Tag: magia

  • A magia e os vampiros – pt7

    A magia e os vampiros – pt7

    Barulhos de todos os tipos atingiam meus sentidos aguçados. Pedaços de madeiras, telhas, pregos, louças… Todos caiam sobre mim e alguns inclusive machucavam a ponto de fazer sangrar minha pele, que naquele instante estava mais grossa e recoberta por longos pelos, devido à transformação bestial. Durante esta metamorfose os pensamentos se tornam vagos e dispersos, como se estivéssemos em um sonho controlável, mas extremamente focado naquilo que queríamos antes de nos transformar.

    Meu objetivo era única e exclusivamente aniquilar aqueles dois peludos safados, que haviam nos sequestrado e atacado. Todavia, uma briga que envolva lupinos e magos nunca é algo linear e que siga uma sequencia lógica. Tanto que ao ser atingido pelos primeiros raios de sol, não aconteceu nada comigo, foi ali que alguns pensamentos relacionados aos ilusionistas vieram a minha mente.

    Escombros por todos os lados, mais tremores e de repente somos envoltos por uma densa e escura névoa negra, que silenciou absolutamente tudo, estabilizou os tremores e também bloqueou minha visão por completo. Naquele instante eu não sabia se ainda estava transformado ou se já havia voltado a minha forma humana, mas naquele momento eu descido ser menos agressivo e iniciei o ritual para transformação em névoa. Afinal, nesta forma eu pelo menos não seria atingido por armas físicas.

    Alguns minutos se passaram, eu achava que já havia me transformado e me locomovi sempre à frente, pois na minha cabeça em algum momento aquela nuvem negra iria ter fim. Perdi mais algum tempo nesta movimentação em câmera lenta, até que em fim e gradualmente voltei a ouvir alguns sons. Seguidos por raios de sol, que também não me machucaram e finalmente encontrei uma clareira em meio aquele lúgubre caos. Minha transformação em névoa não havia funcionado e ainda na forma bestial eu procurei pelos outros.

    Como faz pouco tempo que isto ocorreu eu ainda me sinto empolgado ao contar, o fato de que Hadrian deu uma bela surra nos dois peludos. Ele estava com o olhar diferente, parecia mais ofensivo e seus olhos estavam escuros tais quais as nuvens negras ao seu redor. Eram elas, aliás, que haviam bloqueado minha visão anteriormente, mas o que eu achei mais interessante e aterrorizador deste seu poder era o fato dele conseguir manipular graciosamente as sombras. Eu possuía conhecimento deste poder e já havia sido atacado por detentores deste dom antes, mas no caso de Hadrian era diferente, como se ele tivesse uma espécie de armadura de sombras ao redor de todo seu corpo. Algo espesso, denso ou palpável como cinzas de alguma cousa que fora queimada.

    E foi bonito ver os dois apanhando, sendo jogados de um lado para o outro, até que finalmente o velho foi o primeiro a cair inerte e esgotado, como o pobre do Sebastian anteriormente. Situação, aliás, que comprometera seus feitiços e desfez o lugar onde estávamos. O barraco, os raios de sol e até mesmo o campo ao nosso redor eram na verdade um galpão maior, típico de algumas fábricas abandonadas daquela região. Ainda era noite e o poder de ilusão deles era tão forte que fomos enganados por Claire desde o momento em que ela nos encontrou.

    Na sequência Claire baixou a guarda, tão logo percebera que seu pai havia sucumbido diante Hadrian. Ela na verdade parou tudo o que fazia e foi desesperadamente ao encontro do velho. Eu que ainda estava na forma de lobo gigante fui desfazendo minha transformação e percebi que Hadrian fazia o mesmo. Não vi Sebastian de inicio, mas ao procurar melhorar por ele, o vi sentado no chão e encostado a uma parede se recuperando.

    Feitiços desfeitos, olhei para Hadrian, que me sinalizou com a cabeça e nos aproximamos com cuidado dos dois peludos. O velho estava ofegante e com muitas escoriações, parecia que a famosa regeneração lupina não estava funcionando nele.

    – Ele usou todas as suas energias nesse teatro, era nossa segunda opção caso o Hadrian não quisesse ir pacificamente conosco. – Nos disse Claire, visivelmente abalada e prestes a chorar.

    – “Cof cof cof…” Estão vendo por que “cof”… Hadrian precisa ir conosco…

    Nesse momento Hadrian se aproximou do velho e interrompeu sua tosse ensanguentada com mais um de seus feitiços. Ele pôs a mão direita no peito do velho, murmurou algumas cousas em uma língua desconhecida para mim, depois mordeu um de seus dedos e despejou algumas gotas de seu próprio sangue na boca do moribundo. Este deu mais algumas tossidas, mas aparentava se recuperar mais rapidamente. O mago fez o mesmo com Sebastian e na sequencia veio a mim perguntando se também queria um gole, mas sorrindo recusei a proposta indecorosa.

    Sei que vai parecer estranho para alguns de vocês, mas depois de tudo isso e de quase nos matarmos, finalmente aconteceu uma conversa decente. Onde Hadrian pôde expor suas intenções e manifestar o seu direito de ir e vir como e quando quisesse. Na verdade ele acertou de viajar com os dois para conhecer a tal Labraid Lámh Dhearg e nós voltamos as nossas rotinas,  tendo como sempre mais uma história para vos contar…

  • A magia e os vampiros – pt6

    A magia e os vampiros – pt6

    Todos os vampiros que conheço e sem exceções, temem a famigerada morte final. Alguns por que se imaginam sofrendo a punição de algum Deus, outros por acharem que não há nada depois deste plano e muitos, tal qual eu, pelo aconchegante apego aos familiares, amigos e todas as memórias geradas nesta “vida”. Esse assunto é sempre muito polêmico e nos proporciona diversos pensamentos, ainda mais na situação que havia se formado ao meu redor naquele início de dia.

    Eu não sabia por quanto tempo poderia conter Claire entre minhas costas e a parede, mas certamente foi tempo suficiente para as ações de meus irmãos. Logo a minha frente Sebastian tentou imobilizar o grande Lobisomem com algumas técnicas de jiu-jitsu brasileiro. Seria uma bela briga caso o oponente fosse humano, mas tendo em vista a força do peludo a realidade foi outra. O Wampir foi jogado de um lado para o outro, como uma trouxa de roupas suja, na verdade até conseguiu se esquivar de algumas garradas, mas também levou várias mordidas e terminou jogado num canto, praticamente inconsciente e com o braço esquerdo quebrado.

    Naquela hora tudo começou a passar em câmera lenta aos meus olhos e talvez por isso pude prestar atenção na aura amarelo/avermelhada ao redor de Hadrian. O grande vampiro que até então nos parecia calmo e inofensivo, passou a esbanjar um ar literalmente radiante e imponente. Seus olhos fechados me deram a entender que ele estava concentrando seu poder para algo, e quando menos esperava, um súbito terremoto atingiu com força as estruturas do barraco. Várias cousas caíram das prateleiras e muitas delas em cima de nós. Inclusive algumas telhas foram arremessadas ao chão e abriram espaço para os malditos raios de sol.

    Entenderam por que falei de vida e morte no primeiro parágrafo? Pois era exatamente no que eu comecei a pensar naquele momento e qual seria meu plano de ação antes de virar churrasquinho…

    Mesmo naquela situação, consegui me soltar, porém ocorreu o mesmo com Claire e tanto ela como seu pai partiram de supetão para cima de Hadrian. Fora um momento péssimo e por mais que eu quisesse ajudá-lo, Sebastian era minha prioridade. Tratei então de garantir nossa sobrevivência e em meio a tudo aquilo não me restava outra opção, além da famosa “saída a francesa” e comecei a  pensar em como fugir ou se esconder  pelo menos do maldito sol.

    Outros momentos tensos viriam pela frente, especialmente quando uma parede do lugar foi inteira a baixo. Mais sol, mais tremores e por sorte parte do chão abaixo do piso do barraco ficou exposto, exibindo o que eu chamo de “maravilhosa terra”. Estava ali o meu plano de fuga, mas o que faria com Sebastian, sendo meu poder limitado a mim e no máximo a roupa do corpo, junto de mais alguns pertences pequenos? Porém, esta pergunta ficará sem resposta, haja vista a sequência dos fatos proporcionados por Hadrian.

    O terremoto cessou assim que o velho e sua filha começaram a atacar brutalmente o mago-vampiro. Foram tantos socos, chutes e garradas, que era possível ver o suor voando pelos ares junto de alguns pelos fedidos. Naquele momento Claire também havia se transformado, fato que me fez imaginar um “tudo ou nada”, mas que por sorte também foi deixado de lado devido as circunstâncias.

    Hadrian parecia ter assumido alguma forma astral, não física, mas é difícil explicar o fato de seu corpo ainda estava lá, rígido como a mais dura pedra e recebendo sem pestanejar, todos os golpes deferidos pelos dois brutamontes. Tudo parecia interminável, quando Sebastian saltou do meu lado diretamente para cima do velho peludo. De início uma “trocação” franca de socos, algo sujo e sem técnica, mas que teve efeito ao redefinir o foco dos lobisomens. Sinceramente, não sei como Sebastian conseguiu se recuperar tão rapidamente, mas estava ali minha deixa para também iniciar minha transformação…

    Mordi meus lábios inferiores, cuspi um pouco de sangue nas mãos e esfreguei no rosto. Sei que isso vai parecer nojento, mas faz parte da minha técnica para agilizar o processo. (Onde cada um faz da sua forma e numa noite destas eu prometo explicar o porquê disto. Lembrem-me por favor!) Desta vez a transformação levou menos de um minuto, tempo suficiente para analisar o perímetro e derrubar Claire com uma garrada certeira em seu pescoço.

