículo.
    Na segunda barreira a van nem parou, apenas gestos para os homens. Juan não conseguiu definir se era uma força paralela ou milicianos. Eles pareciam os policias da outra barreira, mas não estavam uniformizados. Um dos homens falava em um walkie-talk e olhava atentamente para os passageiros.
    Depois de passar por algumas àreas vizivelmente inabitadas, era possível avistar latões com fogo na lateral da estrada. Eles afunilavam o caminho até o que seria a terceira barreira. Os passageiros não precisaram descer, mas a porta lateral e a traseira foram abertas e um homem de capuz e mais bem armado que as outras duas barrerias, colocou metade de corpo para dentro e encarou um à um os carregadores. Ele perguntou qualquer coisa a um homem sentado à porta e apontou para Juan. O homem respondeu e o outro fechou a porta.
    Depois abriram a traseira e tiraram uma ou duas caixas de guloseimas. O francês amigo de Miguel não estava ao alcance dos olhos, e Juan também não levantou muito a cabeça para procurar. Eles ficaram uns 5 minutos ali, até que o motorista voltou e sem falar nada continuou dirigindo.
    O lugar era muito pobre, Juan nunca havia imaginado que poderia ver a probreza que era comum nas àreas mais remotas no México em uma cidade como Paris. Parecia outro lugar, um mundo distante, separado. Quase ninguém andava na rua e era fácil ver pessoas armadas nas esquinas, como se estivessem em vigilância.
    A van parou em aproixmadamente 5 lugares. Em cada um deles um homem diferente saia para fazer a entrega e na volta dava um envelope ao motorista. As ruas não tinham placas com nomes, e só algumas casas eram numeradas.
    Juan sentia-se completamente perdido e já acreditava que aquele não era o endereço certo. Era claro que entrar e sair dali não era para qualquer um e que se Evelyn não fosse ligada à alta cúpula da organização que comandava aquela àrea, jamais estaria hospedada em um hotel a beira-mar em Caracas, onde se conheceram.
    De repente quebrando o silêncio que durava desde que chegaram a primeira barreira, o motorista disse: “la gauche!” e apontou para fora do carro. Tudo que Juan viu foi um prédio abandonado depois de um incêncio que acabara com quase tudo. Do pouco que se lia na fachada era o número,127. Exatamente o que Evelyn escrevera. Miguel estava certo, ela havia mentido.