    Por mais que Sebastian tivesse ressurgido das cinzas e aparentemente recomposto, na verdade ele ainda estava fraco e minha preocupação havia se tornado outra. Como provavelmente ele havia gasto muita energia para se “regenerar”, sua reserva estava quase no fim, momento no qual o demônio fica mais a flor da pele do Wampir. Situação extremamente indesejada por todos nós, no qual agimos no automático, podendo inclusive ferir quem estiver do nosso lado.

    Todavia, Sebastian levou um golpe tão grande que tive a impressão por alguns segundos de ter perdido minha cria… Novamente a trouxa de roupas sujas foi jogada contra uma parede, que se estremeceu e por sorte não tombou. Neste instante éramos três bestas colossais, babando, exalando todo o tipo odores e grunhidos selvagens.

    Um novo terremoto sacudiu tudo.

  • A magia e os vampiros – pt3

    A magia e os vampiros – pt3

    Quando pensei em ir atrás do tal sujeito sinto alguém passando muito rápido por mim, não era nenhum conhecido e naquele momento eu me senti obrigado a deixar de lado os cuidados de sempre. – Foda-se as câmeras, foda-se quem estiver vendo, vou ter de usar tudo aqui – Pensei comigo, mas antes de precisar agir feito um monstro, senti as energias de Sebastian e Hadrian.

    Em poucos segundos eles surgiram e minha intuição mandou entrar no carro o mais rápido que me fosse possível. Na sequência eles entraram também e com algumas manobras rápidas eu deixei o carro pronto para sair, porém mesmo naquela escuridão ví algo pelo retrovisor que me chamou muito a atenção. Primeiro foi o brilho de algo metálico, que ao reparar melhor vinha de uma espada, talvez uma katana. Depois foi o conjunto, algo como um sobretudo escuro e por fim aqueles cabelos loiros longos e cacheados.

    – O que foi Ferdinand, bora bora bora – Confesso que a pressa de Sebastian não me incomodava e somente criei vontade de sair dali quando ví a bela senhorita, acertando em cheio o peito do infeliz, no que provavelmente foi um golpe mortal em seus órgãos internos. Feito isso, eu queria muito ir lá bater um papo com a tal justiceira, mas a merda que os dois haviam feito no hotel era mais importante.

    – Vocês viram aquela garota lá atrás? Ninguém havia visto nada além de um cara caído ao chão, foi a resposta de ambos.  Será que eu estava tendo alguma nova visão? – Pensei comigo. Enfim, o que rolou lá em cima senhores? – Chegamos em meu quarto e encontramos aporta entreaberta, havia um sujeitinho fuçando minhas coisas e Sebastian agiu rápido segurando-o. Todavia, ele se esquivou conseguiu ir para a janela. Sebastian tentou atirar nele, mas os tiros foram em vão e ele escapou aparentemente voando. Depois disso eu consegui juntar meus itens importantes nessa mochila e voltamos para cá.

    Contei a eles o que havia ocorrido comigo e todos ficaram sem saber o que havia acontecido. Será que estavam seguindo Hadrian, será que o cara do hotel tinha alguma ligação com o mendigo e tal loira que prendeu minha atenção? Noite a dentro Hadrian nos contou de seus passos até nos encontrar e tudo levava a crer que ele realmente havia sido perseguido por alguém, mas quem?

    Nesse momento ficará perceptível para vocês o fato de que é extremamente complicado manter alguma espécie de lar… Tratei de arrumar tudo o que pude no lugar em que estávamos e fomos passar o dia no “comércio” de um(a) conhecido(a).  Nessas emergências a rede de contatos vampiresca sempre se faz muito importante. Ainda mais que estava para amanhecer em poucas horas e havia alguém atrás de nós. Mesmo conhecendo há tanto tempo aquela cidade e a praticamente todos os sobrenaturais que viviam nela, senti-me um pouco preocupado.

    Hadrian havia trousse consigo algo realmente novo para todos e infelizmente o preço deste “novo” foi um pouco caro no início. Ferdinand, vocês investigaram direito tudo e já colocas a culpa no recém-chegado? Calma mancebo, a história é mais longa do que imaginas…

    Enquanto descansávamos durante o dia, Hadrian revisou seus pertences e junto de alguns documentos numa das malas, encontrou uma espécie de selo, desenhado a mão com um pincel de cerdas finas, sobre um pedaço aparentemente de couro bovino. Disse ele, que aquele selo era uma espécie de localizador, então até que ele desfizesse a magia, era bem provável que ainda estivéssemos sendo seguidos.

    Dito e feito, pouco depois de escurecer recebemos um aviso vindo da superfície: Preparem-se estamos sendo invadidos!

  • A magia e os vampiros – pt1

    A magia e os vampiros – pt1

    Quase sempre eu escrevo por aqui para confidenciar meus pensamentos e angustias, relacionados ao fato de eu ser um vampiro. Para alguns, isso não é um fato aceitável e exige muito mais do que conhecimentos ou crenças, pois vai além do que lhes é ensinado em escolas ou por suas famílias tradicionais. A cultura de muitos lugares, principalmente no Brasil da atualidade, salvo alguns lugares específico, é favorável a uma educação mais lógica, desprendida de mitos, lendas e histórias.

    Sinceramente quando entrei nesse mundo on-line em meados de 2006, eu vislumbrei muitas cousas, principalmente o fato de que a internet permitiria o aumento do conhecimento geral das pessoas e uma possível aceitação do que nós somos. Todavia, o que eu vejo por ai nesses 7 anos de acessos é que houve sim o aumento do conhecimento geral, mas a questão lendas está cada vez mais apagada.

    Que papo de sociólogo é esse Ferdinand? Calma mancebo, essa introdução é para contextualizar minha última aventura junto de Hadrian e Sebastian em meio aos seres tidos como “despertos”.  “Despertos”, aliás, é um termo novo aqui no site, muito utilizado por Hadrian e de significado simples. Abrange todos nós que conhecemos a verdade por trás da penumbra da sociedade humana: Vampiros, bruxas, metamorfos …

    Enfim, essa história teve início meses atrás e logo que voltamos do enterro de meu estimado Kieram.  Lembram-se da caixa de Suellen? Pois então, cerca de duas noites depois eu recebi um telefonema de um cara até então desconhecido e que se dizia discípulo do falecido mago. No telefonema ele foi breve e disse apenas que gostaria de marcar um encontro para nos conhecermos.

    Naquela mesma noite liguei para meu pupilo (Sebastian) e ele tomou a liberdade de resolver tudo, definindo inclusive um local público e seguro. Tendo em vista, o fato de que não é sempre que nos contatam em números exclusivos aos membros do clã, tal preocupação se fez importantíssima. Naquele mesma noite ele foi ao meu encontro e combinamos algumas ações e reações para evitar imprevistos.

    22:10 estávamos no local marcado e fazia 10 minutos que o cidadão estava atrasado. Como não sou muito paciente com horários eu resolvi ir para o terraço e praticar aquela famosa “esticadinha nas pernas”. No meio das escadas eu esbarrei num sujeito  com quase meu tamanho, um pouco mais forte, feições europeias e que descia correndo. Apesar dele não emitir qualquer tipo de energia sobrenatural, os seus grandes olhos verdes e olhar penetrante me chamaram a atenção, a ponto de não reparar em sua voz grave e no rápido pedido de desculpas.

    Eu mal havia posto os pés no terraço e estava a ponto de queimar um pouco de essência de menta em meu cigarro eletrônico, quando sinto o smartphone vibrando no bolso. – Herr, nosso convidado chegou – Disse-me o afoito Sebastian. No mesmo instante voltei para o salão e lá estava o sujeito da escada…

    Durante alguns minutos ele confirmou sua ligação com Kieran, revelou momentos e situações muito íntimas do velho mago e aquilo me pareceu suficiente para que nos retirássemos para um lugar sem eventuais “ouvidos nas paredes”. Chamei Sebastian para um canto e ele também compartilhou de minha opinião, confesso que inicialmente o sentimento que vinha a minha mente era de que tínhamos diante de nós uma espécie de órfão. Alguém, que independente dos poderes, estava precisando mesmo de um ombro amigo.

    Instantes depois a conversa foi retomada num dos meus refúgios e lá veio a revelação: Estávamos diante um trunfo de Gaia, alguém que havia fugido a todas as regras e se revelou como sendo um “mago-vampiro”.

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Muitos dos mistérios, lendas e até mesmo profanações das civilizações antigas se baseavam na observação do céu e de seus astros e estrelas. Imaginem por exemplo o medo de alguém que vivia há 10000 anos quando ocorria um simples eclipse. Apesar disso, nem sempre esse tipo de situação foi temerosa e por vezes deve ter sido também um grande passatempo para muitos, afinal de contas, não havia celular, tv ou ainda menos a internet das noites atuais.

    Pensando nisso, eu sai do conforto de casa, transformei-me em lobo e fui para o mata próxima da fazenda. Onde durante uma longa corrida, pausada algumas vezes para descansar, cheguei ao alto de um dos montes. Lá de cima e novamente na forma humana e nu, pois eu queria estar mais próximo da terra, eu me deitei sobre uma grande pedra e fiquei por algumas horas apenas meditando.

    O processo de meditação foi incorporado as minhas rotinas de entendimento do mundo, nas idas e vindas pela casa de Kieran em meados de 1900. É poça em que a frase que ele mais dizia era: – Toda prática precisa de concentração, disciplina e esquecimento, tal qual a respiração, lembras?

    Inicialmente a meditação foi fácil, concentrei os pensamentos, deixei o corpo em estado de tranquilidade e imóvel. Porém, toda vez em que eu ia mais fundo nos pensamentos a imagem daquela garota loira, de capuz e sem face vinha aos pensamentos. Por que diabos isso? Seria ela a autora de tal obra nefasta? Seria algum aviso, seria Suellen querendo me chamando de alguma forma?

    Voltei para casa depois de mais alguns minutos em meio aquela confusão mental. – Por que eu tenho de ser assim teimoso, no sentido de por algo na cabeça e tentar resolver? – Era o meu pensamento constante em todo o trajeto de volta.

    Já em casa liguei para Joseph e quando ele retornou de sua “alimentação”, batemos mais um papo sobre os ocorridos. Ser assombrado, ou ter visões não é algo incomum para um Wampir, porém as que estavam ocorrendo comigo já haviam passado dos limites. Fato que nos fez ir atrás de mais pitas sobre o autor e as tais Stregas italianas.

    Sendo a fazenda um local tão isolado eu fiz as malas, juntei as cousas mais importantes e chamei Joseph para umas voltas por São Paulo e Rio de Janeiro. Reservei hoteis e na noite seguinte depois de avisar a todos, partimos em busca de mais informações. Obviamente a internet e até mesmo a deep web já haviam sido consultadas, bem como nossos informantes…

    Tendo como principal informação alguns entusiastas e estudiosos a respeito das bruxas, nós descobrimos facilmente um coven e onde seria sua próxima reunião. Duas noites se passaram desde que chegamos a São Paulo e com um carro alugado fomos ao tal pub na zona sul da cidade.

    Lugar bonito, escuro como todo pub e lá estavam mais ou menos 10 pessoas em uma mesa. Todos de preto, pentagramas no pescoço e alguns de moletom com capuz. Logo de inicio “apenas crianças brincando de bruxa”, foi o que me cochichou Joseph.

    Mesmo assim nos apresentamos: “Oi nos falamos pela internet…bla bla bla” E depois de alguns minutos eles realmente eram apenas crianças brincando de magia. Apesar de um deles ter potencial para bruxaria, inventamos uma desculpa qualquer e saímos à francesa. Ainda nesta noite aproveitamos para dar uma passada num dos negócios do Franz, uma casa de stripers, afinal nem tudo são negócios…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 2

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 2

    Não sei se foi algum feitiço ou talvez por causa do cansaço, mas tão logo eu comecei a ler o tal livro eu simplesmente dormi. Foi um sono bom, daqueles extremamente revigorantes e tudo seria perfeito se não fosse o sonho exótico com a tal garota loira.

    O cenário era algo legitimamente de sonho, um clima Noir à meia luz, o tempo passando em câmera lenta e um lugar fechado que se assemelhava muito com uma balada mais dark. Algumas pessoas andando por todos os lados e a minha frente aquela garota de manto preto, que deixava amostra apenas os seus cabelos quimicamente loiros, mas que mesmo assim lembrou-me nitidamente de Suellen.

    – Fê, Fê… Ferdinand………………..

    Eu devo ter ouvido todos os meus nomes ou apelidos antes de sentir o balanço delicadamente grosso de Franz. Diz ele que ficou por quase dez minutos tentando me acordar, até que se estressou e resolveu me dar um chacoalhões. Afinal, eu havia dormido o dia inteiro sem sequer mudar de posição no sofá.

    – Nos chegamos daquela festinha vimos que tu estavas dormindo e nem quisemos acordar, porém como ainda estavas no mesmo lugar o dia inteiro, achamos que tinha algo errado. – Confessou-me Eleonor.

    O que diabos tinha acontecido ninguém soube me explicar, muito menos sobre o livro, no qual nenhum deles tinha conhecimento. Porém quando o papo foi dar sermão, todos encheram meu saco por eu ter mexido em algo do Barão e ainda mais por que estava lacrado e selado. Mas afinal de contas, como eu iria saber que não era para mexer? –Pensei comigo. Se fosse algo tão importante não estaria em uma simples caixa e junto de outros livros desinteressantes…

    Reclamações a parte, lavei o rosto para tirar a cara de sono, troquei de roupas e resolvi dar uma corrida pela fazenda. Contudo, o livro e as histórias tão bem ilustradas não saiam da minha cabeça e cousa de 20 minutos mais tarde voltei para casa. Tomei um banho quente e longo, vesti algo confortável e fui para o meu quarto. Tratei de me concentrar na leitura e cuidadosamente eu li cada página, fazendo sempre que necessário anotações ou esquemas ilustrados em meu bloco de notas.

    Leitura boa, rica em detalhes, mas novamente adormeci em meio à leitura. Algum tempo depois eu acordo e ao olhar no relógio já eram 15:25. Olhei para o livro que ainda estava em minhas mãos e para minha surpresa eu só havia lido 7 páginas… Naquele instante eu me preocupei, afinal leio pelo menos umas 100 ou 150 por noite quando estou empolgado.

    Como ainda era dia eu sai com cuidado do quarto e tentando não fazer barulho, afinal casas de madeira são extremamente barulhentas e Eleonor tem o sono leve. Não queira ouvi-la saindo de seu quarto enfezada por ter sido acordada! Contudo, sabe quando você se vira e como num reflexo vê algo estranho, tipo uma presença? Pois então, lá estava a garota de manto preto em um dos cantos da sala e estacionada como se fosse uma assombração.

    Levantei a cabeça, liguei a luz e em seguida olhei em volta, mas não havia ninguém… Diabos, devo estar doido. – Pensei comigo e não, isso não tem nada a ver com o filme “O chamado” de 2002.

    Assim que liguei a luz e depois da aparição eu vi alguns barulhos na cozinha e fui para lá pois alguma das empregadas podia estar limpando ou fazendo algo. Dito e feito, naquele dia uma das empregadas faziam um lanche. Quando me viu ela ficou envergonhada, engoliu rapidamente o pedaço de sanduíche que mastigava e me disse:

    – Boa tarde… O senhor precisa de algo?

    – Por favor minha querida, que dia é hoje?

    – Acho que é 16, segunda senhor…

    Agradeci, deixei-a curiosa sobre o que eu queria e voltei para o quarto. “Merda, tem algum feitiço nesse livro, dormi por quase dois dias e estou vendo cousas…”

  • O totem desaparecido – Parte 4

    O totem desaparecido – Parte 4

    – Ao menos podias ter me avisado que iríamos começar assim, matando nossa primeira fonte de informação! – Foi o meu primeiro comentário diante a atrocidade cometida por Carlos, ao mesmo tempo em que eu cutucava aquele resto humano com o pé direito.

    Diante tais palavras, o velho Wairwulf desfez sua transformação e suas feições até então animalescas, deram lugar a um olhar fixo e combinado com um debochado sorriso cínico. Segundos depois ele começava seu discurso (no qual traduzirei para o português). – Fica tranquilo jovem Wampir, antes de liberar a fúria de meus antepassados sobre sua carne podre, eu obviamente absorvi tudo o que era possível desta cadela. E fique de olhos bem abertos há mais deles próximos daqui, esta reserva é uma espécie de oásis, cuja fonte de energia é o totem desaparecido.

    Naquele momento eu confesso que me senti um completo inútil. Meu amigo em poucos minutos havia matado alguém, que escapara facilmente de minhas mãos e descoberto a utilidade de tal item roubado. – Maldita leitura da mente, no qual nunca consegui dominar… – Pensei comigo.

    Então depois de jogar os restos da “cadela” no porta-malas do carro e fornecer algo para cobrir as partes íntimas de Carlos, adentramos na mansão. – Belo ritual de proteção este que tu fez aqui, porém de nada adiantaria se algum deles resolvesse entrar. – Ok, duas vezes inútil, pensei comigo, mas sem reclamar entramos na casa e o sábio peludo fez os procedimentos necessários.

    Entre ervas, pedras e rabiscos no chão, diz ele ter selado o local. Sendo eu apenas um aprendiz de tais prática, confesso que esperava ver alguma entidade, espírito ou pelo menos algumas “coisinhas piscando”. – Tudo bem, devo estar vendo filmes demais. – Pensei comigo…

    Depois de tudo limpo, voltamos ao carro onde Carlos comentou: – Que tal sairmos os dois mata a dentro como lupus? Eu realmente gostaria de descobrir mais alguns detalhes desta tribo e essa sua ligação com tais seres profanos. – Naquele instante eu sentia que podia ser útil novamente e não pensei duas vezes quando aceitei seu convite.

    Minutos depois estávamos ambos na forma de lupus caninus em meio àquela mata úmida e completamente escura aos olhos humanos. Nós no entanto, víamos muito bem a ponto de desviar sorrateiramente de mais dois “vigias”. Nesta forma há uma maior agilidade com relação a movimentação e o faro (olfato) nos permite sentir cousas a muitos metros de distância. Tanto que foi fácil achar a porta de entrada para o oásis.