  • Como a Evelyn conheceu a Beth

    Como a Evelyn conheceu a Beth

    Já consciente do poder sobre os homens e sem interesse algum de deixar pistas, Evelyn começou a criar um estranho interesse por plantas.
    Durante o primeiro verão fora do internato, ela foi à África do Sul conhecer um pouco mais sobre uso medicinal de ervas e plantas.
    Nos anos que seguiram ela continuou estudando o assunto. Durante o curso rápido em um instituto de Herbologia no leste Europeu ela conheceu Elizabeth.
    Em princípio bastante diferentes, as duas desenvolveram admiração mútua, conforme as conversas durante as caminhadas no jardim do instituto avançavam. Elas não estavam interessadas exatamente nas mesmas coisas, Elizabeth claramente possuía um conhecimento bem maior sobre os diferentes usos das plantas e Evelyn encantava-se ao ver como algumas coisas estranhamente belas aconteciam sem explicação na presença da outra mulher.
    De uma forma bastante geral, mulheres entediavam Evelyn. Roupas, cabelo, maquiagem e sociedade não estavam presentes nas conversas que a interessavam. Mas Elizabeth era diferente. Mesmo também interessada em todos os assuntos “de garota”, ela parecia saber um pouco a mais que as outras pessoas e aos poucos o conhecimento extra começou a interessar Evelyn.
    Pela primeira vez ela ouvia falar de bruxas. Já claro conhecia da literatura, mas por mais que desejasse obter o conhecimento sobre feitiços e poções que havia lido diversas vezes, não acreditava que fossem reais.
    Elizabeth mostrou à Evelyn coisas bastante simples. Uma delas uma poção do sono. A mistura era inodora e insípida, perfeita para misturar em bebidas. Além do mais se misturava rápido aos líquidos e podia ser feita com ingredientes encontrados com certa facilidade.
    Depois que Evelyn terminou sua primeira poção sugeriu a Elizabeth que fizessem um teste. Em uma festa no centro da cidade, Evelyn escolheu três pessoas de pesos e idades diferentes. Mesmo intrigada com a situação, Elizabeth deixou que a futura aprendiz fizesse seu experimento.
    A primeira pessoa era um homem gordo, que já havia passado dos 50 anos. Evelyn sentou-se no bar ao lado dele, que depois de observar a mulher dos pés a cabeça lhe ofereceu um drinque. Elizabeth observava de longe. O homem se insunuava o tempo todo e por várias vezes tentou tocar a perna de Evelyn. Ela não era de ser má com as pessoas apenas por ser, o homem poderia ter escapado do sonífero se tivesse sido um cavalheiro, mas como o comportamento rude a enfurecia, ela resolveu que escolhera a pessoa certa para o teste.
    Evelyn retirou da pequena bosla um vidrinho de perfume e começou a passar. Elizabeth entedeu, ainda de longe observando a cena, era o vidro que continha a poção. Enquanto Evelyn brincava com o vidro, alguém esbarrou nela e um pouco do “perfume” caiu no copo do homem, que não percebeu. Ele bebeu e continuou a insinuar-se. Logo depois pendeu sobre o balção e adormeceu.
    As outras duas pessoas, uma mulher jovem e fransina e um garotão saudável em torno dos 25 anos, não precisaram de muita aproximação, ambos, deixaram os copos no balcão ao lado das mulheres.
    O garotão já bêbado insinuava-se para qualquer ser vivo do sexo feminino que passava ao seu lado. Já a mulher foi escolhida porque naquele mesmo dia de tarde, Evelyn a viu maltratando um garçon em um café.
    Quando saíram da festa Elizabeth comentou qualquer coisa sobre as três vítimas terem se tornado “presas fáceis”, mas Evelyn não entendeu muito o comentário e também achou que seria indelicado perguntar.
    Elizabeth encantou-se com Evelyn por razões que podem parecer até frívolas. Apesar de ser tão bela e elegante quando a própria Evelyn, admirava nela a sua facilidade em participar dos eventos sociais, o seu conhecimento de arte, e o “poder de encantar as pessoas sem ter efetivemente nehum poder”.
    Chegava a hora de Evelyn retornar à Paris. Trocam endereços e telefones, Elizabeth, agora Beth, também deu algumas instruções em relação à livros que poderiam responder algumas questões sobre bruxaria.
    Sem saber, Evelyn acabara de conhecer sua mais forte aliada e fiel amiga.

  • Arriba, arriba!

    Arriba, arriba!

    Depois de se separar de Beth, Evelyn ainda ficou alguns dias em João Pessoa. Ela ainda precisava decidir seu próximo destino.
    Resolveu que voltaria a Caracas para esperar seu vôo de volta à Europa por lá, entendia melhor o idioma e como não estava mais com Beth para lhe auxiliar com as minúcias do português, resolveu não arriscar.
    Passou alguns dias em Caracas até que conheceu um mexicano que também estava ali de passagem. Os dois passaram muitas refeições conversando no restaurante do charmoso hotel sem nem perguntar nomes. Era costume de Evelyn, nunca perguntava o que não pretendia responder.
    Mesmo sem geralmente fazer uma única pergunta ela descobria muitas coisas sobre as pessoas. Principalmente se eram solitárias, esse tipo costuma conversar muito com qualquer estranho que lhe sorria.
    O homem era bastante atraente, moreno de olhos escuros. Sua pele não era branca clara, nem chegava a ser negro, mas tinha uma cor bonita, diferente aos olhos dela.
    Com alguns anos de prática Evelyn aprendeu um truque usado pelas antigas bruxas da Bretanha. Ela desenvolveu a capacidade de se conectar com algumas pessoas que tenha interesse e que tenham alguma sensibilidade ao dom da visão. Esta capacidade permitia a Evelyn apenas formular perguntas e sem pronuncià-las ouvir a resposta. Isto não chega a ser magia ou leitura de mentes, é apenas um dom que algumas pessoas possuem e ela aprendeu como controlar.
    Assim Evelyn pensava em coisas que gostaria de saber sobre o homem, mas que não teria a menor intenção de responder se lhe fossem perguntadas, e ele as respondia, quase que voluntariamente.
    Quatro dias e seis refeições se passaram até que ele finalmente a convidou para um passeio, foram ao Jardín Botánico. Passeando entre as raras espécies em exposição, o homem sempre cortez falou:
    “A propósito, não me apresentei devidamente” disse, “ Me chamo Juan”
    “Muito prazer, me chamo Evelyn”
    Durante a caminhada, Juan relevou que voltaria a Cidade do México naquela noite e quiz saber mais sobre o próximo destino da bela mulher. Evelyn não revelou muito, apenas que ficaria mais alguns dias em Caracas. Voltaram ao hotel e pela primeira vez combinaram um jantar fora dali, Juan a levou no mais caro restaurante da cidade. Ele queria impressionar.
    Os dois comeram, riram, dançaram e de volta ao hotel Evelyn negou às investidas e Juan se despediu com um cavalherio.
    Na manhã seguinte Evelyn resolveu não correr o risco que encontrá-lo saindo e fez as duas priemiras refeições do dia no quarto. Passou o resto do tempo na piscina do hotel.
    No início da noite embarcou para o uma cidade menor, um pouco afastada da capital. Ali encontrou uma amiga dos tempos de faculdade. Ela foi conhecer o Yopo. Nos últimos meses na América do Sul Evelyn conheceu muitas ervas, chás e misturas que tinha certeza que lhe ajudariam em um futuro bem próximo.
    O Yopo é um pó das sementes de paricá, misturado com cinzas de conchas que é utilizado pelos nativos para fazer previsões e aguça o dom da visão. Algumas lendas dão conta que quando inalado o pó aumenta os poderes dos feiticeiros e bruxos.
    A amiga de Evelyn já tinha preparado uma porção para as duas usarem aquela noite.
    Para inalar algumas pessoas usam um tubo que é feito de ossos de pássaros, outras um tubo longo onde uma pessoa sopra o pó no nariz da outra, pela extremidade oposta. As duas ficaram com a segunda opção e Evelyn foi a primeira a inalar.
    É dito que o Yopo geralmente causa dores de cabeça, vômitos e tonturas, principalmente aos que não são acostumados ao dom da visão.
    Sentada olhando fixamente para o fogo que ardia na fogueira improvisada do lado de fora da casa, Evelyn esperou passar mal. Mesmo dotada da visão e de alguns pequenos poderes, sabia que não era uma bruxa poderosa e acreditou que seu corpo não suportaria um transe depois dos últimos dois, com o Santo Daime e principalmente com o Chá de Jurema que a deixou muito fraca.
    O mal estar não veio e Evelyn viu outra vez a luz que a guiou no último transe. Tentou afastar a visão e a luz se apagou. Em seguida viu o mensageiro do hotel de Caracas, ele trazia uma bandeja com uma carta e uma rosa. As coisas não eram muito claras, e logo depois a imagem se desfez e uma praia surgiu, agora ela via Juan, ele falava mas não conseguia escutar o que era. As imagens continuaram evoluindo e ela viu os dois jantando, depois dançando e os dias passavam. Evelyn se viu coberta de jóias e presentes caros. Cenas do que poderia ser foram pasando e ela apenas assistia tentando entender o que queriam dizer. As imagens pararam de evoluir quando ela estava em pé, dois caminhos se abriam a sua frente, eram estradas escuras de terra, não se podia ver mais que 20 metros além do ponto onde estava. Ali a visão se desfez como fumaça e Evelyn voltou do transe.
    Muito cansada e completamente suada, ela ainda precisou usar as últimas forças para entrar na casa, com a ajuda da amiga, para se deitar. Ela dormiu sem sonhar até a manhã seguinte.
    De manhã as duas conversaram, Anne era uma simpática ex-colega que abandou a escola de Arte para se dedicar à causas ambientais em países do terceiro mundo. Evelyn tinha simpatia por ela e mesmo durante a faculdade a considerava a menos fútil de suas colegas. Nunca foram amigas íntimas, mas mantinham contato esporádico desde então.
    Já de volta à Caracas, ela viu sua primeira visão se realizar. Minutos após entrar no quarto o mensageiro do hotel bateu à porta, ele estava sorridente com uma bandeija, um envelope e uma rosa.
    Depois de agradecer ao rapaz, Evelyn sentou-se cuidadosamente na poltrona e leu:
    “Espero por você. Juan”
    Junto com o bilhete, uma passagem aérea e uma reserva de hotel.
    Três dias depois Evelyn deu entrada no hotel em Cancún.