    Quando o assunto envolve Wairwulfs, há muita magia e principalmente misticismo envolvidos. Um oásis, por exemplo, é uma espécie de refúgio oculto aos olhos mundanos e somente alguém com a devida chave, habilidade ou mapas para localizar suas entradas. É nesse local que a maioria das tribos ou clãs se encontra para suas reuniões, pois dentre outros detalhes a utilização de quaisquer poderes é permitida e oculta aos olhos dos humanos.

    Deixando o papo cultural de lado vamos a ação… Carlos é um exímio rastreador e guerreiro, porém suas habilidades abrangem muito mais que isso. Ele não foi escolhido o Xamã de sua tribo a toa e adentrar universos paralelos é sua grande especialidade. Cabe aqui uma breve explicação, somente a alma do indivíduo adentra em um oásis, então antes de iniciar quaisquer procedimentos, tivemos de ocultar nossos corpos. Tendo em vista, meus recentes aprimoramentos na arte de ocultação na terra, essa foi a opção escolhida.

    De volta a forma primordial, nos concentramos e Carlos deu o início ao procedimento. Com uma faca ele derramou um pouco de sangue e tive de me concentrar novamente, pois o sangue Wairwulf é um dos mais apetitosos. Algumas palavras ao vento e ele me deu o sinal… Era minha vez de parecer útil e sem pestanejar iniciei o ritual. Pedi para Carlos segurar minha mão, concentrei-me, mordi um pouco os lábios como quem faz força e em instantes começamos a sentir as folhas, depois a terra e por fim era como se afundássemos… – Finalmente, fiz algo que presta – Pensei comigo e ao mesmo tempo em que a escuridão total nos envolveu.

    É difícil explicar a sensação, mas a escuridão foi dando lugar a uma espécie de conforto quente e maternal, onde alguns poucos barulhos se tornaram aos poucos estalos longos, que ecoavam infinitamente em todo o ambiente. Na sequência, como num piscar de olhos o lugar começou a esfriar e se iluminar novamente. De início vi meu corpo, depois entendi que os estalos vinham de alguns pingos de chuva que caiam sobre meu rosto. Então, percebi que eu utiliza uma roupa antiga e estava sobre o que parecia ser uma rua calçada de pedras lisas, que de imediato me lembrou uma Londres antiga e perdida no espaço/tempo.

    Como nem tudo são flores e em meio a minha “viagem” sinto algo puxando meu braço esquerdo. Era Carlos, que também trajava uma roupa de época, parecia um pouco nervoso e dizia algo que não pude entender de início…

  • Hadrian Shaw, o mago vampiro

    Hadrian Shaw, o mago vampiro

    Kieran me disse que eu deveria ter um diário, e nele relatar todas as minhas experiências. Disse que eu estava predestinado a mudar tudo, só não sabia se isso seria bom ou ruim… Bem, já aprendi que não ouvir seus conselhos, pode trazer consequências terríveis, vou tentar me lembrar de tudo que já vivi!

    Meu nome é Hadrian Shaw, ou pelo menos até aquele dia este foi meu nome… Nasci no ano de 1713, na pequena cidade de Luton. Passei grande parte da infância atolado nos mais variados livros… Meu pai sempre dizia que o estudo rígido, era importante, por mais estranho que fosse o tema. Os anos foram passando e tudo continuava inalterado, nossa casa vivia sempre cheia de visitas, meus pais gostavam muito de fazer jantares para receber alguns amigos. Alguns eram intrigantes, outros muito atenciosos, lembro-me bem de Kieran, em todas as visitas ele fazia questão de conversar comigo por algum tempo, interessado em meus estudos sempre me contava historias de bruxas, monstros e outras fantasias… Hoje eu sei que ele estava me testando e me preparando para o que estava por vir!

    Quando completei meu décimo aniversario alguns fenômenos estranhos passaram a ocorrer. No início eram raros, e eu cheguei a pensar ser fruto da minha imaginação, mas a frequência começou a aumentar e os outros perceberam. Lembro como se fosse ontem quando meu pai me abraçou, e com lagrimas nos olhos disse que havia chego o dia, e que eu não deveria temer nada, que logo Kieran estaria chegando e que tudo ficaria bem. A chegada de Kieran era esperada, e para minha surpresa minhas coisas estavam prontas para a viagem, cheguei a me sentir rejeitado, pois pareciam estar se livrando de um peso… Mas com o passar do tempo, e os ensinamentos de Kieran eu pude entender tudo, pude ver o que causava medo em meus pais, e tive a chance de voltar até minha família, me desculpar por meus pensamentos, e agradecer por terem me colocado no caminho.

    O treinamento…

    Eu me esforcei nos ensinamentos de Kieran, em pouco tempo me tornei seu discípulo mais brilhante, minhas habilidades e poder cresciam a cada dia. Quando cheguei aos 18 anos Kieran disse que havia chego a hora, a hora em que eu deveria escolher meu caminho… Explicou, que os maiores Magistas precisavam escolher tornar-se mestres ou viver a sombra de seus mentores, e que eu não poderia fazer esta escolha, pois ele não permitiria que seu pupilo apagasse a própria luz. E dei inicio a minha jornada pelo mundo, em busca de conhecimentos e experiências que não encontraria em Londres. Em minhas andanças deparei-me com os mais variados tipos de despertos, Wairwulf, Wampir outros Magistas e algumas outras criaturas que nem estavam nos livros… Mas foi em Berlin que encontrei algo de extremo valor, seu nome era Dana!

    Dana era uma joia rara, capaz de tirar qualquer um de seu caminho… Longos cabelos da cor do sol, olhos tão verdes que deixariam até mesmo as safiras com inveja. Porém eu não fui o único a deixar meu caminho! Sem que Dana ou mesmo eu percebêssemos, olhos famintos a observavam. Aproximei-me de Dana, e logo que nossos olhares se cruzaram ficamos congelados por segundos, que pareceram ser minutos, horas, décadas… Tentei falar algo, mas pela primeira vez em minha vida minha língua afiada me traíra, sem conseguir falar peguei em sua mão e pude notar um lindo sorriso se formando em seu rosto, e ali teve inicio uma nova fase de minha história. Porem nosso observador também tinha planos que iriam causar muito sofrimento a todos, mas por hora ele não se mostrou, devia ter notado o que eu era e decidiu agir com cuidado.

    Não demorou muito para que nos envolvêssemos, Dana e eu, ela decidiu largar tudo e me acompanhar em minhas viagens e eu expliquei a ela que tudo que ela conhecia iria mudar, e aceitou sem pensar. Estava tudo tão maravilhoso que eu com minha juventude e inexperiência não percebi que um Wampir estava nos seguindo, e esperando o melhor momento para atacar.

    O inicio da agonia…

    Falei a Dana que eu precisava sair da cidade para praticar um pouco, e que não era seguro ela me acompanhar, a deixei em uma estalagem a qual estávamos hospedados e me dirigi à floresta, em minhas praticas acabei perdendo a hora e a noite caiu. Já haviam passado das 22h quando voltei à realidade, brincar com o tempo pode ser uma pratica muito arriscada… Recolhi as minhas coisas, e apressei o passo para encontrar Dana, mas tudo que encontrei em nosso quarto foram roupas rasgadas, um pouco de sangue e a janela aberta. Minha respiração ficou acelerada, minha mente entrou no caos, pela primeira vez em muito tempo eu não sabia o que fazer. Com os olhos cheios de lagrimas clamei pelo nome de Kieran, e ele pode me ouvir… O vento soprou em meu ouvido “Wampir”, e uma segunda lufada de vento “procure o sangue no vento”. Concentrei-me por instantes, colocando a mente em ordem e pensando na mensagem enviada, e finalmente entendi, invoquei o vento e o fiz me guiar ao cheiro de sangue estranho que exala dos Wampir. O vento me guiou ao cheiro, mas chegando lá encontrei apenas Dana inconsciente, o maldito a havia transformado e fugido, até os dias de hoje não consegui descobrir a identidade do maldito Wampir.

    Estava claro que eu precisava de ajuda, eu precisava de respostas e não podia deixar Dana neste estado, juntamos nossas coisas e fomos para Londres sempre viajando a noite e eu tratava de esconder Dana durante o dia para protegê-la do sol. O pior foi a fome, ela precisava de sangue e não aceitava o fato de beber de humanos… Fomos o mais rápido possível atrás de Kieran, pois se houvesse alguma forma de reverter isso, ele seria a única pessoa que poderia me responder. Seus estudos do sangue nunca foram segredo para mim, mas confesso que nunca prenderam minha atenção. Então, depois de uma longa jornada enfim chegamos a Londres e fomos de encontro a Kieran.

    O erro…

    Contamos toda a história a Kieran, e após ouvir tudo atentamente em silencio, ele nos disse que não havia meios de reverter o que estava feito. Dana caiu em pranto e ao ver sua reação não pude aceitar as palavras de Kieran, questionei sobre sua pesquisa do sangue, que devia haver alguma forma de arrancarmos a maldição dos Wampir de Dana. Sua resposta foi fria e clara “A existência dos Wampir, assim como a nossa é obra dos deuses… E ninguém pode desfazer o toque de um deus, nem Wampir, Wairwulf, ou Magista”. Não aceitei esta resposta, e ouvi as seguintes palavras “Já fiz uma escolha por você minha criança, não posso escolher novamente. Se quer usar minhas pesquisas, vá em frente, mas se tentar desfazer a criação de um deus vai acabar morrendo”.