  • Em busca da vampira assassina. Parte 2 de 2

    Em busca da vampira assassina. Parte 2 de 2

    Carlos começou a fazer o que sabe de melhor e nos levou mata a dentro atrás dos dois. Mesmo para nós que não somos rastreadores ficava evidente o cheiro do sangue perdido pela vadia. Os diabolistas tem um cheiro muito particular, fétido, que lembra carne podre e ácido. Tem como cheiro ser ácido? Ok…

    A cada passo que dávamos ficava mais evidente na cara de todos a vontade em terminar tudo logo para cada um poder voltar as suas rotinas. Apesar de termos nos recuperado parcialmente era agora o melhor momento para acabar de vez com a maldita sanguessuga diabolista. De nós cinco apenas Hector, Carlos e eu podíamos realmente cair no pau. H2 ainda estava sofrendo os problemas da transformação e Franz havia gasto muita energia, ou seja, na hora eu pensava somente em encontrar rápido a maldita e antes que ela viesse com outra surpresa.

    Carlos, manda todos se moverem em silêncio, mas nenhum de nos conseguiu fazer isso, afinal estávamos em meio a mata na escuridão total. Mesmo com a visão aguçada que possuímos os galho, folhas secas e arbustos formavam a sintonia perfeita para nos denunciar.

    Shiiiii insistiu ele… Mas antes que consiga terminar de falar uma granada de fumaça explode ao seu lado e o impacto o derruba. O forte barulho atordoou nossos sentidos e o susto nos dispersou. Olhei perdido para os lados e segui o que parecia ser o brilho da espada de Hector. No entanto antes que pudesse me aproximar do pirata sou atacado pelo maldito peludo, que em forma de humanoide agarra minha perna e me joga contra uma árvore.

    Sinto o estalar de algumas costelas e ao tentar me segurar em algo para pegar equilíbrio levo um chute na altura do ombro. Nos engalfinhamos então pelo chão, enquanto tentava começar minha transformação, mas não consegui haja vista que é algo que precisa de certa concentração. Nessas horas em meio a socos e agarrões é difícil concentrar e somente a sobrevivência fala mais alto.

    Consigo me levantar e enquanto tento aplicar um aperto em seu pescoço no infeliz ele me surpreende com um golpe de capoeira e me joga novamente contra outra árvore. Desta vez senti alguns ossos do braço esquerdo se quebrarem. Enquanto ele vinha para cima de mim, o que provavelmente resultaria em um belo estrago, vejo Carlos segura-lo e Hector aplicar um golpe certeiro com a espada de prata em seu coração. A besta peluda engoliu um uivo seco, seus olhos ficaram imóveis e ao levar as patas a espada ele se contorceu e ficou de joelhos. O velho pirata o empurrou para trás com o pé e usando sua rapidez deferiu um golpe que separou a cabeça do corpo. A rapidez do golpe foi tanta que certamente olhos humanos veriam apenas o pirata parado na frente da besta e sua cabeça caindo ao lado.