    Passei dias estudando a pesquisa de Kieran sobre o sangue dos despertos, e cheguei a conclusão de que poderia curar Dana modificando um ritual de purificação de água com algumas alterações para fazer isso em sangue, nossa primeira tentativa foi um fracasso… Parecia que realmente Kieran estava certo, eu não tinha poder para desfazer o que um deus fez. Foi então que tive a ideia mais idiota de todas… “Eu não precisava purificar o sangue, bastava eu tirar todo o sangue de Wampir e colocar nela sangue humano limpo”. Estava tudo certo, o ritual que iria tirar o sangue e colocar o sangue novo estava preparado, demos inicio ao processo… Estava tudo funcionando, o sangue novo estava entrando no corpo de Dana enquanto o sangue Wampir começava a sair, porém ao invés de sair do corpo dela e escoar pelo chão, algo deu errado. Ele começou a vir em minha direção e sem que eu tivesse tempo de fazer algo, aquilo começou a entrar em mimatravés de meus poros. Uma dor terrível se espalhou por todo o meu corpo era como se eu estivesse morrendo por dentro, a dor foi tanta que não pude conter um grito, e após o grito chamas brotaram de todas às partes do salão consumindo tudo inclusive o corpo de Dana, um pouco antes de restar apenas cinzas de seu corpo houve uma explosão e perdi minha consciência.

    O segundo despertar…

    Quando recobrei a consciência a primeira coisa que fiz foi percorrer a sala em busca de Dana, mas nem sinal de seu corpo… Passei a olhar a minha volta e não havia nada queimado, estava escuro, mas estranhamente eu conseguia ver perfeitamente… Minha mente encheu-se de perguntas “Onde eu estou? Que fome é essa que estou sentindo?” Caminhei até a porta e ao abri-la deparei-me com um grande salão, um lugar bem conhecido, estava no local de treinamentos de Kieran… Passei a chama-lo incessantemente, precisava de respostas, no entanto ele não apareceu. Depois de um tempo uma porta se abriu e pude ver um rosto familiar, era Kaleb um dos pupilos de Kieran eu sabia quem era ele mas algo estava errado, a ultima vez que nos encontramos ele tinha apenas 15 anos agora era um homem adulto que já ostentava seus primeiros fios de cabelos brancos. Kaleb, o que esta acontecendo? Onde esta Kieran? Ele se aproximou de mim e abriu os braços oferecendo um abraço, aguardamos por muito tempo seu despertar Hadrian, finalmente a tarefa de zelar por seu sono teve um fim, e foi uma longa tarefa de 50 anos. Fiquei horrorizado com a revelação olhei para minhas mãos e então entendi tudo, eu fora punido pelos deuses com aquilo que tentei desfazer… Kaleb, e D… e pude ver seu semblante pesaroso apenas fazendo não com a cabeça. Me leve até Kieran…

    O reencontro com Kieran foi devastador, seu olhar de tristeza mostrava o quanto ele desaprovara minhas ações, porem acabei descobrindo que também havia culpa naquele olhar. Naquele mesmo dia soube o que havia me tornado algo que até aquele momento nunca havia existido, ou era desconhecido para ele… Segundo as explicações eu continuava sendo um Magista, mas agora era também um Wampir, o estranho é que eu não conseguia mais manifestar meus poderes, e Kieran me explicou que isso ocorria pois eu precisaria aprender a controlar a minha nova essência e isso seria trabalhoso, pois até mesmo ele desconhecia como… Os anos foram se passando 1, 5, 10, 20 anos e a maioria das tentativas eram falhas, o Maximo que eu conseguia manifestar deixaria um recém desperto envergonhado, varias e varias vezes pensei em desistir e aceitar que era um Wampir e nada mais, porem Kieran nunca me permitiu isso! As coisas só começaram a finalmente mudar no ano de 1841, quando Kieran retornou de uma viagem e disse ter encontrado respostas que ajudariam a entender a controlar meus poderes. Levei mais 20 anos praticando com Kieran para finalmente conseguir dominar por completo os poderes Magistas somados ao Wampir.

    A promessa…

    Quando finalmente meu treinamento estava completo, Kieran veio até mim com um ar de preocupação. “Meu garoto, com o passar dos dias pude perceber o quão terrível pode ser a mistura dos poderes que você acidentalmente fez, estavas tão compenetrado em aprender a controlar, que nem percebeu que superou meus poderes a mais de 3 anos. Acredito que isso pode ser recriado, e por isso você precisa prometer que nunca vai revelar a ninguém isso. Se algum dia alguém descobrir você precisa fazer com que esqueça, ou deixa a existência.” Um dia o que você fez vai mudar tudo, apenas não sei ainda se para melhor ou pior. Até lá continue estudando o sangue para entender com exatidão o que ocorreu. Andei pelo mundo por mais 40 anos no ano 1900 já havia encontrado as respostas a todas as minhas perguntas… Descobri onde falhei, e descobri que Wampir, Magista ou Wairwulf não é uma doença que possa ser curada. É uma condição que pode ser no máximo controlada. Porém da mesma forma que ocorreu comigo, é possível brincar de deus e misturar as linhagens, mas os riscos são grandes. Até hoje sei da existência de um clã Wampir amigos de Kieran que conseguiram misturar a linhagem com Wairwulf, mas nunca alguém que tenha misturado às três.

    Tempo de descanso…

    Retornei a Londres e fui ao templo de Kieran, contei a ele minhas descobertas e minhas suspeitas, compartilhamos nossos estudos e então revelei a ele meu desejo… “Meu mentor e amigo, hoje entendo meus erros e meus pecados. Porem já estou vagando há muito tempo e decidi dormir para esperar um outro tempo, em que eu não seja uma ameaça tão grande para a ordem natural das coisas. Em suas mão deixo minhas descobertas, e meus sonhos. Porém darei lhe um fardo também… Farei um ritual que vai ligar nossas essências, meu despertar só será possível com a sua vontade, ou se algo lhe acontecer.” Me despedi de muitos amigos que viviam entre aquelas paredes e me entreguei ao torpor no ano de 1901.

    Sono interrompido!

    Pouco a pouco começo a recobrar a consciência… O que esta acontecendo, Kieran não clamou por meu despertar, mas sua energia está tão fraca, o que esta acontecendo? Já recobrei a consciência, mas ainda não consigo controlar meu corpo, espere velho amigo, você nunca me deixou desistir e fará isso agora?

    Só consegui recobrar o controle de meu corpo fraco desprovido de sangue depois de alguns dias da energia de Kieran já ter se dissipado por completo, tenho que descobrir que mal levou sua vida!

  • Caso policial: Sacrifícios diabólicos

    Caso policial: Sacrifícios diabólicos

    Na semana passada meu ex-cunhado, o delegado e irmão de Beth, me ligou contando sobre um novo caso. Sempre que vejo seu nome na tela do meu smartphone, meu lado investigativo se expande e inevitavelmente eu abro um “sorrisão”. Então de imediato atendi e deixei que ele falasse, pois nossa última ação juntos não havia sido muito boa.

    – Ferdinand, preciso da sua ajuda em um caso extra oficial… Tais aqui perto? Acho melhor falar contigo pessoalmente…

    O papo foi rápido, ele não tocou em assuntos passados, mas assim que me resumiu parte da ação, eu larguei tudo o que fazia e fui ao seu encontro. 20 minutos depois e lá estava eu encontrando o delgado no pub. Cumprimentamos-nos, fizemos aquela troca de palavras básicas: “Oi, como está, quanto tempo, tudo bem…” e depois de alguns minutos ele me apresentou uma pasta com fotos. Uma simples ação que bastou para que meu demônio começasse a dar o ar da graça. Nas imagens várias meninas mortas com idade aproximada de uns 5 anos e com indício de tortura. O pior é que não eram torturaras daquelas normais, mas sim algo que certamente envolvia o mundo sobrenatural.

    – Muitas delas foram marcadas com ferro quente e o que nossa inteligência descobriu é que estas marcações seguem uma continuidade. São na verdade letras gregas, que inclusive nos fizeram chegar à palavra “Typhon”, que significa algo como “A personificação de satanás”.

    Somente por ouvir tal nome meu corpo se estremeceu. Ainda mais depois de tudo o que houve com Eleonor e aqueles malditos seguidores das trevas. Dizem que atraímos certas coisas somente por pensar e lá estava eu, novamente envolto em mistérios relacionados a um bando de babacas, que curtem falsos ídolos diabólicos.

    Resumindo, eu peguei o máximo de informações que ele possuía e chamei Julie. A curiosa morena, não hesitou e depois de algumas horas apareceu num dos meus apartamentos. Trocamos aquelas deliciosas caricias e já perto do amanhecer lhe apresentei o caso das meninas torturadas.

    Ela ficou chocada com as fotos e ao ouvir o nome “Typhon”, também sentiu seu corpo se estremecer. Esta palavra, aliás, é muito abrangente e digamos que o corpo dela se arrepiou por inteiro em meus lençóis ceda… Então, depois das primeiras avaliações Julie ligou o notebook e fez alguns contatos e pesquisas, chegando inclusive há alguns suspeitos. Estes, aliás, próximos daqueles que o delegado havia me passado.

    Perto do meio dia decidimos descansar um pouco e na noite seguinte fizemos as primeiras buscas. Fomos de carro, pois não sabíamos o que iríamos encontrar e com um veículo blindado, afinal com segurança não se brinca. Dirigi por mais ou menos uma hora até uma cidade do interior e para nossa sorte, não havia nenhuma alma viva circulando por aquelas ruas geladas. Julie era minha navegadora e se deparar com uma rua ela me disse para ir mais devagar. Perguntei o que era e ela me disse que havia sentido alguma presença.