    Enquanto Carlos e Hector me ajudavam a se levantar somos surpreendidos por uma espécie de névoa escura. A névoa retardou nossos movimentos e reduziu a praticamente zero nossa visão. Mesmo utilizando a nossa velocidade e força superiores era difícil dar passos simples e por fim percebemos que estávamos presos no maldito poder de Tenébras.

    Depois de alguns poucos minutos sinto minha energia e força diminuírem, mas antes que eu vá ao chão alguma coisa forte me puxa para cima. Confesso que senti meu corpo flutuar como se a gravidade não existisse mais como em algo surreal. Na sequencia minha visão começa a melhorar e vejo ao meu lado Carlos me carregando junto de Hector para cima de uma árvore. Impressionado com a agilidade e força de um lobisomem? Tu nem imagina do que eles são capazes…

    Ele nos soltou em cima de um grande galho, onde ao longe era possível ver a fonte da névoa: a vampira bruxa com uma tênue aura alaranjada recobrindo o seu corpo.

    Antes que pudéssemos tentar falar algo Carlos foi em direção da luz e entre saltos chegou perto de um galho que ficava logo acima da feiticeira. Ele a fitou por alguns instantes, pois percebeu que abaixo de si vinha correndo Franz e H2 em direção da bruxa.

    Os dois vampiros deferiram vários golpes, mas não conseguiram desfazer o círculo mágico, que repentinamente se expandiu e os arremessou para muito longe em meio a mata.

    Enquanto achávamos que tudo ia dar errado, consigo descer da árvore com a ajuda de Hector e rumamos em direção a bruxa que já não conseguia mais manter a escura e espessa névoa.

    Ao chegar perto da vadia ví algo que nunca havia visto em todos os meus muitos anos como vampiro. Não vou conseguir transmitir em palavras tudo que ví, mas vou tentar… Carlos saltou da árvore de onde estava em forma de lobo humanoide, isso quer dizer que ele parecia uma besta de quase três metros de altura ou seja o máximo de poder que um lobisomem poderia ter, achava eu…

    Na verdade acho que a própria encarnação do lado mais nefasto de Gaia estava a nossa frente. Certamente o simples fato de olhar para Carlos faria um humano normal entrar em colapso e o que parecia grandioso aumentaria ainda mais com os atos posteriores da fera.

    Carlos precisou de poucas passadas para ficar frente a frente com a mulher e por algum tempo se encararam. A primeira a se manifestar foi a vadia que mudou cor da aura de energia que a envolvia para uma cor vermelho carmim e se preparou para receber algum tipo de golpe. O peludo em sua vez já estava a conjurar algo até que quando sua longa calda peluda que balançava muito ficou repentinamente parada. Ele abriu então os braços, dobrou um pouco os joelhos e como um relâmpago deferiu uma centena de garradas que perfuraram várias partes da  bruxa.

    Em poucos segundos  o corpo da mulher amaldiçoada foi ao chão e entre contrações e espasmos foi possível sentir o que lhe restava de não vida se esvaindo junto do seu sangue podre, até que restassem apenas um corpo seco.

    Carlos ainda de costas para nós e muito ofegante se ajoelhou em frente aos restos da diabolista agarrando sua cabeça com as duas patas. Ele resmungou mais alguma palavras em uma língua completamente desconhecida para mim e assoprou a face desfigurada do corpo. Com o ato o que ainda restara se desmanchou em cinzas até que não existisse mais nada em frente ao lobo.

    Nos aproximamos, ele estava mais calmo e já era possível ver seu rosto humano novamente. Antes que ele se levantasse diante de mim vejo algumas lágrimas esvaíram-se de seus olhos profundos. Solto então meu braço esquerdo que já estava um pouco melhor e apoio minha mão direita em seu ombro o encarando de frente.

    O peludo limpa o rosto e me fala pausadamente algumas frases que me deram mais confiança para continuar minha jornada:

    – Sonho todos os dias com o fim dessa guerra inútil… Gaia deu hoje mais um voto de confiança para o seu plano contra as trevas… Aproveite pois acabamos de pagar a minha dívida contigo e a alma do seu amigo está livre novamente!

    Voltamos todos para casa e já estamos recuperados, mas ainda fico no meu canto pensando nas palavras de Carlos. Voltei a pesquisar nossas origens e confesso que os últimos acontecimentos deixaram-me na dúvida quanto ao meu lado bestial. Será que meu lado agressivo é realmente demoníaco como insisto em idealizar sempre?

     

  • Em busca da vampira assassina. Parte 1 de 2

    Em busca da vampira assassina. Parte 1 de 2

    Reunimos o grupo pegamos um jatinho e depois de um voo tranquilo sobre a Amazônia brasileira chegamos a um cais onde um carniçal do Hector nos aguardava com um barco. Não sei dizer com precisão se já era Suriname ou se ainda estávamos no Amapá, o importante é que o barco nos deixou em uma trilha de onde ainda teríamos uma boa caminhada de duas horas e pouco até o acampamento em uma caverna.

    Passamos o restante da noite e o dia de sábado descansando e preparando o ataque. Além de nós, cerca de 10 outros mercenários foram contratados, transformados em carniçais e receberam armamento e instruções sobre a missão.

    Nesses dias as horas passam muito rápido e logo depois que o sol se põe estamos praticamente a postos loucos para que tudo aconteça de uma vez. Mesmo eu que já passei por tantas situações parecidas fico ansioso, afim de que eu possa retornar logo ao meu refugio tranquilo e seco.

    O que falar do local? Muitas árvores, humidade extremamente alta, sensação de abafamento e os malditos mosquitos que surgem em nuvens quando menos se espera. Nesse tipo de local, meio pantanoso a única vestimenta compatível são as que cobrem boa parte do corpo. Eu sempre estou de jeans e colete a prova de balas, com essa roupa não me incomodei muito. O resto do povo também se cobriu com exceção do Carlos que vestia apenas uma calça solta tipo moletom, tênis velho e uma camiseta com duas vezes o seu tamanho.

    A estratégia foi simples, invadir, capturar fazendo fazer valer a ordem e a justiça.

    Dividimos o grupo em dois. O Franz, H2, alguns carniçais e eu fomos por trás como grupo de invasão e o restante do pessoal foi pela frente como grupo de ataque. Nem preciso dizer do por que que o Lobisomem foi pela frente junto do pirata sanguinário.

    Uma hora depois chegamos a uma velha mina de rubis abandonada, povoada apenas por algumas casas iluminadas por fracas velas. Duas caminhonetes e um caminhão preenchiam o que um dia já foi uma boa estrada. Além disso, uma fogueira grande era rodeada por alguns sujeitos diversos que emanavam uma grande força diabólica.

    Galego o que diabos, uma vampira que gosta de leilões e de coisas chic faz no meio do mato? Simples, existem alguns lugares na terra chamados de Nodo. Nestes lugares a energia é melhor e dizem os especialistas, tal qual o Carlos, que nestes locais as portas para viagens astrais ficam abertas por mais tempo.

    Então se elas ficam mais poderosas é um local pior para atacar, não? Muito pelo contrário mancebo, pois ninguém espera ser atacado num Nodo!