    Depois de ouvir sua descrição eu parei o carro próximo a um terreno baldio e lhe perguntei se dava para sentir de onde vinham tais sensações. Foi quando ela fechou os olhos por um instante e depois os reabriu, apontando de imediato para uma casinha modesta de dois pavimentos ao nosso lado. Por mais que nesses momentos meu demônio sempre me sugira entrar quebrando tudo, eu preferi abrir um pouco o vidro do carro para em forma de névoa.

    Esta forma de névoa em que eu me transformo é invisível aos olhos humanos e o máximo que um filho de adão pode sentir, é uma brisa um pouco mais quente, caso eu passe por perto de seus corpos. Geralmente é o meu melhor disfarce, salvo às vezes em que não estou lidando com algum sobrenatural, que possivelmente poderia me sentir ou ver…

    Adentrei a casa pela janela do banheiro e entre uma fresta ou outra eu chegue até um dos quartos. Um adolescente dormia e aparentemente não apresentava nenhum perigo. Sai então em busca de mais indivíduos e achei outro quarto onde estava uma menina naquela faixa dos 5 anos e que também não me transmitiu nada de estranho.

    Só me restava o que seria o quarto dos pais e lá fui eu, porém para minha surpresa me deparei com uma espécie de barreira mágica, que impediu minha entrada. Obviamente aquilo me deixou curioso, mas me contive e sai novamente da casa para tentar a janela. Para meu azar o tempo estava fechando, alguns raios insistiam em fazer muito barulho e ventos fortes começaram a dificultar minha locomoção. Mesmo assim usei toda minha força e consegui me aproximar da janela, fiquei por ali tentando achar alguma brecha entre as cortinas, quando levo um susto.

    Um homem com 40 anos aparentes e uma longa barba castanha escura abriu a janela. Ficou por alguns instantes olhando ao redor, como se estivesse procurando algo (eu) e na sequencia fechou tudo. Sua feição denotava preocupação ou raiva e de alguma forma sua imagem ficou gravada em minha memória.

    Tratei então de voltar rapidamente para o carro e lá estava Julie tremendo. Ela estava quente, algo praticamente impossível de ser ver num vampiro e depois de me ver novamente na forma humanoide, me falou para sairmos o mais rápido possível daquele lugar. Não hesitei e à medida que íamos nos afastando do lugar, Julie aparentava ficar melhor. Ela não soube dizer o que estava acontecendo, mas era claro que havia sido enfeitiçada por alguma magia de proteção.

    De volta ao meu apartamento mandei uma mensagem para o delegado, que me respondeu dizendo que iria mandar uma viatura vigiar o lugar. Em função de minha transformação e do ataque sofrido por Julie resolvemos descansar. Lembro que durante aquele dia eu não tive um sono muito agradável e inclusive fui acordado por uma ligação. Era novamente o irmão da Beth, que queria me informar mais uma morte… A menina que eu havia visto na casa durante a madrugada…

    Continua!

  • Demônios e um sequestro – 3 de 3

    Demônios e um sequestro – 3 de 3

    Depois de ser “liberada da possessão” a camareira precisou receber os cuidados dos poderes mentais de Franz, que na sequencia saiu junto de H2 para fazer alguns preparativos para nossa busca. Fiquei com Julie no quarto, na expectativa de que ela acordasse de seu transe e me fornecesse mais dicas sobre o que poderíamos fazer.

    Não tardou e cerca de uns 20 min mais tarde ela reabria seus lindos olhos e antes que eu lhe dissesse qualquer cousa ela me fala: “Detesto estes momentos, ficar desacordada e sem o controle da situação, não faz meu tipo…” Certamente aquelas palavras lembraram-me de muitos momentos íntimos que tivemos, e para minha sorte ou não, ela aproveitou a situação e me puxou pelo colarinho da camisa. Na sequência me tascou um beijo daqueles que só uma possuída pelas artes das trevas se atreve a dar.

    Os “amassos” duraram mais alguns instantes, até que infelizmente reassumi o controle sobre meu demônio e coloquei uma breve pausa naquele momento profano. A linda boca carnuda de Julie mantinha constantemente um sorrisinho sacana e aquilo me deixou incomodado. Eu precisava saber mais das Wampir de meu clã e aquela pervertida não prestava nenhuma atenção no que eu falava… Tentei argumentar e pedir algumas informações, porém ao fim de uns 5 mim aquelas mãos geladas abriram o zíper de minha calça. Fora a típica situação onde os sentimentos do passado excitam o lado humano macho, que por sua vez precisa esquecer-se da matilha e agir como o alfa diante uma bela fêmea.

    Ao fim de mais ou menos uma hora, Franz e H2 retornaram e ai então finalmente pude se desvencilhar de cima daquele corpo macio e agora quente. Vestimos-nos e depois na sala, ao invés de uma, eram três me olhando com o famoso sorrisinho sacana. Confesso que nunca fui um líder nato, porém nesse tipo de situação eu prefiro manter as rédeas: …ram, ram, ram… Pigarreei e falei na sequência:

    – Bom, senhores… Sabemos o local onde Eleonor e Stephanie estão, agora o que vocês dois conseguiram para a ação de amanhã? Neste momento eu olho com a cara mais fechada que podia para h2, que percebe rapidamente a situação e responde com sua voz grave e alta de sempre.

    – Contei a Franz de um filme que eu vi, que imediatamente fez Franz se lembrar do que os senhores fizeram no Texas em meio aquela tribo indígena…

    Nesse momento Franz interrompe sua cria e nos fala:

    – Resumindo é aquela situação para se chegar atirando meu irmão. Talvez Julie possa nos dar cobertura com seus dons e tu, eu ou ambos na forma bestial, o que achas?

    Enquanto as lembranças daquele ataque de índios possuidos, vinham a minha mente. Julie se pronunciou. Fazendo enfim o que eu tanto queria, que era ouvir os pontos fracos daqueles malditos. Suas descrições foram precisas com relação a quais de nosso poderes os afetariam mais e ao fim de mais algum tempo, havíamos traçado o que eu julguei ser naquele amanhecer: o plano ideal.

    Descansamos durante todo aquele dia, Julie sozinha no quarto e nós três na sala. Franz, não pregou os olhos, pois ao final de nossa conversa sentiu algo diferente, tal qual uma espécie de premonição. Apesar disso, todos descansaram a sua maneira e partimos assim que tudo foi resolvido no loft.

     

    O início da noite surgia, e com ele a vontade de sair da garagem. O forte ronco do motor da Dodge 2500 ecoava por todo o lugar, H2 estava ao volante e a cada acelerada mais brava que ele dava, ficava mais nítida a intensa ansiedade de todos. Meu relógio de bolso que sempre está correto, informou 17h e 37m e isso foi suficiente para o tão esperado cantar de pneus. Confirmando assim nossa partida a toda velocidade para a maldita fazenda onde Eleonor e sua cria estavam presas.

    H2 havia recheado a caçamba da caminhonete com alguns de seus “brinquedinhos prediletos”. Uma Bazuca M9A1, algumas granadas estilhaçantes, fuzis e um pouco de munição, sendo estas últimas chamadas por ele de “batizadas”. Inclusive este tipo de colocação me faz lembrar uma das lendas que rondam H2, no qual alguns dizem que ele já foi padre…

    A escuridão completa e o silencio mórbido do interior só eram rompidos por nossa 2500. Muita poeira, muitos buracos e todo aquele mato a beira da estrada de chão batido, foram os primeiros a estimular nossa sede por uma boa briga. Foi a típica situação em que o coração, se estivesse vivo, saltaria ao peito em frenéticas e ritmadas batidas.

    E a adrenalina aumentou ainda mais, quando começamos a sentir ao longe a energia sobrenatural emanada, por todos aqueles que deveriam estar presentes em tal antro infernal. Neste momento pedimos a H2 que parasse a caminhonete e nos preparamos. Julie e eu fomos pelo mato no intuito de fazer algo surpresa, enquanto h2 e Franz iriam começar a festa pela porteira da frente.

    Tomei Julie em meus braços e com minha velocidade junto da força chegamos rapidamente até uma clareira, onde fizemos uma breve leitura do lugar. A área útil era muito grande e lá estavam apenas duas casas de madeira, um galpão com maquinário agrícola e alguns poucos homens armados e de vigília. Procurei pelas energias de Eleonor ou Sthephanie, no entanto, somente Eleonor vinha aos meus pensamentos e estava muito fraca.

    Comentei com Julie de me transformar em névoa para localizar mais facilmente as Wampir de meu clã. Porém ela foi incisiva me apontando: – Eleonor está no porão daquela casa! Foi quando no mesmo instante lhe dei um voto de confiança, passando nas sequência as coordenadas para Franz.

    Cerca de 3 minutos depois iniciava uma grande movimentação no lugar. A luz havia sido cortada provavelmente por h2 e alguns seguranças engatilhavam suas armas, ao mesmo tempo em que alguns outros indivíduos saíam das casas no intuito de entender o que estava acontecendo. Além disso, e para minha surpresa, entre eles estava Stephanie… A linda mulher que havia conquistado meu morto coração no início deste ano… Seus cabelos que viviam soltos agora estavam amarrados estilo rabo de cavalo, seu olhar era muito concentrado, sendo a maior mudança a sua energia, que agora era mais fraca e diferente.

    Mostrei para Julie quem era Stephanie e sua expressão ao vê-la não foi das melhores. Tanto que depois de uma breve analise ela se virou pra mim e tentou dizer algo, mas foi interrompida abruptamente pelo barulho de nossa caminhonete.

    Toda ação ou briga um pouco mais intensa, sempre geram novas sensações e esse resgate não fugiu a regra. Haja vista, que foi um daqueles do tipo que irá perambular por nossas cabeças por muito tempo…

    Ao longe era possível ver os grandes faróis da caminhonete, que vinha a toda para cima dos seguranças e em direção há uma das casas. Em cima da caçamba estava Franz no que nós chamamos de forma bestial, aquela mesma em que ficamos parecidos com um lobisomem. Ele estava com a bazuca no ombro e isso por si só já fez alguns presentes borrarem suas calças. Ainda se não bastasse uma besta empunhando um arsenal, H2 também havia feito um de seus procedimentos padrão antes de qualquer briga. Ele aumentou o som do rádio da caminhonete ao máximo e em meio às explosões provocadas por Franz era possível ouvir a agitada Highway to hell do ACDC.

    Os métodos de briga de Franz, H2 e até mesmo os meus podem ser vistos por muitos como joviais ou até impensados, no entanto, sempre deram muito certo. O ataque surpresa inesperadamente pela porta de entrada, havia pego de surpresa quase todos os nossos inimigos. Tanto que logo depois que H2 jogou a caminhonete contra uma das casas surgiu em mim o momento ideal para que Julie e eu agíssemos.

    A pequena e endiabrada Wampir iniciou um de seus rituais enquanto eu também adquiria minha forma bestial. Não tardou e uma nuvem cinza quase preta tomou conta da frente da casa onde teoricamente estava Eleonor. O ritual a meu ver era parecido com o que ela havia feito anteriormente no loft, porém agora todos que estavam próximos simplesmente perdiam a consciência.

    Já em forma bestial resolvo ir em direção à nuvem/casa, porém Julie me segura e amarra uma espécie de cordão feito de plantas em meu pulso direto. Nesta forma nos ficamos muito arredios, porém me contive o máximo que pude e ainda consegui ouvir algumas palavras da bela morena: “Vá e salve tua irmã, isso te protegerá do meu ritual”. Aquelas palavras me soaram tal qual um incentivo e certamente quem tivesse me vendo, perceberia uma besta com ódio nos olhos e muita sede de sangue.

    Deste momento em diante, quando meu demônio assume parte de minhas ações eu só consigo me recordar de poucas cousas. Porém antes de entrar na nuvem e depois na casa eu me lembro de desmembrar alguns amaldiçoados e também o que mais me marcou, ver Stephanie atacando H2. Nestes momentos dificeis as escolhas precisam ser feitas em frações de segundos, o que inevitavelmente me levou para dentro da casa, unicamente com o objetivo de salvar Eleonor.

    Dentro do lugar a nuvem de Julie havia feito um belo estrago, várias pessoas estavam pelo chão, porém antes que eu pudesse me dirigir para o porão sou surpreendido por um tiro de pistola, provavelmente .40 e que atingiu meu ombro direito. O forte impacto do projétil desloca minha atenção a quem o disparou e lá estava uma mulher seminua. Como eu estava praticamente ignorando a dor e antes que ela disparasse novamente, eu utilizei toda minha velocidade para lhe imobilizar agarrando-a pelo pescoço. Ela até tentou pronunciar alguma coisa, mas minha força foi tanta que lhe quebrei o pescoço em poucos segundos.

    De acordo com Julie a maior fraqueza de um seguidor das trevas é o longo tempo que precisam para conjurar seus rituais, neste caso atacá-los de surpresa é sempre a melhor alternativa. Então depois de uma breve verificada nos cômodos do lugar, eu fui para onde julguei que seria o porão da casa. No escuro total foi possível ver Eleonor sugando o sangue de um pobre coitado, no entanto, quando me viu ela parou e me disse: “Fê?” e depois deu uma risadinha perguntando via telepatia a mesma cousa.

    Quando estamos nesta transformação não conseguimos pronunciar qualquer palavra que seja, então telepatia ou leitura mental é uma boa forma de ao menos compreender o que se passa pela cabeça do Wampir. Cultura vampiresca a parte, ela percebeu que era eu e tratamos de sair logo daquele lugar maldito.

    Estranhamente Eleonor não havia sido afetada pelo ritual de Julie, e saímos tranquilamente por onde eu havia entrado. Todavia, ao rever a situação do lado de fora fomos pegos de surpresa por algo que mexeu muito comigo. Lá estava H2 ao chão sendo socorrido por Julie, que lhe doava um pouco de seu próprio sangue, enquanto Franz ainda na forma bestial segurava Stephanie pelo pescoço. Foram pouco segundo em que eu desfazia minha transformação e vagarosamente ia na direção deles.

    Sabe quando tu queres gritar, mas como num sonho as palavras não saem? Foi assim que presenciamos Franz utilizar suas garras para adentrar o peito de Stephanie, arrancando-lhe na sequência, sem qualquer dó ou piedade, seu desfalecido coração…

    Nem eu ou Eleonor sabíamos o que estava acontecendo, mas Eleonor que estava em sua forma normal e ainda mais vendo sua cria sendo sacrificada, tratou de correr o mais rápido que fosse ao seu socorro. Naquele instante eles estavam prestes a iniciar uma briga apocalíptica, quando Julie percebeu a situação e falou em claro e bom tom: “Parem, sua alma já estava perdida…”

    Naquele momento, Franz simplesmente largou o corpo desfalecido da jovem Wampir ao chão e tratou de voltar seu próprio corpo ao estado normal. Eu sabia que o momento estava complicado e mesmo nu tratei de procurar um transporte. Entre corpos queimados ou mutilados eu encontrei um Fiat do tipo Wekeend, no qual fiz uma ligação direta e voltei até eles. Todos entraram rapidamente e tratamos de ir embora do lugar o mais rápido que fosse possível. Julie nos disse que o efeito de sua “nuvem” duraria mais alguns minutos e isso foi o tempo que precisávamos para sair da zona de contato.

    Horas depois chegamos a um lugar seguro, no qual H2 havia previamente preparado para passarmos o dia que viria pela frente. Ficamos por ali até o inicio da outra noite, quando nos reestabelecemos e voltamos finalmente para um lugar seguro. Nesta outra noite Eleonor estava muito chateada, havia sido sequestrada, torturada, perdera uma cria e eu que até então estava com ela, agora estava com Julie.

    Como se ainda não bastasse tudo isso, tivemos de escutar também em meio a nossa conversa, mais uma daquelas frases célebres de Franz: “Já que tudo foi resolvido, inclusive com nossa querida maninha, fato que deixará papai muito feliz. Podemos ir relaxar por hora em algum dos nossos puteiros, em meio aqueles belos e deliciosos sacos de sangue quente o que acham?”.

    H2 e eu rimos, Julie ignorou, já Eleonor simplesmente fechou a cara e foi para um dos quartos. O mais engraçado é que Franz realmente falava sério, partindo minutos depois com seu pupilo em busca de diversão. Fiquei mais um tempo com Julie, que também nos deixou, mas que antes de sair me incentivou a ir cuidar de Eleonor.

    Assim terminava mais uma de nossas histórias, onde mais uma vez havíamos escapado por pouco de nossos inimigos. Noites depois Eleonor decidiu ir para junto de Georg, levando consigo a filhinha de Stephanie e na expectativa de ficar talvez por algum tempo aprendendo algo novo junto de nosso mestre. Já eu estou aqui fazendo o de sempre, tirando minhas fotos, administrando nossas empresas e tentando produzir novas histórias, numa espécie de recomeço junto Julie.

  • A morte de um mago – 1 de 2

    A morte de um mago – 1 de 2

    Boa noite senhoritas e seres masculinos, antes de tudo peço desculpas por minha ausência no blog, no entanto, ao lerem o texto abaixo entenderão o por que…