    Enfim, o primeiro grupo chega chutando com os dois pés. Algumas granadas iluminam a escura noite, muito tiros e muito sangue voam pelos ares. Não é sempre que um vampiro pirata se junta a um lobisomem sedento de carne humana em prol de algo, então imaginem a carnificina…

    Depois de alguns breves minutos é a nossa vez. Circulamos o local na sorrateira, fomos em direção ao que aparentava devia ser o covil da vampira. Antes de entrar jogamos uma granada de fumaça por uma das janelas e instantes depois a companheira da maldita sai correndo junto de dois caras. H2 os intercepta com alguns golpes da sua espada abençoada, mas é surpreendido por um lobo que surgiu do nada e lhe atacou pelas costas.

    Na sequencia outros dois peludos chegam e começa alí uma luta que resultou em muito sangue perdido a toa. Todos os caniçais de nosso grupo foram dizimados e sem o H2 era apenas mais uma vez Franz e eu contra tudo. Nesse momento um rápido flashback passa na minha cabeça e me lembro de nossa luta nos EUA.

    ***

    Depois de alguns anos de prática minha transformação já ocorre mais rapidamente e entre vários socos e garradas eu consigo liberar a minha fúria para cima do peludo. Nesse momento é como se eu ligasse o automático, muitos dos meus atos são pensados muito mais rápido e fica de certa forma simples deferir golpes fatais como os que dei no metamorfo.

    Esta fúria que nos toma é tão forte que é difícil reduzir ânsia que fecha a garganta, se meu corpo respirasse certamente estaria bufando. Olho então para o lado em busca de mais inimigos e vejo o outro lupino já ao chão e o Franz frente  a frente com a Companheira da vampira.

    Por cerca de uns dois minutos em quanto volto ao normal, Franz lê a mente da bruxa e na sequencia ele lhe dá um tapa no rosto com a parte de fora da mão, com ela já ao chão ele chuta sua barriga, se aproxima de seu pescoço e lhe suga o sangue até a morte.

    Nessa hora a briga havia chegado ao seu ponto alto, éramos momentaneamente vitoriosos, no entanto todos foram acometidos por um grito que nos atordoou gravemente. Lembro-me de ver Carlos de joelhos, franz deitando em cima do corpo da vampira e ao procurar por Hector não o vejo, mas consigo me manter em pé encostando numa árvore apoiando com a cabeça enquanto levo as mão ao ouvido.

    Era a maldita bruxa vampira que surgiu de dentro da entrada da mina com mais dois peludos em forma de lobo.

    Mesmo depois do grito estridente parar ainda é difícil voltar a realidade. Não ví a hora que Hector partiu para cima da vampira, mas foi ele que a fez parar de gritar com um golpe de espada que lhe perfurou o peito. Com este golpe ela se encolheu mas teve força para desequilibrar o pirata e sair fugida mata a dentro.

    Um dos peludos a seguiu e para o azar de Hector o outro lhe desferiu vários golpes enquanto tentava se levantar.  Mesmo atordoado Carlos em forma de humanoide consegue se aproximar dos dois, e arranca o lobo de cima de Hector. Eles lutam por alguns instantes e depois de alguns granhidos Carlos finaliza a luta com uma pedrada na cabeça do lobo. Depois disso Hector levanta-se e com sua espada de prata corta a cabeça do infeliz.

    ***

    Depois de alguns instantes de atordoamento eu consigo me aproximar de Hector e Carlos e separa o que iniciaria uma briga. Procuro por Franz e não o vejo de imediato, mas algum tempo depois o vejo perto de H2. Começava ali um ritual improvisado que traria o velho caçador para o lado de quem ele perseguiu por tantos anos.

    Hoje mais calmo eu vejo que realmente seria um grande desperdício deixar para morrer um cara com tantas habilidades como ele. No entanto Franz vai ter muito trabalho barra domesticar a sua nova cria.

    Algum tempo depois do ritual, nos alimentamos com o resto de sangue que encontramos nos restos mortais dos que lá estavam. Obviamente tudo isso foi muito rápido, pois ainda tínhamos dois alvos escondidos em meio a selva.

    Carlos começou a fazer o que sabe de melhor e nos levou mata a dentro atrás dos dois…