    Meu smartphone tocou logo depois que o sol se pôs e enquanto eu ainda estava naquele profundo sono dos mortos. Três toques, atendi, mas de inicio foram apenas alguns ruídos produzidos pelas falhas do sinal. No entanto, depois de alguns instantes enfim surge a voz baixa e desanimada de Franz, que sem saber como me falar direito, preferiu não se enrolar e deu a tão aguardada notícia: O grande Kieran havia encontrado sua morte final…
    Emoções e sentimentos sempre são dificílimos de traduzir em simples palavras. Como podia alguém com todo seu poder sucumbir a um simples câncer de pulmão? O que faria eu quando visse seu corpo inerte em seu santuário, sendo ele um dos poucos seres que ainda possuía certa ligação com a magia de minha amada Suellen?
    Foram muitas as indagações que me fiz durante toda a viagem até a Europa. 16 horas naquele maldito compartimento de cargas, escondido de tudo e de todos. Até que finalmente em terras londrinas, sai rapidamente daquele lugar em forma de névoa. Tratei imediatamente de alugar um carro num dos guichês do estacionamento e parti o mais rápido que pude para o ritual de passagem.
    Pouco mais de uma hora até o santuário e finalmente vejo um lugar diferente. Pode parecer uma desconfortada impressão pessoal, mas aquele lugar havia perdido o encanto. As arvores que eram muito floridas no verão, pareciam moribundas como no pior dos invernos. Apesar disso fiquei impressionado com a quantidade de “celebridades” que vieram velar o corpo do grande arcano. Inclusive Achaïkos, o antigo mestre e patriarca do clã de Suellen, que não aparecia em publico a muitas décadas e não poderia deixar de dar um até logo à alma de um dos seus maiores aliados.
    Logo que cheguei Georg veio ao meio encontro, mas antes que fizéssemos aquele longo roteiro de cumprimentos e formalidades eu preferi me despedir de Kieran. Então, aproximei-me do simples altar em que seu corpo fora colocado e fiz o que chamo de meditação. Alguns de vocês sabem que acredito em algumas divindades e na continuidade da vida depois da passagem, então tratei de meditar na intenção de que aquela boa alma vagasse pelos melhores caminhos.
    Depois de alguns minutos ali parado, sinto uma presença, porém olho para os lados e todos os outros estavam fisicamente longe de mim. Todavia, antes que eu pudesse fazer qualquer outro tipo de investigação sobre tal sentimento, um dos discípulos do grande mestre nos convida para a cerimônia final.
    Sentamos-nos todos de frente para o altar e o mesmo discípulo que nos chamou, iniciou os ritos. Eu nunca havia visto o ritual de passagem de um grande magista e sinceramente esperava algo pomposo e cheio de detalhes. No entanto, ao som de Tom Petty, na clássica Free Fallin, fomos todos surpreendidos pelas palavras do discípulo, num inglês extremamente informal:
    “Em toda sua vida, Kieran perseguiu as coisas simples da vida. Sempre nos indicou os caminhos práticos e que levassem de imediato a nossas intenções. Portanto, repeitaremos sua nobre vida e desejo, afim de que sua passagem fosse feita sem os ritos tradicionais”.
    Ao fim destas palavras iniciou-se um breve “murmúrio” entre os convidados, porém isso terminou quando o discípulo iniciou abertamente a leitura do testamento. Além disso, lembro que apesar do lugar ser grande, eram poucos os convidados e havia por ali no máximo umas 60 pessoas.
    Não posso citar tudo o que foi falado durante aquela leitura, porém o importante desta história é que também recebi algo, na tal partilha de herança. Fui agraciado com uma caixa de madeira marrom escura e toda entalhada com “kajis” japoneses. Ela estava muito bem selada aos moldes herméticos magistas, no qual somente o dono poderia abrir. Confesso que fiquei muito curioso para abrir, mas respeitei as palavras do discípulo e deixei para o final do rito toda e qualquer emoção que envolvesse tal “presente”.
    Depois de tal partilha, que levou entre uma e duas horas, o ritual prosseguiu. As músicas continuaram no mesmo ritmo “rock” de antes e inclusive se não me engano, no momento em que o ritual de passagem foi retomado tocava algo do Deep Purple…

  • Em busca da vampira assassina. Parte 1 de 2

    Em busca da vampira assassina. Parte 1 de 2

    Reunimos o grupo pegamos um jatinho e depois de um voo tranquilo sobre a Amazônia brasileira chegamos a um cais onde um carniçal do Hector nos aguardava com um barco. Não sei dizer com precisão se já era Suriname ou se ainda estávamos no Amapá, o importante é que o barco nos deixou em uma trilha de onde ainda teríamos uma boa caminhada de duas horas e pouco até o acampamento em uma caverna.

    Passamos o restante da noite e o dia de sábado descansando e preparando o ataque. Além de nós, cerca de 10 outros mercenários foram contratados, transformados em carniçais e receberam armamento e instruções sobre a missão.

    Nesses dias as horas passam muito rápido e logo depois que o sol se põe estamos praticamente a postos loucos para que tudo aconteça de uma vez. Mesmo eu que já passei por tantas situações parecidas fico ansioso, afim de que eu possa retornar logo ao meu refugio tranquilo e seco.

    O que falar do local? Muitas árvores, humidade extremamente alta, sensação de abafamento e os malditos mosquitos que surgem em nuvens quando menos se espera. Nesse tipo de local, meio pantanoso a única vestimenta compatível são as que cobrem boa parte do corpo. Eu sempre estou de jeans e colete a prova de balas, com essa roupa não me incomodei muito. O resto do povo também se cobriu com exceção do Carlos que vestia apenas uma calça solta tipo moletom, tênis velho e uma camiseta com duas vezes o seu tamanho.

    A estratégia foi simples, invadir, capturar fazendo fazer valer a ordem e a justiça.

    Dividimos o grupo em dois. O Franz, H2, alguns carniçais e eu fomos por trás como grupo de invasão e o restante do pessoal foi pela frente como grupo de ataque. Nem preciso dizer do por que que o Lobisomem foi pela frente junto do pirata sanguinário.

    Uma hora depois chegamos a uma velha mina de rubis abandonada, povoada apenas por algumas casas iluminadas por fracas velas. Duas caminhonetes e um caminhão preenchiam o que um dia já foi uma boa estrada. Além disso, uma fogueira grande era rodeada por alguns sujeitos diversos que emanavam uma grande força diabólica.

    Galego o que diabos, uma vampira que gosta de leilões e de coisas chic faz no meio do mato? Simples, existem alguns lugares na terra chamados de Nodo. Nestes lugares a energia é melhor e dizem os especialistas, tal qual o Carlos, que nestes locais as portas para viagens astrais ficam abertas por mais tempo.

    Então se elas ficam mais poderosas é um local pior para atacar, não? Muito pelo contrário mancebo, pois ninguém espera ser atacado num Nodo!

    Enfim, o primeiro grupo chega chutando com os dois pés. Algumas granadas iluminam a escura noite, muito tiros e muito sangue voam pelos ares. Não é sempre que um vampiro pirata se junta a um lobisomem sedento de carne humana em prol de algo, então imaginem a carnificina…

    Depois de alguns breves minutos é a nossa vez. Circulamos o local na sorrateira, fomos em direção ao que aparentava devia ser o covil da vampira. Antes de entrar jogamos uma granada de fumaça por uma das janelas e instantes depois a companheira da maldita sai correndo junto de dois caras. H2 os intercepta com alguns golpes da sua espada abençoada, mas é surpreendido por um lobo que surgiu do nada e lhe atacou pelas costas.

    Na sequencia outros dois peludos chegam e começa alí uma luta que resultou em muito sangue perdido a toa. Todos os caniçais de nosso grupo foram dizimados e sem o H2 era apenas mais uma vez Franz e eu contra tudo. Nesse momento um rápido flashback passa na minha cabeça e me lembro de nossa luta nos EUA.

    ***

    Depois de alguns anos de prática minha transformação já ocorre mais rapidamente e entre vários socos e garradas eu consigo liberar a minha fúria para cima do peludo. Nesse momento é como se eu ligasse o automático, muitos dos meus atos são pensados muito mais rápido e fica de certa forma simples deferir golpes fatais como os que dei no metamorfo.

    Esta fúria que nos toma é tão forte que é difícil reduzir ânsia que fecha a garganta, se meu corpo respirasse certamente estaria bufando. Olho então para o lado em busca de mais inimigos e vejo o outro lupino já ao chão e o Franz frente  a frente com a Companheira da vampira.

    Por cerca de uns dois minutos em quanto volto ao normal, Franz lê a mente da bruxa e na sequencia ele lhe dá um tapa no rosto com a parte de fora da mão, com ela já ao chão ele chuta sua barriga, se aproxima de seu pescoço e lhe suga o sangue até a morte.

    Nessa hora a briga havia chegado ao seu ponto alto, éramos momentaneamente vitoriosos, no entanto todos foram acometidos por um grito que nos atordoou gravemente. Lembro-me de ver Carlos de joelhos, franz deitando em cima do corpo da vampira e ao procurar por Hector não o vejo, mas consigo me manter em pé encostando numa árvore apoiando com a cabeça enquanto levo as mão ao ouvido.

    Era a maldita bruxa vampira que surgiu de dentro da entrada da mina com mais dois peludos em forma de lobo.

    Mesmo depois do grito estridente parar ainda é difícil voltar a realidade. Não ví a hora que Hector partiu para cima da vampira, mas foi ele que a fez parar de gritar com um golpe de espada que lhe perfurou o peito. Com este golpe ela se encolheu mas teve força para desequilibrar o pirata e sair fugida mata a dentro.

    Um dos peludos a seguiu e para o azar de Hector o outro lhe desferiu vários golpes enquanto tentava se levantar.  Mesmo atordoado Carlos em forma de humanoide consegue se aproximar dos dois, e arranca o lobo de cima de Hector. Eles lutam por alguns instantes e depois de alguns granhidos Carlos finaliza a luta com uma pedrada na cabeça do lobo. Depois disso Hector levanta-se e com sua espada de prata corta a cabeça do infeliz.

    ***

    Depois de alguns instantes de atordoamento eu consigo me aproximar de Hector e Carlos e separa o que iniciaria uma briga. Procuro por Franz e não o vejo de imediato, mas algum tempo depois o vejo perto de H2. Começava ali um ritual improvisado que traria o velho caçador para o lado de quem ele perseguiu por tantos anos.

    Hoje mais calmo eu vejo que realmente seria um grande desperdício deixar para morrer um cara com tantas habilidades como ele. No entanto Franz vai ter muito trabalho barra domesticar a sua nova cria.

    Algum tempo depois do ritual, nos alimentamos com o resto de sangue que encontramos nos restos mortais dos que lá estavam. Obviamente tudo isso foi muito rápido, pois ainda tínhamos dois alvos escondidos em meio a selva.

    Carlos começou a fazer o que sabe de melhor e nos levou mata a dentro atrás dos dois…